UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL CARACTERIZAÇÃO (H1N1)pdm09 SUSPEITOS E DE GENÉTICA DIAGNÓSTICO INFLUENZA DO VÍRUS INFLUENZA DIFERENCIAL PANDÊMICA, NO DE A CASOS ESTADO DE PERNAMBUCO, NO PERÍODO DE MAIO DE 2009 A MAIO DE 2010 MARIA JOSÉ COUTO OLIVEIRA RECIFE, PE 2012 MARIA JOSÉ COUTO OLIVEIRA CARACTERIZAÇÃO A(H1N1)pdm09 SUSPEITOS DE E GENÉTICA DIAGNÓSTICO INFLUENZA DO VÍRUS DIFERENCIAL PANDÊMICA, NO INFLUENZA DE CASOS ESTADO DE PERNAMBUCO, NO PERÍODO DE MAIO DE 2009 A MAIO DE 2010. Tese apresentada a Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para a obtenção do Título de Doutor em Medicina Tropical ORIENTADORA: PROFª. DRA. VERA MAGALHÃES DA SILVEIRA CO-ORIENTADOR: DR. FERNANDO COUTO MOTTA RECIFE, PE 2012 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL REITOR Anísio Brasileiro de Freitas Dourado PRÓ-REITOR PARA ASSUNTOS DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO Francisco de Sousa Ramos DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE José Tadeu Pinheiro COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL Maria Rosângela Cunha Duarte Coelho VICE-COORDENADORA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL Valdênia Maria Oliveira de Souza CORPO DOCENTE Ana Lúcia Coutinho Domingues Célia Maria Machado Barbosa de Castro Edmundo Pessoa de Almeida Lopes Neto Fábio André dos Santos Brayner Heloísa Ramos Lacerda de Melo Maria Amélia Vieira Maciel Maria de Fátima Pessoa Militão de Albuquerque Maria do Amparo Andrade Maria Rosângela Cunha Duarte Coelho Marli Tenório Cordeiro Ricardo Arraes de Alencar Ximenes Valdênia Maria Oliveira de Souza Vera Magalhães da Silveira Vláudia Maria Assis Costa DEDICATÓRIA À minha querida e inesquecível Mãe, Irene (In memorian). Ao meu querido esposo, Marcelo pelo companheirismo, renuncia, incentivo, compreensão e parceria. Aos meus queridos filhos Flávio, Danielle, Karina, Daniel e Mauro. Às minhas netas Carolina e Mariana que vieram para dar mais graça à minha vida. AGRADECIMENTOS Primeiro a Deus por me dar saúde e força para que eu pudesse concluir o curso. Aos meus familiares pelo constante apoio, especialmente ao meu esposo e filhos por entenderem minhas constantes ausências. A minha prezada orientadora Dra. Vera Magalhães da Silveira, pela confiança, profissionalismo, paciência e incentivo nas horas de desânimo. À Dra. Marilda Siqueira, chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro, grande pesquisadora e amiga de longas datas que abriu as portas do Laboratório e disponibilizou seu corpo técnico para realizarmos todos os ensaios. Sem a sua ajuda, não teria sido possível a realização desse estudo. Ao meu co-orientador Dr. Fernando Motta pela paciência e preciosas orientações. A amiga Marli Tenório pela indescritível ajuda e apoio na finalização do estudo. Aos colegas do Instituto Evandro Chagas, Dr Wyller Mello e Mirleide Santos que me estimularam a realizar o projeto. Aos colegas da Fiocruz, que estiveram ao meu lado na realização dos testes, nas diversas vezes que estive no Rio de Janeiro, especialmente Ângela Pinhão, Daniela Machado, Daniel Cohen, Maria de Lourdes Oliveira, Milena Mesquita, Paolla Andrade, Priscilla Born, Sharon Carney e Thiago Moreno. Aos demais colegas que não trabalharam na bancada, mas me acolheram como uma pessoa da casa. A todos os colegas do Setor de Virologia do LACEN–PE, principalmente a Ana Sinício e Risalva Travassos, pela compreensão nos momentos que precisei me ausentar e que elas com muita eficiência executaram as atividades que eram de minha responsabilidade e a Lílian Barros Lima responsável pelo diagnóstico de influenza. Aos colegas do Laboratório Municipal do Recife, principalmente os que ajustaram seus períodos de férias, dando prioridade às minhas necessidades. Aos colegas da Epidemiologia da Secretaria Estadual de Saúde que sempre me atenderam quando precisei de informações, especialmente Lucilene Rafael Aguiar, Ana Lúcia de Souza, Alice Rodovalho e Ana Antunes. Aos meus superiores do LACEN-PE e do Laboratório Municipal do Recife por terem compreendido a necessidade de me ausentar para a execução da parte de bancada desse trabalho. A todos os professores e membros do Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical, especialmente a Walter pelas orientações ao longo do curso. É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca. Dom Helder Câmara RESUMO OLIVEIRA, Maria José Couto, Caracterização genética do vírus influenza A(H1N1)pdm09 e diagnóstico diferencial de casos suspeitos de influenza pandêmica, no estado de Pernambuco, no período de maio de 2009 a maio de 2010. 158 folhas. (Tese de doutorado). Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Medicina Tropical. Recife – Pernambuco. Durante a pandemia (2009-2010) com o vírus influenza A(H1N1)pdm09 foi recomendado o tratamento com o oseltamivir ou zanamivir. Com o aumento da detecção de vírus de Influenza A (H1N1) sazonal resistente ao oseltamivir houve a preocupação de que o mesmo ocorresse com o novo vírus pandêmico. Nesta pandemia, muitos pacientes com suspeita de infecção pelo vírus A(H1N1)pdm09 tiveram o teste negativo para influenza A, ficando sem uma definição do agente etiológico. Testes moleculares podem detectar a presença de mutações relacionadas à resistência ao oseltamivir, à virulência e antigenicidade do vírus, assim como podem definir o diagnóstico etiológico por vírus respiratórios. Para esclarecer essas questões dois estudos foram realizados. O primeiro foi a “Caracterização genética dos vírus influenza A (H1N1)pdm09 detectados no Estado de Pernambuco, Brasil, no período de maio de 2009 a maio de 2010”, com o objetivo de verificar a resistência desse vírus ao oseltamivir e também avaliar a diversidade genética dos vírus circulantes. Foram analisadas 118 amostras do vírus A(H1N1)pdm09 através de pirosequenciamento, precedida da transcrição reversa e reação em cadeia da polimerase em tempo real (rRT-PCR) para amplificação do H1N1pdm-N1 fragmento C e posterior detecção da mutação H274Y, utilizando o equipamento PyroMark Q-96 ID no modo SNP (single nucleotide polymorphism). Foram sequenciados os genes da hemaglutinina de 31 amostras, pela técnica de Sanger, de acordo com o Protocolo do CDC para Influenza. Foi utilizado o kit “Big Dye® terminator Cycle Sequencing” (Applied Biosystem) e o produto submetido ao método de precipitação X-terminator. A mutação H274Y não foi observada, indicativo de que os vírus sequenciados eram sensíveis ao oseltamivir. As 31 amostras sequenciadas mostraram-se intimamente relacionadas com a cepa de referência A/California/7/2009(H1N1), entretanto, foram detectados 14 tipos de mutações, porém sem implicação no aumento da virulência. O segundo estudo realizado: ”Aspectos epidemiológicos e virológicos da infecção por Influenza A(H1N1)pdm09 e frequência de outros vírus respiratórios no Estado de Pernambuco, Brasil: 2009 – 2010” teve como objetivo analisar a pandemia de influenza no estado e identificar os vírus respiratórios responsáveis pelo quadro clínico que levou à hipótese diagnóstica da influenza pandêmica. Foram analisados espécimes de 705 casos para detecção do vírus da influenza A, utilizando-se a PCR em tempo real, sistema TaqMan, de acordo com o Centers for Disease Control and Prevention / Atlanta, das quais, 26,3% (186/705) foram positivas para o vírus A(H1N1)pdm09 e 2,3% (16/705) positivas para influenza A sazonal. Para detecção de outros vírus respiratórios foram analisadas 146 amostras negativas para o vírus A (H1N1)pdm09 por RT-PCR multiplex, com o kit “FTD Respiratory21 PLUS”. Entre as amostras negativas para o vírus A(H1N1)pdm09, 36,5% (53/146) foram positivas para outros vírus respiratórios, com três casos de infecção viral múltipla. Foram detectados: rhinovírus (41%), coronavírus 43 (14,3%), metapneumovírus humano (14,3%), bocavírus (7,1%), vírus respiratório sincicial (5,3%), influenza B (3,6%), parainfluenza 2 (3,6%), parainfluenza 3 (3,6%), adenovírus (1,8%), coronavírus HKU (1,8%), enterovírus (1,8%) e parainfluenza 1 (1,8%). Estes resultados mostram a circulação, além da Influenza A(H1N1)pdm09, de outros vírus respiratórios no estado em 2009-2010; evidenciam a necessidade da análise laboratorial dos casos suspeitos de influenza e a importância do monitoramento laboratorial das infecções respiratórias, uma vez que o diagnóstico etiológico baseado apenas em critérios clínicos nem sempre é acurado. Palavras chave: Influenza; vírus influenza A(H1N1)pdm09; hemaglutinina; oseltamivir; vírus respiratórios; infecção respiratória aguda; rhinovírus. ABSTRACT OLIVEIRA, Maria José Couto. Genetic characterization of Influenza A (H1N1)pdm09 virus and diferential diagnostic of suspected pandemic influenza cases in the State of Pernambuco, during the period of May 2009 to May 2010. Thesis (Doctor of Tropical Medicine) - Universidade Federal de Pernambuco, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Medicina Tropical. Recife, Pernambuco, 2012. During the pandemic period (2009-2010) with Influenza A(H1N1)pdm09 virus it was recommended the treatment using oseltamivir or zanamivir. With the increasing detection of Influenza A (H1N1) virus seasonal resistant to oseltamivir there was the preoccupation that the same could occur with the new pandemic virus. In this pandemic, many patients suspected of Influenza A(H1N1)pdm09 virus infection had a negative test result to influenza A, thus without a definition of the etiologic agent. Molecular tests can detect the presence of mutations related to resistance to oseltamivir, virulence and virus antigenicity, as well as they can define the etiologic diagnose caused by respiratory virus. In order to clarify these questions two studies were carried out. The first one was the “Genetic characterization of Influenza A (H1N1)pdm09 viruses in Pernambuco State, Brazil, during the period of May 2009 to May 2010”, with the objective of investigate the virus resistance to oseltamivir and also to evaluate the genetic diversity of circulating viruses. It was tested 118 samples of influenza A(H1N1)pdm09 virus by pyrosequencing, after the reverse transcription and real time polymerase chain reaction (rRT-PCR), for H1N1pdm-N1 fragment C amplification and detection of mutation H274Y using the PyroMark Q-96 ID in the single nucleotide polymorphism (SNP) mode. It was sequenced the hemaglutinine genes from 31 samples, through Sanger technique, according to CDC Influenza Protocol. It was employed the kit Big Dye® terminator Cycle Sequencing” (Applied Biosystem) and the product submitted to precipitation X-terminator method. It was not observed the mutation H274Y, indicating that the sequenced virus were sensitive to oseltamivir. The 31 samples sequenced reveled to be closed related to the reference strain A/California/7/2009(H1N1), nevertheless, 14 types of mutation were detected, but without implication in virulence increasing. The second study performed was “Epidemiological and virological aspects of Influenza A(H1N1)pdm09 and frequency other respiratory viruses in Pernambuco State, Brazil: 2009-2010” with the objective of studying the influenza pandemic in the state and identify the respiratory viruses responsible by the clinical symptoms that brought to the diagnose hypotheses of pandemic influenza. It was tested 705 samples for influenza virus detection by real time PCR (CDC protocol), from which 2.3% (16/705) were positive for influenza A seasonal and 26.3% (186/705) were reactive for Influenza A(H1N1)pdm09 virus. For presence of other respiratory viruses, 146 negative samples for Influenza A(H1N1)pdm09 virus were tested by multiplex RT-PCR, using the kit FTD Respiratory21 PLUS. Among the negative samples for Influenza A(H1N1)pdm09 virus, 36.5% (53/146) were reactive for other respiratory viruses, and three viral multiple-infection cases were found. It was detected: Rhinovirus (41.0%), Coronavirus 43 (14.3%), human Metapneumovirus (14.3%), Bocavirus (7.1%), Respiratory Syncytial Virus (5.3%), Influenza B (3.6%), Parainfluenza 2 (3.6%), Parainfluenza 3 (3.6%), Adenovirus (1.8%), Coronavirus HKU (1.8%), Enterovirus (1.8%) and Parainfluenza 1 (1.8%). These results show that besides Influenza A(H1N1)pdm09 virus, other respiratory viruses were also circulating in Pernambuco during 2009-2010; also show the necessity of laboratorial diagnoses and the importance of monitoring the respiratory infections; taking in account that the etiologic diagnose relying exclusively on clinical bases is not always accurate. Key words: Influenza, virus influenza A(H1N1)pdm09; hemagglutinin; oseltamivir, respiratory viruses, acute respiratory infection; rhinovirus. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação esquemática da partícula viral................................. 21 Figura 2 – Principais mecanismos evolutivos do vírus influenza ...................... 23 Figura 3 – Linha do tempo mostrando as pandemias provocadas pelo vírus influenza A ......................................................................................................... 28 Figura 4 – Fases de uma pandemia de influenza.............................................. 28 Figura 5 – Genótipos do vírus influenza A(H1N1) de linhagem suína americana e Influenza A(H1N1)pdm09 em casos recentes nos Estados Unidos........... 33 Figura 6 – Prevalência dos vírus influenza A (H1N1) sazonal resistentes ao oseltamivir em julho de 2008.............................................................................. 45 Figura 7– Fluxograma das etapas e técnicas utilizadas na realização do estudo................................................................................................................. 64 ARTIGO 1 Figura 1– Árvore filogenética das sequências de HA dos vírus influenza A (H1N1)pdm09 detectados em Pernambuco..................................................... 88 ARTIGO 2 Figura 1 – Distribuição dos casos de IRA e de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 de acordo com as semanas epidemiológicas......................... 105 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Proteínas do vírus Influenza A e respectivas funções.................... 22 ARTIGO 1 Tabela 1 – Mutações de aminoácidos no gene HA observados em pacientes 87 ambulatoriais e hospitalizados.......................................................................... ARTIGO 2 Tabela 1 – Características clínico-epidemiológicas da população do estudo.. 103 Tabela 2 – Casos fatais por Influenza A(H1N1)pdm09 no Estado de Pernambuco...................................................................................................... 104 Tabela 3 – Frequência de outros patógenos virais entre os casos de IRA no estado de Pernambuco..................................................................................... 104 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AdV Adenovírus CDC Centers for Disease Control and Prevention CT dNTP Ciclo no qual a fluorescência emitida atravessa o ponto de corte do teste de PCR em tempo real. Desoxirribonucleotídeo trifosfato EIA Ensaio imunoenzimático EV Enterovírus FLUA Influenza A FLUB Influenza B HA Hemaglutinina HBoV Bocavírus humano HCoV Coronavírus humano HMPV Metapneumovírus humano IEC Instituto Evandro Chagas ILI Síndrome gripal IOC Instituto Oswaldo Cruz IRA Infecção respiratória aguda LACEN Laboratório Central de Saúde Pública LVRS Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo M Proteína Matriz MS Ministério da Saúde NA Neuraminidase NEP Proteína de exportação nuclear NS Proteína não estrutural OMS Organização Mundial de Saúde One-Step- RT-PCR PA Transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase em uma única etapa. Polimerase ácida PB Polimerase básica pb Pares de base PCR Reação em cadeia da polimerase Pdm Pandêmico PeV Parechovírus PIV Vírus parainfluenza RIDTs Testes rápidos para o diagnóstico de influenza RNA Ácido ribonucléico RNP Ribonucleoproteína rRT-PCR RT-PCR em tempo real RT Transcrição reversa RV Rhinovírus SG Síndrome gripal SRAG Síndrome respiratória aguda grave SVO Serviço de verificação de óbitos RSV Vírus respiratório sincicial SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT 1 APRESENTAÇÃO............................................................................... 17 2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................... 19 2.1 Vírus Influenza.................................................................................... 19 2.2 Caracterização genética do vírus influenza A (H1N1)pdm09 ............ 38 2.3 Outras viroses respiratórias ................................................................ 47 3 OBJETIVOS......................................................................................... 61 3.1 Geral.................................................................................................... 61 3.2 Específicos.......................................................................................... 61 4 MATERIAIS E MÉTODOS................................................................... 61 4.1 Desenho do estudo.............................................................................. 61 4.2 Local do estudo.................................................................................... 62 4.3 População do estudo............................................................................ 62 4.4 Variáveis............................................................................................... 62 4.4.1 Variáveis dependentes...................................................................... 62 4.4.2 Variáveis independentes................................................................. 62 4.5 Operacionalização da pesquisa.......................................................... 63 4.5.1 Detecção do vírus influenza A(H1N1)pdm09................................... 66 4.5.2 Sequenciamento do gene HA.......................................................... 67 4.5.3 Pirosequenciamento para detecção da mutação H274Y................ 70 4.5.4 Diagnóstico diferencial de influenza A............................................. 72 4.6 Considerações éticas.......................................................................... 74 4.7 Análise estatística................................................................................ 74 5 RESULTADOS...................................................................................... 75 5.1 ARTIGO 1 Caracterização genética dos vírus influenza A (H1N1)pdm09 detectados no estado de Pernambuco, no período de maio de 2009 a maio de 2010............................................................................. 75 5.2 ARTIGO 2 Aspectos epidemiológicos e virológicos da infecção por influenza A(H1N1)pdm 09 e frequência de outros vírus respiratórios no Estado de Pernambuco, Brasil: 2009 – 2010......................................... 90 6 CONCLUSÕES...................................................................................... 106 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 107 REFERÊNCIAS APÊNDICES Apêndice A - Versão em inglês do Artigo 1 a ser submetido à Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz Apêndice B - Versão em inglês do Artigo 2 a ser submetido à Revista Journal of Clinical Virology ANEXOS Anexo A – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFPE Anexo B – Carta de anuência do LACEN-PE Anexo C – Carta de anuência da Diretoria Geral de Vigilância Epidemiológica e Ambiental /SES-PE. Anexo D - Ficha de Investigação Influenza Humana por Novo Subtipo (Pandêmico). 17 1 APRESENTAÇÃO Em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) notificou a ocorrência de casos humanos de influenza que ocorreram no México e nos Estados Unidos da América. Identificou-se um vírus influenza A subtipo H1N1 produto de rearranjo que circulou pelo mundo, sendo responsável pela primeira pandemia do século XXI e por mais de 18.000 mortes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010a). Os primeiros casos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 no Brasil foram confirmados em maio de 2009 e, no estado de Pernambuco, em junho do mesmo ano. Os vírus influenza são conhecidos por suas altas taxas de mutação, principalmente, nos genes da hemaglutinina (HA) e da neuraminidase (NA). O gene da hemaglutinina é o que apresenta a taxa de mutação mais elevada e a proteína que ele codifica (HA) está diretamente associada ao sucesso da infecção viral, daí a importância do seu monitoramento. Estudos com o vírus influenza A (H1N1)pdm09 têm detectado várias mutações no gene HA, sendo uma das principais a D222G, que tem sido associada aos casos graves e fatais (LIU et al. 2010; LEDESMA 2011). Mutações no gene NA podem levar à perda de sensibilidade aos inibidores da atividade neuraminidásica viral ao oseltamivir (ABED et al. 2006, AOKI et al. 2007). Estudos anteriores à pandemia de 2009 mostraram resistência do vírus influenza A (H1N1) sazonal humano ao oseltamivir, superior a 10% em vários países (DHARAN et al. 2009; ESHAGHI et al. 2009). No curto período de 8 de dezembro de 2008 a 24 de janeiro de 2009, trinta países notificaram à OMS a detecção de 1291 vírus influenza A (H1N1) sazonal, resistentes ao oseltamivir (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009a). Com a introdução do novo vírus influenza A(H1N1)pdm09 na população mundial e do amplo uso do antiviral oseltamivir, principalmente nos países desenvolvidos, surgiu a necessidade de monitoramento do referido vírus para a identificação de variantes mais virulentas ou capazes de evadir da resposta imune recém montada, assim como verificar se os vírus circulantes estão desenvolvendo resistência às drogas antivirais aplicadas no momento. Durante a pandemia, muitos casos de infecção respiratória aguda, analisados laboratorialmente, foram negativos para o vírus Influenza A, permanecendo sem 18 diagnóstico etiológico. É sabido que além do vírus influenza, outros vírus podem causar infecções respiratórias agudas, tais como o vírus respiratório sincicial, parainfluenza, adenovírus, metapneumovírus (THOMAZELLI et al., 2007), rhinovírus, coronavírus e enterovírus (WEISSENBACHER; ÁVILA, 1998). Esse fato faz com que haja necessidade do exame laboratorial para determinar a etiologia das infecções respiratórias agudas (IRAs) e assim evidenciar a necessidade de prevenção contra outras viroses respiratórias. Para tanto, ensaios de multiplex RT-PCR com detecção em tempo real constituem uma excelente ferramenta para detectar, além do vírus pandêmico, outros patógenos associados aos casos de síndrome gripal (SG) ou síndrome respiratória aguda grave (SRAG). A ausência de dados sobre resistência ao oseltamivir e da análise genética dos vírus influenza detectados durante a pandemia de 2009 no estado de Pernambuco, assim como o grande número de casos suspeitos da infecção sem diagnóstico etiológico, motivaram a realização deste estudo. Esta tese está constituída de dois artigos para publicação em periódicos, e de uma parte introdutória contendo uma breve revisão bibliográfica sobre o vírus influenza, caracterização genética do vírus influenza A(H1N1)pdm09 e outros vírus responsáveis pela etiologia de infecções respiratórias agudas. No primeiro artigo, cujo título é “Caracterização genética dos vírus influenza A(H1N1)pdm09 detectados no estado de Pernambuco, Brasil, no período de maio de 2009 a maio de 2010” descrevem-se a frequência de mutações detectadas no gene da hemaglutinina, relacionadas a antigenicidade e virulência e da mutação H274Y no gene neuraminidase relacionada à resistência ao oseltamivir. No segundo artigo, intitulado “Aspectos epidemiológicos e virológicos da infecção por Influenza A(H1N1)pdm09 e frequência de outros vírus respiratórios no estado de Pernambuco, Brasil: 2009-2010” foram descritos os aspectos clínico-epidemiológicos dos casos confirmados por laboratório de infecção com o vírus influenza A (H1N1)pdm09, assim como a etiologia viral de alguns casos cujo resultado foi negativo para o vírus pandêmico. 