ESPAÇOS E TEMPOS DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA ILHA DOS

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Espaços e tempos da atividade turística na ilha dos marinheiros – estuário da
Lagoa dos Patos – RS
DOI: 10.17552/2358-7040/bag.v1n2p32-42
Pedro da Costa PORTO; Eduardo Schiavone CARDOSO
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ESPAÇOS E TEMPOS DA ATIVIDADE TURÍSTICA NA ILHA DOS
MARINHEIROS – ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS – RS
Pedro da Costa PORTO1
Eduardo Schiavone CARDOSO2
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Resumo
O artigo aborda a atividade turística ao longo dos distintos momentos da formação econômica e
espacial da Ilha dos Marinheiros – RS. Apresenta um breve histórico da ocupação da Ilha e
descreve o momento inicial de implantação do turismo de segunda residência, bem como as
mudanças espaciais que se iniciam com a nova fase de expansão do turismo, com a ligação
rodoviária com o continente.
Palavras-chave: Ilha dos Marinheiros; turismo; espaço; tempo
Abstract
This article presents the tourist activity in the different moments of economic and
spatial formation of the Ilha dos Marinheiros - RS. Presents a brief history of the occupation of
the island and describes the initial stage of implementation of the second home tourism as well as
the spatial changes that star with the new tourism expansion phase.
Key Words: Ilha dos Marinheiros; tourism; space; time
INTRODUÇÃO
A atividade turística se propaga por diferentes lugares do planeta. Espaços antes
considerados inóspitos e atrasados do ponto de vista econômico, hoje estão entre os mais
concorridos nos pacotes turísticos. Comunidades que conseguiram viver até recentemente de
forma menos dependente dos circuitos de reprodução do capital passam a sofrer pressões
geradas pela repentina “turistificação” de seus territórios de vivência ancestral.
No Brasil, a apropriação do espaço pelo turismo tem se dado de forma mais aguçada
no litoral. Isto se deve em parte aos seus aspectos naturais como praias, ilhas, recifes, dunas,
entre outros atributos que são valorizados e apropriados para a prática turística. Sobre as
comunidades litorâneas que conseguiram se manter relativamente isoladas dos processos de
urbanização e industrialização do território brasileiro, o turismo ao expandir-se promove
alterações significativas. O mesmo ocorre em comunidades insulares, que passam a ter seus
territórios inseridos nos roteiros de turismo.
1
Geógrafo formado pelo Curso de Bacharelado em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria. Mestre em Geografia
pelo PPGGEO – UFSM.
2
Professor Associado do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Maria e do PPGGEO – UFSM.
Bacharel, licenciado, mestre e doutor em Geografia pela Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]
Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 01, n.
02, p. 32-42, jul./dez. 2014.
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Lagoa dos Patos – RS
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O relativo isolamento dos ambientes insulares costuma mudar com a facilitação do
acesso por via náutica, aérea e de sua ligação terrestre com o continente, como é o caso da
Ilha dos Marinheiros. Localizada no município de Rio Grande/RS, na área estuarina da Lagoa
dos Patos, essa ilha tem desde meados do século XX sua economia baseada na agricultura
familiar e na pesca artesanal. O turismo vem ganhando espaço, principalmente após a
finalização das obras da ponte de ligação com o continente. O objetivo deste artigo é
demarcar alguns dos momentos da organização espacial da Ilha dos Marinheiros,
relacionando-os com o desenvolvimento da atividade turística.
METODOLOGIA
A Ilha dos Marinheiros foi elencada como área de estudo em dois momentos de
pesquisa, resultando uma monografia de graduação e uma dissertação de mestrado defendida
pelo primeiro autor no âmbito dos cursos e do Programa de Pós-graduação em Geografia da
Universidade Federal de Santa Maria. Para o presente artigo, os autores sistematizaram parte
do material produzido visando trazer elementos comparativos para a análise de realidades
insulares em áreas continentais e de águas interiores.
