Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Lab. 1 Electrónica I, ano lectivo 2002/2003 Engenharia de Sistemas e Computação Engenharia Física Tecnológica Características DC de um díodo Material Díodo de silício 1N914 ou equivalente Resistências: 1K, 100 , e 10 Introdução O díodo é um dispositivo de dois terminais, que é constituído por uma junção entre dois tipos de semicondutores, um do tipo p e outro do tipo n. O funcionamento do díodo foi discutido nas aulas teóricas. Neste laboratório vamos apenas concentramo-nos nas características externas (corrente-tensão) do díodo e em algumas das suas aplicações práticas. O símbolo de um díodo está representado na Figura 1. Num díodo o terminal marcado com um traço ou por um ponto é chamado de cátodo, e está geralmente bem assinalado num díodo real. (Ver figura 1). O outro terminal é chamado de ânodo. A terminologia é remanescente da notação do tubo de vácuo. O ânodo refere-se ao potencial mais alto ou positivo, e o cátodo refere-se ao terminal de potencial mais baixo ou negativo. Material Tipo p Designação Ânodo Tipo n Cátodo Símbolo Encapsulamento típico Figura 1 – Símbolo de um díodo, designações e relação com a estrutura física. A análise do comportamento eléctrico estático dos díodos de junção pn, feita nas aulas teóricas pode ser sintetizada pela equação 1. I D I s (e qVD / nKT 1) Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. (1) 1 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Onde K é a constante de Boltzmann, T a temperatura absoluta e q a carga do electrão, VD a tensão aos terminais do díodo, e n o factor de idealidade. IS é designada por corrente de saturação, e é a corrente máxima com polarização inversa. Dado que normalmente no laboratório trabalhamos a uma temperatura fixa de T20ºC (293 K), podemos definir uma nova quantidade chamada tensão térmica VT. VT kT q Podemos então escrever a Equação 1 na seguinte forma; I D I s (eVD / nVT 1) (2) A Figura 2 representa a curva característica de um díodo. Figura 2. Notação e características corrente-tensão (I-V) de um díodo (note que a corrente inversa está exagerada pela mudança de escala). Um díodo de junção permite o fluxo de uma grande corrente no sentido directo, mas conduz apenas uma pequeníssima corrente em sentido inverso. Enquanto a corrente directa pode situar-se na faixa das dezenas ou mesmo centenas de miliampères, a corrente inversa encontra-se usualmente na faixa dos nanoampères, ou seja, cerca de seis ordens de grandeza menor. Quando o díodo está polarizado diretamente, existe uma pequena queda de potencial aos seus terminais, chamada barreira de potencial ou tensão de arranque. Para díodos de silício à temperatura ambiente, esta tensão é de aproximadamente 0.7 V. O facto de o díodo conduzir preferencialmente num sentido sugere o uso prático destes dispositivos para a obtenção de uma tensão uniredicional a partir de uma tensão alternada (rectificação). Este é um dos tópicos que terá a oportunidade de estudar neste laboratório. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 2 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Experimental Nesta primeira experiência vai obter dados que lhe permitem traçar a curva característica do díodo. E1 - Monte o circuito da figura 2. Use um díodo de silíco (1N914 ou equivalente). Vd 1K Figura 3. Circuito com díodo para traçado da curva característica. E2 - Ajuste a fonte de alimentação de forma a medir tensões aos terminais da resistência de 1 K em incrementos de 0.1V (0.1 V, 0.2 V....). Para cada tensão use o multímetro para medir a queda de tensão aos terminais do díodo (Vd). A corrente que passa no díodo é a corrente que passa na resistência de 1 K. Usando a lei de Ohm, determine a corrente que passa no díodo. E3 - Represente gráficamente a curva estática do díodo (corrente tensão). E4 - Determine a barreira de potencial ou tensão de arranque VB, e a resistência do díodo em polarização directa Rf (veja a Figura 4.) Id Vd VB Vd Rf I d Figura 4. Curva estática de um díodo. E5 - Monte o circuito representado na Figura 5. E6 - Ligue o osciloscópio no modo X-Y, e ajuste as escalas na seguinte forma: Vertical (ou Y), sensibilidade: 10 mV/divisão, acoplamento dc. Horizontal (ou X), sensibilidade: 1V/divisão, acoplamento dc. E7 - Coloque o ponto no centro do visor. Ajuste a frequência da onda triangular em aproximadamente 100 Hz, e varie a amplitude até observar a curva característica do díodo semelhante à representada na Figura 6. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 3 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Entrada horizontal (X) Osciloscópio 100 Entrada vertical (Y) Vd 10 100 Hz Figura 5. Arranjo experimental para visualizar a curva característica de um díodo usando o modo X-Y de um osciloscópio. A entrada horizontal do osciloscópio mede a tensão aos terminais do díodo (despreza-se a queda de tensão na resistência de 10 ). A entrada vertical mede a queda de tensão aos terminais da resistência de 10 . Usando a lei de Ohm é possível ler a corrente no díodo (Id). Assim, se a escala vertical tiver uma sensibilidade de 10 mV/divisão, então em termos da corrente que passa pelo resistência de 10 , temos que: Figura 6. Sensibilid ade (escala vertical) 10 mV/divisão 1mA/divisã o 10 Ω Introdução aos circuitos rectificadores. Uma das aplicações mais correntes dos díodos é a rectificação, isto é, a obtenção de uma tensão unidireccional a partir de uma tensão alternada. Se intercalarmos um díodo à saída de uma fonte de alimentação sinusoidal, ele só deixa passar a metade do ciclo em que está polarizado directamente, bloqueando quase completamente a outra metade. Para evitar a ondulação, isto é, a descida da tensão a zero no meio ciclo em que o díodo não conduz geralmente coloca-se um condensador de capacidade adequada em paralelo com a saída. E8 - Monte um circuito rectificador de meia onda representado na Figura 7, e observe as formas de onda que obtém, quando em presença de um sinal de entrada sinusoidal. