AVALIAÇÃO DA MICROBIOTA CONJUNTIVAL BACTERIANA DE CHELONOIDIS CARBONARIA (SPIX, 1824) MANTIDOS PARA CONSERVAÇÃO EX-SITU NO PARQUE ZOOBOTÂNICO GETÚLIO VARGAS, SALVADOR, BAHIA, BRASIL EVALUATION OF BACTERIAL CONJUNCTIVAL MICROBIOTA OF CHELONOIDIS CARBONARIA (SPIX, 1824) HELD FOR EX-SITU CONSERVATION IN THE ZOOBOTANIC PARK GETULIO VARGAS, SALVADOR, BAHIA, BRAZIL Júlia Liger Freitas1; Ana Carla Oliveira Pinheiro2; Daniela Santos Almeida3; Juliana Kelly Conceição Leite2; Alberto Vinícius Dantas Oliveira3; Marta Calasans Gomes3; Melissa Hanzen Pinna4; Arianne Pontes Oriá4* Resumo. O objetivo do presente trabalho foi identificar a presença de bactérias existentes na microbiota conjuntival de Chelonoidis carbonaria do Parque Zoobotânico Getúlio Vargas. Foram avaliados treze indivíduos entre machos e fêmeas. As amostras foram coletadas com auxilio de swab estéreis para isolamento e identificação de bacteriana. Os resultados obtidos mostram o crescimento em 100 % das amostras, com total 102 colônias isoladas, sendo Difteróides (20,6%), Bacillus sp. (14,71%) e Staphylococcus sp. (14,71%), os microrganismos mais encontrados. O conhecimento dos microrganismos prevalentes na flora conjuntival de Chelonoidis carbonaria pode ajudar na profilaxia e tratamento de doenças oculares nesta espécie. Palavras chave: Chelonoidis carbonaria, microbiota conjuntival, bactérias. Sumary. The objective of this study was to identify the presence of bacteria in the conjunctival microbiota of Chelonoidis carbonaria from the Zoobotanic Park Getulio Vargas. Thirteen individuals were evaluated between males and females. The samples were collected with the help of sterile swab for the isolation and identification of bacteria. The results show growth in 100% of the samples, with total 102 isolated colonies, and diphtheroids (20.6%), Bacillus sp. (14.71%) and Staphylococcus sp. (14.71%), the most common microorganisms found.The knowledge of the microorganisms prevalent in the conjunctival flora chelonoidis carbonaria can help prevent and treat eye diseases in this species.Chelonoidis carbonaria can help prevent and treat eye diseases in this species. Key words: Chelonoidis carbonaria, conjunctival microbiota, bacteria. A flora conjuntival normal se mantém em equilíbrio nos animais clinicamente sadios. Por isso, é importante estudá-la em todas as espécies, para que se possa intervir de maneira mais adequada nos casos de infecções recidivantes e resistentes (EINCHENBAUM et al., 1987). O presente trabalho teve como objetivo identificar as bactérias presentes no saco conjuntival de jabutis da espécie Chelonoidis carbonária sem alterações oculares, pertencentes ao plantel do Parque Zoobotânico Getúlio. _______________________ 1 Discente do Programa de Especialização sob a Forma de Residência em Medicina Veterinária - UFBA Discente do Curso de Medicina Veterinária – UFBA 3 Pós-graduanda Fiocruz, Bahia 4 Médico (a) veterinário (a) do Parque Zoobotânico Getúlio Vargas, Salvador, Bahia 5 Docente EMEVZ – UFBA. *Av. Adhemar de Barros, Hospmev, número 500, Ondina, Salvador, Bahia. E-mail: [email protected] 2 Foram utilizados treze animais da espécie Chelonoidis carbonaria (Spix, 1824), adultos, machos, pertencentes ao plantel do Parque Zoobotânico Getúlio Vargas – Zoológico de Salvador, e sem qualquer sinal sugestivo de alteração oftálmica. Após a contenção física dos animais, a pálpebra inferior foi evertida e as amostras colhidas com o auxílio de pequenos swabs de algodão