O MUSEU COMO LUGAR URBANO – RUPTURA OU CONTINUIDADE. Maria Joana Gil Ribeiro RESUMO O presente estudo aborda o tema dos Museus enquanto edifícios urbanos e pretende analisar a sua relação com a transformação das cidades. Afigurando-se como retrato de modernidade, os edifícios museológicos tendem a exprimir-se como elementos marcantes no meio urbano, tanto a nível funcional como simbólico. Assim, condensando a imagem urbana da cidade em que se inserem, pode-se admitir que o museu tende a constituir-se como metáfora da mesma. Palavras – chave: museu, cidade, reestruturação urbana, arquitectura contemporânea. INTRODUÇÃO A cidade actual, resultado de crescimentos mais ou menos planeados, tende hoje a apresentar uma imagem globalmente descaracterizada evocando a necessidade de criar novos pontos de referência. É neste sentido, dentro dos conceitos da actual sociedade de consumo, onde o turismo cultural se assume como actividade emergente e os museus como edifícios mediáticos, que se torna relevante a abordagem da temática deste estudo. Este estudo admite, assim, como principal objectivo constituir-se como contributo ao estudo da Arquitectura Museológica e da sua relação com Evolução da História da Cidade. É, porém, uma realidade que o tema dos edifícios museais tem sido campo de uma ampla investigação e produção teórica. Contudo, poucos focam na sua abordagem teórica a relação entre o Museu e a evolução e desenvolvimento da cidade. O trabalho compreende essencialmente dois grandes momentos. Primeiramente aborda o desenvolvimento tipológico do Museu ao longo da história e a sua relação com evolução e ideia de cidade. Numa abordagem que pretende contextualizar os Museus a ser estudados como caso de estudo na segunda parte do trabalho. O ESPAÇO DO MUSEU – A CIDADE Se, no Renascimento em projectos como a Galleria degli Uffizi, - que pronuncia a intenção de integrar um percurso da cidade numa clara alusão á continuidade de um plano urbano- , ou em 1 projectos como singulares a Galleria degli Antichi 1 e o Complesso dell’Ambrosiana, os museus se assumem como projectos polarizadores e de estruturação urbana, as realizações museais do final do séc. XVII, e que se prolongam durante o séc. XVIII, caracterizaram-se por se configurarem como Palácios. Aqui, numa atitude de espírito claramente iluminista passou-se a expor arte, relegando ao Museu as potencialidades outrora alçadas. Na cidade de oitocentos, e através dos contributos de teóricos como Sturm, Boullé, ou Durand, o conceito tipológico de Museu voltaria a alterar-se2. O Museu – Palácio dá assim lugar ao Museu – Templo, ícone da cidade, que se revelaria como obra pública de relevo em projectos como o Musée du Louvre e o Museo del Prado. Contudo, e apesar da clara afirmação dada aqui do museu enquanto arquitectura de cidade e da sua confirmação como arma de demonstração do poder instalado, seria o Altes Museum de Schinkel a revelar-se como projecto charneira da cidade de oitocentos. Localizado na degradada ilha de Lustgarten, o projecto partiu desde logo com o objectivo de reconverter esta área e de assumir um evidente classicismo, comprovado pela colunata da fachada principal. Porém, embora demonstrando um carácter monumental, a colunata permitiu um prolongamento da cidade para o interior do Museu, que se abre para uma nova praça. Assim, e apesar de tipologicamente o museu de Schinkel ser inovador3, considera-se este edifício como museu charneira pela forma como proporcionou a criação de um novo espaço da cidade, e pela capacidade demonstrada de reestruturação e reabilitação de uma área desqualificada de uma cidade. Esta zona reconvertida de Berlim iria dar lugar à primeira ilha de museus, ao incluir em si o Bode Museum, o Neues Museum e o Pergamon Museum. Este aglomerado urbano de edifícios museológicos, implantados numa mesma área da cidade, gera