Geografia e Política Internacional FUNDAMENTALISMO CONVULSIONA O ISLÃ Da Argélia à Índia, uma vasta faixa do mundo vive o impacto do fundamentalismo islâmico. O Islã convulsiona os povos do Oriente Médio e norte da África, as ex-repúblicas soviéticas da Ásia central e o labirinto étnico e religioso indiano. Assumido a forma de Estado teológico -Irã-, de grupos armados – Hamas palestino e Hezbollah libanês-, ou de movimentos de oposição política – a FIS argelina e a Irmandade Mulçumana egípcia -, o fundamentalismo rejeita os modelos políticos ocidentais. O desafio posto pelo radicalismo islâmico perfura o tecido político e atinge o domínio da ética e valores filosóficos. Os integristas mulçumanos contestam a separação entre Estado e religião, a pluralidade ideológica, a representação parlamentar, o individualismo na esfera da política e da economia. A Razão desenvolvida no Ocidente, filha do Iluminismo e do liberalismo, é subordinada à Fé. A irrupção integrista desenvolve-se sobre as desilusões do 3º Mundo mulçumano. Por décadas, essa parte do mundo acreditou no progresso e perseguiu essa miragem via ocidentalização (Irã), não-alinhamento (Egito), nacionalismo anti-imperialista (Argélia) ou socialismo (repúblicas da Ásia central). A revolução xiita no Irã (1979) assinalou o começo da reviravolta –ruptura com o futuro e retorno às certezas de um glorioso passado imaginário. A depressão econômica internacional da última década dissipou as ilusões que restavam, empurrando multidões empobrecidas na direção do Islã. No mundo mulçumano –e nas faixas de contato com a Europa cristã e a Ásia hinduísta, budista e confucionista – o integrismo detona a frágil estabilidade política do pós-Guerra. (Leia mais sobre a geopolítica do Islã nas págs. 4 e 5) AS REVOLTAS DE 1968, 25 ANOS DEPOIS. ANO 1 - No3 MAIO 1993 ITÁLIA ✁ Escândalos de corrupção provocam o colapso do regime criado no pós-Guerra e levam o país à beira do abismo. Ironicamente, os excomunistas são hoje a grande chance De salvar a unidade nacional. Esta pichação, uma das favoritas dos estudantes de Paris, em 1968, traduzia as aspirações democráticas de um movimento social que desembocou numa séria crise do Estado francês. Ao mesmo tempo, em Praga, jovens intelectuais e operários exigiam o “socialismo de face humana” – um conjunto de reformas do sistema que pretendia abolir a subordinação de seu país a Moscou. O movimento seria esmagado, em outubro, pelas tropas do Pacto de Varsóvia. Em outros países europeus, nos Estados Unidos e no Brasil, milhões exigiram, nas ruas, o respeito aos direitos civis, o fim da discriminação sexual e racial, melhores salários e condições de vida. Hoje, o fim das ditaduras, a leste e a oeste, reforçou a causa dos direitos civis. Mas o racismo, mais do que qualquer outro fator, resistiu às reformas e tornou-se um dos pilares da desigualdade no mundo. O racismo ameaça a democracia, em particular nos estados Unidos, países ricos da Europa e a África do Sul. PÁGs. 6 e 7 MAIO DE 1993 EXPEDIENTE MUNDO - Geografia e Política Internacional é uma publicação de PANGEA - EDIÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO LTDA. Distribuída para as escolas conveniadas Redação: Demétrio Magnoli, José Arbex Jr., Nelson Bacic Olic, José Arbex Jr. (editor) Jornalista Responsável: José Arbex Jr. Diretor Comercial: Arquilau Moreira Romão Endereço: Rua Brasílio Taborda, 158, CEP 05591-100, São Paulo, SP - Fones 813-2570 (SP), (016) 634-8320 (Ribeirão Preto) Fax: (016) 623-5480 e Telex 164518 (Ribeirão Preto) A Redação de Mundo n ã o se responsabiliza pela opinião ou informação veiculadas em matérias assinadas por eventuais colaboradores, as quais não se expressam, necessariamente, o seu ponto de vista 2 Um branco repleto de preconceito e ódio veio para nosso país e praticou um ato tão infame que toda a nossa nação agora oscila à beira do desastre. (Nelson Mandela, dirigente do Congresso Nacional Africano, sobre o assassinato do líder negro sul-africano Chris Hani, na véspera da Páscoa, supostamente por um polonês de ultra-direita – O Estado de S. Paulo, 15/4/1993, pág. 14). A frase era parte de um apelo à calma no país, sacudido por manifestações negras e repressão policial. Mas Mandela destila preconceito, ao ressaltar o fato do suposto assassino ser imigrante. MUNDO NO VESTIBULAR 1) (Fuvest - modificada) Discuta os principais conflitos no subcontinente indiano. 2) (UFAL) A região sul da Itália constitui verdadeira “reserva de mão de obra” tanto para a região norte do próprio país como para outros países do Mercado Comum Europeu. Tal característica só relaciona ao fato de: a) haver acentuado desequilíbrio regional entre o norte industrializado e o sul basicamente agrícola e densamente povoado. b) todo o país ser essencialmente agrícola e a existência de clima com invernos rigorosos, no sul, criar condições de migração para o norte italiano. c) que dentro do país há vastas áreas a serem colonizadas e a ausência de política migrató ria leva a população a emigrar. d) o sul da Itália possuir a maior massa de mão-de-obra qualificada do país. e) o norte da Itália ter população em fase de envelhecimento e o sul ter população jovem. 