JC Relations - Jewish

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Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Stöhr, Martin | 01.09.2005
Casa de ensino judaico
Martin Stöhr
Uma observação protestante
I.
A expansão do saber histórico e das ciências naturais, a dificuldade de entender e de se sair das
condições de vida que se tornaram cada vez mais complexas põem, no tempo moderno, as religiões
diante cada vez maiores desafios. Delegar a dominação destes somente ao mundo acadêmico ou ao
respectivo “clero” é uma possibilidade, a qual, certamente, promove ainda a interdição e mudez das
comunidades – para não falar do perigo de clericalismo e cientificismo. Jogam, nas assim chamadas
religiões de livro, o aprender, a catequese, a inculturação em mundo novos, a discussão com
filosofias, visões do mundo e, não por último, adversários internos ou externos um papel decisivo: os
lugares de aprender mencionados e as instâncias de comunicação estão sendo desafiados extrema e
novamente.
Que, em princípio, todos os fiéis têm de enfrentar assas tarefas, se baseia, no Judaísmo e na
Cristandade, em três firmações básicas: Uma vez a semelhança com Deus e, com isso, a dignidade
de cada pessoa humana que cada uma e cada um esteja em condição de dar à palavra da revelação
uma resposta própria. Da outro lado, a visão realista da provisoriedade ou o caráter fragmentário de
cada pronunciamento religioso, respectivamente teológico um manejar de direito igual com
exatamente essa palavra da revelação. Terceiro, há, na história da discussão rabínica e das
disputações cristãs antigas, caminhos experimentados de discurso abertos, embora freqüentemente
demais esquecidos, para a averiguação de verdades hoje vivíveis, na base das tradições
transmitidas e da relevância destas para a atualidade e o futuro.
Todos os três indícios vivem juntos de que funcionam anti-hierarquicamente e crítico a poder, sendo,
portanto, sempre postos em perigo por poder e hierarquia; que são fundados na tradição bíblica,
onde “os santos do altíssimo” (Salmo 34,10; Rm 1,7 e outros lugares) estão sendo
“democraticamente” como os responsáveis para a realização da palavra de Deus. Essa idéia não
significa, de jeito algum, renunciar a funções especiais (sacerdotais, educacionais, proféticas, régias,
diaconais, etc.). As portadoras e os portadores de tais serviços, porém, estão como “auxiliares” no
serviço do inteiro. O que o salmo 2 declara do rei, indica também as regras éticas de base para o
povo de Deus. O que o salmo de Cristo (Ef 2) diz de Cristo, indica também o programa de vida da
comunidade. Ef 4,12 descreve as tarefas dos serviços especiais. Devem “arranjar os santos para a
obra do serviço para a edificação do corpo de Cristo”.
A verdade explicada e defendida ontem para ontem pode ser irrelevante para hoje ou amanhã na
sua repetição pura. Já na Bíblia se encontra uma auto-interpretação permanente e, com isso,
desenvolvimento contínuo dos seus pronunciamentos elementares de base: O mandamento de
santificar o sábado está sendo explicado ulteriormente para o pousio natural, para a liberação de
escravos e para a remissão de dívidas. Coisa antiga gera e dá à luz coisa nova, como em Abraão e
Sara. Os profetas remetem à aliança de Deus com Israel, vivificando-a e a ampliando através de
crítica, consolo ou abertura de novas perspectivas de vida. Jesus, no Sermão da Montanha,
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interpreta a Toráh, como Paulo em Rm 12-13, como igualmente permanecendo válida e novamente
válida. Tiago corrige (2,17) Paulo e a polêmica deste, contra o co-cristão Pedro necessária, mas duas
gerações mais tarde obviamente tendo chegada a ser obsoleta, contra as “obras” pela sua tese de
que a fé sem as obras estaria morta. Reformas e reformadores não só reconstroem, mas também
criam realidades novas da fé.
II.
