Disciplina: Doenças Infecciosas Curso: Medicina Veterinária Professor: M. A. Moura Data: 19/08/2009 Conceitos Gerais PATOLOGIA Estudo científico da doença “pathos” = sofrimento “logos” = ciência Etiologia, patogênese e alterações estruturais e funcionais INFECÇÃO E DOENÇA Infecção – invasão / colonização do organismo por m.os. patogênicos. Doença – quando a infecção resulta em alteração de um estado de saúde. Ex: Escherichia coli no trato urinário SINTOMAS – alterações subjetivas SINAIS – alterações objetivas SÍNDROME – grupo de sinais ou sintomas que acompanham sempre uma mesma doença DIAGNÓSTICO – sinais + sintomas + exames complementares ENFERMIDADE INFECCIOSA Causadas por vírus, bactérias ou fungos. Tríade epidemiológica Agente etiológico / Hospedeiro / Meio ambiente INTER-RELAÇÕES HOSPEDEIRO – AGENTE - AMBIENTE I – Propriedades dos microorganismos 1- Patogenicidade: capacidade dos m.os. de penetrar no hospedeiro e causar enfermidade. 2- Virulência: intensidade da manifestação clínica da doença. Medida quantitativa da patogenicidade. DL50 = nº de m.os. necessários para causar a morte de metade dos hospedeiros. DI50 = nº de m.os. necessários para causar doença em metade dos hospedeiros. 3- Infectividade: capacidade do agente de invadir, instalar-se e multiplicar-se no hospedeiro. 4 - Adaptabilidade ou Espectro de infecciosidade: capacidade de causar doença em uma ou mais espécies. 5 - Poder invasor 6 – Capacidade de produzir toxinas 7 – Poder invasor + produção de toxinas 8 – Variabilidade antigênica II – Propriedades dos hospedeiros 1 – Susceptibilidade: animais alvo 2 - Refratariedade: característica genética 3 – Sexo e idade: Cinomose; metrites,... 4 – Fadiga: favorece a infecção e agrava a evolução 5 – Fatores nutricionais: desnutrição ( glicólise) 6 – Traumatismos: resistência local (Ex: cirurgias) 7 – Hormônios: - Diabetes ( piodermites, infecções urinárias por Staphilococcus spp) - Hipotireoidismo - resistência - Hipertireoidismo - linfocitose III – Condições ambientais 1 – Frio, calor, ventos, pastagens ruins. estresse, má-nutrição,... 2 – Tipo de solo Ex: Coccidioides immitis só em arenoso 3 - Vetores e transmissores Ex: Áreas de grutas, cavernas – morcegos hematófagos - raiva 4 – Instalações inadequadas Ex: pouca inclinação dos pisos (aumenta umidade) PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO DAS DOENÇAS Período de incubação: da infecção inicial até primeiros sinais e sintomas. Pródromo: entre o período de incubação e o período de doença. Período de doença: sinais e sintomas acentuados. Melhora ou morte. Período de declínio: sinais e sintomas cedem. Pode haver infecções secundárias. Período de convalescência: hospedeiro retorna ao seu estado anterior à doença. Transmissibilidade: período de incubação, de doença e de convalescência. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS INFECCIOSAS De acordo com a ocorrência: Doença esporádica: ocasional Endêmica: constantemente presente em uma população Ex: mastite em vacas leiteiras Epidêmica: muitos afetados em curto período = surtos Ex: Influenza, aftosa Pandêmica: doença epidêmica que se difunde em outras regiões (países, continentes,...) Ex: Newcastle – começou na Inglaterra e se espalhou por todo o mundo. Doença exótica: não existe na região estudada. De acordo com a gravidade e duração: - Superaguda: < 24 hs - Aguda: 24 hs a 15 dias - Subaguda: 15 dias a 1 mês - Crônica: > 1 mês - Latente: agente permanece inativo. Quando ativo, produz sintomas De acordo com o comportamento do hospedeiro: Comunicável: se dissemina direta ou indiretamente de um hospedeiro para outro. Contagiosa: facilmente disseminada de um hospedeiro para outro. Não – comunicável: não disseminada de um hospedeiro para outro. Disciplina: Doenças Infecciosas Curso: Medicina Veterinária Professor: M. A. Moura Data: 19/08/2009 Termologia Agente etiológico: É o agente causador ou responsável pela origem da doença. Pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário, helminto. Agente infeccioso: "Parasito, sobretudo, microparasitos (bactérias, fungos, protozoarios, vírus, etc.), inclusive helmintos, capazes de produzir infecção ou doença infecciosa" (OMS, 1973). Anfixenose: Doença que circula indiferentemente entre homem e animais, isto é, tanto o homem quanto os animais funcionam como hospedeiros do agente. Exemplo: Doença de Chagas, na qual o Trypanosoma cruzi pode circular nos seguintes tipos de ciclo: -ciclo silvestre: gambá-triatomíneo-gambá -ciclo peridoméstico: ratos, cão triatomíneo-ratos, cão -ciclo doméstico: homem-triatomíneo-homem Antroponose: Doença exclusivamente humana. P. ex., a filariose bancroftiana, a necatorose, a gripe, etc. Antropozoonose: Doença primária de animais