Introdução à história de Santos A história de Santos é parte integrante da história do Brasil. Nosso país foi colônia de Portugal desde 1500, durante 322 anos. Somente a partir de 1822, conseguimos nossa independência. Com isso, o Brasil tornou-se um país com governo monárquico até 1889, quando foi proclamada a República. A capitania de São Vicente, onde estava localizada a vila e atual cidade de Santos, teve grande desenvolvimento durante o período colonial: os engenhos de cana-de-açúcar e o porto foram fatores essenciais para esse sucesso. No período monárquico, Santos foi palco de visitas constantes do imperador, cidade natal do Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, e um poderoso reduto do movimento abolicionista. Durante o período Republicano, nossa cidade foi celeiro de grandes homens, sedentos por liberdade, resistiu a uma intervenção federal e, após anos de luta, retornou ao cenário político do país com o sindicalismo portuário. Atualmente, por ter o maior porto da América Latina, Santos tem destaque mundial. A pré-história de Santos Homens do sambaqui A palavra SAMBAQUI é de origem indígena e significa TAMBÁ (concha) + KI (depósito). Encontrados em quase toda a costa brasileira, os sambaquis apresentam-se sob a forma de pequenas elevações formadas, sobretudo, de restos de alimentos de origem animal (carapaças de moluscos, fragmentos de ossos de répteis, aves, peixes e mamíferos), esqueletos humanos, artefatos de pedra, concha e cerâmica, vestígio de fogueira e outras numerosas evidências da presença do homem primitivo na área litorânea da restinga. É uma espécie de morro que media de dois a trinta metros de altura. Era construído e habitado por grupos sociais pré-históricos de pescadores, coletores que se instalaram no litoral brasileiro, há pelo menos seis mil anos, vindos provavelmente do sul da América do Sul. Esses grupos eram semi-nômades e dependentes dos recursos aquáticos e por isto escolhiam as regiões próximas de lagoas para viver. Os sambaquieiros viviam em cima das elevações que tinham média de 90 metros de extensão e de onde podiam controlar o terreno em volta, que provavelmente incluía outros sambaquis. Os sítios eram formados pelo acúmulo gradual e sistemático de conchas, restos alimentares, adornos e diversos tipos de utensílios do dia-a-dia, como lâminas de machado, lascas cortantes, pontas e anzóis de osso e conchas perfuradas usadas como raspadores. As marcas de estaca encontradas em vários sambaquis indicam que os povos construíam casas para viver. Nos morros também eram realizados sepultamentos. Muitas dessas escavações feitas nesse tipo de sítio em diversas partes da costa brasileira revelaram esqueletos de indivíduos de até trinta e cinco anos com ossadas pintadas e, às vezes, cercados de estacas e adornos. Não se sabe bem a causa do desaparecimento dos povos que habitavam os sambaquis. A hipótese mais provável é que os Homens do Sambaqui tenham sido dizimados há cerca de mil anos em disputas por território ou então incorporados pelas tribos guerreiras provenientes do interior do país, que ocupavam toda a costa brasileira na época da chegada dos portugueses em terras brasileiras. A ilha de São Vicente, onde se localiza a cidade de Santos, também foi habitada por esses homens que vieram da Ásia há aproximadamente 5000 anos. Os sambaquis da nossa região foram destruídos, primeiramente, pelos colonizadores portugueses que se utilizavam desse material , que era confundido com cal, nas construções antigas. Quando da construção da Rodovia dos Imigrantes foi destruído um sambaqui fluvial próximo do Rio dos Pilões. Atualmente, os sambaquis estão protegidos por lei. Vestígios de Sambaquis Nações indígenas da região O Trecho da Terra da Vera Cruz era habitado pela grande família Tupi-guarani. Com a ambição de dominar a orla marítima devido à abundância de peixes, moluscos, crustáceos e sal, os Tupi-guaranis durante vários séculos conseguiram expulsar os habitantes do litoral, aos quais chamavam Tapuias ("os outros", aqueles que não falam a nossa língua e não têm os nossos hábitos) Em 1500, os Tupi-guaranis dominavam grande parte da costa entre o Ceará e Cananéia e ainda o litoral situado entre Cananéia e a Lagoa