UMA NOVA ABORDAGEM NO ESTUDO DOS INSET

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IFMG – Campus Ouro Preto
Laboratório de Pesquisas Ambientais – Projeto de Extensão:
UMA NOVA ABORDAGEM NO ESTUDO DOS INSETOS.
CAMARGO, P.L.T. 1
FONTENELLE, J.C.R. 2
GOMES, A.P.F.M.3
MIRANDA, L.4
NEVES, E.5
RODRIGUES, V.6
1- INTRODUÇÃO
Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (1992), biodiversidade é o conjunto dos mais diversos
tipos de vida existentes em nosso planeta, e sua preservação é algo fundamental para a manutenção da
vida. Porém esta diversidade de espécies tem sido cada vez mais afetada pela falta de planejamento do
desenvolvimento humano, culminando desta forma com um número muito expressivo de espécies em
extinção (34000 plantas e 5200 animais) (MMA 2002).
Uma das principais medidas economicamente viáveis é o investimento em educação ambiental como
forma real de preservação e conservação da natureza. Conforme o art. 1º da lei 9.795/99, que dispõe
sobre a obrigatoriedade de implementação da educação ambiental no ensino formal brasileiro:
Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem
valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Portanto, com base na própria legislação, pode-se deduzir que a educação ambiental deve ser um modelo
de ensino voltado para a preservação da biodiversidade, algo que nem sempre ocorre, pois diversas
pessoas tendem a explicar e tocar apenas em assuntos que lhes desperte curiosidade ou identificação.
Com os professores de Ciências isto não é diferente, uma vez que muitos destes acabam por deixar de
lado, ou apenas citam de forma resumida, conteúdos programáticos que despertem uma certa repugnância
visual ou comportamental (Costa Neto, 1999). Este é o caso da classe Insecta, que constitui a maior
classe de animais do planeta, entre 5 e 10 milhões de espécies, que muitas vezes acaba por causar
aversão em diversas pessoas (Garcia, 1995).
Sem os insetos a vida como conhecemos na Terra tenderia a desaparecer, pois estes animais têm uma
relação íntima com as mais diversas ordens e classes de seres vivos, sendo fundamentais muitas vezes
para a reprodução (diversas espécies de plantas), alimentação (Buzzi e Miyazaki, 1999) ou até, no caso
dos seres humanos, como um componente econômico ecologicamente viável.
A despeito de toda sua importância, os insetos não gozam de boa reputação. Por exemplo, no dicionário
Aurélio (2004) encontra-se uma definição técnica para inseto (no singular) como sendo uma pessoa
insignificante ou desprezível. Percebe-se, portanto, um significado etnológico para esta classe de artrópode
totalmente diferente do esperado.
Infelizmente, o saber técnico-científico procura desqualificar e desvalorizar todos os outros saberes e
práticas (Castro, 2001), sendo que muito do conhecimento e até do manejo dos mais diferentes recursos
naturais podem ser feitos pelo conhecimento do povo (Marques, 1991).
(Footnotes)
1
Escola Municipal Monsenhor Rafael, e-mail: [email protected]
2
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, CODAMB e-mail: [email protected]
3
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, estudante de geografia, e-mail: [email protected]
4
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, estudante de TGQ, e-mail: [email protected]
5
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, estudante de TGQ, e-mail: [email protected]
6
Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, estudante de TGQ, e-mail: [email protected]
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Os estudos das mais diversas relações entre as informações biológicas populares e as acadêmicas
estão inseridos na etnobiologia, que é a área da biologia que estuda o conhecimento e os conceitos que
cada sociedade desenvolve em relação à fauna e à flora locais (Posey, 1986).
Begossi (2002) vai além desta definição e descreve a etnobiologia como o ramo da ciência que busca
entender os processos de interação das sociedades e seus recursos naturais, em especial a percepção,
seus conhecimento e usos, incluindo o manejo dos mais diferentes recursos.
Já Marques (2002) mostra que o ramo da etnobiologia que estuda os conhecimentos, as representações
afetivas e os comportamentos que intermedeiam as relações entre as populações humanas e as espécies
de animais dos ecossistemas que as incluem, chama-se etnozoologia.
