CARACTERIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES DE Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze E Ocotea porosa (Nees) L. Barroso EM REMANESCENTE DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA Daiane Fabris 1; Karine Maria Atuatti Chiarello1; Luan Demarco Fiorentin1; Angela Luciana de Avila²; Graciele Barbieri³; Vlademir Martarello4 Resumo O presente trabalho teve como objetivo estudar a estrutura populacional das espécies Araucaria angustifolia e Ocotea porosa em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista localizado no município de Passos Maia, Santa Catarina. Utilizou-se o método de amostragem sistemática por meio de faixas com 20 m de largura, locadas no sentido norte-sul a cada 300 m. Para a população adulta foram amostrados os indivíduos com Circunferência à Altura do Peito (CAP) ≥ 15,7 cm e para a regeneração foram considerados os indivíduos com 3,14 ≤ CAP < 15,7 cm. Araucaria angustifolia ocorreu com maior densidade na área, apresentando 22 indivíduos/ha, estando também melhor distribuída com frequência de 69,70%, mas apresentado menores valores para a dominância absoluta (1,6 m²/ha) e para a regeneração (2 indivíduos/ha). Por outro lado, Ocotea porosa apresentou 17 indivíduos/ha com uma frequência de 48,48% e valores maiores para a dominância absoluta (2,19 m²/ha) e regeneração (3 indivíduos/ha). Ambas as espécies encontram-se na área com distribuição espacial agregada para a população adulta. Embora as espécies tenham apresentado boa representatividade na maior classe de tamanho, os resultados indicaram diferentes graus de dificuldade para a regeneração, sendo importante a implementação de medidas que auxiliem na sua conservação. Palavras chaves: espécies nativas; estrutura populacional; fitossociologia. CHARACTERIZATION OF POPULATIONS of Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze and Ocotea porosa (Nees) L. Barroso IN MIXED RAIN FOREST REMNANT Abstract The present work aimed to study the population structure of the species Araucauria angustifolia and Ocotea porosa in Mixed Rain Forest remnant, Passos Maia, Santa Catarina. It was used the method of systematic sampling through tracks with 20 m wide, located from north to south each 300 m. For the adult population were sampled individuals with Circumference at Breast Height (CBH) ≥ 15 .7 cm and for regeneration were considered those individuals with 3.14 ≤ CBH < 15.7 cm. Araucaria angustifolia occurred in the area with the highest density, with 22 individuals/ha, and was also better distributed with a frequency of 69,70%, but with lower values for absolute dominance (1.6 m²/ha) and for regeneration (2 individuals/ha). On the other hand, Ocotea porosa presented 17 individuals/ha with a frequency of 48. 48% and higher values for the absolute dominance (2 m²/ha) and regeneration (3 individuals/ha). Both species presented clustered distribution for the adult population in the area. Although the species had good representation in the largest size class, the results showed different degrees of difficulty for regeneration, being important to implement measures that can contribute to their conservation. Keywords: native species; population structure; phytosociology. INTRODUÇÃO A Floresta Ombrófila Mista, também chamada mata de pinhais ou floresta com araucária, está inserida no domínio do bioma Mata Atlântica, constituindo um ecossistema típico da região Sul do Brasil, complexo e variável e que acolhe uma grande variedade de espécies, algumas das quais endêmicas (MEDEIROS et al., 2004). A espécie emergente nesse tipo de vegetação é Araucaria angustifolia (Bertol.). Kuntze acompanhada, no dossel superior, por espécies das famílias Lauraceae, Aquifoliaceae e Sapindaceae. No sub-bosque predomina a família Myrtaceae (QUADROS; PILLAR, 2002). 1 Acadêmicas(os) do curso de Engenharia Florestal da Universidade do Oeste de Santa ([email protected]); 2 Engenheira Florestal, Msc., Doutoranda pela Universidade de Freiburg, Alemanha. 