dos Patos, para além das notáveis regiões no Sertão. Nas terras que constituíam a Capitania de São Vicente, havia a leste os Tamoios, também chamados Tupinanbas. Ao sul e a sudoeste, encontravam-se os carijós; na costa, próximo ao porto de São Vicente, nos campos de Piratininga e no Vale do Tietê estavam os Tupiniquins. Os índios viviam em bandos. Eram nômades, por isso a dificuldade em se determinar com exatidão os pontos onde se fixavam por algum tempo. Nos tempos da fundação da vila de São Vicente, as mais nobres famílias Tupis dominavam as terras que Martim Afonso de Souza tomaria em nome do rei de Portugal. Os Tupis eram formados por diversos grupos indígenas que, em sua maioria, viviam em guerra. Os Tupi-guaranis caracterizavam-se pela prática de uma horticultura de raízes, embora a pesca e a caça fossem igualmente muito importantes. De acordo com as condições ecológicas os Tupi-guaranis optavam pela mandioca e pelo milho. Além destes alimentos básicos plantavam batata-doce, feijão, cará (inhame), jerimum (abóbora) e cumari (pimenta). Entre as plantas não alimentares podem realçar-se o tabaco, o algodão, a purunga (cabaça), jenipapo e urucu (corante). Devido à maior quantidade de alimentos, a caça era mais a abundante e diversificada nas proximidades dos rios e lagoas, pelo que nestas zonas mais ricas se caçavam "facilmente" pacas, veados, caititus, antas, macacos, tamanduás, queixadas, cutias, aves, tatus, répteis, preguiça e capivaras. A pesca era a atividade preferida das tribos em termos de tempo e dispêndio de energia em relação à caça. A cerâmica permitiu a preparação e conservação dos alimentos; Esta se caracterizava pela técnica do alisado simples e pela pintura (pintura polícroma com linhas vermelhas e pretas sobre fundo branco). Eles fabricavam com abundância as grandes igaçabas (potes). Para o fabrico de jangadas e canoas utilizavam madeiras leves. Para os instrumentos de guerra nomeadamente os arcos utilizavam o ipê e fabricavam as cordas com fibras vegetais longas de folhas de tucum. Para as flechas usavam ubá e as pontas eram feitas de taquana, osso ou dentes de tubarão. Ocupação do litoral pela tribos nativas. Entre as tribos vigorava a nudez, o corpo era interpretado como uma marca que despertava uma particular atenção. As pinturas protegiam dos raios solares e das picadas dos insetos, os corantes mais utilizados eram o jenipapo (era o azul escuro que ao sol ficava preto) e o urucu (que era vermelho). O tipo de habitação era a taba ("aldeia") que tinha entre trinta a sessenta famílias nucleares. As habitações eram construídas com madeira, cipós e folhas de árvore para a cobertura. A permanência das populações num local era temporária, cerca de três a quatro anos, pois a sua fixação era condicionada pelas condições de subsistência. A divisão do trabalho era feita consoante o sexo. Os homens executavam tarefas que implicavam esforço e as atividades mais arriscadas. Às mulheres competiam os trabalhos produtivos, domésticos e de apoio nas expedições guerreiras terrestres ou marítimas. Aqui foram abordados alguns aspectos da vida daquela gente, gente que nasce, vive e morre na terra, mas sua cultura sobreviveu a séculos de influências e esquecimento. A chegada dos portugueses em terras brasileiras Obra de Benedito Calixto . O descobrimento do Brasil. O descobrimento do Brasil foi conseqüência da expansão marítima de portugueses e espanhóis. Navegando por oceanos antes desconhecidos, essa expansão resultou na conquista de novas terras. Até o século XV (1401 – 1500), os europeus, principalmente, ingleses, espanhóis e portugueses não se haviam aventurado em grandes e longas viagens marítimas. Os italianos, que dominavam as rotas pelo Mediterrâneo, traziam mercadorias da Ásia (especiarias e artigos de luxo) que comercializavam com os países europeus e obtinham grandes lucros. Com interesse em participar também desse vantajoso comércio países como Portugal e Espanha foram buscar novas rotas que os levassem às Índias. O território brasileiro já era conhecido por navegadores portugueses e espanhóis bem antes de 22 de abril de 1500, data oficial da posse portuguesa. Ele foi alvo de disputas entre Portugal e Espanha, países pioneiros nas