No caso específico deste trabalho, a pesquisa de como os estudantes de ensino fundamental do 9º ano se
comporta ou tendem a se comportar em relação às mais diversas definições do que viria a ser “insetos”
poderá ser, primeiro, uma melhor forma de entender o que a classe Insecta representa para os alunos,
possibilitando a criação de uma nova forma de ensino que retrate a real importância dos insetos e, segundo,
uma forma viável de preservação zoológica, pois somente quando existe o entendimento e compreensão
corretos por parte da sociedade é que as políticas públicas de preservação ecológica tendem a conseguir
de fato o seu objetivo: a conservação da biodiversidade
2- OBJETIVO
Avaliar de que forma os estudantes do ensino fundamental da área urbana da cidade de Ouro Preto/MG
vêem os Insetos e quais são suas atitudes com relação aos mesmos, para, em parceria com os próprios
estudantes, contribuir para a preservação da biodiversidade desta classe nas mais diferente esferas da
sociedade do referido local.
3- MATERIAIS E MÉTODOS
Inicialmente foi realizado um levantamento das escolas Municipais de Ouro Preto e distritos que tinham
alunos matriculados no nono ano.
Logo em seguida entrou-se em contato com as escolas para que seus respectivos diretores avaliassem
se seria viável ou não a participação de suas escolas no referido projeto, todas as escolas demonstraram
interesse em participar.
Foi feito um levantamento do número de alunos matriculados no nono ano, dando um total de 383 alunos
divididos em 13 escolas, onde cada aluno responderia o questionário 1, com perguntas a cerca do tema.
Após esta fase, por ordem de sorteios, iniciaram-se as visitas ao IFMG- Campus Ouro Preto que foram
divididas em três etapas.
Na 1º etapa, eles puderam conhecer as instalações do Instituto. Durante a visita foram informados sobre
os cursos técnicos, e incentivados a fazerem a prova.
Na 2° etapa, foram trazidos ao Laboratório de Pesquisas Ambientais e divididos em duas turmas, onde
tiveram uma aula expositiva acerca da importância da conservação dos insetos para a preservação da
biodiversidade, e conheceram as ordens de alguns insetos, como: abelha (Hymenoptera), barata (Blattaria),
besouro (Coleoptera), borboleta (Lepidoptera), cigarra (Hemíptera), formiga (Hemynoptera), gafanhoto
(Orthoptera), mosca (Díptera), percevejo (Hemíptera), sua importância econômica, alimentação, habitat,
predadores, reprodução e diversidade.
E a outra conheceu a coleção entomológica do Laboratório, primeiro a olho nu e depois com o auxilio de
uma lupa, também conheceram as caixas com insetos e foi montada uma mesa na qual eram explicados
mais alguns insetos da coleção.
Depois de todos já terem participado das atividades propostas, passaram para 3° e última etapa do projeto,
responder ao questionário 2 (Anexo II) igual ao questionário 1 (Anexo I), porém com as perguntas em
ordens contrárias.
No final dos trabalhos foi entregue aos alunos uma cartilha feita pelos bolsistas a respeito de mais algumas
ordens de insetos além dos que já tinham sido explicados, como bicho-pau (Phasmatodea), cupim
(Isoptera), libélula (Odonata), louva-a-deus (Mantodea) e algumas curiosidades acerca do tema.
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4-RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tendo em vista que o projeto ainda está em andamento, comentaremos os resultados apenas das 2
primeiras escolas a visitarem o campus, Padre Carmélio e Professora Juventina Drumonnd.
Na 1ª escola, 100% dos alunos ao serem questionados sobre o que fazem com os insetos ao vê-los em
casa respondem que os matam, enquanto na 2ª escola, isso acontece com 70% dos alunos. Isso é um
resultado, infelizmente, normal, tendo em vista o enorme número de lendas sobre estes animais que nos
cercam em nosso dia a dia.