3) (CESGRANRIO) Examine as seguintes informações, que dizem respeito a uma região do mundo subdesenvolvido: l - A partilha colonial não respeitou os limites entre as etnias existentes e deixou marcas profundas na luta de alguns povos pela autonomia e pelo estabelecimento de um território onde possam viver. II - Um dos países mais importantes proclamou-se uma República Islâmica e passou a ser governado por uma elite religiosa, que rompeu com o processo de modernização em moldes ocidentais e se voltou para a recuperação dos valores tradicionais do islamismo. Ill - É de fundamental interesse estratégico, já que está localizada entre três continentes e nela se encontram riquezas minerais básicas para a economia contemporânea. O conjunto de três caracterizações define uma região muito importante para o mundo atual. Qual é ela? a) Oriente Médio b) Mundo Indiano c) Sudeste Asiático d) África Oriental e) África do Sul 4) ( FUND.CARLOS CHAGAS) A expressão Magreb é dada pêlos africanos: a) à área coberta pela densa floresta tropical semelhante à Amazônia b) às áreas litorâneas que recebem alternadamente ventos secos ou úmidos denominados monções. c) à vasta região centro-africana arenosa, caracterizada por grande aridez e fortes amplitu des térmicas diárias. d) ao vale do Nilo que, com suas cheias, traz abundância de água e detritos orgânicos que enriquecem o solo. e) ao conjunto de terras situadas ao norte do Saara, compreendendo o Marrocos, a Argélia e a Tunísia. 5) (U.E.MARINGÁ) A Índia tornou-se independente do domínio inglês em 1947. A região que compreendia a antiga colônia britânica da Índia ficou parcelada entre dois Estados independentes. Foram eles: a) o Camboja e o Laos. b) o Camboja e a Índia. c) o Paquistão e o Vietnã. d) a índia e o Laos. e) o Paquistão e a Índia. 6) (UFJF-MG) O islamismo, religião fundada por Maomé e de grande importância na unidade árabe tem como fundamento: a) o monoteísmo, influência do cristianismo e judaísmo, observado por Maomé entre povos que seguiam essas religiões. b) o culto dos santos e profetas, através de imagens e ídolos. c) o politeísmo, isto é, a crença em muitos deuses, dos quais o principal é Alá. d) o princípio da aceitação dos desígnios de Alá em vida e a negação de uma vida pós-morte, e) a concepção do islamismo vinculado exclusivamente aos árabes, não podendo ser profes sado pêlos povos inferiores. SEÇÃO PAPO CABEÇA Tenho em mim todos os sonhos do mundo (Fernando Pessoa,1888-1935) Respostas: 1) Os conflitos, especialmente entre hindus e paquistaneses têm sua origem na independência da antiga colônia britânica da Índia. Dois países foram formados, a Índia (hinduísta) e o Paquistão (muçulmano). Desde então vêm ocorrendo conflitos não só entre os dois países, mas também entre as maiorias e minorias religiosas abrigadas em cada um deles. O ressurgimento do fundamentalismo islâmico tornou mais problemático o conflito religioso, e acabou reforçando o radicalismo hinduísta. Esta seção acolherá cartas de alunos e professores contendo opiniões e críticas e não apenas a respeito dos assuntos tratados no boletim, mas também sugestão sobre sua forma e conteúdo. Só serão aceitas cartas portando o nome completo, endereço, telefone e identidade (RG) do remetente. A Redação reserva-se o direito de não publicar cartas, assim como o de editá-las para sua eventual publicação. A Escola Estadual de Segundo Grau Brasílio Machado (SP) criou um Centro de Informação e Criação (CIC), dinamizando o uso de nossa biblioteca. Os dados revelam o interesse dos alunos. Apenas no mês de março, mais de 1.750 alunos freqüentaram a biblioteca, e só neste ano fizemos 1.210 carteiras para consultas. Neste quadro, achamos que as informações veiculadas pelo boletim Mundo são de fundamental importância, como subsídio à cultura e atualização de nosso corpo docente e discente. (Neuza Mercadante, coordenadora do CIC da EESG Brasílio Machado) (NR - A dinamização da biblioteca, um dado realmente exemplar, demonstra, mais uma vez, que se os alunos têm oportunidade, eles se interessam, lêem e estudam. Nossos parabéns ao CIC por suas atividades). *** Mundo nos ampliou os limites impostos por cadernos e livros. Com uma linguagem fácil, o boletim aborda assuntos que ocorrem à nossa volta e que às vezes passam desapercebidos. Através dele podemos abrir os olhos para certas situações importantes, sendo perfeitamente possível entendê-las. (Daniele Guílhermino, 2a Colegial C do Colégio Mopyatã, SP) *** Nos últimos 5 ou 6 anos, o mundo