grandes navegações. Para resolver essa contenda foi assinado um tratado chamado Tordesilhas no qual dividiam as terras a serem descobertas entre estes dois países. Eduardo Bueno, em seus Náufragos, Traficantes e Degredados, coloca os espanhóis como os primeiros europeus a pisarem em solo brasileiro, mas não há consenso entre os historiadores quanto a esta afirmação, pois estas expedições espanholas não chegaram a influenciar a história do Brasil. Outras nações européias também já haviam pisado em solo brasileiro antes da chegada dos portugueses como França e Inglaterra e, por não aceitarem as determinações do Tratado de Tordesilhas, procuraram várias vezes estabelecer-se no litoral brasileiro. A pirataria era prática habitual entre esses povos quando visitavam as costas brasileiras: ingleses, franceses e holandeses muitas vezes aportaram onde se localiza a atual cidade de Santos. Em sua viagem às Índias, em 1497, Vasco da Gama registrou em seu diário de bordo fatos que indicariam terras americanas e informou esse fato ao rei de Portugal, D. Manuel, quando de seu retorno a Lisboa. Interessado no comércio de especiarias, D. Manuel organizou, em 1500, uma expedição que também poderia explorar a margem ocidental do Atlântico pertencente a Portugal desde o Tratado de Tordesilhas. Por motivos até hoje em discussão, em 22 de abril de 1500, a esquadra de Cabral chegou ao litoral brasileiro e oficializou a posse portuguesa. A partir desse momento, o Brasil passou a ser colônia de Portugal. Depois da expedição de Pedro Álvares Cabral, que permaneceu por pouco tempo na nova terra seguindo sua viagem rumo às Índias, o governo português enviou algumas expedições* que deveriam conhecer o território verificando e explorando as riquezas que aqui fossem encontradas. Durante as primeiras décadas como terra de Portugal essas expedições largaram aqui muitos degredados* e náufragos que passaram a conviver com os habitantes nativos e desenvolveram um comércio, principalmente, de tráfico de escravos indígenas. Na nossa região foi o Bacharel de Cananéia o grande comerciante de escravos, como no planalto foi o também famoso João Ramalho que desenvolvia essa atividade. A presença de pau-brasil nas florestas do nosso litoral motivou ataques estrangeiros. Do tronco da árvore de pau-brasil extraía-se uma valiosa tinta vermelha usada no tingimento de tecidos. Na tentativa de defender as costas brasileiras dos ataques piratas, Portugal enviou expedições chamadas “guarda-costas” que, devido à grande extensão de nosso litoral, não conseguiram bons resultados. Sendo assim, Portugal reconheceu que a única forma de garantir a posse das terras brasileiras era dar início ao processo de povoamento e colonização, inicialmente, por meio do sistema de capitanias hereditárias onde se distribuía grandes extensões de terra a pessoas chamadas donatários que deveriam administrá-las. Eram hereditárias pois passavam de pai para filho. Para conseguir apoio dos brancos que aqui viviam os representantes do rei de Portugal doaram-lhes sesmarias*. Assim, os primeiros habitantes portugueses do litoral sul do Brasil tornaram-se proprietários legais das terras em que já residiam. A partir disso, os pequenos povoados tornaram-se vilas e cidades que se desenvolveram, num primeiro momento, por meio da cultura da cana-de-açúcar e tráfico de escravos. Carta Atlântica de Luís Teixeira, c. 1600, Biblioteca Nazionale Centrale, Florença *Expedição: grupo de pessoas que vai explorar uma região. *Degredado: exilado,expatriado, pessoa mandada embora de seu país. *Sesmarias: terra abandonada que os reis de Portugal doavam a interessados em cultivá-la ou explorá-la. Cananéia O destino da nossa região começou no dia 10 de maio de 1501 quando uma frota de três caravelas, comandada por Gonçalo Coelho, zarpou de Lisboa em direção ao Brasil. A bordo dos navios, atuando como cosmógrafo ou como piloto, também estava Américo Vespúcio, a quem se deve o relato existente dessa viagem. Por mais de dois meses os navios de Gonçalo Coelho enfrentaram calmarias no Atlântico mas, durante 10 dias, a frota enfrentou tempestades e turbilhões. Chegando ao litoral brasileiro as caravelas ancoraram em praia do atual estado do Rio Grande