O preocupante, porém é que mesmo após participarem do projeto, ao serem indagados sobre este mesmo
questionamento, 83,33% dos alunos da 1ª escola continuaram respondendo que matam os animais enquanto
os mesmos 70% dos alunos permanecem com a mesma resposta.
Este é um fator que precisa ser melhor estudado pelos membros do projeto e observar se este fenômeno
será recorrente em outras escolas, pois em caso positivo, o projeto necessitará ser reavaliado, pois pode
não estar cumprindo um dos seus principais objetivos.
Ao serem questionados sobre quais insetos mais aparecem em suas respectivas casas, os alunos do
Padre Carmélio citaram 25 animais, sendo que destes, 20% não representaram insetos. Porém, ao
responderem o questionário ao final da visita, todos os animais agora citados eram da classe Insecta.
Na escola Professora Juventina Drumonnd, dos 94 animais citados ao se responder o mesmo
questionamento, viu-se que 13,83 % responderam diferentes animais além dos pedidos insetos e após a
visita, somente 7,5% das citações representavam animais de outras classes ou filos.
Com relação a este segundo questionamento, pôde- se verificar o resultado imediato do projeto, uma vez
que o número relativo de animais citados equivocadamente diminuiu.
5- CONCLUSÃO
Como o projeto ainda está em andamento, ainda é cedo para se fazer conclusões, porém verifica-se uma
relativa alegria e empenho por parte dos alunos presentes na visita, o que pode gerar um aumento do
número de alunos oriundos da rede municipal de ensino dentre os inscritos para a prova do Instituto.
Outro fator fundamental é que se observa um aumento do conhecimento por parte dos alunos do que são
insetos e quais suas diferenças, porém o relativo extermínio sem necessidade que esta classe ainda é
vítima permanece inalterado, sugerindo que outras abordagens precisam ser pensadas para se atingir
uma real preservação desta classe e por conseqüência da biodiversidade local.
6- REFERÊNCIAS
BEGOSSI, A.; HANAZAKI, N. & SILVANO, R. A. M. 2002. Ecologia Humana, Etnoecologia e Conservação.
In: Amorozo, M. C. M.; Ming, L.C. & Silva, S. M. P. (eds.). Métodos de Coleta e Análise de Dados em
Etnobiologia, Etnoecologia e Disciplinas Correlatas. Rio Claro: UNESP/SBEE.
BRASIL MMA. A Convenção sobre Diversidade Biológica - CDB, Cópia do Decreto Legislativo
nº 2, de 5 de junho de 1992. MMA. Brasília, 2002, p.30.
CASTRO, E. 2001. Território, biodiversidade e saberes de populações tradicionais. In: DIEGUES,
A.C. (Org.). Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. 2ª
edição, NUPAUB-USP.
COSTA NETO, E. M. 1999. A etnocategoria “inseto” e a hipótese da ambivalência entomoprojetiva.
Acta Biológica Leopoldensia, São Leopoldo, v. 21, n.1, p.7-14.
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GARCIA, E. S. Biodiversidade, Biotecnologia e Saúde. Cad. Saúde Públ, Rio de Janeiro, 11 (3):
495-500, jul/set, 1995.
HOLANDA, A. B. 2003. Dicionário Aurélio - 25ª ed. - São Paulo: Melhoramentos.
MARQUES, J. G. W. 1991. Aspectos Ecológicos na Etnoictiologia dos Pescadores do
Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba, Alagoas. Tese. UNICAMP. SP. 274 pp.
__________, 2002. O olhar (des) multiplicado. O papel do interdisciplinar e do qualitativo na pesquisa
etnobiológica e etnoecológica. In: Amorozo, M. C. M.; Mingg, L. C. & Silva, S. M. P. (eds.). Métodos
de coleta e análise de dados em etnobiologia, etnoecologia e disciplinas correlatas. UNESP/
CNPq, Rio Claro, Brasil, p.31-46.
POSEY, D. A. 1986. Etnobiologia: Teoria e Prática. In: Ribeiro, D. (ed.). Suma Etnológica Brasileira.
Petrópolis: FINEP/Vozes, v. 1.
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