que pode ser transmitida ao homem. Exemplo: brucelose, na qual o homem é um hospedeiro acidental. Cepa: Grupo ou linhagem de um agente infeccioso, de ascendência conhecida, compreendida dentro de uma espécie e que se caracteriza por alguma propriedade biológica e/ou fisiológica. Exemplo: A cepa "Laredo" da E. histolytica se cultiva bem à temperatura ambiente, com média patogenicidade. Contaminação: É a presença de um agente infeccioso na superfície do corpo, roupas, brinquedos, água, leite, alimentos, etc. Enzoose: Doença exclusivamente de animais. Por exemplo, a peste suína, Dioctophyme renale, parasitando rim de cão e lobo, etc. Endemia: É a prevalência usual de determinada doença em relação à área. Normalmente considera-se como endêmica a doença cuja incidência permanece constante por vários anos, dando uma idéia de equilíbrio entre a doença e a população - ou seja, é o número esperado de casos de um evento em determinada época. Exemplo: No início do inverno espera-se que, de cada 100 habitantes 25 estejam gripados. Epidemia ou surto epidêmico: É a ocorrência, numa coletividade ou região, de casos que ultrapassam nitidamente a incidência normalmente esperada de uma doença e derivada de uma fonte comum de infecção ou propagação. Quando do aparecimento de um único caso em área indene de uma doença transmissível (p.ex., doença de Chagas no Arizona), podemos considerar como uma epidemia em potencial, da mesma forma que o aparecimento de um único caso onde havia muito tempo determinada doença não se registrava (P.ex., varíola em Boston). Epidemiologia: O estudo ecológico de determinada doença ou ocorrência prejudicial aos seres vivos, visando a prevenção, controle ou erradicação de tais eventos. A epidemiologia tem como princípio o estudo geral, para uso na profilaxia, dos fatores que influem no aparecimento ou manutenção de doenças ou fatos prejudiciais. Exemplo: Estudo dos fatores responsáveis pelo alto número de acidentes rodoviários no Brasil. Fase aguda: É aquele período após a infecção onde os sintomas clínicos são mais marcantes (febre alta, etc.). é um período de definição: o indivíduo se cura, entra na fase crônica ou morre. Fase crônica: É a que segue à fase aguda; caracteriza-se pela diminuição da sintomatologia clínica e existe um equilíbrio relativo entre o hospedeiro e o agente infeccioso. O número de parasitos mantém uma certa constância. É importante dizer que este equilíbrio pode ser rompido em favor de ambos os lados. Fômite: É representada por utensílios que podem veicular o parasito entre hospedeiros. Por exemplo: roupas, seringas, espículos, etc. Fonte de infecção: "É a pessoa, coisa, ou substância da qual um agente infeccioso passa diretamente a um hospedeiro. Essa fonte de infecção pode estar situada em qualquer ponto da cadeia de transmissão. Exemplos: Àgua contaminada (febre tifóide), mosquito infectante (malária), carne ou cisticercose (teníase)". (OMS, 1973). Habitat: É o ecossistema, local ou órgão onde determinada espécie ou população viva. Exemplo: O Ascaris lumbricoides tem por habitat o intestino delgado humano. Hospedeiro definitivo: É o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual. Hospedeiro intermediário: É aquele que apresenta o parasito em fase larvária ou assexuada. Hospedeiro paratênico ou de transporte: É o hospedeiro intermediário no qual o parasito não sofre desenvolvimento, mas permanece encistado até que o hospedeiro definitivo o ingira. Exemplo: Hymmenolepis nana em coleópteros. Incidência: É a freqüência com que uma doença ou fato ocorre num período de tempo definido e em relação à população (casos novos, apenas). Exemplo: A incidência de piolho (Pediculus humanus) no Grupo Escolar X, em Belo Horizonte, no mês de dezembro, foi de 10% (dos 100 alunos com piolho, 10 adquiriram o parasito no mês de dezembro). Infecção: Penetração e desenvolvimento, ou multiplicação, de um agente infeccioso no homem ou animal (inclui vírus, bactérias, protozoários e helmintos). -infecção inaparente: presença de infecção num hospedeiro sem o aparecimento de sinais ou sintomas clínicos (nesse caso pode estar em curso uma patogenia discreta, mas sem sintomatologia; quando há sintomatologia a infecção passa a ser uma doença infecciosa). Infestação: É o alojamento, desenvolvimento e reprodução de artrópodes na superfície do corpo ou vestes (Pode-se dizer também que uma área ou local está infestado de artrópodes). Letalidade: Expressa o número de óbitos em relação a determinada doença ou fato e em relação à população. Exemplos: 100% das pessoas não vacinadas, quando atingidas pelo vírus rábico, morrem. A letalidade na gripe é muito baixa. Morbidade: Expressa o número de pessoas doentes em relação à população. Exemplo: Na época do inverno, a morbidade da gripe é alta, isto é, o número de pessoas doentes (incidência é grande). Mortalidade: Determina o número geral de óbitos em determinado período de tempo e em relação à população. Exemplo: Em Belo Horizonte morreram 1.032 pessoas no mês de outubro de 1962 em acidentes, doenças, etc.). Parasitemia: Reflete a carga parasitária no sangue do hospedeiro. Exemplo: Camundongos X apresentam 2000 tripanosomas por cm3 de sangue. Parasitismo: É a associação entre seres vivos, onde existe unilateralidade de benefícios, sendo um dos associados prejudicado pela associação. Desse modo, o parasito é o agressor, e o hospedeiro é o que alberga o parasito. Podemos ter vários tipos de parasitos: -Endoparasito: o que vive dentro do corpo do hospedeiro -Ectoparasito: o que vive extremamente ao corpo do hospedeiro -Hiperparasito: o que parasita outro parasita. Exemplo: E. histolytica sendo parasitada por fungos (Sphoerita endogena) ou mesmo por cocobacilos. -Acidental: é o que apresenta outro hospedeiro que não o seu normal. -Errático: é o que vive fora do seu habitat normal. -Estenoxênico: é o que parasita espécies de vertebrados muito próximas. Exemplo: Algumas espécies de Plasmodium só parasitam primatas; outras só aves; etc. -Eurixeno: é o que parasita espécies de vertebrados muito diferentes. Exemplo: O Toxoplasma gondii, que pode parasitar todos os mamíferos e até aves. -Facultativo: é o que pode viver parasitando, ou não, um hospedeiro (nesse último caso, isto é, quando não está parasitando, é chamado de VIDA LIVRE). Exemplo: Larvas de moscas Sarcophagidae, que podem desenvolver-se em feridas necrosadas ou em matéria orgânica (esterco) em decomposição. -Heterogenético: é o que apresenta alternância de gerações. Exemplo: Plasmodium - ciclo assexuado no mamífero e sexuado no mosquito. -Heteroxênico: é o que possui hospedeiro definitivo e intermediário. Exemplos: Trypanosoma cruzi, S. mansoni. -Monoxênico: é o que possui apenas o hospedeiro definitivo. Exemplos: Enterobius vermicularis, A. lumbricoides. -Monogenético: é o que não apresenta alternância de gerações (isto é, possui um só tipo de reprodução assexuada ou assexuada). Exemplo: Ascaris lumbricoides, Ancylostomatidae, Entamoeba histoloytica). -Obrigatório: é aquele incapaz de viver fora do hospedeiro. Exemplos: Toxoplasma gondii, Plasmodium sp, S. mansoni, etc. -Periódico: é o que freqüenta o hospedeiro intervaladamente. Exemplo: Os mosquitos que se alimentam sobre o hospedeiro a cada três dias. Patogenia ou patogênese: É o mecanismo com que um agente infeccioso provoca lesões no hospedeiro. Exemplo: O S. mansoni provoca lesões no organismo através de ovos, formando granulomas. Patogenicidade: É a habilidade de um agente infeccioso provocar lesões. Exemplo: Leishmania braziliensis tem uma patogenicidade alta; Taenia saginata tem patogenicidade baixa. Período de incubação: É o período decorrente entre o tempo de infecão e o aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. Exemplo: Esquistossomose mansoni - penetração de cercária até o aparecimento da dermatite cercariana (24 h). Período pré-patente: É o período que decorre entre a infecção e o aparecimento das primeiras formas detectáveis do agente infeccioso. Exemplo: Esquistossomose mansoni - período entre a penetração da cercária até o aparecimento de ovos nas fezes (formas detectáveis) - aproximadamente 43 dias. Poluição: É a presença de substâncias nocivas (p.ex. produtos químicos), mas não infectantes, no ambiente (ar, água, leite, alimentos, etc.). Portador: Hospedeiro infectado que alberga o agente infeccioso, sem manifestar sintomas, mas capaz de transmití-lo a outrem. Nesse caso, é também conhecido como "portador são", quando ocorre doença e o portador pode contaminar outras pessoas em diferentes fases, temos o "portador em incubação", "portador convalescente", "portador temporário", "portador crônico". Premunição ou imunidade concomitante: É um tipo especial de estado imunitário ligado à necessidade da presença do agente infeccioso em níveis assintomáticos no hospedeiro. Normalmente, a premunição é encarada como sendo um estado de imunidade que impede reinfecções pelo agente infeccioso específico. Exemplo: Na Malásia, em algumas regiões endêmicas, o paciente apresenta-se em estado crônico constante, não havendo reagudização da doença. Existe um equilíbrio perfeito entre hospedeiro e hóspede. Prevalência: Tempo geral utilizado para caracterizar o número total de casos de uma doença ou qualquer outra ocorrência numa população e tempo definidos (casos antigos somados aos casos novos). Exemplo: No Brasil (população definida), a prevalência da esquistossomose foi de 8 milhões de pessoas em 1972.