3 Engenheira Florestal, Msc., Professora e Coordenadora do curso de Engenharia Florestal da UNOESC, SC. 4 Engenheiro Florestal da empresa ADAMI S/A Madeiras. Catarina (UNOESC), SC. A Floresta Ombrófila Mista, assim como os demais ecossistemas que compõe a Mata Atlântica, apresenta grande nível de interferência antrópica e degradação. Segundo Schäffer e Prochnow (2002) muitos fragmentos florestais apresentam apenas árvores raquíticas, tortas e finas, enquanto que em outros a extração foi tão intensa que não sobraram árvores adultas e em fase de produção de sementes. Assim, é de grande importância a adoção de medidas para conhecer, resgatar e resguardar o patrimônio genético das espécies madeireiras que hoje se encontram sob ameaça de extinção. Casanova et al. (2005) relataram que a vegetação do Estado de Santa Catarina está totalmente inserida no domínio do Bioma Mata Atlântica e, até o início do século passado, menos de 5% das áreas florestais haviam sido destruídas. Atualmente, restam apenas 17,46%, área equivalente a 1.662.000 hectares, dos quais 280.000 podem ser considerados florestas primárias, enquanto o restante consiste em florestas secundárias. Segundo Medeiros et al. (2004), no que se refere à Floresta Ombrófila Mista, estima-se que a área remanescente representa de 1 a 2% da cobertura original, e encontra-se em fragmentos que apresentam pequenas dimensões, isolados e com sinais de alterações estruturais. A Floresta Ombrófila Mista apresenta grande importância, pois possui e contribui na manutenção de ricos mananciais hídricos, colabora no sequestro de dióxido de carbono, é composta por belas paisagens e abriga uma vasta biodiversidade com grande valor ecológico e ambiental, além de fornecer os subprodutos utilizados no artesanato, na culinária e na medicina popular, colaborando em nível social, ambiental e econômico. Além disso, estas áreas são responsáveis pela conservação de muitas espécies vegetais, entre elas a Araucaria angustifolia e a Ocotea porosa, ambas ameaçadas de extinção e com extrema importância para o ecossistema, abrigando e sustentando uma ampla diversidade de animais. Araucaria angustifolia pertence à família Araucariaceae, sendo classificada quanto ao grupo sucessional como uma espécie pioneira e heliófila, mas sendo beneficiada por leve sombreamento na fase de germinação e crescimento até 2 anos (REITZ; KLEIN, 1966) ou secundária longeva, mas de “temperamento” pioneiro (CARVALHO, 1994). Segundo Basso (2010) a espécie prefere solos argilosos, ricos em matéria orgânica e bem drenados, desenvolvendo-se bem em regiões com verões brandos e invernos frios e com precipitação de 1300 m até 2700 m. Ocotea porosa pertence à família Lauraceae e pode ocupar o segundo estrato do dossel da floresta, chegando a formar populações densas (“imbuiais”) (SILVA; MARCONI, 1990). Seu grupo ecológico é clímax tolerante a sombra, às vezes comportando-se como espécie secundária, infiltrando-se nas florestas mais abertas e capoeirões (ZAMPIERI; SALVADOR, 2006). A imbuia é uma espécie tolerante a baixas temperaturas, mas sofre com temperaturas negativas nos dois primeiros anos de idade, ocorrendo naturalmente em diversos tipos de solo (CARVALHO, 1994). Ambas as espécies possuem grande potencial econômico e para recuperação de áreas degradadas. De acordo com Basso (2010) a partir da Araucaria angustifolia podem ser obtidos produtos madeireiros e não madeireiros. A madeira possui boas características físicas e mecânicas em relação à massa específica, sendo indicada para construção em geral até a fabricação de papel. Seus nós são considerado excelente combustível, sendo usados também em artesanatos e ornamentação, além de sua semente (pinhão) que constitui um alimento muito valioso e tem efeito medicinal. Segundo Leme et al. (1994) Ocotea porosa é utilizada para a produção de madeira, a qual é empregada