transformouse violentamente, modificando conceitos políticos, sociais e econômicos que julgávamos definitivos e imutáveis. Para as escolas e alunos, à parte essa revolução mundial, restou a dificuldade de trabalhar com a ‘nova geografia”, problema que estamos resolvendo com a assinatura do boletim Mundo. As primeiras experiências com o boletim revelaram-se plenamente satisfatórias. Esperamos que os próximos números mantenham o alto nível. (Professor Úmile Calasso, Diretor da Escola Drummond-Quarup de São Caetano do Sul) *** Aspiramos conhecimentos que preenchem os poros do viver dos dias. Perfumes que nos circundam a gotejar de frascos diversos satisfazem-nos por suas essência e nos completam por sua beleza. No andar das horas da vida, nos deparamos com boticas de sensações inúmeras: lições do mundo que se prendem a nós eternamente. (Eneida Mioshí, aluna do curso de Redação Tantas Palavras de Ribeirão Prato) 2)A; 3)A; 4)E; 5)E; 6)A SEM FRONTEIRAS MUNDO PANGEA MAIO DE 1993 SEPARATISMO RONDA ITÁLIA Crise na unidade italiana pode levar ex-comunistas ao poder A Itália realizou, em abril, um plebiscito que selou a sentença de morte do regime político vigente no pós-Guerra. A consulta foi precipitada pela “Operação Mãos Limpas”, que revelou prática de corrupção de quase 1.400 políticos e administradores. O plebiscito aprovou, por vasta maioria, a reforma do sistema eleitoral, e causou a renúncia do gabinete de coalizão liderado por Giuliano Amato. O governo transitório deve preparar as próximas eleições gerais, que fecharão o ciclo aberto em 1947, quando o Partido DemocrataCristão (PDC) assumiu a hegemonia política, relegando o Partido Comunista (PCI) à oposição. O Estado italiano do pós-Guerra foi moldado pela hegemonia do PDC. Esse partido foi o eixo de todos os gabinetes que, durante a Guerra Fria, mantiveram o PCI fora do poder. Formação ligada por misteriosos laços ao Estado do Vaticano, a DC evoluiu como vértice de um regime clientelista, apoiado nos votos do Mezzogiorno (sul do país). Manipulando verbas públicas, a DC ligou-se às máfias sulistas e institucionalIzou a corrupção. A dinâmica desse regime começou a esgotar-se há mais de 20 anos. O PCI SERVIÇO Vídeos sobre a Unificação e o Mezzogiorno: • A Árvore dos Tamancos, Ermano Olmi • Juízo Final, Elio Petri • O Leopardo, Luchino Visconti • 1900, Bernardo Bertolucci • Pai Patrão, Paolo e Vittorio Taviani • Rocco e seus Irmãos, Luchino Visconti • O Siciliano, de Michael Cimino Recomenda-se, ainda, a série O Poderoso Chefão (Francis Copolla), entre a longa lista de filmes sobre a Máfia e ramificações. rompeu com Moscou e adotou o eurocomunismo, tornando-se alternativa “moderada” de poder. Incapaz de manter maioria estável, a DC passou a governar à frente de coalizões multipartidárias. Em 1978, o assassinato do democrata-cristão Aldo Moro, pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, liquidou a idéia, por ele encarnada, de uma sólida maioria DC-PCI (o “compromisso histórico”). Nos anos 80, a Itália tornou-se a terceira maior economia da Europa, mas agravou-se a desigualdade norte-sul. Ao norte, grupos como a Liga Lombarda- mistura de neofacismo, racismo e populismocresceram denunciando a corrupção dos políticos e propagando o ódio aos imigrantes pobres do sul. A “questão meridional” italiana (veja matéria abaixo) gerava a sua imagem simétrica- uma “questão setentrional”. A crise precipitou-se em 1989, com o fim da Guerra Fria. O PCI abandonou o comunismo, transformando-se em PDC (Partido Democrático da Esquerda). A DC, minada pelas investigações sobre a corrupção, viu abalada a sua hegemonia. As eleições parlamentares de abril de 1992 evidenciaram o crescimento do separatismo setentrional. Depois, a cúpula da DC (incluindo Giulio Andreotti, sete vezes premiê) e aliados do Partido Socialista (entre eles, o líder Bettino EDITORIAL Em 19 de abril, agentes do FBI (Polícia Federal americana) usaram tanques contra uma seita se fanáticos armados com pistolas e granadas, numa fazenda em Waco, Texas. Por razões ainda obscuras, a casa ocupada pela seita pegou fogo. Morreram 87 das 95 pessoas, incluindo 17 crianças e o líder David Koresh. O governo tentou explicar-se, lançando até a versão de um suposto “suicídio coletivo” da seita. Em vão: nada justifica lançar tanque contra cidadãos. Em Waco, uma polícia embriagada de poder espalhou morte e destruição. Nesse sentido, há forte semelhança com o massacre praticado na Casa de Detenção de Carandiru, SP, onde 111 seres humanos foram fuzilados pela PM, enquanto candidatos à Prefeitura prometiam, na TV, o melhor dos mundos. O choque entre os direitos dos cidadãos e o poder de Estado é uma das características centrais da história moderna –nada de “novo”, portanto, em Waco e Carandiru. O trágico –para além da contabilidade dos corpos-, é o fato de que o fim da Guerra Fria e