19 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 VÍRUS INFLUENZA A influenza ou gripe é uma infecção viral aguda do sistema respiratório que tem distribuição global e elevada transmissibilidade. Sua importância deve-se ao seu caráter epidêmico, caracterizado pela disseminação rápida e marcada morbidade nas populações atingidas (BRASIL, 2006). Epidemias de doença respiratória com sintomas semelhantes aos ocasionados pelo vírus da Influenza já tinham sido descritas por Hipócrates no ano 412 a.C. (NICHOLSON, 1998). Em 1933, Wilson Smith e colaboradores do Instituto Nacional para Pesquisas Médicas em Londres inocularam por via intranasal, lavados de nasofaringe de pacientes com sintomas de gripe em furões. Observaram que a doença era transmitida do homem para o furão e, que, após a inoculação, esses animais apresentavam os mesmos sintomas dos pacientes e desenvolviam uma resposta imunológica ao inóculo. Desse modo, foi descoberto o vírus denominado, posteriormente, como vírus Influenza tipo A (SMITH; PARVIN; PALESE, 1986). Em 1940, foi detectado o vírus influenza B, antigenicamente distinto do vírus influenza A, mas com características estruturais semelhantes (FRANCIS, 1940) e em 1951 foi descoberto um novo gênero denominado Influenzavirus tipo C (TAYLOR, 1951). O vírus Influenza pertence à família Ortomyxoviridae e de acordo com perfis antigênicos característicos, são subdivididos em três gêneros: A, B e C, comumente referidos como influenza “tipos” A, B e C (BUSH, 2007), entretanto, apenas os tipos A e B têm relevância clínica em humanos (BEHRENS et al., 2006). Os principais determinantes antigênicos dos vírus da Influenza A e da Influenza B são as glicoproteínas de superfície, hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA) (PALESE; SHAW, 2007). Representação esquemática da partícula viral pode ser vista na Figura 1. Os vírus Influenza A são classificados segundo as glicoproteínas (HA e NA). Até o momento foram descritas 16 HA (H1 a H16) e 9 NA (N1 a N9). Sua completa nomenclatura inclui o tipo do vírus, o hospedeiro de origem (exceto quando humano), o local onde foi isolado, o número da cepa e o ano do isolamento, seguido do subtipo antigênico de HA e NA entre parênteses. Como exemplo pode ser citado 20 o vírus Influenza A/Califórnia/4/2009 (H1N1). Subtipos antigênicos de Influenza B e Influenza C não têm sido descritos (W RIGHT; W EBSTER, 2007). As partículas virais são constituídas de 0,8 a 1% de RNA, 70% de proteína, 20% de lipídios, 5 a 8% de carboidratos. Seu genoma é constituído de RNA de fita simples, polaridade negativa, segmentado, envolvido por um capsídeo protéico de simetria helicoidal, composto pela proteína matriz e por um envelope lipoprotéico (SANTOS; ROMANO; WIGG, 2008). Pela sua composição química é sensível ao calor (56ºC durante 30 minutos), pH ácido (3,0) e solventes lipídicos (SANTOS; ROMANO; WIGG, 2002). Os vírus influenza são pleomórficos e, geralmente, se apresentam sob a forma de partículas esféricas com um diâmetro de cerca de 100nm, mas partículas filamentosas têm sido frequentemente observadas, com mais de 300nm (PALESE; SHAW, 2007). As partículas do vírus influenza A possuem espículas denominadas hemaglutinina (HA) e neuraminidase (NA) com comprimento em torno de 10 a 14 nm respectivamente. Estas glicoproteínas são encontradas no vírion numa proporção de quatro HA para cada NA. Embora a HA seja o principal alvo para anticorpos neutralizantes, anticorpos contra a NA também podem reduzir a ocorrência e gravidade da doença, e possivelmente, prevenir a infecção, se presente em altos títulos (BUSH, 2007). A hemaglutinina é o principal antígeno viral que promove a adsorção da partícula aos resíduos sializados das células do sistema respiratório e após a endocitose da partícula, induz a fusão do envelope viral à membrana interna do endossoma, permitindo a liberação do genoma viral no citoplasma celular. A neuraminidase é outra glicoproteína de superfície e tem atividade de sialidase (cliva o ácido siálico), sendo fundamental ao brotamento do vírus da superfície celular para infectar novas células. O genoma do vírus da Influenza A possui 10 genes em 8 segmentos (BUSH, 2007; BEHRENS et al., 2006). Cada segmento codifica importantes proteínas, cujas funções encontram-se descritas na Tabela 1. As proteínas básicas 1 e 2 ( PB1 e PB2) são componentes do complexo polimerase, tendo como função o reconhecimento do iniciador 7-metil guanina do RNA mensageiro celular, atividade endonucleásica e extensão da cadeia, respectivamente. A proteína ácida (PA) completa o complexo polimerase. A nucleoproteína (NP) tem função de proteção e importação do RNA para o núcleo celular. A proteína de matriz (M1) tem função estrutural, interage com as RNPs e 21 glicoproteínas de superfície. M2 é uma proteína de membrana, tem função de canal iônico e montagem. A NS1 é uma proteína não estrutural multifuncional e a NEP/NS2 atua na exportação nuclear dos RNPs virais. Mais recentemente, outra proteína foi descoberta, a PB1-F2 (PALESE; SHAW, 2007). Figura 1. Representação esquemática da partícula viral Fonte: McHardy and Adams, 2009 A maioria das proteínas virais desempenha um papel direto na virulência. Atualmente, as proteínas mais relacionadas ao potencial patogênico são a HA, PB1, PB2 e NS1. As mais associadas com o desenvolvimento de resistência a drogas antivirais são NA e M2 (ARIAS et al., 2009). 22 Tabela 1 – Proteínas do vírus Influenza A e respectivas funções Segmento Proteínas 1 2 3 4 Função PB2 PB1 PA HA Componente da RNA polimerase, reconhecimento Componente da RNA polimerase; atividade de endonuclease e alongamento Componente da RNA polimerase Glicoproteína de superfície, receptor de ligação, atividade de fusão e principal antígeno 5 NP Ligação, síntese e importação nuclear de RNA 6 NA Glicoproteína de superfície; atividade de sialidase M1 Proteína de matriz, interação com as RNPs virais e glicoproteínas de 7 superfície M2 Proteína de membrana, com atividade de canal iônico e montagem 8 NS1 Proteína não estrurural multifuncional. Inibidora da resposta imune inata. NEP/NS2 Proteína de exportação nuclear das RNPs virais do núcleo para o citoplasma celular. Fonte: Adaptado de Palese e Shaw (2007). Variabilidade e evolução do vírus influenza Dois aspectos do genoma do vírus da influenza permitem uma grande flexibilidade de evolução: 1- o vírus tem um genoma segmentado, favorecendo o rearranjo de segmentos; 2- o complexo polimerase viral não possui nenhum mecanismo de revisão para corrigir erros de replicação (BUSH, 2007). Os vírus influenza estão sujeitos a dois tipos de variações antigênicas: a) Antigenic drift – durante a replicação viral, mutações decorrentes da baixa fidelidade do complexo polimerase ocorrem gerando mutações pontuais no genoma da progênie. Tais mutações pontuais podem resultar em mudanças nos aminoácidos que compõem as glicoproteínas de superfície, particularmente da hemaglutinina. Surgem então, novas variantes capazes de escapar da imunidade estimulada por infecção ou vacinação prévia. b) Antigenic shift - são consequência de rearranjos gênicos caracterizados pela completa substituição de um ou mais segmentos do genoma viral. Essas alterações se devem ao reagrupamento entre vírus humanos e vírus que infectam outras espécies animais. Quando ocorrem rearranjos antigênicos entre amostras humanas e animais, a maioria da população não tem imunidade para os novos vírus e a doença se dissemina rapidamente, podendo afetar indivíduos de todas as faixas etárias. As grandes pandemias foram consequência de variações antigênicas maiores (FORLEO-NETO et al., 2003). Demonstração de como pode ocorrer variações antigênicas do vírus influenza pode ser observado na Figura 1. Os vírus Influenza do tipo A infectam humanos, suínos, equinos, aves, focas, baleias (SANTOS; ROMANO; WIGG, 2008) e caninos (DESHPANDE et al., 2009); os do tipo B infectam humanos (HUNT, 2009) e focas (OSTERHAUS, 2000) e os do 23 tipo C infectam humanos, suínos (BRASIL, 2009a) e caninos (MANUGUERRA et al., 1993). Apenas um subtipo de HA e um de NA são reconhecidos na Influenza B (W RIGHT; W EBSTER, 2007). O primeiro relato de transmissão interespécies envolvendo porcos ocorreu em 1938, quando Shope apresentou evidência sorológica de transmissão de um vírus humano a porcos. Maior evidência de transmissão de vírus entre estas duas espécies ocorreu em 1976, quando um vírus suíno (H1N1) foi isolado de um soldado que tinha morrido de infecção por influenza em Nova Jersey. Posteriormente este vírus foi isolado de outros cinco soldados e estudos sorológicos sugeriram que mais de 500 pessoas foram infectadas (WRIGHT; W EBSTER, 2007). Figura 2 – Principais mecanismos evolutivos do vírus influenza Geração de novos virus humanos (H3N2) que possuem hemaglutinina de vírus de influenza aviária Antigenic shift (Rearranjo gênico) Mutações pontuais vão se acumulando no genoma ocasionando a emergência de variantes virais Fonte: Adaptado de Glyco Word Transmissão A transmissão do vírus ocorre através de gotículas expelidas pelo indivíduo doente através do espirro ou tosse, ou por contato direto ou indireto, com secreções 24 respiratórias de pessoas infectadas (NARAIN; KUMAR; BHATIA, 2009). Na influenza sazonal o indivíduo infectado pode transmitir o vírus um dia antes, até cinco a sete dias após o início dos sintomas (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009a). Pessoas com elevado grau de imunodepressão podem excretar vírus por semanas ou meses. As crianças, comparadas aos adultos, também excretam vírus mais precocemente, por longos períodos e com maior carga viral (BRASIL, 2009a). Na infecção pelo vírus A(H1N1)pdm09, observou-se que a transmissão de adultos infectados ocorria um dia antes até o 7º dia do início dos sintomas. Crianças menores de 12 anos de idade transmitiam o vírus um dia antes até o 14º dia de início dos sintomas (BRASIL, 2009b). Aspectos clínicos O período de incubação é de um a cinco dias na influenza sazonal (W RIGHT; W EBSTER, 20 07), e de dois a três dias no caso do vírus da Influenza A(H1N1)pdm09, podendo se estender até sete dias (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009b). Os principais sintomas da infecção por Influenza são febre, tosse, coriza, cefaléia, congestão nasal, calafrio, dor no corpo e, algumas vezes, diarréia e vômito (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009b). A maioria dos pacientes recupera-se em uma semana, sem exigir atenção médica, mas a gripe pode causar doença grave ou morte (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009c). Complicações podem ocorrer em todas as faixas etárias e em indivíduos saudáveis. Entretanto, idosos, particularmente os com doenças crônicas (asma, diabetes, cardiopatia, enfisema), crianças de baixa faixa etária e gestante têm um maior risco de desenvolvê-las (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009b). Outras situações de risco de complicações incluem: imunodepressão, doença renal crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica e hemoglobinopatias (BRASIL, 2006). As complicações mais comuns são as pneumonias bacterianas secundárias e, a mais grave, a pneumonia viral primária, podendo ocorrer as duas simultaneamente. A gripe pode exacerbar doenças pulmonares, cardíacas e outras doenças crônicas. Também tem sido associada com encefalopatia, mielite 25 transversa, miosite, miocardite, pericardite, síndrome de Reye (BEHRENS, G. et al., 2006), e síndrome de Guillain-Barré (HUNT, 2009). Diagnóstico laboratorial Para o diagnóstico laboratorial é muito importante a qualidade da amostra que deve ser coletada de preferência até o 4º ou 5º dia do início dos sintomas. Dentre as amostras respiratórias, o aspirado de nasofarínge é normalmente mais adequado do que amostras de swab combinado de orofaringe e nasofaringe. Em pacientes entubados, secreção traqueal e lavado brônquico, podem ser utilizados (VAN ZYL, 2006). Em caso de óbito, em situações especiais indicadas pela vigilância epidemiológica, deverão ser colhidos fragmentos de brônquios e pulmões (BRASIL, 2009c). O diagnóstico laboratorial inclui o isolamento viral, ensaios imunoenzimáticos (EIA) e testes rápidos para o diagnóstico de influenza (RIDTs) para detecção de antígenos, reação em cadeia da polimerase (RT-PCR), imunofluorescência e hemaglutinação/ inibição da hemaglutinação. A sensibilidade e a especificidade dos testes variam entre os diferentes métodos, o tipo de amostra usada e os resultados devem ser avaliados no contexto das informações clínicas e epidemiológicas. Testes sorológicos com uma única amostra de sangue não são recomendáveis para o diagnóstico de Influenza. Geralmente são realizados em pesquisas de saúde pública utilizando amostras pareadas de sangue, uma na fase aguda da doença e outra na fase convalescente. Os testes padrão para confirmação da infecção pelo vírus da Influenza são a reação em cadeia da polimerase e o isolamento do vírus (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009c; VAN ZYL, 2006, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009d). O vírus pode ser isolado em ovos embrionados de galinha e em células de rim canino (MDCK). Os efeitos citopáticos são inespecíficos e vírus da influenza A podem ser detectados e subtipados do sobrenadante de cultura de células através das reações de RT-PCR, de imunofluorescência ou de inibição da hemaglutinação (VAN ZYL, 2006). Em 2009, foi desenvolvido um protocolo de RT-PCR em tempo real (rRTPCR) para detecção do vírus influenza A(H1N1)pdm09, pelo “Centers for Disease Control and Prevention” (CDC) de Atlanta (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009e h). 26 Reservatórios naturais Aves são hospedeiros naturais de todos os subtipos conhecidos de vírus da influenza A. Surtos de gripe aviária entre aves ocorrem no mundo inteiro. Apesar de o vírus infectar predominantemente aves, eles podem e têm atravessado a barreira das espécies e infectado seres humanos. Quando tal fato ocorre, pode desencadear uma pandemia (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009d ). Até 1997, acreditava-se que a transmissão direta de vírus das aves para o ser humano não poderia acontecer, quando surgiram os primeiros casos de gripe aviária em humanos em Hong Kong (ENGIN, 2007). A exposição às aves infectadas, suas excreções e secreções (saliva, secreção nasal e fezes) ou solo contaminado pode resultar em infecção humana. Todas as aves são susceptíveis à infecção pelo vírus da influenza A, porém algumas espécies são mais resistentes do que outras. O vírus tem, contudo, alta capacidade de transmissibilidade e as aves migratórias contribuem para a disseminação intercontinental (REVISTA DE SAÚDE PÚBLICA, 2006). Todos os 16 subtipos de HA e os 9 subtipos de NA da Influenza A são capazes de infectar aves aquáticas selvagens, resultando num imenso e permanente reservatório. Nas aves, os vírus podem causar duas formas diferentes de doença: uma suave que pode passar despercebida, e uma grave, de disseminação rápida e taxa de mortalidade que pode aproximar-se de 100% dentro de 48 horas. O vírus H5N1, altamente patogênico, pode sobreviver em fezes de aves pelo menos 35 dias em baixa temperatura (4ºC) e em temperaturas mais altas (37ºC) por seis dias (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006). Epidemiologia O impacto das epidemias de influenza é reflexo da interação entre a variação antigênica viral, o nível de proteção da população para as cepas circulantes e o grau de virulência dos vírus (FORLEO-NETO et al., 2003). Anualmente, em período interpandêmico, cerca de três a cinco milhões de pessoas infectadas pelo vírus da influenza apresentam um quadro grave da doença e 250.000 a 500.000 pessoas evoluem para óbito (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009c). Os índices de hospitalização por doença grave são cerca de 3 por 1000 para crianças de 6 a 23 meses e de 9 por 1000, para crianças menores de 6 meses (GRIJALVA et al., 2006). A vacina é a melhor estratégia disponível para a 27 prevenção da gripe e suas consequências, proporcionando impacto indireto na diminuição do absenteísmo no trabalho e dos gastos com medicamentos para tratamento de infecções secundárias, das internações hospitalares e da mortalidade evitável (BRASIL, 2009a). A primeira vacina contra a gripe foi implementada em 1943, com vírus inativados de influenza A e B. Como os vírus da influenza estão constantemente apresentando mutações, as vacinas devem ser anualmente atualizadas, com base nas cepas circulantes. (TURKINGTON; ASHBY, 1988). A vacina utilizada é constituída de dois tipos de vírus da Influenza A e um tipo da Influenza B de acordo com recomendação da Organização Mundial da Saúde (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2011) e indicada para indivíduos com 60 anos de idade ou mais e é oferecida por meio de campanhas anuais, cujo período deve ser anterior ao período de maior circulação do vírus na população do país. Está disponível, também, nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) durante todo o ano, para pessoas consideradas de maior risco para a doença e suas complicações e familiares que estejam em contato com os referidos pacientes, além de profissionais de saúde, trabalhadores de asilos e creches, de indígenas a partir de 6 meses de idade e da população carcerária (BRASIL, 2009a). A despeito de ser o método mais eficaz para minorar as consequências da infecção por influenza na comunidade, no momento em que um novo subtipo ou cepa começa a ser transmitido na população humana, dificilmente haverá uma vacina disponível para uso imediato. Histórico das Pandemias de influenza Pandemias de influenza têm sido documentadas pelo menos nos últimos quatro séculos. No século XX ocorreram três pandemias e várias ameaças de pandemias: 1918-1919 (gripe espanhola), 1957-1958 (asiática), 1968-1969 (Hong Kong), 1976 (ameaça de gripe suína), 1977 e 1999 (ameaça de gripe russa), 1977 (ameaça de gripe aviária) (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 2009). A Figura 3 mostra esquematicamente os períodos pandêmicos e os vírus que circularam nos respectivos períodos. Na gripe espanhola, considerada a mais grave de todos os tempos, calcula-se que cerca de 20 a 40% da população mundial contraiu a infecção e mais de 50 milhões de pessoas morreram (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 2009). Muitas dessas mortes foram causadas por pneumonia bacteriana secundária, 28 mas a gripe espanhola também causou uma forma de pneumonia viral primária, com extensa hemorragia dos pulmões, que matava em até 24 horas. A maioria das mortes ocorreu em pessoas jovens e saudáveis de 15 a 35 anos e apenas 1% das mortes ocorreu em indivíduos com 65 anos ou mais (BEHRENS et al., 2006). Figura 3. Linha do tempo mostrando as pandemias provocadas pelo vírus influenza A De acordo com a OMS, existem seis fases que caracterizam uma pandemia de influenza, conforme esquematicamente representado na Figura 4. Figura 4 – Fases de uma pandemia de influenza Fase 5-6 Fase 4 Pandemia Pós Pico Pós Pandemia Fase 1 a 3 Tempo Infecção Transmissão Infecção Possibilidade Níveis de predominantemente entre humanos humana de eventos atividade recorrentes sazonal animal; sustentada algumas infecções humanas Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2012. da doença 29 O agente etiológico da gripe espanhola foi o vírus Influenza A (H1N1). Este vírus, de origem suína, espalhou-se em três ondas num período de 12 meses, em 1918-1919, cruzando a Europa, Ásia e América do Norte. A primeira onda, que começou na primavera de 1918, foi altamente contagiosa, mas não particularmente mortal. A segunda onda, que começou em setembro, espalhou-se de forma altamente letal (BEHRENS et al., 2006). Uma terceira onda, de impacto semelhante ao da segunda, ocorreu na primavera de 1919 (W RIGHT; WEBSTER, 2007). Em fevereiro de 1957, a gripe asiática foi detectada no extremo oriente e em maio do mesmo ano seu agente etiológico, o vírus da Influenza A do subtipo H2N2, foi isolado no Japão (SCHOLTISSEK et al., 1978) e Singapura. Surtos eram frequentemente explosivos, entretanto, o vírus quando comparado com o vírus da pandemia de 1918 demonstrou ser responsável por um quadro clínico mais leve e por um número de mortes bem menor (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005a). O mundo estava mais bem preparado para enfrentar uma pandemia, devido a: 1- Maior conhecimento sobre os vírus da influenza em virtude do avanço da virologia; 2- Vacinas para epidemias sazonais tinham sido desenvolvidas e mostravam ser o método mais eficaz de prevenção, reduzindo a influenza sazonal em dois terços ou mais, nos locais onde era aplicada; 3- Antibióticos estavam disponíveis para tratamento das complicações, incluindo a pneumonia bacteriana; 4O monitoramento virológico da influenza vinha sendo realizado há mais de 10 anos, através da Rede de Vigilância Global da Influenza (WHO Global Influenza Surveillance Network) (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005a). Em agosto de 1957 já se dispunha de uma vacina, embora em quantidade limitada (ORGANIZACÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 2009). Pacientes portadores de doenças crônicas e gestantes eram mais susceptíveis a desenvolver complicações pulmonares (LOURIA et al., 1957). A mortalidade apresentou um padrão similar ao das epidemias sazonais, isto é, o maior número de óbitos ocorreu em crianças e idosos. Durante a primeira onda, o maior número ocorreu em crianças na idade escolar. Na maioria dos países, uma segunda onda surgiu de um a três meses após o desaparecimento da primeira, causando um maior número de pessoas infectadas e óbitos. Ao contrário da primeira onda, a população mais atingida foi a de idosos, o que justifica o aumento da mortalidade. Estima-se que mais de dois milhões de pessoas morreram. O maior 30 número de óbitos foi de indivíduos portadores de doença crônica e não de indivíduos previamente saudáveis, como aconteceu durante a pandemia da gripe espanhola (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005a). Em 1968, onze anos depois da gripe asiática, o vírus influenza A (H2N2) deixou de circular, sendo substituído pelo A (H3N2), dando origem à gripe de Hong Kong. Os primeiros sinais de uma nova pandemia foram noticiados no sul da Ásia no verão de 1968 e um vírus do subtipo H3N2 foi isolado em Hong Kong em julho de 1968. A população mais acometida pela doença foi o grupo de 10 a 14 anos de idade (WRIGHT; W EBSTER, 2007). Foi estimado cerca de um milhão de óbitos devido à gripe de Hong Kong. Nos Estados Unidos, cerca de 50% de todos os óbitos por influenza ocorreram em indivíduos com menos de 65 anos de idade (BEHRENS et al., 2006). Estudos soroarqueológicos mostraram que a maioria dos indivíduos nascidos antes de 1893 possuía anticorpos para o subtipo A(H3), antes de terem sido expostos ao novo vírus pandêmico de 1968 (DOWDLE, 1999), e que a pré-existência de anticorpos para o subtipo H3 poderia ter protegido os idosos (>77 anos) durante a pandemia de H3N2, em 1968 (BEHRENS et al., 2006). Estudos utilizando técnicas de biologia molecular mostraram que o agente etiológico da gripe espanhola foi um vírus aviário H1N1 que se adaptou ao homem e foi capaz de se replicar eficientemente no mesmo. Ao contrário do vírus da pandemia de 1918, os vírus da gripe asiática e da gripe de Hong Kong são produto de rearranjos gênicos. O vírus da gripe asiática foi produto de rearranjo gênico entre o subtipo A(H1N1) humano de 1918 e um vírus H2N2 aviário, resultando no novo vírus H2N2 humano, composto por 3 segmentos do H2N2 aviário (HA, NA e PB1) e 5 segmentos do subtipo A (H1N1). O vírus da gripe de Hong Kong surgiu do rearranjo gênico entre o subtipo H2N2 humano e um aviário (H3), resultando no vírus humano subtipo A(H3N2) composto por dois segmentos do vírus aviário (HA e PB1) e cinco segmentos do de 1918 (BELSHE, 2005). Em 1997, centenas de pessoas se infectaram com o vírus da gripe aviária A (H5N1) em Hong Kong. Dessas, 18 pessoas tiveram de ser hospitalizadas e seis foram a óbito. Em 1999, foi detectado um novo vírus da gripe aviária, o A (H9N2), que infectou duas crianças em Hong Kong. Apesar dos dois vírus não terem causado uma pandemia, sua presença nas aves, sua habilidade para infectar os seres humanos e, potencialmente, tornarem-se transmissíveis entre humanos, são 31 motivos de constante preocupação (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE, 2009). Do início de 2003 a 28 de janeiro de 2010 foram notificados à Organização Mundial da Saúde 471 casos confirmados de Influenza A (H5N1) e 282 óbitos em 15 países (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010b). Outras cepas de influenza aviária têm causado infecções em humanos: H7N2, H7N3, H7N7 e H9N2. Entretanto, o H5N1 é o que causa maior preocupação, pois tem sido responsável pelo maior número de casos com doença grave em humanos e o maior número de óbitos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2006). Na década de 1990, uma tripla recombinação de vírus influenza A (H1) contendo segmentos de genes de influenza de origem aviária, humana e suína emergiram e tornaram-se enzoóticos em rebanhos de porcos nos Estados Unidos na década de 1990 (SHINDE et al., 2009). Naquele momento sabia-se que a nova influenza, denominada inicialmente de influenza suína, normalmente causava surtos de gripe entre os suínos e que em geral, este vírus não infectava o homem, apesar de existirem registros de transmissão pontual do vírus para os seres humanos, não havendo, entretanto registro de transmissão deste novo subtipo da influenza suína para pessoas por meio da ingestão de carne de porco e produtos derivados. É importante salientar que no período de dezembro de 2005 a fevereiro de 2009, portanto, antes da atual pandemia, o CDC notificou nos Estados Unidos, 11 casos esporádicos de infecção em humanos pelo vírus Influenza A (H1N1) de origem suína, em indivíduos de 16 meses a 48 anos de idade. Destes, quatro foram hospitalizados, mas todos se recuperaram, apesar de alguns deles apresentarem doença severa do aparelho respiratório inferior e sintomas raros de gripe, como diarréia (SHINDE et al., 2009). Diante da preocupação global da possibilidade de surgir um novo subtipo pandêmico do vírus da influenza, os países reunidos na Assembléia Mundial da Saúde aprovaram em 2003 uma resolução, incentivando a todos os países para a elaboração de planos para enfrentamento a uma nova pandemia. Em novembro de 2005, o Brasil publicou a primeira versão do Plano de Preparação Brasileiro para uma Pandemia de Influenza (BRASIL, 2005). O tempo de surgimento de uma nova pandemia, o subtipo viral e sua patogenicidade são imprevisíveis. O planejamento pandêmico tem por objetivo tornar os países mais preparados para reconhecer e gerenciar uma pandemia de gripe. O nível de preparação para o enfrentamento de uma pandemia de influenza pode ajudar a reduzir a transmissão do vírus, a diminuir 32 o número de casos, hospitalizações e óbitos, e manter os serviços essenciais, reduzindo o impacto econômico e social da pandemia. Muitos países ganharam experiência no planejamento e resposta à pandemia depois de lidar com a ameaça, ou a realidade da síndrome respiratória aguda grave (SARS) e gripe aviária de alta patogenicidade (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2005b). Pode-se afirmar que uma das estratégias mais eficazes para o retardo da transmissão viral é a vigilância virológica e epidemiológica, isto