Para tanto foi utilizada parte da revisão da literatura que possibilitou as bases teóricas
da pesquisa. Entre os principais temas pesquisados está a história e transformação do espaço
da Ilha dos Marinheiros; a gênese, evolução e delimitação da atividade turística; a
segmentação dessa atividade e a caracterização do turismo em ilhas do Brasil.
Após a compilação e análise da bibliografia e de parte dos dados obtidos em campo
nas pesquisas sobre a Ilha dos Marinheiros, o texto foi elaborado visando possibilitar uma
reflexão comparativa sobre a gênese e as transformações dos espaços turísticos inseridos em
ambientes de águas continentais e interiores, entendendo esta segunda concepção como a
porção líquida dos ambientes litorâneos relativamente fechados, como estuários, golfos e
baias. Tal distinção é importante ressaltar, tendo em vista que a proximidade dessas ilhas
litorâneas com o continente por vezes oculta a própria característica insular, sendo mais
facilmente rompida por ligações terrestres, como pontes e aterros.
ESPAÇO E TEMPO NA ILHA DOS MARINHEIROS
A Ilha dos Marinheiros está localizada no município de Rio Grande/RS, no estuário da
Lagoa dos Patos próximo a sua foz com o oceano Atlântico. Seu principal acesso ocorre por
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meio da estrada municipal RG-250 que não possui pavimentação e tem seu início junto ao
entroncamento da BR-392 com a BR-471. A Avenida Frederico Albuquerque é a única via
presente na Ilha, com 24,2 Km de extensão que circunda todo o território insular e é recoberta
por saibro em alguns trechos.
Apresentando uma superfície de 3.980 hectares, um comprimento de 10,5 Km (no
sentido sudoeste-nordeste) e uma largura de 5,7 Km (no sentido noroeste-sudeste) é a maior
ilha do estado do Rio Grande do Sul e junto com outras sete ilhas do estuário da Lagoa dos
Patos, forma o Segundo Distrito do município de Rio Grande.
Figura 1: Estuário da Lagoa dos Patos e a Ilha dos Marinheiros
Fonte: Porto, 2014
A história da Ilha dos Marinheiros está ligada à ocupação do atual território do
município de Rio Grande. Este último, por sua vez, tem sua história vinculada à ocupação do
território nacional pela coroa portuguesa e na consequente disputa com a coroa espanhola.
Como expõe Martins (2006, p. 12): “Rio Grande contempla os grandes períodos da história
econômica brasileira, especializando-se, não de forma direta, mas a partir de mediações, devido à
forma particular como as determinações realizam-se no local”.
Deste modo, ligada à dinâmica do município de Rio Grande e com base em Martins
(2006), Ruivo (1994), Azevedo (2003), Ribeiro (1994) e Fantouro (1985) constatou-se que a
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história da Ilha dos Marinheiros passou por distintos momentos econômicos, com atividades
marcantes que predominaram em períodos delimitáveis da história. Contudo, pode ser
verificado que a ocorrência de um ciclo econômico não extinguiu a(s) atividade(s)
econômica(s) do ciclo econômico anterior e, na maioria dos casos, essas atividades
coexistiram com uma mais recente que passou a ser mais importante economicamente para o
período, como será sinteticamente exposto a seguir.
MOMENTOS DA FORMAÇÃO ECONÔMICA ESPACIAL
O primeiro momento corresponde à presença nativa. Com base em registros
arqueológicos encontrados na ilha, Ruivo (1994) constatou a presença de índios Minuanos por
volta do século I d.C. Para Ruivo (1994) era em virtude da pesca que eles se deslocavam do
interior do estado para as margens da Lagoa dos Patos e para a Ilha dos Marinheiros. O autor
expõe ainda que “existem vestígios arqueológicos da presença de outros grupos no município
de Rio Grande, como os Charrua e Tupi-guarani, mas não obtivemos informações sobre a
presença deles na Ilha dos Marinheiros” (RUIVO, 1994, p. 148).