um efeito de dinamização urbana que pode indiciar um novo rumo de desenvolvimento urbano. O séc. XX foi palco de uma reflexão intensa em relação ao tema museal e da sua relação com o meio urbano. Se, por um lado, se assistiu ao emergir de arquitectura efémera, como as construções das Exposições Universais, fruto das possibilidades que a industrialização e respectiva estandardização, a ideia de Monumentalidade, e principalmente a forte presença dos edifícios museais na cidade, predominaram como principal opção dos arquitectos na primeira metade do século. O Museum of Modern Art (1939), dos arquitectos Philip L. Goodwin e Edward D. Stone, apresentou-se como uma das iniciais excepções a esta ideia de monumentalidade. Contudo, apesar de assumir com grande clareza na sua arquitectura formal os dogmas do Estilo Internacional, a relação que estabelece com a cidade contradiz as ideias de Le Corbusier e da Carta de Atenas, que considerava a separação de funções da cidade como chave da urbanística. 1 Sobre este assunto ver PELLEGRINO, Bonaretti, La città del Museo – il progetto del museu tra tradizione del tipo e idea della città, Edifir Edizione Firenze, 2004, p.97. 2 Sobre este assunto ver PEVSNER, Nikolaus, “Museos”, in Historia de las Tipologias Arquitectónicas, Editorial Gustavo Gil, Barcelona, 1980, p.153. 3 Ver BERGDOLL, Barry, Karl Friedrich Schinkel: An architecture for Prussia, Rizzoli International Publication, New York, 1994. 2 Considerado o principal precursor do white-cube, assumiu a pretensão de se assemelhar a um edifício de escritórios nova-iorquino, numa opção que contrapõe museus como o Guggenheim Museum, de Frank Lloyd Wright, ou o Whitney Museum of American Art, de Marcel Breuer. No seguimento do conceito destes museus, o pós-modernismo viria evidenciar a mesma posição, demonstrando com clareza em projectos como Allen Art Museum (1973-1977) de Venturi e Rauch, que o Museu era um edifício de excepção, que pretendia sobressair na envolvente marcando a sua passagem pela história da cidade. Pode-se afirmar que o Museu enquanto lugar urbano, alterou a sua importância enquanto agente transformador urbano ao longo da História, tal como a formalização do edifício e a sua tipologia sofreram alterações. No entanto, esta ideia de que o Museu é um edifício singular, e por isso, capaz de proporcionar desenvolvimentos urbanos é uma linha relativamente constante desde o Renascimento. Actualmente, resultado do ritmo acelerado de competição que se estabeleceu entre cidades, há o reforçar desta ideia, com uma fortificada procura do Museu enquanto edifício iconográfico e emblemático, naquela que se converteu numa preocupação urbanística. Assim, de forma recorrente e em todo o planeta, cidades procuram incessantemente um “arquitecto estrela” que se assegura de assinar uma imagem de “marca”. A questão que se coloca é se serão esses os novos projectos capazes de transformar as cidades, e se deverão os museus ser sempre agentes de transformação. CASOS DE ESTUDO Pretende-se uma análise comparativa de museus de referência, focando o impacto que proporcionaram nas cidades em que se inserem. A escolha dos casos a estudar teve como premissa a selecção de Museus e Centros de Arte em cidades de realidades distintas, que têm em comum o facto de não serem as principais do seu país, apesar de se afirmarem fortemente num panorama regional. KIMBELL ART MUSEUM Localizado na cidade texana de Fort Worth nos Estados Unidos, o Kimbell Art Museum surge, em 1972, numa área periférica da cidade, actualmente conhecida como Museum District. Apesar da aparente unidade que a expressão pode indiciar, trata-se de uma zona que compilou em si uma diversidade de usos de forma fragmentada, desprovida de um planeamento que visasse um crescimento sustentável da cidade. De espírito inevitavelmente contextualista Louis Kahn