é, a detecção precoce dos primeiros casos, o bloqueio da transmissão e a intervenção oportuna (DONALISIO, 2006). Pandemia de 2009 A partir de 15 de março de 2009, o governo do México observou o aumento não usual de infecção respiratória aguda grave. De 17 a 26 de abril foram notificados 1.455 casos prováveis de influenza com pneumonia grave, incluindo 84 óbitos, à Organização Mundial da Saúde (OMS), que em 24 de abril de 2009 notificou aos países membros a ocorrência de casos humanos de influenza suína que vinham ocorrendo no México e nos Estados Unidos da América. Neste mesmo dia foi identificado um novo subtipo do vírus de Influenza suína A(H1N1) classificada como A/CALIFORNIA/04/2009 que não havia sido detectado previamente em humanos ou suínos. Observou-se que sua transmissão ocorria de pessoa a pessoa, principalmente por meio de tosse ou espirro e secreções respiratórias de pessoas infectadas (BRASIL, 2009d ). O novo subtipo viral de 2009 era composto por: dois genes (PA e PB2) da linhagem aviária norte-americana; um gene (PB1) derivado da linhagem sazonal H3N2; três genes (HA, NP e NS) da linhagem suína clássica norte-americana; e dois genes (NA e M) da linhagem suína euro-asiática (DAWOOD et al., 2009), conforme pode ser observado na Figura 3. O primeiro grupo de triplo rearranjo suíno de vírus influenza A é encontrado em suínos e pode ocasionalmente ser transmitido aos seres humanos, mas não se transmite de forma eficiente de humano a humano. Em contraste, o vírus A(H1N1)pdm09 não provoca epidemia em suínos (embora os porcos possam ser infectados pela exposição aos seres humanos), mas a transmissão entre os seres humanos ocorreu de maneira muito rápida e se espalhou por vários países (BELSHE, 2009). O diferencial entre os subtipos A(H1N1)pdm09 e A (H1N1) sazonal (circulante na população desde 1977) está especialmente localizado na HA 33 que apresenta distintos perfis de glicosilação e, por conseguinte, uma baixa identificação antigênica entre as cepas (SETTEMBRE; DORMITZER; RAPPUOLI, 2010). Figura 5- Genótipos do vírus influenza A(H1N1) de linhagem suína americana e influenza A(H1N1)pdm09 em casos recentes nos Estados Unidos. PB2 - proteína básica 2, PB1 – proteína básica 1, PA – proteína ácida, HA – hemaglutinina, NP – nucleoproteína, NA – neuraminidase, M – proteína de matrix e NS – proteína não estrutural. Fonte: Dawood, 2009 Em 25 de abril, seguindo o Regulamento Sanitário Internacional (RSI 2005), a OMS declarou a pandemia de influenza como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESP II) e comunicou que o nível de alerta para caracterizar uma pandemia de influenza estava na fase 3. No Brasil, a definição inicial de caso suspeito era todo indivíduo que apresentasse febre alta de maneira repentina (>38ºC) e tosse, podendo estar acompanhada de algum dos seguintes sintomas: dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, dificuldade respiratória e ter apresentado sintomas até 10 dias após sair da área afetada pela nova influenza (BRASIL, 2009d). Com a disseminação do vírus para vários países a 34 definição de caso foi se adequando à situação, tendo como base a situação epidemiológica. Em 27 de abril de 2009, o nível de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional foi elevado para a fase 4 (BRASIL, 2009e) e em 29 de abril, para a fase 5. Em 30 de abril de 2009 a OMS adotou como denominação oficial o termo Influenza A (H1N1), em substituição à denominação anterior de Influenza Suína (BRASIL, 2009f). Publicação da Organização Mundial da Saúde (2009f) em 22 de maio mostrou através da análise de 10.243 casos confirmados por laboratório de infecção pelo novo vírus influenza A(H1N1)pdm09 em 41 países, incluindo 80 óbitos, que os principais sintomas da doença eram tosse, febre, dor de garganta, mal estar e cefaléia; que a maioria dos pacientes apresentava uma síndrome gripal, sem complicações, curando espontaneamente, mas que o estado clínico do paciente podia variar de doença leve não febril do trato respiratório superior, à doença grave, ou pneumonia fatal. De acordo com o “Centers for Disease Control and Prevention” (2010a), dor no corpo, fadiga e algumas vezes vômito e diarréia também eram sintomas da infecção pelo novo vírus pandêmico. No dia 7 de maio de 2009 foram confirmados os primeiros casos do novo vírus Influenza A(H1N1)pdm09 no Brasil: dois casos em São Paulo, um no Rio de Janeiro e um em Minas Gerais (BRASIL, 2009g) e no dia 9 de maio foi relatado o primeiro caso autóctone no Brasil. O paciente apresentou sintomas”, após contato com um caso confirmado que havia retornado do México (BRASIL, 2009h). Em 11 de junho de 2009, o nível foi elevado da fase 5 para fase 6 (BRASIL, 2009i). Em 22 de junho de 2009 foi confirmado o primeiro caso de Pernambuco, publicado no dia 24 de junho (BRASIL, 2009j). No dia 16 de julho de 2009, o Ministério da Saúde declarou transmissão sustentada do vírus no Brasil (BOLETIM ELETRÔNICO EPIDEMIOLÓGICO, 2009). A partir de 19 de julho de 2009 (Semana Epidemiológica 29), após a declaração da transmissão sustentada, o Ministério da Saúde passou a realizar o monitoramento apenas dos óbitos e casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), seguindo as orientações da OMS. Interrompeu a investigação e notificação de casos leves suspeitos por Influenza A(H1N1), pois não estava mais recomendada a identificação individual de cada caso suspeito de influenza pelo novo vírus. No entanto, manteve o monitoramento de informações sobre os grupos de risco para desenvolvimento de doença grave, assim como o monitoramento da circulação do vírus no país (BRASIL, 2009c). 35 A coleta do material para o diagnóstico laboratorial passou a ser realizada apenas dos óbitos, dos casos de SRAG e de surtos de síndrome gripal em comunidades fechadas (BOLETIM ELETRÔNICO EPIDEMIOLÓGICO, 2010). Até agosto de 2010, em todo o mundo, mais de 214 países e territórios ou comunidades relataram casos laboratorialmente confirmados de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm 2009, incluindo pelo menos 18.449 mortes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010a). A taxa de letalidade no mundo foi estimada em 0,4% (BAUMEISTER et al., 2010). No Brasil, no período de 19 de abril a 22 de agosto de 2009 (Semanas epidemiológicas 16 a 33) foram notificados 34.506 casos de infecção respiratória com SRAG. Foram confirmados laboratorialmente 5.747 (16,7%) casos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09, 917 (2,7%) casos de influenza sazonal e 4.176 (12,1%) casos descartados de influenza. Até o fechamento da coleta de dados dos autores, restavam 23.668 (68,6%) de casos que ainda estavam sendo investigados. Dos casos A(H1N1)pdm09 confirmados, 56,5% eram do sexo feminino e a faixa etária mais atingida foi de 20 a 49 anos (56%). Fora os sintomas que faziam parte da definição de SRAG, os mais frequentes foram mialgia (62,2%), coriza (54%) e calafrio (53,4%). A incidência foi de 3.0/100.000 habitantes (OLIVEIRA et al., 2009). No período de 19 de abril a 18 de julho de 2009 (Fase de contenção no Brasil) foram notificados no país 12.919 casos de SG e SRAG e confirmados por critério laboratorial ou clínico-epidemiológico, 4.434 casos, dos quais 1.556 (35%) apresentavam SRAG. Dentre estes 14,5% evoluíram para óbito. Considerando os casos confirmados por SG e SRAG a taxa de letalidade foi de 5,1% para o período de contenção. Dos casos confirmados houve um predomínio do sexo masculino e a faixa etária mais atingida foi a de 20 a 29 anos (29,3%) (BOLETIM ELETRÔNICO EPIDEMIOLÓGICO, 2010). No período de 19 de julho a 2 de janeiro de 2010 (Fase de mitigação no Brasil) foram notificados 87.171 casos de SRAG e confirmados 44.544 (51,1%). Dos casos confirmados houve predomínio do sexo feminino (57,2%) e a faixa etária mais atingida também foi a de 20 a 29 anos (24,3%). A taxa de incidência nacional de SRAG confirmada pela presença do vírus da influenza A (H1N1)pdm09 foi de 23,3 /100.000 habitantes e a maior incidência foi observada no grupo etário de menores de 2 anos, seguido do grupo de 20 a 29 anos. A menor incidência ocorreu na faixa etária acima de 60 anos. Entre os sintomas que definiam o caso de SRAG, 36 destacaram-se mialgia, calafrio, coriza e dor de garganta. Dos casos confirmados, 45,1% dos pacientes apresentavam algum tipo de condição crônica de saúde, sendo o grupo das pneumopatias crônicas o mais frequente (19,1%), seguido de cardiopatias, imunossupressão e doenças metabólicas (BOLETIM ELETRÔNICO EPIDEMIOLÓGICO, 2010). Em todo o ano de 2009, o Brasil registrou 2.051 óbitos por influenza pandêmica e uma taxa de mortalidade de 1,1/100.000 habitantes, no sul a taxa de mortalidade foi de 3,0 /100.000 habitantes e no nordeste 0,1/100.000 habitantes. A letalidade dentre os casos de SRAG pelo vírus A (H1N1)pdm09 foi de 4,6%. Entre os óbitos, houve uma predominância do sexo feminino (56,4%) e da faixa etária de 30 a 39 anos, seguida da faixa de 20 a 29 anos. Na distribuição etária das taxas de mortalidade, a maior taxa ocorreu na faixa de 50 a 59 anos, seguida das faixas de 30 a 39 anos e menores de 2 anos de idade. Das mulheres que evoluíram para óbito, 26,5% eram gestantes (BOLETIM ELETRÔNICO EPIDEMIOLÓGICO, 2010). Possivelmente em decorrência do grande número de infectados, associado à vacinação promovida pelo Ministério da Saúde, houve uma intensa queda no número de casos. De janeiro a 4 de setembro de 2010, o Brasil notificou 8.366 casos, sendo até então confirmados 773 (9,2%) casos pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09. O nordeste notificou 614 casos sendo 103 (13,3%) confirmados. Entre os casos confirmados do Brasil, a mediana foi de 24 anos e o sexo feminino foi responsável por 61,1% dos casos, sendo que 68,9% estavam em idade fértil (10 a 49 anos) e destas 36% eram gestantes. Foram registrados 951 óbitos suspeitos de influenza pandêmica, sendo 99 (10,4%) confirmados, 793 foram descartados e até o dia 4 de setembro, 59 continuavam em investigação (BRASIL, 2010a). No dia 10 de agosto de 2010, a OMS anunciou o fim da pandemia e início da fase pós-pandêmica (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010c). Antivirais Foram duas as drogas antivirais aprovadas e recomendadas para o tratamento da nova influenza pandêmica: os inibidores de neuraminidase, oseltamivir e zanamivir, mais comumente conhecidos pelos nomes comerciais Tamiflu e Relenza respectivamente. Para os pacientes com sintomas de doença grave, como dispnéia e febre alta, a OMS recomendou o tratamento com oseltamivir que deveria começar imediatamente. Para indivíduos com maior risco de 37 desenvolver doença grave, como gestantes, crianças menores de 5 anos de idade, portadores de doenças crônicas cardiovascular, respiratória ou doença hepática, diabéticos ou indivíduos imunodeprimidos, transplantados e pacientes com câncer, a OMS recomendou tratamento com oseltamivir ou zanamivir, logo no início dos sintomas. Em todos os casos, onde o oseltamivir não estivesse disponível, ou não pudesse ser usado por qualquer razão, o zanamivir poderia ser empregado (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009f). O oseltamivir liga-se à NA do vírus da influenza, impedindo-a de clivar o ácido siálico da porção da membrana plasmática no momento do brotamento, bloqueando o ciclo de infecção (IAMARINO, 2009). Vacinas A campanha de vacinação contra o vírus influenza A(H1N1)pdm09 no Brasil foi realizada em cinco etapas e teve início em 8 de março de 2010. Foram priorizados os seguintes grupos: trabalhadores dos serviços de saúde envolvidos na resposta à pandemia, população indígena, gestantes, portadores de doenças crônicas, crianças saudáveis maiores que seis meses e menores de dois anos de vida, adultos saudáveis de 20 a 39 anos completos, e população com 60 anos e mais de idade portadora de comorbidade (BRASIL, 2010b). Foi uma das maiores campanhas de vacinação no Brasil, onde foram superadas diversidades regionais, sociais, econômicas e culturais. Foram vacinadas mais de 89,5 milhões de pessoas, contribuindo, certamente, de forma extremamente importante, para a redução da incidência no país (BRASIL, 2010c). Estudos relacionados à susceptibilidade viral ao oseltamivir vêm sendo realizados. Até o momento, não foram identificadas variações antigênicas importantes no vírus A(H1N1) pdm09 (Barr et al, (2010). Apesar de algumas variantes genéticas terem sido relatadas, como a mutação E391K e a mutação D222G que, segundo alguns autores, está ligada aos casos mais graves, nenhuma variante tem predominado em um país ou região. De acordo com Adwan (2009), a análise filogenética do gene HA de 54 cepas do vírus influenza A(H1N1)pdm09 isolados no Oriente Médio também mostraram que antigenicamente estão relacionados a cepa protótipo da vacina A/California/7/2009(H1N1). Portanto, a cepa A/California/7/2009-like recomendada para a formulação da vacina pela OMS desde 38 o início da pandemia, continuou a ser recomendada para uso no inverno de 2011, no hemisfério sul, e também na estação de influenza de 2010-2011 no hemisfério norte (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2011). 2.2 CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO VÍRUS INFLUENZA A(H1N1)pdm09 Mutações do vírus da influenza A (H1N1)pdm09 no gene HA De acordo com Glinsky (2010), foi conduzida uma análise de grande volume de dados clínicos, epidemiológicos e genômicos para a avaliação da evolução da pandemia nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália e Japão. A mutação D222G foi frequentemente detectada, em vírus isolados de casos fatais e a análise filogenética mostrou que 42,9% das amostras de autópsias de casos confirmados do vírus A (H1N1)pdm09 possuíam a mutação Q310H. Entretanto, segundo Lee et al. (2010) a mutação Q310H era comum na época, o que poderia facilmente explicar a sua maior ocorrência entre os poucos casos fatais analisados, sem a necessidade de, necessariamente, estar associada com a gravidade. Kawano et al. (2011) detectaram 23 tipos de mutação no gene HA de amostras de vírus A(H1N1)pdm09 que circularam em Nagasaki, Japão, mas a D222G e a Q310H não foram detectadas. Na China, foi detectada a mutação D225G no gene da hemaglutinina do vírus A(H1N1)pdm09. Foi observado que ela aumentava a virulência do novo vírus em camundongos. Estudos anteriores realizados com o vírus H1N1 da pandemia de 1918 sugerem que essa mutação está associada à uma dupla especificidade de ligação do vírus para os receptores de ácido siálico 2,3 e para o ácido siálico 2,6 do hospedeiro. Assim, o vírus com a mutação D225G poderia causar doença mais grave devido à capacidade de adsorver nas células do trato respiratório inferior, onde o ácido siálico 2,3 é mais predominante. O ácido siálico 2,6 está mais presente nas células do trato respiratório superior (LIU et al., 2010, ZHENG et al., 2010). Na Noruega, no período de maio de 2009 a janeiro de 2010, foram analisadas 61 amostras de casos graves e fatais e 205 amostras de casos leves através de sequenciamento convencional e pirosequenciamento para detectar a mutação D222G. Dentre os casos graves e fatais, foi detectado um percentual de 18% (11/61) 39 de amostras apresentando a mutação acima citada e, em contraste, nenhuma das sequências obtidas a partir dos casos leves apresentaram esta mutação. Nesse estudo, também foram detectadas as mutações D222E e D222N identificando-se a co-circulação destes genótipos mutantes com o vírus selvagem 222D (KILANDER, 2010). No mesmo período, foram identificados vírus com a mutação D222G em dois pacientes em Bordeaux, sudoeste da França, entre 24 internados em unidade de terapia intensiva por complicações advindas da infecção pelo novo vírus pandêmico (MALATO et al., 2011). Nesse estudo, foram detectadas também as mutações S203T, D222E, Y230H, M257I, Q293H, I295V, K305R, V231I e V321F. Ainda no período de maio de 2009 a janeiro de 2010, foram testadas 458 amostras respiratórias positivas para o vírus influenza A(H1N1)pdm09 que circularam em Hong Kong, sendo 219 amostras provenientes de casos graves e 239 de casos leves. Nove dos casos graves (4,1%) apresentaram a mutação D222G, enquanto nos casos leves nenhuma mutação D222G foi detectada. Quatro dos nove pacientes cujas amostras apresentavam vírus com a referida mutação, foram a óbito, havendo associação estatisticamente significativa entre a mutação D222G e a forma grave da doença (p= 0,002). Outras substituições, como D222N (casos graves, n=3; casos leves, n=1) e D222E (somente em casos leves, n=4) também foram encontradas (MAK et al., 2010). Foi realizado o sequenciamento de um segmento parcial de subunidade HA1 de vírus influenza A (H1N1)pdm09 detectados em amostras respiratórias de 273 casos graves e 533 casos leves de diferentes regiões espanholas para monitorar substituições na posição 222. A mutação D222G foi detectada em vírus de 14 casos graves (5,12%). A mutação D222E foi detectada em vírus de 47 casos graves (17,21%) e de 52 casos leves (9,75%) e a mutação D222N ocorreu em vírus de três casos graves (0,37%), sugerindo que as mutações D222G e D222E nos vírus pandêmicos circulantes na Espanha estivessem relacionadas com doença respiratória grave (LEDESMA, 2011). Na Finlândia, foram analisados os genes HA e NA de vírus pandêmicos detectados em 138 pacientes. Em dois indivíduos (1,44%) foram detectados vírus com a mutação D222G e em outro indivíduo a D222Y, todos em estado grave. Não foi detectada a mutação H274Y no gene da neuraminidase e todos os vírus foram estreitamente relacionados aos vírus da vacina A/Califórnia/07/2009. Não foram 40 detectadas mudanças nos genes de HA e NA que pudessem levar à seleção de um vírus com aumento de virulência e de potencial epidêmico (IKONEN et al., 2010). Miller et al. (2010) sequenciaram a subunidade HA1 do gene HA de 58 amostras de pacientes do oeste da Escócia infectados com vírus influenza A(H1N1)pdm09. As amostras foram subdivididas em dois grupos: o primeiro era composto de 32 pacientes, dos quais nove tinham sido hospitalizados, mas haviam se recuperado e 23 que tinham falecido, e o segundo grupo que era formado por 26 pacientes com quadro clínico leve. Foi detectado um aumento da incidência da mutação D222G nos pacientes que faleceram (2/23 – 8,7%), quando comparados com os pacientes que se restabeleceram (0/35 – 0%). Foi observado também um aumento da incidência de D222N entre os pacientes do primeiro grupo (2/32 – 6,2%), quando comparados com os pacientes do segundo grupo, formado de casos leves (0/26 – 0%), não tendo sido detectada a mutação D222N nas amostras dos pacientes que foram a óbito. Por fim, foram detectadas duas mutações D222E no primeiro grupo, sendo uma em amostra de paciente que foi a óbito e outra na de um paciente que foi hospitalizado, mas se recuperou, contra três que foram encontradas em pacientes com quadro leve, não havendo portanto diferença significativa entre os dois grupos. Estudo realizado por Potdar et al. (2010) com vírus da influenza A (H1N1)pdm09 isolados na Índia no período de maio a setembro de 2009, detectou no gene HA as mutações S451N e I547T que só haviam sido detectadas na Índia e as mutações K2E, Q310H, S220T, P100, I338V, D222G já descritas em outros países. Análises moleculares de cepas circulantes no norte da Grécia revelaram uma série de variações nas sequências de HA1, algumas das quais foram mais frequentes em vírus que causaram infecções graves ou fatais. A mutação mais comum foi a D222G. A análise filogenética confirmou a estreita correspondência da maioria das cepas circulantes com a A/California/7/09. No entanto, também revelou uma tendência das cepas de 2010 de acumular variações de aminoácidos e formar novos grupos filogenéticos. Daí a importância da vigilância molecular constante para monitorar a patogenicidade de cepas circulantes e avaliar a eficácia da vacina (MELIDOU et al., 2010). Em dezembro de 2009, de acordo com dados recebidos e repassados pela OMS, a prevalência de substituição D222G era inferior a 1,8% (52 detecções entre mais de 2.755 sequências de HA), mas levando-se em consideração apenas os 41 óbitos, a prevalência subiu para 7,1% (26 casos tinham a substituição D222G em 364 casos fatais analisados). Entretanto, a OMS salientou que a vigilância e o laboratório vinham dando prioridade para amostras de pacientes hospitalizados e gravemente doentes o que poderia levar a potenciais viezes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009g). Análise filogenética dos genes HA e NA de vírus influenza A(H1N1)pdm09 detectados de 253 pacientes no Japão, mostrou que no início da pandemia as principais mutações encontradas foram a HA - S220T e NA N248D (MORLIGHEM et al., 2011). Em Cingapura, foi detectada a mutação E391K que, de acordo com MaurerStroh et al. (2010) pode alterar a estabilidade de uma região da HA importante para a fusão do vírus à célula hospedeira. Vírus com a mutação E391K e N142D no gene HA, foram detectados na Austrália, Nova Zelândia e Cingapura, no inverno de 2010. Até o momento tais mutações não parecem representar uma mudança antigênica significativa, no entanto, poderiam indicar o início de uma variação antigênica do vírus influenza A(H1N1)pdm09 exigindo talvez uma atualização mais rápida da vacina (BARR et al., 2010). No período de abril de 2009 a junho de 2010, análises moleculares de 90 cepas de vírus influenza A(H1N1)pdm09 que circularam no Brasil, das quais 28 provenientes de pacientes que foram a óbito, revelaram uma série de substituições nas sequências de HA. As cepas eram oriundas de cinco estados: São Paulo (76), Goiás (7), Piaui (4), Mato Grosso (1), Mato Grosso do Sul (1) e Distrito Federal (1). Foram encontradas as seguintes mutações: S220T (71%), D239G/N/S (20%), Y247H (4,5%), E252K (3,3%), M274V (2,2%), Q310H (26,7%) e E391K (12%). Casos fatais foram associados à mutação D239G (p<0,0001) (FERREIRA et al., 2011). De acordo com Mak (2011) em janeiro de 2011, época de inverno em Hong Kong e tradicional estação da influenza, as mutações E391K e S202T cresceram rapidamente e tornaram-se a cepa predominante no local, mas ainda não está claro o seu significado. Na Argentina, o sequenciamento do genoma completo de 26 cepas de vírus de Influenza A(H1N1)pdm09 e de oito cepas sequenciadas parcialmente não mostrou evidências de que a alta taxa de letalidade no país, que foi de 4,5%, enquanto no resto do mundo foi estimada como menor que 1,0%, pudesse ser atribuídas a mudanças no vírus. Nenhuma evidência de rearranjo, de mutações 42 associadas à resistência de drogas antivirais e mutações pontuais que pudessem contribuir para aumentar a virulência do vírus foi observada. Apenas a mutação S206T no gene de HA, já previamente detectada mundialmente, foi observada (BAUMEISTER et al., 2010). Entretanto, Barrero et al. (2011) ao sequenciarem 28 cepas do vírus A (H1N1)pdm09, detectados na Argentina, observaram que todas elas possuíam a mutação S220T no gene HA. Em 228 amostras detectaram cinco cepas com a mutação H274Y no gene da NA. No sul da China, foi realizada a caracterização genética do gene HA de 10 cepas do vírus A (H1N1)pdm09 e em 100% delas foram detectadas as mutações P100S, T214A, S220T e I338V. Outras mutações presentes foram a I208L em 90% das cepas, E391K e A409V (60%), S145P (40%), D144E (20%) e S340F e H416 (1%) (FAROOQUI et al., 2011). Mutações do vírus influenza A (H1N1)pdm09 no gene NA Estudos vêm sendo realizados em relação à resistência às drogas inibidoras da neuraminidase (oseltamivir e zanamivir). Neste contexto, o pirosequenciamento tem constituído uma ferramenta rápida e eficaz na vigilância de marcadores de resistência (LACKENBY et al., 2008; DEYDE et al., 2009; DEYDE et al., 2010). A mutação de resistência mais comumente encontrada tem sido a H274Y ou H275Y que significa a substituição do aminoácido histidina (H) pela tirosina (Y) na posição 274 ou 275. Esta substituição altera a capacidade de interação da NA com o oseltamivir, diminuindo a afinidade entre ambos (IAMARINO, 2009). Atualmente utiliza-se H274Y para N1 e H275Y para N2 (KAWAY et al., 2009). Um estudo realizado no Japão entre 2000–2001 com 43 crianças tratadas com oseltamivir, detectou vírus influenza A (H1N1) com a mutação H274Y, em 16% (7/43) das crianças (MOSCONA, 2005). Em 2004, com o objetivo de investigar a resistência ao oseltamivir, foram analisados vírus de influenza A (H3N2) isolados de 50 crianças no Japão, antes e durante tratamento com oseltamivir. Foram detectadas mutações no gene de neuraminidase em vírus de nove crianças (18%). Seis tinham a mutação R292K (substituição da arginina na posição 292 pela lisina) e dois tinham a mutação E119V (substituição do ácido glutâmico na posição 119 pela valina), que conferem 43 resistência a inibidores de neuraminidase. Também foi identificada numa criança a mutação N294S (KISO et al., 2004). Mutação subtipo específica de neuraminidase a inibidores de neuraminidase tem sido notificada durante passagens in vitro e clínicas. Estudo realizado por Abed et al. (2006) no Canadá, avaliou o impacto de várias mutações de NA (E119A/G/V, H274Y, R292K e N294S) nos perfis de susceptibilidade a diferentes inibidores de NA (oseltamivir, zanamivir e peramivir) usando proteínas de NA recombinante da influenza A/WSN/33 (H1N1) e A/Sydney/5/97-like (H3N2). No subtipo N1, a mutação E119V conferiu resistência cruzada ao oseltamivir, zanamivir e peramivir, ao passo que resistência somente ao oseltamivir foi conferida pela mesma mutação no subtipo N2. A mutação N294S conferiu resistência ao oseltamivir em ambos os subtipos, N1 e N2, ao passo que a mutação H274Y conferiu resistência ao oseltamivir e peramivir só no subtipo N1. Durante as estações de influenza de 2007 e 2008, a resistência entre os vírus de influenza A (H1N1) ao oseltamivir