Um novo ciclo inicia-se com a colonização portuguesa na porção sul de seu território
americano, na área da atual cidade de Rio Grande. É devido às incursões dos marinheiros da
armada de Silva Paes para obtenção de madeira que a Ilha recebe o nome de “Ilha do
Marinheyro”. Segundo Ruivo (1994) a madeira e a água, retiradas da ilha foram vitais para o
sucesso da colonização portuguesa no estado do Rio Grande do Sul.
A ocupação efetiva da ilha se dá somente no final do século XVIII quando em 1799 se
instala José de Souza Rey, português de 17 anos que manda construir um trapiche em frente a
sua chácara que passa a ser chamado pelos locais de Porto do Rey. Nessa localidade se
registra a primeira construção de uma casa de segunda residência na ilha, uma vez que José de
Souza Rey era comerciante no continente e ocupava a casa em finais de semana (AZEVEDO,
2003).
Foi no decorrer da fase de ascensão econômica de Rio Grande, devido ao comércio
internacional – principalmente após o Decreto de Abertura dos Portos às Nações Amigas,
promulgado em janeiro de 1808 – que a cidade passa a ser moradia de muitos comerciantes e
representantes diplomáticos de diferentes países da Europa (MARTINS, 2006). São esses
estrangeiros que expandem as moradias de segunda residência na Ilha dos Marinheiros
expressando um hábito característico de seus países de origem, onde eram procurados os
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lugares pitorescos, exóticos e sadios nas proximidades das cidades para o desfrute do lazer
nos fins de semana.
Ruivo (1985) expõe que na terceira década do século XIX a ilha possuía algumas
chácaras que produziam hortaliças e legumes em abundância, além da presença de famílias de
pescadores que se dedicavam também à criação de gado. Na década de 1830 chegaram as
primeiras mudas de parreiras em Rio Grande, dando início aos cultivos e à produção de
vinhos na ilha, que se tornarão os principais produtos produzidos e exportados (AZEVEDO,
2003). Outras bebidas originárias da uva também serão produzidas a exemplos do aguapé, da
graspa e da jurupiga. Esta última é uma bebida criada após a tentativa dos colonos
portugueses de produzir Vinho do Porto com as uvas cultivadas no local.
O meado do século XIX é para a Ilha dos Marinheiros uma fase marcada por um
processo acelerado de crescimento econômico, amparado pela agricultura diversificada,
cultivada por escravos de origem africana e colonos portugueses, que tinha como principal
destino abastecer o comércio local de Rio Grande em um período assinalado pela pecuária
desenvolvida no pampa gaúcho e pelo comércio do charque exportado pelo porto da cidade
(AZEVEDO, 2003; RUIVO, 1985; MARTINS, 2006).
Nos últimos anos da década de 1880 três acontecimentos irão contribuir para a
desaceleração das atividades econômicas na Ilha dos Marinheiros, sendo o primeiro a
promulgação da Lei Áurea. Para Azevedo (2003), com o fim da escravidão oficial no Brasil,
os escravos que representavam uma mão de obra importante nos diversos cultivos da ilha
naquele período migram para o continente em busca de outras atividades. O segundo
acontecimento é descrito a partir de Pesavento (1988) e corresponde à implantação das
primeiras indústrias em Rio Grande, baseadas principalmente na manufatura dos produtos
agropecuários da região. O terceiro acontecimento é a inauguração do Balneário Cassino em
1890, localizado junto à orla do oceano Atlântico, distante 25 km ao sul do centro da cidade
de Rio Grande (MARTINS, 2006).
A partir de 1920 o vinho comercializado pelos agricultores da ilha passa a sofrer
concorrência com os produtos oriundos da Serra Gaúcha. “Apesar de ser a mais antiga
produtora de vinhos, sua forma de produção era primária, sem nenhuma técnica especial”
(AZEVEDO, 2003, p. 47). Os demais produtos agrícolas comercializados para as indústrias
de conserva de alimentos da cidade de Rio Grande, contudo, abrandam os prejuízos dessa
concorrência.
