UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ UMA CONTRIBUIÇÃO À CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS FRENTE A AFUNDAMENTOS DE TENSÃO ROBERTO CHOUHY LEBORGNE Itajubá, maio de 2003 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ UMA CONTRIBUIÇÃO À CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS FRENTE A AFUNDAMENTOS DE TENSÃO ROBERTO CHOUHY LEBORGNE Dissertação submetida à Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica – CPG-E da UNIFEI, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Elétrica. ORIENTAÇÃO: Dr. JOSÉ POLICARPO G. de ABREU - UNIFEI CO-ORIENTAÇÃO: Dr. JOSÉ MARIA de CARVALHO FILHO - UNIFEI Itajubá, maio de 2003 i DEDICATÓRIA Dedico este trabalho de forma muito carinhosa a Diana, Catalina e Luciana. ii AGRADECIMENTOS • Aos professores José Policarpo G. de Abreu e José Maria de Carvalho Filho, pelo trabalho de orientação e ensinamentos dispensados. • À amiga Dulce Ramos, pela ajuda na execução de revisões na dissertação. • Aos colegas e professores do GQEE, pelos momentos de trabalho e diversão passados juntos. • Ao amigo Carlos Mañosa, pela motivação para realizar este estudo de pós-graduação. • Aos engenheiros Alexandre Afonso Postal e Luiz Henrique Zaparoli do DME, e ao Sr. Daniel de Paula da Phelps Dodge, pela colaboração na obtenção dos dados de campo que auxiliaram na execução desta pesquisa. • Aos funcionários do Instituto de Engenharia Elétrica, da Pró-Diretoria de Pós-Graduação e do Departamento de Registro Acadêmico, pela generosa colaboração. • A CAPES e ao GQEE, pelo apoio financeiro. iii RESUMO Esta dissertação apresenta uma metodologia alternativa para a caracterização da sensibilidade de cargas e processos industriais frente a afundamentos de tensão, apoiada num sistema integrado de monitoração da qualidade da energia elétrica e coleta de dados de processo. A metodologia proposta contempla as seguintes etapas: • Especificação do sistema, hardware e software, para monitoração da qualidade da energia elétrica; • Estabelecimento de critérios para a escolha dos pontos de monitoração e dos processos a serem monitorados; • Estabelecimento de metodologia para caracterizar os afundamentos de tensão, e avaliação do impacto dos distúrbios nas cargas e processos; • Proposição de metodologia para representação da sensibilidade das cargas e processos frente a afundamentos de tensão. A metodologia apresentada permite caracterizar a sensibilidade das cargas e processos tanto pelo método convencional de caracterização (intensidade e duração) como pelos métodos alternativos. Dentre estes, os métodos a um parâmetro (perda de tensão, perda de energia, Thallam, Heydt, etc); sendo também contemplado aquele que permite classificar os eventos de acordo com a assimetria e o desequilíbrio associado ao distúrbio (tipos A, B, C e D propostos por Bollen). Finalmente, é realizado um estudo de caso onde a metodologia proposta é aplicada a um sistema real, com o objetivo de avaliar e validar os procedimentos propostos. iv ABSTRACT This dissertation offers an alternative methodology for the sensitivity characterization of industrial processes to voltage sags, based on an integrated power quality (PQ) monitoring and process data acquisition system. The proposed methodology consists of the following steps: • Hardware and software specification for PQ monitoring and process data acquisition systems; • Procedure for monitored process and monitored busbar selection; • Methodologies for voltage sag characterization and for the evaluation of industrial process behavior; • Methodology for the sensitivity representation of loads and industrial processes. This approach proposes the event characterization through classical method (intensity and duration), and alternative ones. The alternative methodologies include one-parameter methodologies such as “loss of voltage” and “loss of energy”, and methodologies considering other voltage sag characteristics such as voltage sag imbalance. Several graphic representations for process sensitivity are introduced. Graphics show immunity and sensitive regions for the diverse voltage sag characterization methodologies. An algorithm to evaluate the characterization methodology consistency is proposed. Finally, in order to validate the proposed methodology a case-study for an industrial plant is presented. v SUMÁRIO Lista de Figuras.......................................................................................... ix Lista de Tabelas ......................................................................................... xi Lista de Abreviaturas e Símbolos ............................................................ xii I - INTRODUÇÃO..................................................................................................... 1 1.1 – Relevância do Tema ........................................................................... 1 1.2 – Objetivos e Contribuições da Dissertação....................................... 2 1.3 – Estrutura da Dissertação ................................................................... 3 II - AFUNDAMENTOS DE TENSÃO........................................................................ 7 2.1 – Considerações Iniciais....................................................................... 7 2.2 – Conceitos e Definições ...................................................................... 7 2.3 – Normalização Aplicável ..................................................................... 9 2.4 – Parâmetros para Análise de Afundamentos de Tensão................ 14 2.5 – Origem dos Afundamentos de Tensão........................................... 14 2.6 – Variáveis de Influência..................................................................... 15 2.7 – Considerações Finais ...................................................................... 29 III - CÁLCULO DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO ............................................ 30 3.1 – Considerações Iniciais..................................................................... 30 3.2 – Análise Básica para um Sistema Radial......................................... 31 3.3 - Simulação de Afundamentos de Tensão ........................................ 34 3.4 – Método da Distância Crítica ............................................................ 36 3.5 – Método das Posições de Falta ........................................................ 39 3.6 – Área de Vulnerabilidade................................................................... 45 3.7 – Distância Crítica versus Posições de Falta.................................... 47 vi 3.8 – Considerações Finais ...................................................................... 49 IV - CARACTERIZAÇÃO DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO............................ 50 4.1 – Considerações Iniciais..................................................................... 50 4.2 – Método Clássico de Caracterização ............................................... 50 4.3 – Método Proposto por Bollen ........................................................... 54 4.4 – Outras Características dos Afundamentos de Tensão ................. 55 4.5 – Caracterização Através de Um Parâmetro ..................................... 58 4.6 – Classificação dos Afundamentos de Tensão................................. 62 4.7 – Indicadores Para Afundamentos de Tensão .................................. 65 4.8 – Agregação Temporal........................................................................ 69 4.9 – Considerações Finais ...................................................................... 70 V - SENSIBILIDADE DE CARGAS E PROCESSOS INDUSTRIAIS..................... 72 5.1 – Considerações Iniciais..................................................................... 72 5.2 - Efeitos sobre Processos Industriais ............................................... 72 5.3 – Efeitos sobre Computadores........................................................... 74 5.4 – Sensibilidade de Contatores ........................................................... 77 5.5 - Sensibilidade dos Acionamentos de Velocidade Variável ............ 79 5.6 – Sensibilidade de Motores de Indução ............................................ 84 5.7 – Sensibilidade de Lâmpadas de Descarga ...................................... 87 5.8 – Considerações Finais ...................................................................... 89 VI - METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS................................................................................. 90 6.1 – Considerações Iniciais..................................................................... 90 6.2 – Monitoração da Qualidade da Energia Elétrica.............................. 90 6.3 – Requisitos Mínimos dos Monitores de QEE .................................. 95 vii 6.4 - Escolha dos Locais de Monitoração ............................................... 98 6.5 – Escolha dos Processos ................................................................... 99 6.6 – Método para Avaliar o Impacto dos Afundamentos de Tensão . 101 6.7 – Caracterização dos Afundamentos de Tensão ............................ 102 6.8 - Representação da Sensibilidade de Processos ........................... 105 6.9 – Considerações Finais .................................................................... 109 VII - ESTUDO DE CASO – CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE UM PROCESSO INDUSTRIAL .................................................................................. 110 7.1 – Considerações Iniciais................................................................... 110 7.2 – Especificação do Sistema de Monitoração .................................. 110 7.3 – Escolha dos Locais de Monitoração............................................. 112 7.4 – Descrição da Fábrica e dos Processos Monitorados.................. 113 7.5 – Avaliação do Impacto dos Afundamentos de Tensão................. 115 7.6 – Registro dos Afundamentos de Tensão....................................... 117 7.7 – Caracterização dos Distúrbios ...................................................... 118 7.8 – Representação da Sensibilidade do Processo ............................ 121 7.9 – Considerações Finais .................................................................... 126 VIII – CONCLUSÕES E SUGESTÕES................................................................ 128 8.1 – Conclusões e Contribuições ......................................................... 128 8.2 – Sugestões para Trabalhos Futuros .............................................. 130 IX – REFERÊNCIAS ............................................................................................ 132 9.1 - Publicações em Conferências........................................................ 132 9.2 – Publicações em Periódicos ........................................................... 134 9.3 – Publicações em Internet ................................................................ 135 9.4 – Teses e Dissertações ..................................................................... 135 viii 9.5 - Normas............................................................................................. 136 9.6 – Outras Referências......................................................................... 137 ANEXOS .............................................................................................................. 139 A.1 - Diagrama Unifilar do Sistema de Distribuição ............................. 139 A.2 – Diagrama Unifilar do Consumidor................................................ 140 A.3 – Planilha de Registro de Ocorrências de Paradas de Produção. 141 A.4 – Registros de Afundamentos na Empresa Supridora .................. 142 A.5 – Registros de Afundamentos no Consumidor - MT ..................... 143 A.6 – Registros de Afundamentos no consumidor - BT ...................... 146 A.7 – Oscilografia do Afundamento Registrado em 29/07/02 .............. 148 A.8 – Evolução do Valor RMS da Tensão - Afundamento Registrado em 29/07/02 .................................................................................................... 149 ix LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Tensão eficaz durante a ocorrência de um afundamento de tensão. ..................................8 Figura 2 – Curva de tolerância segundo a norma SEMI F47-0200 [31]. ............................................12 Figura 3 – Curva de tolerância ITIC de 2000......................................................................................13 Figura 4 - Área de influência da localização da falta. .........................................................................18 Figura 5 – Esquema de transformador para análise de defasamento................................................22 Figura 6 – Duração de afundamentos de tensão................................................................................27 Figura 7 - Diagrama unifilar de um sistema de distribuição típico. .....................................................32 Figura 8 - Diagrama de impedância de seqüência positiva. ...............................................................32 Figura 9 - Perfis das tensões durante os eventos. .............................................................................33 Figura 10 - Diagrama simplificado indicando o ponto de acoplamento comum (PAC). .....................37 Figura 11 - Método da distância crítica para circuitos paralelos.........................................................38 Figura 12 - Diagrama unifilar, método do curto-deslizante. ................................................................39 Figura 13 - Sistema de transmissão de 400 kV [17]. ..........................................................................43 Figura 14 - Análise da intensidade do afundamento para uma falta específica [17]..........................44 Figura 15 – Representação da área de vulnerabilidade [17]..............................................................46 Figura 16 – Desempenho de barras para afundamentos inferiores a 0.85 p.u. [17]. .........................47 Figura 17 – Representação gráfica do desempenho das barras, distância crítica versus posições de faltas [17].............................................................................................................................................48 Figura 18 - Definição de magnitude e duração de afundamento de tensão.......................................51 Figura 19 - Caracterização de afundamentos de tensão segundo a UNIPEDE.................................52 Figura 20 - Caracterização de afundamentos de tensão segundo a NRS-048..................................53 Figura 21 - Caracterização de um afundamento de tensão não retangular. .....................................54 Figura 22 – Tipos de afundamentos de tensão. ................................................................................55 Figura 23 – Representação gráfica da perda de tensão.....................................................................59 Figura 24 - Índice de severidade em relação a curva ITIC. ................................................................62 Figura 25 – Classificação dos afundamentos segundo a norma NRS – 048 [13]. .............................63 Figura 26 - Desempenho de um local em função da sensibilidade das cargas. ................................67 x Figura 27 - Curva de tolerância CBEMA.............................................................................................74 Figura 28 - Curva de tolerância ITIC...................................................................................................75 Figura 29 – Curva de sensibilidade para os PCs analisados [7]. .......................................................76 Figura 30 – Curva de sensibilidade de contatores [7].........................................................................78 Figura 31 – Gráfico de distribuição de valores de tolerância de contatores [7]..................................79 Figura 32 - Sensibilidade dos AVVs [29]. ...........................................................................................80 Figura 33 - Registro de afundamento de tensão não retangular-1.....................................................82 Figura 34 - Registro de afundamento de tensão não retangular-2.....................................................82 Figura 35 - Diagrama fasorial de um afundamento de tensão assimétrico [29]. ................................84 Figura 36 - Comportamento da tensão durante o afundamento [23]..................................................85 Figura 37 - Estabilidade do motor de indução frente a afundamentos de tensão. .............................87 Figura 38 – Curva de sensibilidade de lâmpadas [7]..........................................................................88 Figura 39 - Estrutura geral e funções básicas de um monitor de QEE [47]. ......................................92 Figura 40 – Identificação dos processos da planta industrial. ......................................................... 100 Figura 41 – Caracterização da sensibilidade segundo tipos A, B, C, e D. ...................................... 107 Figura 42 – Caracterização da sensibilidade através de um parâmetro. ........................................ 108 Figura 43 – Caracterização de sensibilidade através do ponto de inicio do AMT........................... 109 Figura 44 – Sensibilidade da catenária 44 – Critério da Perda de Tensão. .................................... 122 Figura 45 – Sensibilidade da catenária 44 – Critério da Perda de Energia..................................... 122 Figura 46 – Sensibilidade da catenária 44 – Metodologia proposta por Thallam............................ 123 Figura 47 – Sensibilidade da catenária 44 - Metodologia proposta por Heydt................................ 123 Figura 48 – Sensibilidade da catenária 44 - Caracterizada pela intensidade do Afundamento. ..... 125 Figura 49 – Sensibilidade da catenária 44 – Método Clássico Intensidade versus Duração.......... 126 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Taxa de falhas em LTs em EUA [15].................................................................................17 Tabela 2 - Taxa de falhas em LTs em BRASIL [12]. ..........................................................................17 Tabela 3 – Exemplo da influência da tensão pré-falta........................................................................21 Tabela 4 - Efeito das conexões de transformadores no cálculo dos afundamentos de tensão. ........23 Tabela 5 - Tempos típicos de atuação da proteção sistemas de transmissão...................................26 Tabela 6 - Tempos típicos de eliminação de faltas do sistemas de distribuição................................26 Tabela 7 - Número esperado de afundamentos [17]. .........................................................................46 Tabela 8 – Número esperado de afundamentos de tensão, distância crítica versus posições de falta [17].......................................................................................................................................................48 Tabela 9 – Classificação dos afundamentos segundo UNIPEDE. .....................................................63 Tabela 10 - Classificação dos eventos segundo a Norma IEEE 1159 (1995)....................................64 Tabela 11 - Índices calculados para um ano de monitoração. ...........................................................66 Tabela 12 - Número de afundamentos de tensão anuais...................................................................68 Tabela 13 – Número de eventos anuais para cada intervalo de severidade. ....................................69 Tabela 14 - Região de sensibilidade dos equipamentos eletro-eletrônicos [29]. ...............................80 Tabela 15 – Custos totais devidos a afundamentos de tensão. ...................................................... 101 Tabela 16 – Registros de paradas de processos. ........................................................................... 116 Tabela 17 – Caracterização dos afundamentos registrados na baixa tensão................................. 121 Tabela 18 – Consistência das metodologias a um parâmetro......................................................... 124 xii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS QEE VTCD AMT RMS IEEE PES IEC SEMI CBEMA ITIC UNIPEDE NRS EPRI ELECTROTEK DME AT EAT PAC CA CC SE LT TP TC RAM AVVs PWM VSI PLC A/D PC UPS DVR ATP EMTP GPS TDF Qualidade da Energia Elétrica Variação de Tensão de Curta Duração Afundamento Momentâneo da Tensão Root Medium Square (valor eficaz) Institute of Electrical and Electronics Engineers Power Engineering Society International Electrotechnical Commission Semiconductor Equipment and Material International Computer and Business Equipment Manufactures Association Information Technology Industry Curve Union of International Producers and Distributors of Elect. Energy National Rationalised Specification Electric Power Research Institute Electrotek Concepts, Inc. Departamento Municipal de Eletricidade de Poços de Caldas Alta Tensão Extra Alta Tensão Ponto de Acoplamento Comum Corrente Alternada Corrente Contínua (Unidirecional) Subestação Elétrica Linha de Transmissão de Energia Elétrica Transformador de Potencial Transformador de Corrente Randomly Access Memory Acionamentos de Velocidade Variável Pulse Width Modulation Voltage Source Injection Controlador Lógico Programável Analógico / Digital Personal Computer Uninterrupted Power System Dynamic Voltage Restorer Alternative Transient Program Electromagnetic Transient Program Global Position System Transformada Discreta de Fourier Capítulo 1 – Introdução 1 I - INTRODUÇÃO 1.1 – RELEVÂNCIA DO TEMA A Qualidade da Energia Elétrica - QEE tem-se tornado uma preocupação crescente e comum às empresas de energia elétrica e aos consumidores de modo geral. O progressivo interesse pela QEE deve-se, principalmente, à evolução tecnológica dos equipamentos eletro-eletrônicos, hoje amplamente utilizados nos diversos segmentos de atividade, seja ele industrial, comercial ou residencial. Com a vasta aplicação da eletrônica de potência, da microeletrônica e dos microprocessadores em uma infinidade de equipamentos - desde relógios digitais domésticos a linhas automatizadas de processos – tem aumentado expressivamente a sensibilidade dos equipamentos em relação à QEE. Associada ao processo de modernização do parque industrial, tem havido a aplicação disseminada de acionamentos de velocidade variável (AVVs) e de sistemas controlados eletronicamente. Isto tem revelado um aspecto de vital importância da QEE e que diz respeito à sensibilidade destas cargas frente às variações momentâneas de tensão, inevitáveis no sistema elétrico e resultantes de curtos-circuitos em extensas áreas, mesmo que localizadas em pontos remotos do sistema elétrico. Tais distúrbios, conhecidos na literatura internacional como voltage sags ou voltage dips, e neste trabalho, denominados afundamentos de tensão, representam, atualmente, o principal desafio a ser enfrentado por empresas de energia, consumidores e fornecedores de equipamentos elétricos de um modo geral. Ocorrências de afundamentos de tensão, combinadas com a sensibilidade dos equipamentos modernos, têm resultado em um número expressivo de interrupções de processos industriais. Dentro deste contexto, citam-se algumas razões fundamentais que colocam em posição de destaque os afundamentos de tensão dentro do cenário da QEE: Capítulo 1 – Introdução • 2 Devido à vasta extensão e à vulnerabilidade das linhas aéreas de transmissão, subtransmissão e distribuição, estes distúrbios são inevitáveis e inerentes à operação do sistema elétrico; • Os consumidores estão tendo prejuízos substanciais devido a interrupções de processos, quantificados pelas perdas de produção, perdas de insumos e custos associados a mão-de-obra e a reparos de equipamentos danificados; • As concessionárias de energia elétrica estão tendo perda de imagem empresarial e inevitavelmente passarão a ter maiores custos com prováveis ressarcimentos de prejuízos aos consumidores, decorrentes de falta de qualidade da energia; • A qualidade da energia está se transformando num fator de competitividade, sendo que as empresas de energia deverão oferecer contratos diferenciados, em função dos requisitos de qualidade da energia exigidos pelos processos dos consumidores; • A qualidade da energia está se tornando um fator diferencial para promover desenvolvimentos regionais, juntamente com incentivos fiscais, meios de transporte, proximidade entre matéria prima e centros consumidores, etc. 1.2 – OBJETIVOS E CONTRIBUIÇÕES DA DISSERTAÇÃO Os estudos envolvendo afundamentos de tensão são conduzidos a partir da monitoração das tensões do sistema elétrico ou através da utilização de metodologias de predição. As metodologias de predição têm como base a utilização de programas computacionais para cálculo de tensões e correntes pós falta, a utilização dos tempos de sensibilização e atuação de relés de proteção, e, finalmente, a utilização de dados estatísticos de faltas em linhas de transmissão e de distribuição. Capítulo 1 – Introdução 3 As informações obtidas tanto a partir da monitoração como a partir de simulação, podem ser confrontadas com a sensibilidade da carga para estimar o número de paradas anuais de produção, quantificar as perdas associadas e avaliar as medidas de mitigação. A avaliação da compatibilidade da carga com as solicitações do sistema de suprimento é realizada através de um método gráfico de coordenação no plano tensão versus tempo. Nesta metodologia, admite-se que os afundamentos de tensão apresentam a forma retangular e que a sensibilidade da carga, além de retangular, é fundamentalmente caracterizada por intensidade e duração. Os métodos convencionais utilizados para a caracterização destes fenômenos baseiam-se na intensidade e duração do evento. Suspeita-se que esta metodologia apresenta limitações, pois essas duas grandezas não devem refletir plenamente os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os equipamentos, sobretudo os trifásicos, considerando que, na grande maioria dos casos, estes distúrbios são de natureza desequilibrada, tanto em módulo como em ângulo de fase. Portanto, é necessário estudar formas alternativas para caracterizar a sensibilidade dos equipamentos de modo a incluir nesta caracterização outros parâmetros tais como: desequilíbrio, assimetria, evolução da forma de onda, etc. Dentro deste contexto, estabelece-se como objetivo desta dissertação, propor uma metodologia para caracterização da sensibilidade das cargas e processos incorporando a assimetria, o desequilíbrio, e outras características dos afundamentos de tensão, tais como o salto de ângulo de fase, ponto de inicio, e métodos de caracterização a um parâmetro. 