hidrófilo estéreis, pressionados levemente, com movimentos rotatórios, sobre a conjuntiva palpebral inferior de cada olho totalizando 26 amostras. Os swabs com o material coletado foram armazenados em tubos de ensaio de vidro estéreis contendo meio de transporte Agar Triptose, e mantidos sob refrigeração até a chegada ao Laboratório de Bacterioses do Hospital Veterinário Prof. Renato de Medeiros Neto (HOSPMEV/UFBA), Salvador, Bahia. Todas as amostras foram processadas em até quatro horas após a coleta, valendo-se das técnicas de esgotamento com alça em meios sólidos (meio de enriquecimento Agar sangue de carneiro a 6% e meio seletivo para bactérias gram-negativas Agar MacConkey) e cultivo em meio líquido (meio de enriquecimento Caldo Triptose). As amostras semeadas foram incubadas em estufa de aerobiose, a 37°C, por 24-48 horas. Após o período de incubação, o crescimento bacteriano observado foi identificado tendo por base o tamanho das colônias, cor, forma e aspecto, a presença ou não de hemólise em Agar Sangue, características morfológicas, tintoriais e bioquímicas de acordo com técnicas rotineiras de laboratório (KONEMAN et al., 2001). As amostras coletadas neste estudo foram obtidas a partir de animais da mesma espécie, mantidos sob o mesmo sistema de manejo, em duas estações do ano diferentes (inverno e verão). No presente estudo, houve isolamento bacteriano em 100% das amostras (26/26). Do total de 102 colônias isoladas, 66,66% (68/102) foram identificadas como gram-positivas e 33,34% (34/102) como gram-negativas, sendo Difteróides (20,6%), Bacillus sp. (14,71%) e Staphylococcus sp. (14,71%), os microrganismos mais encontrados. Dentre as bactérias grampositivas, houve predomínio de Difteroides (30,9%), seguidos de Bacillus sp. (22,05%) e Staphylococcus sp. (22,05%), Staphylococcus epidermidis e Micrococcus sp., ambos com 8,82% dos isolamentos, além de Streptococcus sp., Staphylococcus intermedius e bacilo corineforme. Entre as bactérias gram-negativas, houve predomínio de Alcaligenes sp. e Enterobacter harfnia, ambas representando 20,6% (7/34) das colônias. Foram isoladas ainda: Enterobacter sp., Proteus miriabilis, Proteus morganii, Escherichia coli, Citrobacter sp., Pseudomonas sp., Klebsiella sp. e Serratia sp. Pôde-se perceber que, comparativamente, não houve alteração significativa na composição da população bacteriana conjuntival destes animais, entre as diferentes épocas do ano. No presente estudo, houve isolamento bacteriano em 100% das amostras analisadas, assim como também o foi em estudos anteriores conduzidos com microbiota conjuntival de cães (SANTOS et al., 2009), gambás, guaxinins (PINARD et al., 2002) e castores canadenses (CULLEN, 2003). À semelhança do que foi obtido neste trabalho, microrganismos grampositivos representaram a maioria dos isolados bacterianos em pesquisas realizadas com diversas espécies silvestres (PINARD et al., 2002; MARTINS et al., 2007; MONTIANIFERREIRA et al., 2008; TUNTIVANICH et al., 2002; SWINGER et al., 2009). A composição da flora bacteriana normal da conjuntiva pode sofrer influência de alguns fatores como a estação do ano (BARNETT et al., 2002; TURNER, 2010), a localização geográfica, a nutrição, as diferenças nas técnicas de cultivo (PRADO et al., 2005), a densidade populacional (SWINGER et al., 2009) e o contato com outros animais (TUNTIVANICH et al., 2002). A predominância de Bacillus, Staphylococcus sp e Difteroides já foi documentadas em outros estudos conduzidos