o das ditaduras não eliminou o fantasma da barbárie, como imaginavam os otimistas. Mas o terror de Estado não é externo ao Homem, não vem de Marte. Apóia-se, por exemplo, nos partidários do neonazismo, da “purificação étnica” na ex-Iugoslávia, do racismo. Não basta “culpar” o Estado. É preciso rejeitar a barbárie –como em 1968, ou como os carapintadas contra Collor. É uma História sem fim, feita –como os seres humanos- de tragédias e de seu oposto, a busca da paz Craxi) seriam derrubados pela “Operação Mãos Limpas”. Era o colapso do regime. Só a eventual vitória do PDS nas próximas eleições abre uma perspectiva de salvar a unidade italiana. Fina ironia da história. POBREZA MEREDIONAL RESISTIU À UNIFICAÇÃO O Mezzogiorno é a parte meridional da Itália, que corresponde aos limites do antigo Reino das Duas Sicílias. Ali, onde a pobreza atinge 26% da população (contra menos de 10% no centro e norte do país) oculta-se o poder das máfias. Nos anos 20, ao escrever sobre a “questão meridional”, o comunista Antonio Gramsci lançou tese de que o atraso do Mezzogiorno era fruto da Unificação elitista da Itália. Ele propunha um novo Risorgimento –a aliança entre operários do norte e camponeses do sul para fazer a unidade socialista da nação Mussolini, que jogou no cárcere onde morreria, buscava a unidade à sombra do Estado totalitário e expansionista. O Risorgimento fora o prelúdio da Unificação. Em 1848-49, eclodiam lutas nos Estados do Norte, dominados pela Áustria desde o Congresso de Viena (1815). Quando a revolta radicalizou-se, ganhou substância popular e ameaçou os Estados Pontifícios, as elites do Piemonte abandonaram o movimento e permitiram sua liquidação. Na Unificação (1860-71), os nacionalistas dividiam-se em duas vertentes: os monarquistas, liderados pelo rei do Piemonte, Vitório Emanuel II, e os republicanos, organizados por Garibaldi e Mazzini. Os monarquistas lutaram contra a Áustria, no norte e no centro, recorrendo à ajuda primeiro da França e depois da Prússia. Os republicanos apelaram ao povo das Duas Sicílias, onde conduziram a insurreição vitoriosa. Em Aspromonte, no extremo sul, os piemonteses atacaram Garibaldi, em 1862. A Unificação completou-se em 1871, com a tomada dos Estados Pontifícios e a proclamação de Roma a nova capital. Garibaldi afastara-se, para não dividir o movimento. As elites do Piemonte negociaram a unidade do país com os poderosos do sul. As terras do Mezzogiorno, parceladas e leiloadas, foram adquiridas pelos ricos, recompondo os latifúndios. Como escreveu Tomaso di Lampedusa, “para que tudo permaneça como está, é preciso antes que tudo se transforme”. A natureza elitista da unidade italiana alargou a fenda entre o norte e o sul. A miséria meridional gerou a última grande leva migratória do século XIX, dirigida ao Brasil e Estados Unidos, e redefiniu o caráter da Máfia, Camorra e Cosa Nostra, que criaram um poder paralelo. O Mezzogiorno tornou-se fonte de mão de obra barata e de votos para os políticos de Roma. O fascismo enraizou-se no sul, enquanto o norte organizava a Resistência. O desembarque aliado na Sicília (1943) não encontrou apoio popular, mas teve nos grupos mafiosos uma azeitada rede logística. Em 1946, no referendo que criou a República (12,7 milhões de votos contra 10,7 milhões para a Monarquia), o Mezzogiorno preferiu o lado derrotado. 3 MAIO DE 1993 MUNDO PANGEA MAIO DE 1993 TENSÕES NO MUNDO ISLÃMICO DESAFIAM O EQUILÍBRIO GEOPOLÍTICO DAS NAÇÕES ORIENTE MÉDIO E ÁSIA CENTRAL Em 1979, uma revolução derrubava a monarquia do Irã e implantava em seu lugar uma república islâmica. Desde então, o Irã, o Oriente Médio e o mundo mulçumano nunca mais foram os mesmos. O Irã é o que tem a maior população xiita entre os países islâmicos. Na era do aiatolá Khomeini, líder de 1979, seus líderes atacavam os “satânicos EUA”, a “demoníaca URSS”, Israel, o Ocidente em geral e todos os países mulçumanos não regidos pelo Corão. No começo de 1989, Khomeini chegou a oferecer US$ 1 milhão de recompensa pela morte do escritor Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, obra considerada blasfema. O radicalismo isolou o Irã. Não foi surpresa, portanto, que durante a guerra Irã-Iraque, Bagdá tenha recebido apoio das mais variadas origens. Contudo, a revolução iraniana lançou sementes que floresceram junto a muitas populações do mundo islâmico. O fundamentalismo pregado pelos iranianos passou a seduzir também os sunitas, historicamente mais moderados. Um dos exemplos dessa influência é a milícia xiita libanesa Hesbollah, que participou ativamente da guerra civil do Líbano e que deu origem a vários pequenos grupos igualmente radicais. Outro exemplo é o Hamas, que aposta na radicalização da Intifada (revolta das pedras, em árabe), movimento que começou espontaneamente, em dezembro de 1987, pelos palestinos que se opõe à ocupação, por