aumentou, significativamente, pela primeira vez no mundo. Amostras da Influenza A (H1N1) detectadas no período de 2007 a 2009 através da Vigilância da Influenza nos Estados Unidos foram testadas pelo CDC para determinar a resistência ao oseltamivir através do ensaio de inibição da atividade neuraminidásica e pelo método de pirosequenciamento. De 1.155 vírus da influenza A (H1N1) testados, 142 (12,3%) eram resistentes ao oseltamivir. Nenhuma exposição ao oseltamivir foi informada antes do diagnóstico de influenza nas amostras coletadas, sugerindo que a resistência não teve ligação com o uso da referida droga. Dados obtidos de 182 casos de vírus sensíveis ao oseltamivir, quando comparados com os resistentes à mesma droga, não mostraram nenhuma diferença significativa em relação às características demográficas, nem sintomas clínicos (DHARAN, 2009). Estudo realizado em Toronto no Canadá, também durante a estação de influenza de 2007-2008, por Eshaghi et al. (2009), utilizando sequenciamento de Sanger, demonstrou que 17% (82/474) dos vírus de influenza A (H1N1) isolados, carregavam a mutação H274Y associada à resistência ao oseltamivir. No dia 25 de janeiro 2008, a OMS foi notificada oficialmente por autoridades norueguesas sobre um alto índice de resistência ao oseltamivir em vírus influenza A (H1N1) de pacientes antes da estação de influenza em novembro e dezembro 2007 44 na Noruega. De 16 vírus isolados, 12 (75%) eram resistentes ao oseltamivir (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2008). Na Oceania, sudeste da Ásia e sul da África, foram examinadas 264 amostras de vírus da influenza A (H1N1) coletadas em 2008, para verificar a sensibilidade ao oseltamivir, zanamivir e peramivir, utilizando um teste de fluorescência de inibição da neuraminidase. Os vírus com reduzida sensibilidade ao oseltamivir foram analisados por pirosequenciamento. A frequência da mutação H274Y, que confere resistência ao oseltamivir, aumentou significativamente após maio de 2008, resultando em uma proporção global de resistência entre as amostras de influenza A (H1N1) de 64% (168/264), apesar de este subtipo representar apenas 11,6% de todos os isolados entre os vírus identificados em 2008 (HURT et al., 2009). No período de 2 de novembro a 27 de dezembro de 2008, a OMS recebeu a notificação de alta prevalência de vírus de influenza A (H1N1) resistentes ao oseltamivir detectada em diversos países: (19/19) no Canadá, (97/100) nos Estados Unidos, (4/5) no México, (8/8) na Alemanha, (9/9) na Noruega, (5/5) na Espanha, (36/37) no Reino Unido, (132/133) na Coréia e (34/35) no Japão. No total, 13 países notificaram casos de influenza A (H1N1) resistentes ao oseltamivir, dando um percentual de 92% (350/379) entre as amostras analisadas (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009h). De outubro de 2008 a janeiro de 2009, 308 isolados de influenza, de 26 estados dos Estados Unidos, foram testados para resistência a medicamentos antivirais no CDC. De 190 vírus de influenza A (H1N1) testados, 185 (97.4%) eram resistentes ao oseltamivir e todos eram sensíveis a zanamivir. Todos 41 vírus de influenza A (H3N2) e todos 77 vírus de influenza B testados eram sensíveis ao oseltamivir e zanamivir (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009e). De dezembro de 2008 a 24 de janeiro de 2009, trinta países notificaram à OMS a detecção de 1.291 isolados de influenza A (H1N1) resistentes ao oseltamivir (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009a). Estudo realizado na Noruega, no período de 2007-2008, com 265 pacientes com vírus A (H1N1), 183 (67,3%) dos quais eram resistentes ao oseltamivir, mostrou que a resistência não estava associada ao uso prévio de drogas antivirais, e que os sintomas e índices de hospitalização e a transmissibilidade não eram diferentes entre os vírus sensíveis e os resistentes ao oseltamivir (HAUGE et al., 2009). 45 Alguns estudos estão analisando a capacidade de replicação, transmissão e infectividade dos vírus mutados resistentes ao oseltamivir em relação aos vírus que não sofreram as respectivas mutações. Segundo Aoki; Boivin e Roberts (2007) vírus com substituição na neuraminidase conferindo susceptibilidade reduzida ao oseltamivir eram replicados com dificuldade in vitro, e estes mutantes geralmente reduziam a infectividade e transmissibilidade, quando comparados com vírus selvagem em modelos animais. Entretanto, posteriormente, Baz et al. (2010), concluíram que a mutação H274Y não interfere aparentemente na aptidão viral, e virulência de vírus de influenza A (H1N1), como o A/Brisbane/59/2007-like. Figura 6 – Prevalência dos vírus influenza A (H1N1) sazonal resistentes ao oseltamivir. Fonte: OMS - Julho de 2008 Com a instalação da pandemia em 2009, os inibidores da neuraminidase foram largamente usados para o tratamento e quimioprofilaxia do vírus da influenza A(H1N1)pdm09. Estudos vêm sendo realizados para verificar a resistência desse vírus aos inibidores da neuraminidase e a maioria desses vírus tem mostrado ser sensível a esse grupo de drogas (CHEN et al., 2011). No entanto, casos de resistência ao oseltamivir já foram relatados na Dinamarca, Hong Kong, Japão e Canadá foram notificados à OMS no final de julho de 2009. Todos os vírus resistentes tinham uma mutação característica na posição 274/275 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009i). 46 A possibilidade de resistência ao oseltamivir se disseminar tem sido uma preocupação. Embora tenha sido focada no surgimento de resistência devido ao tratamento, há relatos de resistência viral aos inibidores da neuraminidase entre indivíduos sem história prévia de uso destas drogas. Anteriormente acreditava-se que tais vírus teriam menos infectividade e transmissibilidade em seres humanos, o que não se confirmou (MOSCONA, 2009). De acordo com Le et al. (2010) foi observado no Vietnan que os vírus A(H1N1)pdm09 com a mutação H274Y, resistentes ao oseltamivir podem replicar e causar doença em pessoas saudáveis, mesmo na ausência de exposição prévia aos inibidores da neuraminidase. Em agosto de 2009, o CDC detectou resistência ao oseltamivir em dois pacientes imunossuprimidos infectados com o vírus da influenza A(H1N1)pdm09 em Seattle, Washington. Os dois pacientes foram tratados com oseltamivir e tiveram eliminação de vírus prolongada por, pelo menos, dois meses. Inicialmente o vírus mostrou ser sensível ao oseltamivir, e a resistência se desenvolveu subsequentemente, com o surgimento da mutação H274Y durante o tratamento (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009f). Também em agosto de 2009, o CDC identificou a mutação H274Y em amostras de duas adolescentes que receberam oseltamivir como profilático na Carolina do Norte, Estados Unidos. Na neuraminidase, uma segunda mutação I223V também foi detectada. Este foi o primeiro relato de resistência ao oseltamivir em casos de vírus influenza A (H1N1)pdm09 com vínculo epidemiológico (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2009g ). No período de primeiro de setembro de 2009 até 13 de fevereiro de 2010, algumas amostras de influenza foram testadas no CDC para resistência aos inibidores de neuraminidase (oseltamivir e zanamivir). Os resultados da prova de resistência antiviral mostraram que 1/1 da amostra de influenza sazonal A (H1N1) e 1,3% (48/3691) das amostras de Influenza A(H1N1)pdm09 eram resistentes ao oseltamivir e que nenhuma das amostras testadas de Influenza A (H3N2) e Influenza B apresentavam resistência a esse inibidor de neuraminidase. Quanto à resistência ao zanamivir foram testadas 1.305 amostras de Influenza A(H1N1)pdm09 e todas eram sensíveis à referida droga (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010a). Em outubro de 2009, foram detectados quatro casos infectados por vírus resistentes de Influenza pandêmica em pacientes imunocomprometidos numa 47 enfermaria de oncologia hematológica num hospital da Carolina do Norte. Os autores concluíram que a proximidade geográfica, a convivência por um determinado período, a presença da mutação H274Y e a similaridade na sequência viral fortemente sugeriam a transmissão nosocomial do vírus resistente e que o imediato isolamento, poderia prevenir novas infecções (CHEN et al., 2011). Até o dia 17 de fevereiro de 2010 foram notificados à OMS 248 casos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 resistentes ao oseltamivir. Todos possuíam a mutação H274Y. De 248 casos, 23% estavam associados ao tratamento, 6% associados à profilaxia, 24% eram pacientes imunodeprimidos, 6% não tinham associação conhecida com tratamento ou provável transmissão pessoa a pessoa e 41% dos casos tinham sido notificados preliminarmente, sem dados completos dos pacientes (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2010d). Estudo realizado por Souza et al. (2010) em pacientes oncológicos hospitalizados no Rio de Janeiro, mostrou que os pacientes permaneciam eliminando os vírus por um período prolongado, mas não detectou nenhum vírus resistente. Corroborando esses achados ao analisarem amostras de 1.608 pacientes hospitalizados com infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09, Harvala et al. (2011) detectaram 10 (0,62%) amostras cujos vírus eram resistentes ao oseltamivir. Todos os pacientes eram imunocomprometidos. Kawano et al. (2011) detectaram pela primeira vez em Nagasaki, Japão, uma cepa de vírus A(H1N1)pdm09 com a mutação H274Y entre 75 cepas isoladas. A impossibilidade de uso do oseltamivir como uma opção de tratamento pode ter consequências profundas. Para reduzir este risco, o uso de oseltamivir deve ser restringido à profilaxia e tratamento de casos graves e pessoas sob maior risco de complicações. As reservas de antivirais devem ser diversificadas, e dosagens ideais e terapias de combinação devem ser urgentemente estudadas. Portanto, é essencial monitorar e controlar a resistência aos inibidores de neuraminidase (LE et al., 2010), para orientar o uso eficiente dessa droga. A falta de estudos sobre os vírus influenza A(H1N1)pdm09 que circularam na nossa região em relação à presença, ou ausência de mutações, implicadas na infectividade ou na resistência ao oseltamivir motivaram a realização deste estudo. 48 2.3 OUTRAS VIROSES RESPIRATÓRIAS As infecções respiratórias agudas (IRA) são responsáveis por considerável morbidade e mortalidade no mundo inteiro, principalmente em crianças, idosos e pacientes imunocomprometidos (RABONI et al., 2011), provocando aproximadamente 30% de todos os óbitos infantis nos países em desenvolvimento, (THOMAZELL et al., 2007). Frequentemente são causadas por vírus (COSTA et al., 2006). Em adultos, os vírus respiratórios estão entre os principais agentes causadores de pneumonia (De ROUX et al., 2004). Os vírus influenza são uns dos patógenos mais importantes, pela alta taxa de morbidade e mortalidade e pela sua capacidade de provocar epidemias e pandemias. Entretanto, vários vírus podem ocasionar um quadro clínico semelhante, denominado síndrome gripal ou “influenza-like illness” (ILI) (KELLY; BIRCH, 2004), cuja definição inclui febre e pelo menos um sintoma respiratório (tosse e / ou dor de garganta) e um sintoma constitucional (dor de cabeça, mal-estar, mialgia, calafrios ou suor, ou fadiga) ( BELLEI et al., 2008). Dentre tais patógenos figuram vírus respiratório sincicial (RSV), adenovírus (AdV), rhinovírus (RV), coronavírus (HCoV) e enterovírus (EV) (TURKINGTON; ASHBY, 1988), metapneumovírus (HMPV), (KELLY; BIRCH, 2004), bocavírus humano (HBoV) (PILGER et al., 2011) e o parechovírus humano (PeV), descrito anteriormente como echovírus 22 e 23 (HARVALA; SIMMONDS, 2009) e vírus parainfluenza (PIV) (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2011). Vírus Respiratório Sincicial (RSV) O RSV pertence à família Paramyxoviridae e foi isolado pela primeira vez em 1956. São vírus envelopados, não segmentados, dotados de genoma composto por RNA de fita simples, com polaridade negativa. Encontra-se classificado um único sorotipo e dois subgrupos A e B (COLLINS; CROWER, 2007). Globalmente é uma das principais causas de infecção do trato respiratório inferior em crianças (D’ELIA et al., 2005). Em muitas regiões constitui a principal etiologia como causa de pneumonia e bronquiolite em crianças menores de um ano. Portanto, é considerado um dos patógenos mais importantes para o desenvolvimento de vacinas (COLLINS; CROWER, 2007). Originalmente, era considerado como um patógeno apenas pediátrico. Contudo, recentemente, tem se mostrado como uma relevante causa de 49 infecções respiratórias, em idosos e adultos sob maior risco (MURATA; FALSEY, 2007). A transmissão viral ocorre através do contato direto com secreções de indivíduos infectados, ou objetos contaminados. As pessoas infectadas normalmente transmitem o vírus por um período de três a oito dias. Entretanto, algumas crianças e imunocomprometidos podem transmitir o vírus por até quatro semanas. O período de incubação é de quatro a seis dias, podendo variar de dois a oito dias. A maioria das pessoas saudáveis se recupera da infecção por RSV em uma a duas semanas. Os sintomas geralmente iniciam com coriza e diminuição do apetite. Tosse, espirros e febre normalmente surgem de um a três dias depois. Sibilos também podem ocorrer. Em crianças muito pequenas, irritabilidade, diminuição da atividade e dificuldades respiratórias podem ser os únicos sintomas da infecção (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010b). Entre os vírus respiratórios é o mais frequente nos casos de otite média aguda (HEIKKINEN; THINT; CHONMAITREE, 1999). Após a infecção natural, a proteção contra reinfecção é de curta duração e estas são frequentemente observadas em crianças menores de dois anos. Reinfecções em adultos também ocorrem, porém, clinicamente brandas (SILVA et al., 2009). Estudo realizado em crianças de baixa renda e menores de cinco anos, atendidas em hospital pediátrico no Recife, evidenciou sua maior circulação no período de abril a julho, durante a estação chuvosa, atingindo seu pico no mês de maio (BEZERRA et al., 2011). Evidências epidemiológicas indicam que o impacto da infecção por RSV em idosos pode ser similar àquela ocasionada pela gripe (FALSEY; WALSH, 2005). Até o momento não existe vacina licenciada (SLULLENDER, 2001). O uso de imunoprofilaxia passiva com anticorpos monoclonais reduz o número de hospitalizações em crianças sob risco (MEJIAS; RAMILLO, 2008). Metapneumovírus Os Metapneumovírus humanos (HPMV) também pertencem à família Paramyxoviridae, subfamília Pneumovirinae, gênero Metapneumovirus, possuindo similaridades com o RSV na sua organização genômica, estrutura viral, antigenicidade e sintomas clínicos (SILVA et al., 2009). Foi descrito pela primeira vez em 2001, quando foi isolado em 28 crianças holandesas, que apresentavam 50 desde doença do trato respiratório superior à bronquiolite grave e pneumonia (VAN DER HOOGEN, 2001). São vírus envelopados, cujo genoma é constituído de RNA de fita simples, não segmentados, polaridade negativa (COLLINS; CROWER, 2007). Através da análise genética foi caracterizado em dois grupos A e B e posteriormente, em dois subgrupos cada: A1, A2 e B1, B2, respectivamente (BROOR; BHARAJ; CHAHAR, 2008). Estudo realizado na Austrália, no período de 2001 a 2004, mostrou a circulação simultânea dos quatro subgrupos de HMPV, com um subgrupo diferente predominando a cada ano. O subgrupo mais comum foi o B1 (MACKAY et al., 2008). A infecção viral apresenta como característica o acometimento pulmonar, associado, principalmente, aos casos de bronquiolite e pneumonia. (SILVA et al., 2009). Tem distribuição mundial e suas manifestações clínicas podem variar de um quadro leve do trato respiratório superior até doença grave. A infecção por metapneumovírus humano ocorre em todas as idades (KELLY; BIRCH, 2004). Em geral, os adultos apresentam sintomas brandos de resfriado, como tosse, rinorréia, rouquidão, dor de garganta e, algumas vezes, febre. Entre os casos graves, são comuns a bronquiolite, asma exarcebada e pneumonia, embora quadros de diarréia, exantema, vômito, disfagia, conjuntivite e otite média já tenham sido descritos (SANTOS; ROMANO; WIGG, 2008). Em estudo realizado na cidade de Aracaju, abrangendo 111 crianças menores de três anos e com infecção aguda do trato respiratório inferior foi encontrada uma prevalência de 17% e, em oito (7%) a presença de infecção múltipla com o RSV (co-infecção) (CUEVAS et al., 2003). Na cidade de Curitiba, foi detectado o HPMV em 6,4% das 156 crianças hospitalizadas com IRA (DEBUR et al., 2007). Achados semelhantes foram relatados em Campinas por Silva et al. (2008). Na cidade do Recife a maior frequência ocorre em crianças menores de cinco anos, nos meses de julho a outubro, atingindo seu pico no mês de agosto (BEZERRA et al., 2011). A infecção natural induz proteção parcial contra a doença. Não há proteção cruzada contra as diferentes cepas do vírus (BROOR; BHARAJ; CHAHAR, 2008). O desenvolvimento de vacinas eficientes para imunização contra o HSRV e HMPV deve ser prioritário, bem como o aperfeiçoamento das terapias para recuperação de pacientes infectados (SILVA et al., 2008). 51 Enterovírus Os enterovírus humanos são membros da família Picornaviridae e estão entre os vírus RNA mais simples. Constituem causa comum de doenças respiratórias, embora as infecções sejam frequentemente subclínicas. As infecções respiratórias por enterovírus ocorrem mais no trato respiratório superior, (como um resfriado comum e crupe) do que no trato respiratório inferior (como a pneumonia) (PALLANSCH; ROOS, 2007). Clinicamente, os quadros respiratórios causados por enterovírus não diferem daqueles produzidos pelos vírus que causam infecção respiratória primária, como os rhinovírus, RSV, influenza, parainfluenza, adenovírus. Os principais sorotipos que causam infecções respiratórias são o Coxackie A21 e A24, Coxsackie B4 e B5, Echovírus 4, 9, 11, 20, 25 e provavelmente 1-3, 6-8, 16, 19 e 22. Os enterovírus, 68 e 71 estão associados com quadros de pneumonia e bronquiolite, respectivamente. Os casos graves ocorrem mais em crianças de faixa etária baixa (GOMES et al., 1997). O enterovírus 68 foi isolado inicialmente em 1962 na Califórnia, em quatro crianças com doença respiratória (OBERSTE et al., 2004). Rhinovírus Os rhinovírus (RV) pertencem à família Picornaviridae, e foram agrupados inicialmente em rhinovírus humano A (RV-A) e rhinovírus humano B (RV-B) (TURNER; COUCH, 2007). Entretanto, durante o inverno de 2004, no estado de Nova York, uma alta incidência de ILI com resultados negativos em testes moleculares e em cultura de vírus, levou Lamson et al. (2006) a analisar através de um novo ensaio multiplex, 79 amostras previamente negativas e esclareceu o diagnóstico de 26 delas, sendo detectada uma grande frequência de rhinovírus, metade dos quais pertenciam a um grupo genético que ainda não tinha sido caracterizado, diferente dos RV-A e RV-B. Para avaliar se esse novo grupo circulava fora do estado de Nova York foi realizado um estudo com amostras respiratórias da África, Ásia, Austrália e Europa que tinham resultado negativo na avaliação diagnóstica de rotina. Foi evidenciada a circulação global desse novo grupo (RV-C) e sua associação com surtos de doença respiratória aguda e com infecção severa do trato respiratório inferior em crianças (BRIESE et al., 2008). Os rhinovírus são vírus não envelopados de RNA de fita simples, e de polaridade positiva. Análises filogenéticas indicam a presença de 74 sorotipos do grupo A e 25 sorotipos no grupo B (TURNER; COUCH, 2007). Tornaram-se 52 conhecidos como o vírus do resfriado comum porque estão implicados em aproximadamente 50% das infecções do trato respiratório (BRIESE et al., 2008). São associados a complicações do trato respiratório superior, como sinusite e otite média. Estudos clínicos relatam que é o segundo agente associado à pneumonia e bronquiolite em lactentes (HAYDEN, 2004). Estudo realizado por Bellei et al. (2008), quando foram analisadas 420 amostras de lavados nasais de pacientes adultos com IRA e/ou ILI nos anos de 2001 a 2003, atendidos no ambulatório de um Hospital Universitário de São Paulo, mostrou que dos vírus respiratórios detectados, 30,9% era influenza e 19,6% era rhinovírus e que o pico de atividade dos dois vírus era concomitante. Esses resultados destacam as implicações de outros vírus na etiologia das infecções respiratórias na estação da influenza. Swabs nasais de 47 idosos com sintomas de gripe ou resfriado que residiam em Botucatu (São Paulo) foram colhidos entre 2002 e 2003 e testados para os vírus da influenza A e B, rhinovírus, metapneumovírus e vírus respiratório sincicial. HPV foi detectado em 28,6% das amostras (14/47) e HMPV em 2% (1/47). Os demais vírus testados não foram detectados. Entre os RV, nove foram sequenciados, sendo seis amostras pertencentes ao grupo A, uma ao grupo B e duas ao grupo C. De acordo com os autores, a alta incidência de RV durante a estação da gripe, necessita de estudos posteriores para avaliar o impacto desse vírus entre os idosos (WATANABE et al., 2011b). Coronavírus Os coronavírus humanos (HCoV) pertencem à ordem Nidovirales, família Coronaviridae e gênero Coronavírus. São vírus envelopados constituídos de RNA de fita simples, de polaridade positiva e não segmentado. São os maiores vírus RNA (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2008). Até o momento, cinco coronavírus (HCoV229E, HCoV-OC43, SARS-CoV, HCoV-NL63 e HCoV HKU-1) que infectam os seres humanos têm sido identificados, dos quais, quatro (HCoV-229E, HCoV-OC43, HCoV-NL63 e HCoV-HKU-1) circulam continuamente na população humana (FIELDING, 2011). Os primeriros detectados, na década de 1960 foram os HCoV229E e HCoV-OC43 (VAN DER HOEK; PYRC; BERKHOUT, 2006) e o SARS-CoV, HCoV-NL63 e HCoV HKU-1 foram descritos em 2003, 2004 e 2005, respectivamente (VAN DER HOEK, 2007). 53 Os coronavírus causam doença do trato respiratório superior e ocasionalmente, do trato respiratório inferior (CABEÇA; BELLEY, 2012). Até o SARS-CoV ser identificado como o agente etiológico da síndrome respiratória aguda grave (SARS), não foi dada muita importância aos dois coronavírus já conhecidos. Acreditava-se que eles causavam apenas infecções leves do trato respiratório superior em crianças, e que somente prematuros e crianças com doenças crônicas poderiam desenvolver infecções graves do trato respiratório inferior. O isolamento do SARS-CoV e a identificação de dois novos coronavírus HCoV-NL63 (FOUCHIER et al., 2004) e HCoV-KHU1 levaram a estudos sobre o impacto clínico-epidemiológico de infecções causadas por todos os coronavírus, que podem ser associadas com manifestações respiratórias e extrarespiratórias, incluindo o envolvimento do sistema nervoso central. Considerando a sua capacidade de recombinação, a circulação desses vírus deve ser monitorada para detectar precocemente a identificação de cepas particularmente virulentas e, dessa forma, facilitar o desenvolvimento de medidas preventivas e terapêuticas adequadas (PRINCIPI; BOSIS; ESPOSITO, 2010). Em Hong Kong, China, HCoV foram detectados em 26 (4,4%) de 587 crianças estudadas: 15 (2,6%) foram positivas para HCoV-NL63, 9 (1,5%) foram positivas para HCoV-OC43 e 2 (0,3%) positivas para o HCoV-229E Além de causar a doença do trato respiratório superior, o HCoV-NL63 pode provocar crupe, exacerbação da asma, convulsão febril e febre alta. Ainda é um patógeno importante que contribui para a hospitalização de crianças, e foi estimado ter causado a cada ano, 224 admissões em hospital por 100.000 habitantes, com idade menor ou igual a 6 anos, em Hong Kong (CHIU et al., 2005). Dentre 4.181 aspirados pacientes com infecção aguda do trato respiratório, 2,1% pacientes apresentaram infecção por HCoV, sendo 13 (0,3%) positivos para HCoV-KHU-1, 17 (0,4%) positivos para HCoV-NL63, 53 (1,3%) positivos para HCoV-OC43 e 4 (0,1%) positivos para HCoV229E. A infecção do trato respiratório superior foi a forma mais comum de apresentação do HCoV-KHU-1, apesar de ter provocado também pneumonia, bronquiolite e exarcebação asmática (LAU et al., 2006). Nas estações inverno - primavera de 2003-2004 e 2004-2005, o HCoV foi detectado em 5,7% pacientes italianos admitidos em Hospital com síndrome respiratória aguda. As infecções foram causadas, respectivamente, por HCoV-OC43, HCoV-229E e HCoV-NL63 em 25 (53,2%), 10 (21,3%) e 9 (19,1%) dos pacientes. 