A EXPLORAÇÃO DO TURISMO E OS IMPACTOS AMBIENTAIS NA ILHA GRANDE (ANGRA DOS REIS, RJ): DO PRESÍDIO DE SEGURANÇA MÁXIMA À SEGURANÇA DA NATUREZA Jacqueline Silva Rodrigues Bolsista NEPPT - IGEOG Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Sonia Vidal Gomes da Gama Professora Adjunta do Instituto de Geografia (IGEOG) Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Thalita Shamyra Alves Pinheiro Dantas Bolsista NEPPT-IGEOG Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Raquel Lima Fernandes Bolsista NEPPT-IGEOG Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] Thais Ferreira Xavier Mestranda do Instituto de Geografia (IGEOG) Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] O presente trabalho demonstra como a mudança de função de território insular vem causando impactos no meio físico e nas relações sociais em vilas da Ilha Grande. A referida Ilha Grande é a maior ilha do Estado do Rio de Janeiro com aproximadamente 193 Km2 de área e está localizada no litoral sul do Estado, entre as coordenadas 23º 05’ e 23º 14’ de latitude sul e 44º 5’ e 44º 23’ de longitude oeste. O relevo da Ilha Grande apresenta dois grandes divisores, que separam a ilha em duas vertentes: vertente norte (voltada para o continente) e vertente sul (voltada para o oceano). As localidades de Dois Rios e Abraão foram sede de presídios (Lazareto e Colônia Penal Cândido Mendes) e atualmente são sedes de unidades de conservação (dentre elas, o Parque Estadual da Ilha Grande). No século XX, a partir da década de 70, funcionaram como área de segurança e de proteção ambiental concomitantemente. A desativação e a implosão do presídio consolidou a função de proteção da natureza que, de modo quase conflitante, potencializou a degradação pelo incremento de atividade turística, permitida e motivada por UCs. No século XXI, a Ilha Grande vem passando por transformações ambientais decorrentes principalmente dessa recente mudança de função – de sede do “presídio de segurança máxima” ao “paraíso ecológico”. Os órgãos gestores, que também sofreram alterações em sua estrutura organizacional, estão implementando ações que visam minimizar os impactos instalados como o aumento de área do Parque Estadual da Ilha Grande e a viabilização de Plano de Manejo do Parque, bem como a interlocução com as esferas do município (poder local) e da federação, no sentido de revisar e aprimorar o Plano Diretor, instrumento de planejamento territorial. Portanto, os problemas encontrados na ilha são diversos: devido à sua história, à sua ocupação, hoje possui os mais diversificados atores; o “boom” do turismo é paradoxal aos princípios conservacionistas ou preservacionistas e conseqüentemente, contribui para a geração e potencialização de impactos ambientais; a questão de interseção das diversas unidades de conservação, entre outros. É surpreendente como os problemas se entrecruzam. Os ecossistemas (geossistemas) foram durante longo tempo um “empecilho” ao desenvolvimento econômico, atualmente há a preocupação de extinção dos mais diversos recursos naturais, fica em voga a idéia de conservação, os planos diretores começam a colocar em sua pauta tais questões e não há exemplo mais evidente dessas novas preocupações que a Ilha Grande e sua área de preservação. Como já foi dito, o contraponto é que a Ilha Grande vem passando por intensas transformações ambientais nas últimas décadas em função do apelo de um turismo “ecológico” que, associado à falta de infraestrutura, compromete o meio ambiente e apresenta nível de criticidade ambiental elevado. Atualmente, a ilha atrai milhares de turistas e visitantes atraídos por suas belezas naturais e paisagem relativamente intacta, além de moradores que fazem uso do lugar, ONGs, rede hoteleira, gestores e pesquisadores. Tais pesquisadores, em sua maioria, relacionados ao CEADS (Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável) – campus da UERJ, instalado na ilha desde a década de 90, para o desenvolvimento de pesquisas científicas e tecnológicas voltadas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, em consonância com os preceitos de UC. Outro problema no que tange o turismo e a conservação dos espaços da ilha é a sobreposição das unidades de conservação e suas conseqüentes discordâncias no que se refere às normas. A ilha conta com seis delas distribuídas em quatro categorias diferentes (APA, PARQUE, RESERVA e ESTAÇÃO), sendo dois Parques, duas Reservas, uma APA e uma Estação. Tais UC’s são geridas por três diferentes órgãos governamentais (IBAMA nível federal; FEEMA, IEF nível estadual), além da própria competência municipal, sendo criadas a partir da década de setenta, reconhecendo a necessidade da conservação desde então. O tópico tomado como principal neste trabalho trata da contradição que se constrói uma vez que o turismo, uma das alavancas da economia local, catalisa os impactos ambientais, pois é desenvolvido de modo desordenado e sem planejamento adequado. O estudo tem como objetivo principal caracterizar e analisar a situação socioambiental de tais localidades, através da visão de alguns atores sociais envolvidos e de estudos realizados sobre o meio físico. Para isso, devem-se caracterizar meios físico e socioeconômico, cujo foco é planejamento e gestão. A investigação iniciou-se pelo levantamento de dados dos sistemas físico-natural e social por possuírem lógicas específicas de funcionamento, onde dinâmicas ambientais são manifestações das tensões, contradições e conflitos. Esses dados foram analisados na perspectiva do planejamento e gestão, considerando-se a função de proteção ambiental como paradoxo à de exploração do turismo enquanto fenômeno em que prevalecem relações de interesse, transforma o espaço e interfere na tomada de decisões. Tornou-se importante, pois permitiu conhecer mais sobre: posicionamento da sociedade local frente às condições socioambientais atualmente verificadas; aspectos envolvidos na complexidade dos problemas; atores que têm a percepção de que os impactos ambientais são causados ou potencializados pelo incremento do turismo; como a geografia física pode colaborar na identificação de impactos relacionados ao turismo e; de que modo a população vem trabalhando reivindicações ou ações para reverter o quadro de degradação ambiental. A partir disso, pode-se pensar no projeto “Trilhas Educativas” também desenvolvido na área que busca analisar desde acessibilidade e segurança das trilhas, passando por seus atrativos, formas de uso e visitação até os conseqüentes processos erosivos. O referido projeto vê a trilha como interlocutora entre o meio ambiente e o cidadão, logo o usuário da trilha, seja ele qualquer um dos atores presentes na ilha já citados, evolui de mero expectador para monitor do espaço utilizado. A equipe trabalha nas trilhas estabelecendo marcos importantes que possam ser úteis no processo de compreensão da dinâmica do geossistema (no caso, a Ilha Grande – Angra dos Reis). Tais marcos apresentam-se como resultantes de processos naturais ou antrópicos e demonstram a necessidade do planejamento, que considere tanto as potencialidades como as limitações locais. A partir deles, podem-se demonstrar os impactos ambientais decorrentes principalmente das atividades de lazer e turismo ao longo das trilhas e sobre as transformações ambientais nas áreas circunvizinhas. Vale destacar também que para fundamentar esse projeto é necessário o desenvolvimento de pesquisa integrada, com ênfase nos estudos do meio físico (solos, relevo, declividade, topografia, vegetação, substrato rochoso, etc.) voltado para a análise da vulnerabilidade ambiental e a união de questões mais humanas, como o perfil dos visitantes. O projeto busca estabelecer ações pontuais, mitigadoras dos impactos encontrados ao longo da ilha, assim como uma mudança de postura do próprio usuário após vivenciar a experiência proporcionada pelas trilhas educativas.