O pai das academias populares, o teólogo dinamarquês Nikolaj F. S. Grundvig (1783-1872)
desenvolveu a sua idéia de aprendizagem durante toda a vida contra um racionalismo com o
positivismo deste de saber e contra a romântica com a preponderância desta do sentimento,
tendências que ele mesmo tinha aderido antes. Segundo ele, a vida cristã é primeiramente um
renascimento da vida dada na criação, então algo comumente humano, relacionada à humanidade
das pessoas humanas. Os de mais idosos de 18 anos devem aprender e formar as condições da vida
humana e social. Esta deve ser treinada sem parar e sempre de novo. O uma vez aprendido nunca
chega a ser completo ou a ser concluído, deve a vida levar a cabo e não deixar a fé chegar a ser
museal. O ser pessoa humana, o chegar a ser gente vem antes de ser cristão. Este, portanto,
Grundvig não o menospreza. Ao contrário, mas no ponto central do ser cristão não está o ser cristão
próprio. As pessoas humanas são o horizonte dele.
Quando no teatro de Kassel (Alemanha) em 1919 foi apresentado Nathan der Weise [O sábio
Nathan], Franz Rosenzweig (1886-1929) acompanhou a apresentação com uma conferência. Ele
trava à pergunta de Lessing dirigida dentro da peça ao templário: “Cristão e judeu são antes cristão
e judeu ou pessoa humana?” Rosenzweig comenta: “Cristão e judeu não são cristão ou judeu antes
de pessoa humana, mas pessoa humana cristã e pessoa humana judaica são mais que só pessoa
humana.” Aqui se pronuncia a autoconsciência – não reivindicação absoluta ou um sentimento de
superioridade – do judeu autêntico como do cristão autêntico, de que ambos teriam algo a contribuir
a “Tikkun Olam”, isso é à melhora do mundo, a construção do reino de Deus. Rosenzweig resume: “A
pessoa humana está no mundo para ser humana.”
O chegar a ser pessoa humana da pessoa humana é, em Grundvig como em Rosenzweig – com toda
diferença dos dois pensadores e inspiradores de formação moderna de adultos –, fim dum aprender
novo, como Rosenzweig o formula nos seus trabalhos preparatórios para a Case Livre de Ensino
Judaica em Francoforte (Alemanha). É necessário como exigência do presente e das tradições no
interesse de futuro humano. Quando Rosenzweig assenta, tinha terminado o seu trabalho volumoso
sobre “Hegel e o Estado”, bem como se despedindo resolutamente do idealismo alemão, a sua obra
principal “Stern der Erlösung” [Estrela da Salvação]. Esse livro conclui como o aviso bíblico: “ELE te
disse, oh pessoa humana, o que é bom e o que exige o Eterno, teu Deus, de ti: fazer o reto e ser
bom de coração e simplesmente (Buber traduz: ‘moderadamente’) andar com o teu Deus” (Miquéias
6,8). Essa palavra está escrita acima do portão que conduz para fora do “santuário divino, no qual
nenhuma pessoa humana pode ficar viva. Aonde, porém, as alas do portão se abrem? Não sabes?
PARA DENTRO DA VIDA.” Não a permanência no santuário está alegada aos crentes, mas sim a cada
vez nova saída para dentro do “profano”, para dentro da vida, a qual jaz antes e fora do santuário.
Rosenzweig advoga contra um entendimento de religião como auto-abastecimento religioso, como
nicho diante, ao lado ou atrás do mundo, como refúgio das adversidades do cotidiano – conceitos
que, embora é que encontrem aderência, mas não têm fundo no entendimento bíblico de fé, amor e
esperança. Esses três dons e tarefas de Deus às pessoas humanas expelem do paraíso da
religiosidade para dentro dum mundo “além de Éden”. Esse mundo não é ateu. Por isso, ele é
segundo a concepção de Deus, não só para ser aceito, mas sim para ser formado.
No seu escrito programático para a fundação da Casa Livre Judaica em Frankfurt/Main [Francoforte
sobre o Meno] “Formação e não fim nenhum”1 – se aloja tanto a observação do Coélet [pregador]
cético-sábio (12,12) de que a confecção de livros não teria fim, como também a tarefa de aprender,
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bem como de ensinar, de esclarecer e de disputar – não sem o médio decisivo: a Bíblia.