teve em Fort Worth talvez o seu maior desafio, ao construir num espaço desfragmentado e sem referências. Com somente o Amon Carter Museum defronte, o arquitecto foi levado a descobrir como ponte de contexto o elemento natural preponderante 3 – a luz solar. Concebe assim, um projecto centrado sobre si mesmo, sobre espaço urbano que cria, e sobre a luz texana, remontando a elementos clássicos sem transparecer a ideia de monumentalidade de um Museu – Templo. Após a construção do Kimbell Art Museum, e inevitavelmente seguindo o exemplo europeu onde Museus se fixavam numa mesma zona da cidade, outros equipamentos se projectaram sucessivamente para esta área, como é exemplo o Museum of Modern Art, do arquitecto Tadao Ando. O crescimento desmesurado da área urbana de Fort Worth levou à aglutinação da zona do Museum District, outrora área periférica. Contudo, este processo pautou-se pela falta de estratégia de desenvolvimento urbano. Neste sentido, a cidade que nos anos 70 expressava a intenção de criar um pólo estratégico naquela zona, que incluía um plano para pedonalização do centro da cidade e da sua ligação com esta área levado a cabo por Gruen4, tornou-se um pólo de espaços culturais de grande potencial, rodeado por um subúrbio habitacional caracteristicamente Norte – Americano. Pode-se concluir, assim, que a criação de um conjunto de equipamentos âncora, incluindo o Kimbell Art Museum, foi para Fort Worth um importante impulso de desenvolvimento cultural e urbano, mas foi, contudo, pensado isoladamente e teve em conta um modelo de cidade desacertado. CENTRO GALEGO DE ARTE CONTEMPORÂNEA Projectado pelo arquitecto português Álvaro Siza Vieira (1933), o Centro Galego de Arte Contemporânea situa-se numa área limite do centro histórico da cidade galega de Santiago de Compostela. O projecto integra-se no Plano Especial de Conservação do Conjunto Histórico de Santiago, cujo principal objectivo consistiu na preservação do conjunto patrimonial da cidade declarada, em 1985, Património da Humanidade pela UNESCO. O CGAC foi, neste sentido, pensado como elemento chave para a reabilitação de uma área desordenada e degradada da cidade, compreendida entre o Convento de São Roque e o Convento de Santo Domingo de Bonaval. Entre o Convento e a cidade, a presença dos volumes em granito do museu surge como natural, mas de forte carácter. A complexidade dos espaços permite flexibilidade mas delimita a liberdade, conferindo aos espaços um carácter marcante, que contraria a ideia tanto de museu – white cube5 como a de museu – contentor, do qual o Beaubourg em Paris é grande exemplo6. A perspectiva de Siza é, assim, outra, pressupõe que mesmo uma instalação deve estabelecer uma relação com um espaço específico, e que o Museu deve desenhar a cidade, apelando à sua continuidade. Neste sentido, Siza oferece-nos continuidade, parece não aspirar ao “estrelato” que 4 Sobre este assunto ver JACOBS, Jane, Morte e Vida de grandes cidades, Martins Fontes, São Paulo, 2001, p.383-385. 5 O conceito do white cube consiste fundamentalmente, num espaço primário e neutro a ser alterado pela arte, ver O’DOHERTY, Brian, Inside the White Cube. The Ideology of the Gallery Space, expanded edition, University of California Press, Los Angeles, 1999, p. 7 6 Siza argumenta ainda que o Centro Georges Pompidou, apesar de aparentar uma grande flexibilidade espacial se torna complicado na organização de exposições, em FRAMPTON, Kenneth, Álvaro Siza – complete Works, Phaidon, Press Limited, Hong Kong, 2000, p.46. 