1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Neste primeiro capítulo é realizada uma introdução ao tema Afundamentos de Tensão, onde são apresentados a relevância do assunto, os objetivos, contribuições, e a estrutura desta dissertação. Capítulo 1 – Introdução 4 No segundo capítulo são abordados os conceitos e as definições básicas para o entendimento deste distúrbio da qualidade da energia elétrica. Primeiramente, é apresentado um resumo das principais normas que tratam os afundamentos de tensão. São descritos os parâmetros utilizados para a análise deste distúrbio, assim como, são analisadas as suas principais causas. Finalmente, são apresentadas as variáveis de influência que afetam os principais parâmetros que caracterizam os afundamentos de tensão. No terceiro capítulo são apresentadas as ferramentas computacionais utilizadas para se determinar os parâmetros e as estatísticas dos afundamentos de tensão. As ferramentas de simulação podem ser agrupadas em: simulação da forma de onda; simulação dinâmica e simulação de faltas. Sendo que a simulação de faltas é a principal metodologia utilizada para o cálculo das características dos afundamentos de tensão. No quarto capítulo são apresentadas as diversas metodologias utilizadas para caracterizar os afundamentos de tensão. Como citado no item 1.2, em muitas situações, a caracterização convencional dos afundamentos de tensão através somente dos parâmetros magnitude e duração pode ser insuficiente para estudar o efeito sobre cargas e processos industriais. Assim, são apresentadas formas alternativas para caracterizar este distúrbio, levando-se em conta a assimetria e o desequilíbrio dos fasores de tensão. Também são apresentadas as metodologias utilizadas para classificar os eventos e os indicadores utilizados para avaliar uma determinada barra do sistema. No quinto capítulo são analisados os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os processos industriais. É analisada de forma detalhada a sensibilidade dos principais componentes e cargas presentes nos processos, tais como contatores, acionamentos de velocidade variável, motores de indução e outros dispositivos. São ressaltadas as supostas deficiências do método clássico de caracterização dos afundamentos através da intensidade e duração. Capítulo 1 – Introdução 5 Estes primeiros capítulos representam uma contribuição didática, dado que mostram de forma ordenada e metódica os afundamentos de tensão. No sexto capítulo é apresentada a principal contribuição desta dissertação. Assim sendo, é descrito de forma detalhada como se deve proceder para caracterizar a sensibilidade de processos industriais frente a afundamentos de tensão através de um sistema integrado de monitoração de QEE e de coleta de dados de processo. Resumindo podem ser indicadas as seguintes etapas da metodologia: especificação do sistema de monitoração de qualidade de energia e de coleta de dados do processo; critérios para a escolha dos locais de monitoração do sistema elétrico e dos processos a serem monitorados; metodologia para registrar e avaliar os afundamentos de tensão e seus efeitos sobre os processos monitorados; finalmente, a metodologia para caracterizar a sensibilidade dos processos. No sétimo capítulo é apresentado um estudo de caso realizado numa fábrica de condutores elétricos. Nesta fábrica, foram analisadas três linhas de produção, e foi caracterizada a sensibilidade de uma delas através da metodologia proposta no sexto capítulo. São mostrados os resultados da aplicação de diversas metodologias de caracterização dos distúrbios, analisando-se a consistência dos resultados obtidos. No oitavo capítulo são apresentadas as conclusões deste trabalho. Abordando-se os resultados obtidos da aplicação da metodologia proposta a um caso real. São analisados os principais fatores que contribuíram ao êxito ou fracasso de cada uma das metodologias de caracterização de distúrbios utilizada. Finalmente, são propostas outras pesquisas que possam vir a ser desenvolvidas aproveitando as contribuições deste trabalho. No nono capítulo são apresentadas as referências bibliográficas, classificadas em: publicações em conferências, publicações em periódicos, teses e dissertações, publicações em internet, normas, e outras referências. Capítulo 1 – Introdução 6 Nos anexos são apresentados os diagramas unifilares da empresa distribuidora e do cliente analisado; a planilha utilizada para o registro dos eventos nos processos monitorados; planilhas contendo os registros dos afundamentos monitorados na alta tensão da empresa supridora, na media tensão da empresa distribuidora, e no anel de distribuição de baixa tensão do consumidor analisado; e finalmente são apresentados a oscilografia e a evolução do valor RMS de um afundamento de tensão que causou a parada dos processos analisados. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 7 II - AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 2.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capitulo são abordados os conceitos e as definições básicas para o entendimento deste importante distúrbio da qualidade da energia elétrica. Primeiramente, é apresentado um resumo das principais normas que abordam os afundamentos de tensão. São descritos os parâmetros utilizados para a análise deste distúrbio, assim como, são analisadas as suas principais causas. Finalmente, são apresentadas as variáveis de influência que afetam os principais parâmetros que caracterizam os afundamentos de tensão. 2.2 – CONCEITOS E DEFINIÇÕES Quando se estudam as definições envolvendo o tema afundamento de tensão, o leitor depara-se de imediato com duas filosofias; a primeira, estabelecida pelo Institute of Electric and Electronics Engineers – IEEE; e a segunda, pela International Electrotechnical Commission - IEC. O IEEE, através da Norma IEEE 1159 (1995) [32] que trata da monitoração dos fenômenos de qualidade de energia elétrica, define afundamento de tensão como sendo a redução do valor RMS da tensão para um valor entre 0,1 e 0,9 p.u., durante um período de tempo compreendido entre 1/2 ciclo e 60 segundos. Adicionalmente, o IEEE classifica os afundamentos de tensão, segundo a sua duração, em três categorias: • Instantâneos: entre 0,5 ciclo e 30 ciclos; • Momentâneos: entre 30 ciclos e 3 segundos; • Temporários: entre 3 segundos e 1 minuto. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 8 Segundo o IEEE, a intensidade de um afundamento de tensão é definida pela menor tensão remanescente durante a ocorrência do distúrbio, ou seja, a ocorrência de um afundamento de tensão de 0,80 p.u. significa que a tensão foi reduzida para o patamar de 0,80 p.u.. Um evento cuja intensidade é inferior a 0,10 p.u. é considerado pelo IEEE como sendo uma interrupção. A IEC, por outro lado, define a intensidade do afundamento de tensão como sendo a queda do valor RMS da tensão. A IEC considera afundamento de tensão um evento onde ocorre uma queda do valor RMS da tensão entre 0,10 e 0,99 p.u., durante um período de tempo compreendido entre 1/2 ciclo e alguns segundos. Distúrbios com queda de tensão acima de 0,99 p.u., o que eqüivale a tensões remanescentes abaixo de 0,01 p.u., são considerados pela IEC como interrupções. A título de ilustração, a Figura 1 mostra a evolução dos valores RMS das tensões para um afundamento de tensão trifásico registrado num sistema real. Observa-se que o afundamento de tensão atingiu intensidade de 0,20 p.u. e duração da ordem de 110 ms. 13out02 06:43:59 Phelps_BT_FF 1.2 1.1 1 0.9 Tensão [pu] 0.8 0.7 V12 V23 V31 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.89 0.87 0.84 0.82 0.79 0.77 0.74 0.72 0.69 0.67 0.64 0.62 0.60 0.57 0.55 0.52 0.50 0.47 0.45 0.42 0.40 0.38 0.35 0.33 0.30 0.28 0.25 0.23 0.20 0.18 0.16 0.13 0.11 0.08 0.06 0.03 0.01 0 Tempo [s] Figura 1 - Tensão eficaz durante a ocorrência de um afundamento de tensão. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 9 2.3 – NORMALIZAÇÃO APLICÁVEL Neste item será apresentado um resumo das principais normas que fazem referência ao assunto afundamentos de tensão [31]. IEEE 1159 (1995) “IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric Power Quality”: O objetivo desta norma [32] é auxiliar tanto na monitoração como na correta interpretação dos resultados obtidos de medição de distúrbios da qualidade da energia elétrica. Esta norma define cada tipo de distúrbio em função das características dos eventos registrados tais como: faixas de intensidade e duração. IEEE 446 (1995) “IEEE Recommended Practice For Emergency And Standby Power Systems For Industrial And Commercial Applications”: Esta norma [33] apresenta o conceito de afundamento de tensão focando a sensibilidade de equipamentos e os efeitos de partidas de motores. Apresenta recomendações que devem ser utilizadas na etapa de projeto para evitar a ocorrência deste distúrbio. IEEE 493 (1997) “IEEE Recommended Practice For The Design of Reliable Industrial and Commercial Power Systems”: Esta norma [34] propõe metodologias para calcular as características dos afundamentos de tensão, tais como, intensidade, duração e freqüência de ocorrência. A intensidade do afundamento num determinado local pode ser obtida através do cálculo do curto circuito quando são conhecidas as impedâncias da rede, a impedância da falta e a localização da falta. A duração do evento pode ser estimada conhecendo-se os tempos típicos de atuação das proteções envolvidas. Através do conhecimento das estatísticas de faltas do sistema pode-se estimar o número de afundamentos de tensão para qualquer barra de interesse. IEEE 1100 (1999) “IEEE Recommended Practice For Powering and Grounding Electronic Equipment”: Esta norma [35] apresenta diversas metodologias e critérios para a monitoração de afundamentos de tensão. Também mostra a aplicação das curvas CBEMA / ITIC. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 10 IEEE 1250 (1995) “IEEE Guide For Service to Equipment Sensitive to Momentary Voltage Disturbances”: Esta norma [36] descreve os efeitos dos afundamentos de tensão em computadores e em outros equipamentos sensíveis que possuem dispositivos de estado sólido para conversão de energia. Identifica os problemas potenciais e propõe métodos de mitigação, que permitam o funcionamento satisfatório dos equipamentos sensíveis. IEEE 1346 (1998) “IEEE Recommended Practice For Evaluating Electric Power System Compatibility With Electronic Process Equipment”: Esta Norma [37] apresenta uma metodologia para a avaliação técnica e financeira da compatibilidade entre a rede de suprimento de energia e os processos industriais durante a ocorrência de afundamentos de tensão. A norma não propõe nenhuma limitação ao desempenho da rede nem à sensibilidade dos equipamentos e processos. No entanto, recomenda a normalização das metodologias de análise da compatibilidade entre a rede de suprimento e as cargas. A norma foi concebida para ser utilizada durante a fase de projeto de novas instalações, portanto, não propõe soluções para problemas de qualidade de energia em redes existentes. IEEE P1433 “A Standard Glossary of Power Quality Terminology“: O objetivo deste grupo de trabalho [45] é desenvolver um conjunto único de definições para todos os tipos de distúrbios da qualidade da energia elétrica. IEEE P1564 “Voltage Sags Indices”: O objetivo deste grupo de trabalho [44] é propor índices para afundamentos de tensão através da análise da forma de onda registrada durante o distúrbio. IEC 61000 ”Electromagnetic Compatibility”: Esta norma [40] é constituída de uma série de documentos e relatórios técnicos, onde o assunto principal é a compatibilidade eletromagnética. O objetivo desta norma é descrever os fenômenos e fornecer parâmetros que auxiliem fabricantes e usuários de equipamentos eletro-eletrônicos do ponto de vista de emissividade e imunidade frente aos distúrbios de QEE. A norma está dividida em normas básicas e genéricas. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 11 As normas genéricas dizem respeito a um produto ou a uma família de produtos. São utilizadas na confecção de normas para novos produtos ainda não normalizados. Existem dois tipos de normas genéricas, o primeiro chamado de “Residencial, Comercial e Industrias Leves”, e o segundo chamado de “Ambientes Industriais”. No primeiro são abordados ambientes residenciais, lojas, cinemas, centros esportivos, laboratórios e oficinas. O segundo se refere a ambientes industriais, locais com instalações de equipamentos científicos e médicos, e locais com correntes elevadas ou chaveamentos freqüentes de cargas indutivas ou capacitivas de grande porte. As normas básicas abordam todos os aspetos gerais do assunto. Descrevem os fenômenos, metodologias de medição e técnicas de ensaio. IEC 61000-2-1 (1990) clause 8 “Voltage Dips and Short Supply Interruption”: Esta norma [40] descreve brevemente os afundamentos, considerando os parâmetros intensidade e duração. Também são analisadas as causas dos afundamentos, e os efeitos sobre cargas sensíveis. IEC 61000-2-4 (2002) “Environment – Compatibility Levels in Industrial Plants For Low Frequency Conducted Disturbances”: Esta norma [40] define três classes de ambientes eletromagnéticos. São indicados valores de referência de afundamentos de tensão para cada classe de ambiente. IEC 61000-2-8 (2002), “Environment – Voltage Dips and Short Interruptions on Public Electric Power Supply Systems With Statistical Measurements Results”. Esta norma [40] descreve de forma detalhada as causas e a propagação dos afundamentos de tensão. Também são abordados os efeitos sobre cargas sensíveis e métodos de medição. IEC 61000-4-11 (1994), “Testing and Measuring Techniques - Voltage Dips, Short Interruptions and Voltage Variations Immunity Tests”. Esta norma [40] deve ser utilizada para testar o nível de imunidade de equipamentos eletro-eletrônicos cuja corrente nominal é menor que 16 A por fase. Ela descreve os procedimentos e Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 12 os equipamentos de teste. Esta norma não deve ser aplicada em equipamentos que funcionem em tensão CC ou em tensão cuja freqüência é 400 Hz. Normas industriais SEMI: O objetivo destas normas [41] [42] é aprimorar a produtividade dos fabricantes de materiais semicondutores. Elas surgem do acordo voluntário entre os fabricantes e os consumidores finais de materiais semicondutores. SEMI F47-0200 “Specification for Semiconductor Processing Equipment Voltage Sag Immunity”: Esta norma [41] indica o nível de imunidade que os processos que fabricam semicondutores devem possuir. A Figura 2 mostra a curva de tolerância especificada para afundamentos de tensão cuja duração está entre 50 ms e 1 s. A norma não permite a utilização de UPS com o objetivo de melhorar a tolerância dos processos. SEMI F47-0200 1 Intensidade [p.u.] 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 Sensibilidade Máxima Admitida 0.3 0.2 0.1 40 5 0.96 0.88 0.8 0.72 0.64 0.56 0.48 0.4 0.32 0.24 0.16 0.08 0.01 0 0 Duração [s] Figura 2 – Curva de tolerância segundo a norma SEMI F47-0200 [31]. SEMI F42-0999 “Test Method For Semiconductor Processing Equipment Voltage Sag Immunity”: Esta norma [42] define a metodologia de teste para Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 13 determinar a tolerância dos equipamentos frente a afundamentos de tensão, visando o atendimento da norma SEMI F47. Norma industrial CBEMA [46]: A Indústria da Tecnologia da Informação (ITI), anteriormente conhecida como Associação dos Fabricantes de Equipamentos de Computação (CBEMA), publicou uma nota técnica onde era mostrada uma curva de tolerância para os equipamentos fabricados pelos integrantes da ITI. Embora a curva assuma que os equipamentos da ITI são ligados em sistemas cuja tensão fase-neutro é 120 Vca, a mesma vem sendo utilizada de forma generalizada como uma curva de tolerância típica de equipamentos microprocessados. A curva define no plano tensão vs tempo duas áreas: uma área superior onde se encontram os eventos que não devem sensibilizar os equipamentos e, uma área inferior onde se encontram os eventos que podem afetar o funcionamento normal dos equipamentos sendo que os mesmos devem desligar-se de forma controlada. A Figura 3 ilustra tal situação mostrando a curva ITIC de 2000. 2,5 B 1,5 1,0 A 0,5 C 0,001 0,01 0,1 1 10 100 Tempo ( segundos ) Figura 3 – Curva de tolerância ITIC de 2000. 0,0 1000 Tensão ( p.u) 2,0 Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 14 2.4 – PARÂMETROS PARA ANÁLISE DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO Os principais parâmetros que caracterizam um afundamento de tensão monofásico são a amplitude e a duração, conforme mostrado na Figura 1, os quais, somados à freqüência de ocorrência, fornecem informações satisfatórias sobre o fenômeno [29]. No entanto, quando se trata de afundamentos de tensão trifásicos, outros parâmetros também podem ser incorporados, sendo eles a assimetria e o desequilíbrio. Adicionalmente, o comportamento dinâmico associado à evolução da forma de onda, também pode ser empregado para caracterizar tanto os afundamentos de tensão monofásicos como os trifásicos. Normalmente, visando facilitar a caracterização dos afundamentos de tensão trifásicos, utiliza-se um procedimento chamado de agregação de fases, conforme será visto posteriormente nos itens 4.2.2 a 4.2.5. 2.5 – ORIGEM DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO Os afundamentos de tensão no sistema elétrico são gerados por: partida de motores de grande porte [14], energização de transformadores e ocorrência de curtos-circuitos na rede [1][15][16]. As faltas no sistema elétrico, sem sombra de dúvida, são a principal causa do afundamento de tensão, sobretudo no sistema da concessionária, devido à existência de milhares de quilômetros de linhas aéreas de transmissão e de distribuição, sujeitas a toda a sorte de fenômenos naturais. Curtos-circuitos também ocorrem em subestações terminais de linhas e em sistemas industriais, porém, com menor freqüência de ocorrência. Em sistemas industriais, por exemplo, a distribuição primária e secundária é tipicamente realizada através de cabos isolados, que possuem reduzida taxa de falta se comparados às linhas aéreas. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 15 As faltas em linhas aéreas ocorrem principalmente devido à incidência de descargas atmosféricas. Nos sistemas de distribuição o problema é mais crítico porque são geralmente desprovidos de cabos guarda. Portanto, pode-se concluir que a ocorrência de afundamentos de tensão está fortemente correlacionada com o nível ceráunico da região onde as linhas aéreas se encontram instaladas. Outras causas de ocorrência de curtos-circuitos são as queimadas em plantações, vendavais, contatos por animais e aves, contaminação de isoladores, falhas humanas, etc. As faltas podem ser de natureza temporária ou permanente. As faltas temporárias são, em sua grande maioria, devido à ocorrência de descargas atmosféricas, temporais e ventos, que não provocam geralmente danos permanentes ao sistema de isolação, sendo que o sistema pode ser prontamente restabelecido por meio de religamentos automáticos. As faltas permanentes, ao contrário, são causadas por danos físicos em algum elemento de isolação do sistema, sendo necessária a intervenção da equipe de manutenção. Quando da ocorrência do curto-circuito, o afundamento de tensão transcorre durante o tempo de permanência da falta, ou seja, desde o instante inicial do defeito até à atuação do sistema de proteção ou à completa eliminação do defeito. 2.6 – VARIÁVEIS DE INFLUÊNCIA A análise do afundamento de tensão pode ser considerada complexa, pois envolve uma diversidade de fatores aleatórios que afetam as suas características [11][12][29], dentre eles: • Tipo de falta; • Localização da falta; • Impedância de falta; • Tensão pré-falta; Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão • Conexão dos transformadores entre o ponto de falta e a carga; • Desempenho do sistema de proteção; • Existência de sistemas de religamento; • Taxas de falta de linhas de transmissão e distribuição. 16 2.6.1 - Tipo de Falta As faltas no sistema elétrico podem ser: trifásicas (FFF), trifásicas à terra (FFFT), bifásicas (FF), bifásicas à terra (FFT), e fase-terra (FT) [1]. As faltas trifásicas e trifásicas à terra são simétricas e geram, portanto, afundamentos de tensão também simétricos. Elas produzem afundamentos de tensão mais severos, contudo, elas são mais raras. As faltas bifásicas, bifásicas a terra, e sobretudo, as fase-terra apresentam as maiores taxas de ocorrência, gerando afundamentos de tensão menos severos, porém, desequilibrados e assimétricos. A título de exemplificação, as Tabelas 1 e 2 apresentam as estatísticas de taxas médias de faltas em linhas de transmissão utilizadas nos EUA [15], e em uma das concessionárias do Brasil [12], respectivamente. Por sua maior exposição à natureza (descargas atmosféricas, ventos e temporais), se comparadas com os equipamentos instalados nas subestações terminais, barras, transformadores, chaves, etc., as linhas de transmissão são os componentes do sistema elétrico mais susceptíveis à ocorrência de curtoscircuitos. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 17 Tabela 1 - Taxa de falhas em LTs em EUA [15]. Nível de Tensão Taxa de Falta (*) FT FFT FF FFF e FFFT 345 kV 2,31 91% 7% 1% 1% 230 kV 1,68 80% 17% 1,5% 1,5% 138 kV 2,98 73% 17% 6% 4% 69 kV 6,15 65% 22% 7% 6% Tabela 2 - Taxa de falhas em LTs em BRASIL [12]. Nível de Tensão Taxa de Falta (*) FT FF e FFT FFF e FFFT 500 kV 2,09 94,24% 5,04% 0,72% 345 kV 1,10 92,65% 7,35% 0% 230 kV 1,90 79,65% 18,18% 2.27% (*) n.º de ocorrências/ano/ 100 Km de linha Como esperado, as Tabelas 1 e 2 mostram que as faltas fase-terra e bifásicas a terra, respectivamente, são as que apresentam as maiores taxas de ocorrência. Desta maneira, pode–se concluir que a maioria dos afundamentos de tensão são assimétricos. 2.6.2 - Localização da Falta A localização da falta no sistema elétrico influencia, significativamente, o impacto do afundamento de tensão sobre os consumidores. As faltas no sistema de transmissão e subtransmissão afetam, certamente, um número maior de consumidores do que as faltas no sistema de distribuição. Este fato deve-se, principalmente, às características dos sistemas de transmissão e subtransmissão que são normalmente malhados e abrangem uma grande extensão geográfica. Os Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 18 sistemas de distribuição são mais concentrados geograficamente e possuem geralmente configuração radial, sendo que, curtos-circuitos nos ramais de uma subestação de distribuição causam impacto apenas nos consumidores alimentados pelos ramais adjacentes e dificilmente provocarão afundamentos de tensão significativos no sistema de transmissão, principalmente, aqueles dotados de alta capacidade de curto-circuito. A Figura 4 ilustra este fato. Quando ocorre uma falta no ponto A, todo o sistema irá sentir os efeitos do afundamento de tensão (distribuição e transmissão). Uma falta no ponto B, porém, será percebida apenas no sistema de distribuição. Figura 4 - Área de influência da localização da falta. 2.6.3 - Impedância de Falta Raramente os curtos-circuitos no sistema possuem resistência de falta nula. Normalmente, eles ocorrem através da resistência de falta que é constituída pela associação dos seguintes elementos: • Resistência do arco elétrico entre o condutor e a terra, para defeitos faseterra; • Resistência do arco entre dois ou mais condutores, para defeitos envolvendo fases; Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 19 • Resistência de contato devido à oxidação no local da falta; • Resistência do pé-de-torre, para defeitos englobando a terra. O aparecimento do arco elétrico é devido ao aquecimento provocado pela corrente de curto-circuito, que propicia a ionização do ar no local de defeito. A resistência do arco elétrico não é linear e pode ser empiricamente calculada pela fórmula de Warrington [49], conforme as expressões (1) e (2). Rarco−elétrico = 8750 L I 1,4 (1) Sendo: L = L0 + 3Vt (2) Onde: R arco - elétrico - resistência do arco [Ω]; L - comprimento do arco elétrico [pés]; L0 - comprimento inicial do arco, correspondente ao espaçamento entre os condutores [pés]; I - valor eficaz da corrente de falta [A]; V - velocidade do vento transversal [milhas por hora]; t - duração [s]. Existem poucas referências abordando o assunto. Contudo, valores de resistência de arco da ordem de 1 a 5 Ω são mencionados em [11] [16] [50]. Outros trabalhos [51] mencionam impedância de falta média da ordem de 5 Ω, observado que a resistência de falta chega a atingir valores extremos de até 55 a 70 Ω. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 20 Finalmente, conclui-se que, desprezar a resistência de falta significa obter valores de afundamento de tensão mais severos, sobretudo em sistema de distribuição, onde este efeito é mais pronunciado [50]. 2.6.4 - Tensão Pré-Falta Em condições normais de operação, as concessionárias de energia buscam suprir seus consumidores com tensões de operação dentro dos limites normalizados (0,95 - 1,05 p.u.). Basicamente, o perfil de tensão em regime permanente é função da curva de carga do sistema elétrico e, também, da disponibilidade de equipamentos destinados à regulação de tensão, como compensadores síncronos, banco de capacitores, reatores de linha, etc. Normalmente, o perfil de tensão do sistema segue a variação da curva de carga diária, observando-se elevações de tensão durante períodos de carga leve e reduções de tensão nos períodos de carga pesada. Geralmente, nos estudos de curto-circuito em sistemas elétricos adota-se tensão pré-falta igual a 1,0 p.u.. No entanto, em função da curva de carga do sistema, esta premissa, na maioria das vezes, não é verdadeira, incorrendo-se em erros de cálculo. Este item adquire uma maior relevância quando se está analisando o impacto sobre a carga, pois, uma queda de tensão de 0,30 p.u. poderá afetar uma carga cujo limiar de sensibilidade é 0,70 p.u. em função do valor da tensão préfalta. Se a tensão pré-falta da barra é 0,95 p.u., a tensão remanescente durante o afundamento será de 0,65 p.u., sensibilizando a carga analisada, como pode ser observado na Tabela 3. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 21 Tabela 3 – Exemplo da influência da tensão pré-falta. Exemplo A Exemplo B Tensão pré-falta [p.u.] 1,02 0.95 Tolerância da carga 0,70 0,70 ∆V [p.u.] 0,30 0,30 Vafundamento [p.u.] 0,72 0,65 Carga Funciona Desliga O controle da tensão tem sido uma das maneiras de mitigar o efeito dos afundamentos de tensão. Em sistemas onde há cargas sensíveis, a tensão de operação pode ser elevada intencionalmente para minimizar o efeito dos afundamentos de tensão. No entanto, esta prática poderá resultar em sobretensões de regime em determinados locais da rede elétrica, razão pela qual cada caso deve ser analisado de forma cuidadosa. 2.6.5 - Conexão dos Transformadores Na análise e no cálculo do afundamento de tensão, o tipo de conexão dos transformadores existentes entre o ponto de falta e o barramento do consumidor irá influenciar as características do afundamento de tensão percebido pela carga. Basicamente, os transformadores podem ser agrupados em três categorias [25]: • Primeira: aqueles, cujas tensões nas bobinas em um dos enrolamentos (primário ou secundário) é função da diferença fasorial (tensão composta) entre duas tensões aplicadas nas bobinas do outro enrolamento. Estes transformadores são os de conexão Y-∆, ∆-Y, Yaterrado-∆ e ∆-Yaterrado, que além de filtrarem a componente de seqüência zero da tensão de freqüência fundamental, introduzem defasamento angular entre as tensões primária e secundária; • Segunda: são os transformadores que somente filtram as componentes de seqüência zero da tensão de freqüência fundamental, e que geralmente do Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 22 ponto de vista construtivo são fabricados de modo a não introduzir defasamento angular, ou seja, com conexões Y-Y, ∆-∆, Yaterrado-Y e Y-Yaterrado; • Terceira: são aqueles que não filtram as componentes de seqüência zero e geralmente, devido às mesmas razões citadas anteriormente, não introduzem defasamento angular. Pertencem a esta categoria os transformadores com as conexões Yaterrado-Yaterrado, Yaterrado-∆-Yaterrado. Neste caso, o ∆ é um enrolamento de compensação. Em [29] foram calculados os valores de intensidade dos afundamentos de tensão, devidos a uma falta sólida entre a fase A e terra no primário do transformador, conforme mostra a Figura 5. Foram consideradas as diversas conexões possíveis, buscando-se calcular as tensões fase-fase e fase-neutro, refletidas no secundário do transformador. Em cada situação foram introduzidas as alterações necessárias em termos de filtragem da componente de seqüência zero e inserção de defasamento angular nas componentes de seqüência positiva e negativa. Também foram assumidas as seguintes premissas: sistema operando a vazio, as reatâncias de seqüências da fonte são iguais às reatâncias de dispersão do transformador, a reatância de magnetização do transformador é muito maior do que as demais reatâncias do sistema, tensão pré-falta 1 p.u., e relação de transformação 1:1. Na Figura 5 pode-se observar a representação esquemática do transformador. Os resultados encontrados são apresentados na Tabela 4. Figura 5 – Esquema de transformador para análise de defasamento. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 23 Tabela 4 - Efeito das conexões de transformadores no cálculo dos afundamentos de tensão. Conexão do transformador Fase – Fase Vab Vbc Vca Fase – Neutro Van Vbn Vcn Yaterrado –Yaterrado 0,58 1,00 0,58 0,00 1,00 1,00 Yaterrado – Y Y–Y Y – Yaterrado 0,58 1,00 0,58 0,33 0,88 0,88 ∆-∆ 0,58 1,00 0,58 ------------------ Y-∆ Yaterrado - ∆ 0,33 0,88 0,88 ------------------ ∆ - Yaterrado ∆-Y 0,88 0,88 0,33 0,58 1,00 0,58 Com base nos resultados da Tabela 4, pode-se dizer que: • Os valores dos afundamentos de tensão, vistos pela carga em decorrência de uma falta no sistema elétrico, dependem do efeito combinado da forma de conexão tanto do transformador como da carga. Por exemplo, a Tabela 4 mostra que para o transformador com conexão ∆-Y, o valor mínimo de tensão entre fases de 0,33 p.u., é inferior ao valor mínimo verificado para a tensão fase-neutro, 0,58 p.u.. Isto mostra que, para o mesmo curto-circuito analisado, a chance da carga “sobreviver” é maior se ela fosse conectada entre fase e neutro; • A conexão Yaterrado-Yaterrado faz com que a tensão da fase A - neutro se anule, visto que o defeito simulado foi na fase A para a terra e com impedância de falta nula. Caso um dos lados do transformador não seja aterrado, observa-se Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 24 que a tensão fase-neutro, para a mesma condição de falta, se eleva de 0,00 para 0,33 p.u., devido à eliminação da componente de seqüência zero; • Quando a carga é conectada entre fases, o efeito da filtragem da componente de seqüência zero, introduzida pela conexão do transformador, torna-se irrelevante, uma vez que ao se calcular as tensões fase-fase a componente de seqüência zero é eliminada. Neste caso, a única influência é atribuída à defasagem imposta pela conexão dos transformadores nas componentes de seqüência positiva e negativa, constatada pela comparação dos resultados apresentados para as conexões Yaterrado-Yaterrado e ∆- Yaterrado, por exemplo. Conclui-se, portanto, que o afundamento de tensão visto pela carga depende tanto das conexões dos transformadores existentes entre o ponto de falta e a carga, como também do tipo de conexão da própria carga [29]. 2.6.6 - Sistema de Proteção A duração do afundamento de tensão é dependente do desempenho do sistema de proteção, caracterizado pelo tempo de sensibilização e de atuação dos relés somado ao tempo de abertura e extinção de arco dos disjuntores. O tempo de atuação dos relés é função de suas características de resposta tempo-corrente, bem como da filosofia e dos ajustes implantados para se obter a seletividade desejada. O tempo de abertura e de extinção da corrente de curtocircuito dos disjuntores é função das características construtivas destes equipamentos. Reconhecendo-se que a maior incidência de curtos-circuitos ocorre em linhas de transmissão, subtransmissão e distribuição, os próximos parágrafos serão dedicados a abordar, de forma resumida, os esquemas típicos de proteção utilizados nestes sistemas [1]. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 25 Nos sistemas de transmissão (230, 345, 440, 500 kV, etc), as linhas são tipicamente protegidas por meio de relés de distância, associados ou não às lógicas de teleproteção [1]. Quando a teleproteção não é aplicada, utilizam-se proteções de distância com duas ou três zonas. A primeira zona é normalmente ajustada para atuar instantaneamente para defeitos localizados em até 80% do comprimento da LT. Já, a segunda zona é ajustada com temporização intencional, para proteger o trecho restante da primeira linha e também para oferecer proteção de retaguarda para a linha de transmissão subseqüente. Como desvantagens, ressalta-se que esta prática de proteção introduz um retardo no tempo de atuação da proteção para defeitos próximos às extremidades da linha, não coberto pela proteção de primeira zona. Outra particularidade é que, para estes pontos de defeito os terminais da linha serão abertos em instantes diferentes. Nos sistemas de subtransmissão (69, 88 e 138 kV), tradicionalmente, dá-se menos importância aos sistemas de proteção adotados [1]. Basicamente, são utilizadas proteções de sobrecorrente de fase e de neutro e sobrecorrentes direcionais. Em termos gerais, são utilizados os seguintes esquemas: • Sobrecorrente de fase e de neutro para linhas radiais que alimentam SEs de distribuição, SEs industriais, e também no lado da fonte em circuitos paralelos; • Direcional de fase e de neutro no lado da carga quando os circuitos são paralelos, e também em circuitos operando com configuração em anel; • Distância de fase e de neutro em circuitos paralelos e em anel de linhas de 138 kV. Em linhas de 69 e 88 kV são raramente utilizados. Nos sistemas de distribuição, as concessionárias adotam geralmente relés de sobrecorrente de fase e de neutro. Nos alimentadores primários são utilizados religadores, e, normalmente nos ramais de distribuição são utilizadas chaves seccionadoras - fusíveis. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 26 A título de ilustração, a Tabela 5 apresenta os tempos típicos de atuação da proteção em sistemas de alta tensão (AT) e extra alta tensão (EAT) [1]. Tabela 5 - Tempos típicos de atuação da proteção sistemas de transmissão. Tempos Típicos de Atuação da Proteção EAT AT Proteção de Distância – Primeira Zona [ms] 20 – 40 40 – 60 Proteção de Distância – Segunda Zona [ms] 300 500 20 – 50 40 - 60 2 3–5 Teleproteção [ms] Tempo de abertura de disjuntor [ciclos] De forma semelhante, a Tabela 6 apresenta os tempos típicos de atuação da proteção em sistemas de distribuição [26][27]. Tabela 6 - Tempos típicos de eliminação de faltas do sistemas de distribuição. Tipo de Equipamento Mínimo (ciclos) Retardo de Tempo Tentativas de (*) [ciclos] Religamentos Fusível de expulsão ½ 0,5 a 60 - Fusível limitador ¼ 0,25 a 60 - Disjuntor religador 3 1 a 30 0a4 Disjuntor a óleo 5 1 a 60 0a4 3e5 1 a 60 0a4 Disjuntor a vácuo ou a SF6 (*) Retardo de tempo intencional para se obter coordenação entre os dispositivos de proteção. O capítulo 9 da norma IEEE 493-1997 [34] mostra o resultado de vários trabalhos apresentando as durações de afundamentos de tensão sob a forma de distribuição acumulada de probabilidade, como pode ser observado na Figura 6. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 27 Observa-se que a maioria dos eventos registrados apresenta duração inferior a 0,2 segundos. Figura 6 – Duração de afundamentos de tensão. 2.6.7 - Freqüência de Ocorrência O número de ocorrência de afundamentos de tensão está intimamente relacionado com a existência de sistema de religamento no sistema de proteção e com a origem dos curtos-circuitos no sistema elétrico. Do ponto de vista de quantificação existem duas metodologias para contabilizar os afundamentos de tensão quando ocorrem religamentos. A primeira metodologia considera todos os afundamentos registrados, resultando em um número sobrestimado de eventos. A segunda metodologia consiste em associar os registros de afundamentos à falta que os originou. Desta maneira para cada falta na rede será contabilizado um único distúrbio. Uma das formas de agrupar a seqüência de afundamentos é a agregação temporal dos distúrbios. Assim, é Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 28 definida uma janela de tempo para agregar todos os eventos que aconteçam dentro daquele intervalo. Normalmente, tem sido utilizado intervalo de agregação de um minuto, de modo a acomodar à operação típica dos religadores automáticos. Considerando que a principal causa de afundamentos são as faltas na rede, a seguir são identificadas os fenômenos que mais provocam faltas: a) Descargas Atmosféricas A incidência de descargas atmosféricas diretas e indiretas (laterais) sobre as linhas de transmissão e distribuição pode provocar sobretensões que poderão romper a isolação da cadeia de isoladores, ocasionando, normalmente, curtoscircuitos fase-terra. Daí, pode-se correlacionar o número esperado de afundamentos de tensão como o nível ceráunico da região onde o sistema elétrico está inserido [15]. No entanto, é bom lembrar que nem todas as descargas atmosféricas resultam em curtos-circuitos e conseqüentemente em afundamentos de tensão. Os sistemas são projetados para suportar cerca de 95% das sobretensões de origem atmosférica e as linhas aéreas, sobretudo as de transmissão, são providas de cabos-guarda. b) Poluição Ambiental e Maresia A fuligem, gerada pelas indústrias e veículos automotores, é depositada sobre os isoladores e equipamentos, facilitando a ocorrência de faltas a terra, devido às sobretensões, sejam elas de manobra ou de origem atmosférica. A maresia também pode causar problemas semelhantes aos causados pela poluição. c) Causas Diversas Queimadas acidentais ou intencionais debaixo de linhas de transmissão, contatos acidentais nas redes de distribuição, vendavais, vandalismo, acidentes rodoviários, etc., são fatores que contribuem para a ocorrência de curtos-circuitos. Capítulo 2 – Afundamentos de Tensão 29 2.7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo foram apresentados os conceitos básicos sobre os afundamentos de tensão, tais como: intensidade, duração, freqüência de ocorrência, e os fatores que afetam estes parâmetros; que permitirão compreender os assuntos que serão abordados nos capítulos subseqüentes. O Capítulo 3 será dedicado à análise das metodologias de simulação e cálculo de afundamentos de tensão, além de apresentar o conceito de área de vulnerabilidade. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 30 III - CÁLCULO DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 3.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Em função da aleatoriedade das ocorrências de afundamentos de tensão, os métodos de simulação apresentam-se como uma boa alternativa para se obter estatisticamente os parâmetros destes distúrbios, evitando-se despender grandes recursos financeiros e longos períodos de medição [17]. As ferramentas computacionais utilizadas para se determinar os parâmetros e as estatísticas dos afundamentos de tensão são bem conhecidas e podem ser agrupadas em três classes [18]: • Simulação da forma de onda; • Simulação dinâmica; • Simulação de faltas. O método de simulação da forma de onda utiliza a simulação no domínio do tempo para obter a oscilografia do afundamento de tensão. Normalmente, é usado o ATP / EMTP ou alguma outra ferramenta similar. Este método deve ser utilizado quando se deseja avaliar detalhadamente os efeitos dinâmicos de motores e geradores sob a evolução no tempo da forma de onda dos afundamentos de tensão [2]. Em contrapartida, com a utilização do ATP / EMTP, agrega-se maior esforço computacional em função da complexidade da modelagem do sistema e de seus componentes. A simulação dinâmica é utilizada para análise de partida de motores ou saída de máquinas geradoras. As ferramentas utilizadas são as de análise de estabilidade transitória ou estabilidade em médio prazo. O estudo se realiza no domínio da freqüência. Como resultado da aplicação desta metodologia são Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 31 obtidas as curvas que mostram o comportamento do valor RMS da tensão durante o distúrbio. Dado que a maioria dos afundamentos de tensão se deve à ocorrência de faltas no sistema de potência, é natural que para o cálculo da intensidade dos afundamentos se utilize programas de cálculo de faltas, cujo modelo é linearizado, permitindo solução direta (não iterativa) e com baixo esforço computacional. Esta metodologia fornece a intensidade do afundamento, mas não fornece o comportamento dinâmico do valor RMS da tensão nem a duração do evento. Neste capítulo são apresentadas as principais metodologias para o cálculo das características dos afundamentos de tensão utilizando-se a técnica da simulação de faltas. 3.2 – ANÁLISE BÁSICA PARA UM SISTEMA RADIAL Este item tem por objetivo ilustrar a metodologia de análise de afundamento de tensão, mostrando o processo de surgimento e eliminação de falta num sistema elétrico radial. No exemplo apresentado, será utilizado um modelo simples de divisor de tensão a partir do qual será calculada a intensidade do afundamento de tensão em diversos pontos do sistema, inclusive nos ramais adjacentes ao ramal submetido ao curto-circuito. O diagrama unifilar apresentado na Figura 7 mostra uma subestação de distribuição constituída por um transformador 138/13,8 kV e circuitos alimentadores de distribuição contendo religadores automáticos e fusíveis. O ponto C representa uma alimentação típica de pequenas indústrias, supridas por intermédio de um transformador de distribuição, conexão ∆-Yaterrado. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 32 Figura 7 - Diagrama unifilar de um sistema de distribuição típico. Considerando um curto-circuito trifásico no ponto A, as intensidades dos afundamentos de tensão são calculados a partir do diagrama de impedância de seqüência positiva, conforme mostra a Figura 8. Figura 8 - Diagrama de impedância de seqüência positiva. Os cálculos são conduzidos utilizando-se o conceito de divisor de tensão, retratado em (3) e (4). VPAC = VFONTE − VPAC = ∑ Z1 iVFONTE (∑ Z1 ) + (∑ Z2 ) + ZF ( ∑ Z 2 ) + ZF iVFONTE (∑ ZS ) + (∑ Z2 ) + ZF (3) (4) Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 33 Onde: VPAC – intensidade do afundamento de tensão em p.u., no ponto de interesse; VFONTE - tensão da fonte em p.u.; ∑ Z1 - somatório das impedâncias em p.u., desde a fonte até o ponto de interesse; ∑ Z2 - somatório das impedâncias em p.u., desde o ponto de interesse até o ponto de defeito; ZF - impedância de falta. Considerando-se que a queda de tensão provocada pela corrente de carga através da impedância do alimentador F1 possa ser desprezada, pode-se afirmar que para um defeito trifásico em A, a tensão no ponto C será a mesma calculada para o barramento de 13,8 kV. Desta forma, a Figura 9 apresenta os perfis das tensões nos pontos B, C, F1 e F3, durante a ocorrência da falta no ponto A. Figura 9 - Perfis das tensões durante os eventos. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 34 A linha tracejada representa o valor RMS da tensão no ponto B, enquanto que a linha cheia representa o valor RMS da tensão nos alimentadores F1, F3 e na carga C. O eixo dos tempos (abscissa) mostra a seqüência dos eventos após o início da falta. Através da análise da Figura 9, pode-se concluir que a carga da barra B sofrerá afundamentos de tensão de 0,40 p.u., sucedidos de interrupções, quando das operações de abertura e religamento do disjuntor F2. Entretanto, as cargas conectadas aos alimentadores F1 e F3, incluindo a carga C, irão sofrer sucessivos afundamentos de tensão, também devido às ações do religamento automático. Portanto, em função da posição relativa da carga e da filosofia de religamento, os consumidores poderão ser submetidos a: • Subtensões sucessivas, como é o caso da barra de 138 kV; • Sucessivos afundamentos de tensão, a exemplo da barra de ponto de acoplamento comum (PAC) de 13,8 kV e carga C; • Afundamentos sucedidos de interrupções, como é o caso do ponto B. Para tratar afundamentos sucessivos de tensão em decorrência de um mesmo evento, como no caso de um curto-circuito no ponto A, utiliza-se o procedimento chamado de agregação temporal, conforme será visto numa abordagem posterior neste documento. 3.3 - SIMULAÇÃO DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO Tal como foi indicado no item 3.1, dado que a maioria dos afundamentos de tensão se deve a faltas no sistema de potência, é natural que para o cálculo da intensidade dos afundamentos se utilize programa de curto-circuito. Esta metodologia fornece a intensidade do afundamento, mas não fornece o comportamento dinâmico do valor RMS da tensão nem a duração do evento. A duração dos afundamentos pode ser estimada se é conhecida a parametrização Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 35 dos relés e o tempo de operação dos disjuntores [1]. A seguir são apresentados os principais itens a serem considerados quando se utiliza esta metodologia: • Dados de componentes de seqüência positiva, negativa e zero do sistema (linhas de transmissão, transformadores, geradores, etc.); • Tensões pré-falta obtidas do estudo de fluxo de potência para os diversos regimes de carga (leve, média e pesada); • Dados estatísticos de impedância de falta; • Modelagem da carga. A experiência tem mostrado que a maioria das faltas no sistema elétrico ocorre em linhas de transmissão, de subtransmissão e de distribuição. Enquanto uma linha aérea pode sofrer vários curtos-circuitos em um ano, os barramentos aéreos apresentam, tipicamente, uma taxa de ocorrência de faltas de um defeito a cada dez anos [1]. Os demais equipamentos, dos quais geradores e transformadores são os principais, apresentam baixa ocorrência de curto-circuito [1], mas podem ser desligados com freqüência por outras razões. No caso de geradores, muitos desligamentos são provocados por problemas em acessórios ou no serviço auxiliar. Em transformadores, os desligamentos são normalmente causados por sobrecarga. Face ao exposto, no processo de determinação do desempenho do sistema elétrico diante dos afundamentos de tensão, os únicos componentes normalmente considerados são as linhas de transmissão e distribuição. Para calcular a intensidade de afundamentos de tensão, o programa de curto-circuito é a ferramenta que tem sido mais utilizada. Para se estimar a duração dos eventos utilizam-se os tempos correspondentes à atuação do sistema de proteção somado ao tempo de abertura dos disjuntores [1]. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 36 E, finalmente, para estimar o número de ocorrências anuais dos afundamentos de tensão, são utilizadas as estatísticas de taxas médias de falta em linhas de transmissão e distribuição. Contudo, os resultados das simulações serão mais confiáveis à medida que os dados do sistema forem mais precisos, como por exemplo: a modelagem dos equipamentos e a taxa de falta. Dois métodos de cálculo têm sido utilizados para se obter a intensidade e a freqüência dos afundamentos de tensão, o método da distância crítica e o método das posições de falta, os quais serão descritos nos itens subseqüentes. 3.4 – MÉTODO DA DISTÂNCIA CRÍTICA Devido a seu grau de simplicidade, este método mostra-se adequado para aplicações em sistemas de transmissão e distribuição tipicamente radiais. Seu princípio está baseado na determinação da posição da falta no alimentador que vai gerar um valor pré-determinado de afundamento de tensão numa barra de interesse. O cálculo é realizado de forma analítica. A distância deste ponto ate barra de interesse é denominada de distância crítica, sendo que os afundamentos de tensão mais severos estarão associados à ocorrência de curtos-circuitos aquém da distância crítica calculada. Adotando-se a barra mostrada no diagrama da Figura 10 como sendo o ponto de acoplamento comum (PAC), a intensidade do afundamento de tensão registrado nesta barra, devido a um defeito trifásico no ponto A, pode ser calculada por intermédio da expressão (5), adotando-se tensão pré-falta de 1 p.u.. VPAC = Z2 + ZF Z1 + Z 2 + Z F Onde: VPAC - afundamento de tensão no ponto de acoplamento [p.u.]; (5) Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 37 Z2 - impedância do alimentador entre a barra de acoplamento e o ponto de falta [Ω]; Z1 - impedância equivalente da fonte no ponto de acoplamento [Ω]; ZF - impedância de falta [Ω]. Figura 10 - Diagrama simplificado indicando o ponto de acoplamento comum (PAC). A distância crítica (Lcritica) pode ser determinada em função da tensão crítica admitida (Vcritica), de acordo com a equação (6). Lcritica = Z1 Vcritica z (1 − Vcritica ) (6) Onde: Lcritica - distância crítica [km]; z - impedância do alimentador por unidade de comprimento [Ω/km]. Os dados necessários para executar uma análise completa num sistema de distribuição são os seguintes: • Número de alimentadores que saem da subestação; • Impedância por unidade de comprimento de cada um dos alimentadores; Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 38 • Comprimento total dos alimentadores; • Taxas de falta dos alimentadores e sua composição segundo o tipo de falta (FFF, FF, FFT, FT). Para a utilização do método da distância crítica em sistemas não radiais devem ser feitas algumas adaptações [19]. Em sistemas de subtransmissão, a rede é constituída de várias malhas e a carga é normalmente alimentada por várias linhas originárias de uma mesma fonte. Esta topologia reduz o número de interrupções mas aumenta o número de afundamentos [19]. A Figura 11 mostra um exemplo de circuito de subtransmissão, onde ZA e ZB são as impedâncias das linhas que interligam as barras e Z1 é a impedância da fonte. Neste exemplo, será aplicado o método da distância crítica para faltas na linha B, a uma distância p da barra terminal à esquerda. Figura 11 - Método da distância crítica para circuitos paralelos. A magnitude do afundamento pode ser calculada de forma analítica através da equação (7): VPAC = p (1 − p ) Z B2 + pZ A Z B Z1 ( Z A + Z B ) + pZ A Z B + p (1 − p ) Z B2 (7) O cálculo da distância crítica neste exemplo torna-se mais complexo que no sistema radial. No entanto é possível calcular o ponto crítico (pCRÍTICO), resolvendo a equação (7) e considerando VPAC = Vcritica. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 39 Concluindo, o método da distância crítica é eficiente na análise de sistemas radiais ou pouco malhados. Para grandes redes este método não é apropriado. 3.5 – MÉTODO DAS POSIÇÕES DE FALTA Este método tem sido amplamente utilizado no cálculo dos afundamentos de tensão em sistemas elétricos de potência de grande porte, contemplando sistemas radiais e malhados. Seu princípio está baseado na sistemática de simular faltas em posições diferentes ao longo do sistema elétrico, principalmente nas linhas de transmissão e distribuição. Desta maneira, pode-se avaliar a influência da posição da falta tanto na amplitude como na duração dos afundamentos de tensão [29]. O método das posições de falta também é conhecido como método do curto-circuito deslizante. Este método encontra-se ilustrado na Figura 12, onde se pode observar diversos pontos de simulação de curto-circuito ao longo da linha 1 (L1). Neste caso, deseja-se conhecer o comportamento da tensão na barra do consumidor i à medida que o ponto de defeito é deslocado de posição. Figura 12 - Diagrama unifilar, método do curto-deslizante. A magnitude do afundamento de tensão (tensão remanescente durante a falta) na barra do consumidor i, assim como para qualquer outra barra de interesse, é calculada a partir da utilização de um programa de cálculo de curto-circuito, mediante a aplicação da equação (9) para defeitos trifásicos. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão Ei , k = EiP − EkP ⋅ Zi, k Z k+, k + Z f 40 (9) Onde: Ei ,k - afundamento de tensão na barra i devido a curto-circuito trifásico na barra k; EiP - tensão pré-falta na barra i; E kP - tensão pré-falta na barra k; Z i,k - impedância de transferência entre as barras i-k; Z k,k - impedância própria da barra k; Z f - impedância de falta. Através da equação (9) podem-se observar as principais variáveis que influenciam na amplitude do afundamento de tensão, que são: • tensão pré-falta a partir das variáveis EiP e EkP ; • impedância de falta Z f ; • características próprias inerentes à rede Z k , k ; • posição relativa entre o ponto da falta e a barra monitorada Z i , k . Para defeitos fase-terra são utilizadas as expressões (10) e (11). Ei,0k 0 Z i,0k P Ea k Ei,+k = E a iP − Z i,+k ⋅ + 0 Z k,k + Z k,k + Z k,k + 3Z f - 0 Ei,k Z i,k (10) Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão Ea i,k Ebi,k Eci,k 1 1 1 Ei,0k = 1 a 2 a ⋅ Ei,+k 2 1 a a Ei,- k 41 (11) Onde: Ea iP , Ea kP - tensão pré-falta na fase A nas barras i e k, respectivamente; Ei+,k , Ei,-k , Ei,0k - tensão de seqüência positiva, negativa e zero na barra i, devido à falta fase-terra na barra k; Z i+,k , Z i,-k , Z i,0k - impedância de transferência de seqüência positiva, negativa e zero entre as barras i-k, respectivamente; Z k+,k , Z k,- k , Z k,0 k - impedância própria de seqüência positiva, negativa e zero da barra k, respectivamente; Eai,k , Ebi,k , Eci,k - tensão pós-falta nas fases A, B e C na barra i devido a curto fase-terra na barra k. Para a obtenção dos valores de impedância própria e de transferência indicadas nas equações (10) e (11) são utilizados recursos da álgebra matricial inerentes aos programas de cálculo de curto-circuito. Para o cálculo da tensão durante a falta, devido a defeitos fase-fase e fasefase-terra, são utilizadas equações equivalentes às expressões (10) e (11), que não serão apresentadas neste documento. A título de ilustração, o método das posições de falta foi aplicado a um sistema de transmissão de 400 kV com 13340 km de linhas, 97 barras e 20 fontes de geração [17], conforme Figura 13. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 42 Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão Figura 13 - Sistema de transmissão de 400 kV [17]. 43 Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 44 No total foram simuladas 325 faltas trifásicas [17], sendo que o número de faltas por linha depende do comprimento da mesma. Foi adotada uma taxa de falta de 1,34 faltas por 100 km por ano para as linhas e 0,08 faltas por ano por subestação. As maiores limitações do modelo são a escolha arbitrária do despacho de carga que influencia na tensão pré-falta e a adoção de uma taxa constante de falta para todas as linhas. Para cada uma das faltas simuladas foi calculada a tensão em cada uma das 97 barras do sistema. Uma das maneiras possíveis de analisar os resultados é proceder ao estudo de influência de uma determinada falta nas demais barras do sistema, identificando a área de influência do defeito simulado, conforme pode ser observado na Figura 14. Analisando-se tal figura, conclui-se que uma grande área experimenta afundamento de tensão com intensidade próxima a 0.9 p.u.. Afundamentos mais severos, ou seja, com intensidade inferior a 0,70 p.u., ficam restritos às proximidades da região onde ocorre a falta. É importante lembrar que regiões onde há maior concentração de fontes geradoras experimentam afundamentos menos severos. Figura 14 - Análise da intensidade do afundamento para uma falta específica [17]. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 45 3.6 – ÁREA DE VULNERABILIDADE Para análise de afundamentos de tensão utiliza-se o conceito de área de vulnerabilidade conforme mostra a Figura 15. A área de vulnerabilidade demarca as regiões do sistema elétrico onde, se ocorrerem curtos-circuitos, haverá a ocorrência de afundamentos de tensão abaixo de limites críticos que possam resultar em desligamentos de cargas sensíveis. A área de vulnerabilidade é traçada tomando-se como ponto de referência um determinado local do sistema elétrico e a sensibilidade da carga nele instalada, conforme ilustração apresentada na Figura 15. Uma vez conhecida a extensão da área de vulnerabilidade, representada pela quilometragem de linhas de transmissão e de distribuição pode-se, a partir das taxas de faltas nas LTs, estimar o número esperado de desligamentos anuais de um determinado consumidor sensível. A área de vulnerabilidade depende tanto da topologia do sistema como da sensibilidade da carga, sendo que, quanto mais sensível for o consumidor maior será a extensão da área de vulnerabilidade e vice-versa. Outro fato importante é que a área de vulnerabilidade guarda relação de proximidade com a “distância elétrica” e não, necessariamente, com a “distância física” entre o ponto da falta e a carga sensível. A área de vulnerabilidade é afetada pela concentração de fontes geradoras sendo deformadas na direção destes geradores, ou seja, o contorno da área de vulnerabilidade desloca-se na direção das fontes geradoras, como se observa na Figura 15. Por outro lado, os resultados das simulações também podem ser organizados sob a forma de tabela de modo a mostrar o desempenho de cada barra. Em outras palavras, este procedimento permite mostrar o número esperado Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 46 de afundamentos por ano com intensidade menor ou igual ao valor indicado, conforme mostrado na Tabela 7, obtido de [17]. Figura 15 – Representação da área de vulnerabilidade [17]. Tabela 7 - Número esperado de afundamentos [17]. A Figura 16 mostra sob a forma gráfica os resultados apresentados na Tabela 7. Neste gráfico são identificadas as barras que apresentam um desempenho similar. Conforme esperado, observa-se que as regiões que possuem Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 47 fontes geradoras apresentam melhor desempenho com um número esperado menor de afundamentos por ano. As regiões que não possuem fontes geradoras apresentam maior número de afundamentos de tensão [17]. Figura 16 – Desempenho de barras para afundamentos inferiores a 0.85 p.u. [17]. 