Israel, dos territórios da Cisjordânia e Faixa de Gaza. Mas a morte de Khomeini, em junho de 1989, permitiu que o novo governo assumisse uma política mais “pragmática” –o país pagava um preço muito alto por seu isolamento. Durante a Guerra do Golfo (1991), o Irã criticou tanto a invasão iraquiana do Kuait como a interferência das forças da coalizão anti-Iraque. A derrota iraquiana transformou o Irã na mais forte potência do Golfo, só equiparável à feudal monarquia saudita, sustentada pelos EUA. O Irã alçou-se à condição de potência geopolítica, com capacidade de interferir não apenas no Golfo, mas também nos processos em curso nas repúblicas islâmicas da antiga União Soviética. Teerã (capital iraniana) ora apresenta planos de cooperação econômica, ora atua como mediador nos conflitos que ali ocorrem. Nessa ofensiva econômico-diplomática, o único país islâmico a disputar áreas de influência com o Irã é a Turquia, que forma, com o Egito e a Arábia Saudita o tripé islâmico de sustentação dos EUA no Oriente Médio. Em qualquer hipótese, não haverá solução para os intrincados problemas geopolíticos dessa região sem o aval de Teerã. Se um Exército luta “em nome de Deus”, a decorrência é que seus inimigos são “inimigos de Deus”, legiões do demônio cuja liquidação fornece a chave redentora (...) Mas a exclusão radical do “outro” sob a forma da condenação mitológica não é propriedade do Islã, e sim de todas as ideologias ou credos que dão origem a partidos, grupos e seitas. A peculiaridade do Islã –pedra angular e eixo de seu edifício- é o fato de que o Estado identifica-se com a religião ou, na metáfora cristã, César e Deus são um (...) Os fanáticos do Islã –estejam no deserto iraniano ou no metrô de Nova York- são uma expressão contemporânea da mesma intolerância que a Igreja Católica erigiu em método com a Santa Inquisição. (José Arbex Jr., Folha de S. Paulo, 02 de novembro de 1990, caderno especial Islã, pág.1) Fundamentalismo: vê nos fundamentos da religião a base para a tomada de decisões na vida cotidiana e política. O termo integrismo é muitas vezes utilizado como sinônimo. Xiísmo: um dos ramos da religião islâmica. Crê em Maomé e segue o Corão. Possue guias espirituais (ímãs) que têm a função de interpretar as palavras divinas. Não separa Igreja e Estado. É a maioria da população em poucos países. Sunismo: outra vertente do Islã. Crê em Maomé e segue o Corão, e que a relação entre Deus e o fiel deve ser feita sem intermediários. Admite certa separação Ao moment o de def ecar ou urinar , é preciso seachar ag de modo a não ficar de ent fr e nem de as cost a Meca. O vinho e asasoutr bebidas ue q embriag am são pur imas, mas o ópio e o haxix e não o são. A mulherueq deseja continuar seus estudos comimo de f anhar g a vida por meio de abalho um tr decent e, e que enha t um homem como professor , poder á azê-lo, f se cobrir o ost r o e se não er tiv cont ato com os homens. Mas, se or isso ine vit ável f e contr ariar os princípios eligiosos, r ele ver deá enunciar r aos estudos. Não se ve deabat er um animal numa 5º eir f a à noit e ou numa 6ºesant do meio-dia. É muit o epr r ovável barbear -se, seja com barbeador es de lâmina ou elétricos. (Em princípios políticos, filosóficos, sociais e religiosos do Aiatolá Khomeini, Record, Rio, 1981). NORTE DA ÁFRICA E MAGBRED Em 22 de abril, sete fundamentalistas egípcios foram condenados à morte, acusados de atacar ônibus de turistas. Doze anos antes, fundamentalistas do grupo Irmandade Mulçumana haviam assassinado o presidente Anuar al Sadat. Na Tunísia, desde 1987 estão ocorrendo atentados de fundamentalistas do Movimento da Renascença (Ennahda). Vários de seus membros foram condenados e executados. Na Argélia, a fundamentalista Frente Islâmica de Salvação (FIS) reivindica que o país seja regido pelas leis do Corão. No norte da África e Magreb (região formada por Marrocos, Argélia eTunísia), apenas Líbia e Marrocos parecem menos 4 vulneráveis ao crescimento do fundamentalismo. No Egito, as décadas de 50 e 60 foram marcadas pelo nasserismo, doutrina desenvolvida por Gamal Abdel Nasser. Seu governo (1954-70) foi marcado por um forte nacionalismo. No plano externo, Nasser, um dos líderes do bloco de países não alinhados, encarnou mais do que ninguém a causa do pan-arabismo (união dos povos árabes). Seus sucessores não deram continuidade aos projetos nem resolveram a grave crise que há muito aflige o país. A Argélia tornou-se independente em 1962, após uma sangrenta guerra com a França. O poder foi assumido pela Frente de Libertação Nacional (FLN), marcadamente SUBCONTINENTE INDIANO anti-imperialista e simpática à URSS. A situação do país começou a se complicar no final dos anos 80, quando, também como reflexo da crise na URSS –seu principal parceiro político e militar-, a FLN, o único partido legal, não conseguia conter a insatisfação da população. A FIS tornouse cada vez mais ousada, desafiando abertamente a FLN, que mantém o país sob leis de exceção. O fundamentalismo cresce como resposta à incapacidade de modelos estranhos ao Islã promoverem o fim da miséria. Líbia e Marrocos, as exceções, são ferozes ditaduras em que a oposição ainda teve chance de se expressar. Em dezembro de 1992, fanáticos hindus invadiram a cidade de Ayodhya, no norte da Índia e, demoliram uma mesquita mulçumana. Desde então explodiram conflitos entre fanáticos e forças policiais, que causaram mais de 2000 mortes. Em março, uma série de atentados à bomba em Bombaim, o centro financeiro do país, causaram 200 mortes e mais de 1000 feridos. Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria dos atentados, políticos hindus sugeriram que eles teriam sido executados por mulçumanos “monitorados do exterior” (entenda-se o Paquistão). Dos 850 milhões de habitantes da Índia, cerca de 83% são hinduístas, enquanto os mulçumanos chegam a 100 milhões. Os fatos descritos acima fizeram crescer os temores de um novo confronto militar entre Índia e Paquistão, onde a imensa maioria da população é mulçumana. A rivalidade entre os dois países é antiga e remonta à época de suas independências, em 1947. Desde esta data, os dois países se envolveram em três conflitos (1948,65 e71). Nos dois primeiros disputava-se a região da Cashemira (veja o mapa ao lado): em 71, o conflito resultou na separação do antigo Paquistão Oriental, que deu origem a um novo país, Bangladesh. A rivalidade entre hindus e mulçumanos é só um aspecto dos surtos de violência étnica e religiosa que, periodicamente, explodem na Índia. Em 1984, a primeira-ministra Indira Ghandi foi morta por dois de seus guardas que eram de origem sikh. Os sikhs correspondem a apenas 2% da população da Índia, mas perfazem mais de 90% da população da região de Punjab, no noroeste do país (veja mapa ao lado). Desde há muito eles lutam para a criação de um país próprio, o Calistão. A violenta repressão do governo hindu contra os anseios de liberdade dos sikhs teriam sido a causa do assassinato de Indira. Nos últimos 5 anos, uma nova força política surgiu na Índia. O Partido Bharatiya Janata (BJP), radical em seu “fundamentalismo” hinduísta, vem crescendo de forma espetacular a cada nova eleição. Ele surgiu para se contrapor ao Partido do Congresso, no poder desde a independência e, que defende a neutralidade do Estado perante às religiões professadas na Índia. O crescimento do BJP foi também uma espécie de resposta ao aumento do fervor islâmico nos países vizinhos. O BJP esteve à frente dos fanáticos de Ayodhya e, se seu discurso radical continuar arregimentando mais adeptos, o sub-continente indiano poderá se transformar num dos maiores campos de batalha entre o secularismo e o fundamentalismo. Quadro nada tranqüilo para um país com arsenal nuclear. SERVIÇO •Oriente Médio, de Maomé à Guerra do Golfo, Jurandir Soares, Ed. Universidade, RS. •Oriente Médio e o Mundo Árabe, Maria Y. Linhares, Brasiliense, SP, 1982. •O Vôo da Águia (ficção política), Ken Follet, Círculo do Livro, SP, 1985. •Inshallah (ficção política), Oriana Fallaci, Best Seller, SP, 1990 Vídeos: •O Vôo da Águia, Andrew Mc Laglen, Estados Unidos, 1986. •RAS –Regimento de Artilharia Especial,Yves Boisset, França, 1978. •Ghandi, Richard Attenborough, Inglaterra, 1982. 5 MAIO DE 1993 MUNDO maio de 1968, 25 anos depois RACISMO RESISTE À DEMOCRACIA... O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS EUROPA - 93 Luta pelos direitos civis, contra o racismo e a guerra, liberação sexual, “boom” das drogas e rock n”roll inauguram o modo de vida atual. Convenção de Schengen discrimnina estrangeiros da CE 22 de março: em Nanterre (bairro de Paris), estudantes exigem melhores condições de ensino e tomam a universidade. O reitor convoca a polícia. Há luta, presos e feridos. Daniel CohnBendit apela à esquerda para organizar a luta contra o Estado opressor. Com o apoio de gente do porte de Jean-Paul Sartre, o Movimento 22 de Março, liderado por Bendit, toma as ruas de Paris, em abril e maio, desafiando o governo e gerando uma forte crise. Em Praga, jovens liberados pelo As ruas de Paris são “socialismo de face humana” do então cenário de grandes secretário-geral do Partido Comunista batalhas, com centenas Tcheco, Alexander Dubceck, alegremente de feridos e vários queimam jornais soviéticos. A “festa” seria mortos. Em 17 de abril, interrompida em outubro, com a invasão os operários da Renault de 500 mil soldados do Pacto de Varsóvia. ocupam a fábrica, em solidariedade aos estudantes e por melhores salários. As greves se alastram, a França pára. O Partido Comunista perde o Não foi 1968. Foi todo um período dos fins controle do movimento. Em 29 de abril, dos anos 50 ao início dos anos 70. 