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Em 1940 a ilha abrigava 7.200 habitantes. A agricultura que atravessava uma fase
difícil, sofreu outro grande revés em 1945 quando pragas atingem e extinguem as videiras.
Após 1945 a ilha passa a viver um novo período de recessão econômica e o consequente
êxodo dos ilhéus para o continente em busca de melhores condições de vida (AZEVEDO,
2003). Martins (2006, p.178) acrescenta que:
No início da segunda metade do século XX ocorreu a desaceleração do primeiro
período industrial da cidade do Rio Grande, com o término das atividades produtivas
em várias grandes empresas, como as indústrias têxteis, os frigoríficos, a fábrica de
charutos e outras. Tais fatos desencadeiam uma crise no âmbito local e diminuição
na oferta de trabalho, o que afetou o município. Isso pode ser verificado na
diminuição de mão-de-obra industrial entre as décadas de 1940 e 1960 e no
crescimento negativo durante esse período.
Essa crise, segundo o autor, só não tomou maiores dimensões devido à ampliação do
parque industrial pesqueiro na cidade de Rio Grande que absorveu boa parte da mão de obra
local. Nesse período, a pesca também passa a se tornar a atividade mais importante na ilha.
No início dos anos 60 do século XX o município de Rio Grande passa por um período
de estagnação e decadência econômica, gerando o empobrecimento da população trabalhadora
com o fechamento das fábricas. Os governos militares instalados no Brasil em 1964,
percebendo a localização estratégica do município e o valor do seu porto, fazem
investimentos estruturais no porto da cidade e na melhoria do acesso rodoviário
(MACHADO, 2000). A década de 1970 foi marcada por um período de grande crescimento
econômico para Rio Grande, quando ocorreu uma substituição gradual na base produtiva das
indústrias localizadas na cidade “das indústrias de bens não-duráveis por indústrias de bens
intermediários” (MARTINS, 2006, p. 192).
O início dos anos oitenta do século XX foi marcado também por uma estagnação e
posteriormente uma grave crise na economia em nível nacional, que teve reflexos no
município de Rio Grande, com a queda nas exportações e nas atividades do setor pesqueiro,
passando o município por uma forte recessão econômica (MARTINS, 2006). Na ilha se
expande a plantação de pinos que atua como uma alternativa para a agricultura dos ilhéus,
além de ser efetuada por uma grande empresa que arrendou e comprou diversas propriedades
na ilha (AZEVEDO, 2003).
No ano de 2004 a ponte de ligação entre a Ilha e o continente foi concluída após cinco
anos de obras. Desse período em diante a Ilha dos Marinheiros passa a conviver com novas
dinâmicas, associadas ao turismo, as visitações e à expansão das segundas residências. Na
mesma época o Governo Federal divulga os investimentos para a consolidação do pólo naval
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em Rio Grande ligado à expansão dos investimentos para produção de petróleo e gás,
fomentando um novo ciclo de incremento industrial em Rio Grande. Estas obras geraram uma
grande oferta de empregos diretos e indiretos no município, atraindo trabalhadores e
resultando no aumento da demanda por residências, causando impactos nos preços de locação
e venda dos imóveis (SILVA; GONÇALVES; CARVALHO; OLIVEIRA, 2012).
O TURISMO NA ILHA DOS MARINHEIROS
O processo descrito no item anterior revela a incorporação de dinâmicas econômicas e
sociais distintas na Ilha dos Marinheiros ao longo do tempo. Ao rever tal processo podemos
apontar as atividades extrativas, agrícolas e pesqueiras como segmentos econômicos presentes
na ilha, bem como as funções de segunda residência, turismo e um pequeno segmento de
transformação da produção primária. Todas essas dinâmicas associam-se ao contexto mais
amplo do município de Rio Grande e dos demais conjuntos espaciais – região, país, mundo,
nos quais a ilha se insere, porém guardam suas especificidades locais.