3.7 – DISTÂNCIA CRÍTICA VERSUS POSIÇÕES DE FALTA Os autores Qader, Bollen e Allan [17] fizeram uma análise comparativa dos resultados obtidos considerando os métodos da distância crítica e das posições de falta para o mesmo sistema de 400 kV apresentado. Com este objetivo foram escolhidas algumas barras e para cada uma delas foi calculado o número esperado de eventos para cada faixa de intensidade. Para utilizar o método da distância crítica no sistema em foco, considerou-se que todas as linhas possuem comprimento infinito e que também contribuem igualmente para a corrente de curto circuito. Na Tabela 8 e na Figura 17 são apresentados os resultados da aplicação de ambas as metodologias para o cálculo do desempenho das barras [17]. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 48 Tabela 8 – Número esperado de afundamentos de tensão, distância crítica versus posições de falta [17]. Willington Local Walpole Maninngton Ninfield Intensidade Distância Posições Distância Posições Distância Posições Distância Posições % Crítica Falta Crítica Falta Crítica Falta Crítica Falta 30 57 55 118 6 133 18 55 14 40 65 67 180 56 206 123 86 75 50 128 74 271 108 311 223 129 97 55 156 88 331 419 379 344 158 264 60 192 211 407 498 485 514 194 270 65 237 211 504 600 576 599 240 400 70 298 278 632 927 723 894 301 420 75 384 290 814 1314 931 1085 388 524 80 511 338 1085 1492 1242 1567 516 637 85 725 643 1538 1830 1759 2210 733 903 90 1151 1263 2442 2744 2794 2699 1165 1228 Analisando-se os resultados, pode-se concluir que, o método da distância crítica pode ser utilizado em grandes sistemas de transmissão para se obter um resultado aproximado do desempenho de uma determinada barra. Vale ressaltar que, quando se requer maior precisão, o método das posições de falta é o mais recomendado. A análise do afundamento de tensão é considerada complexa, pois envolve uma diversidade de fatores aleatórios que afetam os seus parâmetros, conforme já comentado no Capítulo 2. Willington Walpole 1400 3000 1200 2500 2000 Eventos Eventos 1000 800 600 1500 1000 400 500 200 0 0 30 40 50 55 60 65 70 75 80 85 30 90 40 50 55 Distância Crítica Posições de Falta 65 Distância Crítica Maninngton 70 75 80 85 90 85 90 Posições de Falta Ninfield 3000 1400 2500 1200 1000 Eventos 2000 Eventos 60 Intensidade [%] Intensidade [%] 1500 1000 800 600 400 500 200 0 0 30 40 50 55 60 65 70 75 80 85 90 30 40 50 Distância Crítica 55 60 65 70 75 80 Intensidade [%] Intensidade [%] Posições de Falta Distância Crítica Posições de Falta Figura 17 – Representação gráfica do desempenho das barras, distância crítica versus posições de faltas [17]. Capítulo 3 - Cálculo de Afundamentos de Tensão 49 3.8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Em função da aleatoriedade de ocorrências de afundamentos de tensão, os métodos de simulação apresentam-se como uma boa alternativa para se obter, estatisticamente, os parâmetros destes distúrbios. As diversas ferramentas computacionais utilizadas para se determinar os parâmetros e as estatísticas dos afundamentos de tensão são bem conhecidas e podem ser agrupadas basicamente em três classes: simulação da forma de onda, simulação dinâmica e simulação de faltas. O método de simulação de faltas, o mais utilizado de todos, parte do pressuposto que a maioria dos afundamentos de tensão é originária de curtoscircuitos na rede. Desta forma, torna-se natural utilizar programas de curto-circuito para a determinação da intensidade dos afundamentos de tensão, cujo modelo é linear, permitindo solução direta, não iterativa, e com baixo esforço computacional. Esta metodologia fornece a intensidade do afundamento durante a ocorrência do curto-circuito e não fornece o comportamento dinâmico da tensão eficaz e nem a duração dos eventos. Neste capítulo foram apresentadas as metodologias mais utilizadas para simulação e cálculo das características dos afundamentos de tensão. O método mais apropriado para análise em sistemas radiais é o método da distância crítica. Para sistemas malhados é recomendada a utilização do método das posições de falta associado a um programa de curto-circuito. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 50 IV - CARACTERIZAÇÃO DE AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 4.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capítulo são apresentadas as diversas metodologias utilizadas para caracterizar os afundamentos de tensão. Como citado no Capítulo 2, em muitas situações, a caracterização convencional dos afundamentos de tensão através somente dos parâmetros magnitude e duração pode ser insuficiente para estudar o efeito sobre cargas e processos industriais. Assim, são apresentadas formas alternativas para caracterizar este distúrbio, levando-se em conta a assimetria e o desequilíbrio dos fasores de tensão. Também são abordadas tanto as metodologias utilizadas para classificar os eventos como os indicadores utilizados para avaliar uma barra do sistema. 4.2 – MÉTODO CLÁSSICO DE CARACTERIZAÇÃO 4.2.1 - Eventos Monofásicos A partir da evolução do valor RMS da tensão em função do tempo pode ser determinada a magnitude e duração do evento. A magnitude do afundamento de tensão, seguindo a filosofia do IEEE, é o menor valor da tensão remanescente durante a ocorrência do evento [44]. A duração do evento é o tempo durante o qual o valor RMS da tensão permanece abaixo do patamar de 0,90 p.u. da tensão de referência (nominal, pré-falta, operativa, etc.). Os conceitos de intensidade e duração do afundamento de tensão são mostrados na Figura 18. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 1 51 duração Tensão em p.u. 0.8 0.6 0.4 0.2 intensidade 0 0 1 2 3 4 5 6 ELECTRIC POWER ENGINEERING Tempo em ciclos Figura 18 - Definição de magnitude e duração de afundamento de tensão. 4.2.2 - Eventos Trifásicos Uma ocorrência no sistema de potência pode afetar uma, duas ou as três fases. A magnitude e a duração do afundamento de tensão resultante em cada fase pode diferenciar-se substancialmente. Na análise de afundamentos de tensão deve-se definir como os eventos trifásicos são medidos, sendo que até a presente data, estes pontos ainda não estão padronizados e bem definidos por normas [44]. Para fins de cálculo de indicadores e avaliação do impacto dos fenômenos sobre equipamentos utiliza-se o procedimento chamado de agregação de fases, que consiste em atribuir um único conjunto de parâmetros (amplitude, duração, etc.) a uma ocorrência que provoque registro em mais de uma fase. O critério para a agregação de fases também é um item em discussão, existindo diversas metodologias de agregação. 4.2.3 - Metodologia UNIPEDE (Europa) A intensidade de um afundamento de tensão trifásico é definida como a maior queda de tensão ocorrida nas três fases. Neste caso, os desvios percentuais são tomados em relação à tensão nominal. Por sua vez, a duração do afundamento de tensão é dada pelo período de tempo decorrido a partir do Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 52 instante em que a tensão de uma das fases foi inferior ao limite de 0,90 p.u., até o instante em que a tensão de todas as fases seja superior a este limite. A Figura 19 ilustra esta situação onde se observa um afundamento de tensão cuja duração correspondente a Tafundamento, e sua intensidade é 1 p.u., segundo a metodologia UNIPEDE. 160 140 120 100 Tensão (%) 80 60 40 20 0 0 0.5 1 1.5 2 Tempo (s) Tafundamento Figura 19 - Caracterização de afundamentos de tensão segundo a UNIPEDE. 4.2.4 - Metodologia da NRS-048 (África do Sul) A intensidade de um afundamento de tensão trifásico é definida como a maior queda do valor RMS da tensão ocorrida nas três fases. Os desvios percentuais são tomados em relação a uma tensão declarada, por exemplo, a tensão nominal ou a tensão operativa do sistema. Por outro lado, a duração é caracterizada como sendo a duração associada à pior fase afetada em cada evento registrado. A Figura 20 apresenta a caracterização de um afundamento de tensão segundo esta metodologia. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 53 120 100 Tensão(%) 80 60 Vafundamento 40 20 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Tempo (s) Tafundamento Figura 20 - Caracterização de afundamentos de tensão segundo a NRS-048. 4.2.5 - Metodologia do EPRI / ELECTROTEK (EUA) Segundo a metodologia proposta pelo EPRI/ELECTROTEK [28] os principais parâmetros utilizados na caracterização destes fenômenos são a intensidade e a duração. A intensidade do afundamento de tensão é caracterizada pela mínima tensão remanescente registrada durante o evento. Este método define a duração de um afundamento como sendo o período de tempo em que o valor RMS da tensão viola um limite específico de tensão indicado para avaliar o distúrbio. Assim, para o sistema trifásico, a intensidade e a duração de um afundamento de tensão são dadas pelas grandezas da fase, onde se tem o maior desvio em relação à tensão especificada. Este é o mesmo procedimento adotado pela NRS-048. Nos casos de afundamentos que não possuem forma retangular, esta metodologia atribui durações conforme limiares específicos. Logo, a um único evento pode ser atribuído mais de um valor de duração. A fim de ilustrar esta abordagem, considere-se o evento apresentado na Figura 21. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 54 140 120 Tensão (%) 100 T 80% 80 T 50% 60 40 T 10% 20 0 0.000 0.167 0.333 0.500 0.667 0.833 1.000 1.167 1.333 1.500 1.667 Tempo (s) Figura 21 - Caracterização de um afundamento de tensão não retangular. Nesta figura, a duração do afundamento é avaliada segundo três limiares: 80%, 50% e 10%. Os valores T80%, T50% e T10% representam as durações para os afundamentos cujas intensidades atingem 80%, 50% e 10%, respectivamente. Observa-se também que o valor de T80% é igual ao valor de T50%, uma vez que neste intervalo de tempo, o formato do afundamento é retangular. 4.3 – MÉTODO PROPOSTO POR BOLLEN Ao contrário de outros métodos, que caracterizam o afundamento de tensão somente através da intensidade e duração, este método considera a assimetria e desequilíbrio dos fasores de tensão durante a ocorrência do distúrbio [3]. Com isto, evita-se desprezar efeitos importantes, permitindo que o comportamento dos equipamentos sensíveis, principalmente os trifásicos, possa ser avaliado perante estas outras características dos afundamentos de tensão. Baseado na teoria das componentes simétricas, o método considera os diversos tipos de falta: trifásicas, bifásicas e monofásicas; as conexões estrela e delta, utilizadas nos equipamentos elétricos; e todos os tipos de conexões dos transformadores. Assume-se, também, que as impedâncias de seqüência positiva e negativa da fonte são iguais, resultando em quatro tipos principais de Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 55 afundamentos de tensão mostrados na Figura 22. O tipo A é devido às faltas trifásicas e os tipos B, C e D são devido às faltas bifásicas e a monofásicas. Os afundamentos tipo B contêm componente de tensão de seqüência zero, raramente percebidos nos terminais das cargas, devido à filtragem dos transformadores com conexão ∆ / Y. Os afundamentos tipo C e D são devido a faltas FT, FF e FFT. O tipo de afundamento percebido nos terminais de uma carga não depende somente do tipo de falta. Um afundamento tipo C pode se transformar em um afundamento tipo D quando se propaga através de um transformador com conexão ∆ / Y. Um afundamento tipo C é enxergado como sendo do tipo D quando a carga está conectada entre fases. A grande maioria dos afundamentos desequilibrados é do tipo C ou D, e esta distinção pode ser suficiente para caracterizar adequadamente o fenômeno. Tipo A Tipo C Tipo B Tipo D Figura 22 – Tipos de afundamentos de tensão. 4.4 – OUTRAS CARACTERÍSTICAS DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 4.4.1 - Tensão fundamental complexa O afundamento de tensão também pode ser representado através de uma grandeza chamada de tensão fundamental complexa. Este conceito tem a vantagem de apresentar também a informação do ângulo de fase da tensão. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 56 O método mais utilizado para obter a componente fundamental (50 ou 60 Hz) da tensão é a Transformada Discreta de Fourier (TDF). A TDF pode ser aplicada a um conjunto de pontos de tamanho de um ciclo. O módulo da tensão fundamental complexa coincide com o valor de pico do sinal de tensão de freqüência fundamental (50 ou 60 Hz), e o argumento da tensão fundamental complexa representa o ângulo de fase da tensão monitorada, segundo (12). V = Ve jθ (12) Onde: V - tensão fundamental complexa; V – valor de pico (máximo) do sinal de tensão de freqüência fundamental; θ - ângulo de fase da tensão de freqüência fundamental. 4.4.2 – Salto de ângulo de fase (Phase angle jump) O salto de ângulo de fase (phase angle jump ou phase shift) é caracterizado pela diferença entre o argumento de um fasor que representa a evolução da tensão no tempo de uma senoide ideal, conforme expressão (13), e o argumento do sinal real de tensão medido no instante t. O salto de fase é calculado através da expressão (14). φ0 (t ) = arg V ( 0 ) + 2π f 0t (13) ψ (t ) = arg V ( t ) − φ0 ( t ) (14) Onde: f0 – freqüência fundamental (50 ou 60 Hz); Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 57 φ0(t) – argumento da tensão fundamental no instante t, considerando a evolução sem distúrbio; Ψ(t) - salto de fase no instante t. 4.4.3 – Queda do valor RMS da tensão Em trabalhos europeus (UNIPEDE) e de África do Sul, foi utilizada a queda de tensão como parâmetro de caracterização do afundamento. No entanto, é preferível utilizar para caracterização do afundamento de tensão o valor remanescente da tensão, pois este é obtido diretamente de medições ou simulações [44]. 4.4.4 - Tensão faltante Esta característica é a diferença entre a tensão ideal de suprimento e a tensão real medida. Este dado é muito útil para o estudo e projeto de restauradores dinâmicos de tensão (DVRs). O grupo de trabalho mencionado, ainda precisa definir qual é a tensão ideal a ser considerada e se a mesma deve incluir os harmônicos presentes na tensão pré-afundamento [44]. 4.4.5 - Ponto de início do afundamento O ponto de início do afundamento é representado pelo ângulo de fase da tensão quando inicia o afundamento [44]. Esta característica de simples definição não é fácil de ser extraída das medições, devido às limitações na digitalização dos sinais da tensão. O ponto de inicio do afundamento pode ser obtido através da utilização de filtros passa alto, por exemplo, wavelets. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 58 4.4.6 - Ponto de fim do afundamento Este ponto é representado pelo ângulo da fase da tensão quando a mesma volta a seu valor de referência. Este ângulo não está definido para afundamentos devidos a partidas de motores e energização de transformadores [44]. 4.5 – CARACTERIZAÇÃO ATRAVÉS DE UM PARÂMETRO O método intensidade versus duração para a caracterização do evento leva a dois parâmetros. Várias outras propostas têm sido apresentadas para caracterizar os eventos através de um único parâmetro. Embora isto leve a perda de informação, o método a um parâmetro simplifica a comparação entre eventos, entre desempenho de locais específicos (barras), e finalmente entre sistemas. A seguir são apresentados estes métodos: 4.5.1 - Perda de Tensão A perda da tensão (LV) é definida [44] como o integral da queda de tensão durante o afundamento, de acordo com (15). A Figura 23 ilustra este conceito. V ( t ) LV = ∫ 1 − dt Vnom Onde: Vnom - tensão nominal no local de medição; V(t) – valor RMS da tensão durante o afundamento. (15) Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 59 29dez02 16:53:11 Phelps_BT_FF 1.2 1.1 1 0.9 Tensão [pu] 0.8 0.7 Perda de Tensão [p.u. x ms] 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0.01 0.05 0.10 0.14 0.19 0.23 0.28 0.33 0.37 0.42 0.46 0.51 0.55 0.60 0.64 0.69 0.73 0.78 0.82 0.87 Tempo [s] Figura 23 – Representação gráfica da perda de tensão. Deve-se ressaltar que, para eventos com lento restabelecimento da tensão, intervalos de integração diferentes podem fornecer resultados divergentes. 4.5.2 - Perda de Energia A perda de energia (LE) é definida como a integral da queda de energia durante o evento [44], considerando a carga como sendo do tipo impedância constante. Em (16) mostra-se como pode ser realizado este cálculo. V ( t ) 2 LE = ∫ 1 − dt V nom (16) 4.5.3 - Método Proposto por Thallam A proposta de Thallam [44] define a “Energia do Afundamento de Tensão” conforme (17): V ( t ) = ∫ 1 − dt Vnom 2 ΕVS (17) Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 60 4.5.4 - Método Proposto por Heydt Heydt considera que a curva de sensibilidade dos equipamentos representa uma curva de energia constante [5]. Eventos localizados abaixo da curva de sensibilidade possuem um valor de energia menor ao limiar de sensibilidade da carga e, portanto, provocam o desligamento da mesma. Assim, adotando a envoltória inferior da curva CBEMA como uma curva padrão de sensibilidade, obtém-se a equação (18). Portanto, a metodologia de Heydt mede quanto os eventos se afastam desta curva de referência. V (t ) W = ∫ 1 − Vnom 3,14 dt (18) 4.5.5 - Detroit Edison - Sag Score A metodologia empregada pela empresa Detroit Edison baseia-se na caracterização do afundamento através de uma grandeza chamada de sag score [5]. A severidade do afundamento é calculada através da média das quedas de tensão individuais por fase, conforme equação (19). Sscore = 1 − VA + VB + VC 3 (19) Onde: VA, VB, VC – intensidades dos afundamentos de tensões registrados em cada fase. Quanto mais severo for o afundamento trifásico, o seu sag score se aproxima do valor unitário. A Detroit Edison não considera a variação da intensidade do afundamento no tempo. No entanto, não há inconveniente em trabalhar com funções V(t) e obter o Sscore como função do tempo. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 61 Observa-se que este método não considera a duração do afundamento para a caracterização do evento. A metodologia considera uma janela de 15 minutos para agregação temporal. Se alguma das fases apresenta tensão superior a 1,0 p.u., deve ser considerada a tensão de 1,0 p.u. para o cálculo do sag score. Um afundamento será considerado para o cálculo do índice anual somente se alguma das fases apresentar tensão remanescente inferior a 0,75 p.u.. A criação deste índice foi motivada pela necessidade dos principais clientes desta concessionária, representados por empresas fabricantes de automóveis, por um fornecimento de energia de qualidade diferenciado. 4.5.6 – Índice de Severidade Relativo à Curva de Referência O índice de severidade do evento é calculado a partir da intensidade e da duração do evento [44]. É essencial definir de maneira única: magnitude e duração do evento, e qual será a curva de referência, CBEMA, ITIC e, outras. A severidade do evento é calculada através da expressão (20): S= 1−V 1 − Vref (T ) (20) Onde: V – intensidade do afundamento; Vref(T) - tensão interpolada na curva de referência para um evento de duração T. Para eventos cuja magnitude e duração coincidem com a curva de referência, o índice de severidade é 1. Eventos localizados acima da curva de referência apresentam índices de severidade menor do que 1; e eventos localizados abaixo da curva, o índice de severidade será maior do que 1, como pode ser observado na Figura 24. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão Intensidade do Evento 1.0 62 Se=0 Se=0 Se=0 Se=0.25 Se=0.5 Se=1.0 Se=0.5 Se=1.0 Se=2.0 Se=0.75 Se=1.5 Se=3.0 Se=1.0 Se=2.0 Se=4.0 Duração do Evento Figura 24 - Índice de severidade em relação a curva ITIC. 4.6 – CLASSIFICAÇÃO DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 4.6.1 – Metodologia UNIPEDE A Tabela 9 mostra a classificação dos afundamentos de tensão segundo a metodologia UNIPEDE, Norma IEC 61000-2-8. Para uma determinada barra a tabela indica o número de afundamentos de tensão registrados para cada faixa de intensidade e duração. Os eventos trifásicos devem ser agregados para se obter um único conjunto de características de intensidade e duração. A metodologia de agregação proposta por UNIPEDE caracteriza a intensidade do afundamento trifásico como a maior queda de tensão registrada nas três, e a duração do evento é dada pelo período de tempo decorrido a partir do instante em que a tensão de uma das fases é igual ou inferior ao limite de 0,90 p.u., até o instante em que a tensão de nenhuma das fases seja inferior a este limite. Esta metodologia pode levar a um embaralhamento das fases, podendo tomar a intensidade de uma fase e a duração de outra. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 63 Tabela 9 – Classificação dos afundamentos segundo UNIPEDE. Intensidade / Duração 0,5 –1 1 ciclo – 100 ms – 500 ms – 1s– 3s– 20 s – ciclo 100 ms 500 ms 1s 3s 20 s 3 min 70 – 90% 40 – 70% 1 – 40% < 1% É importante que seja indicado qual foi o período de monitoração considerado. 4.6.2 – Metodologia da Norma NRS – 048 A norma NRS – 048 também classifica os afundamentos em intervalos de intensidade e duração, caracterizando cada região através das letras X, Y, S, Z, T. A título de exemplo, a Figura 25 mostra estas regiões. Magnitude 100 % T Z 60 % X S 20 % Y 10 % 0 20 150 600 3000 Duração [ms] Figura 25 – Classificação dos afundamentos segundo a norma NRS – 048 [13]. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 64 A norma NRS 048 estabelece limites para o número de afundamentos de tensão por ano, aceitável para cada tipo de afundamento. Estes limites são definidos por classe de tensão e por tipo de sistema, ou seja, urbano, rural, etc. 4.6.3 – Metodologia IEEE 1159 - 1995 Na Tabela 10 apresenta-se a classificação dos eventos segundo a norma IEEE 1159-1995. Esta norma não classifica os afundamentos de tensão segundo a sua intensidade, somente distingue os afundamentos pela sua duração. Tabela 10 - Classificação dos eventos segundo a Norma IEEE 1159 (1995). Categoria Duração Intensidade p.u. Afundamento 0,5 até 30 ciclos 0,1 até 0,9 Elevação 0,5 até 30 ciclos 1,1 até 1,8 Interrupção 0,5 ciclos até 3 s < 0,1 p.u. Afundamento 30 ciclos até 3 s 0,1 até 0,9 Elevação 30 ciclos até 3 s 1,1 até 1,8 Interrupção 3 s até 1 min < 0,1 p.u. Afundamento 3 s até 1 min 0,1 até 0,9 Elevação 3 s até 1 min 1,1 até 1,8 Instantâneo Momentâneo Temporário Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 65 4.7 – INDICADORES PARA AFUNDAMENTOS DE TENSÃO 4.7.1 – Metodologia EPRI/ELECTROTEK O EPRI / Electrotek propôs um conjunto de índices para avaliar o desempenho de um sistema [10]. Estes indicadores fazem referência à intensidade e duração dos eventos. O índice SARFIx (System Average RMS Variation Frequency Index) representa o número médio de ocorrências de variações do valor RMS da tensão por cliente, calculado através de (21). SARFI x = ∑N i NT (21) Onde: x - tensão RMS de referência: 0,9; 0,8; 0,7; 0,5 e 0,1 p.u.; Ni - número de clientes que são afetados por variações cuja magnitude é menor que o valor de referência x; NT - número de clientes supridos pelo alimentador, barra ou sistema analisado. O índice SARFIx não faz referência à duração dos eventos. Para atender esta necessidade são apresentados três sub-índices que contemplam as durações definidas na norma IEEE 1159-1995, ou seja, instantâneas, momentâneas e temporárias. SIARFIx representa o número médio de ocorrências de variações instantâneas do valor RMS da tensão por cada cliente, obtido através da expressão (22). SIARFI x = ∑ NI NT i (22) Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 66 Onde: x - tensão RMS de referência: 0,9; 0,8; 0,7; 0,5 e 0,1 p.u.; NIi - número de clientes que são afetados por variações instantâneas cuja magnitude é menor que o valor de referência x; NT - número de clientes supridos pelo alimentador, barra ou sistema analisado. De forma análoga são definidos os indicadores SMARFIx e STARFIx, que mostram o número médio de ocorrências de variações momentâneas e temporárias, respectivamente. Algumas concessionárias, como a United Illuminating Company, estão utilizando estes indicadores para comparar o desempenho das diversas barras e subestações e, desta maneira, otimizar os investimentos em manutenção e realizar estudos de viabilidade para mitigação dos afundamentos de tensão. Na Tabela 11 são apresentados como exemplo os resultados obtidos pela United Illuminating Company em um dos seus alimentadores. Tabela 11 - Índices calculados para um ano de monitoração. X SARFIx SIARFIx SMARFIx STARFIx 90 27.5 22.7 4.3 0.5 80 13.6 8.8 4.3 0.5 70 7.3 2.5 4.3 0.5 50 4.8 0.5 3.8 0.5 10 4.3 Sem definição 3.8 0.5 Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 67 4.7.2 – Outras Maneiras de Avaliar o Desempenho das Barras Uma outra metodologia para obter informação de um determinado barramento a partir dos dados da magnitude e duração dos eventos individuais é descrita nas normas IEEE 1346 - 1998 e IEEE 493 - 1997. A Figura 26 mostra o comportamento de um alimentador e a sensibilidade das cargas A e B. O gráfico mostra o número anual de eventos em função da severidade dos mesmos. Esta representação fornece uma completa informação do desempenho da barra e facilmente pode-se estimar o número esperado de paradas / ano, uma vez conhecida a sensibilidade da carga conectada naquele barramento. Por exemplo, espera-se 5 desligamentos / ano para a carga A devido a afundamentos de tensão com intensidade abaixo de 0,65 p.u. e duração maior que 0,2 s. Uma desvantagem deste método é a caracterização do local através de uma função bidimensional que dificulta a comparação com outros barramentos. 90% 25 80% carga B 20 Eventos carga A 60% 10 50% 40% Intensidade 70% 15 30% 5 20% 10% 0s 0.2s 0.4s 0.6s 0.8s Duração Duraçã Figura 26 - Desempenho de um local em função da sensibilidade das cargas. Para eventos desequilibrados pode-se construir um gráfico contendo as curvas “iso-sags” para cada tipo de afundamento, A, B, C ou D. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 68 Uma outra maneira de apresentar os dados da Figura 26 é através da Tabela 12, na qual é representada a quantidade de ocorrências de afundamentos de tensão, para um período anual de monitoração ou simulação. Tabela 12 - Número de afundamentos de tensão anuais. >0.01 sec >0.1 sec >0.5 sec >1 sec >3 sec >20 sec <90% 338 126 36 9 0 0 <70% 99 28 0 0 0 0 <40% 55 14 0 0 0 0 <1% 14 0 0 0 0 0 Os valores escolhidos para subdividir a Tabela 12 ainda são um ponto de controvérsia, havendo várias publicações com recomendações diversas. A norma IEEE 1159-1995 recomenda utilizar durações de 0,5 ciclos; 0,5 segundos; 3 segundos e 60 segundos. A norma IEC 61000-4-11 propõe as seguintes durações: 0,5 ciclos; 1,0 ciclo; 5 ciclos; 10 ciclos; 25 ciclos e 50 ciclos; e as seguintes magnitudes: 0%, 40%, 70%. Uma outra tendência (UNIPEDE e NRS 048) é apresentar o número de eventos em um determinado intervalo de severidade de afundamentos caracterizados segundo sua magnitude e duração. A Tabela 13 apresenta os dados da Tabela 12 segundo esta outra metodologia de apresentação dos resultados. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 69 Tabela 13 – Número de eventos anuais para cada intervalo de severidade. 