68 80 0 mil apoiadores do presidente, sobreveio como espasmo, catalizando a general Charles de Gaulle, fazem um dramática metamorfose cultural. Afinal, antes gigantesco ato pró-governo. De Gaulle desse “annus terribilis” , o time do Santos já decreta aumento salarial de 35% havia transformado o futebol em balé; (inflação anual de 5%), dissolve o Cassius Clay, o ringue numa arena política; Parlamento e antecipa as eleições gerais. Elvis Presley, a música negra num atentado A esquerda é derrotada. Os socialistas ao bom-senso; Andy Warhol, a alta cultura em perdem 61 cadeiras e os comunistas 39. cultura popular e vice-versa; a guerra da Em 18 de junho, a polícia retoma a Nigéria, a atrocidade em espetáculo Universidade de Sorbonne, no Quarier televisivo; Samuel Beckett, o teatro em Latin, coração de Paris e do movimento. incomunicação ritualizada; a “nouvelle Enquanto isso, estudantes e vague” francesa, o cinema; e Brigitte Bardot trabalhadores desafiavam seus fizera do estrelato um atentado aos costumes, governos na Tcheco-Eslováquia –contra Norman Mailer já havia proclamado a a opressão soviética; nos Estados Unidos revolução juvenil. Em 68, o pessoal só pôs –contra a Guerra do Vietnã e o racismo; fogo no cenário, tendo o cuidado de bloquear na Alemanha Ocidental –contra uma a saída. universidade fossilizada, autoritária e (Nicolau Sevcenko, Folha de S.Paulo, obsoleta; na Espanha –contra a ditadura especial-5, 02 de maio de 1993). sanguinária franquista, que completava 29 anos; no México –contra a pobreza e universitários –alguns deles, brilhantes por melhores condições de ensino; no intelectuais- aderiram à guerrilha e Japão –contra a sociedade hierarquizada terminaram torturados e assassinados. e corrupta; no Brasil –contra a ditadura. 1968 foi também o ano da liberação Paris tornou-se símbolo de 1968 por sexual e cultural. Em 29 de abril, Nova causa de seu lugar histórico e cultural. Iorque estreou a peça Hair, em que, pela Mas as batalhas mais sangrentas primeira vez, atores mostravam-se nus. aconteceram em países como o México, Hippies pregavam paz e amor. onde dezenas foram mortos numa única Intelectuais da contracultura e da arte noite, em setembro, e Brasil, onde pop denunciavam mitos e a hipocrisia por trás da “civilização”. No Brasil, a A mobilização dos “carapintadas” foi decisiva Tropicália de Caetano Veloso e Gilberto para precipitar o impeachment do presidente Gil colocava o país na vanguarda estética Fernado Collor de Mello. O Brasil tornou-se o mundial. Mais que um “sonho utópico”, único país do 3º Mundo a derrubar um presidente 1968 não acabou, mas inaugurou a idade por corrupção e transgressão da ética. Nesse contemporânea. Foi, nesse sentido, o sentido, os jovens brasileiros renovaram, em 92, o espírito de 68. primeiro ano do resto de nossas vidas. A comunidade Européia (CE) declara apoiar-se sobre “quatro liberdades” em seu espaço territorial: livre circulação de capitais, mercadorias, serviços e pessoas. As três primeiras beneficiam empresas. A última, que representaria uma conquista dos povos, tende a se transformar em fonte de discriminação contra residentes estrangeiros. Ao criar a comunidade, em 1957, o Tratado de R o m a estabeleceu a meta da livre circulação de pessoas sem distinção de nacionalidade, raça ou religião. O Ato Único Europeu (1986), que definiu a Europa-93, reproduzia a meta. Assim, enquanto erguia muralhas contra a imigração estrangeira (ampliando a lista de países dos quais se exigem vistos, elitizando a sua concessão e reforçando o controle policial dos portos), a CE comprometiase a remover entraves ao deslocamento de residentes. E s s e compromisso foi rompido pela Convenção de S c h e n g e n (Luxemburgo), firmada em junho de 1990 pelo Benelux, França e Alemanha, à qual aderiram Espanha e Portugal. A convenção sobre o controle da liberdade de circulação, da imigração e criminalidade, revela no título suas bases discriminatórias. Ao equiparar imigração e criminalidade, dá ao racismo um caráter institucional. A carta de Schengen define um duplo tratamento para os residentes da CE. Aos naturais da comunidade ficam assegurados todos os direitos. Já os demais ficam impedidos de mudar de país no interior da CE. Mesmo para a t r a v e s s i a temporária das fronteiras eles devem estar em situação legal perante a Imigração de seu país de residência e revelar o objetivo do deslocamento. A Convenção prevê a criação de um sistema de registro das personas non gratas, que teriam vedado o direito à circulação. Finalmente, estabelece a perda do direito de residência aos não naturais acusados de fraudar documentos de deslocamento. A CE criou, assim, a figura do “residente de segunda classe”, estabelecendo fronteiras invisíveis entre os cidadãos europeus. 