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ASSOCIAÇÃO CULTURAL ISRAELITA DE BRASÍLIA – ACIB
CARTA DO ORIENTE­MÉDIO
Os observadores atentos dos assuntos do Oriente­Médio sabem que a cobertura feita por quase toda a mídia distorce sistematicamente a realidade do conflito árabe­
israelense. A “Tablet” on line publicou na internet em 26 de agosto último um ensaio de Matti Friedman, ex­correspondente em Israel da agência de notícias Associated Press, uma das duas maiores do mundo, que desconstrói esse fenômeno. A Carta traduziu “The Israel Story” com cortes e adaptações estilísticas.
A “NARRATIVA” SOBRE ISRAEL
A Força de Defesa de Israel descobrir um túnel de terror. Hamas disparados de áreas civis e se esconderam em túneis
Quando a histeria amainar, acredito que os acontecimentos em Gaza não serão lembrados como particularmente importantes. Essa não foi a primeira das guerras árabes com Israel nem será a última. A execução das operações militares por Israel diferiu pouco de qualquer outro exército de país ocidental contra um inimigo similar nos últimos anos, exceto pela natureza mais imediata da ameaça a sua própria população e pelos maiores esforços feitos para evitar mortes de civis.
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Operação borda protetora ­ O BBC Watch recebeu muitas queixas sobre preconceito anti Israel sobre o conflito Israel ­ Gaza (bbcwatch.org).
A importância duradoura dessa guerra está no modo pelo qual ela foi descrita e a reação que suscitou no mundo, assim como na maneira como isso refletiu o ressurgimento de um antigo e pervertido padrão de raciocínio e a migração deste das margens para o centro do discurso ocidental – a saber, uma obsessão hostil com os judeus. A chave para compreender esse ressurgimento não se encontra entre os jihadistas atuando na internet, os teóricos das conspirações ou ativistas radicais, mas sobretudo entre pessoas educadas e respeitáveis do jornalismo internacional.
Neste ensaio vou tentar fornecer algumas ferramentas para que se possa entender as matérias jornalísticas sobre Israel. Adquiri essas ferramentas como uma “insider”: Entre 2006 e o final de 2011 fui reporter e editora do escritório de Jerusalem da Associated Press, uma das duas maiores agências de notícias do Ocidente. Tenho vivido em Israel desde 1995 e feito matérias sobre o país desde 1997.
QUAL A IMPORTÂNCIA DA “NARRATIVA” SOBRE ISRAEL ?
A alocação de recursos humanos é a melhor maneira de medir a importância de uma “história” para uma agência de notícias. Quando eu era a correspondente da AP, a agência tinha mais de 40 pessoas cobrindo Israel e os territórios palestinos. Isso era substancialmente mais do que a equipe da AP na China, na Rússia ou na Índia ou em todos os 50 países da África subsaariana somados. Era um número maior do que o dos jornalistas que a AP tinha em todos os países onde ocorreram os levantes da “primavera árabe”. PAGE \* MERGEFORMAT #
Presidente Bashar al­ Assad e da guerra civil da Síria
A mídia decidiu que o conflito em Gaza é mais importante que, por exemplo, o conflito na Síria, que em 3 anos (antes do surgimento do Estado Islâmico) causou 190 mil mortes, ou seja, 70 mil mais do que o número de pessoas que morreram em todos os conflitos árabe­israelenses desde que ele começou há um século. Mais importante do que as mais de 1.600 mulheres assassinadas no Paquistão no ano passado (271 depois de serem estupradas e 193 delas queimadas vivas), mais do que a presente dominação do Tibet pela China, os massacres no Congo (mais de 5 milhões de mortos desde 2012) ou as guerras de drogas no México (60.000 mortos entre 2006 e 2012). A mídia “acredita” que Israel é o asunto mais importante do mundo, ou quase. O QUE É IMPORTANTE NA NARRATIVA SOBRE ISRAEL E O QUE NÃO É
Um jornalista trabalhando com os correspondentes estrangeiros em Israel compreende rapidamente que “o que é importante” na narrativa sobre o conflito é Israel. Quem observar a cobertura jornalística descobre que não se faz nenhuma análise da sociedade ou das ideologias dos palestinos, das características dos grupos armados palestinos ou uma investigação sobre o governo palestino. A narrativa determina que êles existam como vítimas da parte que interessa nessa narrativa (Israel).