0.01-0.1 sec 0.1-0.5 sec 0.5-1 sec 1-3 sec 3-20 sec >20 sec 70-90% 141 64 25 9 0 0 40-70% 30 14 0 0 0 0 1-40% 27 14 0 0 0 0 <1% 14 0 0 0 0 0 4.8 – AGREGAÇÃO TEMPORAL O objetivo da agregação temporal é agrupar todos os eventos devidos a uma única falta no sistema de potência e assim identificá-los como um único evento. Procura-se obter uma relação única entre as faltas que realmente acontecem na rede e a série de eventos registrados pelos monitores de qualidade [5]. Muitos equipamentos e processos industriais desligam durante a ocorrência do primeiro evento registrado. Uma vez que o processo parou, os eventos seguintes não causam nenhum efeito sobre a carga. Conseqüentemente, a contabilização de todos os eventos levaria a um erro estatístico na avaliação do desempenho do suprimento da concessionária, sobreestimando o número de ocorrências de afundamentos de tensão. Uma das maneiras de sanar este problema é a utilização da agregação temporal com uma janela de tempo pré-definida, ou seja, a partir da ocorrência do primeiro evento todos os que sucederem dentro do intervalo de tempo estabelecido da janela serão considerados como um mesmo evento. Embora o intervalo de tempo possa ser escolhido arbitrariamente, a norma IEEE 1159-1995 recomenda o intervalo de um minuto. Algumas concessionárias, contudo, tem adotado janelas entre 15 e 30 minutos para considerar o impacto de afundamentos de tensão em processos industriais. Capítulo 4 - Caracterização de Afundamentos de Tensão 70 Um evento agregado representa o conjunto de todos os registros associados à ocorrência de uma falta na rede. O evento agregado associado à falta deve sintetizar as informações da série de registros em um único conjunto de características, tais como; intensidade, duração, tipo de afundamento, etc. Normalmente, os parâmetros associados ao evento agregado são definidos pelas características do evento mais severo, ou seja, aquele que apresenta a menor intensidade. 4.9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS As principais metodologias convencionais de análise e tratamento de medições de afundamentos de tensão caracterizam os distúrbios através de dois parâmetros: intensidade (tensão remanescente) e a duração. Complementarmente, alguns autores propõem métodos alternativos de um parâmetro, como por exemplo, perda de tensão, perda de energia, etc. Os métodos convencionais mais difundidos possuem diferenças significativas nas formas de caracterização, de agregação e de contabilização dos eventos, não havendo ainda uma padronização de procedimentos. Os métodos baseados na intensidade e duração para caracterizar um evento envolvendo mais de uma fase apresentam algumas restrições, pois as grandezas associadas não refletem plenamente os efeitos dos distúrbios sobre equipamentos trifásicos, considerando-se que, na grande maioria dos casos, os afundamentos de tensão registrados são de natureza desequilibrada e assimétrica. Para suprir esta deficiência, o método proposto por Bollen, permite diferenciar eventos assimétricos com a mesma amplitude e duração. No entanto, os métodos alternativos, tais como métodos a um parâmetro, exigem tratamentos adicionais, implicando na definição de protocolos de medição específicos ou pós-tratamentos mais elaborados. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 71 Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 72 V - SENSIBILIDADE DE CARGAS E PROCESSOS INDUSTRIAIS 5.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Neste capítulo são analisados os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os processos industriais. É analisada em forma detalhada a sensibilidade dos principais componentes e cargas presentes nos processos, tais como contatores, acionamentos de velocidade variável, motores de indução, e outros dispositivos. 5.2 - EFEITOS SOBRE PROCESSOS INDUSTRIAIS O impacto dos afundamentos de tensão sobre os consumidores industriais ocorre de forma diferenciada em função da sensibilidade dos equipamentos eletroeletrônicos instalados, das particularidades inerentes a cada processo industrial (industrias têxteis, alumínio, plástico, cimento, papel, metalúrgica, siderurgia, química, etc.) e também dos sistemas de controle de processo envolvidos. Logo, pode-se afirmar que a sensibilidade da carga do consumidor é uma combinação da sensibilidade dos equipamentos eletro-eletrônicos instalados com a sensibilidade do processo industrial [29]. Normalmente, o efeito dos afundamentos de tensão em consumidores industriais dá-se sob a forma de interrupção parcial ou total de processos produtivos, com os conseqüentes prejuízos associados a paradas de produção, perdas de produtividade, perdas de insumos, reparo e reposição de equipamentos danificados. Os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os principais equipamentos eletro-eletrônicos utilizados nas indústrias manifestam-se sob a forma de: • Perda de programação de microprocessadores; • Perda de programação de PLCs; Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais • 73 Desatracamento das bobinas de contatores e relés auxiliares, com conseqüentes desligamentos de cargas e equipamentos via lógica do sistema de controle; • Desligamento de lâmpadas de descarga, como as de vapor de mercúrio, que levam cerca de alguns minutos para reacenderem; • Variação de velocidade dos acionamentos CA e CC (motor e carga mecânica), que dependendo do tipo de processo, poderá comprometer a qualidade do produto ou até provocar a parada de produção; • Variação de torque do motor (CA e CC) com as mesmas implicações citadas anteriormente; • Desligamento de acionamentos devido à atuação de dispositivos de proteção associados, que quando detectam condições de risco, promovem o bloqueio do disparo de tiristores ou até mesmo o desligamento imediato da fonte de alimentação; • Falhas de comutação em pontes controladas, afetando os disparos dos gatilhos de tiristores; • Queima de fusíveis e outros componentes, principalmente, nos acionamentos CC operando no modo regenerativo. Em consumidores domésticos os efeitos dos afundamentos de tensão são percebidos pela perda de memória e perda de programação de relógios digitais, fornos de microondas, videocassetes, desligamento de microcomputadores, etc. Normalmente, estes problemas não estão associados a prejuízos financeiros, mas sim à satisfação dos consumidores e à imagem das empresas de energia elétrica. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 74 5.3 – EFEITOS SOBRE COMPUTADORES A representação clássica da tolerância das cargas frente a afundamentos de tensão é normalmente realizada através de uma curva cujos eixos representam a intensidade e a duração dos afundamentos de tensão. A sensibilidade dos computadores é retratada pela Curva CBEMA, publicada na norma IEEE-446, apresentada na Figura 27. Apesar da curva CBEMA ter sido originalmente proposta para caracterizar a sensibilidade de computadores mainframe, atualmente ela também tem sido utilizada para outros componentes eletro-eletrônicos como: microcomputadores (PCs), equipamentos microprocessados, etc. Figura 27 - Curva de tolerância CBEMA. A Figura 27 mostra três regiões distintas de operação, onde estão associadas às letras A, B, e C, que representam: • Região A - região de imunidade; • Região B - região de susceptibilidade, com possibilidade de ruptura da isolação dos equipamentos (perda de hardware), devido à ocorrência de sobretensões transitórias e elevações de tensão; Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais • 75 Região C - região de sensibilidade, com possibilidade de parada de operação dos equipamentos, em virtude da ocorrência de afundamentos de tensão, juntamente com as interrupções momentâneas. No contexto deste trabalho, esta é a região de interesse. Recentemente a curva CBEMA foi modificada para caracterizar melhor a sensibilidade dos computadores e demais equipamentos, a fim de acomodar mais adequadamente a diversidade dos modernos dispositivos eletrônicos. Esta curva é a ITIC, apresentada na Figura 28. As regiões A, B e C são classificadas segundo os mesmos princípios da curva CBEMA. 2,5 B 1,5 1,0 Tensão (p.u) 2,0 A 0,5 C 0,001 0,01 0,1 1 10 100 0,0 1000 Tempo ( segundos ) Figura 28 - Curva de tolerância ITIC. Estudos recentes [7] ratificam que os microcomputadores (PCs) assim como outros equipamentos controlados por microprocessadores apresentam um alto grau de sensibilidade frente aos afundamentos de tensão. Estas pesquisas relatam como principais falhas às perdas de dados e a diminuição do desempenho provocando a necessidade de “re-start” do processo, assim como os microcomputadores devem ser reiniciados após a ocorrência de uma interrupção. Na prática, o efeito de um afundamento de tensão severo equivale ao efeito de uma interrupção. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 76 Neste estudo [7] foram testados somente microcomputadores, mas os resultados podem ser generalizados para PLCs e outros dispositivos controlados por microprocessadores. No total foram testados sete PCs de diversos fornecedores, fabricados entre 1996 e 2002. Todos os PCs possuíam um hardware básico: disco rígido, CD-ROM drive, placa de rede, etc. As fontes dos PCs foram ligadas na fonte geradora de distúrbios, sendo que foi considerado estado de falha do PC quando ocorria reinicialização do equipamento como conseqüência do distúrbio. A Figura 29 mostra as curvas de sensibilidade obtidas para os sete PCs juntamente com a curva de referência ITIC. Somente um dos PCs possui tolerância inferior à recomendada pela curva ITIC. Os demais PCs apresentam tolerância superior à curva ITIC e são imunes a afundamentos cuja duração é menor do que 100 ms. A maioria dos PCs tolera afundamentos de intensidade até 0,60 p.u.. Deste estudo pode-se concluir que não há nenhuma correlação entre o ano de fabricação dos PCs com a sensibilidade a afundamentos de tensão. Sensibilidade de Computadores 0.9 0.8 0.6 ITIC A96 B97 C97 D98 E98 F02 G02 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 595 578 561 544 527 510 493 476 459 442 425 408 391 374 357 340 323 306 289 272 255 238 221 204 187 170 153 136 119 85 102 68 51 34 0 0 17 Intensidade [p.u.] 0.7 Duração [ms] Figura 29 – Curva de sensibilidade para os PCs analisados [7]. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 77 5.4 – SENSIBILIDADE DE CONTATORES Contatores e relés auxiliares são os principais componentes utilizados nos circuitos de força e de comando dos motores instalados nos processos industriais. A falha de qualquer um destes componentes pode levar a parada total ou parcial de um processo, sendo que a retomada plena de produção poderá levar várias horas e até dias. Na pesquisa relatada em [7] foram testados 28 contatores de 5 marcas diferentes com correntes nominais entre 9 e 900 A. Foram utilizados nos testes contatores novos, usados e outros com data de fabricação antiga porem sem uso. Cada contator após um período de 2 minutos de funcionamento normal foi submetido a afundamentos de tensão. Cada afundamento, caracterizado por uma intensidade e duração, foi aplicado várias vezes e foi considerado severo aquele evento que provocou falha no contator em pelo menos 50% dos testes. Foram gerados afundamentos de intensidade entre 0,05 a 0,90 p.u., de duração de 1 ciclo até 1 s. Com o objetivo de analisar a influência do ângulo de fase da tensão no inicio do afundamento, na sensibilidade dos contatores, foram aplicados distúrbios começando em 00 e 900, da onda de tensão. A Figura 30 mostra as curvas máxima, mínima e média de sensibilidade dos contatores ensaiados para afundamentos com ângulo de inicio de 00 e 900, respectivamente. No gráfico estão representadas: a curva do contator mais sensível, curva à esquerda; do contator menos sensível, curva à direita; e de um contator de sensibilidade média. Pode-se observar que para eventos que começam no ângulo de fase 00 o contator de sensibilidade média tolera interrupções da ordem de 200 ms, enquanto, falha quando submetido a afundamentos de intensidade 0,5 p.u. e duração da ordem de 50 ms. Na prática, por segurança, deve-se prever o efeito do pior caso, ou seja, afundamentos começando em 900 da onda de tensão. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 78 Sensibilidade de Contatores 0.8 0.7 0.6 Intensidade [p.u.] 0 min 90 min 0.5 0 med 90 med 0.4 0 max 90 max 0.3 0.2 0.1 0 1 10 100 1000 Duração [ms] Figura 30 – Curva de sensibilidade de contatores [7]. Ainda, observando a Figura 30 pode se inferir que a tolerância dos contatores se mantêm constante quando a duração dos eventos ultrapassa 1 segundo. Estes valores podem ser considerados como valores de tolerância frente a subtensões de regime permanente, obtidos para todos os contatores testados, resultando na distribuição de tolerâncias, mostrada no gráfico da Figura 31. Os valores de tolerância obtidos estão de acordo com os limites estabelecidos na norma IEC 60947-4-1 [39], e também com valores obtidos em trabalhos semelhantes [21]. Analisando-se o gráfico da Figura 31 pode se concluir que a probabilidade de falha de um contator frente a um afundamento de intensidade 0.45 p.u. é de 50%. Quando se deseja evitar a parada de um processo devido a desatracamento de contatores, deveriam ser mitigados os afundamentos cujas intensidades sejam inferiores a 0,70 p.u.. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 79 Distribuição de Sensibilidade de Contatores 0 grau 90 grau 12 Número de Contatores 10 8 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 Intensidade [%] Figura 31 – Gráfico de distribuição de valores de tolerância de contatores [7]. Num outro estudo [8] foi desenvolvido um modelo matemático que permitiu realizar uma analise dinâmica do contator frente a fundamentos de tensão. Os resultados obtidos neste trabalho de simulação são coerentes com os resultados experimentais descritos anteriormente [7]. 5.5 - SENSIBILIDADE DOS ACIONAMENTOS DE VELOCIDADE VARIÁVEL Conforme citado no item 5.3, a sensibilidade dos equipamentos é geralmente representada a dois parâmetros (magnitude e duração) no plano cartesiano. Logo, a sensibilidade dos acionamentos de velocidade variável (AVVs), assim como todos os demais equipamentos eletro-eletrônicos, pode ser caracterizada por uma região dentro do plano tensão versus tempo, conforme mostra a Figura 32. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 80 Figura 32 - Sensibilidade dos AVVs [29]. A região denominada de disrupção é onde o equipamento certamente irá falhar, independentemente do modelo ou fabricante; a área sombreada representa a região de incerteza, em que o equipamento poderá falhar ou não, e finalmente, a região à esquerda e acima da área sombreada é considerada como sendo uma região normal de operação, também denominada de imunidade. Nesta última região, os equipamentos não apresentam sensibilidade a afundamentos de tensão. Vale ressaltar que é difícil estabelecer um padrão de comportamento para os equipamentos eletro-eletrônicos devido à diversidade de modelos e fabricantes. Contudo, a título de informação, a Tabela 14 apresenta as faixas de sensibilidade dos principais equipamentos utilizados em ambientes industriais [29]. Tabela 14 - Região de sensibilidade dos equipamentos eletro-eletrônicos [29]. Tipo de Equipamento Duração (ms) Intensidade (p.u.) PLCs – Controladores Lógicos Programáveis 616 0,45 - 0,75 AVVs - 5 HP (PWM) 83 0,6 - 0,8 Relés Auxiliares 33 0,6 - 0,78 Contatores 83 0,4 - 0,6 Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 81 Um fato a ser observado nos acionamentos de velocidade variável é que geralmente os acionamentos de corrente contínua (CC) são mais sensíveis a afundamentos de tensão que os acionamentos de corrente alternada (CA) [25]. Isto ocorre devido aos seguintes fatores: • Os acionamentos CC são normalmente desprovidos de dispositivos de armazenamento de energia (capacitor no lado CC); • Os sistemas de comando bloqueiam o sistema de disparo da ponte controlada devido ao desequilíbrio e assimetria detectados nos fasores da tensão. Já, o impacto dos afundamentos de tensão sobre acionamentos de corrente alternada pode-se manifestar de duas maneiras, ambas resultando em parada do acionamento [29]: • Primeira, quando o capacitor no barramento CC não consegue manter a tensão mínima nos terminais do inversor durante o período de permanência do afundamento de tensão; • Segunda, quando é violada a capacidade da eletrônica de controle de operar com níveis reduzidos de tensão. Estudos realizados em AVVs de corrente alternada que utilizam sistema de controle do tipo PWM-VSI mostram o efeito de diversos afundamentos de tensão no funcionamento do conversor [30]. Tal pesquisa consistiu em submeter os acionamentos a diversos tipos de afundamentos equilibrados e desequilibrados. Estas experiências mostraram, como esperado, que os afundamentos trifásicos são os mais severos. Enquanto que afundamentos com a mesma intensidade e duração que os supracitados, mas devido às faltas monofásicas ou bifásicas, não apresentaram o mesmo grau de severidade. Portanto, para estudar a tolerância destes equipamentos frente a afundamentos de tensão é necessário considerar outras variáveis de influência já que somente os parâmetros intensidade e duração são insuficientes para caracterizar a sensibilidade dos AVVs trifásicos. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 82 Usualmente, quando se estudam afundamentos de tensão, todo o raciocínio é conduzido tomando-se como premissa básica que tais distúrbios apresentam forma de onda retangular. Desta maneira, pode-se estabelecer uma relação de causa e efeito quanto à expectativa de interrupção da carga ou processo industrial. No entanto, sabe-se que, na prática, os afundamentos de tensão podem apresentar formas de onda não retangulares e semelhantes àquelas mostradas na Figura 33 e Figura 34, obtidas de medições reais na baixa tensão numa planta industrial. 09ago02 15:03:45 Phelps_BT_FF 1.2 1.1 1 0.9 Tensão [pu] 0.8 0.7 V12 V23 V31 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.89 0.87 0.84 0.82 0.79 0.77 0.74 0.72 0.69 0.67 0.64 0.62 0.60 0.57 0.55 0.52 0.50 0.47 0.45 0.42 0.40 0.38 0.35 0.33 0.30 0.28 0.25 0.23 0.20 0.18 0.16 0.13 0.11 0.08 0.06 0.03 0.01 0 Tempo [s] Figura 33 - Registro de afundamento de tensão não retangular-1. 07set02 03:57:08 Phelps_BT_FF 1.2 1.1 1 0.9 Tensão [pu] 0.8 0.7 V12 V23 V31 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.89 0.87 0.84 0.82 0.79 0.77 0.74 0.72 0.69 0.67 0.64 0.62 0.60 0.57 0.55 0.52 0.50 0.47 0.45 0.42 0.40 0.38 0.35 0.33 0.30 0.28 0.25 0.23 0.20 0.18 0.16 0.13 0.11 0.08 0.06 0.03 0.01 0 Tempo [s] Figura 34 - Registro de afundamento de tensão não retangular-2. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 83 Observando tais figuras, o leitor se depara com algumas dificuldades para identificar os parâmetros característicos associados e conduzir as análises necessárias. Estas dificuldades são atribuídas aos seguintes aspectos, dentre outros: • A intensidade do afundamento de tensão nas três fases é variável no tempo; • A duração do afundamento de tensão em cada uma das fases é diferente. Tendo em vista o que foi exposto, torna-se difícil determinar os parâmetros característicos dos afundamentos de tensão e apontar qual deles foi o fator determinante para promover o desligamento da carga. No entanto, visando melhor caracterizar os afundamentos de tensão trifásicos para situações como as mostradas nas Figuras 33 e 34, utiliza-se do procedimento chamado de agregação de fases, como foi descrito nos itens 4.2.2 a 4.2.5 desta dissertação. Somadas ao cenário já exposto, sabe-se que, dependendo do tipo de acionamento e sistema de controle utilizado, o desequilíbrio e assimetria angular presentes no afundamento também podem promover o desligamento dos acionamentos. Situações como estas podem até mesmo provocar danos permanentes nos conversores, dependendo do ajuste da proteção do acionamento, e da categoria dos componentes de eletrônica de potência utilizados. A título de exemplo, a Figura 35 mostra o diagrama fasorial das tensões durante a ocorrência de um defeito fase-terra em um sistema elétrico real, obtido via simulação. Observa-se claramente que as tensões ficam desequilibradas e assimétricas. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 0 ,8 9 8 V cn 1 0 5 ,7 0 ,2 6 5 0 ,9 0 1 84 Van -6 ,5 Vbn -1 0 5 ,6 Figura 35 - Diagrama fasorial de um afundamento de tensão assimétrico [29]. 5.6 – SENSIBILIDADE DE MOTORES DE INDUÇÃO Tanto motores de indução quanto motores síncronos podem suportar um afundamento de tensão durante um certo tempo [23]. Logo, é desejável temporizar a operação da proteção de subtensão para evitar desligamentos desnecesários do motor com conseqüentes paradas de processo. Diante da ocorrência de um afundamento de tensão, o motor de indução pode travar, não conseguindo reacelerar após a restauração da tensão ou somente perder velocidade reacelerando logo após o desaparecimento do distúrbio. O comportamento do motor, diante da ocorrência de um afundamento de tensão, depende dos fatores abordados nos itens subseqüentes. 5.6.1 - Características do Afundamento A localização da falta no sistema elétrico, o tipo de falta, o tempo de atuação da proteção de sobrecorrente e a configuração do sistema elétrico vão determinar a intensidade e a duração do afundamento e a recuperação da tensão após a falta. Conforme já abordado, a condição de falta mais severa é a trifásica, a qual poderá comprometer o funcionamento do motor. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 85 As fontes co-geradoras, as respostas das excitações e / ou reguladores de tensão, assim como, as características dinâmicas do comportamento da carga também afetam tanto a intensidade do afundamento como a recuperação da tensão. Após a eliminação da falta a tensão poderá oscilar durante um tempo maior que a própria duração do afundamento, como pode-se observar na Figura 36 para uma condição de falta trifásica eliminada em 8 e 24 ciclos, respectivamente. Figura 36 - Comportamento da tensão durante o afundamento [23]. Pode-se observar, que quanto maior for a permanência da falta, mais severo será o afundamento de tensão, comprometendo ainda mais o funcionamento da carga. 5.6.2 - Perda de Velocidade do Motor Em regime permanente, a diminuição do torque é proporcional ao quadrado da diminuição da tensão nos terminais do motor. Com a diminuição da tensão o escorregamento aumenta elevando também a corrente absorvida pelo motor. Cargas com baixa inércia irão desacelerar rapidamente com o motor podendo ocasionar a parada do processo. Em contrapartida, uma carga de maior inércia irá desacelerar mais lentamente, podendo manter o processo em operação. A perda de velocidade do conjunto rotativo deve ser limitada àquela que o motor consegue reacelerar quando a tensão na rede é restabelecida. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 86 Desacelerações mais acentuadas deveriam promover o desligamento do motor como forma de prevenção. 5.6.3 - Reaceleração do Motor A possibilidade de reaceleração do motor vai depender de quanto ele tenha desacelerado e do valor da tensão pós-falta. A corrente de reaceleração é função da corrente de partida do motor e da velocidade do mesmo no momento que a tensão é restaurada. As correntes de aceleração de todos os motores fluindo pela rede vão gerar um retardo na recuperação da tensão do sistema. Quanto mais forte é a rede em relação à carga, mais rápida será a recuperação da tensão. Dado que o tempo de reaceleração é diferente para cada motor, a recuperação da tensão ocorrerá por estágios. 5.6.4 - Comportamento do Transitório Diante de uma queda abrupta da tensão ocorrem fenômenos subtransitórios e transitórios no motor de indução cuja duração é menor que os transitórios observados nos motores síncronos [23]. Quando da ocorrência de um curto-circuito no sistema o motor contribuirá para a corrente de falta com um valor bastante elevado. Ao mesmo tempo o motor, que nestes instantes atua como gerador, sofre um torque negativo de aproximadamente 5 p.u.. Esta condição produz um desgaste no motor equivalente a uma partida direta, ou seja, se o motor possui dispositivos de partida indireta sofrerá maior desgaste no processo de desaceleração e reaceleração que nas partidas programadas. 5.6.5 - Estabilidade Durante o Afundamento de Tensão Os estudos realizados [23] mostram que a perda de estabilidade ocorre para afundamentos severos com duração maior que 500 ms e intensidade da ordem de 0,10 p.u.. Para afundamentos menos severos os motores apresentam estabilidade Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 87 inclusive para eventos cuja duração supera 500 ms, como pode ser observado na Figura 37. Características dos motores: (1) 2000 hp / H=3,6 / Tp=150%; (2) 1000 hp / H=3,3 / Tp=200%; (3) 2000 hp / H=7,2 / Tp=150%; (4) 1000 hp / H=6,6 / Tp=200%. As curvas (1) e (2) referem-se a motores carregados com uma carga de inércia segundo a norma NEMA [38]. E as curvas (3) e (4) referem-se a motores cujas cargas possuem uma inércia duas vezes maior à indicada na norma NEMA. Figura 37 - Estabilidade do motor de indução frente a afundamentos de tensão. O gráfico da Figura 37 mostra a curva de estabilidade para 4 motores em função da intensidade e a duração do afundamento de tensão, quando a perda de velocidade está limitada a um escorregamento máximo de 10%. Limitando-se o escorregamento a um valor máximo de 10%, as correntes de reaceleração ficam limitadas a valores aceitáveis para o motor. 5.7 – SENSIBILIDADE DE LÂMPADAS DE DESCARGA A falha destes componentes geralmente não produz efeitos diretos na produção. A falta de iluminação pode colocar em risco a segurança das pessoas Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 88 que trabalham no ambiente industriais. O principal risco do pessoal devido à falta de iluminação ocorre em locais onde há grande concentração de pessoas, como por exemplo, shopping centers, vias públicas, teatros, cinemas, etc. No trabalho descrito em [7], foram testadas sete lâmpadas com potências entre 70 e 250 W. O conjunto analisado inclui: lâmpadas de vapor de mercúrio, de vapor de sódio, e vapor metálico. Todas as lâmpadas foram envelhecidas 100 hs antes do ensaio. Entre a ocorrência de um afundamento e o seguinte, as lâmpadas foram energizadas normalmente durante alguns minutos. Como critério de desempenho considerou-se falha da lâmpada quando esta não reacendia imediatamente após a ocorrência do afundamento de tensão. A Figura 38 mostra as curvas de sensibilidade das lâmpadas ensaiadas. Pode-se observar que todas as lâmpadas falham quando são submetidas a afundamentos de tensão de duração maior que 25 ms. A tensão mínima tolerada foi de 0.5 p.u., embora varias lâmpadas não suportam afundamentos de intensidade menor que 0.80 p.u.. As lâmpadas mais sensíveis são as de vapor de sódio e de mercúrio. Sensibilidade de Lâmpadas 0.9 0.8 0.7 Hg 80 W Hg 125 W HPS 70 W HPS 100 W HPS 150 W HPS 250 W MH 250 W 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 290 280 270 260 250 240 230 220 210 200 190 180 170 160 150 140 130 120 110 90 100 80 70 60 50 40 30 20 0 0 10 Intensidade [p.u.] 0.6 Duração [ms] Figura 38 – Curva de sensibilidade de lâmpadas [7]. Capítulo 5 - Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais 89 5.8 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Os métodos convencionais utilizados para a caracterização destes fenômenos baseiam-se na intensidade e duração do evento, utilizando tensões fase-terra ou fase-fase. Supõe-se que esta metodologia apresenta limitações, pois essas duas grandezas não devem refletir plenamente os efeitos dos afundamentos de tensão sobre os equipamentos trifásicos, considerando que, na grande maioria dos casos, estes distúrbios são de natureza desequilibrada, tanto em módulo como em ângulo de fase. Portanto, é necessário estudar formas alternativas para caracterizar a sensibilidade dos equipamentos de modo a incluir nesta caracterização outros parâmetros tais como: desequilíbrio, assimetria, salto de ângulo de fase, etc. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 90 de Processos Industriais VI - METODOLOGIA PARA CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS 6.