6 PANGEA MAIO DE 1993 maio de 1968, 25 anos depois ... E DESAFIA OS DIREITOS CIVIS AFRICA DO SUL voto continua sendo um privilégio da minoria branca A América ainda festejava a vitória na Guerra Fria quando a revolta de Los Angeles, em maio de 1992, mostrou que a miséria e a tensão racial criam uma situação de conflito latente no país. Mais dramático, não há lideres negros com o carisma do pastor Martin Luther King (acima, à dir.), assassinado em 1968, ao passo que o radical Malcon X foi transformado em sucesso de bilheteria, usado para vender camisetas e produtos de consumo (acima, à esq.). ESTADOS UNIDOS Contra a Constituição, prática discriminatória transforma americanos negros e hispânicos em cidadãos de segunda classe. Para conter a revolta de Los Angeles, de 29 de abril a 2 de maio de 1992, o governo americano mobilizou 14 mil soldados, mais do que para invadir o Panamá (dezembro de 1989). A revolta foi causada por um veredicto que inocentava quatro policiais brancos que, um ano antes, haviam espancado um motorista negro, Rodney King, que dirigia em alta velocidade. A cena, filmada por um amador, foi transmitida pela TV. A revolta causou 50 mortes, dezenas de feridos e 12 mil prisões, mas foi só a parte mais visível do drama que milhões de negros e hispânicos sofrem no país, graças à segregação racial. Dados oficiais indicavam que, em 1991, o índice de pobreza entre negros americanos chegava a 33%, o triplo do verificado entre brancos (11%) e próximo ao de hispânicos (29%). Mas o racismo não é visível só nos dados econômicos. Segundo a Anistia Internacional (Informe de 1991), a chance de um assassino ser condenado à morte é 82% maior se a vítima for branca ou se o suposto criminoso for negro. A tensão racial agravou-se nos anos 80, por uma razão bastante precisa. A luta pelos direitos civis ganhara um grande impulso em 28 de agosto de 1963, quando 200 mil pessoas fizeram uma marcha em Washington, liderada por Luther King. Em 1964, o presidente democrata Lyndon Johnson lançou o programa Grande Sociedade contra a pobreza. Em 1968, combinaram-se as ações contra a Guerra do Vietnã e pelos direitos civis. O assassinato de King, em 4 de abril daquele ano, gerou uma onda de violência que reforçava a convicção sobre a necessidade de programas contra a pobreza. Mas nos anos 80, os presidentes neoliberais Ronald Reagan e George Bush cortaram os gastos federais com serviços sociais e públicos. O principal impacto foi sobre os pobres, de maioria negra e hispânica. Los Angeles foi o apito da panela de pressão. Serviço Filmes (recentes e/ou em vídeo): Faça a Coisa Certa, Mais e Melhores Blues e Malcom X, de Spike Lee, EUA Livros: Os Ciclos da História Americana, Arthur Schlesinger Jr., Civilização Brasileira, Rio, 92. Breve História dos Estados Unidos, Allan Nevins e Henry Steele, Alfa Omega,SP, 86. A Outra América – Auge, Decadência e Crise nos Estados Unidos, José Arbex Jr., Moderna, SP, 93 (no prelo) Há quinze meses, no dia 17 de março de 1992, um plebiscito organizado pelo governo da África do Sul, restrito ao eleitorado branco, assestou um golpe letal no segregacionismo. Quase 70% votaram pelo fim do apartheid, apoiando o presidente Frederik De Klerk e seu Partido Nacional Africano (CNA) Chris Hani, deflagrando nova onda de violência. Entre esses dois momentos, a esperança de uma transição pacífica rumo ‘a democracia foi golpeada pelo crescimento da tensão racial e étnica, enquanto patinavam as negociações entre o governo e o CNA. A expectativa de convocações de eleições gerais, baseadas no voto universal, foi adiada para 94. O conflito entre CNA e o Inkhata (grupo étnico apoiado na população zulu), estimulado por milícias paramilitares brancas, mantém violência nos subúrbios negros. As negociações com o governo esbarram na falta de acordo sobre a futura divisão do poder no país. O apartheid, estabelecido a partir de 48, visava perpetuar a África do Sul branca, contra a maioria de 25 milhões de negros (para 6,6 milhões de brancos e 4,7 milhões de mestiços e asiáticos). Nos anos 70, foram criados bantustões independentes, reservas etno-tribais, transformadas em microEstados e declaradas soberanas pelo governo visando desnacionalizar a INDICADORE SOCIAIS maioria negra.A liquidação do apartheid – fruto da nova realidade mundial e do espectro da guerra racial – começou com a chegada ao poder de De Klerk, em 1989. O novo governo optou pelo desmantelamento gradual do segregacionismo, e negociar uma partilha do poder capaz de preservar privilégios dos brancos. Um dos pilares dessa política é a divisão dos negros. Um abismo continua a separar o governo e o CNA. Os líderes negros exigem a aplicação do princípio um homem, um voto – o que resultaria na formação de um governo da maioria negra. Esse princípio democrático continua a ser rejeitado pelos brancos. Serviço: O Negro e o Outro, Anthony Sampson, Companhia das Letras, SP, 1998. África do Sul, Demétrio Magnoli, Contexto, SP, 1992. 7