54 Além disso, 3 (6,4%) dos pacientes foram infectados por cepa não tipada. Coinfecção com outros vírus respiratórios foi detectada em 14 (29,8%) dos 47 pacientes. Esses casos foram associados mais frequentemente com síndrome respiratória grave, quando comparados com os casos de infecção única pelo HCoV (p=0,002) (GERNA et al., 2006). Parainfluenza Os vírus parainfluenza (PIV) pertencem à família Paramyxoviridae, subfamília Paramyxovirinae e gêneros Respirovírus (sorotipos 1 e 3) e Rubulavirus (sorotipo 2 e subtipos 4a e 4b) (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2008). São constituídos de RNA de fita simples e polaridade negativa. Cada um dos sorotipos tem características clínicas e epidemiológicas diferentes. O vírion varia de tamanho (diâmetro médio entre 150 e 200 nm) e forma, é instável no meio ambiente e facilmente inativado com água e sabão. Os quatro sorotipos virais podem causar infecções respiratórias e reinfecções, particularmente o sorotipo 3 (HALL, 2001). O PIV-1 é a principal causa de crupe em crianças, enquanto o PIV-2 é menos frequente. O PIV-3 é mais frequentemente associado com bronquiolite e pneumonia. O PIV-4 é detectado com frequência, mas normalmente causam doença mais branda (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2011). Em lactentes, os vírus parainfluenza causam comumemente doença do aparelho respiratório inferior. Podem causar doença grave do trato respiratório inferior, como pneumonia, bronquite e bronqueolite, especialmente em idosos e pacientes imunocomprometidos. Podem causar reinfecções por toda a vida. Estas infecções, normalmente, ocorrem no trato respiratório superior provocando resfriado e dor de garganta (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2006). Em crianças, o tipo mais comum da doença consiste em faringite, rinite, tosse e rouquidão, geralmente, com febre que dura de dois a três dias. Os piores sintomas são observados mais frequentemente à noite (KARRON; COLLINS, 2007). Como ocorre com outros vírus respiratórios, pode provocar otite média aguda (HEIKKINEN; CHONMAITREE, 2003). Inquéritos sorológicos mostraram que aproximadamente 75% das crianças a partir dos cinco anos de idade têm anticorpos para o PIV-1 e PIV-2 e 90% a 100% delas, tem anticorpos para o PIV-3 (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND 55 PREVENTION, 2011). Segundo Hall (2001), os parainfluenzavírus tipos 1 e 2 causam epidemias que ocorrem em ciclos a cada dois anos no outono, enquanto que as infecções com o tipo 3 ocorrem anualmente, principalmente na primavera e verão. Bocavírus humano O bocavírus humano (HBoV) pertence à família Parvoviridae, subfamília Parvovirinae, gênero Bocavirus. Foi detectado pela primeira vez na Suécia, em espécimes respiratórios (ALLANDER et al., 2005). Desde então, tem sido associado a doenças do trato respiratório inferior e superior e doença gastrointestinal em pacientes adultos e pediátricos, e apresenta distribuição global. (VALADARES, 2010). Entretanto, uma alta frequência de co-infecção tem sido descrita e a patogenicidade viral ainda não se encontra totalmente esclarecida (CHOW; HUANG; ESPER, 2008). Trata-se de um vírus não envelopado, de simetria icosaédrica, medindo de 18 a 26 nanômetros de diâmetro. O genoma viral é composto por DNA de fita simples, sentido positivo ou negativo com aproximadamente 5.3 Kb. Até o momento, estudos mostram a existência de três tipos de HBoV (HBoV1, HBoV2 e HBoV3) sendo que somente o HBoV1 está associado à infecção respiratória aguda (SILVA et al., 2010). O HBoV-2 foi identificado pela primeira vez por Kapoor et al. (2009) e o HBoV-3 por Arthur et al. (2009). Na Espanha, Vicente et al. (2007), analisaram 520 amostras de aspirado de nasofaringe de crianças com IRA e detectaram 40 amostras positivas (7,7%) para o HBoV. Dessas, 25 (62,5%) mostraram co-infecção com outros vírus, sendo o mais frequente o RSV (13). Amostras de 259 crianças internadas com sibilos expiratórios agudos e média de idade de 1,6 anos, na Suécia, mostraram que 19% delas eram positivas para o HBoV, mas esse vírus foi detectado isoladamente em apenas 5% das crianças (ALLANDER, 2007). Estudo semelhante foi realizado por Valadares (2010) em São Paulo, abrangendo crianças menores de dois anos, detectou 47 (4,7%) amostras positivas para HBoV e dessas, 27 (57,4%) amostras apresentaram co-infecção com outros vírus respiratórios. Foram analisadas 397 amostras de aspirado nasofaríngeo de pacientes com diagnóstico de IRA atendidos ambulatorialmente no Pará, tendo sido detectado o HBoV em três amostras de crianças menores de um ano. Uma delas apresentou co- 56 infecção com o RSV. O percentual de positividade obtido na investigação se revelou inferior ao descrito na literatura, entretanto, vale ressaltar que os estudos já publicados tinham sido realizados com pacientes hospitalizados (SILVA et al., 2010). Segundo Pilger et al. (2011), a taxa de incidência do HBoV em amostras respiratórias de crianças com infecção respiratória aguda é de 3 a 19%. Estudo realizado pelo grupo com 455 amostras de aspirado de nasofaringe de 453 crianças menores de dois anos, admitidas na emergência pediátrica em Porto Alegre, detectou 60 (13,2%) amostras positivas para o HBoV. Adenovírus Os Adenovírus, na maioria das vezes, causam doenças respiratórias, no entanto, dependendo do sorotipo infectante, podem causar várias outras doenças, como gastroenterites, conjuntivite, cistite e doença exantemática. Os sintomas de doença respiratória causada por adenovírus variam de síndrome do resfriado comum à pneumonia, crupe e bronquite. Lactentes jovens, especialmente pacientes com o sistema imunológico comprometido são mais suscetíveis a complicações graves da infecção por adenovírus. Surtos de adenovírus associados a doenças respiratórias têm sido mais comuns no final do inverno, primavera e início do verão, no entanto, infecções por adenovírus podem ocorrer durante todo o ano. O período de incubação no caso de infecções do trato respiratório é entre 2 e 14 dias (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010c). Os adenovírus pertencem à família Adenoviridae, gênero Mastadenovírus (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2002), o genoma viral é constituído por DNA de dupla fita e é protegido por capsídeo icosaédrico. Foram isolados e caracterizados em 1953 (ROWE et al., 1953; HILLEMAN; WERNER, 1954). Um total de 51 sorotipos foram identificados. Esses 51 sorotipos foram classificados em 6 subgrupos (espécies de A a F) (BERCK, 2007). Alguns sorotipos, como o 3, 4, e 7 são mais comumente associados com doença respiratória aguda. Os profissionais de saúde devem pensar em adenovírus como possível causa de casos graves de pneumonia, e surtos de pneumonia de etiologia desconhecida (CENTERS DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010c). Nos Estados Unidos, as doenças respiratórias agudas estão mais frequentemente associadas aos adenovírus tipo 4 e 7 e mais recentemente ao adenovírus 14. Surtos de adenovírus têm sido mais comuns no final do inverno, 57 primavera e início do verão; entretanto, a infecção pelo adenovírus pode ocorrer durante todo o ano (CENTERS DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2010c). Parechovírus Os parechovírus humanos pertencem à família Picornaviridae (VERBOONMACIOLEK et al., 2008), e não possuem envelope (DREXLER et al., 2009). Devido às suas propriedades morfológicas e clínicas foram classificados inicialmente como sendo do gênero enterovírus: o parechovírus humano 1 (PeV1) foi descrito como Echovírus 22 e o parechovírus humano 2 (PeV2) como Echovírus 23 (HARVALA; SIMMONDS, 2009). Entretanto, eles mostraram ser bem distintos dos demais enterovírus no que concerne à organização do seu genoma e replicação e formaram um novo gênero (JOKI–KORPELA; HYYPIÃ, 2001). Com base em estudos genéticos e sorológicos, existem os seguintes tipos de PeV: PeV-1, PeV-2, PeV-3, PeV-4 e PeV-5 (WATANABE et al., 2007) e PeV-6 (DE VRIES et al, 2008). O PeV apresenta heterogeneidade genética e antigênica e um número de tipos distintos circula amplamente nas populações humanas em todo o mundo (HARVALA; SIMMONDS, 2009). De acordo com Chieochansin et al (2011), há 16 genótipos reconhecidos, com distribuição global. Estudos soroepidemiológicos têm demonstrado que a prevalência de anticorpos PeV1 é surpreendentemente elevada, superior a 95% na população adulta. De acordo com dados atuais, o PeV1 causa principalmente infecções gastrointestinais e respiratórias, no entanto, podem causar doenças graves, como miocardite e encefalite. Infecções por PeV2 parecem ser raras (JOKI–KORPELA; HYYPIÃ, 2001). Estudo realizado por Harvala et al (2008), para investigar o envolvimento dos parechovírus em doenças respiratórias foi realizado em Edimburgo, na Escócia. Um total de 3.844 amostras respiratórias de 2.200 indivíduos foram coletadas de janeiro a dezembro de 2007. Foram detectadas 33 amostras positivas de 27 indivíduos (1,2%). Diagnóstico diferencial Apesar do diagnóstico de doenças virais ter melhorado significativamente nos últimos 15 anos com o desenvolvimento das técnicas de PCR, a identificação do agente etiológico das doenças respiratórias virais tem sido feita quase que exclusivamente em crianças. Em idosos a frequência de identificação da etiologia 58 viral encontra-se abaixo de 40% (JARTTI et al., 2011). De acordo com Leung et al., (2009), o fato de grande parte de IRAs não ter seus agentes etiológicos identificados pode ser devido às limitações dos ensaios de diagnóstico, ou devido a uma proporção de IRAs ser causada por patógenos ainda desconhecidos. Júven et al (2000) na Finlândia, pesquisaram 17 microorganismos entre vírus e bactérias, em aspirado de nasofaringe de 254 crianças com pneumonia. O agente etiológico foi detectado em 85% dos casos e destes 62% dos pacientes apresentava infecção viral e 30% tinha evidência de infecção viral e bacteriana. Dentre os vírus detectados o RSV (29%) e RV (24%) foram os agentes mais comuns associados com a pneumonia. Dupla infecção viral foi detectada em 35 pacientes. Na Índia, no período de abril de 2005 a março de 2007 foram coletados 301 aspirados de nasofaringe de crianças atendidas no ambulatório ou internadas em hospitais de Nova Deli com problemas respiratórios. Um ensaio de PCR multiplex detectou 130 vírus respiratórios em 106 (35,2%) amostras, sendo 61 (46,9%) RSV, 22 (16,9%) PIV3, 17 (13,1%) PIV2, 11 (8,5%) HMPV, 10 (7,7%) PIV1 e nove (6,9%) FLUA (BHARAJ et al., 2009). Utilizando um ensaio de RT-PCR multiplex, com cinco tubos de misturas de primers capazes de detectar 17 diferentes vírus respiratórios, Wang et al (2010) analisaram amostras de nasofaringe de 817 crianças menores de 9 anos com infecção respiratória aguda, coletadas no período de outubro de 2006 a setembro de 2008, em Shangai, China. Foi detectado um único vírus em 373 amostras (45,7%) e em 113 amostras (13,8%) foram detectados de dois a quatro vírus, perfazendo um total de 486 amostras positivas. Ao todo, 618 vírus foram detectados, sendo o mais frequente o RSV (19,4%), seguido do HBoV (19,3%), FLUA e FLUB (17,5%) PIV1, 3 ou 4 (12,5%), RV (11,8%), HMPV (7,1%), AdV (7%), HCoV (3,9%) e EV (1,8%). Entre os 113 pacientes diagnosticados com múltipla infecção viral, os patógenos mais presentes foram o HBoV, RSV, RV e AdV. Aspirados de nasofaringe de 407 crianças menores de cinco anos com IRA atendidas em Hospital Infantil na cidade do Recife, Pernambuco, no período de abril de 2008 a março de 2009, foram analisadas por Bezerra et al. (2011). Foram detectados os seguintes vírus: RSV (37,3% dos pacientes), AdV (24,8%), RV (18,9%), HBoV (18,7%) e HMPV (10,3%). Coinfecções com um ou mais patógenos foram detectadas em 161 amostras (39,6%). O RSV apresentou uma alta frequência 59 na estação chuvosa (abril a julho) e o HMPV de agosto a outubro, ambos mostrando um padrão sazonal bem definido. Depois da instalação da nova pandemia de influenza foi realizada a análise de 58 aspirados de nasofaringe de crianças de 28 dias a 12 anos com doença respiratória grave, internadas em Hospital de Porto Alegre, no período de 30 de julho a 1 de setembro, utilizando-se a reação de imunofluorescência. O kit utilizado detecta os vírus FLUA, FLUB, AdV, PIV-1, PIV-2, PIV-3 e RSV. Dos exames realizados, 26 (44,8%) foram positivos para os vírus analisados. Destes, foram detectados 18 (69,2%) casos de RSV, seis (23,2%) de FLUA, um (3,8%) de PIV-1 e um (3,8%) de PIV-3. A associação de vírus foi verificada em cinco casos (19,6%) para RSV e FLUA. Dos casos analisados, confirmou-se que três (5,2%) eram do novo subtipo de Influenza H1N1 (CARNEIRO; KRUMMENAUER; MACHADO, 2010). Também com o objetivo de determinar a etiologia viral durante a pandemia de 2009, estudo utilizando a técnica de PCR foi realizado em amostras coletadas de 98 crianças e 61 adultos internados num Hospital Sentinela de São Paulo, Brasil, com suspeita de infecção pelo vírus pandêmico, no período de agosto a novembro de 2009. Foi detectado o vírus influenza A(H1N1)pdm09 em 19,5% (31/159), sendo 23% (14/61) em adultos e 18,4% (17/92) em crianças. As amostras negativas para influenza A sazonal e pandêmica foram testadas para RV, HMPV, AdV e RSV. Foram positivas para pelo menos um vírus, 61% (97/159) e 3,7% (6/159) apresentaram coinfecção com múltiplos vírus. No total, 64,8% (103/159) de etiologia viral foi determinada. A frequência de identificação viral nas crianças de até 12 anos foi significativamente mais alta quando comparada com os adultos (p=0,0021). A influenza A sazonal foi detectada em 6,2% (10/159) das amostras e dentre as amostras que foram negativas para influenza A, 52,54% (62/118) foram positivas para outros vírus respiratórios. Desses, 22,88% foram positivos para RV, 20,34% para HMPV, 2,54% para AdV e 1,69% para RSV. Seis amostras (5,08%), apresentaram coinfecção com dois vírus, sendo quatro (RV/ HMPV), um (AdV/RSV) e um (AdV/RV) (WATANABE et al., 2011a). Entre maio e agosto de 2009 foram testados em Buenos Aires, Argentina, 3.476 aspirados de nasofaringe para alguns vírus respiratórios, tendo sido positivas para um dos vírus, 1.553 amostras (44,68%). Destas, 367 era influenza A, sendo 330 identificadas através de RT-PCR como vírus A(H1N1)pdm09, 30 amostras não foram tipadas e duas foram identificadas como influenza A (H3N2) sazonal. Ao todo 60 foram detectados 1.158 vírus, uma vez que ocorreram três casos de infecções duplas de FLUA–RSV no mês de junho. O RSV esteve presente em 1.142 amostras (73,5%), PIV3 em 37 (2,4%) e AdV em 12 (0,7%). Não foram detectados IPV1, PIV2, nem FLUB, apesar de terem sido testados (BARRERO et al., 2011). No período de maio a dezembro de 2009 foram coletadas amostras respiratórias de 171 pacientes internados com IRA no Hospital das Clínicas da Universidade do Paraná. As amostras foram testadas para o vírus influenza A (H1N1)pdm09 através da reação de rRT-PCR, de acordo com o protocolo CDC e os outros vírus respiratórios através de uma reação RT-PCR multiplex, que permite a detecção simultânea de vários agentes. Vírus respiratórios foram detectados de 129 amostras (75%), sendo 67 casos diagnosticados como vírus influenza A(H1N1)pdm09 (39%) e 62 (36%) diagnosticados como outros vírus respiratórios. O vírus da influenza A sazonal foi detectado em 15 amostras (9%). Considerando apenas as amostras positivas, o maior percentual de detecção dos outros vírus respiratórios foi: RSV (13,1%), RV (10%), HMPV (9,3%), PIV3 (5,4%), AdV (5,4%), HCoV (3,8%), FLUB (0,7%), PIV1 (0,7%) e PIV2 (0,7%). Coinfecões virais foram mais raras entre os casos do vírus influenza A (H1N1)pdm09 (1%) do que entre outros vírus respiratórios (8%) (RABONI et al., 2011). Zuccotii et al. (2011) estudaram 575 crianças menores de 15 anos, hospitalizadas de dezembro de 2008 a dezembro de 2009, na cidade de Milão, com infecção respiratória aguda. Amostras das referidas crianças foram testadas para vírus respiratórios obtendo-se um percentual de positividade de 51%. A frequência de detecção dos vírus foi: RSV 34,1%, HBoV 6,8%, HMPV 5%, influenza A sazonal 5%. O FLUB não foi detectado. No período de abril de 2009 até o final do estudo foi detectado o vírus influenza A(H1N1)pdm09 em 11,6% das amostras. Linde et al., 2009 ao analisar a súbita interrupção da propagação da influenza pandêmica na Suécia levantou a hipótese de ter sido provocada por um aumento na circulação de rhinovírus que teria competido com o vírus influenza A(H1N1)pdm09. A falta de estudos sobre os vírus da influenza que circularam em Pernambuco durante a última pandemia relacionados à resistência a drogas antivirais, aspectos clínicos, epidemiológicos e moleculares, bem como a falta de dados sobre outros vírus respiratórios que circularam no estado no mesmo período, levando os profissionais de saúde à hipótese diagnóstica de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09, despertaram o interesse para a execução deste trabalho. 61 3 OBJETIVOS 3. 1 Objetivo Geral: Investigar aspectos clínicos, epidemiológicos e moleculares das infecções por Influenza A(H1N1)pdm09, bem como a frequência de outros vírus respiratórios circulantes no estado de Pernambuco, durante o período pandêmico (maio de 2009 a maio de 2010). 3. 2 Objetivos Específicos: 1. Determinar a frequência de vírus influenza A(H1N1)pdm09 no estado de Pernambuco, no período de maio de 2009 a maio de 2010. 2. Estudar aspectos clínico-epidemiológicos apresentados pelos pacientes infectados pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09, no período de maio de 2009 e maio de 2010. 3. Investigar a frequência de outros vírus respiratórios em casos suspeitos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 com resultado laboratorial negativo. 4. Caracterizar o gene hemaglutinina em amostras positivas para o vírus pandêmico. 5. Investigar a prevalência do marcador de resistência ao oseltamivir, H274Y no gene da Neuraminidase. 4 MATERIAIS E MÉTODOS 4.1 Desenho do estudo Foi realizado um estudo descritivo, transversal, no período de maio de 2009 a maio de 2010. 62 4.2 Local do estudo A coleta dos swabs combinados de nasofaringe e orofaringe foi realizada em hospitais do estado de Pernambuco que atenderam pacientes com suspeita clínica de influenza pandêmica. No caso de pacientes que faleceram em decorrência da doença, foram coletados fragmentos de brônquios e pulmões no Serviço de Verificação de Óbito do Estado (SVO). 4.3 População de estudo Indivíduos com síndrome gripal, com síndrome respiratória aguda grave e indivíduos que evoluíram para óbito, atendidos nas Unidades Hospitalares do estado de Pernambuco, com suspeita de infecção pelo vírus da Influenza A(H1N1)pdm09, cujas amostras clínicas (swab combinado de nasofaringe e orofaringe ou tecidos de brônquios e de pulmões) foram coletadas no período de maio de 2009 a maio de 2010. Os dados sócio-demográficos dos pacientes foram resgatados das Fichas de Investigação: INFLUENZA HUMANA POR NOVO SUBTIPO (PANDÊMICO) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Do Ministério da Saúde. 4. 4 Variáveis 4. 4. 1 Variáveis dependentes Infecção pelo vírus da Influenza A sazonal ou pelo vírus A(H1N1)pdm09. Mutação no gene HA associadas à infectividade viral. Mutação H274Y no gene NA associada à resistência ao oseltamivir. Infecção por outros microrganismos. 4.4.2 Variáveis independentes Dados sócio-demográficos e clínico-epidemiológicos: Sexo: masculino e feminino Faixa etária: - ≤ 2 anos, 3 a 5 anos, 6 a 9 anos, 10 a 19 anos, 20 a 29 anos, 30 a 39 anos, 40 a 49 anos, 50 a 59 anos e ≥ 60 anos. Sintomas: Febre, tosse, mialgia, coriza, dor de garganta, calafrio, artralgia, dispnéia, diarréia, conjuntivite, outros sintomas. 63 Grupos de risco: Gestantes, pneumopatias, cardiopatias, doenças metabólicas, doenças renais, hemoglobinopatias e imunodeprimidos. 4.5 Operacionalização da Pesquisa A coleta das amostras clínicas foi realizada em Unidades Hospitalares do estado de Pernambuco que atendiam casos suspeitos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09, e, de acordo com o Ministério da Saúde deveria, preferencialmente, ser feita até três dias do início dos sintomas (fase aguda da doença), tendo sido estendida até 7 dias após o início dos sintomas. Nos casos de óbito, a coleta de fragmentos de brônquios e de pulmões foi realizada no Serviço de verificação de óbito (SVO). Após a coleta, as amostras foram encaminhadas ao Laboratório Central de Pernambuco (LACEN-PE), onde foram registradas e permaneceram congeladas a -80ºC até posterior encaminhamento para o Instituto Evandro Chagas (IEC) em Belém, Laboratório de Referência Regional e um dos três Centros Nacionais para Influenza (OPAS/OMS) (BRASIL, 2008), cuja área de abrangência é a região nordeste. Lá as amostras foram processadas para o diagnóstico laboratorial do vírus influenza A(H1N1)pdm09 e vírus influenza A sazonal, segundo o protocolo do CDC. A caracterização genética e o diagnóstico diferencial para outros vírus respiratórios foram realizados no Laboratório de Referência Nacional para Influenza, o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. Para execução deste trabalho, diferentes protocolos e técnicas foram utilizados. O fluxograma contendo as etapas envolvidas no desenvolvimento do presente estudo encontra-se ilustrado na Figura 5. Os ensaios realizados seguiram protocolos mundialmente estabelecidos. Para o diagnóstico do vírus A(H1N1)pdm09 e Influenza A sazonal foi realizada a metodologia de PCR em tempo real (sistema TaqMan, seguindo o protocolo do CDC/Atlanta). Foram utilizados o QIAamp® Viral RNA Mini Kit (Qiagen) para extração do RNA, e o kit Primer and Probe Set da Invitrogen para a detecção do RNA viral. Para o sequenciamento do gene HA foi utilizado o método de Sanger, precedido de uma reação de RT-PCR, utilizando-se o kit SuperScript IIITM One-step RT-PCR with Platinum Taq-DNA Polymerase (Invitrogen), de acordo com Protocolo CDC para Influenza. As sequências foram analisadas e editadas utilizando-se o 64 programa Sequencher, e alinhadas com sequências de outros vírus disponíveis no banco de dados do GenBank (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), utilizando o programa Mega 4.0 (TAMURA et al., 2011). O pirosequenciamento para detecção da mutação H274Y no gene NA foi precedido de uma reação de RT-PCR, utilizando-se o kit SuperScript IIITM One-step RT-PCR with HiFi Taq system (Invitrogen), de acordo com Protocolo do CDC, utilizando o método de análise SNP e o equipamento PyroMark Q-96 ID (DEYDE et al., 2009) Figura 7 – Fluxograma das etapas e técnicas utilizadas na realização do estudo 65 Técnicas utilizadas Extração de RNA viral (RNAv) para o diagnóstico de Influenza (Protocolo CDC) O RNAv foi extraído a partir de 140 µL do espécime biológico. Para obtenção do ácido nucléico foi utilizado o QIAamp® Viral RNA Mini Kit (QIAGEN, Germany), seguindo-se rigorosamente as orientações do fabricante. O método consiste em três principais etapas: 1) extração - onde se utiliza o tampão AVL com RNA carreador para inativar RNAses e liberar o RNAv. Condições tamponantes são, então, ajustadas para permitir uma ligação do RNA à membrana de sílica em gel “QIAamp”; 2) lavagem - realizada em duas etapas sucessivas para eliminar os contaminantes, utilizando-se os tampões AW1 e AW2, contendo etanol absoluto; 3) eluição - no final do processo o RNAv foi eluído em tampão AVE (pH 8,0) num volume de 80 µL e estocado a -80°C até o momento de uso. Foi utlizado na detecção do vírus de influenza A, incluindo o A(H1N1)pdm09, no sequenciamento do gene HA e no pirosequenciamento. Esta técnica baseia-se na capacidade que a sílica tem de formar ligação com o RNAv em meios com alta concentração de sal combinada à centrifugação em alta velocidade (8.000 a 14.000 rpm). Para a posterior pesquisa de outros vírus respiratórios (vírus RNA e DNA), uma nova extração foi realizada, utilizando o kit Magna Pure. Extração de ácidos nucléicos para o diagnóstico diferencial Foi realizada utilizando-se o sistema de extração de ácidos nucléicos e póseluição com o kit Magna Pure LC Total Nucleic Acid Isolation Kit e o equipamento MagNA Pure LC 2.0, da Roche, seguindo as instruções do fabricante. Este método baseia-se na propriedade de ligação de moléculas de RNA e DNA à partículas magnéticas. O DNA e RNA se ligam as partículas magnéticas de sílica (MGPs) na presença de sal caotrópico com pH maior que 7.0. As MGPs apresentam uma superfície vítrea (sílica) e um núcleo magnético. A primeira etapa da extração foi realizada colocando em cada poço da placa do equipamento MagNAPure, 300 µL do tampão de lise/ligação, 3 µL de controle interno do kit Fast track (CI) e 200 µL das amostras respiratórias. Foi extraído um controle negativo do Fast track para cada série de 12 amostras. 66 Em seguida foram colocados os descartáveis no MagNaPure e os reagentes nos volumes descritos na tela de trabalho ao rack de reagentes e o equipamento foi programado para fazer a extração. No final do processo, obtivemos o RNA e DNA eluídos no volume de 100 µL. 4.5.1 Ensaio de RT-PCR em tempo real (rRT-PCR) para detecção do vírus influenza A(H1N1)pdm09. A técnica é composta das seguintes etapas: a) Extração do Ácido Nucléico; b) Preparação das misturas de reação; c) Aplicação dos controles negativos; d) Aplicação das amostras; e) Termociclagem – amplificação; f) Visualização, análise e interpretação dos resultados. Nas reações foram utilizados o Invitrogen SuperScriptTMIII Platinum One- Step Quantitative RT-PCR System, kit com rox e o Kit Primer and Probe Set da Invitrogen. Os iniciadores e as sondas do Kit Primer and Probe Set (Invitrogen) utilizadas na reação, são específicos para detecção de: a) gene da matriz, que permite a detecção de todos os subtipos de Influenza A; b) do gene da NP específico para a variante A(H1N1)pdm09; c) da porção HA1 do gene HA também específica da linhagem pandêmica e d) o gene housekeeping da RNase P, como controle interno. As reações com cada conjunto de sondas e iniciadores foram feitas em tubos separados nas seguintes condições de amplificação para o termociclador 7.500 da Applied, 50ºC/30min, 95ºC/2min, seguidos por 45 ciclos de 92ºC/15seg e 55ºC/35seg conforme recomendações do protocolo do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), disponível em <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/CDCRealtimeRTPCR_Swine H1Assay-2009_20090430.pdf.>. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009e). O Kit Primer and Probe Set da Invitrogen é composto de painel com os seguintes iniciadores e sondas - Sequência (5’>3’): a) InfA que detecta todos Influenza A: InfA Forward GAC CRA TCC TGT CAC CTC TGA C InfA Reverse AGG GCA TTY TGG ACA AAK CGT CTA InfA Probe1 TGC AGT CCT CGC TCA CTG GGC ACG 40 µM 40 µM 10 µM 67 b) InfAsw que detecta especificamente todo Influenza A, linhagem suína SW InfA Forward GCA CGG TCA GCA CTT ATY CTR AG SW InfA Reverse GTG RGC TGG GTT TTC ATT TGG TC SW InfA Probe2 CYA CTG CAA GCC CA”T” ACA CAC AAG CAG GCA 40 µM 40 µM 10 µM c) AH1sw que detecta Influenza A, subtipo H1 suíno SW H1 Forward GTG CTA TAA ACA CCA GCC TYC CA SW H1 Reverse CGG GAT ATT CCT TAA TCC TGT RGC 40 SW H1 Probe2 CA GAA TAT ACA “T”CC RGT CAC AAT TGG ARA A 40 µM 40 µM 10 µM d) RP detecta RNAse P humana – controle positivo da extração Rnase P Forward AGA TTT GGA CCT GCG AGC G Rnase P Reverse GAG CGG CTG TCT CCA CAA GT Rnase P Probe1 TTC TGA CCT GAA GGC TCT GCG CG 40 µM 40 µM 10 µM As reações foram realizadas com um volume final de 25µL contendo, 5,5 µL de H2O RNAse free, 0,5 µL de cada oligonucleotídeo iniciador específico, 0,5 µL da sonda específica, 0.5 µL de SuperScriptTM III RT/Platinum® Taq Mix, 12,5µL de tampão de reação 2X PCR Master Mix, e 5 µL de RNAv. Em seguida foi feita a análise da reação usando o 7.500 Software v 2.0.5 (Applied Biosystems). 