do Norte, seguindo pelo litoral brasileiro e batizando todos os seus acidentes geográficos. Em 4 de outubro de 1501, a expedição chegou à foz de um grande rio, que foi batizado de São Francisco. Deixando o grande rio para trás em fins de outubro, chegou em novembro a uma baía que chamou de “Todos os Santos”, atual Rio de Janeiro. Em fins de janeiro de 1502, as caravelas entraram em uma baía ao fundo da qual existia uma ilha que foi batizada de Cananéia. Nessa estada, Gonçalo Coelho teria abandonado ali um degradado*, homem chamado Cosme Fernandes que, 25 anos mais tarde, ao ser encontrado pela expedição de Diego Garcia, passaria a ser conhecido como Bacharel de Cananéia. Existem várias versões sobre este nome dessa região, a mais coerente afirma que Cananêa tem sentido histórico e sociológico, que significa Cananía, do hebraico: Canaani e Cannania, que significa: “Lugar dos judeus ou judeu” – de Cananeu, como eram chamados os judeus; denominação esta que pode ter sido dada devido à presença do Bacharel nessa região, pois o mesmo era judeu. Cananéia, localizada no litoral sul de São Paulo, tornar-se-ia um dos locais mais importantes do Brasil na primeira metade do século XVI, pois o recuo em direção ao sudoeste do litoral não estava dentro das possessões da Coroa Portuguesa, mas sim, dentro da zona pertencente à Espanha de acordo com determinações do tratado de Tordesilhas. Américo Vespúcio foi demitido pelo rei português, deixando Portugal em abril de 1505. Viagem de Gonçalo Coelho e Américo Vespúcio. Naturalizou-se espanhol e informou o rei da Espanha, D. Fernando, que o Brasil não era uma ilha, mas parte de um vasto continente que se estendia desde o golfo de Pária, na Venezuela, até pelo menos Cananéia, no litoral sul do estado de São Paulo. Assim, em 1508, D. Fernando decidiu enviar uma expedição para averiguar em que lugar do litoral sul do Brasil passava a linha de Tordesilhas, Cananéia. Em 1527, Diego Garcia partiu do porto de Palos, na Espanha, e depois de abastecer sua armada nas ilhas Canárias, seguiu com seus navios para São Vicente, no litoral sul de São Paulo. Após curto tempo nesse local, conhecido como porto dos Escravos, rumou para Cananéia chegando ao seu destino no dia 15 de janeiro de 1528. Nessa região encontrou o Bacharel de Cananéia, o degredado abandonado por Gonçalo Coelho no início do século, que se tornara uma espécie de rei branco vivendo entre os índios piquerobi. Era o virtual senhor do litoral sul do Brasil e um dos maiores traficantes de escravos indígenas dessa localidade. A conquista do Peru em 1532, por Francisco Pizarro, paralisou toda a atividade exploratória e colonizadora dos portugueses ( e dos espanhóis) na “ costa do ouro e da prata”, como era chamado, então, o litoral que vai de Cananéia até a foz do rio da Prata. Com fracasso das capitanias hereditárias, o Brasil continuou dependendo das ações de náufragos como Caramuru e de degredados como João Ramalho e o Bacharel de Cananéia. Um destino obscuro para este território que, por intermédio de sua exploração, desvendou toda América do Sul. Fundação de São Vicente São Vicente, seja ilha, região ou povoado, já era conhecida em fontes históricas bem antes da chegada de Martim Afonso. Várias são as denominações (San Vicente, San Vicentio, Sanbicente) utilizadas para referências cartográficas que indicavam a ilha, o porto e o povoado da nossa região. Por ignorarem tais documentos, muitos historiadores, colocam o início da história de São Vicente diretamente relacionado às expedições de Martim Afonso, a partir de 1532. As várias expedições que visitaram a região vicentina favoreceram o estabelecimento de estrangeiros europeus que fundearam feitorias*. As vantagens eram muitas para os estrangeiros pois, além de manterem uma relação amistosa com os nativos, estavam próximos à região do Prata, desejada por todos pela promessa de São Vicente, Santos e Santo Amaro. Do Códice da Biblioteca da muitas riquezas minerais. Ajuda. Roteiro de todos os sinais, conhecimento, fundos, baixas, Em 1530, D. João III, rei de alturas e derrotas que há na costa do Brasil. (fim do século XVI) Portugal, enviou ao Brasil a expedição de Martim Afonso de Souza para dar início ao processo de