Introdução à história de Santos A história de Santos é parte

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Introdução à história de Santos
A história de Santos é parte integrante da história do Brasil. Nosso país foi colônia de
Portugal desde 1500, durante 322 anos. Somente a partir de 1822, conseguimos nossa
independência. Com isso, o Brasil tornou-se um país com governo monárquico até 1889, quando foi
proclamada a República.
A capitania de São Vicente, onde estava localizada a vila e atual cidade de Santos, teve
grande desenvolvimento durante o período colonial: os engenhos de cana-de-açúcar e o porto foram
fatores essenciais para esse sucesso.
No período monárquico, Santos foi palco de visitas constantes do imperador, cidade natal
do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, e um poderoso reduto do
movimento abolicionista.
Durante o período Republicano, nossa cidade foi celeiro de grandes homens, sedentos por
liberdade, resistiu a uma intervenção federal e, após anos de luta, retornou ao cenário político do
país com o sindicalismo portuário.
Atualmente, por ter o maior porto da América Latina, Santos tem destaque mundial.
A pré-história de Santos
Homens do sambaqui
A palavra SAMBAQUI é de origem indígena e significa TAMBÁ (concha) + KI (depósito).
Encontrados em quase toda a costa brasileira, os sambaquis apresentam-se sob a forma de
pequenas elevações formadas, sobretudo, de restos de alimentos de origem animal (carapaças de
moluscos, fragmentos de ossos de répteis, aves, peixes e mamíferos), esqueletos humanos, artefatos
de pedra, concha e cerâmica, vestígio de fogueira e outras numerosas evidências da presença do
homem primitivo na área litorânea da restinga. É uma espécie de morro que media de dois a trinta
metros de altura. Era construído e habitado por grupos sociais pré-históricos de pescadores,
coletores que se instalaram no litoral brasileiro, há pelo menos seis mil anos, vindos provavelmente
do sul da América do Sul.
Esses grupos eram semi-nômades e dependentes dos recursos aquáticos e por isto escolhiam
as regiões próximas de lagoas para viver. Os sambaquieiros viviam em cima das elevações que
tinham média de 90 metros de extensão e de onde podiam controlar o terreno em volta, que
provavelmente incluía outros sambaquis. Os sítios eram formados pelo acúmulo gradual e
sistemático de conchas, restos alimentares, adornos e diversos tipos de utensílios do dia-a-dia, como
lâminas de machado, lascas cortantes, pontas e anzóis de osso e conchas perfuradas usadas como
raspadores. As marcas de estaca encontradas em vários sambaquis indicam que os povos construíam
casas para viver. Nos morros também eram realizados sepultamentos. Muitas dessas escavações
feitas nesse tipo de sítio em diversas partes da costa brasileira revelaram esqueletos de indivíduos
de até trinta e cinco anos com ossadas pintadas e, às vezes, cercados de estacas e adornos. Não se
sabe bem a causa do desaparecimento dos povos que habitavam os sambaquis. A hipótese mais
provável é que os Homens do Sambaqui tenham sido dizimados há cerca de mil anos em disputas
por território ou então incorporados pelas tribos guerreiras provenientes do interior do país, que
ocupavam toda a costa brasileira na época da chegada dos portugueses em terras brasileiras.
A ilha de São Vicente, onde se localiza a cidade de Santos, também foi habitada por esses
homens que vieram da Ásia há aproximadamente 5000 anos. Os sambaquis da nossa região foram
destruídos, primeiramente, pelos colonizadores portugueses que se utilizavam desse material , que
era confundido com cal, nas construções antigas. Quando da construção da Rodovia dos Imigrantes
foi destruído um sambaqui fluvial próximo do Rio dos Pilões.
Atualmente, os sambaquis estão protegidos por lei.
Vestígios de Sambaquis
Nações indígenas da região
O Trecho da Terra da Vera Cruz era habitado pela grande família Tupi-guarani.