Com relação às dinâmicas espaciais e temporais relacionadas à atividade turística
podemos ressaltar três eventos ocorridos ao longo da formação econômica espacial da Ilha
dos Marinheiros. O primeiro corresponde à implantação das segundas residências ainda no
século XVIII, que corresponde a uma prática trazida pelos europeus e irá marcar a paisagem
da ilha, pelo incremento em um período muito curto de tempo de infraestrutura urbana até
então inexistente no local, com a presença de caminhos e casarões de características
arquitetônicas típicas dos países de origem de seus construtores.
O segundo reporta-se à implantação do Balneário do Cassino ao final do século XIX.
Esse empreendimento turístico, produto de uma nova cultura de valorização das praias
litorâneas que se instala em Rio Grande culminou, segundo Azevedo (2003), com um
processo de abandono das moradias de segunda residência que a elite comercial da cidade
mantinha na Ilha dos Marinheiros e a migração dos mesmos para o novo balneário.
O terceiro momento refere-se ao período atual, demarcado com a ligação rodoviária da
ilha ao continente no início do século XXI. Segundo Pereira (2010) “após a construção de
uma ponte ligando esta ilha ao continente, o fluxo de visitantes aumentou, exercendo
pressões sobre as formas tradicionais de uso e ocupação da terra. A especulação imobiliária
é uma dessas pressões, assim como a degradação de ambientes naturais e o estabelecimento
de residências secundárias”.
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Temos clareza que a atividade turística e a incorporação de lugares como destino de
segundas residências são processos distintos, porém agruparemos com o nome genérico de
turismo, para fins dessas reflexões.
Os relatos da implantação de segundas residências na Ilha do Marinheiro e seus
desdobramentos têm correspondência com o ocorrido no Pará, em relação à Ilha do
Mosqueiro, de acordo com Guerra (2010) e Marques (2010). Recorda-se que no fim do século
XIX o Pará vivencia um processo de desenvolvimento econômico com o “boom da borracha”
e Belém reforça sua posição de pólo regional, com as obras destinadas a modernização e
ampliação da área urbana.
Segundo Marques (2010, p.177):
A capital passa a abrigar um contingente de estrangeiros envolvidos com os grandes
empreendimentos. [...] Os estrangeiros que ali se encontravam elegem a Ilha como
local preferido para passar os fins de semana, hábito de seus países de origem, que,
para tal, procuravam lugares pitorescos, exóticos e sadios nas proximidades de suas
cidades.
A mesma autora destaca as transformações estruturais decorrentes da “descoberta” da
Ilha do Mosqueiro como local de lazer da população belenense, tais como a instalação de um
ferro-carril que interliga a praia do Chapéu-Virado à Vila, a construção de trapiches (portos)
particulares nas residências praianas, a construção de dois hotéis e algumas olarias e a criação
de uma linha regular de navios.
Guerra (2010, p. 158) destaca que a atividade balneária ocupou importante papel no
processo de integração das ilhas de Mosqueiro, Caratateua e Cotijuba ao território municipal
de Belém. “As duas primeiras pela construção de pontes, e a terceira pela regularização do
transporte fluvial passaram a fazer parte do espaço de lazer de amplas camadas do
continente”. O autor informa ainda que “embora reconhecido o volume e valor produtivo
destas ilhas, elas continuaram funcionando como uma espécie de reservas de terras urbanas
ou de fornecimento de produtos primários, sem que políticas públicas claras lhe fossem
dedicadas”.
Marques (2010) aponta que na década de 1960 com a ligação definitiva por via
terrestre entre Belém e Mosqueiro, a ilha passaria por novas transformações espaciais,
marcando a decadência do transporte fluvial de passageiros neste percurso.
Como constatado no caso da Ilha do Mosqueiro no município de Belém/PA e na Ilha
dos Marinheiros em Rio Grande/RS, dois fatores foram culminantes para o processo de
implantação e abertura destes espaços insulares para o turismo. O primeiro é o
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desenvolvimento dos hábitos – estabelecidos por uma elite local formada principalmente por
estrangeiros – de valorização do lazer em áreas com a possibilidade para banho e passeios
junto a cursos de águas naturais. O segundo fator é a facilitação e regularização do transporte
por terra ou água e a consequente construção de casas de segunda residência que permitiam
não só o acesso, mas também um maior tempo de estadia nestas ilhas.