4 a construção de um Museu ícone sugere, constrói tendo em vista um lugar e tempo específicos, mas pensando no todo construído e temporal. O CGAC transforma Santiago de Compostela, em diversas escalas. De forma particular, revitaliza e reabilita totalmente esta zona da cidade. De um modo mais abrangente, transforma, não directamente em termos urbanos, mas recolocando Santiago como capital cultural da Galiza e influindo indubitavelmente para a nomeação de Santiago como Capital Europeia da Cultura, no ano de 2000. O objectivo alcançado de relacionar a imagem de Santiago com a Cultura originaria, cerca de 1999, a intenção de construir numa área periférica da cidade, a Cidade da Cultura da Galiza de Peter Einsenman (1932). Esta atitude revela uma alteração de estratégia urbana municipal, onde a “Cidade da Cultura Galega” se localiza a quatro quilómetros da “Santiago, capital cultural da Galiza”. Esta opção demonstra contudo, que o CGAC não preencheu o lugar de “ícone cultural” da cidade, actualmente aspirado por diversas cidades (especialmente após o fenómeno do Guggenheim de Bilbau). KUNSTHAUS BREGENZ A cidade de Bregenz desenvolve-se entre a dicotomia da proximidade com lago, e a complexidade de construir na acidentada topografia dos Alpes. Localizado na marginal da cidade, conformada essencialmente por edifícios do final do séc. XIX, o Kunsthaus Bregenz (KUB) é ladeado pelo Voralberg Landestheater7 (que inclui o Landesmuseum) e pelo edifício dos Correios, de compleição neo-clássica. Com a “cidade antiga” como pano de fundo e lago Constança defronte, Peter Zumthor assume o local como ponte de confluência entre realidades diversas. Concebe por isso, dois edifícios de diferentes escalas. Um edifício administrativo, que se relaciona mais directamente, com a malha urbana da parte antiga da cidade, e um edifício principal de exposições, influenciado pelas proporções da ritmada frente lago. Cria, assim, entre ambos, um vazio urbano que os relaciona, conformando uma praça. O edifício principal é um cubo, uma torre de vidro visível, e de todas as formas consciente e independente dos restantes edifícios. Zumthor assume o edifício, sem base nem topo 8, numa abordagem minimalista enfatizada pelos materiais e pela manipulação da luz. O despojamento e procura de sobriedade são neste sentido notórios, porém mais do que uma tentativa de seguimento dos conceitos do white-cube, a sua atitude minimalista pode ser lida como uma tentativa de contraponto em relação ao conceito de “museu espectáculo”. O KUB, apesar do seu minimalismo formal, afirma-se como um elemento icónico da cidade de Bregenz. A sua criação, em conjunto com a construção do edifício de Congressos e Festival de 7 O teatro foi fundado cerca de 1946, sendo reconstruído entre 1993 e 1995, pelo arquitecto Helmut Küss. 8 Zumthor admite que foi questionado pelo Colégio dos Arquitectos de Voralberg, se não estaria a exagerar no nível de abstracção do edifício, em GERHARD, Mack, Art museums into the 21st century; with a contribuition by Harald Szeeman; transl Michael Robinson, Birkhäuser cop, Boston, 1999, p.100. 5 Bregenz (1992 – 2006) e a criação do recém-construído porto (2008), foi o primeiro passo para a transformação e reestruturação da marginal do lago, num desígnio que pode ler-se em inúmeras cidades europeias, que procuraram (re)estabelecer relações com rios, lagos ou mares, através de elementos icónicos de transformação e valorização das cidades. BALTIC CENTER FOR CONTEMPORARY ART Cedo se começou a delinear o carácter industrial da cidade britânica de Gateshead, sendo que sua paisagem urbana foi desde sempre “(…) extensivamente marcada pelos detritos da mineração (…)” e “(…) trespassada por caminhos-de-ferro que levavam carvão das grutas para o rio.”9 Situado na margem Sul do rio Tyne, o edifício da Baltic Center for Contemporay Art, projecto do gabinete Ellis Williams Architects, proporcionou a reconversão da antiga fábrica de moagem Baltic Flour Mills (1950), edifício representativo da outrora florescente Era Industrial desta cidade. Este projecto aproxima-se de edifícios museais como a paradigmática Tate Modern (1998-2000) de Londres dos arquitectos Herzog & de