colonização. A expedição colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza, chegou ao Brasil em 1531, no atual estado de Recife, passando pela Bahia, Rio de Janeiro e aportou na ilha do Bom Abrigo, nas proximidades da atual cidade de Cananéia, onde encontrou, vivendo pacificamente entre os índios, cinco ou seis espanhóis e o degredado português Francisco Chaves. De Cananéia, Martim Afonso dirigiu-se para o sul do Brasil, nas proximidades do rio da Prata. Invadindo, assim, terras espanholas. Retornando a Cananéia após cinco dias e partindo em direção a São Vicente, Martim Afonso chegou ao seu destino no ano de 1532, onde permaneceu e acabou por fundar a primeira vila portuguesa no Brasil. Nesta região, já existia um povoado (Porto dos Escravos), controlado pelo famoso Bacharel de Cananéia, que era conhecido por todos aqueles que já trafegavam pelo litoral brasileiro. Muitos motivos contribuíram para que vários homens de Martim Afonso de Souza decidissem se estabelecer em São Vicente: a continuidade à exploração das riquezas do Prata, a busca de fortuna fácil em terra virgem, a caça, a pesca e os frutos silvestres, as nativas e um intenso tráfico de cativos indígenas. A parte creditada a Martim Afonso, no que diz respeito às benfeitorias e ao grande desenvolvimento da Capitania de São Vicente, são exageradas, porém, seus méritos envolvendo a criação e fundação de Enguaguaçu - o primeiro parque agrícola-industrial, o povoamento satélite, que seria Santos e, com isso, a conseqüente fundação de Santo André e Piratininga - são esquecidas pelos historiadores. João Ramalho, que estava no Brasil desde 1508, não se sabendo ao certo se era fruto de naufrágio ou degredo, tornou-se genro do maior líder guerreiro da região, Tibiriçá, chefe dos índios guaianás. Ele e Martim Afonso encontraram-se em São Vicente. João Ramalho tornou-se aliado dos portugueses e conduziu o chefe da Rota de Martim Afonso de Souza. expedição, Martim Afonso, até o topo do planalto onde morava, nas proximidades da atual cidade de Santos André, utilizando como trilha a atual via Anchieta. Dali, o genro de Tibiriçá dirigia o tráfico de escravos do interior para o litoral. Ramalho era o senhor de todo aquele território que, por sua influência, os portugueses iriam se instalar anos mais tarde. Benedito Calixto (1921). Reprodução do encontro de Martim Afonso de Souza com João Ramalho e os irmãos Tibiriçá. Voltando a Portugal, Martim Afonso relatou, a fracassada expedição ao Prata, ao rei de Portugal. Decepcionado por não ter conseguido conquistar esta região, jamais retornou ao Brasil, direcionando sua atenção ao comércio com as Índias e abandonando as capitanias hereditárias, do Rio de Janeiro e de São Vicente, que o rei D. João III decidira dar-lhe após haver retornado para Lisboa. Martim Afonso somente faz referência ao Brasil em suas memórias, redigidas em 1557 e, na única vez que cita sua estadia na nova terra, lembra de muito trabalho, fome e tormentas. Mas não foi por causa desse esquecimento que a cidade de São Vicente não evoluiu. O nascimento da cidade de Santos Entre a chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, em 1500, e a fundação da vila de São Vicente, em 1532, ocorreram várias expedições que acabaram, por aqui, deixando muitos homens, sendo eles degredados, desertores ou náufragos. A Ilha de São Vicente, onde, atualmente, situam-se as cidades de Santos e São Vicente, era primitivamente chamada de Goiahó ou Gohaió ou Guaio ou Guaiahó. Quanto ao nome atual, devemos a Américo Vespúcio que, em 1502, aportando seus navios no atual estuário santista , na altura da Ponta da Praia, chamaram-no Rio de São Vicente. As controvérsias quanto ao verdadeiro local de atracação de Martim Afonso na nossa região são muitas e diversos documentos já foram estudados sobre o assunto. Aqueles com maior veracidade e confiabilidade demonstram que, devido às condições físicas dos atracadouros, o local onde Martim Afonso aportou com sua nau foi na atual Ponta da Praia, e que, daquele ponto, eram conduzidos, por terra, ou por pequenas embarcações pessoas e mercadorias, para a vila de São Vicente. Sendo assim, o porto de São Vicente, nunca foi situado junto à vila, e sim, no estuário