O texto grego de Sirácida [Eclesiástico], 2 séculos antes de Cristo, o bisneto do autor desse livro
apócrifo da sabedoria escreve um prefácio, no qual diz: “Na Lei e nos Profetas, bem como nos outros
escritos que os seguiram, nos são dadas muitas coisas magníficas, pelas quais Israel merece o
louvor de moral e da sabedoria. Por isso aqueles que lerem devem, não só ensinar-se a si mesmos
desses, os sábios devem antes se poder provar úteis aos leigos por palavra e escrito.” Professores e
alunos, peritos e leigos carregam igualmente responsabilidade para que a sabedoria de Deus chegue
a ser praxe de vida das pessoas humanas. Por isso, se convida à casa do ensino: “Chegai a mim vós
que estais ignorantes, e vos detende na minha casa de ensino” (Eclo 51,23). Aqui a casa de ensino
está sendo mencionada pela primeira vez. Na literatura sapiencial de Israel está sendo chamada a
atenção com grande ênfase que a sabedoria de vida não se encontre ou até se resuma nas
sabedorias e capacidades cotidianas fascinantes de modo algum mal feitas da pessoa humana. Seria
um seria uma conclusão circular empobrecedora. Jó 27 especifica o poder e saber impressionante de
tipo técnico, mecânicos e artistas, para apontar ao começo da sabedoria, esta que conste no
“temor”, no levar Deus a sério.
O escrito “Formação e nenhum Fim” conclui com as palavras que, na sua liberdade e autoconsciênca soam aborrecíveis a todos os administradores de religião e a todos os desprezadores de
religião: “Todas as receitas, a ortodoxa, como a sionista, como a liberal geram, quanto mais forem
seguidas conforme a receita, caricaturas das pessoa humana tanto mais ridículas. … Não há receita
senão a única que determina a pessoas humana a ser judaica e, com isso, a ser pessoa humana
verdadeiramente: a receita do sem-receita. … Os nossos antigos tinham uma palavra bela para isso:
confiança.”
É a palavra bíblica ÈMUNóH, que significa confiança, esperança e fé. Por Martin Buber está sendo
oposta erroneamente, se bem que perante petrificações dogmáticas na Cristandade
compreensivelmente, como contrastante à pistis neotestamentária (fé, antes de tudo, como fé em
dogmas).2
O antigo colaborador na Casa Livre Judaica em Frankfurt [Francoforte, Alemanha], Erich
Fromm, apresentará criticamente no seu livro “Das Christusdogma” [O Dogma de Cristo]
esse tendência de petrificação dogmática, opondo-lhe o anuncio de Jesus no Sermão da
Montanha.
Confiar em Deus, Cuja palavra e voz não podem ser expulsas do mundo, logo permanentemente
perceptível no mundo, significa expressá-Lo aí, nas complexidades, contradições, desumanidades e
belezas. Fala compreende palavra e ato. “No início era a palavra”, está sendo por Goethe (que sabia
hebraico) retamente traduzido, contra um mal-entendido vitaslista, não por “força” ou não com
“sentido”, contra um mal-entendimento idealista. A sua tradução “Im Anfang war die Tat” [No início
houve a ação] reproduz exatamente a palavra hebraica Dobar. Significa falar e agir em um só. Voltase também contra um desprezo de agir na Cristandade. Trabalho de formação empurra para a
realização. Carl Friedrich von Weizsäcker diz: “Informação é informação somente se efetuar
mudança.”
III
Os começos da casa de ensino se deixam remontar até no exílio babilônico de Israel (586-536). O
problema realmente existencial depois da destruição do templo em Jerusalém e depois da
deportação para uma esfera político-religiosamente estranha era, não só a questão de se Deus
também na “miséria”, no exterior, sob determinação alheia existe e age através de condições de
vida completamente novas, mas sim de como, sem orientação sacerdotal e/ou profética no Templo
(quer dizer, porém, também contra o Templo) a Sua palavra esteja a ser realizada.