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 4 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Utilize para esse efeito tensões alternadas sinusoidais de frequências diferentes (50 Hz; 1KHz; 10 KHz; e 100 KHz) Observe a tensão de saída para valores diferentes de C, comece por fazer C=0. (Este assunto continua no próximo guia de laboratório) Vo Vd Vi C 1K Figura 7. Circuito para observação da rectificação de meia-onda. Simulação com o PSpice(trabalho facultativo) Use o programa PSpice, para simular a característica I-V de um díodo para várias temperaturas. Pode usar a versão instalada nos computadores dos laboratórios de ensino da área departamental, ou obter a sua própria cópia da versão para estudantes no seguinte endereço electrónico: http://www.cadencepcb.com/products/downloads/PSpicestudent/default.asp Bibliografia Microelectronic Circuits, 4º edition Adel S. Sedra, e Kenneth C. Smith Smith Oxford University Press Microelectrónica Jacob Millman, Arvin Grabel 1º volume, 2ª edição, McGraw-Hill, 1992 Pode observar uma animação que demonstra o funcionamento de uma junção pn no seguinte endereço electrónico: http://www.st-and.ac.uk/Scots_Guide/info/comp/passive/diode/diode.htm Nota histórica Em 1880 Thomas Edison observou que o vidro das lâmpadas escurecia com o tempo, o que o levou a suspeitar de que algo se deslocava no interior das lâmpadas que usava. Em 1904 Ambrose Fleming utilizou este chamado “efeito Edison” para fabricar o primeiro díodo um dispositivo com dois elétrodos ao qual ele chamou ”válvula” O primeiro díodo foi construído num invólucro de vidro "fechado a vácuo", tal como a lâmpada eléctrica de filamento inventada por Edison. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 5 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Um dos eléctrodos denomina-se cátodo e é aquecido de tal modo que liberta electrões. O outro eléctrodo denominado ânodo, ou placa, capta os electrões emitidos pelo cátodo. Esta passagem de corrente eléctrica só se verifica se o sinal da carga no ânodo for positivo. Caso a carga do ânodo seja negativa não existe passagem de corrente eléctrica. Embora o díodo tenha sido construído inicialmente para detectar ondas hertzianas de alta frequência, foi também utilizado como rectificador de corrente. Figura 8. John Ambrose Fleming usou uma lâmpada como esta, com um elétrodo de fio extra no seu interior. Fleming lembrou-se disso em 1904, quando procurava um detector para ondas de radio. No díodo é possível consubstanciar um sistema binário 0 e 1 através da detecção da passagem ou não de corrente eléctrica. Por este facto foi o primeiro dispositivo electrónico utilizado na construção dos computadores. Com vários díodos foi possível construir a memória binária. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 6 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Projecto extra-curricular O díodo semicondutor, além da importante função de retificar o sinal possui características relativas à temperatura que o tornam capaz de medir tal grandeza. Na Figura 9 representam-se as características I-V de um mesmo díodo para diferentes temperaturas. Se mantivermos a corrente que passa pelo díodo constante, teremos aos terminais do díodo uma tensão que varia em função da temperatura (ver Equação 3). Uma vez que dentro de determinadas aproximações, a tensão no díodo é directamente proporcional à temperatura absoluta, podemos comparar a mesma com uma tensão de referência, e implementar um controlador de temperatura com um díodo semicondutor. A Figura 10 representa um diagrama esquemático de um circuito electrónico que implementa um destes controladores. VD I nk T ln D 1 (3) q IS F Figura 9. Curvas I-V de um díodo medidas a diferentes temperaturas. Fig. 10 – Controlador de temperatura que usa díodos semicondutores como sensores de temperatura Neste circuito, a tensão sobre o díodo D1 (que neste caso deve ser o sensor de temperatura) é comparada com uma tensão ajustada em P1. Da maneira como está montado este circuito, L1 acende quando a temperatura sobre o díodo D1 for maior que a temperatura ajustada. Se invertermos os pinos 2 e 3 do integrado 741, L1 acende quando a temperatura sobre o díodo for menor que o valor ajustado. Ajuste da tensão de referência: Para ajustar a tensão de referência, coloca-se a D1 a temperatura de ajuste. Em seguida, roda-sese o potenciometro até que L1 mude de estado. Este é o ponto de ajuste. Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. 7 Universidade do Algarve, FCT, ADEEC, Henrique Leonel Gomes. Aplicações dos díodos Electrónica Circuitos lógicos Optoelectrónica Detectores Circuitos rectificadores e limitadores Moduladores Díodos para sintonia e para circuitos misturadores Díodos emissores de luz Díodos de efeito de túnel Díodos para circuitos de rádio-frequência Electrónica I, guias de laboratório, o díodo de junção pn. Lasers de semicondutores 8