Com a ambição de dominar a orla marítima devido à abundância de peixes, moluscos,
crustáceos e sal, os Tupi-guaranis durante vários séculos conseguiram expulsar os habitantes do
litoral, aos quais chamavam Tapuias ("os outros", aqueles que não falam a nossa língua e não têm
os nossos hábitos)
Em 1500, os Tupi-guaranis dominavam grande parte da costa entre o Ceará e Cananéia e
ainda o litoral situado entre Cananéia e a Lagoa dos Patos, para além das notáveis regiões no Sertão.
Nas terras que constituíam a Capitania de São Vicente, havia a leste os Tamoios, também
chamados Tupinanbas. Ao sul e a sudoeste, encontravam-se os carijós; na costa, próximo ao porto
de São Vicente, nos campos de Piratininga e no Vale do Tietê estavam os Tupiniquins.
Os índios viviam em bandos. Eram nômades, por isso a dificuldade em se determinar com
exatidão os pontos onde se fixavam por algum tempo.
Nos tempos da fundação da vila de São Vicente, as mais nobres famílias Tupis dominavam
as terras que Martim Afonso de Souza tomaria em nome do rei de Portugal. Os Tupis eram
formados por diversos grupos indígenas que, em sua maioria, viviam em guerra.
Os Tupi-guaranis caracterizavam-se pela prática de uma horticultura de raízes, embora a
pesca e a caça fossem igualmente muito importantes. De acordo com as condições ecológicas os
Tupi-guaranis optavam pela mandioca e pelo milho.
Além destes alimentos básicos plantavam batata-doce, feijão, cará (inhame), jerimum
(abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares podem realçar-se o tabaco, o
algodão, a purunga (cabaça), jenipapo e urucu (corante).
Devido à maior quantidade de alimentos, a caça era mais a abundante e diversificada nas
proximidades dos rios e lagoas, pelo que nestas zonas mais ricas se caçavam "facilmente" pacas,
veados, caititus, antas, macacos, tamanduás, queixadas, cutias, aves, tatus, répteis, preguiça e
capivaras.
A pesca era a atividade preferida das tribos em termos de tempo e dispêndio de energia em
relação à caça.
A cerâmica permitiu a preparação e conservação dos alimentos; Esta se caracterizava pela
técnica do alisado simples e pela pintura (pintura polícroma com linhas vermelhas e pretas sobre
fundo branco). Eles fabricavam com abundância as grandes igaçabas (potes).
Para o fabrico de jangadas e canoas utilizavam madeiras leves. Para os instrumentos de
guerra nomeadamente os arcos utilizavam o ipê e fabricavam as cordas com fibras vegetais longas
de folhas de tucum. Para as flechas usavam ubá e as pontas eram feitas de taquana, osso ou dentes
de tubarão.
Ocupação do litoral pela tribos nativas.
Entre as tribos vigorava a nudez, o corpo era interpretado como uma marca que despertava
uma particular atenção. As pinturas protegiam dos raios solares e das picadas dos insetos, os
corantes mais utilizados eram o jenipapo (era o azul escuro que ao sol ficava preto) e o urucu (que
era vermelho).
O tipo de habitação era a taba ("aldeia") que tinha entre trinta a sessenta famílias nucleares.
As habitações eram construídas com madeira, cipós e folhas de árvore para a cobertura.
A permanência das populações num local era temporária, cerca de três a quatro anos, pois
a sua fixação era condicionada pelas condições de subsistência.
A divisão do trabalho era feita consoante o sexo. Os homens executavam tarefas que
implicavam esforço e as atividades mais arriscadas. Às mulheres competiam os trabalhos
produtivos, domésticos e de apoio nas expedições guerreiras terrestres ou marítimas.
Aqui foram abordados alguns aspectos da vida daquela gente, gente que nasce, vive e morre
na terra, mas sua cultura sobreviveu a séculos de influências e esquecimento.
A chegada dos portugueses em terras brasileiras
Obra de Benedito Calixto . O descobrimento do Brasil.