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Esclarecer isso, segurar a Sua palavra transpondo-a livre, ao mesmo tempo, para dentro de novas
situações deixa nascer as formas preliminares do ensino livre de hierarquia. A fixação dos textos
bíblicos se torna agora tão necessária como a sua tradução discursiva para realidades que mudam.
Depois das experiências amargas “quando sentávamos nas águas da Babilônia” – e alhures! – “e
chorávamos” nasce, sem raiz no que se refere a condições externas, não sem raiz no que se refere à
palavra de Deus que fica contemporaneamente e vai junto ao exílio, vida e aprender novos na
Babilônia e, depois, em muita diásporas da história judaica.
A casa do ensino como a sinagoga, esta que nasce no mesmo tempo, como lugar da comunidade, do
serviço religioso e do ensino ganha, em cada lugar de existência judaica, importância central. Essa
importância está sendo sublinhada por um relato talmúdico de que seja permitido transformar uma
sinagoga em uma casa de ensino, mas nunca uma casa de ensino em uma sinagoga. Depois da
primeira e, com maior razão, depois da segunda destruição do Templo, o lugar central do serviço
religioso tinha desaparecido igualmente como os sacerdotes e o papel destes. Um “sacerdócio geral
de todos os fiéis” jaz agora com as comunidades.
Perante uma divisão de trabalho cristã, a qual descarregava o ensino cristão permanente e o
aprender que o carrega de todas as gerações, amplamente das comunidades e famílias para as
instituições de escolas, de academias do povo e da formação de adultos, está aqui dada a unidade
original de ensino social e individual, prático e teórico. Heinrich Heine chama a Bíblia a “pátria
portável” dos judeus. Não pode ser destruída. Pode e deve ser tratada sempre e em todos os
lugares. Atrás está um entendimento da palavra de Deus, a qual pode formar nova e criativamente
tempos e espaços, instituinalizações e história, indivíduos e sociedades. Franz Rosenzweig descreve
o fundo mais profundo de todo o trabalho antigo e novo da casa de ensino assim: Trata-se, para ele,
não de um trabalho “que trata de ‘coisas judaicas’, pois então os livros do antigotestamentólogo
protestante livros judaicos”. Trata-se, para ele, de um pensar, “ao qual lhe advém para aquilo que
tem a dizer, e exatamente para o novo que tem a dizer, as antigas palavras judaicas Coisas judaicas
são, como coisas em geral, sempre passadas; palavras judaicas, porém, se bem que antigas, fazem
parte da juventude eterna da palavra e, quando lhes for aberto o mundo renovam o mundo”.3
Uma fé “protestante” de palavra fala aqui, a qual, todavia, não esquece que o compromisso da fé
jaz, não em teses, formulações de credos e dogmas – sejam esses tão importantes como forem para
a autocertificação, delimitação ou resumo curricular – mas sim na vida e no agir. As tradições
narrativas (HaGòDóH) e as tradições éticas (HaLòKóH) da TORóH, das orientações, as quais se
encontram, no Talmude e no Midrash como “revelações orais” ao lado da “revelação escrita”, da
Bíblica Hebraica, são todas práticas de vida e orientadas para o agir. A essa orientação para o agir
pertence, naturalmente, também a iluminação, quer dizer: reflexão sobre Deus e o mundo,
explicação do mundo e da história são indispensáveis, já que se trata na Bíblia, do começo até ao
fim, das questões correspondentes, as quais Kant pode embrulhar assim: O que posso saber? O que
posso fazer? O que devo fazer? O que me está permito a esperar? O que é a pessoa humana? Essas
não são perguntas especificamente religiosas, mas sim perguntas de todas as pessoas humanas.
Estimulá-las e às tentar responder é – com a luta “para uma retidão melhor” – tarefa do trabalho e
discussão das religiões.