de Santos, pouco para dentro da Ponta da Praia do Embaré. Existia, sim, um segundo “Porto das Naus” perto da vila de São Vicente, onde embarcações menores deviam aportar. Assim, justifica-se a existência do “Porto das Naus” de São Vicente. Em meados de 1510, o Bacharel de Cananéia, já caracterizado anteriormente, fundou à margem do rio de São Vicente ( o atual estuário santista), o porto do mesmo nome, identificados em mapas de navegantes que por aqui passaram. Esse “Porto de São Vicente” desenvolveu-se como o povoado do outro extremo, da vila de São Vicente, tornando-se o porto mais freqüentado do litoral brasileiro. Ao aportar na ilha de São Vicente, em 1532, Martim Afonso, tratou de familiarizar-se com os portugueses que já habitavam a região, sendo recebido por João Ramalho e Antônio Rodrigues. Região de povoamento da Ilha de Gohayó:1 – Vila de São Vicente; 2 – Povoado do Enguaguaçu; 3 – Porto de São Vicente. A gente de Martim Afonso utilizou o Porto de São Vicente para a prática de atividades mercantis. Cada um deles procurou escolher as melhores terras para fixar-se. O ponto da Ilha, junto à enseada interior do Enguaguaçu tornou-se, sem perceber, a povoação agrícola e industrial da região e, entre 1532 e 1540, várias pessoas já haviam ali se instalado pois estas terras eram muito férteis. O nome Enguaguaçu teve sua origem discutida por vários estudiosos, mas aquela que mais lógica demonstrou foi a que afirma que Enguaguaçu significa “enseada grande do rio” pois, correndo o estreito da ponta da praia ou desde a entrada do porto, o rio se alarga cada vez mais para fechar depois, à altura da Ilha Barnabé e do Valongo. Em 1532, Martim Afonso fez a primeira distribuição de sesmarias concedendo a Domingos Pires e Pascoal Fernandes um lote de terra que se estendia da Enseada do Enguaguaçu, no atual canal do estuário, à Fonte do Itororó. Em 1536, Martim Afonso doou a Brás Cubas uma região que compreendia as imediações do Monte Serrat, chamada de São Jerônimo, as terras de Jurubatuba ou Jarabatyba, atual Cananéia, e a ilha Pequena (hoje Barnabé). Nesta última, Brás Cubas morou até 1541 e iniciou o plantio de cana-de-açúcar, batizando-a com seu nome. Acompanhados de colonos, que com eles vieram, e de alguns índios agregados ou escravizados, esses homens deram início à ocupação da área que, mais tarde, viria a se tornar a vila de Santos. Quando do regresso de Martim Afonso a Portugal o povoado de Enguaguaçu já demonstrava sinais de crescimento, mas ficava distante da vila de São Vicente e o deslocamento de um lugar para o outro era muito difícil, daí a necessidade de um capitão para gerenciar as atividades do local. Sendo assim, o donatário nomeou Brás Cubas como capitão do povoado encarregado-o da administração tributária. Com a ressaca que flagelou a vila de São Vicente em 1541, muitos moradores vicentinos mudaram-se para o povoado do Enguaguaçu. O povoado tinha apenas o nome de porto, ou porto da vila de São Vicente. Brás Cubas e outros membros do povoado deram início então à construção de uma capela e de um hospital, com as obras concluídas em 1543. O hospital recebeu o nome de Casa da Misericórdia de Todos os Santos. Em 1546 o povoado foi elevado à condição de vila, com o nome de vila do Porto de Santos. Em 1550, era instalada a Alfândega e, desde 1553, já havia sido aberto um novo caminho para Piratininga, o planalto. Obra de Benedito Calixto. A fundação da Vila de Santos SANTOS Uma nova visão da velha história Prefeitura Municipal de Santos ESTÂNCIA BALNEÁRIA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO PEDAGÓGICO Santos Uma nova visão da velha história Pesquisa e elaboração: Profª Sandra Regina Pereira Ramos SANTOS - 2003 Bibliografia ANDRADE, Wilma T. F. Presença da Engenharia e Arquitetura – Baixada Santista .São Paulo: Nobel, 2001. BARBOSA, Maria V., DIAS, Nelson S. & CERQUEIRA, Rita M.M. Santos na formação do Brasil: 500 anos de História. Santos: Secretaria Municipal de Cultura, 2000. BUENO, Eduardo. Náufragos, Traficantes e Degredados. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. CARDOSO, David. Santos na História do Brasil. Santos: Grupo Rodrimar. FRIGÉRIO, Ângela. M. 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