Corrupção, por exemplo, é uma preocupação candente para muitos palestinos dominados pela Autoridade Palestina, mas quando eu e outro reporter sugerimos um artigo sobre o assunto, fomos informados pelo chefe do escritório que a corrupção palestina não interessa, mas a corrupção israelense sim – e nós a cobrimos amplamente.
As ações israelenses são analisadas e criticadas, cada defeito da sociedade israelense é noticiado agressivamente. Eu decidi contar as matérias divulgadas pelo nosso escritório sobre as diversas falhas da sociedade israelense. PAGE \* MERGEFORMAT #
Hamas freqüentemente chamam a destruição de Israel e elogiar os atos de terror
A Constituição do Hamas, por exemplo, não só prega a destruição de Israel como o assassinato dos judeus e atribui aos judeus terem organizado as revoluções francesa e russa e as duas guerras mundiais; a Constituição nunca foi mencionada numa matéria enquanto eu estava na AP, embora o Hamas tenha ganho uma eleição nacional palestina e se tornado um dos atores mais importantes da região. Para traçar um paralelo com os acontecimentos deste verão: Um observador poderia pensar que a decisão do Hamas nos últimos anos de construir uma infraestrutura militar por debaixo da infraestrutura civil de Gaza mereceria ser noticiada. Mas não foi o caso. As instalações do Hamas não eram importantes em si mesmas e por isso foram ignoradas. O que era importante era a decisão de Israel de atacá­las.
Qualquer veterano do corpo de jornalistas locais sabe que a intimidação de jornalistas pelo Hamas é real e eu mesma a vi em ação como editora do noticiário da AP. Durante os combates de Gaza em 2008­2009 eu pessoalmente apaguei um detalhe­chave – que combatentes do Hamas se vestiam como civis e eram contados como civis na lista de baixas – devido a uma ameaça feita a nosso reporter em Gaza. A orientação era então, como é atualmente, não informar os leitores que uma matéria foi censurada, a menos que a censura tenha sido feita pelos israelenses. Mas se os críticos imaginam que jornalistas estão clamando por cobrir o Hamas e estão sendo impedidos por assassinatos e intimidações, não é geralmente o caso. Há muitas maneiras de reportar as ações do Hamas sem correr maiores riscos, se houver a vontade de fazê­lo: Citando um autor de Israel, sem citar autoria, citando “fontes israelenses”. Reporteres têm muitos recursos a sua disposição, quando querem.
O fato é que a maioria dos jornalistas em Gaza acredita que o seu trabalho consiste em registrar a violência de Israel contra civis palestinos. Essa é a essência da narrativa sobre Israel. Adicionalmente, tem de trabalhar sob a pressão dos prazos e frequentemente correndo riscos e muitos não falam o árabe e têm apenas a mais tênue PAGE \* MERGEFORMAT #
noção do que está ocorrendo. São dependentes de jornalistas palestinos e de informantes que ­ ou temem o Hamas, ou apóiam o Hamas ou ambas as coisas.
Não é uma coincidência que os poucos jornalistas que documentaram a presença de combatentes e lançamentos de foguetes do Hamas em áreas civis não pertencessem às grandes agências noticiosas com grandes e permanentes operações em Gaza. Êles foram na sua maioria profissionais isolados, secundários e recém­chegados – um finlandês, uma equipe da Índia, alguns outros.
O QUE MAIS NÃO É CONSIDERADO IMPORTANTE ?
Em inícios de 2009, por exemplo, dois dos meus colegas obtiveram a informação de que o Primeiro­Ministro de Israel Ehud Olmert havia feito uma significativa oferta negociadora à Autoridade Palestina há alguns meses e que os palestinos a haviam considerado insuficiente. Isso não foi publicado e era – ou deveria ter sido – uma das maiores notícias do ano. Os reporteres obtiveram a confirmação de ambos os lados e um deles chegou a ver um mapa, mas os dirigentes do escritório decidiram que não publicariam a história.