A revelação oral no Talmude e no Midrash é, de certo modo, uma casa de ensino de jeito próprio.
Metodicamente, pertence a isso que, em muitos volumes tanto do Talmude de Jerusalém como do de
Babilônia estão fixados nomes de centenas de pessoas humanas as quais, ao lado de muitos
desconhecidas, participam todos com direito igual nesse colóquio, na procura de respostas – muitas
vezes até em ramificações sutis – referentes ao que então a tradição diz hoje. São, não teólogos
profissionais, mas sim leigos, embora mestres e professores (os rabinos) das tradições bíblicas e pósbíblicas, como dos problemas atuais haja entre eles. Esclarecer, aprender e ensinar dá lugar num
processo entre as gerações, entre posições diferentes, até muitas vezes incompatíveis. Uma
autoridade de ensino e decisão não há tão pouco como uma concepção da doutrina pura. Ambos os
fatos, no entanto, não significam que não tivesse havido autoridades. Até na propaganda moderna,
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Hillel pertence a eles com a sua pergunta: Se não eu, quem então? Se não agora, quando então?”Ou
Rábi Akiba, o qual chegou a ser o fornecedor do adágio de que tudo já teria acontecido já antes.
Palavra e resposta, dito e contradição, delimitações e posições agudas pertencem a esse “sistema
não-sistêmico” de explorar verdades e as fazer praticáveis, bem como abertura e a consciência de
que, na tradição judaica estão sendo conservadas verdades que são necessárias para a vida.
A isso pertencem as idéias, p. ex., que “pagãos” valem mais que os Sumos Sacerdotes, que aqueles
têm participação no Reino de deus, quando levarem a sério a vontade de Deus, mas também a
recusa de qualquer adoração de autoridades as quais estejam em contradição para levar a sério a
existência dum Deus. A pergunta é, nas partes narrativas como nas éticas da literatura rabínica
sempre pelo que as histórias e as palavras da Bíblia nos dizem hoje.
Por trás disso está o entendimento de que a repetição da verdade de antes não é per se [por si] a
verdade de hoje, mas sim precisa de desdobramento atualizador e inovador. Esse pensar sabe que
as situações mudam como as pessoas humanas, que, no entanto, fica válido “o que é dito aos
antigos …”. Assim Jesus o pratica no Sermão da Montanha. Uma interpretação nova contínua é
necessária. Novas questões se põem a cada geração e in em cada contexto novo, das quais nem
Moisés, nem os profetas, nem Agostinho nem Lutero, nem Maimônides nem Mendelssohn, nem
Schleiermacher nem Barth sonhavam coisa alguma.
O que, no protestantismo, se chama de viva vox evangelii [voz viva do evangelho] e o que é o
simples ler e pronunciar, mas sim a vivifcação da palavra e espírito divinos pela pessoa humana, o
que apontado, Confessio Helvética está chamado de “Praedicatio verbi divini est verbum divinum”
(O anúncio da palavra de Deus é a palavra de Deus), se encontra aqui também sob aspeto duplo: De
um lado, o papel altamente grave da pessoa humana no entender, interpretar e viver da palavra
divina não é para ser passado por cima. Está intangível na sua intangibilidade. Está dado nas nossas
mãos o que o pode fazer manipulável. De outro lado, o peso altamente grave não é ultrapassável,
mas não põe, por si, em pura ou ainda mágica possibilidade de ser repetida vida e orientação. Para
estas, se precisa, além da cultura de luta, de esforços mais altos intelectuais e práticos. Também as
suas partes incompreensíveis e inoportunas (p. ex. prescrições de sacrifícios para o serviço do
Templo), juízos de mulheres ou violência no Antigo como Novo Testamento não caiem fora da Bíblia,
mas sim exigem, dentro da herança integral, um desenvolvimento ulterior crítico-criativo, até
superação. Exemplos bíblicos para isso são a superação da vingança de sangue e da pena de morte.