Meuron, através da flexibilidade e simplicidade interna, da permanência da identidade do edifício, e a da regeneração urbana alcançada no cais de Gateshead, demonstrando como um equipamento cultural pode acelerar o renascimento urbano de uma cidade. Inseriu-se dentro de um Plano ambicioso10, e por isso de longa duração, que viu no BALTIC, o primeiro passo para concretização de uma ideia de cidade. Quando se fala por isso em transformações ocorridas após a inserção deste Museu na cidade, abordam-se essencialmente transformações ainda a decorrer e de contornos não delimitáveis. Algumas são as obras já concluídas, como a Gateshead Millennium Bridge, The Sage Gateshead, a Baltic Square, e a Baltic Quay, uma zona residencial que incluindo algumas unidades hoteleira onde adjacentemente começa a crescer o Baltic Business Park. MUSEU GRÃO VASCO Localizado no Paço Episcopal, ou Paço dos três Escalões num edifício contíguo à Sé, no centro histórico da cidade de Viseu, o edifício do Museu Grão Vasco foi alvo de Reabilitação, entre 2001 e 2003, por parte do arquitecto português Eduardo Souto de Moura (1952). Apesar de coincidir temporalmente com o decorrer da transformação da cidade levada a cabo pelo Programa Polis de Viseu, a intenção de reabilitar o edifício do Museu Grão de Vasco, não se integrou neste programa de desenvolvimento da cidade, mas prendeu-se essencialmente com a necessidade de encontrar soluções arquitectónicas que suprissem as necessidades funcionais 9 TAYLOR, Simon, David B. Lovie, Gateshead: Architecture in a Changing English Urban Landscape, English Heritage,Newcastle, 2004, p.3. (trad.) 10 Assume-se como um projecto de 250 milhões de libras, tornando-se num dos mais ambiciosos projectos de arte, cultura e desenvolvimento da Europa. 6 do Museu. Esta opção de reabilitar o edifício, que havia sido parcamente remodelado no início do século XX, vai de encontro à preferência generalizada de países europeus, que privilegiam a implementação de programas museais em edifícios antigos, em detrimento das construções de raiz. O Museu configura em conjunto com a Sé de Viseu e a Igreja da Misericórdia, a Praça da Sé, no cume da cidade de Viseu, espaço que desde cedo se assumiu como espaço de estada e simultaneamente de passagem. Neste sentido, e se nos casos de estudo anteriores, os Museus proporcionaram directa ou indirectamente transformações na cidade em que se inseriram, o projecto de renovação do Museu Grão Vasco pautou-se por uma inalteração urbana, mesmo à escala da Praça. Proporcionou contudo, a completa modificação do espaço museal, que resultou num aumento do número médio de visitantes por ano um incremento de 17,9% quando comparando os números antes e depois da reabilitação do edifício, expressando com alguma clareza as potencialidades que estarão por explorar. ANÁLISE COMPARATIVA Com vista a compreender em que medida os Museus se assumem como agentes transformadores das cidades que integram, estabelecem-se em seguida, algumas comparações entre os casos de estudo através de alguns dados concretos. Em primeiro lugar, pretende-se a comparação entre o número de visitantes do Museu e o número de habitantes da cidade, no sentido de compreender se o número de visitantes do museu excede 464.247 Kimbell Art Museum CGAC habitantes Kunsthaus Bregenz BALTIC 37.965 47.250 78.403 55.452 26.725 71.428 92.919 233.214 600.000 550.000 500.000 450.000 400.000 350.000 300.000 250.000 200.000 150.000 100.000 50.000 0 534.694 a dimensão habitacional da cidade. Museu Grão Vasco visitantes 1. Comparação entre número de visitantes dos Museus e número de habitantes das respectivas cidades. 