4.5.2 Sequenciamento do gene HA, utilizando o método de Sanger A caracterização genética dos vírus foi realizada em três etapas principais: a) extração do RNA viral (RNAv); b) amplificação do RNAv pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase precedida de Transcrição Reversa (RT-PCR); e c) reação de sequenciamento. Amplificação do RNA através da Reação em Cadeia da Polimerase precedida de transcrição reversa (RT-PCR) A Reação em Cadeia da Polimerase precedida de transcrição reversa (RTPCR) em uma única etapa foi realizada utilizando-se o kit SuperScript IIITM One-step RT-PCR with Platinum Taq-DNA Polymerase (Invitrogen) de acordo com Protocolo CDC para Influenza (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2009j), disponível em <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/GenomePrimers_20090512. pdf.> As reações de RT-PCR foram feitas para um volume final de 25µL contendo, 12,5µL de tampão de reação 2X (contendo 0,4mM de cada dNTP, 2,4mM de MgSO4), 2,0 µL de H2O RNAse free, 2,0 µL de cada oligonucleotídeo iniciador 68 específico (5 µM), 0,5 µL de inibidor de ribonuclease (RNAse OUT), 1,0 µL de mix RT/Taq (SuperScriptTM III RT/Platinum Taq) e 5 µL de RNAv. Cada conjunto de amostras submetido à amplificação foi acompanhado de um controle negativo. Após a adição do RNAv a mistura foi para o termociclador, obedecendo a seguinte ciclagem: 48°C por 45 min, 94°C por 2 minutos, 40 ciclos de 94°C por 20 segundos, 50°C por 30 segundos e 72°C por 1 minuto, finalmente 72°C por 7 minutos e 4°C até a retirada da placa do equipamento. Iniciadores e sondas utilizados na reação: Primers Forward pb 5’ HA1 460 tgt aaa acg acg gcc agt ata cga cta gca aaa gca ggg g HA2 598 tgt aaa acg acg gcc agt acr tgt tac ccw ggr gat ttc a HA3 865 TGT AAA ACG ACG GCC AGT ACR TGT TAC CCA GGR GAT TTC HA4 604 tgt aaa acg acg gcc agt agr atg rac tat tac tgg ac HA5 417 tgt aaa acg acg gcc agt tgg atg gta ygg tta yca yca HA6 574 tgt aaa acg acg gcc agt aag atg aay acr car ttc aça g Primers Reverse pb 5’ HA1 460 cag gaa aca gct atg acc tca tga ttg ggc cay ga HA2 598 cag gaa aca gct atg acc gaa akg gga grc tgg tgt tta HA3 865 CAG GAA ACA GCT ATG ACC TCT TTA CCY ACT RCT GTG AA HA4 604 cag gaa aca gct atg acc ttc tkc att rta wgt cca aa HA5 417 cag gaa aca gct atg acc tca taa gty cca ttt ytg a HA6 574 cag gaa aca gct atg acc gtg tca gta gaa aça agg gtg ttt Ao término da amplificação os produtos da RT-PCR foram analisados por meio de eletroforese utilizando o E-Gel® 2% agarose (GP) da Invitrogen, conforme instrução do fabricante (www.invitrogen.com/content/sfs/manuals/egel_qrc.pdf). Os produtos que apresentaram a banda de interesse no E-gel, foram purificados utilizando o kit comercial QIAquick PCR Purification spin columns (QIAGEN, Canadá), de acordo com o protocolo fornecido pelo fabricante. Neste procedimento o DNA é adsorvido à membrana de sílica da coluna na presença de altas concentrações de sal, enquanto contaminantes passam através da coluna. Após 69 lavagens as impurezas são eliminadas e o DNA puro é eluído em tampão Tris. Após a purificação o produto eluído foi armazenado a -20° C. Reação de sequenciamento Depois de purificados os produtos da RT-PCR foram sequenciados usandose o Kit Big Dye® terminator v 3.1 Cycle Sequencing (Applied Biosystem). Este ensaio é baseado no sequenciamento de Sanger, onde ocorre uma reação de polimerização contendo nucleotídeos sem o grupo hidroxil 3` terminal da pentose (didesoxinucleotídeos) e quatro diferentes fluoróforos associados às bases Adenina (A), Timina (T), Citosina (C) e Guanina (G), respectivamente. A presença das bases modificadas bloqueia o processo de elongação, a partir da adição do nucleosídeo, gerando produtos intermediários com a extremidade 5` fluorescente. No ensaio foram utilizados os seguintes primers: ___________________________________________ Primer M13 F - tgt aas acg acg gcc agt Primer M13 R - cag gaa aca gct atg acc____ Foram preparadas duas misturas de reação Mistura 1: composta de 11,5 µL de água livre de RNAse, 2 µL de tampão de diluição e 4µL de Big Dye, perfazendo um total de 17,5 µL. Mistura 2: preparados dois tubos, um com o primer M13 F(Forward) e outro com o primer M13 R (Reverse). Cada tubo foi composto de 17,5 µL da mistura 1, e 1 µL do primer respectivo. No final foi adicionado 1,5 µL do fragmento purificado. Esta mistura foi processada em termociclador automático (Máster Cycler, Eppendorf, Birkmann Instrument) onde foram realizados 30 ciclos a 96°C por 10 segundos, 50°C por 5 segundos e 60°C por 4 minutos. Purificação do produto da reação de sequenciamento Após a reação de sequenciamento os produtos marcados foram submetidos a purificação pelo método de precipitação BigDye X-terminator (Applied Biosystems), de acordo com orientação do fabricante, com a finalidade de retirar o excesso de reagentes não incorporados na reação de (como íons de sal, ddNTPs (didesoxinucleotídeos) não incorporados e dNTPs), além de garantir a linearidade das sequências. 70 Sequenciador automático Os produtos purificados foram analisados no sequenciador automático ABIPrism 3130 XL (Applied Biosystem), onde o DNA purificado é injetado nos capilares do sequenciador através de injeção eletrocinética. Esta técnica é baseada no método de terminação de cadeia por didesoxirribonucleotídeos (Sanger et al., 1977). Os contigs das sequências nucleotídicas obtidas para o gene da HA foram montados com o auxílio do programa Sequencher (Gene codes). Alinhamento das sequências e construção da árvore filogenética Os eletroferogramas com a extensão *.ab1, gerados pelo sequenciador, foram analisados com o uso do programa Sequencing Analises® (Applied Biosystems), tendo sido avaliada a viabilidade das sequências obtidas. Para a construção dos contigs das sequências, os arquivos com extensão *ab1 foram inseridos em um projeto, criado com o programa Sequencher (Gene Codes, Ann Arbor, USA). Este permite a comparação e montagem dos segmentos gênicos, com base em sequências referência para o gene HA. As sequências foram alinhadas utilizando o software MEGA v.5.0.5 (TAMURA et al., 2011) utilizando-se sequências nucleotídicas de variantes virais depositadas no GenBank. A análise filogenética foi realizada utilizando o programa MEGA v.5.0.5. As árvores filogenéticas foram construídas com uso do método de agrupamento de vizinhos- Neighbor-Joing, NJ (Saitou e Nei, 1987), com re-amostragem – “bootstrap”, 1000 repetições (Felsenstein, 1985). As distâncias evolucionárias foram calculadas com base na distância p e de todas as posições que continham lacunas de alinhamento (gaps) e dados perdidos foram eliminados apenas com a utilização da opção Pairwise deletion. O aminoácido número 1 foi definido como o primeiro aminoácido codificante. Os nucleotídeos foram numerados, utilizando-se a cepa A/Califórnia/07/2009 como referência. A sequência inicia-se no primeiro codon codificante e é composta de 566 aminoácidos. 4.5.3 Pirosequenciamento do gene NA para a detecção da mutação H274Y Reação em Cadeia da Polimerase precedida de transcrição reversa (Pyro - RT-PCR) 71 Nesta reação foi utilizada a Superscript III HiFi Taq (Invitrogen) para amplificação do H1N1pdm-N1 fragmento C, de acordo com o disponibilizado pela OMS através protocolo do link <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/NA_DetailedPyrosequencing _20090513.pdf.> e (DEYDE et al., 2010). Primers utilizados na Pyro- RT- PCR (20µM) que têm como gene alvo o vírus (H1N1)pdm09 -N1 – fragmento C (marcador de resistência): _________________________________________________________________ Uni-sw- N1-B-F780 5’- GGG GAA GAT TGT YAA ATC AGT YGA – 3’ Uni-sw-N1-B-R1273-biotinilado 5’- CWA CCCA GAA RCA AGG YCT TAT G - 3’ __________________________________________________________________________ À mistura contendo 25 µLde 2x Reaction Mix, 1 µL da enzima Super Script III HiFi Taq, 1 µL do iniciador direto (20 µM), 1 µL do iniciador reverso biotinilado (20 µM), 0,5 µL do inibidor de RNAse e 16,5 µL de água livre de nucleases, foram adicionados 5 µL do RNAv extraído, totalizando um volume final de 50 µL. Em seguida a mistura com o RNAv foi para o termociclador, onde estava programada a seguinte ciclagem: 50°C por 30 minutos para a transcrição reversa e a PCR, 94°C por 2 minutos para desnaturação, 45 ciclos de (94°C por 15 segundos para desnaturação, 55°C por 30 segundos para anelamento e 68°C por 60 segundos para extensão), depois 68°C por 5 minutos para extensão final e por fim 4°C. Purificação do produto de PCR e Reação de pirosequenciamento Os produtos da RT-PCR foram analisados por meio de eletroforese utilizandose o E-Gel® 2% agarose (GP) da Invitrogen, conforme instrução do fabricante. Os que apresentaram a banda de interesse, ou seja, os que presumidamente tinham a fita biotinilada, foram purificados. Reação de ligação - Foi colocado numa placa 60 µL de uma mistura de beads de estreptavidina, com tampão de ligação (QIAGEN) e água e mais 20 µL de produto biotinilado. A placa foi para o vortex por 10 minutos para que houvesse a ligação da biotina do produto amplificado com a estreptavidina. Depois a placa foi colocada na workstation e o suporte com as sondas foi introduzido na mesma, aspirando através 72 de vácuo, toda a mistura. Em seguida as sondas contendo as fitas biotiniladas foram lavadas com álcool a 70% que foi aspirado por 20 segundos, com uma solução desnaturante (NaOH) para separação das fitas não biotiniladas, aspirada por 20 segundos, e com um tampão de lavagem para terminar a purificação do produto que foi aspirado também por 20 segundos. Reação de anelamento – Numa placa do pirosequenciador foi colocado 40 µL do Iniciador do Pirosequenciamento (100µM) diluído com tampão de anelamento (QIAGEN), cujo alvo é o resíduo H274: ___________________________________________________________________ Uni-sw - N1-B-F804 seq, 5’ - GYT GAA TGC MCC TAA TT – 3’ Em seguida foram colocadas as beads de estreptavidina. A placa foi para o vortex por 20 segundos e em seguida para o termobloco onde permaneceu por 2 minutos a 80°C. Depois ficou na temperatura ambiente por 5 minutos. Enquanto isso foi preparado o cartucho do PyroMark Q96 ID, com os seguintes reagentes: guanina, citosina, timina, substrato, adenina e enzima, de acordo com a posição recomendada no protocolo. Para análise quantitativa da mutação H274Y, a alteração de codon CAC → TAC foi investigada. A corrida foi realizada no modo SNP (single nucleotide polymorphism) para detecção da alteração destacada em negrito. Através desta técnica, qualquer amostra que apresente uma porcentagem menor do que 10 % de T (mutante) é considerado selvagem, se apresentar um resultado maior que 10% é considerado uma mistura verdadeira de variantes selvagem e mutantes, devendo ser confirmado o ensaio (SOUZA et al., 2011). 4.5.4 Diagnóstico diferencial de influenza A através de PCR em tempo real (rRT – PCR multiplex) A primeira etapa do diagnóstico diferencial consistiu na extração do ácido nucléico que foi realizada por um sistema automatizado da Roche, seguida de uma reação PCR em tempo real precedida de transcrição reversa (RT-PCR) em um único tubo. Foi utilizado o kit Fast track21 plus®), capaz de detectar 23 patógenos respiratórios, cujas informações podem ser obtidas através do link < 73 http://www.mikrogen.de/english/deutschland/products/testing-ystems/testsystem/respiratory21-plus-24.html>. Reação de rRT- PCR multiplex utilizando o kit Fast track21 plus® O kit Fast track21 plus® é constituído de seis misturas de iniciadores e sondas para a detecção de patógenos respiratórios e dos seguintes controles: interno, negativo, positivo para vírus e positivo para bactérias. Os demais reativos para a reação de RT-PCR fazem parte do kit AgPath- ID ™ One Step RT-PCR (Applied Biosystems). Tubos Contém Flu/ Rhino PP COR PP Mistura de iniciador/sonda para FLUA,FLU B, FLUA (H1N1)pdm09 e RV Mistura de iniciador/sonda para HCoV63, Cor43, Cor229 e CorKHU1 Mistura de iniciador/sonda para Para 2, 3, 4 e IC (controle interno) Mistura de iniciador/sonda para HMPV A e B, HboV e Mycoplasma pneumoniae (Mpneu). Mistura de iniciador/sonda para RSVA, RSV A RSV B, AdV, EV e PEV Mistura de iniciador/sonda para Chlamydia pneumoniae (Cpneu), Streptococcus pneumoniae (Spneu), Staphylococcus aureus (Saur) e Haemophilus influenzae (HiB) Controle positivo (mistura de plasmídeo para Flu A, B, Flu A (H1N1)pdm09, RV, Cor63, Cor43, Cor229, CorKHU1, Para 1, 2, 3, 4, HMPV, HboV, Mpneu, RSV, ADV, EV e PEV) Controle positivo: mistura de plasmídeo para Res Bac PP ( mistura de plasmídeos para Cpneu, Spneu, Saur e HiB) Controle negativo (em agente desnaturante) Para2/3/4 PP Bo/MP/Pf1 PP RS/ EPA PP RespBac PP PC PC Res Bac NC IC Controle interno (em agente desnaturante) Neste ensaio, o RNA viral é transcrito em cDNA usando um iniciador específico mediado por uma etapa de transcrição reversa seguida imediatamente por reação em cadeia da polimerase em tempo real. Inicialmente ocorre a desnaturação do DNA, seguida da etapa de anelamento, onde os iniciadores e as sondas hibridizam-se especificamente ao alvo. Na fase de extensão, as sondas específicas para cada vírus e duplamente marcadas com fluoróforos são clivadas, graças a atividade nuclease da enzima Taq polimerase e emitem sinal fluorescente. Esse sinal fluorescente é revelado pelo termociclador em tempo real através do Ct (ciclo no qual a fluorescência emitida atravessa o ponto de corte do teste). O ponto 74 de corte do teste é denominado threshold e deve ser ajustado na fase exponencial da reação. As amostras positivas apresentam sinal de fluorescência emitido acima do ponto de corte. Quanto menor o valor de Ct, maior a concentração das moléculas alvo na amostra. No procedimento técnico, inicialmente foi preparada a mistura de reação, contendo1,5 µL de cada mistura de iniciadores e sondas, 12,5 µL de tampão 2X RTPCR e 1µL da mix de enzima 25X RT-PCR ( kit AgPath-ID™ One step RT-PCR). Em seguida foram colocados 15 µL da mistura de reação nos devidos poços da placa, e adicionados 10 µL de ácidos nucléicos. Foram utilizados controle positivo e controle negativo do kit. A placa foi coberta com adesivo óptico e centrifugada por 1 minuto a 1.000 rpm. Em seguida foi colocada no equipamento de PCR em tempo real ABI7500 e executado o programa Fast track contemplando os seguintes ciclos: 50°C por 15 minutos para a transcrição reversa, 95°C por 10 minutos para ativação enzimática e 40 ciclos de 95°C por 8 segundos e 60°C por 34 segundos para amplificação. A leitura da fluorescência é feita no passo 60ºC por 34 segundos de cada ciclo. Para cada amostra, foi verificada a forma das curvas de amplificação (logarítmica), para cada vírus. E o valor de cada Ct. 4.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco, registro CEP/CCS/UFPE nº 219/10 (Anexo A). Foram obtidas cartas de anuência da Diretoria Geral de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da Secretaria de Saúde de Pernambuco e do Laboratório Central de Saúde Pública - LACEN-PE (Anexos B e C). Não foi necessário o Termo de consentimento livre e esclarecido. 4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA Na busca de associações entre as variáveis foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson com correção de Yates, e quando necessário o teste de Fisher. Para as variáveis contínuas foi utilizado o teste T de Student. O nível de significância adotado na análise dos testes estatísticos foi 5% (p<0,005) e o software utilizado foi o STATA na versão 9.0. 75 5 RESULTADOS 5.1 ARTIGO 1 CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DOS VÍRUS INFLUENZA A (H1N1)pdm09 DETECTADOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL, NO PERÍODO DE MAIO DE 2009 A MAIO DE 2010 Artigo a ser submetido à Revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 76 CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DOS VÍRUS INFLUENZA A (H1N1)pdm09 DETECTADOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL, NO PERÍODO DE MAIO DE 2009 A MAIO DE 2010 Maria José Couto Oliveira 1,2, Fernando do Couto Mota 3, Marilda M Siqueira 3, Maria de Lourdes Aguiar Oliveira3, Thiago Moreno Lopes e Souza 3, Milena Mesquita 3, Priscilla da Silva Born 3, Paola Cristina Resende Silva 3, Wyller Alencar de Mello 4, Vera Magalhães da Silveira 2. 1 Laboratório Central de Pernambuco (LACEN-PE) Setor de Virologia, Recife, Pernambuco, Brasil 2 Programa de Pós-graduação de Medicina Tropical, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Pernambuco, Brasil. 3 Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil. 4 Instituto Evandro Chagas, Belém, Pará, Brasil. Endereço para correspondência: Maria José Couto Oliveira Rua do Espinheiro, 360, Apto. 1801 – Espinheiro Recife – PE, CEP 52020-020 e-mail: [email protected] 77 RESUMO O vírus Influenza A(H1N1)pdm09 causou considerável morbidade e mortalidade no mundo. Apesar do fim da pandemia de 2009, o vírus ainda circula na população humana. O objetivo deste estudo foi investigar a frequência de resistência ao oseltamivir, realizar a caracterização molecular dos vírus influenza A(H1N1)pdm09 circulantes no estado de Pernambuco e compará-los com outras amostras representativas do Brasil e do mundo, coletadas durante o período da pandemia. Foi realizado um estudo transversal entre casos de indivíduos com suspeita de influenza pandêmica, atendidos nos hospitais de Pernambuco. Um total de 118 amostras foi investigado por pirosequenciamento para verificar a presença do marcador de resistência antiviral H274Y, no gene da neuraminidase (NA). Além disso, o gene da hemaglutinina (HA) de 31 amostras foi sequenciado pelo método de Sanger et al. (1974) para verificar a presença de mutações. Os resultados do pirosequenciamento demonstraram que nenhuma das amostras investigadas possuía o marcador de resistência ao oseltamivir H274Y. Análises filogenéticas mostraram alta similaridade entre as amostras de Pernambuco e aquelas que circularam em outras regiões. Corroborando com outros achados, a cocirculação de distintas linhagens de influenza A(H1N1)pdm09 foi demonstrada e todos os agrupamentos (clusters) da árvore filogenética estavam estreitamente relacionados à cepa protótipo da vacina A/Califórnia/07/09. Palavras chaves: Influenza A(H1N1)pdm09, resistência ao oseltamivir, mutações, hemaglutinina. 78 ABSTRACT Worldwide, the influenza A(H1N1)pdm09 virus caused considerable morbidity and mortality. Despite the end of 2009 pandemic, the virus still circulates within the human population. The aim of this study was to investigate the frequency of oseltamivir resistance and the molecular characterization of circulating influenza A(H1N1)pdm09 viruses from Pernambuco State (PE), in comparison to other Brazilian and worldwide representatives samples collected in the course of the pandemic. A retrospective cross-sectional study was conducted among suspected cases of pandemic influenza attended at PE reference hospitals. A total of 118 respiratory samples were submitted to the identification of the NA mutation H274Y, a marker of antiviral resistance by pyrosequencing. Furthermore, HA gene of 31 samples was sequenced by the Sanger method in order to identify important signature residues and unique mutations. Pyrosequencing results demonstrated that none of the investigated samples bear the oseltamivir resistance mutation H274Y in NA gene. Finally phylogenetic analysis showed a high similarity between PE samples and those that circulated elsewhere. Corroborating previous findings, the cocirculation of distinct lineages of influenza A(H1N1)pdm09 was demonstrated and all clusters of phylogenetic tree were close related to the prototype vaccine strain A/California/07/09. Key words: Influenza A(H1N1)pdm09, oseltamivir resistance, hemagglutinin mutations. 79 Em abril de 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) notificou a ocorrência de casos humanos de influenza que ocorreram no México e nos Estados Unidos da América tendo sido identificado um vírus Influenza A subtipo H1N1 de origem suína. Dentro de poucos meses o vírus circulou por todo o mundo, sendo responsável pela primeira pandemia do século XXI e por mais de 18.000 mortes (WHO 2010d). Os primeiros casos do vírus influenza A(H1N1)pdm09 no Brasil foram confirmados em 7 de maio de 2009 e dois dias depois foi relatada a transmissão autóctone desse vírus no país. No estado de Pernambuco, região nordeste do Brasil, o primeiro caso foi confirmado em junho de 2009. Os vírus influenza são conhecidos por suas altas taxas de mutação principalmente nos genes da hemaglutinina (HA) e da neuraminidase (NA), gerando cepas variantes com características antigênicas distintas em relação as propriedades virais, tais como especificidade de ligação aos receptores sializados, virulência ou patogenicidade (Arias et al. 2009). O gene HA apresenta a mais alta taxa de mutação e a proteína que ele codifica está diretamente associada aos primeiros passos do sucesso da infecção viral (Wagner et al. 2002). Muitos autores têm monitorado as mutações no gene HA dos vírus influenza A(H1N1)pdm09, entre as quais a mutação D222G que tem sido associada a casos graves ou fatais, possivelmente devido a mudança na especificidade de ligação do vírus com o ácido siálico α2-6 para o α2-3, mais predominantemente encontrado no trato respiratório inferior de humanos (Liu et al. 2010, Zheng et al. 2010). Essa mutação foi detectada em 18% dos casos graves e fatais na Noruega (Kilander 2010) em 8,7% na Escócia (Miller et al. 2010), 5,12% na Espanha (Ledesma 2011), 4,1% em Hong Kong (Mak et al. 2010), 1,4% na Finlândia (Ikonen et al. 2010). Mutações no gene NA podem levar a perda de sensibilidade à terapia antiinfluenza utilizada no momento, baseada na inibição da atividade neuraminidásica viral (Abed et al. 2006, Aoki et al. 2007). Estudos anteriores à pandemia de 2009 mostraram resistência do vírus influenza A (H1N1) sazonal humano ao oseltamivir em vários países (Dharan et al. 2009; Eshaghi et al. 2009; Moscona et al. 2005). Com a introdução do novo vírus influenza A(H1N1)pdm09 rearranjado na população mundial, do amplo uso dos antivirais e os altos índices de resistência historicamente detectados, tornou-se primordial a avaliação dos níveis de resistência nos vírus emergentes. Consequentemente, muitos grupos iniciaram estudos a fim de 80 identificar mutações importantes, seguir a evolução dos principais genes e determinar a antigenicidade e susceptibilidade do novo vírus ao oseltamivir. Diante do impacto do vírus influenza A(H1N1)pdm09 e também das peculiaridades da circulação de vírus respiratórios em diferentes regiões do país, este estudo visa investigar a frequência de resistência ao oseltamivir, realizar a caracterização molecular dos vírus influenza A(H1N1)pdm09 circulantes no estado de Pernambuco e compará-los com outras amostras representativas do Brasil e do mundo, coletadas durante o período da pandemia. Após a coleta, as amostras de casos suspeitos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 (triplo swabs combinados e fragmentos de tecidos de pacientes que foram a óbito), foram colocadas em meio de transporte, congeladas no Laboratório Central de Pernambuco e posteriormente enviadas ao Instituto Evandro Chagas no estado do Pará para realização do diagnóstico por RT-PCR em tempo real, de acordo com o protocolo do CDC (Atlanta, USA), disponível em: <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/CDCRealtimeRTPCR_Swine H1Assay-2009_20090430.pdf>. As amostras positivas para o vírus influenza A(H1N1)pdm09 foram encaminhadas para o Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo da Fiocruz, para realização deste estudo. Um total de 118 amostras positivas de influenza A(H1N1)pdm09 foram pirosequenciadas a fim de verificar a presença da mutação H274Y no gene NA, de acordo com Deyde et al.