No Talmude Babilônico (Menahot 29b) é contado que Moisés, que pode ainda ver a Terra Santa, mas
não entrar nela ele mesmo, vê através de tempos longínquos o que será discutido e decidido nas
casas de ensino e sinagogas séculos mais tarde. Nada entende das discussões. Irritado, pergunta
por sobre o que a gente aí então discutem? A resposta de Rábi Akiba é que não se trataria da Toráh,
a palavra e a vontade de Deus, como estas teriam sido comunicadas a Moisés no Sinai. Moisés está
completamente conformado, embora não mais entende ainda que conseqüências estão para serem
tiradas da Toráh, de Moisés e dos profetas dos escritos num tempo mudado. A fonte precisa ser clara
e o esforço indispensável, assim de orientação difícil, seja quão nova ou controversa como for que a
resposta à palavra da revelação possa cair.
A discussão de Jesus com os fariseus e escribas não são discussões de um cristão com os judeus,
mas sim discussões intrajudaicas. O ponto de referência dos discutintes está tão unívoco como
comum, mesmo quando não pode haver conseqüências desse ponto comum de referência em
diversas direções. Mt 23,1s. começa uma crítica cortante aos fariseus e escribas como o aviso de
que estariam a serem ouvidos, porque (retamente) sentam na cadeira de Moisés. O Talmude critica
e argumenta semelhantemente.
IV
Como modelo imponente e inspirador do tempo moderno está sendo estimada, no debate sobre
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formação e educação, comunicação de saber e orientação de agir, a Casa Livre de Ensino Judaica em
Frankfurt am Main [Francoforte sobre o Meno, Alemanha]. Não está pensável sem a longa tradição
judaica, mas também não sem a discussão ao redor duma pedagogia de reforma no século 20. Antes
de tudo, Martin Buber estava num jogo recíproco muito vivo com começos pedagógicos de reforma.
Os seus escritos “Schriften zur Erziehung” [Escritos para a Educação] bem como “Ich und Du” [Eu e
T], documentam isso explicitamente.
Em 1918, a comunidade judaica na Alemanha, experimenta, pela primeira vez, completa igualdade
de direitos governamentais e jurídicos, o que não significa que a igualdade de direitos dessa minoria
diminua também o desprezo dessa minoria em todas as camadas e instituições do povo. Em 1933, o
anti-semitismo está escolhido ao poder como ideologia núcleo.
No mesmo ano de 1918, o rabino de Frankfurt, N. A. Nobel, discípulo do neokantiano Hermann
Cohens em Marburg, ortodoxo e conhecedor de Goethe, sionista e pregador fascinante, juntou que
se interessavam de várias correntes do Judaísmo de Frankfurt, para com eles construir um trabalho
de formação popular judaico. Cunha ele também um entendimento humano do “Super-homem” de
Nietzsche. Contra a interpretação socialdarwinística dos nacionalistas, anti-semitas e nacionalsocialistas está, para ele, com esse título preservado um ideal daquilo que o homem deve chegar a
ser. Nobel o entende um como convite para o “empowerment” [autorização] duma minoria
desprezada para que esta possa passar o futuro soberanamente e com direitos iguais como os tem a
maioria. Trata-se, para ele, de um Judaísmo aberto e colaborador em todas as questões do tempo e
da sociedade. Nobel chegou a conhecer Franz Rosenzweig. Este concorda com o seu pedido de se
mudar de Kassel a Frankfurt, para guiar o novo empreendimento. Rosenzweig, por causa disso,
renuncia a uma carreira universitária. Insiste em que, com a nomeação, haja ligação à antiga
história judaica da casa de ensino. Que precisa ser “livre” significa, para ele, que todos os
interessados tenham acesso livre a todas as suas reuniões, e que a casa de ensino deve ser
independente de todas as instituições, também das judaicas. Deve se sustentar a si mesma por
contribuições dos membros e emolumentos de cursos.