na fabricação de móveis e construção civil. A espécie também apresenta emprego apícola, visto que suas flores são muito atrativas para as abelhas e na arborização urbana e paisagismo (LIMA; GURGEL, 1984). O grande potencial madeireiro destas espécies conduziu a sua intensa exploração levando as mesmas serem incluídas na Lista Oficial de espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção (INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA), 2008). Considerando o atual estado de alteração das florestas naturais e a vulnerabilidade destas espécies, é de grande importância o conhecimento sobre as suas populações buscando conhecer as suas situações e gerar informações úteis para o desenvolvimento de técnicas adequadas para a conservação e/ou manejo. Assim, estudos fitossociológicos possuem papel importante para compreender a estrutura das espécies e da comunidade, permitindo realizar uma avaliação momentânea da vegetação (FELFILI; REZENDE, 2003), fornecendo informações básicas para tomada de decisões nas aplicações de técnicas de manejo florestal ou conservação (NASCIMENTO et al., 2001). Tomando por base o processo histórico de alteracao dos remanescentes florestais e exploração de espécies valiosas, acredita-se que a estrutura populacional das mesmas seja influenciada por estes processos, sendo necessário conhecer e entender esta dinâmica. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo analisar a estrutura populacional das espécies Araucaria angustifolia e Ocotea porosa em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista, SC. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado em um remanescente de Floresta Ombrófila Mista, localizado no município de Passos Maia (26° 46’ S e 52° 03’ W), Santa Catarina, de propriedade da empresa ADAMI S/A Madeiras, abrangendo uma área total de 325,64 ha. A região apresenta altitude em torno de 550 m e relevo irregular, com relevo plano-ondulado até montanhoso e escarpado. Situa-se dentro da formação Serra Geral pertencente ao grupo geológico São Bento, sendo constituído basicamente por rochas vulcânicas e solos classificados como terra roxa estruturada (DALLA NORA et al., 2010). A região apresenta clima mesotérmico úmido e temperatura média anual de 16 ºC (PAULI, 1997). A vegetação corresponde a Floresta Ombrófila Mista, caracterizada por espécies como Araucaria angustifolia (araucária), Ocotea porosa (imbuia), Ocotea pulchella (canela-lageana) e Mimosa scabrella (bracatinga), entre outras (POTTER et al., 1998). A coleta dos dados foi realizada nos meses de maio e junho de 2010 e a amostragem da vegetação arbórea foi realizada a partir de dois remanescentes, selecionados considerando o seu tamanho e representatividade da vegetação. O primeiro apresentou área de 123,73 ha e o segundo 201,91 ha. Os dados foram coletados utilizando amostragem sistemática, por meio de faixas locadas no sentido norte-sul, a cada 300 m. As parcelas (20 x 50 m) foram estabelecidas dentro de cada linha a cada 200 m, sendo subdivididas em subparcelas de 10 x 10 m. No primeiro remanescente, foram locadas 12 e no segundo 21 parcelas, correspondendo a uma área total de 3,3 ha amostrados. Os indivíduos amostrados apresentavam Circunferência à Altura do Peito (CAP) ≥ 15,7 cm. A regeneração foi avaliada considerando os indivíduos com 3,14 ≤ CAP < 15,7 cm. Para tal, foram locadas quatro unidades de 5 x 5 m em cada parcela, situadas no vértice noroeste das sub-parcelas 02, 06, 07 e 09, sendo estas sorteadas previamente. A análise dos dados contemplou os seguintes parâmetros: densidade, dominância e frequência em suas formas absolutas (DA, DoA, FA). Segundo Felfili e Rezende (2003), através desses parâmetros é possível fazer uma avaliação momentânea da estrutura, sendo que a densidade expressa o número de indivíduos de uma determinada espécie por unidade de área, a dominância representa a ocupação em área basal de uma espécie na área e a