Estes fatores foram importantes nas mudanças espaciais verificadas, como a
construção das residências e organização do sistema de circulação e também podem ser
recorrentes em outras ilhas costeiras no Brasil na primeira metade do século XX, quando se
estabelece uma cultura de valorização do espaço litorâneo.
Dentro desse processo a implantação do Balneário do Cassino, no final do século XIX,
em Rio Grande, gera um direcionamento desses vetores para outro ponto selecionado do
espaço regional. A Ilha dos Marinheiros vê reduzido o ritmo das transformações decorrentes
dos setores de turismo e lazer em detrimento da pequena produção agrícola e pesqueira. Tais
vetores se mobilizam novamente no início do século XXI, redirecionando para a ilha os fixos
e fluxos do turismo e das transformações espaciais ligadas à expansão das segundas
residências, tais como o incremento do sistema viário, uma maior oferta de atrativos e
serviços voltados ao turista e as mudanças na estrutura fundiária, especialmente com a
transferência das propriedades dos “nativos” para os “de fora”. Observa-se também que as
trilhas e caminhos que antes permitiam um atalho entre casas de amigos e parentes, agora são
barrados por cercas erguidas pelos novos proprietários.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a atividade turística, a Ilha dos Marinheiros pode ser considerada um núcleo
receptor e, segundo Cruz (2003, pág. 25), “é sobre os núcleos receptores de turistas que o
turismo vai impor a maior gama de transformações sócio-espaciais”. A criação ou
apropriação de infraestruturas em função da acessibilidade e bem-estar dos turistas, como
aeroportos e rodoviárias; infraestruturas de hospedagens, restauração, lazer e serviços em
geral atribuem à atividade turística a capacidade de reorganizar o espaço para que ela possa
acontecer.
Referente ao estudo do turismo nas ilhas do país, observa-se que a temática é abordada
de forma mais presente para algumas ilhas litorâneas e oceânicas situadas no litoral sudeste
brasileiro. Constata-se que o estudo dos impactos da atividade turística em ambientes
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insulares do país ainda é praticamente inexistente nas ilhas situadas em regiões subtropicais
e/ou em corpos hídricos continentais (rios, lagos, lagoas e lagunas).
A atividade turística tem a capacidade de incorporar outras atividades econômicas que
não só as tipicamente agrícolas, pesqueiras e extrativas ao espaço insular, e esta tem sido uma
estratégia adotada por vários moradores de ilhas do Brasil. Mantendo-se nas ilhas e
melhorando sua qualidade de vida por meio do aumento da renda, que passa a ser gerada com
base em uma maior diversidade de atividades e funções, o ilhéu pode conjugar o turismo com
suas atividades tradicionais. Pode-se inferir que o turismo possibilita fixar parte da população
na ilha, freando o êxodo para o continente e preservando a cultura do ilhéu.
Pondera-se, entretanto, que o turismo na Ilha dos Marinheiros ainda não tem a
capacidade de modificar significativamente o tempo dos ilhéus, de um tempo cíclico (baseado
na safra das espécies de pescado ou dos cultivos agrícolas) para um tempo baseado na
sazonalidade da estação turística. Também se apontam impactos positivos e negativos na
expansão das segundas residências e no aumento dos fluxos de visitação ocorrida de forma
excursionista pelos turistas que visitam a ilha em um dia.
Conclui-se que o turismo é uma atividade em evidência na Ilha dos Marinheiros e que
tem um papel na organização do espaço insular, dada a sua capacidade de estimular o
aproveitamento do potencial natural e cultural local. Contudo, não deve ser desenvolvido
como uma monocultura, encarado como uma solução definitiva para os problemas sociais e
econômicos desta localidade, mas como uma atividade interligada a outras já existentes e
também fundamentais para a vida socioeconômica e cultural da ilha.
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