Tradição e modernidade – ambas contêm desafios, os quais, num pensar e trabalhar confrontativos têm de ser relacionadas uma à outra. O psicoterapéuta Erich Fromm ainda com estudante, o
pedagogo Ernst Simon, o qual deixa em 1933 a sua cadeira de ensino para formação de adultos na
Universidade Hebraica de Jerusalém para, com Martin Buber, exercer, até 1938, formação judaica de
adultos na Alemanha na sombra da destruição,4 o médico Richard Koch pertencem aos primeiros
colaboradores. Koch leva as finalidades expressivamente ao ponto: “A casa de ensino nos deve
ensinar porque e para o que existimos.” Importante, para todos, é o ponto de referência de ser
judaico, indiferente como este for vivido ou entendido. Não deve haver uma adaptação sem
identidade à sociedade majoritária. Ainda pertencem aos colaboradores não-teológicos, ao lado do
único teólogo, o rabino Nobel, o químico Strauss, além desse um psicólogo, um historiador, um
artista e um político. Não deve ter sido um time simples, mas, em toda al cultura de contenda, um
capaz de colóquio.
“Umblick und Einblick” [olhada ao redor e olhada para dentro], “de fora para dentro”, “Deus –
mundo – pessoa humana” – essas são algumas articulações, as quais permitem perceber a
universalidade e abertura dos primeiros anos. O programa mostra muitos arcos de tensão, p. ex.
entre trabalho bíblico e literatura moderna, estudos do Talmude e questões sociais, experiência
histórica e formação do futuro. Tanto a vida privada como a pública jaz no horizonte desse trabalho.
Rosenzweig está sendo, por sua doença, obrigado a entregar a direção da casa de ensino já em
1923. Com a sua morte em 1929, a Casa Livre de Ensino Judaica está de fato no fim, mesmo se, com
Rudolf Hallo e Martin Buber pode ganhar ainda alguns dirigentes acessórios impressionantes.
V
Remontando as idéias básicas de Franz Rosenzweig, tento resumir os princípios do aprender novo
6/8
como segue:
1. A verdade antiga é para ser recebida, estudada a partir do presente e a ser realizada para
dentro do futuro próprio.
2. Cada um/uma é ao mesmo tempo professor/professora, cada um/uma é ao mesmo tempo
estudante. Quanto mais “alheio” alguém for da tradição, tanto mais apto será como
professor e estudante.
3. Fidelidade ao próprio pertence a aceitação plena da responsabilidade pelo total da
humanidade. A referência à história própria e uma identidade própria da a possibilidade para
uma abertura universal e exatamente não para um estreitamento particularista.
4. A fidelidade ao próprio não significa, não passar para lado de somente uma única tradição, p.
ex. do Judaísmo, mas sim estar com o Judaísmo como um todo – com Spinoza e com Baal
Shem Tob e todos os variantes de manifestação contemporânea, judaica. Quão ecumênica a
Cristandade precisaria chegar a ser finalmente, se não excomungasse os dissidentes e
“hereges”, mas sim sentaria junto com eles para discutir com eles?
5. Nem propaganda nem apologética determinam o espírito do trabalho.
6. Onde se trata do Judaísmo, trata-se também dos povos, os quais (segundo Is 26,2) entram
como retos no Reino de Deus. Retidão como critério da pertença ultrapassa as fronteiras
nacionais.
7. Liberdade para pesquisa e ensino na casa de ensino pertence à pressuposição básica desse
trabalho livre.
Ao caráter dialógico de todo o trabalho da casa do ensino, Rosenzweig mantém programaticamente:
“O judaico é o meu método, não o meu objeto.”5 O entender da realidade abrangente que acontece
no estudar e ensinar não “tem o seu fim em si mesmo. Chegou-me a ser serviço, a ser serviço
todavia, na a ser serviço a tendências”.6 O ensino novo propagado no sermão de abertura para a
Casa Livre de Ensino Judaica em 1919 parte do entendimento sóbrio de que casa dos pais e
comunidade não mais ensinam o que é necessário para a vida como pessoa humana, co-pessoa
humana e judeu. Assimilação ou indiferença são as conseqüências, e a emancipação esperada com
essas não acontece. Emancipação do Judaísmo (ou do Cristianismo) ainda não é emancipação.