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS Este capítulo, apoiado na comprovação obtida no próximo, apresenta a principal contribuição desta dissertação. Descreve-se de forma detalhada como proceder para caracterizar a sensibilidade de processos industriais frente a afundamentos de tensão através de um sistema integrado de monitoração de QEE e de coleta de dados de processo. Para atingir este objetivo, primeiramente, é realizada uma descrição sobre monitores de qualidade de energia, destacando quais são os requisitos mínimos necessários visando à caracterização da sensibilidade de cargas e processos industriais. Na seqüência são propostos critérios para a escolha dos locais de monitoração do sistema elétrico, juntamente com um procedimento que permite determinar quais setores dos processos devem ser monitorados. Ainda neste capítulo é apresentada uma sistemática para registrar e avaliar os efeitos dos afundamentos de tensão nos processos monitorados. E, finalmente, descreve-se a proposta de uma metodologia para caracterizar os afundamentos de tensão e conseqüentemente a sensibilidade dos processos analisados. 6.2 – MONITORAÇÃO DA QUALIDADE DA ENERGIA ELÉTRICA Esta seção descreve as características gerais dos monitores de qualidade de energia elétrica (QEE), através da representação do monitor sob a forma de diagrama de blocos, descrevendo-se as características funcionais de cada bloco [47][48]. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 91 de Processos Industriais Na seqüência, são destacadas as principais características técnicas que devem ser observadas quando da aquisição de monitores, principalmente quando o assunto em foco é afundamentos de tensão. 6.2.1 - Estrutura Geral e Funções Básicas dos Monitores de QEE Antes de se estabelecer os requisitos mínimos desejáveis para os monitores aplicáveis à caracterização de sensibilidade de cargas e processos, são descritas a estrutura geral e as funções desempenhadas por um monitor de QEE, conforme diagrama esquemático apresentado na Figura 39. Os sinais de tensão e de corrente são fornecidos por TPs e TCs de medição em sistemas de média e alta tensão, ou obtidos diretamente nas barras nos casos de monitoração em baixa tensão. Estes sinais são inicialmente tratados por circuitos de condicionamento e filtragem, indicados como M1 na Figura 39. As tensões no secundário dos TPs (115 V) são rebaixadas para níveis compatíveis aos componentes eletrônicos usados. As correntes dos TCs são transformadas adequadamente em tensões. Circuitos apropriados são utilizados para proteção dos componentes do monitor de qualidade. Filtros passa-baixa são utilizados para evitar que ruídos prejudiquem o processamento do sinal, sem prejuízo do espectro harmônico de interesse aos sistemas de potência (possivelmente até 2 a 3 kHz). A função de amostragem e digitalização (M2) transforma o sinal analógico em digital, segundo uma certa taxa de amostragem. É desejável que esta taxa de amostragem possa ser um dos parâmetros de configuração a ser definido pelo usuário, como é indicado na ligação com o módulo M5 da Figura 39. A taxa de amostragem é usualmente dada em números de “amostras por ciclo” da freqüência fundamental do sistema elétrico. Os requisitos quanto à taxa de amostragem estão relacionados à rapidez dos fenômenos que se desejam registrar. Para o registro das formas de onda visando a análise de afundamentos de tensão, 16 pontos/ciclo podem ser suficientes para reproduzir o fenômeno desejado, considerando-se que não é de interesse as reproduções das eventuais Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 92 de Processos Industriais altas freqüências presentes nos instantes de ocorrência e de remoção do curtocircuito. Figura 39 - Estrutura geral e funções básicas de um monitor de QEE [47]. Outro parâmetro importante a ser considerado neste módulo é a resolução do conversor A/D. A resolução é o número de bits utilizados para expressar digitalmente a grandeza analógica, obtendo-se, obviamente, maior precisão quanto maior for o número de bits. Uma resolução de 12 bits é considerada suficiente para registros de afundamentos de tensão. O módulo M3 representa as funções de transdução, responsáveis pela determinação em tempo real dos valores: RMS de tensão, RMS da corrente e freqüência, além das potências ativas e reativas. Nos casos de aplicação mais simples, a transdução feita em tempo real prescinde do registro das formas de onda o que representa economia em memória. Uma alternativa para casos mais simples é salvar em memória apenas os parâmetros e os indicadores relacionados ao evento desejado. Os afundamentos de tensão são caracterizados pela variação do valor RMS da tensão, sobre a qual se definem a magnitude e duração. Assim sendo, o Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 93 de Processos Industriais algoritmo utilizado pelo monitor de qualidade para determinar o valor RMS da tensão passa a ser um ponto importante, visto que diferentes algoritmos podem levar a valores diferentes de intensidade e duração dos distúrbios [9]. De fato, quando o defeito é suficientemente longo, com o regime permanente do defeito bem definido, a intensidade do afundamento de tensão será a mesma qualquer que seja o algoritmo utilizado. A diferença entre os algoritmos está na sua resposta nos períodos transitórios quando a tensão evolui do regime permanente pré-falta para o regime permanente do defeito e nos transitórios de retorno para o regime permanente pós-falta. Os métodos utilizados para a determinação do valor RMS de tensão e corrente, são considerados um dos elementos dos denominados protocolos de medição. Uma breve descrição dos mesmos será apresentada na seqüência. 6.2.2 - Determinação do Valor RMS da Tensão Sendo um conceito associado a valores médios, o valor RMS de um sinal senoidal está sempre relacionado a um certo período de tempo, ou “janela”, usualmente um múltiplo do período T, como é mostrado na equação (23). VRMS = 1 T v(t ) 2 dt T ∫0 (23) Onde: v - valor instantâneo da tensão; T - período do sinal de tensão. Tratando-se de sinais digitalizados, a equação (23) se transforma num somatório, de acordo com a expressão (24): VRMS = 1 N N ∑v i =1 2 i (24) Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 94 de Processos Industriais Onde: N - número de pontos amostrados no período ou janela de cálculo; vi - são os valores amostrados do sinal de tensão instantâneo dentro da janela considerada; i - índice do ponto amostrado varrendo toda a amostra. A rapidez em expressar um afundamento na tensão devido a um curto circuito depende do instante da ocorrência do defeito em relação à janela. Um defeito no início da janela significa que o valor RMS calculado para esta janela (no corrente ciclo) expressará rapidamente esta nova condição de curto, pois a maioria dos pontos utilizados já são “pontos do curto”. É possível utilizar-se de qualquer tamanho de janela desde que seja múltiplo de um semiciclo. Uma janela maior significa que os valores obtidos passam a expressar de forma mais adequada a média do conjunto de pontos. Em contrapartida uma janela maior é incapaz de revelar variações de curta duração que se diluem no conjunto de pontos. Quando o cálculo dos valores RMS utiliza janelas sucessivas e seqüenciais de tamanho igual a um ciclo, associando um valor RMS para cada ciclo, o método é denominado de janela fixa de um ciclo. Calculado o primeiro valor RMS com os primeiros N pontos (i=1, N), a janela se desloca cobrindo os N pontos seguintes (i=N+1, 2N). Assim, cada ponto é considerado apenas uma vez, sendo que o cálculo da segunda janela é realizado com “pontos novos”. O método da janela deslizante, atualizada a cada novo ponto amostrado, calcula igualmente o valor médio do sinal quadrático da forma de onda, porém é calculado um novo valor a cada ponto amostrado e não a cada ciclo ou ½ ciclo. Isto significa que a janela “desliza” abandonando um ponto “velho” e incorporando à janela um ponto “novo”. Este método responde rapidamente às mudanças nas formas de onda. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 95 de Processos Industriais Portanto, os algoritmos que utilizam janelas deslizantes atualizadas a cada novo ponto são mais rápidos do que aqueles de atualização a cada ciclo ou meio ciclo. Conseqüentemente serão mais adequados para refletir, em valores RMS, as variações das formas de onda das tensões resultantes de defeitos. Contudo, vale ressaltar que existe um efeito de compensação de modo que na medição da duração do afundamento de tensão todos os protocolos exibem resultados similares. 6.3 – REQUISITOS MÍNIMOS DOS MONITORES DE QEE Nos itens subseqüentes serão apresentados os principais requisitos técnicos que devem ser considerados para a escolha dos monitores de QEE, quando o maior interesse for afundamentos de tensão. 6.3.1 - Taxa de Amostragem Para o registro das formas de onda visando a análise de afundamentos de tensão, 16 amostras por ciclo mostram-se suficientes para retratar satisfatoriamente o fenômeno desejado [48]. No entanto, dado que a maioria dos equipamentos disponíveis no mercado apresenta taxa de amostragem superior a 32 amostras por ciclo, considera-se este como valor mínimo aceitável. 6.3.2 - Protocolo de Cálculo do Valor RMS da Tensão Para o levantamento da característica de sensibilidade de cargas e processos recomenda-se adotar como protocolo mínimo, para cálculo do valor RMS da tensão, o protocolo de 1 ciclo, realizando-se o cálculo a cada ½ ciclo. Isto significa que a duração mínima de um evento medido será de 8,33 ms. 6.3.3 - Captura de Forma de Onda O monitor de qualidade deve fazer a captura da forma de onda da tensão cada vez que ocorrer um afundamento de tensão. A taxa de amostragem e o Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 96 de Processos Industriais número de ciclos armazenados devem ser configuráveis pelo usuário para otimizar o uso da memória do monitor. 6.3.4 - Exportação dos Dados Amostrados Para poder caracterizar os eventos, segundo diversas metodologias alternativas não disponíveis no monitor, é necessário que o sistema tenha a capacidade de exportar os dados de oscilografia da onda da tensão. Estes dados devem ser compatíveis para serem lidos e processados através de outros softwares tais como MS-Excel, MatLab, etc. Este requisito é imprescindível considerando que nenhum dos monitores disponíveis no mercado é capaz de caracterizar os afundamentos de tensão segundo as metodologias alternativas mencionadas no Capítulo 4. Isto permitirá que sejam testadas outras formas de caracterização dos afundamentos de tensão segundo novas metodologias que estão sendo pesquisadas. 6.3.5 - Critérios para Gatilhamento de Eventos Os critérios de gatilhamento de eventos, ou Trigger, para monitoração de afundamentos de tensão devem basear-se em violações de valores mínimos do valor RMS da tensão. Valores de histerese configuráveis também são importantes para evitar possíveis disparos sucessivos desnecessários. Retardos para Trigger e para Reset são desejáveis para o mesmo objetivo citado anteriormente. A definição dos tempos de registro “pré-Trigger” e “pós-Reset” são igualmente importantes para assegurar que o evento seja capturado em toda sua extensão cobrindo alguns ciclos pré-evento, o período de defeito e alguns ciclos pós-evento. 6.3.6 - Dados Disponibilizados Pelos Monitores de QEE Os monitores de qualidade devem ter capacidade de armazenar durante o período de avaliação, semanal ou mensal, as variações no tempo do valor RMS da Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 97 de Processos Industriais tensão nas três fases para cada evento; a tabela de eventos (data, horário, magnitude/duração nas três fases e a causa do Trigger), valores acumulados de incidência – duração – magnitude. Os indicadores podem ser apurados no computador de coleta a partir dos dados resgatados dos monitores de qualidade ou o próprio monitor pode disponibilizar tais informações. As variações no tempo do valor RMS da tensão, ou os dados amostrados da onda da tensão dos eventos capturados, devem ser mantidos no computador de coleta de dados durante um certo tempo para eventuais consultas posteriores. 6.3.7 - Características Mínimas para Registro de Afundamentos de Tensão • Protocolo mínimo para cálculo de valor RMS da tensão: janela de 1 ciclo atualizada a cada meio ciclo; • Registro de eventos de duração de ½ ciclo até 1 minuto; • Registro da tensão mínima/máxima em cada fase e duração do distúrbio em cada fase; • Registro de forma de onda do valor RMS da tensão em cada fase, ou fornecimento dos dados brutos que permitam construir estas curvas; • Registro de forma de onda do valor instantâneo da tensão em cada fase com taxa de amostragem mínima de 32 pontos/ciclo, registro mínimo de 60 ciclos pós-gatilho e 3 ciclos pré-gatilho; • Visualização dos fasores de tensão e de corrente; • Flexibilidade para exportar dados brutos (dados amostrados, formas de onda) e dados pré-tratados (intensidade, duração, fasores ou ângulos de fase) para serem lidos e analisados por outros softwares tais como MS Excel, MatLab, etc. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 98 de Processos Industriais 6.4 - ESCOLHA DOS LOCAIS DE MONITORAÇÃO A melhor maneira para se obter as características dos afundamentos de tensão num determinado local do sistema é através da monitoração. A busca pelas características dos afundamentos num determinado barramento pode perseguir dois objetivos: o primeiro com vistas a determinar a sensibilidade de um determinado processo industrial, o segundo, determinar o desempenho de uma determinada barra. Quando o objetivo da monitoração da QEE é determinar a sensibilidade de cargas e processos frente a afundamentos de tensão, é recomendado que a monitoração seja realizada no ponto mais próximo de conexão da carga objeto de análise [31][32]. A título de exemplo, nos Anexos A.1 e A.2, são apresentados os diagramas unifilares de um sistema de distribuição e de uma unidade fabril que possui processos sensíveis. Nestes diagramas são identificados os pontos de monitoração escolhidos através dos símbolos M1, M2 e M3. Considerando-se também a necessidade do estudo da propagação do distúrbio, com o objetivo de analisar as suas causas e assim propor soluções que mitiguem seu efeitos sobre cargas sensíveis, torna-se necessária a instalação de mais de um monitor. Normalmente, devem-se instalar os monitores em diferentes níveis de tensão para facilitar o estudo da propagação do distúrbio. É desejável que todos os monitores possam ser sincronizados no tempo, por exemplo, através de sistema GPS [31]. A duração do período de monitoração deve ser analisada em função das sazonalidades das causas dos distúrbios. Considerando-se que as faltas na rede de distribuição são uma das principais causas dos afundamentos de tensão, devese estabelecer um período de medição que contenha a estação onde se espera a maior ocorrência de faltas na rede. Por exemplo, na região sudeste o período de monitoração deve contemplar a estação das chuvas, uma vez que existe forte correlação entre incidência de descargas atmosféricas e ocorrências de Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 99 de Processos Industriais afundamentos de tensão. Considerando-se o exposto, recomenda-se um ano de período mínimo de monitoração. 6.5 – ESCOLHA DOS PROCESSOS Nesta seção, será proposto uma metodologia que permite escolher, de forma sistemática, os processos a serem monitorados dentro de uma planta industrial [31]. A metodologia para escolha dos processos deve seguir critérios definidos, dentre eles: o critério de maior custo por parada de processo, e o critério de menor tolerância a afundamentos de tensão. O primeiro passo consiste na identificação dos processos que compõem a unidade industrial. O segundo corresponde a escolha do processo a ser analisado. O processo selecionado pode ser dividido em sub-processos, resultando em uma lista dos sub-processos sensíveis ou uma lista dos sub-processos de maior custo frente a afundamentos de tensão. Primeiramente, devem ser identificados os processos dentro da planta industrial. Um processo está definido pelas suas cargas e seu sistema de controle. Cada processo identificado deve possuir o mínimo de interligações, elétricas ou mecânicas com os outros processos. Para cada processo devem ser estimados os custos ocasionados por cada interrupção não programada e o número de paradas anuais devidas a distúrbios na tensão de suprimento. O custo das paradas não programadas pode ser estimado através da contabilização dos seguintes itens: • Perdas materiais: perda de matérias primas processadas, perda de capacidade de produção, etc; • Perda de Homens-hora, custo de manutenção, reinicio de produção, Homens-hora para produção perdida, etc; Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 100 de Processos Industriais • Custos auxiliares: custos devido a atraso na entrega dos produtos, multas, perda de oportunidades, etc. A Figura 40 ilustra tal procedimento, onde cada processo aparece com seus indicadores associados. Também são representadas as interdependências entre os processos. Por exemplo, a parada do processo A implicará na parada dos processos B e C. Desta maneira, pode-se visualizar qual é o processo que afeta mais setores. 10 paradas / ano 8 paradas / ano $ 30.000 / parada 13 paradas / ano $ 20.000 / parada $ 40.000 / parada Figura 40 – Identificação dos processos da planta industrial. A partir dos dados mostrados na Figura 40 deve ser selecionado o processo a ser monitorado. A seleção depende se o objetivo da análise é encontrar o processo com maiores custos associados aos afundamentos de tensão ou o processo de maior sensibilidade frente a estes distúrbios. Os custos totais (CT) associados a cada processo podem ser calculados através da expressão (25). CTi = Ci ⋅ Fi + ∑ Ck ⋅ Fi k (25) Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 101 de Processos Industriais Onde: Ci – custo do processo i associado a cada afundamento de tensão; Ck – custo de parada dos processos k, quando a parada do processo i causa a parada dos processos k; FI – freqüência de parada do processo i; A título de exemplificação a Tabela 15 mostra os resultados dos cálculos dos custos totais para os processos representados na Figura 40. Desta análise pode-se concluir que, quando se deseja analisar o processo cujos custos totais são maiores, deve-se escolher o processo A. Por outro lado, quando o objetivo é analisar o processo mais sensível, neste exemplo, o processo escolhido deveria ser o processo B. Tabela 15 – Custos totais devidos a afundamentos de tensão. Processo Custo total anual A 900.000,00 B 260.000,00 C 320.000,00 6.6 – MÉTODO PARA AVALIAR O IMPACTO DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO O método para avaliar o impacto dos afundamentos de tensão sobre processos industriais depende dos meios disponíveis para realizar tal avaliação. Assim, quando é avaliado o processo de forma global, ou seja, sem analisar o comportamento de cada uma de suas sub-etapas, a análise deve ser focalizada no produto resultante do processo. Neste caso, deve ser escolhido um conjunto de parâmetros mensuráveis do produto. Para cada parâmetro escolhido devem ser definidos os valores considerados aceitáveis, sendo que enquanto o produto final Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 102 de Processos Industriais atende aos valores estabelecidos como aceitáveis, o processo será classificado como insensível aos distúrbios registrados. Caso contrário, o processo será classificado como sensível ao distúrbio e o mesmo será registrado como severo. Uma outra maneira de avaliação mais simples consiste em classificar o processo como operativo, ou não operativo. Assim os afundamentos que resultarem numa mudança do estado operativo para o estado não operativo do processo serão considerados severos, e o processo será classificado como sensível a estes eventos. Em certas situações, um processo pode ser dividido em sub-processos, sendo que cada um representa uma carga individual. Tratando-se de cargas rotativas podem ser avaliados alguns parâmetros tais como, rotação, torque, etc. Em outros casos tratando-se de cargas não rotativas, podem ser avaliados outros parâmetros tais como, pressão, temperatura, luminosidade, etc. É recomendável que quando são monitorados estes parâmetros, possa ser gatilhado o monitor de QEE quando algum dos parâmetros monitorados foge aos valores considerados aceitáveis. Esta prática permite o cruzamento mais efetivo de dados entre distúrbios na rede de suprimento e falhas no funcionamento das cargas que compõem o processo analisado. Quando não se dispõe de um mecanismo automático de monitoração dos processos, o sucesso da análise está no treinamento das pessoas responsáveis pelo registro das ocorrências das cargas monitoradas. No Anexo A.3, é mostrado um exemplo de relatório de ocorrências de processos monitorados em uma fábrica de condutores elétricos. 6.7 – CARACTERIZAÇÃO DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO As cargas e os processos industriais apresentam sensibilidade a certos parâmetros dos afundamentos de tensão, tais como: intensidade, duração, combinação de intensidade e duração, assimetria dos fasores, ponto da onda de tensão de inicio do afundamento e salto do ângulo de fase. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 103 de Processos Industriais Vale dizer que a sensibilidade dos processos à perda de energia, ponto de inicio do afundamento e salto do ângulo de fase, é também analisada [31]. Neste trabalho de dissertação, é proposto a caracterização dos afundamentos de tensão segundo a metodologia clássica intensidade/duração considerando os tipos A, B, C, e D, e metodologia a um único parâmetro já abordada no item 4.5. Recomenda-se caracterizar os eventos através das mesmas tensões nas quais estão ligadas as cargas e processos monitorados, ou seja, se as cargas estão conectadas entre fases, devem ser monitoradas as tensões fase-fase. Alternativamente, as tesões fase-fase também podem ser obtidas dos registros das oscilografias das tensões fase-neutro. Para a metodologia clássica de caracterização é recomendada a agregação de fases dos eventos trifásicos, utilizando-se as características da fase que experimentou o afundamento mais severo, ou seja, de menor tensão remanescente. Adicionalmente, o afundamento trifásico deve ser classificado segundo os tipos A, B, C e D, já apresentados no item 4.3. Desta maneira, apesar da perda de dados atribuída a agregação de fases, mantém-se a diferenciação dos eventos pelas características de assimetria e desequilibro dos fasores de tensão. Neste trabalho propõe-se que os eventos também sejam caracterizados através dos métodos alternativos a um parâmetro: perda de tensão, perda de energia, Thallam, e Heydt. Assim, devem ser consideradas as características trifásicas dos eventos obtidos a partir dos registros individuais de cada uma das fases. Desta forma as expressões (26), (27), (28) e (29), derivadas de (15), (16), (17) e (18) mostram a forma de cálculo dos métodos de perda de tensão (Lv), perda de energia (LE), Thallam (EVS), e Heydt (W), respectivamente, contemplando eventos trifásicos. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 104 de Processos Industriais Levando em consideração que em todas as expressões os valores de tensão são normalizados para cálculo em p.u., a unidade resultante da aplicação de qualquer uma das metodologias será p.u. multiplicado pela unidade de tempo, ou seja, milisegundos, segundos, ou ciclos. v Bj viA vkC ∆ + − ∆ + − LV = ∑ 1 − t 1 t 1 ∑j V ∑k V ∆t Vnom i nom nom (26) 2 B A vi vj LE = ∑ 1 − ∆t + ∑ 1 − Vnom V i j nom (27) 2 C vk ∆t + ∑ 1 − ∆t Vnom k 2 2 2 EVS 2 v Bj vA vkC = ∑ 1 − i ∆t + ∑ 1 − ∆ t + 1 − ∑k V ∆t Vnom V i j nom nom 3.14 viA W = ∑ 1 − Vnom i 3.14 v Bj ∆t + ∑ 1 − j Vnom (28) 3.14 vkC ∆t + ∑ 1 − Vnom k ∆t (29) Onde: LV – perda de tensão; LE – perda de energia; EVS – método de Thallam; W – método de Heydt; vA, vB, vC - são os valores RMS das tensões; Vnom – tensão nominal das cargas monitoradas; ∆t – intervalo de tempo entre duas amostragens consecutivas. Vale dizer que o cálculo do ponto de inicio do afundamento de tensão pode ser muito útil na caracterização de sensibilidade de cargas monofásicas, cujo Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 105 de Processos Industriais funcionamento dependa intensamente das suas características eletromagnéticas, como por exemplo, contatores. O estudo da sensibilidade destes dispositivos, apresentado no item 5.4, mostrou um alto grau de dependência da sensibilidade dos contatores com o ponto de inicio do afundamento. Para cada afundamento trifásico podem ser calculados três pontos diferentes de inicio do afundamento, um ponto de inicio correspondente a cada fase. O ponto a ser utilizado é aquele pertencente à fase onde estão ligadas as cargas monofásicas monitoradas. O cálculo do salto do ângulo de fase pode ser realizado a partir das expressões (13) e (14), apresentadas no Capítulo 4. Sua utilização é importante quando os processos monitorados possuem conversores CA / CC controlados. Conforme abordado no Capítulo 5, este tipo de cargas é sensível a esta característica do afundamento de tensão devido ao sistema de controle utilizado para o disparo dos tiristores. Contudo, a pesar de sua relevância, a caracterização da sensibilidade de cargas e processos frente ao salto do ângulo de fase do afundamento não fará parte do escopo desta dissertação. 6.8 - REPRESENTAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE PROCESSOS Uma vez caracterizados os eventos, e de posse dos registros de paradas de produção ou qualquer outra forma de registros de eventos nos processos monitorados, segundo o que foi apresentado no item 6.5, devem-se confrontar os dados para identificar quais foram os distúrbios que causaram alguma perturbação nos processos monitorados. A caracterização da sensibilidade dos processos depende de como são representados os afundamentos de tensão e da maneira como são identificados os distúrbios severos. Portanto, nesta seção, serão mostradas diversas maneiras de caracterizar a sensibilidade dos processos, em decorrência, das diversas formas de caracterização dos afundamentos e de como são representados os eventos severos. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 106 de Processos Industriais Assim, para eventos caracterizados segundo a intensidade, duração e tipo de afundamento (A, B, C e D), a Figura 41, mostra uma maneira adequada para representar a sensibilidade do processo monitorado. No gráfico devem ser representados todos os eventos registrados, sendo cada tipo de afundamento deve ser representado por uma simbologia diferente. Por exemplo, afundamentos tipo A são representados por quadrados, do tipo C e D, representados por círculos e triângulos, respectivamente. Adicionalmente, os afundamentos severos, ou seja, os que produzem algum tipo de distúrbio no processo, são representados na cor vermelha, enquanto que os afundamentos não severos são representados na cor verde. Assim, são identificadas as regiões de vulnerabilidade e de tolerância para cada tipo de afundamento. Esta divisão de regiões é realizada através da linha vermelha, com um estilo diferente de linha para cada tipo de afundamento. Por exemplo, a linha vermelha pontilhada delimita a região de tolerância e vulnerabilidade para afundamentos tipo A. Esta metodologia é considerada totalmente consistente quando não há nenhuma sobreposição das regiões de sensibilidade e tolerância, como no caso da Figura 41. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 107 de Processos Industriais Caracterização Clássica 1 0.9 0.8 Intensidade [pu] C A 0.7 D 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 Duração [ms] Figura 41 – Caracterização da sensibilidade segundo tipos A, B, C, e D. Quando os distúrbios são caracterizados através de um único parâmetro, ou seja, perda de tensão, perda de energia, método de Thallam, e método de Heydt, a sensibilidade do processo deve ser representada através do diagrama mostrado na Figura 42. Neste diagrama são representados no eixo das abscissas todos os eventos registrados. No eixo das ordenadas são representados os dois estados dos processos, ou seja, operativo e não operativo, após a ocorrência do distúrbio. Será considerado que esta metodologia caracteriza de forma efetiva a sensibilidade do processo quando os eventos a partir de um certo valor sejam todos severos, e que não exista sobreposição dos eventos severos com aqueles não severos. No caso do exemplo da Figura 42, a sensibilidade do processo está definida pelo valor 5,67 p.u. x ms. Ou seja, todo afundamento cuja caracterização através da metodologia de Heydt resulte num valor superior a 5,67 p.u. x ms, espera-se algum distúrbio no processo monitorado. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 108 de Processos Industriais Caracterização Heydt [p.u. - ms] Região de Sensibilidade Para Produção 254 151 42.1 24 5.67 1.79 0.97 0.69 0.52 0.33 0.24 0.21 0.18 0.15 0.14 0.13 0.09 0.07 0.05 0.02 Limiar de Sensibilidade Não para Produção Figura 42 – Caracterização da sensibilidade através de um parâmetro. Quando a sensibilidade é caracterizada através de outros parâmetros, tais como, o ponto de inicio do afundamento ou o salto de fase, recomenda-se a realização de um estudo combinado. Ou seja, combinar, por exemplo, a sensibilidade ao ponto de inicio do afundamento com a sensibilidade à intensidade do distúrbio ou com uma das caracterizações através de um único parâmetro. A representação é realizada através da delimitação das áreas de vulnerabilidade e imunidade num gráfico cujos eixos representam cada uma das características do afundamento, tais como, intensidade e ponto de inicio do afundamento, como pode ser observado na Figura 43. A partir da Figura 43, pode-se concluir que o processo analisado apresenta um alto grau de vulnerabilidade a afundamentos cujo ponto de inicio é próximo de 900 e 2700, com intensidade da ordem de 0,70 p.u.. Da mesma forma conclui-se que o processo é menos sensível a afundamentos de tensão que começam com ângulos de fases próximos a 00 e 1800, com intensidade da ordem de 0,40 p.u.. Capítulo 6 - Metodologia para Caracterização da Sensibilidade 109 de Processos Industriais Caracterização Combinada Intensidade vs Ponto de Inicio do AMT 1.00 0.90 0.80 Intensidade [pu] 0.70 0.60 0.50 0.40 0.30 0.20 0.10 0.00 0 45 90 135 180 225 270 315 360 Ponto de Inicio do Afundamento [graus] Figura 43 – Caracterização de sensibilidade através do ponto de inicio do AMT. 6.9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo da dissertação foi proposta uma metodologia para a caracterização da sensibilidade de cargas e processos industriais frente a afundamentos de tensão. No capítulo subseqüente será apresentada a aplicação desta metodologia num sistema real com o objetivo de validar os procedimentos propostos. Capítulo 7 - Estudo de Caso 110 VII - ESTUDO DE CASO – CARACTERIZAÇÃO DA SENSIBILIDADE DE UM PROCESSO INDUSTRIAL 7.1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS A oportunidade de realizar um estudo real de sensibilidade de processos industriais frente a afundamentos de tensão foi possível devido ao projeto de pesquisa acordado com o Departamento Municipal de Eletricidade de Poços de Caldas (DME), dentro do Programa anual de Pesquisa e Desenvolvimento – P&D, da ANEEL. Neste contexto, o DME, através de seu P&D, ciclo 2000/2001, intitulado “Desenvolvimento de Uma Metodologia para Caracterização da Sensibilidade de Cargas/Processos Industriais Frente a Afundamentos de Tensão”, visava propor uma metodologia para a caracterização da sensibilidade de cargas/processos industriais frente a tais distúrbios, apoiado num sistema de monitoração e de coleta de dados instalado tanto no sistema de distribuição da concessionária como em um dos principais consumidores do município de Poços de Caldas, como mostrado adiante. 7.2 – ESPECIFICAÇÃO DO SISTEMA DE MONITORAÇÃO Após a realização da análise comparativa entre diversos monitores de QEE disponíveis no mercado, optou-se pelo ION 7600 da Power Measurements Ltd. Pequeno e com formato apropriado para instalação em painéis, o ION é um medidor trifásico composto de quatro entradas de tensão e cinco entradas de corrente. Vale destacar que para este projeto optou-se pela versão portátil do equipamento, que se encontra acondicionado numa maleta para transporte. Além das entradas analógicas, o monitor possui oito entradas digitais. Este instrumento possui um amplo display onde são exibidas leituras em tempo real juntamente com alguns de seus registros. Capítulo 7 - Estudo de Caso 111 As leituras e registros que podem ser disponibilizados em tempo real e gravados em intervalos de tempo definidos incluem, valores RMS de tensões e correntes, família de grandezas de potência, freqüência, energia, demanda, harmônicos e componentes simétricas, possibilitando mais de 600 tipos de registros diferentes entre os vários tipos de grandeza. O equipamento detecta e registra a ocorrência de eventos em valores RMS calculados a cada ½ ciclo, registrando, também, as formas de onda. As grandezas registradas durante as faltas podem ser configuradas pelo usuário. Também podem ser disparados registros através de entradas digitais ou disparados manualmente. O ION 7600 possui 4 MB de memória RAM não volátil com opção de expansão para 8 MB. A memória pode ser gerenciada para cada tipo de registro, de modo a alocar recursos de acordo com as necessidades e periodicidade da leitura dos dados, assegurando que dados importantes não sejam perdidos por sobreposição de registros ou esgotamento de memória. Por padrão, o instrumento vem com portas de comunicação serial RS-232C e RS-485. Uma porta serial, tipo infravermelho, no painel para troca de dados sem fio com um computador portátil também está disponível. O instrumento também possui um modem interno. A comunicação via rede Ethernet é opcional. O ION 7600 não é um instrumento remoto de funções fechadas. O nome “ION” significa “Integrated Objects Network”. O instrumento na verdade é um aparelho de aquisição de dados com uma linguagem de programação orientada a objetos, embutida com diversas funções lógicas, matemáticas e trigonométricas, que permitem ao usuário medir tipos de dados e indicadores calculados dentro do próprio instrumento. Essa lógica torna o ION 7600 praticamente um pequeno Controlador Lógico Programável voltado para operar com grandezas elétricas do sistema de potência. Capítulo 7 - Estudo de Caso 112 O software de trabalho da “Power Measurement Ltd” escolhido para este projeto chama-se “Pegasys”. É o responsável pela coleta, armazenamento, organização e distribuição dos dados dos instrumentos instalados no campo. Seguindo uma tendência encontrada nos sistemas de gerenciamento de dados de qualidade de energia, o armazenamento dos dados é feito em um banco de dados SQL (Sybase SQL Anywhere). O Pegasys possui ferramentas para geração automática de relatórios e customização dos mesmos usando-se o programa MSExcel e linguagem Visual Basic, divulgação via E-Mail, impressora ou internet, mensagens de alerta via intranet e aquisição automática de dados via telefone ou rede. 7.3 – ESCOLHA DOS LOCAIS DE MONITORAÇÃO O sistema implantado para a monitoração da qualidade de energia elétrica é composto de três monitores de QEE. O primeiro ponto de monitoração escolhido foi a barra de 138 kV da SE Poços I da empresa supridora. Desta barra sai uma linha de transmissão que supre a SE Poços II da qual sai o alimentador da fábrica objeto de estudo. Os demais pontos para monitoração de QEE estão localizados nas instalações do consumidor. O segundo ponto de monitoração está localizado na rede de entrada da fábrica em 13,8 kV, onde os sinais de tensão são obtidos dos TPs de medição do DME. O terceiro ponto de monitoração corresponde ao secundário do transformador da SE 3 da unidade fabril. Esta SE foi escolhida devido a sua proximidade elétrica dos processos a serem analisados. A tensão da rede neste ponto é 440 V, sendo que a medição é feita diretamente na barra do secundário do transformador, ou seja, sem a utilização de TPs. Para maiores detalhes ver diagramas apresentados nos Anexos A.1 e A.2. Vale esclarecer que os três monitores de QEE estão configurados para registrar tensões fase-neutro, sendo este o procedimento recomendado para se executar medições de afundamentos de tensão. Os TPs de medição em todos os Capítulo 7 - Estudo de Caso 113 pontos de monitoração devem apresentar a conexão estrela aterrada no primário e no secundário. 7.4 – DESCRIÇÃO DA FÁBRICA E DOS PROCESSOS MONITORADOS O cliente escolhido para monitoração da QEE é uma unidade fabril que produz condutores de alumínio e cabos elétricos de baixa e média tensão. Esta fábrica é um dos maiores clientes da distribuidora local e vinha apresentando parada de produção em seus processos. Estas paradas, segundo seus técnicos, eram devidas a distúrbios no fornecimento de energia. Diante deste cenário, o DME escolheu o GQEE/UNIFEI como parceiro para desenvolver uma pesquisa que permitisse dentro de outros objetivos caracterizar a sensibilidade dos processos de tal cliente frente a afundamentos de tensão, além de propor medidas que possibilitassem mitigar os efeitos nocivos sobre as cargas do consumidor. Assim sendo, após reuniões técnicas com a gerência de produção e manutenção da fábrica, foram definidas as linhas de produção a serem monitoradas. Esta seleção foi realizada levando-se em conta os seguintes critérios: • Importância destas áreas dentro do processo de fabricação; • Freqüência de paradas de produção supostamente devidas a distúrbios na rede elétrica; • Custos associados às paradas de produção não programadas: perda de matéria prima, tempo de retomada de produção, etc. Desta forma, os processos escolhidos para caracterização da sensibilidade foram: catenária 44, laminador Spiden e laminador Properzi, conforme pode ser observado no Anexo A.2. Capítulo 7 - Estudo de Caso 114 Para analisar a sensibilidade destes processos frente a afundamentos de tensão foi elaborado um formulário, conforme Anexo A.3, para registro de eventos de produção. Neste formulário são registrados todos os eventos de falhas no funcionamento dos processos monitorados. A seguir são descritas as principais cargas que compõem os processos monitorados. 7.4.1 - Catenária 44 A catenária 44 é o único processo de extrusão de múltiplas camadas desta indústria. Através deste processo são fabricados cabos que possuem mais de uma camada de isolante. É um processo contínuo de velocidade controlada, pois a espessura do isolante depende da pressão dos bicos injetores e da velocidade do cabo na extrusora. As principais cargas que formam este processo são motores de corrente contínua e um motor de indução, sendo que os motores CC são controlados por conversores CA / CC e o motor de indução por um inversor de freqüência. Os principais equipamentos são: • Extrusora 6”: motor CA, inversor de freqüência, 700 V, 600 A, 250 CV (1997). • Extrusora 2,5”: motor CC 40 Hp, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 500 Vcc, 60 A. • Extrusora 3,5”: motor CC 65 Hp, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 500 Vcc, 100 A. • Pull out: motor CC 7,5 Hp, conversor CA/CC, 500 Vca, 130 A, 60 Hz, 520 Vcc, 150 A. Ajuste para 230 Vca. Sobrecorrente 38 A. • Bobinadeira: motor CC 7,5 Hp, conversor CA/CC, 220 Vca, 60 Hz, 120 Vcc, 56 A. Capítulo 7 - Estudo de Caso • 115 Helper: motor CC 5 Hp, conversor CA/CC, 120 Vca, 60 Hz, 120 Vcc, 37 A. • Metering: motor CC 5 Hp, conversor CA/CC, 500 Vca, 52 A, 60 Hz, 520 Vcc, 60 A. 7.4.2 - Laminadores Os laminadores são responsáveis pelo processamento do alumínio líquido que vem do forno. Através deste processo, o alumínio é transformado primeiro em uma barra de alumínio e a seguir em um vergalhão. Este vergalhão de alumínio é a matéria prima que será utilizada para a fabricação dos cabos. a) Laminador Spiden: • Motor principal: motor CC, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 500 Vcc, 300 A, 190 Hp; • Motor da roda: motor CC, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 500 Vcc, 30 A. b) Laminador Properzi: • Motor principal: motor CC, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 500 Vcc, 120 A, 190 Hp; • Motor da roda: motor CC, conversor CA/CC, 440 Vca, 60 Hz, 600 Acc. No Anexo A.2, é apresentado um diagrama unifilar simplificado do sistema elétrico do consumidor, onde estão indicadas as cargas que estão sendo monitoradas. 7.5 – AVALIAÇÃO DO IMPACTO DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO Para cada ocorrência de afundamento de tensão registrada pelos monitores de QEE é observado o comportamento dos processos em estudo. São Capítulo 7 - Estudo de Caso 116 diferenciados dois estados dos processos nos momentos pré e pós-evento, ou seja processo funcionando, processo parado. Deve-se observar que quando ocorre um evento e o processo estava inoperante, este evento não pode ser classificado para caracterizar a sensibilidade do processo. Portanto, é de suma importância conhecer o estado do processo no período pré-evento. Devido à falta de registros por parte da produção, não foi possível caracterizar o estado pré-evento das cargas para todos os distúrbios registrados. Esta foi a principal dificuldade encontrada neste trabalho. Assim, para cada evento, existem três classificações possíveis: severo, não severo e sem classificação. Evento severo é aquele que produz parada do processo analisado, evento não severo é aquele que não sensibiliza o processo, e sem classificação significa que o evento não pode ser classificado, pois o processo estava parado no período pré-evento. A monitoração do sistema elétrico teve início em abril de 2002, sendo que até o mês de março de 2003, foram relatadas as paradas de produção apresentadas na Tabela 16. Considerando-se o baixo número registrado de paradas de produção, a análise foi concentrada naquele processo que apresentou maior número de registros, ou seja, a catenária 44. Portanto, a caracterização da sensibilidade será limitada apenas para este processo, mas a metodologia utilizada pode ser aplicada a qualquer processo. Tabela 16 – Registros de paradas de processos. Registro de Parada de Produção Capítulo 7 - Estudo de Caso 117 Horário Local Data Inicio Final Processo Motivo da Falha 29/07/02 14:00 ? Catenária 44 Afundamento de Tensão 29/10/02 8:45 09:45 Properzi Afundamento de Tensão 29/10/02 8:45 09:20 Spiden Afundamento de Tensão 29/10/02 8:45 14:00 Catenária 44 Afundamento de Tensão 29/10/02 23:30 05:00 Catenária 44 Afundamento de Tensão 29/10/02 23:30 24:30 Properzi Afundamento de Tensão 06/02/03 17:00 ? Catenária 44 Afundamento de Tensão 06/02/03 17:00 ? Properzi Afundamento de Tensão 06/02/03 17:00 ? Spiden Afundamento de Tensão 22/02/03 12:14 12:34 Catenária 44 Afundamento de Tensão 22/02/03 12:14 12:34 Properzi Afundamento de Tensão 22/02/03 12:14 12:34 Spiden Afundamento de Tensão 7.6 – REGISTRO DOS AFUNDAMENTOS DE TENSÃO Inicialmente, os dados são disponibilizados sob a forma de registros de magnitude e duração do afundamento de tensão em cada fase, como pode ser observado nos Anexos A.4 a A.6. Também são obtidos os registros da oscilografia da onda da tensão discretizada com 32 pontos por ciclo. As oscilografias obtidas possuem uma duração de 54 ciclos, ou seja, 900 ms. Como o principal objetivo de trabalho é caracterizar a sensibilidade dos processos conectados na rede de baixa tensão, os registros obtidos pelo monitor instalado nesta rede são adequadamente manipulados. Utilizando-se os dados da oscilografia da onda da tensão fase-neutro, são calculadas as tensões instantâneas de linha, conforme pode ser observado no Anexo A.7, uma vez que os equipamentos são conectados entre fases. De posse das tensões instantâneas Capítulo 7 - Estudo de Caso 118 de linha, são calculadas as características do afundamento de tensão segundo as seguintes metodologias: intensidade e duração; tipos A, B, C e D; e metodologias a um parâmetro. Também é obtida, sob forma de gráfico, a evolução do valor RMS do afundamento de tensão, conforme mostrado no Anexo A.8. Quando os afundamentos são caracterizados através de intensidade e duração, é efetuada a agregação de fases, sendo que a intensidade e a duração do afundamento são definidas pelas características da fase que apresentar menor tensão remanescente. Para todos os eventos registrados também é realizada a agregação temporal, adotando-se uma janela de agregação de 1 minuto. Assim, o evento agregado é representado pelo afundamento de menor intensidade, registrado neste intervalo. 7.7 – CARACTERIZAÇÃO DOS DISTÚRBIOS Os dados obtidos do monitor instalado no sistema de baixa tensão do consumidor foram tratados de maneira a obter a classificar os afundamentos de tensão segundo as diversas metodologias apresentadas no Capítulo 4. Dado que os monitores estão configurados para analisar as tensões faseneutro e as cargas estão ligadas entre fases, o primeiro tratamento dos dados foi a obtenção dos valores das tensões fase-fase para os afundamentos registrados no sistema de baixa tensão da fábrica. O cálculo das tensões fase-fase é realizado através de uma planilha de cálculo do MS-Excel. Com base nestas informações, os afundamentos de tensão são caracterizados segundo as seguintes metodologias apresentadas no Capítulo 6, perda de tensão (Lv), perda de energia (LE), Thallam (EVS), Heydt (W), de acordo com as expressões (30), (31), (32) e (33), respectivamente. Os eventos também são caracterizados segundo a proposta de Bollen, ou seja, afundamentos tipo A, B, Capítulo 7 - Estudo de Caso 119 C e D. Esta caracterização é feita pela comparação dos fasores durante o afundamento com os padrões mostrados na Figura 22. 1728 v AB v BC v CA LV = ∑ 1 − i i0.52iΨ iAB + 1 − i i0.52iΨ iBC + 1 − i i0.52iΨ CA i Vnom i =16 Vnom Vnom (30) v AB 2 v BC 2 v CA 2 AB BC CA i i i (31) Ψ + − Ψ + − Ψ LE = ∑ 1 − i 0.52 i 1 i 0.52 i 1 i 0.52 i i i i V V V i =16 nom nom nom 1728 2 2 2 viAB viBC viCA AB BC CA (32) EVS = ∑ 1 − i 0.52 i Ψ + 1 − i 0.52 i Ψ + 1 − i 0.52 i Ψ i i i Vnom V V i =16 nom nom 1728 3.14 3.14 3.14 viAB viBC viCA AB BC CA (33) W = ∑ 1 − i 0.52 i 1 i 0.52 i 1 i 0.52 i Ψ + − Ψ + − Ψ i i i Vnom Vnom Vnom i =16 1728 Onde: i – índice do ponto da oscilografia da onda de tensão, considerando-se que a oscilografia possui 32x54=1728 pontos; ViAB, ViBC, ViCA - são os valores RMS das tensões de linha, calculados através de uma janela que considera os 16 pontos amostrados até o ponto i; Vnom – tensão nominal das cargas na baixa tensão (440 V); 0,52 – intervalo de tempo entre duas amostragens consecutivas (0,52 ms); ΨiAB – variável auxiliar, cujo valor é “1” quando ViAB<(0,90Vnom); e “0” quando esta condição não é satisfeita; ΨiBC – variável auxiliar, cujo valor é “1” quando ViBC<(0,90Vnom); e “0” quando esta condição não é satisfeita; Capítulo 7 - Estudo de Caso 120 ΨiCA – variável auxiliar, cujo valor é “1” quando ViCA<(0,90Vnom); e “0” quando esta condição não é satisfeita. Com base na metodologia proposta, obtém-se os valores apresentados na Tabela 17, que correspondem aos afundamentos registrados no período de monitoração de abril/2002 até março/2003. Nesta tabela, são identificados na cor vermelha os eventos severos que produziram paradas do processo monitorado. Na cor amarela são representados os eventos severos que não foram classificados, pois o processo não estava em operação nos momentos em que ocorreram os afundamentos de tensão. Capítulo 7 - Estudo de Caso 121 Tabela 17 – Caracterização dos afundamentos registrados na baixa tensão. Data / horário dd/mm/aaaa @ hh:mm:ss Perda de Tensão [p.u. ms] Perda de Energia [p.u. ms] Thallam [p.u. ms] Heydt [p.u. ms] Intensidade [pu] Duração [ms] Tipo 30/04/2002@17:47:12.591 03/05/2002@19:59:21.234 13/05/2002@11:44:51.002 19/05/2002@10:15:08.242 12/06/2002@05:10:26.696 17/07/2002@07:35:07.258 20/07/2002@12:23:48.423 27/07/2002@07:58:27.605 29/07/2002@14:50:01.377 01/08/2002@23:10:17.671 02/08/2002@12:55:39.611 02/08/2002@23:17:39.387 03/08/2002@10:59:22.340 04/08/2002@06:40:08.108 04/08/2002@13:26:20.592 09/08/2002@15:03:46.426 09/08/2002@19:11:07.781 06/09/2002@19:29:12.294 07/09/2002@03:57:08.902 29/09/2002@23:30:37.502 01/10/2002@11:35:23.464 09/10/2002@09:03:31.669 13/10/2002@06:43:59.351 13/10/2002@06:47:22.817 15/10/2002@11:43:48.323 27/10/2002@23:38:50.843 29/10/2002@08:47:47.810 29/10/2002@23:29:00.810 04/11/2002@15:14:38.663 03/12/2002@20:38:22.899 20/12/2002@13:08:10.515 29/12/2002@16:53:11.239 10/01/2003@20:19:44.261 17/01/2003@19:26:25.721 18/01/2003@11:02:35.406 06/02/2003@18:00:28.965 17/02/2003@16:07:34.160 22/02/2003@13:08:53.457 22/02/2003@13:36:10.259 22/02/2003@13:40:28.369 04/03/2003@15:57:16.821 1.37 192 6.10 2.37 37.0 6.22 3.14 12.40 162 39.2 35.8 24.5 2.94 5.62 47.70 321 15.70 10.74 313 5.45 3.40 1.95 247 25.9 11.94 2.33 264.06 42.58 4.72 4.03 4.25 123 1.23 5.18 15.16 21.5 4.87 20.6 292 0.79 9.50 2.55 357 11.02 4.35 70.1 11.3 5.53 22.9 239 70.8 65.2 44.4 5.17 10.14 85.10 569 29.32 19.67 465 10.18 6.23 3.54 326 42.8 21.71 4.33 338.67 63.96 8.91 7.30 7.75 190 2.29 9.50 28.48 37.1 9.15 36.0 444 1.49 16.5 0.20 26.00 1.17 0.38 3.83 1.13 0.75 1.97 84.30 7.49 6.50 4.62 0.71 1.11 10.30 72 2.09 1.81 162 0.73 0.56 0.35 168 9.00 2.17 0.34 189.45 21.20 0.53 0.75 0.76 55.9 0.17 0.86 1.84 5.94 0.59 5.13 139 0.08 2.45 0.02 2.75 0.18 0.05 0.29 0.16 0.15 0.24 42.10 1.14 0.93 0.69 0.14 0.18 1.79 14 0.21 0.27 79 0.07 0.07 0.05 112 2.95 0.34 0.04 132.04 10.76 0.05 0.11 0.11 23.2 0.02 0.12 0.17 1.48 0.05 1.13 61.2 0.01 0.53 0.87 0.88 0.87 0.87 0.86 0.85 0.75 0.86 0.40 0.85 0.85 0.85 0.76 0.83 0.83 0.73 0.85 0.71 0.40 0.83 0.82 0.79 0.21 0.54 0.77 0.82 0.09 0.33 0.86 0.79 0.79 0.47 0.84 0.81 0.81 0.64 0.86 0.67 0.44 0.88 0.71 9 817 32 15 358 34 10 24 166 205 198 130 10 15 222 514 119 28 230 11 21 11 133 42 37 7 369 41 42 20 25 141 9 29 74 43 41 47 208 5 38 C C C C D C C A C C C C C D C A D C A A C C C C C C D C C C D C C C D C D C A C D 7.8 – REPRESENTAÇÃO DA SENSIBILIDADE DO PROCESSO A sensibilidade do processo da catenária 44 foi obtida seguindo os procedimentos apresentados na seção 6.7. Os resultados obtidos são apresentados nas Figuras 44 a 47 que mostram sob a forma gráfica a sensibilidade Capítulo 7 - Estudo de Caso 122 do processo quando os afundamentos de tensão são caracterizados através das metodologias a um parâmetro. Parada de Produção Não pára a Produção 321 292 247 162 47.7 39.2 35.8 24.5 21.5 15.7 12.4 9.50 6.10 5.45 4.87 4.25 3.40 2.94 2.33 1.37 0.79 Perda de Tensão [p.u. ms] Processo inoperante Figura 44 – Sensibilidade da catenária 44 – Critério da Perda de Tensão. Parada de Produção Não pára a Produção 569 444 339 239 85.1 70.1 64.0 42.8 37.1 29.3 22.9 16.5 11.0 10.1 9.15 7.75 6.23 5.17 4.33 2.55 1.49 Perda de Energia [p.u. ms] Processo inoperante Figura 45 – Sensibilidade da catenária 44 – Critério da Perda de Energia. Capítulo 7 - Estudo de Caso 123 Parada de Produção Não pára a Produção 189.4 162.3 84.3 55.9 21.2 9.0 6.5 5.1 4.2 2.5 2.0 1.8 1.1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.2 0.1 Metodologia de Thallam [p.u. ms] Processo inoperante Figura 46 – Sensibilidade da catenária 44 – Metodologia proposta por Thallam. Parada de Produção Não pára a Produção 132 78.7 42.1 13.6 2.95 1.79 1.14 0.93 0.65 0.29 0.24 0.18 0.17 0.15 0.12 0.11 0.07 0.05 0.05 0.02 0.01 Metodologia de Heydt [p.u. ms] Processo inoperante Figura 47 – Sensibilidade da catenária 44 - Metodologia proposta por Heydt. Analisando as Figuras 44 a 47, observa-se que nenhuma destas metodologias é totalmente consistente, pois existe superposição das regiões de imunidade e de sensibilidade do processo. Dentre as metodologias a um parâmetro analisadas verifica-se que a metodologia proposta por Heydt apresenta o maior grau de consistência, que Capítulo 7 - Estudo de Caso 124 corresponde a menor superposição das regiões de imunidade e sensibilidade. Neste caso, o limiar de sensibilidade está representado pelo valor 10 p.u. x ms, acima do qual os eventos seriam capazes de sensibilizar o processo monitorado, ocasionando mal funcionamento ou parada do mesmo. A Tabela 18 apresenta o grau de consistência para todas as metodologias a um parâmetro, calculado a partir da expressão (34). ˆ Consistencia = 1− MAN − MAS MVC (34) Onde: MAN – Maior afundamento não severo; MAS – Menor afundamento severo; MVC – Maior valor calculado. Tabela 18 – Consistência das metodologias a um parâmetro. Maior Valor Calculado - MVC Menor Afundamento Severo - MAS Maior Afundamento não Severo - MAN Percentagem de consistência Perda de Tensão Perda de Energia Thallam [p.u. x Heydt [p.u. x [p.u. x ms ] [p.u. x ms ] ms ] ms ] 321 569 189 132 21 36 5,1 1,1 321 569 72,4 13,6 6,5 % 6,3 % 64 % 90,5 % Capítulo 7 - Estudo de Caso 125 Observando os resultados apresentados na Tabela 18, pode se concluir que as metodologias que dão mais relevância a intensidade do que a duração do afundamento de tensão foram mais consistentes na representação da sensibilidade do processo em questão. Considerando-se este fato, decidiu-se por representar a sensibilidade do processo considerando somente a intensidade dos afundamentos de tensão, obtendo-se desta forma o gráfico da Figura 48. Os resultados sugerem que o processo monitorado é sensível apenas à intensidade dos eventos, não mostrando ser afetado pela duração dos mesmos. Parada de Produção Não pára a Produção 0.88 0.87 0.87 0.86 0.86 0.85 0.85 0.84 0.83 0.82 0.81 0.79 0.79 0.76 0.73 0.71 0.64 0.47 0.40 0.33 0.09 Intensidade [p.u.] Processo inoperante Figura 48 – Sensibilidade da catenária 44 - Caracterizada pela intensidade do Afundamento. A partir da Figura 48, e dos dados apresentados na Tabela 17, deduz-se que o processo monitorado é sensível a afundamentos cuja intensidade é menor do que 0,67 p.u. e é imune a qualquer afundamento cuja intensidade seja superior a 0,71 p.u.. Finalmente na Figura 49, é apresentada a caracterização da sensibilidade através do gráfico intensidade versus duração. Considerando o baixo número de registros de paradas de produção não foi possível representar a sensibilidade do processo frente a cada tipo de afundamentos de tensão (A, B, C e D). Capítulo 7 - Estudo de Caso 126 Caracterização Clássica 1 0.9 Intensidade [pu] 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 10 100 1000 Duração [ms] Parada de Produção Não pára a Produção Processo Inoperante Figura 49 – Sensibilidade da catenária 44 – Método Clássico Intensidade versus Duração. No gráfico da Figura 49 foram representados na cor vermelha (quadrados) os eventos que provocaram parada do processo; na cor branca (triângulos) os eventos que não foram classificados, pois o processo não estava em operação no momento do distúrbio; e finalmente, na cor verde (círculos) os eventos que não sensibilizaram o processo. A linha vermelha delimita as regiões de sensibilidade e de imunidade, mostrando que a carga é sensível a afundamentos abaixo de 0,67 p.u. e duração acima de 41 ms. 7.9 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo, foi apresentada uma aplicação da metodologia proposta para caracterizar a sensibilidade de processos frente a afundamentos de tensão, conforme procedimentos apresentados no Capítulo 6. As metodologias de caracterização a um parâmetro que dão mais peso a intensidade, do que à duração dos afundamentos, foram mais consistentes. Portanto, conclui-se que o processo analisado apresenta pouca sensibilidade à duração dos eventos, sendo mais vulnerável a intensidade dos mesmos. Este fato Capítulo 7 - Estudo de Caso 127 foi comprovado pela consistência apresentada pelo método que considera somente o parâmetro intensidade do afundamento de tensão. O número de registros de paradas de produção foi insuficiente para caracterizar a sensibilidade do processo frente a cada tipo de afundamento de tensão (A, B, C e D). Contudo, o método clássico, que considera os parâmetros intensidade e duração apresentou bom desempenho, não mostrando superposição das regiões de sensibilidade e imunidade. Finalmente, recomenda-se testar a metodologia proposta no Capítulo 6, em outros processos industriais com o objetivo de analisar a influência do tipo do processo no desempenho da metodologia utilizada para caracterizar sua sensibilidade frente a afundamentos de tensão. Capítulo 8 – Conclusões e Sugestões 128 VIII – CONCLUSÕES E SUGESTÕES 8.1 – CONCLUSÕES E CONTRIBUIÇÕES Esta dissertação apresentou uma proposta de procedimento para levantar a sensibilidade de cargas e processos industriais frente a afundamentos de tensão. A metodologia proposta