Alguns jornalistas ficaram furiosos mas não adiantou. Nossa narrativa era de que os palestinos eram moderados e os israelenses recalcitrantes e cada vez mais extremistas. Noticiar a oferta de Olmert – tal como aprofundar o exame do Hamas – faria a “narrativa” parecer tola. E assim fomos instruídos a ignorá­la, o que foi feito por mais de ano e meio.
COMO É MOLDADA A NARRATIVA SOBRE ISRAEL ?
A narrativa é moldada nos mesmos termos em uso desde o começo dos anos 1990 – a busca de uma “solução de dois Estados”. A premissa é de que se trata de um conflito “israelo­palestino”, significando que é um conflito que ocorre numa terra que Israel controla – 0,2 porcento do mundo árabe – na qual os judeus são a maioria e os árabes a minoria. O conflito seria mais acuradamente descrito como sendo “árabe­
israelense”ou “judeu­árabe”, isto é, um conflito entre 6 milhões de judeus e 300 milhões de árabes dos países vizinhos. Talvez “israelo­muçulmano” fosse mais preciso, para levar em conta a inimizade de países não­árabes como o Irã e a Turquia e, mais amplamente, 1 bilhão de muçulmanos no mundo. Esse conflito tem se desenrolado sob diferentes formas ao longo de um século, antes que Israel existisse, antes que Israel houvesse capturado os territórios palestinos de Gaza e da Margem Ocidental do Jordão e antes que o termo “palestino” estivesse em uso.
Apresentar a questão como “israelo­palestina” permite descrever os judeus, um ínfima minoria no Oriente­Médio, como o lado mais forte. Isso inclui implicitamente a presunção de que se o problema palestino fosse resolvido, o conflito também o PAGE \* MERGEFORMAT #
seria, embora nenhuma pessoa informada acredite hoje em dia que isso seja verdadeiro. Essa definição também permite que os “assentamentos” israelenses na Margem Ocidental do Jordão, que eu acredito seja um sério erro moral e estratégico da parte de Israel, sejam descritos não como o que são – mais um sintoma negativo do conflito – mas antes a sua causa.
Um observador que entenda de Oriente­Médio vê a região como um vulcão e o Islã radical como a lava, uma ideologia cujas diversas encarnações estão atualmente formatando esta parte do mundo. Israel é uma pequena aldeia nas encostas do vulcão. O Hamas é o representante local do Islã radical abertamente dedicado à destruição de Israel, assim como o Hizbolá é o representante do Islã radical no Líbano, o Estado Islâmico na Síria e no Iraque, o Talibã no Afeganistão e no Paquistão, e assim por diante.
O Hamas não é, como êle admite livremente, parte do esforço para criar um Estado palestino ao lado de Israel. Ele tem objetivos diferentes, que não esconde e que são semelhantes aos dos grupos listados acima. Um observador poderia também legitimamente contar a história através das lentes das minorias do Oriente­Médio, que estão todas sob intensa pressão do Islã – quando as minorias estão desamparadas, seu destino é o dos yazidis ou dos cristãos no norte do Iraque, como acabamos de ver, e quando elas estão armadas e organizadas podem defender­se e sobreviver, como no caso dos judeus e ­ esperemos ­ dos curdos. Em outras palavras, há muitas maneiras diferentes de ver o que está acontecendo aqui.
A narrativa sobre Israel é moldada como se não tivesse nada a ver com acontecimentos nas redondezas porque o “Israel” do jornalismo internacional não existe no mesmo universo geopolítico que o Iraque, a Síria ou o Egito. A narrativa não é sobre acontecimentos correntes, é sobre outra coisa. O VELHO QUADRO SINISTRO
Durante séculos, os judeus, sem um Estado próprio, foram o alvo da má­vontade das populações onde viviam. Eram o símbolo do que estava errado. Se se queria condenar a ganância, os judeus eram gananciosos. Covardia? Os judeus eram covardes. Você era comunista? Os judeus eram capitalistas. Era você capitalista? Nesse caso os judeus eram comunistas. O traço essencial do judeu era ter graves defeitos de caráter. Era o seu papel na tradição cristã – a única razão aliás pela qual a sociedade européia se interessava por êles.