frequência está relacionada com o número de parcelas em que a espécie ocorre, indicando a dispersão da mesma. Na análise da regeneração foram considerados os parâmetros de densidade e frequência absolutas. A distribuição espacial das espécies para os indivíduos com CAP ≥ 15,7 cm foi analisada através do Índice de Morisita (IM) o qual é pouco influenciado pelo tamanho das áreas e apresenta excelentes qualidades na detecção do grau de dispersão (KANIESKI et al., 2009). O grau de dispersão dos indivíduos pode ser classificado como aleatório, uniforme ou agregado dependendo do valor encontrado pelo índice. Odum (1988) relata que a distribuição aleatória ocorre onde o ambiente é muito uniforme e onde não há tendência à agregação, já a distribuição uniforme ocorre onde a competição entre os indivíduos é severa ou onde há um antagonismo positivo que promove um espaçamento uniforme e distribuição agregada como sendo a mais comum, representada por agrupamentos de diversos graus. A distribuição em classes de frequência também foi estudada, visando representar o comportamento das espécies e verificar como as mesmas se encontram no que diz respeito a sua regeneração e permanência no ecossistema, avaliando a distribuição no número de indivíduos entre as menores e maiores classes de diâmetro. De acordo com Felfili e Rezende (2003) em trabalhos florestais é comum ser realizada a medição de um grande número de indivíduos. Para a análise da distribuição destes dados torna-se necessário distribui-los em classes, as quais devem possuir intervalos com valor ideal para que não haja acumulação de dados em poucos intervalos, nem classes sem nenhum representante. Segundo os mesmos é recomendável aproximar os intervalos de classes e para este procedimento os valores comumente usados nas distribuições de diâmetro são 2, 2,5 ou 5 cm. Assim, na distribuição em classes de frequência, tanto para a Araucaria angustifolia como para a Ocotea porosa, o intervalo escolhido foi de 5 cm. As análises foram feitas utilizando planilha eletrônica Microsoft® Excel® 2007. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos dados da vegetação com CAP ≥ 15,7 cm indicou que Araucaria angustifolia teve maior abundância na área com 22 indivíduos/ha, enquanto que Ocotea porosa apresentou 17 indivíduos/ha. Considerando que a Floresta Ombrófila Mista é caracterizada pelo predomínio da Araucaria angustifolia, o maior número de indivíduos da mesma no remanescente em estudo foi um resultado positivo. Reitz et al. (1978) relataram que nas submatas dos pinhais a Ocotea porosa constitui a árvore mais abundante, sendo encontrada comumente com 6 a 20 árvores adultas por hectare. A dominância absoluta (DoA) para Araucaria angustifolia foi de 1,6 m²/ha e para a Ocotea porosa 2,2 m²/ha indicando que a segunda espécie apesar de ter densidade inferior a primeira, possui diâmetros maiores. A menor dominância da Araucaria angustifolia pode estar relacionada a fatos que acorreram no passado. Medeiros et al. (2004) relatou que devido à boa qualidade da madeira, leve e sem falhas, a espécie foi intensamente explorada, principalmente a partir do século XX, sendo que entre 1930 e 1990, cerca de 100 milhões de pinheiros foram derrubados e entre as décadas de 1950 a 1960, a madeira da mesma figurou no topo da lista das exportações brasileiras. Geraldi et al. (2005) em estudo sobre a fitossociologia de dois fragmento de Floresta Ombrófila Mista, em Tijucas do Sul, PR, observaram valores maiores para ambas as espécies nos parâmetros DA e DoA, o que pode estar associado a melhor conservação dos fragmentos analisados por estes autores. Bonetes (2003) também observou valores maiores nos parâmetros de DA e DoA para a espécie Araucaria angustifolia, em um povoamento florestal localizado na Floresta Nacional de Chapecó, município de Guatambu, SC. A frequência absoluta (FA) foi de 69,70% para Araucaria angustifolia e 48,48% para Ocotea porosa, demonstrando