O descobrimento do Brasil foi conseqüência da expansão marítima de portugueses e
espanhóis. Navegando por oceanos antes desconhecidos, essa expansão resultou na conquista de
novas terras.
Até o século XV (1401 – 1500), os europeus, principalmente, ingleses, espanhóis e
portugueses não se haviam aventurado em grandes e longas viagens marítimas.
Os italianos, que dominavam as rotas pelo Mediterrâneo, traziam mercadorias da Ásia
(especiarias e artigos de luxo) que comercializavam com os países europeus e obtinham grandes
lucros. Com interesse em participar também desse vantajoso comércio países como Portugal e
Espanha foram buscar novas rotas que os levassem às Índias.
O território brasileiro já era conhecido por navegadores portugueses e espanhóis bem antes
de 22 de abril de 1500, data oficial da posse portuguesa. Ele foi alvo de disputas entre Portugal e
Espanha, países pioneiros nas grandes navegações. Para resolver essa contenda foi assinado um
tratado chamado Tordesilhas no qual dividiam as terras a serem descobertas entre estes dois países.
Eduardo Bueno, em seus Náufragos, Traficantes e Degredados, coloca os espanhóis como
os primeiros europeus a pisarem em solo brasileiro, mas não há consenso entre os historiadores
quanto a esta afirmação, pois estas expedições espanholas não chegaram a influenciar a história do
Brasil.
Outras nações européias também já haviam pisado em solo brasileiro antes da chegada dos
portugueses como França e Inglaterra e, por não aceitarem as determinações do Tratado de
Tordesilhas, procuraram várias vezes estabelecer-se no litoral brasileiro. A pirataria era prática
habitual entre esses povos quando visitavam as costas brasileiras: ingleses, franceses e holandeses
muitas vezes aportaram onde se localiza a atual cidade de Santos.
Em sua viagem às Índias, em 1497, Vasco da Gama registrou em seu diário de bordo fatos
que indicariam terras americanas e informou esse fato ao rei de Portugal, D. Manuel, quando de seu
retorno a Lisboa. Interessado no comércio de especiarias, D. Manuel organizou, em 1500, uma
expedição que também poderia explorar a margem ocidental do Atlântico pertencente a Portugal
desde o Tratado de Tordesilhas.
Por motivos até hoje em discussão, em 22 de abril de 1500, a esquadra de Cabral chegou ao
litoral brasileiro e oficializou a posse portuguesa. A partir desse momento, o Brasil passou a ser
colônia de Portugal.
Depois da expedição de Pedro Álvares Cabral, que permaneceu por pouco tempo na nova
terra seguindo sua viagem rumo às Índias, o governo português enviou algumas expedições* que
deveriam conhecer o território verificando e explorando as riquezas que aqui fossem encontradas.
Durante as primeiras décadas como terra de Portugal essas expedições largaram aqui muitos
degredados* e náufragos que passaram a conviver com os habitantes nativos e desenvolveram um
comércio, principalmente, de tráfico de escravos indígenas. Na nossa região foi o Bacharel de
Cananéia o grande comerciante de escravos, como no planalto foi o também famoso João Ramalho
que desenvolvia essa atividade.
A presença de pau-brasil nas florestas do nosso litoral motivou ataques estrangeiros. Do
tronco da árvore de pau-brasil extraía-se uma valiosa tinta vermelha usada no tingimento de tecidos.
Na tentativa de defender as costas brasileiras dos ataques piratas, Portugal enviou
expedições chamadas “guarda-costas” que, devido à grande extensão de nosso litoral, não
conseguiram bons resultados. Sendo assim, Portugal reconheceu que a única forma de garantir a
posse das terras brasileiras era dar início ao processo de povoamento e colonização, inicialmente,
por meio do sistema de capitanias hereditárias onde se distribuía grandes extensões de terra a
pessoas chamadas donatários que deveriam administrá-las. Eram hereditárias pois passavam de pai
para filho.