contempla as seguintes etapas: • Especificação do sistema, hardware e software, para monitoração da qualidade da energia elétrica; • Escolha dos pontos de monitoração; • Escolha dos processos a serem monitorados; • Metodologia para caracterização dos afundamentos de tensão; • Metodologia para avaliação do impacto dos distúrbios nas cargas e processos; • Metodologia para representação da sensibilidade das cargas e processos frente a afundamentos de tensão. O sistema de monitoração deve ser flexível e fornecer os dados das oscilografias da tensão durante os eventos. Desta maneira, os afundamentos podem ser caracterizados segundo as diversas metodologias alternativas indicadas neste documento. Para obter um registro adequado dos eventos, o valor RMS da tensão deve ser calculado com uma janela de 1 ciclo, atualizada a cada ½ ciclo. Considerando que a grande maioria dos eventos possui duração menor do que 900 ms, o registro de oscilografias com duração de 54 ciclos é suficiente para obter as características desejadas dos afundamentos de tensão registrados. Um dos pontos de monitoração deve estar localizado eletricamente próximo do ponto de conexão da carga objeto de estudo. É necessário ter-se outros pontos Capítulo 8 – Conclusões e Sugestões 129 de monitoração em níveis de tensão superiores para determinar o sentido da propagação dos afundamentos e assim propor ações mitigadoras dos efeitos nos processos monitorados. A escolha dos processos a serem monitorados deve otimizar o tempo despendido na análise e maximizar os benefícios econômicos das medidas empregadas para mitigar os efeitos dos afundamentos. Uma escolha errada pode resultar em investimentos em condicionadores de energia que não terão o desempenho adequado para compatibilizar o nível de qualidade da rede com os requisitos dos processos sensíveis. O conhecimento prévio das cargas que compõem o processo a ser monitorado indica a escolha dos métodos mais adequados de caracterização de eventos. Deve-se obter prioritariamente aquelas características dos afundamentos de tensão que tenham maior potencialidade para afetar as cargas monitoradas. A caracterização da sensibilidade frente a diversos parâmetros dos afundamentos permite discernir sobre quais características se deve agir para diminuir o efeito sobre o processo sensível. Propõe-se caracterizar os afundamentos de tensão segundo metodologias que consideram a assimetria dos fasores de tensão durante a ocorrência do distúrbio. O sucesso desta metodologia depende do número de eventos de parada de produção registrados, sendo que para caracterizar a sensibilidade do processo apresentado no estudo de caso é necessário um conjunto maior de registros de parada de produção para cada tipo de afundamento. A metodologia também propõe caracterizar os afundamentos de tensão através de um parâmetro. Dentre as diversas metodologias de caracterização de afundamentos a um parâmetro a que apresentou maior consistência foi a proposta por Heydt. No caso teste apresentado, observou-se que o processo é muito sensível a intensidade dos eventos, enquanto que a duração dos mesmos não afeta de forma Capítulo 8 – Conclusões e Sugestões 130 significativa o funcionamento do processo. Embora esta conclusão seja particular, supõe-se que outros processos também possam apresentar esta característica. Para cargas e processos com esta característica, a sensibilidade pode ser representada satisfatoriamente somente através do valor de intensidade do afundamento de tensão. Em função das limitações do banco de dados, não podem ser generalizadas estas conclusões. Foram apresentadas duas metodologias para avaliar o impacto dos afundamentos de tensão. Uma baseada na monitoração do produto manufaturado, através da observação de parâmetros de controle e dos seus limites preestabelecidos. Outra focalizando a monitoração no comportamento das cargas que compõem o processo, durante ocorrência dos afundamentos de tensão. Esta dissertação apresentou uma metodologia que permite sistematizar a caracterização da sensibilidade de cargas e processos industriais através de um sistema de monitoração de QEE. Obter a sensibilidade de um processo é o primeiro passo no caminho da análise do problema e da procura de soluções. Assim, uma das principais contribuições deste trabalho foi fornecer uma ferramenta que permite conhecer o comportamento dos processos frente a tão relevante distúrbio da qualidade da energia. 8.2 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Considerando-se que a metodologia proposta nesta dissertação ainda é pouco explorada, recomenda-se sua aplicação a um conjunto de cargas e processos contínuos com características diferentes do processo aqui analisado. Desta maneira novas conclusões e generalizações poderão advir, resultando naturalmente em melhorias na metodologia ora proposta. Com o intuito de explorar os registros de afundamentos já obtidos neste trabalho, propõe-se avaliar o desempenho da qualidade de fornecimento de energia da unidade fabril monitorada, calculando-se os diversos indicadores disponíveis para afundamentos de tensão. Capítulo 8 – Conclusões e Sugestões 131 Como atividade complementar desta pesquisa propõe-se realizar uma análise das causas dos afundamentos no alimentador monitorado, identificando-se as causas mais freqüentes e também aquelas responsáveis pelos eventos mais severos. Desta maneira, podem ser elencadas soluções para mitigar os efeitos dos afundamentos. Tais ações podem ser implementadas em parceria entre a distribuidora de energia e o consumidor sensível. Prolongando o período de monitoração provavelmente serão obtidos novos registros de paradas de processos, o que tornará possível à caracterização da sensibilidade dos processos frente a cada tipo de afundamento, classificados segundo a proposta de Bollen (A, B, C e D). Aproveitando o sistema de monitoração já instalado, podem ser analisadas as características da propagação vertical dos afundamentos de tensão. Desta maneira poderão ser analisadas as áreas de influência para faltas em diversos pontos da rede e também, a penetração de distúrbios oriundos de locais remotos à rede analisada. Propõe-se analisar a sensibilidade da carga diante do salto de ângulo de fase, e através da tensão fundamental complexa, sobretudo nas cargas que possuem acionamentos CA/CC. Sugere-se a automação da monitoração do comportamento do processo, através de controle de parâmetros da carga ou do produto fabricado. Finalmente, propõe-se o tratamento dos dados de QEE através de técnicas de bancos de dados correlacionados, permitindo a análise conjunta dos distúrbios e do comportamento dos processos analisados. Capítulo 9 - Referências 132 IX – REFERÊNCIAS 9.1 - PUBLICAÇÕES EM CONFERÊNCIAS [1] F. P. Ayello, J. M. Carvalho Filho, et al. “Influência do sistema de Proteção na Qualidade da Energia”, III Conladis – Congresso Latino Americano de Distribuição de Energia Elétrica, USP - São Paulo, 1999. [2] M. H. J. Bollen, G. Yalcinkaya, G. Hazza, “The Use of Electromagnetic Transient Programs for Voltage Sags Analysis”, IEEE – PES - 8th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Athens, Greece, October 1998. [3] M. H. J. Bollen, E. Styvaktakis, “Characterization of three-phase unbalanced dips (as easy as one-two-three?)”, 9th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Orlando USA, Outubro 2000. [4] A. Dettloff, D. Sabin, F. Goodman, “Power Quality Performance as a component for Special Manufacturing Contracts between Power Provider and Customer”, Proceedings of the Power Systems World 1999, pp.283-291. [5] R. S. Thallam, G. T. Heydt, “Power Acceptability and Voltage Sag Indices in the Three Phase Sense”, IEEE PES Summer Meeting, Seattle, USA, July 2000. [6] José Carlos de Oliveira, Paulo César Abreu Leão, Fernando N. Belchior, “Estudos computacionais e experimentais sobre desempenho de conversores de freqüência VSI - PWM sob condições de afundamentos de tensão balanceados e desbalanceados ”, CBA 2002, Natal, Brasil, Setembro 2002. [7] P. Pohjanheimo, M. Lehtonen, “Equipment Sensitivity to Voltage Sags – Test Results for Contactors, PCs and Gas Discharge Lamps”, IEEE – PES – 10th Capítulo 9 - Referências 133 International Conference on Harmonics and Quality of Power, Rio de Janeiro, Brasil, Outubro 2002. [8] J. Pedra, F. Córcoles, L. Sainz, “Study of AC Contactors During Voltage Sags”, IEEE – PES – 10th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Rio de Janeiro, Brasil, Outubro 2002. [9] N. Kagan, E. L. Ferrari, N. M. Matsuo, S. X. Duarte, A. Sanommiya, J. L. Cavaretti, U. F. Castellano, A. Tenorio, “Influence of RMS variation measurement protocols on electrical system performance indices for voltage sags and swells”, IEEE – PES - 9th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Orlando-USA, Outubro 2000. [10] D. L. Brooks, R. C. Dungan, M. Waclawiak, A. Sundaram, “Indices for Assessing Utility Distribution System RMS Variation Performance”, IEEE PES Distribution Sub-committee Meeting, Las Vegas, Fevereiro 2000. [11] J. M. Carvalho Filho, J. Policarpo G. Abreu, Roberto C. Leborgne, T. Clé Oliveira, D. M. Correia, Jeder F. de Oliveira, “Comparative Analysis between Measurements and Simulations of Voltage Sags”, IEEE – PES – 10th International Conference on Harmonics and Quality of Power, Rio de Janeiro, Brasil, Outubro 2002. [12] José M. C. Filho, José P. G. Abreu, Roberto C. Leborgne, Thiago C. Oliveira, “Softwares e Procedimentos Para Simulação de Afundamentos de Tensão”, CBA 2002, Natal, Brasil, Setembro 2002. [13] Roberto Chouhy Leborgne, José Maria Carvalho Filho, José Policarpo G. de Abreu, Thiago Clé de Oliveira, Alexandre Afonso Postal, Luiz Henrique Zaparoli, “Proposição de uma Metodologia para Caracterização da Sensibilidade de Cargas e Processos Industriais Frente a Afundamentos de Tensão”, XVII SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Uberlândia, Brasil, Outubro 2003. Capítulo 9 - Referências 134 9.2 – PUBLICAÇÕES EM PERIÓDICOS [14] M. H. J. Bollen, “The Influence of Motor Reaceleration on Voltage sags”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.30, No.3, May/Jun 1994, pp.805-821. [15] L. Conrad, K. Little, C. Grigg, “Predicting and Preventing Problems Associated with Remote Fault-Clearing Voltage Dips”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.27, No.1, Jan/Feb 1991, pp.167-172. [16] T. H. Ortmeyer, T. Hiyama, H. Salehfar, “Power Quality Effects of Distribution System Faults”, Electrical Power & Energy Systems, Vol.18, No.5, 1996, pp.323-329. [17] M. R Qader, M. H. J. Bollen, R. N. Allan, “Stochastic Prediction of Voltage Sags in a Large Transmission System”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.35, No.1, Jan/Feb 1999, pp.152-162. [18] W. Xu, “Component Modeling Issues for Power Quality Assessment”, IEEE Power Engineering Review, Vol.21, Issue 11, November 2001, pp.12-15, 17. [19] M. H. J. Bollen, “Fast Assessment Methods for Voltage Sags in Distribution Systems”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.32, No.6, Nov/Dec 1996, pp.1414-1423. [20] D. L. Brooks, R. C. Dugan, M. Waclawiak, A. Sundaram, “Indices for Assessing Utility Distribution System RMS Variation Performance”, IEEE Transactions on Power Delivery, vol.13, pp.254–259, Janeiro 1998. [21] M. F. McGranaghan, D. R. Mueller, M. J. Samotyj, “Voltage Sags in industrial Systems”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.29, No.2, March/April 1993. [22] S. S. Mulukutla, E. M. Gulachenski, “A Critical Survey of Considerations in Maintaining Process Continuity During Voltage Dips while Protecting Motors Capítulo 9 - Referências 135 with Reclosing and Bus Transfer Practices”, IEEE Transaction on Power System. Vol.7, No.3, August 1992. [23] J. C. Das, “Effect of Momentary Voltage Dips on the Operation of Induction and Synchronous Motors”, IEEE Transaction in Industry Applications. Vol.26, No.4, July/August 1990. [24] P. I. Kolterman, J. P. Assumpção Bastos and S. R. Arruda, “A model for dynamic analysis of AC contactor”, IEEE Transactions on Magnetics, Vol.28, No.2, March 1992, pp. 1348-1350. [25] M. H. J. Bollen, “Characterization of Voltage Sags Experienced by ThreePhase Adjustable-Speed Drive”, IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.12, No.4, October 1997, pp.1667-1671. [26] IEEE Power System Relaying Committee Report, “Distribution Line Protection Practices – Industry Survey Results”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol.3, Apr 1998, pp.514-524. [27] IEEE Power System Relaying Committee Report, “Line Protection Design Trends in the USA and Canada”, IEEE Transactions on Power Delivery, Vol.3, Oct 1998, pp.1530-1535. 9.3 – PUBLICAÇÕES EM INTERNET [28] D. Sabin, T. E. Grebe, A. Sundaram, “RMS Voltage Variation Statistical Analysis for a Survey of Distribution System Power Quality Performance”, www.pqnet.electrotek.com. 9.4 – TESES E DISSERTAÇÕES [29] José Maria Carvalho Filho, “Uma Contribuição á Avaliação do Atendimento a Consumidores com Cargas Sensíveis – Proposta de Novos Indicadores”, Capítulo 9 - Referências 136 Tese de Doutorado, Escola Federal de Engenharia de Itajubá, Dezembro de 2000. [30] Paulo César Abreu Leão, “Desempenho de Conversores de Freqüência VSIPWM submetidos a Afundamentos Momentâneos de Tensão”, Tese de Doutorado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Março de 2002. [31] T. Andersson, D. Nilsson, “Test and Evaluation of Voltage Dip Immunity”, Dissertação de Mestrado, Chalmers University of Technology, Novembro 2002. 9.5 - NORMAS [32] IEEE, “IEEE Recommended Practice for Monitoring Electric Power Quality”, IEEE Standard 1159 - 1995. [33] IEEE, “IEEE Recommended Practice For Emergency And Standby Power Systems For Industrial And Commercial Applications”, IEEE Standard 446 – 1995. [34] IEEE, “IEEE recommended practice for the design of reliable industrial and commercial power systems”, IEEE Standard 493 – 1997. [35] IEEE, “IEEE recommended practice for powering and grounding electronic equipment”, IEEE Standard 1100 – 1999. [36] IEEE, “IEEE guide for service to equipment sensitive to momentary voltage disturbances”, IEEE Standard 1250 – 1995. [37] IEEE, “IEEE recommended practice for evaluating electric power system compatibility with electronic process equipment”, IEEE Standard 1346 – 1998. [38] NEMA, “Large apparatus-induction motors”, NEMA MG-1, section III, part 20. Capítulo 9 - Referências [39] 137 IEC, “Low voltage switchgear and controlgear – Part 4-1: Contactors and motors starters”, IEC Standard 60947-4-1, November 2000. [40] IEC, ”Electromagnetic compatibility”, IEC 61000, available for buying at www.techstreet.com [41] SEMI F47-0200, “Specification for semiconductor processing equipment voltage sag immunity”, available at www.powerstandards.com [42] SEMI F42-0999, “Test method for semiconductor processing equipment voltage sag immunity”, available at www.powerstandards.com [43] South African Std. NRS 048-2 (1996). [44] IEEE, “Voltage Sags Indices”, Draft 2, working document for IEEE P1564 and CIGRE WG 36-07, December 2000, Available at http://grouper.ieee.org/groups/sag/IEEEP1564_01_15.doc. [45] IEEE, “A Standard Glossary of Power Quality Terminology“, Draft 5 (1999), working document for IEEE P1433, Available at http://grouper.ieee.org/groups/1433/ [46] Information Technology APPLICATION NOTE”, Industry Council, Revised in “ITI 2000, (CBEMA) CURVE Available at http://www.itic.org/technical/iticurv.pdf 9.6 – OUTRAS REFERÊNCIAS [47] A. J. P. Ramos, “Identificação de Registradores no Mercado e Definição de Características Básicas Requeridas”, ANEEL, Dezembro 2000. [48] A. J. P. Ramos, “Qualidade de Energia Elétrica, Monitoração, Avaliação e Controle da Qualidade da Energia Elétrica, Relatório Parcial 2: Protocolo de Medição e Monitoração”, ANEEL, Maio 2000. Capítulo 9 - Referências [49] 138 A. R. Warrington, C. Van, “Protective Relays; their theory and practice”, Ed. London, Chapman and Hall. [50] J. L. Blackburn, “Protective Relaying”, New York, Marcel Deckker, 1987, (Electrical Engineering and Electronics, No.37). [51] ONS / GQEE-EFEI, “Análise comparativa de resultados de medições e simulações de afundamentos de tensão”, Setembro 2002. Anexos 139 ANEXOS A.1 - DIAGRAMA UNIFILAR DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO Anexos 140 A.2 – DIAGRAMA UNIFILAR DO CONSUMIDOR SE 5 1000 kVA 13800 / 440 V SE 4 2000 kVA 13800 / 440 V Trefila Fornos Trefila Solda Para depósito de motores Spiden SE 2 1000 kVA 13800 / 440 V Extrusora Catenária 44 Properzi M1 SE 3 1000 kVA 13800 / 440 V Caldeira Anexos 141 A.3 – PLANILHA DE REGISTRO DE OCORRÊNCIAS DE PARADAS DE PRODUÇÃO Registro de Parada de Produção Horario Data Inicio Local Final Processo Motivo da Falha OBS: Favor identificar o acionamento que apresentou falha. Anexos 142 A.4 – REGISTROS DE AFUNDAMENTOS NA EMPRESA SUPRIDORA timestamp 18/06/2002@13:05:10.574 18/06/2002@13:10:07.909 19/06/2002@20:06:02.765 09/07/2002@04:50:02.653 27/07/2002@07:35:35.714 27/07/2002@07:58:41.941 31/07/2002@18:03:15.883 01/08/2002@16:51:49.688 06/08/2002@11:43:00.388 06/08/2002@11:43:01.313 09/08/2002@19:10:44.354 18/08/2002@16:20:36.575 18/08/2002@17:50:40.738 18/08/2002@19:22:46.418 18/08/2002@19:37:27.651 18/08/2002@19:39:02.907 23/08/2002@16:37:55.279 23/08/2002@18:17:54.729 23/08/2002@18:20:03.542 23/08/2002@18:40:56.330 31/08/2002@15:09:10.913 02/09/2002@20:55:15.916 06/09/2002@18:27:08.260 07/09/2002@02:39:36.375 07/09/2002@02:46:29.652 07/09/2002@03:07:28.277 09/09/2002@16:59:24.234 12/09/2002@21:03:36.026 16/09/2002@12:07:00.495 18/09/2002@17:10:57.389 18/09/2002@17:12:04.912 14/10/2002@04:30:59.158 14/10/2002@14:11:15.963 17/10/2002@13:14:07.776 18/10/2002@18:09:43.172 21/10/2002@21:34:38.910 22/10/2002@22:06:32.450 24/10/2002@14:10:17.617 26/10/2002@04:16:26.607 28/10/2002@13:27:32.046 28/10/2002@15:45:13.101 29/10/2002@14:57:22.832 29/10/2002@14:58:46.337 29/10/2002@15:33:57.850 30/10/2002@09:59:51.786 30/10/2002@10:00:27.359 30/10/2002@10:00:29.835 01/11/2002@16:20:51.078 04/11/2002@14:06:16.348 04/11/2002@15:14:37.512 10/11/2002@17:51:06.126 10/11/2002@17:54:55.013 10/11/2002@17:59:33.670 15/11/2002@15:24:12.040 18/11/2002@20:37:07.335 19/11/2002@07:53:45.195 19/11/2002@08:40:10.653 21/11/2002@12:11:03.534 26/11/2002@10:59:20.797 V1-Dip [%] 78.2 V2-Dip [%] 86 77.5 89.4 76.9 80.9 88.4 88.1 79.3 82.6 85.9 87.5 89.9 89.9 87.4 82.7 78.3 88.5 86 V3-Dip [%] 86 82.8 69.3 84.9 84.3 77.3 V1-Dip duration 0.066 85.7 85.9 77.4 0.133 87.9 1.326 87.7 1.109 0.066 81.7 83.8 82.9 82.2 89.9 0.125 0.017 0.083 0.008 0.066 0.066 0.083 0.124 0.075 1.367 0.033 0.008 1.109 0.117 0.066 0.041 0.041 89.2 85.7 0.041 1.284 0.066 0.049 0.066 0.126 0.041 0.041 85.2 0.066 0.058 86.1 89.8 76.8 84.7 1.326 0.066 0.066 0.066 0.074 0.075 83.1 83.8 81.7 87.2 87.2 85.6 89.9 84.9 2.2 0 0.066 0.108 0.067 0.066 0.042 0.058 0.024 85.9 87.4 88.1 87.7 86.8 87.9 1.9 0 0 0 84.8 0 V3-Dip duration 0.008 89.2 81.4 V2-Dip duration 0 0 0 0 0 87.7 0.041 0.033 0.066 84.2 88.2 86.5 0 0 0 0 43.8 0 82.1 0 0 84.8 1.3 0 87.1 0.075 0.05 0.15 0.05 0.075 0.058 2.176 0.124 0.066 0.016 0.008 0.042 0.008 0.041 0.05 0.05 0.074 0.05 0.15 0.05 0.091 2.176 0.066 0.074 0.066 0.075 0.066 0.15 0.05 0.075 0.642 2.168 0.066 0.05 0.058 0.041 0.075 0.058 0.041 Anexos 143 A.5 – REGISTROS DE AFUNDAMENTOS NO CONSUMIDOR - MT timestamp 30/04/2002@17:47:05.133 03/05/2002@19:59:07.797 03/05/2002@19:59:10.922 03/05/2002@19:59:11.297 03/05/2002@19:59:11.480 03/05/2002@20:00:01.938 03/05/2002@20:00:36.130 03/05/2002@20:03:15.318 07/05/2002@15:00:49.921 13/05/2002@11:44:36.516 19/05/2002@10:14:47.201 19/05/2002@10:21:21.551 19/05/2002@10:24:48.236 21/05/2002@03:55:51.739 12/06/2002@05:11:02.615 12/06/2002@06:04:21.416 23/06/2002@12:35:12.093 30/06/2002@12:25:46.773 17/07/2002@07:35:26.054 20/07/2002@12:24:05.310 27/07/2002@07:35:40.284 27/07/2002@07:58:46.502 29/07/2002@14:50:23.319 01/08/2002@23:10:43.611 01/08/2002@23:32:34.540 02/08/2002@12:56:06.179 02/08/2002@23:18:06.356 03/08/2002@10:59:49.981 04/08/2002@06:40:37.418 04/08/2002@13:26:50.374 06/08/2002@10:41:28.942 09/08/2002@15:03:15.261 09/08/2002@15:03:17.760 09/08/2002@15:03:20.217 09/08/2002@19:10:39.181 26/08/2002@18:17:26.380 26/08/2002@18:17:28.564 26/08/2002@18:38:10.649 30/08/2002@02:17:46.953 31/08/2002@15:09:27.453 06/09/2002@13:45:07.255 06/09/2002@19:28:40.893 06/09/2002@19:28:45.116 07/09/2002@03:06:41.054 07/09/2002@03:22:40.736 07/09/2002@03:47:08.028 07/09/2002@03:56:16.495 07/09/2002@03:56:23.045 07/09/2002@03:56:37.217 07/09/2002@03:58:04.859 07/09/2002@03:59:36.364 07/09/2002@05:27:31.638 07/09/2002@05:58:59.848 07/09/2002@10:29:52.366 10/09/2002@14:25:06.805 14/09/2002@10:55:33.598 22/09/2002@11:52:16.395 29/09/2002@23:12:39.996 29/09/2002@23:16:52.494 29/09/2002@23:16:52.778 V1-Dip [%] 89 89.8 89.8 82.7 89.1 V2-Dip [%] V3-Dip [%] 89.9 88.2 86.6 V1-Dip duration 0.467 0.024 0.024 0.517 0.008 84.2 87.6 89.4 V2-Dip duration V3-Dip duration 0.008 0.008 0.108 0.892 0.024 0.025 87.6 0.058 83.2 73.4 88.9 88.5 0.041 0.041 87.8 81.1 87.6 84 88.2 84.5 87.7 84.2 89.9 89.4 83.9 84.7 59.5 89.3 84 39 70.2 87.9 87.4 72.8 72.6 81.7 89.3 85.6 0.033 0.025 0.5 0.041 0.008 0.041 0.016 0.058 0.166 86.5 84.7 70.5 69.9 88.5 79.6 76.7 69.7 70 81.3 85.6 67.6 89.7 80 72.7 72.4 87.3 87 88.6 88.5 86.8 87.5 0.108 0.426 0.341 0.125 0.033 0.042 73.9 39.1 87.8 88.3 0.108 0.025 0.526 0.491 0.066 0.066 0.1 0.1 89.6 81.9 72.6 58.2 43.9 0.033 0.05 0.183 0.225 0.008 0.008 0.033 0.041 0.066 0.083 0.008 0.008 0.274 0.033 0.225 0.083 89.3 0.016 89.2 0.083 88.4 88.7 88.3 0.307 0.283 0.016 0.108 0.25 0.341 0.041 0.542 0.541 0.158 0.041 87.7 89 0.008 0.041 0.175 0.266 0.016 88 52.6 44.2 0.008 0.358 0.5 0.008 0.008 0.033 0.008 0.016 87.7 89.1 89.3 89 0.366 84 0.116 0.008 0.324 0.033 0.366 0.208 Anexos 144 timestamp V1-Dip [%] 01/10/2002@11:34:14.952 01/10/2002@11:34:21.304 01/10/2002@11:34:34.873 02/10/2002@16:07:46.578 02/10/2002@16:08:47.421 09/10/2002@09:02:17.733 13/10/2002@06:42:39.683 13/10/2002@06:42:41.866 13/10/2002@06:42:43.890 13/10/2002@06:46:07.354 13/10/2002@06:46:25.175 14/10/2002@14:10:56.426 15/10/2002@11:42:34.058 22/10/2002@00:35:10.786 25/10/2002@20:54:41.023 27/10/2002@23:38:49.016 27/10/2002@23:38:51.107 27/10/2002@23:38:53.356 28/10/2002@14:20:10.026 28/10/2002@14:32:21.382 28/10/2002@14:37:59.658 28/10/2002@14:38:55.146 28/10/2002@15:45:08.759 28/10/2002@17:17:24.554 28/10/2002@19:10:36.002 29/10/2002@08:47:47.535 29/10/2002@08:47:49.486 29/10/2002@23:28:58.172 04/11/2002@15:14:06.094 10/11/2002@07:01:33.826 10/11/2002@22:04:53.589 10/11/2002@22:04:53.597 15/11/2002@08:44:22.260 19/11/2002@07:58:29.741 21/11/2002@12:10:22.394 28/11/2002@09:51:22.499 28/11/2002@09:51:24.460 02/12/2002@15:01:31.237 02/12/2002@15:01:31.271 03/12/2002@14:13:14.876 03/12/2002@14:13:20.900 03/12/2002@14:13:33.416 03/12/2002@20:16:23.202 03/12/2002@20:38:01.465 03/12/2002@20:39:16.766 04/12/2002@16:47:19.630 04/12/2002@16:51:15.519 05/12/2002@16:54:46.196 09/12/2002@09:51:04.535 09/12/2002@10:04:30.876 09/12/2002@10:05:56.827 10/12/2002@00:57:41.259 10/12/2002@00:57:41.268 11/12/2002@19:25:23.612 13/12/2002@17:19:49.705 13/12/2002@19:28:50.180 16/12/2002@16:33:48.405 16/12/2002@16:33:48.921 20/12/2002@13:08:04.212 24/12/2002@09:49:44.187 29/12/2002@16:52:59.156 29/12/2002@16:53:01.371 29/12/2002@16:53:03.420 10/01/2003@20:19:29.370 86.5 78 V2-Dip [%] V3-Dip [%] V1-Dip duration V2-Dip duration 0.033 0.025 89.1 28 51.6 79.9 66.9 22.6 78.1 67.1 61.5 19.3 70.4 78.4 85.6 83.2 86.4 87.6 42.8 53.5 0.033 0.242 0.133 72.8 83.8 84.6 84.3 88 86.1 83.8 88.1 0 0.025 0.191 0.025 84.2 85.9 85.3 0 13.2 0.017 0.041 0.242 0.133 0.041 0.751 0.033 0.033 0.008 0.016 0.124 0.033 0.049 88.3 88.6 83.2 89.4 52 0 12.4 84.3 56.9 0 0 54.9 0 40.9 0 0 84 1.634 0.042 1.985 0.016 0.008 0.016 1.634 0.05 0.058 0.033 2.684 2.684 19.6 0 89.7 89.7 85.4 84.5 88.4 82 85 86.3 0 1.293 88.7 85.1 89.5 76.8 0.025 0.016 0.008 0.008 0.016 0.033 0.016 0 85.667 0.125 0.024 0.041 85.075 0.066 0.375 0.008 0.351 0.116 87.6 0.183 84.4 76.9 73.8 52.7 84.9 0.066 0.099 0.233 85.042 0.008 0.008 89.9 87.2 89.2 86.6 1.284 0.033 85.4 86.8 0.066 2.684 2.684 0.041 0.041 0.676 1.276 0.016 0.016 0.033 0.033 89.8 0 0.025 1.634 0.008 84.9 4.5 0 89.9 89.9 0.041 0.033 0.066 0.016 88.2 87.6 0.124 0.041 0.008 0.008 0.024 0.074 89.4 0 V3-Dip duration 74.7 81.2 57.3 52 45.7 0.416 0.008 0.033 0.208 0.141 0.016 0.025 0.033 0.05 0.216 0.141 Anexos 145 timestamp V1-Dip [%] 10/01/2003@20:19:29.370 17/01/2003@19:26:08.110 18/01/2003@11:02:56.783 18/01/2003@11:04:43.248 18/01/2003@11:05:00.662 21/01/2003@01:14:07.023 22/01/2003@13:08:37.338 27/01/2003@17:29:42.013 84.9 78.1 88.3 85.9 V2-Dip [%] 89.3 81.7 86.8 80.4 87.4 V3-Dip [%] 81.2 77.1 V1-Dip duration 0.016 0.033 0.033 0.016 V2-Dip duration 0.016 0.075 0.033 0.091 0.008 V3-Dip duration 0.058 0.05 Anexos 146 A.6 – REGISTROS DE AFUNDAMENTOS NO CONSUMIDOR - BT timestamp 30/04/2002@17:47:12.591 03/05/2002@19:59:17.809 03/05/2002@19:59:21.234 03/05/2002@19:59:21.493 07/05/2002@15:01:01.610 13/05/2002@11:44:51.002 19/05/2002@10:15:08.242 19/05/2002@10:21:42.598 19/05/2002@10:25:09.275 21/05/2002@03:56:13.426 12/06/2002@05:10:26.696 23/06/2002@12:34:51.801 17/07/2002@07:35:07.258 20/07/2002@12:23:48.423 27/07/2002@07:35:21.403 27/07/2002@07:58:27.613 29/07/2002@14:50:01.394 01/08/2002@23:10:17.671 02/08/2002@23:17:39.395 03/08/2002@10:59:22.340 04/08/2002@06:40:08.192 04/08/2002@13:26:20.592 09/08/2002@15:03:43.927 09/08/2002@15:03:46.426 09/08/2002@15:03:48.883 09/08/2002@19:11:07.781 31/08/2002@15:09:44.502 06/09/2002@13:45:38.414 06/09/2002@19:29:12.344 06/09/2002@19:29:16.559 07/09/2002@03:56:48.188 07/09/2002@03:56:54.729 07/09/2002@03:56:54.737 07/09/2002@03:57:08.911 14/09/2002@10:56:14.416 29/09/2002@23:30:37.502 01/10/2002@11:35:23.464 09/10/2002@09:03:31.669 13/10/2002@06:43:55.152 13/10/2002@06:43:57.334 13/10/2002@06:43:59.359 13/10/2002@06:47:22.825 15/10/2002@11:43:48.323 27/10/2002@23:38:50.851 27/10/2002@23:38:53.068 29/10/2002@23:29:00.818 04/11/2002@15:14:38.663 03/12/2002@20:38:22.899 09/12/2002@10:04:59.710 09/12/2002@10:04:59.752 10/12/2002@00:58:10.439 03/12/2002@20:38:22.899 09/12/2002@10:04:59.710 10/12/2002@00:58:10.439 13/12/2002@17:19:55.237 16/12/2002@16:33:54.930 20/12/2002@13:08:10.515 29/12/2002@16:53:06.974 29/12/2002@16:53:09.190 29/12/2002@16:53:11.239 V1-Dip [%] V2-Dip [%] V3-Dip [%] 88.4 84.2 V1-Dip duration V2-Dip duration 0.008 0.108 82.6 86.1 88.8 0.825 0.025 0.05 83 0.033 85 89.6 89.2 0.016 0.033 0.033 88.4 88 0.008 84.6 89.6 81.5 0.342 84.6 86.5 74.2 73.8 85 89.6 71.9 71.5 87.6 89.6 87.3 78 40.4 88 86.1 86.5 69 0.016 85.3 22.3 86.1 87.3 88 78.8 87.6 86.1 86.1 46.9 89.2 84.6 79.6 0.367 0.008 0.041 81.1 89.6 85 73.4 80.7 80.7 V3-Dip duration 80.7 71.1 70.7 89.2 84.2 89.2 50 76.9 42.3 41.5 83.8 83.4 84.1 64.6 58.7 6.7 11.1 89.6 87.3 38 45.2 73 63 0.008 0.041 0.167 0.258 0.276 0.05 0.109 0.016 0.05 0.116 0.233 0.526 0.35 0.116 0.008 0.426 0.341 0.083 0.008 0.008 0.099 0.016 0.033 0.033 0.208 0.008 0.041 0.026 0.124 0.033 0.008 0.008 0.033 0.033 0.526 0.491 0.059 0.049 0.008 0.041 0.041 0.191 0.224 0.033 0.041 0.008 0.033 0.249 0.133 0.05 0.008 79.3 5.9 88.8 0.058 0.176 0.174 0.133 0.05 0.033 0.041 0.016 0.226 0.008 89.2 0.025 79.3 5.9 0.016 0.226 89.2 0.025 89.2 82.1 85.7 79.3 53.5 48.4 9.9 86.9 88 0.058 0.349 0.283 0.016 0.041 0.216 0.141 0.208 0.008 Anexos 147 timestamp V1-Dip [%] 10/01/2003@20:19:44.261 89.6 17/01/2003@19:26:25.721 78.9 18/01/2003@11:02:38.132 75.7 80.1 75.3 18/01/2003@11:03:14.706 68.2 82.5 65.8 86.5 87.3 21/01/2003@01:14:36.721 V2-Dip [%] V3-Dip [%] V1-Dip duration V2-Dip duration V3-Dip duration 0.075 0.041 0.033 0.2 0.108 0.058 0.083 0.083 0.008 0.033 Anexos 148 A.7 – OSCILOGRAFIA DO AFUNDAMENTO REGISTRADO EM 29/07/02 29jul02 14:50:01 800 600 400 Tensão [V] 200 0 -200 -400 -600 -800 V12 V23 V31 0.8897 0.8652 0.8407 0.8162 0.7917 0.7672 0.7427 0.7182 0.6937 0.6692 0.6447 0.6202 0.5957 0.5712 0.5467 0.5222 0.4977 0.4732 0.4487 0.4242 0.3997 0.3753 0.3508 0.3263 0.3018 0.2773 0.2528 0.2283 0.2038 0.1793 0.1548 0.1303 0.1058 8.13E+01 5.68E+01 3.23E+01 7.82E+00 Tensão [pu] Anexos 149 A.8 – EVOLUÇÃO DO VALOR RMS DA TENSÃO - AFUNDAMENTO REGISTRADO EM 29/07/02 29jul02 14:50:01 1.2 1.1 1 0.9 0.8 0.7 0.6 V12 V23 V31 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0