que a primeira espécie está melhor distribuída na área, sendo amostrada em um maior número de parcelas, uma das explicativas é que a Floresta Ombrófila Mista tem como espécie característica a Araucaria angustifolia (MOSCOVICH, 2006), apresentando valores de abundância, dominância e frequência superiores às demais espécies componentes desta associação (SCHÄFFER; PROCHNOW, 2002). No que se refere à Ocotea porosa, segundo Reitz et al. (1978) a maior concentração desta espécie no Estado de Santa Catarina ocorre em vastas áreas no norte, onde foi a árvore mais importante depois do pinheiro-brasileiro, imprimindo a fisionomia à paisagem. Os valores obtidos para o Índice de Morisita, na área de estudo, foram de 1,60 para a Araucaria angustifolia e de 2,1 para Ocotea porosa, indicando que o padrão de distribuição de ambas corresponde ao agregado. Na comparação entre os valores de X² calculado e X² tabelado, observou-se valor maior para o primeiro em ambas as espécies o que confirma que a distribuição das mesmas é agregada e significativamente diferente da aleatória. A distribuição agregada está associada à estrutura de mosaicos observada visualmente a campo na vegetação, com variados níveis de alteração, fornecendo então condições diferenciadas para o desenvolvimento das espécies. Araucaria angustifolia na regeneração (3,14 ≥ CAP < 15,7 cm), apresentou DA de 2 indivíduos/ha e a espécie Ocotea porosa apresentou DA de 3 indivíduos/ha. Estes valores indicam baixa regeneração para ambas as espécies (Figura 1A e 1B). No que se refere à Araucaria angustifolia a baixa densidade pode estar relacionada ao alto poder nutritivo e apreciação da população regional pela semente, que coleta a mesma como fonte de alimento e renda (SILVA et al., 2004); além do fato da semente ser recalcitrante e, portanto, incapaz de formar banco de sementes do solo (PRANGE, 1963); e da existência de predadores naturais que acabam se alimentando de boa parte das sementes remanescentes na floresta. Silva e Marconi (1990) estudando a fitossociologia de uma floresta de araucária em Colombo, PR, apresentaram resultados que mostram poucos indivíduos de menor diâmetro e a distribuição das classes foi desordenada, indicando que a espécie possui dificuldades para regeneração natural. A espécie Ocotea porosa apresenta baixos índices de regeneração natural, o que compromete sua conservação “in situ” (DA CROCE, 1991). Klein (1963) relata que a viabilidade das sementes é inferior a três meses e o desenvolvimento das mudas no campo é lento. Segundo o mesmo autor as plântulas são pouco exigentes à luz e em estágios mais avançados da sucessão a espécie apresenta maior número de árvores adultas e senescentes do que plantas jovens, sendo rara onde há ausência de Araucaria angustifolia. Na distribuição de frequências não foi verificado o padrão de “J invertido” para ambas as espécies (Figura 1), caracterizado por maior número de indivíduos nas menores classes diamétricas, diminuindo nas classes subsequentes, padrão que indica equilíbrio populacional da espécie quanto a sua capacidade de se manter auto-regenerativa no ecossistema. Araucaria angustifolia apresentou irregularidade na distribuição diamétrica, com concentração de indivíduos em algumas classes e poucos indivíduos em outras, comportamento também observado para Ocotea porosa. Felfili (2001) afirmou que a distribuição J-invertido é comumente encontrada para a comunidade, porém, quando as espécies são analisadas individualmente, principalmente as emergentes, ocorrem variações neste padrão. Segundo Lamprecht (1990), as espécies podem apresentar distribuições diferentes, o que ocorre devido às variações nas exigências ecológicas. Figura 1. Distribuição de frequências para os indivíduos de Araucaria angustifolia (A) e Ocotea porosa (B) amostrados em remanescente de Floresta Ombrófila Mista, Passos Maia, Santa Catarina. Figure 1. Frequency distribution for individuals