(2010). O RNA foi extraído diretamente de 140 μL das amostras clínicas, usando o kit QIAamp® Viral RNA Mini Kit (Qiagen, Germany), de acordo com a orientação do fabricante. O volume final da eluição foi 80 μL. A amplificação do fragmento C influenza A(H1N1)pdm09-N1 foi realizada usando a SuperScript III One-step RT-PCR with HiFi Taq system (Invitrogen) de acordo com o protocolo do CDC, disponível em < http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/NA_DetailedPyrosequencing_ 20090513.pdf>. Após purificação, os amplicons foram analisados no Pyromark Q-96 ID (Qiagen, Germany), usando o modo SNP (single nucleotide polymorphism). Para análise quantitativa da mutação H274Y no gene HA a alteração de codon CAC → TAC foi investigada por pirosequenciamento. Através desta técnica, toda amostra que apresente uma porcentagem menor do que 10 % de “T “(mutante) na primeira posição do codon é considerada selvagem e consequentemente sensível ao tratamento com oseltamivir”. Por outro lado, todos os valores acima de 10% são 81 considerados uma mistura de tipos selvagem e mutante, com uma sensibilidade reduzida à droga (Souza et al. 2011). Foi realizada a caracterização genética de 31 amostras representativas de distintas fases da pandemia (início, meio e fim). O gene da HA, foi amplificado por RT-PCR, utilizando-se SuperScript IIITM One-step RT-PCR with Platinum Taq-DNA Polymerase (Invitrogen, USA) e foi sequenciado de acordo com protocolo da OMS para influenza, disponibilizado em http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/GenomePrimers_20090512.p df. Após purificação (Motta et al. 2006) os produtos foram sequenciados usando o ABI Prism Big Dye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction (Applied Biosystems, USA) com o ABI 3130 XL capillary automatic DNA analyzer (Applied Biosystems). Todas as sequências do gene HA foram editadas usando o software Sequencher v.4.10 (Gene Codes, Ann Arbor, USA) e alinhadas com o protótipo da vacina A/California/07/2009 e outras sequências disponíveis no GenBank (www.ncbi.nlm.nih.gov), usando o módulo Clustal W do pacote Molecular Evolutionary Genetics Analyses (MEGA), version 5.0.5 (Tamura et al. 2011). As sequências das 31 amostras obtidas neste trabalho estão disponíveis no GenBank, códigos de acesso CY103911-CY103941. O marcador de resistência da mutação H274Y não foi detectado em nenhuma das 118 amostras avaliadas no estudo, estando de acordo com dados anteriormente obtidos, sugerindo uma baixa frequência de resistência dos vírus influenza A(H1N1)pdm09 ao oseltamivir, quando comparada com amostras sazonais (Souza et al. 2010; Malato et al. 2011; Chen et al. 2011; Harvala et al. 2011 e Kawano et al. 2011). Vinte e uma das 31 sequências de HA obtidas através do sequenciamento automático foram de amostras de pacientes hospitalizados e dois deles evoluíram para óbito. As sequências apresentaram várias mutações quando comparadas com a A/California/07/2009 e estão listadas na Tabela I. No total, catorze mutações foram identificadas das quais P100S e I338V foram encontradas em todas as sequências avaliadas. A mutação S220T foi detectada em 23 amostras, sendo que a maioria (15 amostras) foi encontrada em pacientes hospitalizados, enquanto que de nove mutações Q310H detectadas, seis pertenciam a esse subgrupo. Vale ressaltar que enquanto a mutação D114N foi mais frequentemente encontrada em pacientes 82 ambulatoriais, as mutações N277K, K325E, Q310R, Y368F e I550L foram detectadas apenas em pacientes que necessitaram de hospitalização. Com o objetivo de detectar uma possível associação entre o quadro clínico do paciente e um fundo genético, buscamos no gene HA, os marcadores de virulência D222G (WHO, 2009) e Q310H (Glinsky et al. 2010). O primeiro não foi detectado neste estudo e o segundo foi detectado em proporções similares nos dois grupos (28,6% e 30,0% nos pacientes ambulatoriais e hospitalizados, respectivamente), não sendo possível associar essa mutação com os casos graves e fatais. Estes resultados corroboram com os resultados obtidos anteriormente com amostras brasileiras, indianas e canadenses (Lee et al. 2010; Potdar et al. 2010; Graham et al. 2011). As mutações P100S e I338V foram identificadas em todas as amostras dos dois grupos. Particularmente a mutação P100S tem sido associada com uma excreção viral prolongada, sendo possível recuperar os vírus de pacientes durante um período de até dois meses (Souza et al. 2010). As relações filogenéticas entre as amostras de Pernambuco e outras amostras brasileiras isoladas recentemente podem ser vistas na Figura I. Amostras de Pernambuco foram agrupados em dois grandes “clusters” (um principal e um menor), agrupadas junto com outras amostras brasileiras, coletadas no mesmo período, de outros estados distantes de Pernambuco, como Santa Catarina ou Rio Grande do Sul, no sul do Brasil. Os dois grupos são constituídos de alguns subgrupos menores, a maioria deles caracterizada por mudança de um único aminoácido. Todas as amostras são altamente similares ao protótipo vacinal, em concordância com outras publicações (Ikonen et al. 2010; Melidou et al. 2010; Barr et al. 2010). Notavelmente, a maioria das amostras de Pernambuco apresentou a mutação S220T, mas somente sete amostras eram similares ao protótipo da vacina para tal resíduo (Figura 1, grupamento inferior). Do contrário, todas as amostras do grupo inferior apresentaram a mutação Q310 H/R, sendo que só duas amostras que possuíam essa mutação faziam parte do grupo principal superior: A/Pernambuco/175/09 e A/Pernambuco/414/09. Em relação aos subgrupos, aqueles caracterizados pelas mutações D114N, P199Q e K325E foram construídos basicamente com amostras de Pernambuco (incluindo a mais antiga amostra enraizando cada subgrupo) as quais poderiam indicar pelo menos uma cadeia de transmissão Figura 1). 83 Neste estudo não detectamos a mutação H274Y por pirosequenciamento, indicando que todas as amostras eram sensíveis ao oseltamivir. Foi descrito o perfil genético do vírus influenza A(H1N1)pdm09 coletados no estado de Pernambuco no período de 2009-2010. Não houve diferença significativa entre as sequências do gene HA das amostras de Pernambuco com sequências de amostras de outras regiões brasileiras - amostras de diferentes regiões foram agrupadas juntas. Esses subgrupos regionais formados por amostras coletadas entre julho/2009 e abril/2010, são indicativos da cocirculação de linhagens, o que não só é esperado, mas foi anteriormente observado (Galiano et al. 2011). Apesar da declaração do final da pandemia pela OMS, o vírus continua circulando globalmente, provocando, algumas vezes, óbitos. O monitoramento contínuo da evolução viral e da resistência ao oseltamivir, são primordiais para a vigilância da gripe em todo o mundo, e os resultados aqui descritos contribuem para uma melhor compreensão das características genéticas dos vírus influenza A(H1N1)pdm09 que circularam no nordeste do Brasil, durante o período pandêmico. Agradecimentos: À Dra. Marilda Siqueira por disponibilizar o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC-FIOCRUZ – Rio de Janeiro, para realização deste estudo. Suporte Financeiro: Instituto Oswaldo Cruz /Fundação Oswaldo Cruz. REFERÊNCIAS: Abed Y, Baz M, Boivin G 2006. 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Pacientes Resíduo Ambulatório Hospitalizados (n=10) (n=21) Total (n=31) S88F - 01 1* S91N 01 02 3 P100S 10 21 31 S101N 01 02 2 D114N 03 02 5 P199Q 01 06 7 S220T 08 15 23 N277K - 01 1* Q310H 03 06 9 Q310R - 01 1 K325E - 04 4 I338V 10 21 31 Y368F - 01 1 I550L - 01 1 * Óbito 88 E391K 80 Alagoas - Mar 2010 CY072089 A/Rio de Janeiro/88/2010 2010/03/04 HM624015 A/Sao Paulo/15463/2010 2010/03/08 71 Paraná - 2010 CY080261 A/Shantou/8049/2010 2010/01/05 CY096274 A/Melbourne/INS475/2010 2010/08/31 68 Chile - Aug 2010 91 CY103912 A/Pernambuco/117/2009 2009/07/23 D114N GQ915023 A/Sao Paulo/55312/2009 2009/08/05 CY103914 A/Pernambuco/175/2009 2009/08/05 CY103915 A/Pernambuco/177/2009 2009/08/05 64 CY103917 A/Pernambuco/231/2009 2009/08/09 51 CY103932 A/Pernambuco/592/2009 2009/09/18 CY103941 A/Pernambuco/82/2009 2009/07/02 CY072074 A/Alagoas/115/2010 2010/03/05 CY103926 A/Pernambuco/458/2009 2009/08/28 P199Q CY103930 A/Pernambuco/567/2009 2009/09/12 CY052048 A/Rio Grande do Sul/4509/2009 2009/07/18 CY103937 A/Pernambuco/688/2009 2009/11/04 CY103933 A/Pernambuco/609/2009 2009/09/22 CY103936 A/Pernambuco/66/2009 2009/06/29 CY103920 A/Pernambuco/402/2009 2009/08/19 CY074045 A/Argentina/HNRG49/2009 2009/06/16 CY052350 A/Santa Catarina/460/2009 2009/06/10 53 CY103928 A/Pernambuco/518/2009 2009/09/04 CY103938 A/Pernambuco/732/2010 2010/01/14 CY072087 A/Bahia/231/2010 2010/04/01 K325E 55 CY103940 A/Pernambuco/768/2010 2010/04/15 CY103939 A/Pernambuco/744/2010 2010/03/06 † GQ368665 A/Mato Grosso/2329/2009 2009/05/28 Main cluster HQ595285 A/Sao Paulo/89876/2009 2009/10/19 GQ368667 A/Distrito Federal/2611/2009 2009/06/05 S220T CY060444 A/Bahia/12606/2009 2009/08/18 64 CY103918 A/Pernambuco/247/2009 2009/08/11 CY063510 A/Boston/145/2009 2009/07/09 CY054283 A/Santa Catarina/459/2009 2009/06/11 CY103923 A/Pernambuco/42/2009 2009/06/27 CY103916 A/Pernambuco/181/2009 2009/08/05 HQ595263 A/Goias/69870/2009 2009/08/25 CY103911 A/Pernambuco/107/2009 2009/07/17 CY103919 A/Pernambuco/397/2009 2009/09/24 CY103929 A/Pernambuco/565/2009 2009/09/11 63 HQ228042 A/Finland/592/2009 2009/06/23 CY052050 A/Rio Grande do Sul/4782/2009 2009/07/20 HQ595260 A/Piaui/69692/2009 2009/08/25 GQ414764 A/Sao Paulo/2056/2009 2009/05/20 CY075379 A/Chile/3586/2009 2009/07/03 CY103922 A/Pernambuco/414/2009 2009/08/20 CY060452 A/Santa Catarina/6235/2009 2009/07/26 CY103921 A/Pernambuco/409/2009 2009/08/21 54 73 Bahia - Mar 2010 CY103913 A/Pernambuco/126/2009 2009/07/25 50 56 CY103934 A/Pernambuco/624/2009 2009/09/24 CY103925 A/Pernambuco/447/2009 2009/08/30 59 66 Rio de Janeiro - Aug 2009 60 Q310H Bottom cluster CY103935 A/Pernambuco/643/2009 2009/10/03 HQ595252 A/Distrito Federal/62652/2009 2009/08/13 CY103924 A/Pernambuco/431/2009 2009/08/27 CY072088 A/Rio de Janeiro/491/2010 2010/02/18 HQ595234 A/Sao Paulo/50280/2009 2009/07/27 S101N CY051988 A/Norway/2917/2009 2009/08/11 CY103931 A/Pernambuco/590/2009 2009/09/18 CY054281 A/Rio de Janeiro/9685/2009 2009/08/10 FJ969540 A/California/07/2009 2009/04/09 0.001 † CY103927 A/Pernambuco/513/2009 2009/09/03 89 Figura 1 - Árvore filogenética (Neighbor-Joing) de sequências completas do gene HA do vírus influenza A(H1N1) pdm09. Algumas sequências disponíveis no GenBank foram incluídas para representar grupos distintos que circularam no mundo durante o período de 2009 – 2010. A data de coleta está exibida após a identificação de cada amostra. A amostra protótipo A/Califórnia/07/2009 foi utilizada para a raiz da árvore. ✟: Paciente foi a óbito. 90 5.2 ARTIGO 2 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E VIROLÓGICOS DA INFECÇÃO POR INFLUENZA A (H1N1)PDM 09 E FREQUÊNCIA DE OUTROS VÍRUS RESPIRATÓRIOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL: 2009 – 2010 Artigo a ser submetido à Revista Journal of Clinical Virology 91 ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E VIROLÓGICOS DA INFECÇÃO POR INFLUENZA A (H1N1)PDM 09 E FREQUÊNCIA DE OUTROS VÍRUS RESPIRATÓRIOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL: 2009 - 2010 Maria José Couto Oliveira1,2+, Marilda M Siqueira3, Maria de Lourdes Aguiar Oliveira3, Fernando do Couto Motta3, Sharon Carney3, Marli Tenório Cordeiro1,2, Wyller Alencar de Mello4, Vera Magalhães2. 1 Setor de Virologia, Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN-PE), Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. 2 Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical de Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. 3 Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil. 4 Instituto Evandro Chagas, Belém, Pará, Brasil. +Endereço para correspondência: Maria José Couto Oliveira Rua do Espinheiro, 360, Apto. 1801 – Espinheiro Recife – PE, CEP 52020-020 e-mail: [email protected] 92 RESUMO As infecções respiratórias agudas podem ser causadas por diferentes patógenos e relevantes padrões de morbidade e mortalidade podem ser observados especialmente nos grupos de risco. Os padrões epidemiológicos da infecção por influenza A(H1N1)pdm09 e a prevalência de outros vírus respiratórios foram investigados no Estado de Pernambuco, durante o período pandêmico 2009-2010. Neste estudo seccionado, amostras biológicas (swabs de orofaringe e nasofaringe e/ou fragmentos de pulmão) de 705 casos suspeitos de influenza foram testadas por reação em cadeia da polimerase em tempo real (rRT-PCR) para influenza A(H1N1)pdm09 (Protocolo CDC), e uma sub-amostra (146 Influenza A negativa) foi testada para a presença de outros vírus respiratórios. Dados clínicos e epidemiológicos foram coletados usando formulário padronizado. Análises descritivas/bivariadas (Qui-quadrado e/ou teste exato de Fisher e teste T de Student) foram realizadas, e a significância foi considerada quando p<.005. A frequência de infecção por influenza A(H1N1)pdm09 foi 26,4%; sendo significantemente superior no sexo masculino (p=0.023) e na faixa etária entre 6 e 19 anos (p<0.001). Além disso, 12 pacientes (6.4%) entre os 186 casos confirmados, evoluíram para o óbito. Na subamostra Influenza A negativa, outros vírus foram detectados em 53 (36,3%): Rhinovírus (41,0%), Coronavírus (16,1%), Metapneumovírus (14,3%), Parainfluenza (8,9%), Bocavírus (7,1%), Vírus Respiratório Sincicial (5,4%), Influenza B (3,6%), Adenovírus (1,8%) e Enterovírus (1,8%). Infecções múltiplas foram encontradas em três casos. A magnitude da pandemia em Pernambuco foi menor do que no sul e sudeste do Brasil. Além do vírus influenza A(H1N1)pdm09, outros patógenos respiratórios circularam em 2009-2010 durante o período pandêmico, e parecem ser responsáveis por cerca de um terço dos casos agudos de infecção respiratória com sintomatologia de IRA. Apesar da importância do PCR em tempo real como ferramenta diagnóstica, estes resultados devem ser interpretados no contexto clínico-epidemiológico. Novos estudos estão sendo desenvolvidos para avaliar o impacto desses outros patógenos em saúde pública. Palavras chave: Influenza, vírus respiratórios, infecção respiratória aguda, parainfluenza, coronavírus, metapneumovírus, bocavírus, adenovírus, rhinovírus, vírus respiratório sincicial. 93 ABSTRACT Acute respiratory infections can be caused by different pathogens and relevant morbid-mortality patterns can be found especially some risk groups. The epidemiological features of influenza A(H1N1)pdm09 and the prevalence of other respiratory infections were investigated in Pernambuco state, during the 2009-2010 pandemic period. In this cross-sectional study, biological samples (nasopharyngeal swab/lung fragments) from 705 Influenza suspected cases were tested by real time PCR for influenza A(H1N1)pdm09 (CDC protocol) and a subsample (146 FluAnegative) was tested for the presence of respiratory viruses. Epidemiological/clinical data were collected using a standardized formulary. Descriptive/bivariate analyses (Chi-square and/or Fisher exact test and T-test) were performed and significance was considered as p<.005. The prevalence of influenza A(H1N1)pdm09 infection was 26.4%; being significantly higher among males (p=.023) and those aged between 619 years (p>.001). Moreover 12 patients (6.4%) died. In the Influenza A - negative subsample, other viruses could be detected in 53 (36.3%), as follows: Rhinovirus (41,0%), Coronavirus (16.1%), Metapneumovirus (14.3%), Parainfluenza (8.9%). Bocavirus (7.1%), Respiratory syncytial virus(5.4%), Influenza B (3.6%), Adenovirus (1.8%), and Enterovirus (1.8%). Multiple infections were found in 3 cases. The magnitude of Flu pandemic in Pernambuco was lower than in South/Southeast of Brazil. Besides influenza A(H1N1)pdm09, other respiratory pathogens were circulating during 2009-2010 Influenza season, and seemed to be responsible for about one third of non-FluA clinical cases. Despite rRT-PCR importance as a diagnostic tool, these results should be interpreted according to the clinical/epidemiological contexts. New studies are under development to assess the Public Health impact of these other pathogens. Key-words: Influenza, Respiratory viruses, acute respiratory infection, Parainfluenza, Coronavirus, Metapneumovirus, Bocavirus, Rhinovirus, Respiratory Syncytial Vírus. 94 INTRODUÇÃO Mundialmente, as infecções respiratórias agudas (IRA) são uma importante causa de morbimortalidade, principalmente entre alguns grupos, tais como idosos, crianças e pacientes imunocomprometidos.1,2 A maioria dessas infecções é de etiologia viral3 e clinicamente similar às infecções por influenza, sendo conjuntamente denominadas “influenza-like illness” (ILI).4 Além do influenza (FLU), 5 outros vírus estão associados com ILI, como o vírus respiratório sincicial (RSV),6 rhinovírus (RV),7 coronavírus (CoV),8 parainfluenza (PIV) 1 a 4,9 adenovírus (AdV),10 enterovírus (EV),11 parechovírus (PeV)12 e os mais recentemente identificados metapneumovírus (HMPV)13 e bocavírus (HBoV).14 Recentemente, a reação em cadeia da polimerase em tempo real rRT-PCR) tem sido empregada para detecção de múltiplos patógenos respiratórios.15-19 Entretanto, a relevância clínica dessas infecções no contexto da saúde pública ainda se encontra sob investigação, especialmente no Brasil, onde os dados são muitos escassos. 2 O objetivo deste estudo foi avaliar os aspectos virológicos e epidemiológicos da infecção por influenza A(H1N1)pdm09 em Pernambuco, durante o período de maio de 2009 a maio de 2010, assim como investigar a prevalência de outros patógenos virais em casos clínicos de infecção respiratória aguda (IRA) negativos para influenza A. MÉTODOS Desenho do estudo e População alvo Neste estudo transversal, 705 pacientes com IRA foram investigados, compreendendo o período de maio de 2009 a maio de 2010. Os indivíduos foram atendidos em hospitais de referência do estado de Pernambuco para casos suspeitos de influenza pandêmica. Até julho de 2009, o critério para a classificação dos casos suspeitos consistiu na presença de febre >38ºC (ainda que apenas referida) tosse e contato direto com pessoas infectadas ou viajantes para áreas com casos confirmados de influenza A(H1N1)pdm09, nos últimos 10 dias. Após a evidência da transmissão sustentada do vírus no Brasil (semana epidemiológica 29/09), o critério passou a contemplar apenas os casos com síndrome respiratória 95 aguda grave (SRAG), caracterizados pela presença de dispnéia, febre >38ºC e tosse, assim como casos fatais.19 Durante a hospitalização, amostras clínicas (swabs combinados de orofaringe e nasofaringe e/ou fragmentos de pulmão) foram coletadas visando a realização de testes laboratoriais. Para a detecção de outros patógenos virais, uma subamostra composta por 146 casos negativos para influenza A (FLUA) foi aleatoriamente selecionada, sendo representativa das diversas semanas epidemiológicas. Detecção de Influenza A (H1N1)pdm09 e outros vírus respiratórios Para a detecção do vírus influenza A (H1N1)pdm09, o RNA foi extraído usando o kit QIAamp® Viral RNA Mini Kit (QIAGEN , Germany), e a reação em cadeia da polimerase em tempo real (rRT-PCR) foi realizada, segundo o protocolo desenvolvido pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, EUA)21 (acessível em <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/CDCRealtimeRTPCR_Swine H1Assay-2009_20090430.pdf>). Estes ensaios foram realizados no Instituto Evandro Chagas (Belém, Pará, Brasil). Para a detecção de múltiplos patógenos respiratórios, a extração de ácido nucléico foi realizada usando o kit Magna Pure LC Total Nucleic Acid Isolation (Roche Diagnostics), seguido por RT- PCR em tempo real, onde foi usado o kit Fast track21 plus® (Laboratoires Réunis – Luxemburgo). Este ensaio é capaz de detectar 23 patógenos respiratórios: FLUA, FLUB, FLUA(H1N1)pdm09, RV, HCoV229, HCoV63, HCoV43 e HCoV KHU; PIV-2, PIV-3, PIV-4 HBoV, HMPV, PIV-1, AdV, EV, PeV, RSV; Chlamydia pneumoniae, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus and Streptococcus pneumoniae. Somente vírus foram considerados nesta investigação. Estes ensaios foram realizados no Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo da Fundação Oswaldo Cruz (IOC, FIOCRUZ), Rio de Janeiro. Análise Estatística Análises descritivas/ bivariadas (Qui-quadrado e/ou teste exato de Fisher e teste T para médias) foram realizadas usando o programa STATA, versão 9.0. Possíveis associações entre as infecções pesquisadas e as variáveis demográficas, clínicas e epidemiológicas foram analisadas e consideradas significativas, quando p<0,005. 96 Aspectos Éticos Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas do Centro de Ciências da Saúde da UFPE. RESULTADOS Aspectos demográficos, clínicos e epidemiológicos da infecção por Influenza A(H1N1)pdm09 Os aspectos demográficos, clínicos e epidemiológicos dos casos de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 encontram-se descritos na Tabela 1. No período do estudo, 839 casos de influenza foram notificados e foram coletadas amostras clínicas de 705 indivíduos (84,0%). Destes, 453 (64,3%) e 252 (35,7%) eram do sexo feminino e masculino, respectivamente, e a média de idade foi 29,4 (±19) anos (3 meses a 89 anos). Em 67,4%, as amostras foram coletadas em até 3 dias após o início dos sintomas e em 7,2% depois de 8 dias. Dos 705 indivíduos, 209 (29,6%) foram positivos para influenza A pelo teste do CDC e 186 (26,4%) foram positivos para influenza A(H1N1)pdm09. Destes, 23,4% (106/453) eram do sexo feminino e 31,7% (80/252) do sexo masculino, com média de idade de 24,6 (±15,6) anos (faixa de um mês a 82 anos). Uma frequência significativamente superior foi encontrada entre aqueles na faixa etária de 6 a 9 anos (p<0.001). Os sintomas mais frequentes foram febre, tosse e dispnéia, de acordo com o critério de classificação de casos do Ministério da Saúde. Dois picos no número de casos de influenza A(H1N1)pdm09 foram observados: o primeiro na semana epidemiológica 26 (13 casos) e o segundo entre as semanas 30 e 38 (113 casos) (Figura 1). Durante a pandemia de influenza, as gestantes constituíram um dos principais grupos de risco para a forma mais grave da doença.22 No Estado de Pernambuco, entre 307 mulheres em idade fértil (entre 15 e 49 anos), 72 (23,5%) (IC: 18,7% a 28,2%) foram positivas para o vírus influenza A(H1N1)pdm09. De 79 gestantes, 22 (27,8%) foram positivas para influenza A (H1N1)pdm09 e três foram à óbito. Óbitos por Influenza A(H1N1)pdm09 As características demográficas e epidemiológicas dos casos de óbitos por influenza A(H1N1)pdm09 encontram-se descritas na Tabela 2. 97 Entre os casos fatais (n=35), influenza A(H1N1)pdm09 foi detectado em 12 indivíduos (34,3%; 8 em 2009 e 4 em 2010). A doença acometeu ambos os sexos, na faixa etária entre 4 e 53 anos de idade. Nas três gestantes que faleceram (casos 4, 7 e 12 com 21, 28 e 23 anos, respectivamente) a gravidez foi o único fator de risco apresentado. Outras infecções respiratórias virais Entre as 146 amostras negativas para influenza A(H1N1)pdm09 (Figura 2), outros patógenos respiratórios foram detectados em 53 indivíduos (36,3%) (Tabela 3). Os vírus mais prevalentes foram rhinovírus (n=23), metapneumovírus (n=8) e Coronavírus OC43 (n=8). Entre os casos de infecção por rhinovírus, a média de idade foi 23,1 (15,3) anos, com maior prevalência no sexo masculino (19,6%). O pico dos casos ocorreu entre julho e setembro – o período de maior circulação de influenza A(H1N1)pdm09 e notificação de casos de IRA. Em três amostras, infecção dupla viral, Rhinovírus + Bocavírus; Rhinovírus + Metapneumovírus e Influenza B + Coronavírus OC43 foram observadas. Ainda, entre os cinco casos fatais que foram submetidos ao PCR multiplex, apenas RSV foi encontrado em uma única amostra de uma criança de 2 anos. DISCUSSÃO A frequência de infecções por influenza A(H1N1)pdm09 em Pernambuco durante 2009-2010, foi 26,4%, de modo que a magnitude da pandemia em nosso estado foi inferior àquela observada no Sul e Sudeste do Brasil.22 Estes resultados corroboram com outros achados em diferentes regiões do país.2 Segundo o Serviço de Vigilância do Estado de Pernambuco, 846 casos suspeitos foram notificados entre maio 2009 e maio 2010, e o coeficiente de mortalidade por 100.000 habitantes foi da ordem de 0,1 em 2009 e 0,04 em 2010 (comunicação oral). Em Pernambuco, a frequência de infecções foi significativamente mais alta entre os indivíduos do sexo masculino do que no feminino (p=0,023), contrastando com o perfil previamente descrito no Brasil.2,24 Achados similares também foram observados em relação à idade. Em Pernambuco uma maior frequência foi 98 encontrada na faixa entre 6-19 anos (p<0,001). No Brasil os adultos jovens (entre 20 a 29 anos) foram os mais acometidos no período 2009-2010.24 De acordo com a literatura nacional e internacional,25 aqueles com idade ≥60 anos apresentaram frequência de infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 inferior, quando comparados aos mais jovens. Como previamente publicado, este evento parece ser devido à prévia exposição viral e imunidade cruzada entre os vírus influenza, especialmente entre aqueles nascidos antes de 1957.26 Conforme observado nas demais regiões brasileiras,23 a presença de doença respiratória crônica foi o principal fator de risco na casuística estudada, sendo relatada por 40,4% dos indivíduos. Apesar da pequena amostra de gestantes, cerca de 1/3 foi infectada por influenza A(H1N1)pdm09, incluindo três casos fatais. Estes dados corroboram com a literatura, onde a gestação figura como um importante fator de risco para a evolução clínica mais graves e óbito nesta categoria de exposição, decorrentes da infecção por influenza.27, 28 Entre os casos suspeitos, somente 29,4% foram positivos para influenza A. Os demais 496 casos permaneceram com etiologia desconhecida. No Brasil, o menor índice de confirmação laboratorial de casos suspeitos foi observado na Região Nordeste (32,3%).23 Muitos fatores podem ter contribuído para a baixa frequência de detecção de influenza A(H1N1)pdm09 no estado: i) coleta tardia da amostra – em alguns casos após o sétimo dia dos sintomas; ii) o material clínico (swab de nasofaringe que é menos sensível do que aspirado para detecção por PCR;29 iii) a temperatura inadequada durante o transporte, o que pode ter comprometido a qualidade da amostra. Para elucidar a etiologia dos casos de IRA, negativos para influenza A, uma subamostra de 146 amostras foi investigada para a presença de outros 18 patógenos virais. O principal achado deste estudo foi que ao utilizar a abordagem de PCR em tempo real multiplex, foi possível elucidar cerca de 40,0% destes casos, onde o Rhinovírus foi o vírus mais prevalente (41,0%). Em estudo conduzido na Suíça entre transplantados e paciente imunocomprometidos, o Rhinovírus foi o segundo vírus respiratório mais frequente (22,6%) após o Coronavírus (32,2%).18 Resultados semelhantes foram também encontrados na Suécia onde os autores levantaram a hipótese de que esta alta prevalência poderia ter contribuído para reduzir a circulação de influenza A(H1N1)pdm09.30,31 Em nossa subamostra, 3 (2,0%) infecções virais múltiplas foram detectadas: RV + HMPV, RV + HBoV e FLUB 99 + HCoV-OC43. A frequência foi mais baixa do que aquelas encontradas em outros estudos, conduzidos em crianças,17,29,32,33 porém, similar ao encontrado em São Paulo (3,77%).34 Devido ao pequeno tamanho da amostra e à baixa prevalência dos patógenos pesquisados não fomos capazes de investigar possíveis associações entre estas infecções e as variáveis clínico-epidemiológicas, a fim de conhecer melhor o perfil destas infecções e a sua importância sob a perspectiva da saúde pública. O diagnóstico das doenças virais teve um grande impulso nos últimos 15 anos com o advento da PCR. Entretanto, a maioria dos estudos têm sido desenvolvidos em crianças.35 Apesar da praticicidade da rRT-PCR como ferramenta diagnóstica, devido a sua alta sensibilidade, os resultados das infecções múltiplas devem ser interpretados no contexto dos dados clínico-epidemiológicos. Agradecimentos: À Dra. Marilda Siqueira por disponibilizar o Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do IOC-FIOCRUZ – Rio de Janeiro, para realização deste estudo. Suporte Financeiro: Instituto Oswaldo Cruz /Fundação Oswaldo Cruz. REFERÊNCIAS: 1. Boivin G, Côté S, Déry P, De Serres G, Bergeron MG. Multiplex Real-Time PCR Assay for Detection of Influenza and Human Respiratory Syncytial Viruses. J Clin Microbiol 2004; 42: 45-51. 