com da microbiota conjuntival de cães (MAGRANE,1971), macacos-prego (RIOS NETO, 2010) e castores canadenses (CULLEN, 2003). No presente estudo houve crescimento bacteriano na totalidade das amostras analisadas. Bactérias gram-positivas são predominantemente encontradas na microbiota conjuntival dos jabutis da espécie Geochelone carbonaria. O conhecimento dos 2 microorganismos prevalentes na flora conjuntival de Chelonoidis carbonaria pode ajudar na profilaxia e tratamento de doenças oculares nesta espécie. REFERÊNCIAS BARNETT, K. C.; HEINRICH, C.; SANSOM, J. Canine ophthalmology - An atlas and Text. 1. ed. Philadelphia: Saunders, 2002. p. 3, 67, 75. CULLEN, C. L. Normal ocular features, conjunctival microflora and intraocular pressure in Canadian beaver (Castor canadensis). Veterinary Ophthalmology, v. 6, n. 4, p. 279 - 284, 2003. EICHENBAUM, J. D.; LAVACH, J. D.; SEVRIN, G. A.; PAULSEN, M. E. Immunology of the ocular surface. The Compendium on continuing education for the practicing veterinarian, v. 9, p. 1101-1109, 1987. KONEMAN, E.W.; ALLEN, S.D.; JANDA, W.M.; SCHRECKENBERGER, P.C.;WINN, W.C.. Diagnóstico Microbiológico – Texto e Atlas Colorido. 5ª Edição. 2001. 1465p. MAGRANE, W. G. Canine Ophtalmology. 2. ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 1971. p. 3-7, 80-83. MARTINS, B. C.; ORIÁ, A. P.; SOUZA, A. L. G.; CAMPOS, C. F.; ALMEIDA, D. E.; DUARTE, R. A.; SOARES, C. P.; ZUANON, J. A. S.; NETO, C. B.; DUARTE, J.; SCHOCKEN-ITURRINO, R. P.; LAUS, J. L. Ophthalmic Patterns of Captive Brown Brocket Deer (Mazama gouazoubira). Journal of Zoo and Wildlife Medicine, v. 38, n. 4, p. 526 532, 2007. MONTIANI-FERREIRA, F.; TRUPPEL, J.; TRAMONTIN, M. H.; VILANI, R. G. D’O.; LANGE, R. R. The capybara eye: clinicial tests, anatomic and biometric features. Veterinary Ophthalmology, v. 11, n. 6, p. 386-394, 2008. PINARD, C. L.; BRIGHTMAN, A. H.; YEARY, T. J.; EVERSON, T. D.; COX, L. K.; CHENGAPPA, M. M.; DAVIDSON, H. J. Normal Conjunctival Flora in the North American Opossum (Didelphis virginiana) and Raccoon (Procyon lotor). Journal of Wildlife Diseases, v. 38, n. 4, p. 851 - 855, 2002. PRADO, M. R.; ROCHA, M. F. G.; BRITO, E. H. S.; GIRÃO, M. D.; MONTEIRO, A. J.; TEIXEIRA, M. F. S.; SIDRIM, J. J. C.; Survey of bacterial microorganisms in the conjunctival sac of clinically normal dogs and dogs with ulcerative keratitis in Fortaleza, Ceará, Brazil. Veterinary Ophthalmology, Ceará – Brazil, v. 8, n. 1, p. 33–37, 2005. RIOS NETO, G. M. Avaliação da microbiota conjuntival bacteriana em Callithrix jacchus, Callithrix penicillata e Cebus sp. mantidos em cativeiro. 2010. 50 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Federal da Bahia – Salvador. SANTOS L. G. F., ALMEIDA A. B. P. F., SILVA M. C., OLIVEIRA J. T., DUTRA V.; SOUZA V. R. F. Microbiota conjuntival de cães hígidos e com afecções oftálmicas. Acta Scientiae Veterinariae. v. 37, n. 2, p. 165 - 169, 2009. SWINGER, R. L.; LANGAN, J. N.; HAMOR, R. Ocular bacterial flora, tear production and intraocular pressure in a captive flock of Humboldt penguin (Spheniscus humboldti). Journal of Zoo and Wildlife Medicine. V. 40, n. 3, p. 430-436, 2009. TURNER, S. M. Oftalmología de pequeños animales. 1. ed. Barcelona: Elsevier, 2010. p. 61-62; 91-92. TUNTIVANICH, P.; SOONTORNVIPART, K.; TUNTIVANICH, V.; WONGAUMNUAYKUL, S.; BRIKSAWAN, P. Conjuntival microflora in clinically normal Asian elephants in Thailand. Veterinary Research Communications, v. 26, n. 4, p. 251 254, 2002. 3