Nascem novas dependências. A simultaneidade com as gerações passadas e com as vindouras,
porém, exige uma vida e aprender conscientes no hoje.
O abandono de preleções a favor de grupos de trabalho está sendo continuado nos anos de 1923 a
1926 resolutamente. A participação de todos o exige. Aqui surge, para mim, a pergunta se essa
mudança – ao lado da doença e morte precoce de Rosenzweig – é também um fator para o
retrocesso lento observável da casa de ensino? As preleções e oradores carismáticos não são mais
atrativos que a labuta de grupos de trabalho? A partir de 1928 se suspende praticamente; em 1930,
a ainda uma Conferência ocasionalmente.
Em 1933, a casa de ensino está sendo novamente aberta pela conferência de Buber “tarefas de
educação judaica”. Ganha importância para longe além de Frankfurt e Heppenheim (lugar da
residência de Buber). Nos anos da perseguição – assim o mostram imagens e relatos
impressionantes – tem lugar em muitos lugares da Alemanha, muitas vezes ilegalmente, por vezes
camuflada de tempo livre, por vezes preparada como encontro na floresta. Paralelas aos seminários
ilegais da Igreja Confessora se impõem. Na hora do ameaço, Martin Buber, expulso da Universidade
de Frankfurt, uma fundação judaica para a cidade de Frankfurt, se dirige outra vez a todos os grupos
da comunidade judaica na Alemanha. No centro está agora totalmente a conservação e realização
da vida de minoria judaica num ambiente hostil. “Aqui, quando em algum lugar, não se trata de
ensinar e estudar sem viver. Aprender e fazer estão ligados um com o outro na continuidade da
tradição judaica.”7
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VI
Depois de 1945, Hermann Levin Goldtschmidt na Suíça e com judeus e cristão junto nos Países
Baixos, aí intensivamente em várias cidades, voltaram a essa tradição de casa de ensino e a
continuaram. Veja uma herança tríplice a ser considerada:
1. Tradição, exatamente a tradição bíblica, a qual, no Judaísmo pós-bíblico e na Cristandade
tem duas histórias de continuação diferentes da mesma Bíblia Hebraica, é um recurso. Não
merece, por jargão moderno, por evocação em palestras festivas ou pregações alheias do
mundo, por apologética ou repetição ser ressuscitada para uma vida aparente. Somente as
questões urgentes do presente e futuro a abrem realmente.
2. É que o trabalho confrontativo com a tradição e o presente está ancorado no solo da
identidade própria respectiva, mas não está, em primeiro lugar, a serviço servil a essa. É
serviço à pessoa humana e à humanidade. Para esta, e não para si mesmas, as religiões
existem. A pergunta pelo agir reto, a pergunta por uma vida, não só comigo mesmo, mas
também com outros é sentido e fim da revelação de Deus.
3. As religiões bíblicas Judaísmo e Cristandade, destas variado e se originando também o
Islame, têm um direito de progênito na crítica de religião e iluminismo. Estes não são de
modo nenhum invenções dos seus adversários, mas pertencem constitutivamente a essas
religiões de revelação. Elas se devem da diferença permanente entre o ser Deus do Deus
Único e da divindade da Sua palavra no lado e na humanidade da pessoa humana, cujo agir e
falar ficam sempre por trás da realidade de Deus. Mais agudamente que Deus pelos profetas
ou Jesus, não se pode criticar nem Israel nem a Igreja. A pergunta permanente pelo
significado daquilo que este revelado, para hoje, pôs em andamento um processo de
iluminação, o qual liberta o mundo de poderes mágicos ou não compreendidos. Isso se
mostra nos textos bíblicos da história da criação, bem como nos textos e ações críticos a
poder e dinheiro da Bíblia.8
Notas: veja no texto alemão!
Texto alemão
Tradução: Pedro von Werden SJ - Rua Padre Remeter, 108 - Bairro Baú - 78008-150 Cuiabá-MT
-BRASIL [email protected]
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