Para conseguir apoio dos brancos que aqui viviam os representantes do rei de Portugal
doaram-lhes sesmarias*. Assim, os primeiros habitantes portugueses do litoral sul do Brasil
tornaram-se proprietários legais das terras em que já residiam. A partir disso, os pequenos povoados
tornaram-se vilas e cidades que se desenvolveram, num primeiro momento, por meio da cultura da
cana-de-açúcar e tráfico de escravos.
Carta Atlântica de Luís Teixeira, c. 1600, Biblioteca Nazionale Centrale, Florença
*Expedição: grupo de pessoas que vai explorar uma região.
*Degredado: exilado,expatriado, pessoa mandada embora de seu país.
*Sesmarias: terra abandonada que os reis de Portugal doavam a interessados em cultivá-la ou explorá-la.
Cananéia
O destino da nossa região começou no dia 10 de maio de 1501 quando uma frota de três
caravelas, comandada por Gonçalo Coelho, zarpou de Lisboa em direção ao Brasil. A bordo dos
navios, atuando como cosmógrafo ou como piloto, também estava Américo Vespúcio, a quem se
deve o relato existente dessa viagem.
Por mais de dois meses os navios de Gonçalo Coelho enfrentaram calmarias no Atlântico
mas, durante 10 dias, a frota enfrentou tempestades e turbilhões.
Chegando ao litoral brasileiro as caravelas ancoraram em praia do atual estado do Rio
Grande do Norte, seguindo pelo litoral brasileiro e batizando todos os seus acidentes geográficos.
Em 4 de outubro de 1501, a expedição chegou à foz de um grande rio, que foi batizado de
São Francisco. Deixando o grande rio para trás em fins de outubro, chegou em novembro a uma
baía que chamou de “Todos os Santos”, atual Rio de Janeiro.
Em fins de janeiro de 1502, as caravelas entraram em uma baía ao fundo da qual existia uma
ilha que foi batizada de Cananéia. Nessa estada, Gonçalo Coelho teria abandonado ali um
degradado*, homem chamado Cosme Fernandes que, 25 anos mais tarde, ao ser encontrado pela
expedição de Diego Garcia, passaria a ser conhecido como Bacharel de Cananéia.
Existem várias versões sobre este nome dessa região, a mais coerente afirma que Cananêa
tem sentido histórico e sociológico,
que significa Cananía, do hebraico:
Canaani e Cannania, que significa:
“Lugar dos judeus ou judeu” – de
Cananeu, como eram chamados os
judeus; denominação esta que pode
ter sido dada devido à presença do
Bacharel nessa região, pois o mesmo
era judeu.
Cananéia, localizada no
litoral sul de São Paulo, tornar-se-ia
um dos locais mais importantes do
Brasil na primeira metade do século
XVI, pois o recuo em direção ao
sudoeste do litoral não estava dentro
das possessões da Coroa Portuguesa,
mas sim, dentro da zona pertencente
à Espanha de acordo com
determinações do tratado de
Tordesilhas.
Américo
Vespúcio
foi
demitido pelo rei português,
deixando Portugal em abril de 1505. Viagem de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio.
Naturalizou-se espanhol e informou
o rei da Espanha, D. Fernando, que o Brasil não era uma ilha, mas parte de um vasto continente que
se estendia desde o golfo de Pária, na Venezuela, até pelo menos Cananéia, no litoral sul do estado
de São Paulo. Assim, em 1508, D. Fernando decidiu enviar uma expedição para averiguar em que
lugar do litoral sul do Brasil passava a linha de Tordesilhas, Cananéia.
Em 1527, Diego Garcia partiu do porto de Palos, na Espanha, e depois de abastecer sua
armada nas ilhas Canárias, seguiu com seus navios para São Vicente, no litoral sul de São Paulo.
Após curto tempo nesse local, conhecido como porto dos Escravos, rumou para Cananéia chegando
ao seu destino no dia 15 de janeiro de 1528.