George Orwell escreveu em 1942 sobre a Guerra Civil Espanhola: “Vi relatos jornalísticos que não tinham nenhuma relação com os fatos...Eu vi, na realidade, a história sendo escrita não em termos do que tinha acontecido, mas do que devia ter acontecido de acordo com as posições dos partidos políticos”. Orwell entendeu que a “Espanha” não era realmente sobre o “país Espanha” – era sobre um conflito PAGE \* MERGEFORMAT #
entre dois sistemas totalitários, o alemão e o russo. Ele sabia que estava testemunhando uma ameaça à civilização ocidental, assim o escreveu, e estava certo.
A força ascendente na nossa parte do mundo não é a democracia ou a modernidade. É uma poderosa corrente do Islã que assume formas diferentes e às vezes conflitivas e que está disposta a empregar extrema violência com o objetivo de unir a região sob seu controle e confrontar o Ocidente. Israel não é uma “idéia”, um símbolo do bem ou do mal ou um tema para testar as opiniões das pessoas durante um jantar. É um pequeno país numa parte ameaçadora do mundo que está ficando cada vez mais ameaçadora. Deveria receber uma cobertura da imprensa tão crítica quanto qualquer outro e compreendido levando em conta o contexto e as proporções. Israel não é uma das mais importantes narrativas do mundo, nem mesmo do Oriente­Médio. Israel é um pontinho no mapa, um show secundário que casualmente suscita uma carga emocional inusitada. Muitos no Ocidente claramente preferem o velho conforto de esmiuçar defeitos de caráter dos judeus e cultivar o sentimento de superioridade que isso lhes traz, em vez de confrontar uma triste e perturbadora realidade. eles podem convencer­se de que tudo isso é um problema de judeus, e mesmo causado por êles. Mas os jornalistas entretêm essas fantasias ao custo de sua credibilidade e da sua profissão. E, como disse Orwell, o mundo entretém fantasias sob seu próprio risco. Nota da Redação ­ Há uma explicação complementar para o comportamento das grandes empresas da mídia: Elas procuram ajustar a sua “narrativa” ao que percebem ser a opinião dominante, para assim preservar a sua credibilidade e aceitação pelo público. Além disso, no noticiário da televisão, por exemplo, os jornalistas precisam simplificar a narrativa para que a audiência tenha a impressão de que “acompanha” o assunto. ­ Durante os 50 dias (08.07 a 26.08) que a mídia dedicou intensamente ao conflito em Gaza, a CNN International, por exemplo, teve tempo mais do que suficiente para contar a história no seu verdadeiro contexto e não o fez, o que parece espelhar a opinião de Matti Friedman de que o Estado judeu é objeto de uma certa “má­vontade” que não se vê em situações análogas quando envolvem outros países.
­ Vale notar que, para o seu noticiário sobre o Oriente­Médio, a CNN dispõe de um convênio com a Catar Foundation e o Catar tem apoiado as mesmas causas dos Irmãos Muçulmanos. Agora que o tema dominante é o Estado Islâmico, que representa uma ameaça às grandes potências ocidentais, a CNN, como os demais atores da mídia internacional, relatam fielmente as suas monstruosidades, sem procurar atenuantes e justificativas, como havia feito em benefício do Hamas e reserva suficiente espaço para análises abrangentes. PAGE \* MERGEFORMAT #
Assim, no seu mais prestigioso programa de entrevistas, conduzido por Christiane Amampour, o conhecido analista político americano de origem iraniana Reza Aslan explicou aos telespectadores que o sucesso do Estado Islâmico deve­se também ao fato de que houve uma radicalização das populações muçulmanas, que “o salafismo­
wahhabismo é um virus que se infiltrou entre os muçulmanos... e que nossos governos (Estados Unidos, Grã­Gretanha) deixaram a Arábia Saudita difundi­lo”. É louvável que tais verdades sejam proclamadas pela mídia internacional, mesmo quando se cita apenas a Arábia Saudita e se esquece do seu rival Catar... 
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