of Araucaria angustifolia (A) and Ocotea porosa (B) sampled in Mixed Rain Forest remnant, Passos Maia, Santa Catarina. Araucaria angustifolia teve baixo valor para a regeneração com pico nas classes de diâmetro de 7,5, 27,5 e 42,5 cm. Segundo Basso (2010) as características da espécie não são propícias para a mesma se disseminar ou ampliar seu habitat, pois além de seus frutos serem grandes, difíceis de serem espalhados e apreciados por espécies animais, para bom desenvolvimento os indivíduos requerem pouco sombreamento, sendo que também pode se desenvolver na floresta fechada, mas com desenvolvimento lento. O baixo número de indivíduos nas classes diamétricas maiores pode estar relacionado à exploração ocorrida no passado, onde os indivíduos com maior diâmetro eram extraídos. Sanquetta e Mattei (2006) relataram que até meados da década de oitenta não existiam grandes restrições à exploração indiscriminada da Floresta Ombrófila Mista e em especial da Araucaria angustifolia. Segundo os mesmos, nos chamados “Planos de Exploração Florestal”, era permitida a supressão de praticamente todos os indivíduos com diâmetros acima de 40 cm, o que comprometeu sua regeneração natural e recuperação após as intervenções nos ecossistemas. Ocotea porosa teve valor mais expressivo para a regeneração e para as classes de diâmetro de 7,5, 37,5 e 42,5 cm. De acordo com Lorenzi (2008) a emergência das sementes dessa espécie inicia-se no 15º- 20º dias, prolongando-se por até quatro meses, sendo assim elas podem aguardar certo tempo no solo até surgirem condições apropriadas para o seu desenvolvimento, o que possibilita melhores condições para o estabelecimento de novos indivíduos na população. Reiz et al. (1978) relatou que as plântulas de Ocotea porosa são pouco exigentes à luz, crescendo preferencialmente em ambientes de sombra e de umidade do ar elevada. Apesar de apresentar valor mais expressivo na classe de diâmetro de 42,5 cm foram encontrados indivíduos nas maiores classes de tamanho até o centro de classe de 82,5 cm, fato este que também colabora com a regeneração da espécie dentro da floresta, devido à maior presença de indivíduos reprodutivos na área. Considerando os resultados obtidos para a análise da estrutura populacional das espécies Araucaria angustifolia e Ocotea porosa observou-se que as mesmas encontram-se bem representadas na população adulta. No entanto, a análise da regeneração e da distribuição diamétrica indicou dificuldades em diferentes graus no processo regenerativo de ambas. Desta forma, torna-se necessário à implementação de medidas que auxiliem na conservação, como a manutenção dos remanescentes mais representativos de florestas originais desta região fitoecológica, assim como, estimulando-se a recuperação e manejo das áreas com florestas nativas, as quais se encontram em diversos graus de alteração antrópica na região. CONCLUSÕES Os resultados permitem concluir que: a) Araucaria angustifolia apesar de possuir na população adulta maior abundância e estar melhor distribuída na área, apresentou baixa regeneração, sendo importante melhorar as condições de permanência e regeneração da espécie no ecossistema; b) Ocotea porosa possui maior representatividade de indivíduos na regeneração, possibilitando melhores chances para sua continuidade no ecossistema; c) A manutenção de fragmentos e remanescentes é de suma importância, o que pode ser associado a técnicas como o enriquecimento, visando melhorar a qualidade das florestas e as condições para conservação destas espécies. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a empresa ADAMI S/A Madeiras pela possibilidade da realização do trabalho, auxílio logístico e financeiro, bem como, toda equipe que auxiliou na coleta de dados, tornando possível a realização do presente estudo. REFERÊNCIAS BASSO, C. G. M. A araucária e a paisagem do planalto sul brasileiro. 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