Nessa região encontrou o Bacharel de Cananéia, o degredado abandonado por Gonçalo
Coelho no início do século, que se tornara uma espécie de rei branco vivendo entre os índios
piquerobi. Era o virtual senhor do litoral sul do Brasil e um dos maiores traficantes de escravos
indígenas dessa localidade.
A conquista do Peru em 1532, por Francisco Pizarro, paralisou toda a atividade exploratória
e colonizadora dos portugueses ( e dos espanhóis) na “ costa do ouro e da prata”, como era
chamado, então, o litoral que vai de Cananéia até a foz do rio da Prata.
Com fracasso das capitanias hereditárias, o Brasil continuou dependendo das ações de
náufragos como Caramuru e de degredados como João Ramalho e o Bacharel de Cananéia. Um
destino obscuro para este território que, por intermédio de sua exploração, desvendou toda América
do Sul.
Fundação de São Vicente
São Vicente, seja ilha, região ou
povoado, já era conhecida em fontes
históricas bem antes da chegada de Martim
Afonso. Várias são as denominações (San
Vicente, San Vicentio, Sanbicente) utilizadas
para referências cartográficas que indicavam
a ilha, o porto e o povoado da nossa região.
Por ignorarem tais documentos, muitos
historiadores, colocam o início da história
de São Vicente diretamente relacionado às
expedições de Martim Afonso, a partir de
1532.
As várias expedições que visitaram a
região
vicentina
favoreceram
o
estabelecimento de estrangeiros europeus
que fundearam feitorias*. As vantagens
eram muitas para os estrangeiros pois, além
de manterem uma relação amistosa com os
nativos, estavam próximos à região do
Prata, desejada por todos pela promessa de
São Vicente, Santos e Santo Amaro. Do Códice da Biblioteca da
muitas riquezas minerais.
Ajuda. Roteiro de todos os sinais, conhecimento, fundos, baixas,
Em 1530, D. João III, rei de
alturas e derrotas que há na costa do Brasil. (fim do século XVI)
Portugal, enviou ao Brasil a expedição de
Martim Afonso de Souza para dar início ao
processo de colonização.
A expedição colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza, chegou ao Brasil em
1531, no atual estado de Recife, passando pela Bahia, Rio de Janeiro e aportou na ilha do Bom
Abrigo, nas proximidades da atual cidade de Cananéia, onde encontrou, vivendo pacificamente
entre os índios, cinco ou seis espanhóis e o degredado português Francisco Chaves. De Cananéia,
Martim Afonso dirigiu-se para o sul do Brasil, nas proximidades do rio da Prata. Invadindo, assim,
terras espanholas.
Retornando a Cananéia após cinco dias e partindo em direção a São Vicente, Martim Afonso
chegou ao seu destino no ano de 1532, onde permaneceu e acabou por fundar a primeira vila
portuguesa no Brasil. Nesta região, já existia um povoado (Porto dos Escravos), controlado pelo
famoso Bacharel de Cananéia, que era conhecido por todos aqueles que já trafegavam pelo litoral
brasileiro.
Muitos motivos contribuíram para que vários homens de Martim Afonso de Souza
decidissem se estabelecer em São Vicente: a continuidade à exploração das riquezas do Prata, a
busca de fortuna fácil em terra virgem, a caça, a pesca e os frutos silvestres, as nativas e um intenso
tráfico de cativos indígenas.
A parte creditada a Martim
Afonso, no que diz respeito às
benfeitorias
e
ao
grande
desenvolvimento da Capitania de São
Vicente, são exageradas, porém, seus
méritos envolvendo a criação e
fundação de Enguaguaçu - o primeiro
parque
agrícola-industrial,
o
povoamento satélite, que seria Santos e,
com isso, a conseqüente fundação de
Santo André e Piratininga - são
esquecidas pelos historiadores.