7 No gráfico 1, e olhando os resultados de forma individual, o Kimbell Art Museum apresenta um número de visitantes relativamente baixo comparativamente com a dimensão da cidade em que se encontra, este tipo de resultado é igualmente verificado no Museu Grão de Vasco de Viseu, e no Centro Galego de Santiago de Compostela. Inversamente o Baltic Center of Contemporary Art apresenta uma proporção oposta, com o número de visitantes a exceder em aproximadamente seis vezes o número de habitantes da cidade de Gateshead, revelando uma impressionante capacidade de atracção de pessoas e de dinamização. Kunsthaus Bregenz apresenta números semelhantes, numa cidade de dimensões relativamente inferiores em relação às anteriores, o museu apresenta um número de visitantes duas vezes superior ao número de habitantes. Em segundo lugar, procede-se ao estabelecimento da relação entre o número de visitantes da cidade e número de visitantes dos Museus, com vista a compreender o potencial turístico que as cidades comportam. KAM - Fort Worth KUB - Bregenz BALTIC - Gateshead Museu Grão Vasco Viseu 4% 24% 96% 76% 24% 11% 17% 76% CGAC - Santiago de Compostela 83% 89% visitantes do museu/ano visitantes apenas da cidade/ano 2. Número de turistas que frequentam a cidade e que visitam os respectivos Museus. As proporções acima apresentadas demonstram, no geral, semelhanças com a comparação efectuada no gráfico 1. Assim, os visitantes das cidades de Fort Worth, Santiago de Compostela não visitam na sua maioria os respectivos Museus estudados, revelando uma incapacidade destes Museus de cativarem visitantes, em relação às potencialidades turísticas que as cidades apresentam. Muitos são os factores que podem levar a esta discrepância. No caso de Santiago de Compostela, a cidade é visitada por um grande número de pessoas, sendo que o seu turismo é predominante religioso, factor que pode justificar as proporções apresentadas. O gráfico de resultados mais negativo, referente ao museu da cidade de Fort Worth, é de algum modo uma 8 surpreendente, visto que o Museu se integra num Parque de Museus reconhecido mundialmente, demonstrando a falta de estratégia e de ligação com a cidade que havia já sido enunciada. Os resultados mais positivos são o de Kunsthaus Bregenz, Museu Grão Vasco e BALTIC, demonstrando que apesar do resultado de Kunsthaus Bregenz não ser tão expressivo como o do BALTIC, estes museus são efectivamente equipamentos de relevo das cidades que integram. CONCLUSÃO O Museu é assumidamente um elemento de excepção. Considera-se por isso, possível a transformação de uma cidade através de um singular edifício museal. Contudo, uma arquitectura de ruptura com a imagem existente pode proporcionar um efeito de transformação mais alargado e imediato, sendo que a opção de continuação de uma imagem urbana, tende a transformar a outra escala e de forma mais contida. Um edifício que opte pela continuação da imagem urbana, para obter transformações de escalas mais alargadas, terá de integrar um Plano abrangente de Reestruturação, e deverá constituir-se um museu – chave dessa transformação. Por outro lado, um museu que se estabelece como ícone desde o inicio terá de integrar um mesmo Plano de urbanização mais abrangente, de forma a conseguir interligar as incríveis transformações que proporcionou com a restante cidade em constante desenvolvimento. Neste sentido o projecto urbanístico releva-se fundamental. Há na realidade que assumir os novos paradigmas urbanos em que a sociedade se envolve, redefinir os processos de urbanização e os seus conceitos e discutir novas estratégias de intervenção. Assim, o Urbanismo tem de passar de ser a “ponte” entre as partes e a actuar em todas as etapas, entrando na preocupação e compromisso urbano, desde as diversas escalas de projecto, à definição de programas, de prioridades, de estratégias. É necessário ultrapassar as debilidades de um projecto urbanístico tradicional, que, quando afronta temas complexos que exigem períodos largos, necessitam de estratégias consensuais que superem “tempos políticos”. 9