João Ramalho, que estava no
Brasil desde 1508, não se sabendo ao
certo se era fruto de naufrágio ou
degredo, tornou-se genro do maior líder
guerreiro da região, Tibiriçá, chefe dos
índios guaianás. Ele e Martim Afonso
encontraram-se em São Vicente. João
Ramalho
tornou-se
aliado
dos
portugueses e conduziu o chefe da
Rota de Martim Afonso de Souza.
expedição, Martim Afonso, até o topo
do planalto onde morava, nas proximidades da atual cidade de Santos André, utilizando como trilha
a atual via Anchieta. Dali, o genro de Tibiriçá dirigia o tráfico de escravos do interior para o litoral.
Ramalho era o senhor de todo aquele território que, por sua influência, os portugueses iriam se
instalar anos mais tarde.
Benedito Calixto (1921). Reprodução do encontro de Martim Afonso de Souza com João Ramalho e os irmãos
Tibiriçá.
Voltando a Portugal, Martim Afonso relatou, a fracassada expedição ao Prata, ao rei de
Portugal. Decepcionado por não ter conseguido conquistar esta região, jamais retornou ao Brasil,
direcionando sua atenção ao comércio com as Índias e abandonando as capitanias hereditárias, do
Rio de Janeiro e de São Vicente, que o rei D. João III decidira dar-lhe após haver retornado para
Lisboa.
Martim Afonso somente faz referência ao Brasil em suas memórias, redigidas em 1557 e, na
única vez que cita sua estadia na nova terra, lembra de muito trabalho, fome e tormentas. Mas não
foi por causa desse esquecimento que a cidade de São Vicente não evoluiu.
O nascimento da cidade de Santos
Entre a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500, e a fundação da vila de São
Vicente, em 1532, ocorreram várias expedições que acabaram, por aqui, deixando muitos homens,
sendo eles degredados, desertores ou náufragos.
A Ilha de São Vicente, onde, atualmente, situam-se as cidades de Santos e São Vicente, era
primitivamente chamada de Goiahó ou Gohaió ou Guaio ou Guaiahó. Quanto ao nome atual,
devemos a Américo Vespúcio que, em 1502, aportando seus navios no atual estuário santista , na
altura da Ponta da Praia, chamaram-no Rio de São Vicente.
As controvérsias quanto ao verdadeiro local de atracação de Martim Afonso na nossa região
são muitas e diversos documentos já foram estudados sobre o assunto. Aqueles com maior
veracidade e confiabilidade demonstram que, devido às condições físicas dos atracadouros, o local
onde Martim Afonso aportou com sua nau foi na atual Ponta da Praia, e que, daquele ponto, eram
conduzidos, por terra, ou por pequenas embarcações pessoas e mercadorias, para a vila de São
Vicente. Sendo assim, o porto de São Vicente, nunca foi situado junto à vila, e sim, no estuário de
Santos, pouco para dentro da Ponta da Praia do Embaré. Existia, sim, um segundo “Porto das Naus”
perto da vila de São Vicente, onde embarcações menores deviam aportar. Assim, justifica-se a
existência do “Porto das Naus” de São Vicente.
Em meados de 1510, o Bacharel de Cananéia, já caracterizado anteriormente, fundou à
margem do rio de São Vicente ( o atual estuário santista), o porto do mesmo nome, identificados
em mapas de navegantes que por aqui passaram. Esse “Porto de São Vicente” desenvolveu-se
como o povoado do outro extremo, da vila de São Vicente, tornando-se o porto mais freqüentado do
litoral brasileiro.
Ao aportar na ilha de São Vicente, em 1532, Martim Afonso, tratou de familiarizar-se com
os portugueses que já habitavam a região, sendo recebido por João Ramalho e Antônio Rodrigues.
Região de povoamento da Ilha de Gohayó:1 – Vila de São Vicente; 2 – Povoado do
Enguaguaçu; 3 – Porto de São Vicente.
A gente de Martim Afonso utilizou o Porto de São Vicente para a prática de atividades
mercantis. Cada um deles procurou escolher as melhores terras para fixar-se. O ponto da Ilha, junto
à enseada interior do Enguaguaçu tornou-se, sem perceber, a povoação agrícola e industrial da
região e, entre 1532 e 1540, várias pessoas já haviam ali se instalado pois estas terras eram muito
férteis.
O nome Enguaguaçu teve sua origem discutida por vários estudiosos, mas aquela que mais
lógica demonstrou foi a que afirma que Enguaguaçu significa “enseada grande do rio” pois,
correndo o estreito da ponta da praia ou desde a entrada do porto, o rio se alarga cada vez mais para
fechar depois, à altura da Ilha Barnabé e do Valongo.
Em 1532, Martim Afonso fez a primeira distribuição de sesmarias concedendo a Domingos
Pires e Pascoal Fernandes um lote de terra que se estendia da Enseada do Enguaguaçu, no atual
canal do estuário, à Fonte do Itororó.
Em 1536, Martim Afonso doou a Brás Cubas uma região que compreendia as imediações do
Monte Serrat, chamada de São Jerônimo, as terras de Jurubatuba ou Jarabatyba, atual Cananéia, e
a ilha Pequena (hoje Barnabé). Nesta última, Brás Cubas morou até 1541 e iniciou o plantio de
cana-de-açúcar, batizando-a com seu nome.
Acompanhados de colonos, que com eles vieram, e de alguns índios agregados ou
escravizados, esses homens deram início à ocupação da área que, mais tarde, viria a se tornar a vila
de Santos.
Quando do regresso de Martim Afonso a Portugal o povoado de Enguaguaçu já
demonstrava sinais de crescimento, mas ficava distante da vila de São Vicente e o deslocamento de
um lugar para o outro era muito difícil, daí a necessidade de um capitão para gerenciar as atividades
do local. Sendo assim, o donatário nomeou Brás Cubas como capitão do povoado encarregado-o da
administração tributária.
Com a ressaca que flagelou a vila de São Vicente em 1541, muitos moradores vicentinos
mudaram-se para o povoado do Enguaguaçu. O povoado tinha apenas o nome de porto, ou porto da
vila de São Vicente. Brás Cubas e outros membros do povoado deram início então à construção de
uma capela e de um hospital, com as obras concluídas em 1543. O hospital recebeu o nome de Casa
da Misericórdia de Todos os Santos.
Em 1546 o povoado foi elevado à condição de vila, com o nome de vila do Porto de Santos.
Em 1550, era instalada a Alfândega e, desde 1553, já havia sido aberto um novo caminho para
Piratininga, o planalto.
Obra de Benedito Calixto. A fundação da Vila de Santos
SANTOS
Uma nova visão
da velha história
Prefeitura Municipal de Santos
ESTÂNCIA BALNEÁRIA
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO
Santos
Uma nova visão
da velha história
Pesquisa e elaboração: Profª Sandra Regina Pereira Ramos
SANTOS - 2003
Bibliografia
ANDRADE, Wilma T. F. Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista .São Paulo:
Nobel, 2001.
BARBOSA, Maria V., DIAS, Nelson S. & CERQUEIRA, Rita M.M. Santos na formação do
Brasil: 500 anos de História. Santos: Secretaria Municipal de Cultura, 2000.
BUENO, Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degredados. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.
CARDOSO, David. Santos na História do Brasil. Santos: Grupo Rodrimar.
FRIGÉRIO, Ângela. M. G., ANDRADE, Wilma T.F. de & OLIVEIRA, Yza F. de. Santos – um
encontro coma História e Geografia. Santos: Leopoldianum Editora Inuversitária, 1992.
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO & al. Gohajo – Capitania Hereditária de São Vicente.
São Vicente, 2002
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO VICENTE. Poliantéria Vicentina – 450
anos de Brasileidade. São Vicente:Caudex, 1992.
RODRIGUES, Olao. Cartilha da História de Santos. Santos:PRODESAN, 1980.
SANTOS, F. M. História de Santos (vol. I, II e III). São Vicente: Caudex, 1986.
Obs. As fotografias e imagens utilizadas na elaboração da apostila também fazem parte dos livros
adotados para a pesquisa.
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