2. Raboni SM, Stella V, Cruz CR, França JB, Moreira S, Gonçalves L, et al. 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Análise da Situação Epidemiológica e da Resposta no Ano de 2009. Ano 10. Nº 2. Março de 2010a. 24. BRASIL. Ministério da Saúde. Informe técnico quinzenal de Influenza. Influenza Pandêmica (H1N1) 2009 – Monitoramento da Síndrome Respiratória Aguda Grave. Ed. n. 9, 2010b. 102 25. WHO. Acute Respiratory Infections (Update Setember 2009). Available from: <http://www.who.int/vaccine_research/diseases/ari/en/index5.html>. 26. Hancock K, Veguilla V, Lu X, Zhong W, Butler EN, Sun Hong et al. CrossReactive Antibody Responses to the 2009 Pandemic H1N1 Influenza Virus. N Engl J Med 2009; 361: 1945-52. 27. Louie JK, Acosta M, Jamieson DJ, Honein MA, California Pandemic (H1N1) Working Group. Severe 2009 H1N1 Influenza in Pregnant and Postpartum Women in California. N Engl J Med 2010; 362: 27-35. 28. Mosby LG, Rasmussen SA, Jamieson DJ. 2009 pandemic influenza A (H1N1) in pregnancy: a systematic review of the literature. Am J Obstet Gynecol 2011; 205:10-8. 29. Meerhoff TJ, Houben ML, Coenjaerts FE, Kimpen JL, Hofland RW, Schellevis F et al. Detection of multiple respiratory pathogens during primary infection: nasal swab versus nasopharyngeal aspirate using real-time polymerase chain reaction. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 29: 365-371. 30. Linde AM, Rotzén-Ostlund M, Zweygberg-Wirgart B, Rubinova S, Brytting M. Does viral interference affect spread of influenza? Euro Surveill 2009; 8: pii=19354. 31. Casalegno JS, Ottmann, Duchamp MB, Escuret V, Billaud G, Frobert E et al. Rhinoviruses delayed the circulation of the pandemic influenza A (H1N1) 2009 in France. Clin Microbiol Infect 2010; 16: 326-9. 32. Wang W, Cavailler P, Ren P, Zhang J, Dong W, Yan H, et al. Molecular monitoring of causative viruses in child acute respiratory infection in endemoepidemic situations in Shanghai. J Clin Virol 2010; 49: 211-8. 33. Bezerra PGM, Britto MCA, Correia JB, Duarte MCMB, Fonseca AM, Rose K et al. 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Variáveis Casos positivos para o vírus influenza A (H1N1)pdm09(N=186) N Sexo Masculino Feminino Faixa etária2 Menos de 2 anos De 3 a 5 anos De 6 a 9 anos De 10 a 19 anos De 20 a 39 anos De 40 a 49 anos De 50 a 59 anos 60 anos e mais Co-morbidades Doença respiratória crônica Cardiopatia Doença metabólica crônica Doença renal crônica Imunodepressão Hemoglobinopatias Outras comorbidades 252 (35,7%) 453 (64,3%) 80 (31,7%)1 106 (23,4%) 37 (5,3%) 24 (3,4%) 31 (4,4%) 128 (18,2%) 311 (44,2%) 64 (9,1%) 49 (7,0%) 59 (8,4%) 07 (18,9%) 03 (12,5%) 15 (48,4%)3 53 (41,4%) 77 (24,8%) 14 (21,9%) 11 (22,4%) 06 (10,2%) 99 (14,0%) 35 (5,0%) 19 (2,7%) 08 (1,1%) 22 (3,1%) 08 (1,1%) 147 (20,9%) 40 (40,4%) 05 (14,3%) 05 (26,3%) 01 (12,5%) 06 (27,3%) 03 (37,5%) 46 (31,3%) 667 (94,6%) 664 (94,2%) 520 (73,8%) 426 (60,4%) 402 (57,0%) 347 (49,6%) 272 (38,6%) 181 (27,1%) 88 (12,5%) 44 (6,2%) 128 (18,2%) 35 184 (98,9%) 179 (96,2%) 142 (76,3%) 107 (57,5%) 102 (54,8%) 86 (46,2%) 70 (37,6%) 35 (18,8%) 19 (10,2%) 10 (5,4%) 43 (23,1%) 12 467 (67,4%) 176 (25,4%) 50 (7,2%) 133 (72,3%) 40 (21,7%) 11 (6,0%) Sinais e sintomas Febre Tosse Dispnéia Coriza Mialgia Dor de garganta Calafrio Artralgia Diarréia Conjuntivite Outros Óbitos Intervalo entre o início dos sintomas e coleta da amostra ≤ 3 dias 4 a 7 dias ≥ 8 dias 1 p = 0.023; 2 2 pacientes sem informação da idade; 3 p<.001 4 Uma caso de outro estado, detectado em PE 104 Tabela 2 – Casos fatais por Influenza A(H1N1)pdm09 no Estado de Pernambuco, Brasil. Maio 2009-Maio 2010. Amostra # Idade (anos) Sexo Mês/ Ano Intervalo entre primeiros sintomas e hospitalização (dias) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 27 50 53 28 40 4 21 24 29 47 31 23 Feminino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino Feminino Masculino Masculino Masculino Masculino Feminino 8/09 8/09 9/09 9/09 10/09 10/09 11/09 12/09 3/10 4/10 4/10 4/10 5 3 5 5 9 3 SI* 4 8 7 5 2 Intervalo entre primeiros sintomas e óbito (dias) 10 14 5 20 12 6 22 6 29 7 5 6 Fator de Risco Desconhecido Desconhecido Desconhecido Gestação Desconhecido Desconhecido Gestação Obesidade, asma Obesidade Desconhecido Desconhecido Gestação *SI – sem informação Fonte: SINAN, Ministério da Saúde Tabela 3 – Frequência de outros patógenos virais entre os casos de IRA no Estado de Pernambuco, Brasil. Maio 2009-Maio 2010. Patógenos Virais N=146 N (%) Negativo 93 (63,7%) Positivo 53 (36,3%) Outros patógenos virais 56 # Rhinovírus 23 (41,0%) Metapneumovírus 08 (14,3%) Coronavírus 43 08 (14,3%) Bocavírus humano 04 (7,1%) Vírus Respiratório Sincicial 03 (5,4%) Influenza B 02 (3,6%) Parainfluenza 2 02 (3,6%) Parainfluenza 3 02 (3,6%) Parainfluenza 1 01 (1,8%) Adenovírus 01 (1,8%) Enterovírus 01 (1,8%) Coronavírus HKU 01 (1,8%) * 53 amostras e 56 vírus detectados (3 amostras com infeção múltipla) 105 Figura 1 – Distribuição de casos de IRA e de Influenza A(H1N1)pdm09, segundo a semana epidemiológica. Pernambuco, Brasil, Maio 2009- Maio 2010. C a s o s Vírus A(H1N1)pdm09 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 Casos de IRA 47 49 51 1 3 5 7 9 11 13 15 17 Semanas epidemiológicas Figura 2 – Fluxograma das amostras testadas para outros vírus respiratórios Amostras testadas para o Vírus Influenza A 705 Amostras positivas 209 Amostras negativas 496 146 amostras testadas para outros vírus 19 21 106 6 CONCLUSÕES - Na casuística estudada, não foram identificados vírus com a substituição H274Y, corroborando achados de outros países sobre a baixa frequência de vírus influenza A(H1N1)pdm09 resistentes ao oseltamivir. Entretanto, tal vigilância deve ser encorajada. - O pirosequenciamento constitui uma ferramenta importante para identificar marcadores associados à resistência aos antivirais de uma forma rápida e em maior escala. - Uma alta similaridade entre as amostras investigadas e o protótipo vacinal A/Califórnia/7/2009 foi encontrada, confirmando que, até o presente momento, não foram observadas mudanças antigênicas importantes no vírus influenza A(H1N1)pdm09. - A frequência do vírus influenza A(H1N1)pdm09 em Pernambuco foi de 26,4%, inferior ao observado no Brasil (38,6%) e no nordeste (32,2%). - Em Pernambuco, uma frequência significativamente superior de casos positivos foi encontrada entre indivíduos do sexo masculino e na faixa etária de 6 a 9 anos, seguida da faixa de 10 a 19 anos. - Com o uso de RT-PCR em tempo real, multiplex, foi possível identificar ao menos um vírus respiratório em 36,3% dos casos clínicos, negativos para Influenza A. Desta forma, tal ferramenta poderia ser empregada no esclarecimento diagnóstico (diferencial), sobretudo nos casos de óbito. Ainda permitiria melhor conhecer a importância clínico-epidemiológica destes vírus e seu respectivo impacto em Saúde Pública. - Excluindo os vírus influenza A, os rhinovírus foram os mais frequentes entre os vírus detectados (41,0%), seguidos dos coronavírus (16,1%), e metapneumovírus (14,3%). Esse achado é importante porque reforça a necessidade do diagnóstico 107 laboratorial para esclarecer a etiologia da IRA e também porque até então não havia nenhum relato de outros vírus respiratórios detectados nos casos suspeitos de influenza pandêmica no estado de Pernambuco. - A maior circulação de rhinovírus ocorreu nos meses de julho, agosto e setembro, coincidindo com a circulação do vírus influenza A(H1N1)pdm09. A de coronavírus nos meses de julho e agosto. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS - O monitoramento epidemiológico e virológico para conhecimento precoce dos vírus respiratórios que estão circulando devem ser realizados rotineiramente, utilizando-se técnicas moleculares mais sensíveis para nortear as medidas de prevenção e controle a serem tomadas e mostrar a necessidade de produção de vacinas para determinados patógenos. - A caracterização genética dos vírus respiratórios, especialmente dos vírus da influenza, deve ser repetida periodicamente, pois a vigilância genética permite a detecção de mutações associadas à resistência aos antivirais e a detecção precoce dos sítios antigênicos que são selecionados para os vírus escaparem das barreiras imunológicas. 108 REFERÊNCIA ABED, Y.; BAZ, M.; BOIVIN,G. Impact of neuraminidase mutations conferring influenza resistance to neuraminidase inhibitors in the N1 and N2 genetic backgrounds. Antiviral Therapy, v.11, n.8, p.971-976, 2006. ADWAN, G. 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Maria José Couto Oliveira 1,2, Fernando do Couto Motta 3, Marilda M Siqueira 3, Maria de Lourdes Aguiar Oliveira3 , Thiago Moreno Lopes e Souza 3, Milena Mesquita 3, Priscilla da Silva Born 3, Paola Cristina Resende Silva3, Wyller Alencar de Mello4, Vera Magalhães da Silveira2 1 Virology Sector, Central Public Health Laboratory of Pernambuco (LACEN-PE), Recife, PE, Brasil 2 Postgraduate Program in Tropical Medicine, Federal University of Pernambuco, Recife, PE, Brasil. 3 Respiratory Viruses and Measles Laboratory of Oswaldo Cruz Institute, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brazil. 4 Evandro Chagas Institute, Belém, Pará, Brasil. Address correspondence to: Maria José Couto Oliveira Rua do Espinheiro, 360, Apto. 1801 – Espinheiro Recife – PE, CEP 52020-020 e-mail: [email protected] 129 SUMMARY The influenza A(H1N1)pdm09 virus caused considerable morbidity and mortality worldwide. Despite the end of 2009 pandemic, the virus still circulates within the human population. The aim of this study was to investigate the frequency of oseltamivir resistance and the molecular characterization of circulating influenza A(H1N1)pdm09 viruses from Pernambuco State (PE), in comparison to other Brazilian and worldwide representatives samples collected in the course of the pandemic. A retrospective cross-sectional study was conducted among suspected cases of pandemic influenza attended at PE reference hospitals. A total of 118 respiratory samples were submitted to the identification of the NA mutation H274Y, a marker of antiviral resistance by pyrosequencing. Furthermore HA gene of 31 samples was sequenced by the Sanger method in order to identify important signature residues and unique mutations. Pyrosequencing results demonstrated that none of the investigated samples bear the oseltamivir resistance mutation H274Y in NA gene. Finally phylogenetic analysis showed a high similarity between PE samples and those that circulated elsewhere. Corroborating previous findings, the cocirculation of distinct lineages of influenza A(H1N1)pdm09 was demonstrated and all clusters of phylogenetic tree were close related to the prototype vaccine strain A/California/07/09. Key words: Influenza A(H1N1)pdm09, oseltamivir resistance, haemagglutinin mutations 130 In April 2009, the WHO notified the occurrence of a novel human influenza cases in Mexico and in the United States, which was further identified as an influenza A(H1N1) of a swine origin. Within few months, the virus had spread worldwide, provoking the first pandemic of the 21st century, accounting for more than 18,000 enrolled deaths (WHO, 2010). In Brazil, the first cases were confirmed by real time RT-PCR on the 7th of May 2009 and two days later the indigenous transmission of A(H1N1)pdm09 influenza virus was noticed. In Pernambuco State (PE), Northeast Brazil, the first case was confirmed in June. Influenza viruses are well recognized by their high mutation rates, especially in haemagglutinin (HA) and neuraminidase (NA) genes, generating variants antigenically distinct in concern to viral properties, such as the specificity for sialic acid receptors, virulence or pathogenicity (Arias et al. 2009). The HA gene presents the highest mutation rates and the respective protein is directly associated to the first steps of a successful infection (Wagner et al. 2002). Many authors has monitored mutations in the HA gene of A(H1N1)pdm09 influenza viruses, among which, the mutation D222G have been associated with severe or fatal cases, possibly as a consequence of a shift on the viral binding specificity from alfa2-6 to alfa 2-3, the last more frequently found in the lower respiratory tract of humans (Liu et al. 2010; Zheng et al., 2010). This mutation was identified among 18.0% of severe/fatal cases in Norway (Kilander 2010), 8.7% in Scotland (Miller et al. 2010), 5.2% in Spain (Ledesma 2011), 4.1% in Hong Kong (Mak et al. 2010) and 1.4% in Finland (Ikonen et al. 2010). Mutations in NA can lead to loss of sensitivity to currently used anti-influenza therapy, based on viral neuraminidase activity inhibition (Abed et al., 2006; Aoki et al., 2007). The resistance rates of seasonal influenza A(H1N1) viruses were identified in different countries by studies carried out previous to the pandemic (Dharan et al. 2009; Eshaghi et al. 2009; Moscona et al. 2005). The worldwide dissemination of the reassorted A(H1N1)pdm09 influenza virus in the human population associated with the broad use of neuraminidase inhibitors and the high levels of resistance historically observed in the H1N1 subtype, became crucial for the evaluation of the levels of resistance in the emerging virus. In addition, many groups initiated studies in order to identify important mutations, following the evolution of the main genes and determining the antigenicity and susceptibility of the new virus to oseltamivir. 131 Taking into account the impact of influenza A (H1N1)pdm09 as well as the peculiarities of respiratory viruses circulation in the different regions of the country, this study seeks to investigate the frequency of oseltamivir resistance and the molecular characterization of circulating influenza A(H1N1)pdm09 viruses from Pernambuco State (PE), in comparison to other Brazilian and worldwide representatives samples collected in the course of the pandemic. After collection, the suspected influenza A(H1N1)pdm09 specimens (triple combined swabs and tissue fragment from deceased patients) were aliquoted and frozen in transport medium at Pernambuco Central Laboratory (LACEN-PE) and then sent to Evandro Chagas Institute in Para State for real time RT-PCR detection of Influenza A(H1N1)pdm09 . The molecular diagnosis was carried out using the detection protocol developed by CDC (Atlanta, USA), available at: http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/CDCRealtimeRTPCR_SwineH 1Assay-2009_20090430.pdf>. The influenza A(H1N1)pdm09 confirmed positive samples were sent to the Respiratory and Measles Laboratory at Fiocruz for to realize this study. A total of 118 influenza A(H1N1)pdm09 positive samples were pyrosequenced, in order to check for the presence of the H274Y mutation (NA gene), according to Deyde et al. (2010). Total RNA was extracted directly from 140 μL of clinical specimen using the Qiamp Viral RNA mini kit (Qiagen, Germany) as described in the manufacture's manual. The final elution volume was 80 μL. The influenza A(H1N1)pdm-N1 fragment C amplification were performed using the SuperScript III One-step RT-PCR with HiFi Taq system (Invitrogen) protocol from CDC, available from: < http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/NA_DetailedPyrosequencing_ 20090513.pdf>. After purification, the amplicons were analyzed on the Pyromark Q96 ID (Qiagen, Germany), using the SNP (single nucleotide polymorphism) mode. To carry out the quantitative analysis of H274Y mutation in the NA gene, we investigated the codon change CAC → TAC by pyrosequencing. All samples presenting less than 10% of “T” at the first position of the codon is considered wild, and consequently, sensitive to oseltamivir treatment. Conversely, all values above 10% are considered as a mixture of wild and mutant types, with reduced sensitivity to the drug (Souza et al. 2011). 132 The genetic characterizations from thirty-one samples, representatives of distinct phases – beginning, middle and end of the pandemic, were performed. The HA gene was amplified by RT-PCR using SuperScript III One-step RT-PCR with Platinum Taq-DNA Polymerase (Invitrogen, USA) protocol from WHO, available at http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/GenomePrimers_20090512.p df. After purification (Motta et al, 2006), the products were directly sequenced using the ABI Prism Big Dye Terminator Cycle Sequencing Ready Reaction (Applied Biosystems, USA) with an ABI 3130 XL capillary automatic DNA analyzer. Sequences of total HA genes were edited using the Sequencher software, version 4.10 (Gene Codes, Ann Arbor, USA) and aligned with the vaccine prototype A/California/07/2009 and other sequences available in GenBank (www.ncbi.nlm.nih.gov) using the Molecular Evolutionary Genetics Analyses software (MEGA), version 5.0.5 (Tamura et al. 2011). The phylogenetic analysis was performed using the neighbor-joining method. The thirty-one sequences generated in this study are available in the GenBank database under the accession numbers CY103911-CY103941. The resistance marker H274Y was not detected in any of 118 samples evaluated in this study, which is in agreement with previous data, suggesting a very low frequency of resistance in influenza A(H1N1)pdm09 in comparison to seasonal viruses (Souza et al. 2010; Malato et al. 2011; Chen et al. 2011; Harvala et al. 2011 and Kawano et al. 2011). Twenty-one out of thirty-one HA sequences obtained through automatic sequencing came from hospitalized patients and two of then evolved to death. The sequences presented several mutations in comparison to A/California/07/2009, which are listed in Table I. In total, fourteen mutations were identified from which P100S and I338V were found in all evaluated sequences. The mutation S220T was detected in 23 samples, the majority (15 samples) from hospitalized patients, wheras Q310 was detected in six out of this subgroup. It is noteworthy that whereas mutation D114N was most frequently found in the outpatient group, single mutations N277K, K325E, Q310R, Y368F and I550L were detected only in patients requiring hospitalization. Aiming to identify any possible association between the clinical status of the patient and genetic background, we sought for the putative virulence markers D222G (WHO, 2009) and Q310H (Glinsky et al. 2010) in the HA gene. The former was not 133 detected in this study and the latter was detected in similar proportions in both patient groups (28.6% and 30% for outpatient and hospitalized groups, respectively). We could not associate this mutation with severe or fatal cases. These results corroborate the results previously reported with Brazilian and Indian samples (Lee et al. 2010; Potdar et al. 2010). The mutations P100S and I338V were identified in all samples from both groups in this study, being characteristic of samples from PE. Notably, mutation P100S was associated with extended viral shedding, with the recovery of virus from patients being possible over a period of two months (Souza et al. 2010). Phylogenetic relationships between PE samples and other recent brazilian isolates can be seen in Figure 1. PE samples were spread in two large clusters (main and lower clusters), being grouped together with other Brazilian samples collected at the same period from States further away from Pernambuco State, such as Santa Catarina or Rio Grande do Sul, in the South of Brazil. The two clusters were composed of some minor subclusters most of then characterized by single amino acid changes. All samples were highly similar to the vaccine prototype, in agreement with recent publications (Ikonen et al. 2010; Melidou et al. 2010; Barr et al. 2010). Notably, the majority of PE samples presented the mutation S220T with only seven samples being similar to the vaccine prototype for such a residue (Figure1, bottom cluster). Otherwise, all samples in the bottom cluster presented the mutation Q310H/R, with this mutation being found in only two samples in the main upper cluster: A/Pernambuco/175/09 and A/Pernambuco/414/09. Regarding the subclusters, those characterized by mutations D114N, P199Q and K325E were constituted basically with samples from PE (including the oldest sample rooting each subcluster), which could indicate at least two transmission and evolution chains contained within the State (Figure1). In this study, the genetic profile of influenza A(H1N1)pdm09 virus collected in PE state during 2009-2010 has been described. There was no significant difference in PE HA sequences when compared with those from other Brazilian regions samples from distinct regions were extensively grouped together. These regional subclusters, formed by samples collected between July/2009 and April/2010, are indicative of co-circulation of lineages, which is not only expected, as previously observed (Galiano et al., 2011). In addition, we did not identify the mutation H274Y by pyrosequencing , indicating that all samples were sensitive to oseltamivir. 134 Even after the WHO statement prompting the end of the pandemic, influenza A(H1N1)pdm09 still circulates throughout the world, even provoking fatal cases. The continuous monitoring of viral evolution and the emergence of oseltamivir resistance are pivotal for worldwide influenza surveillance, and the findings depicted here contribute to a better understanding of the genetic characteristics of influenza A(H1N1)pdm09 virus that circulated in the Northeast of Brazil during the pandemic period. Acknowledgements This work was realized in the Respiratory Viruses and Measles Laboratory and was supported by IOC/FIOCRUZ. REFERENCES: Abed Y, Baz M, Boivin G 2006. Impact of neuraminidase mutations conferring influenza resistance to neuraminidase inhibitors in the N1 and N2 genetic backgrounds. Antivir Ther 11: 971-976. Adwan G 2010. 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Patient Type Residue Outpatients (n=10) S88F Hospitalized (n=21) Total (n=31) 01 1 S91N 01 02 3 P100S 10 21 31 S101N 01 02 2 D114N 03 02 5 P199Q 01 06 7 S220T 08 15 23 N277K - 01 1 Q310H 03 06 9 Q310R - 01 1 K325E - 04 4 I338V 10 21 31 Y368F - 01 1 I550L - 01 1 139 E391K 80 Alagoas - Mar 2010 CY072089 A/Rio de Janeiro/88/2010 2010/03/04 HM624015 A/Sao Paulo/15463/2010 2010/03/08 71 Paraná - 2010 CY080261 A/Shantou/8049/2010 2010/01/05 CY096274 A/Melbourne/INS475/2010 2010/08/31 68 Chile - Aug 2010 91 CY103912 A/Pernambuco/117/2009 2009/07/23 D114N GQ915023 A/Sao Paulo/55312/2009 2009/08/05 CY103914 A/Pernambuco/175/2009 2009/08/05 CY103915 A/Pernambuco/177/2009 2009/08/05 64 CY103917 A/Pernambuco/231/2009 2009/08/09 51 CY103932 A/Pernambuco/592/2009 2009/09/18 CY103941 A/Pernambuco/82/2009 2009/07/02 CY072074 A/Alagoas/115/2010 2010/03/05 CY103926 A/Pernambuco/458/2009 2009/08/28 P199Q CY103930 A/Pernambuco/567/2009 2009/09/12 CY052048 A/Rio Grande do Sul/4509/2009 2009/07/18 CY103937 A/Pernambuco/688/2009 2009/11/04 CY103933 A/Pernambuco/609/2009 2009/09/22 CY103936 A/Pernambuco/66/2009 2009/06/29 CY103920 A/Pernambuco/402/2009 2009/08/19 CY074045 A/Argentina/HNRG49/2009 2009/06/16 CY052350 A/Santa Catarina/460/2009 2009/06/10 53 CY103928 A/Pernambuco/518/2009 2009/09/04 CY103938 A/Pernambuco/732/2010 2010/01/14 CY072087 A/Bahia/231/2010 2010/04/01 K325E 55 Main cluster CY103940 A/Pernambuco/768/2010 2010/04/15 CY103939 A/Pernambuco/744/2010 2010/03/06 † GQ368665 A/Mato Grosso/2329/2009 2009/05/28 HQ595285 A/Sao Paulo/89876/2009 2009/10/19 GQ368667 A/Distrito Federal/2611/2009 2009/06/05 S220T CY060444 A/Bahia/12606/2009 2009/08/18 64 CY103918 A/Pernambuco/247/2009 2009/08/11 CY063510 A/Boston/145/2009 2009/07/09 CY054283 A/Santa Catarina/459/2009 2009/06/11 CY103923 A/Pernambuco/42/2009 2009/06/27 CY103916 A/Pernambuco/181/2009 2009/08/05 HQ595263 A/Goias/69870/2009 2009/08/25 CY103911 A/Pernambuco/107/2009 2009/07/17 CY103919 A/Pernambuco/397/2009 2009/09/24 CY103929 A/Pernambuco/565/2009 2009/09/11 63 HQ228042 A/Finland/592/2009 2009/06/23 CY052050 A/Rio Grande do Sul/4782/2009 2009/07/20 HQ595260 A/Piaui/69692/2009 2009/08/25 GQ414764 A/Sao Paulo/2056/2009 2009/05/20 CY075379 A/Chile/3586/2009 2009/07/03 CY103922 A/Pernambuco/414/2009 2009/08/20 CY060452 A/Santa Catarina/6235/2009 2009/07/26 CY103921 A/Pernambuco/409/2009 2009/08/21 54 73 Bahia - Mar 2010 CY103913 A/Pernambuco/126/2009 2009/07/25 50 56 CY103934 A/Pernambuco/624/2009 2009/09/24 CY103925 A/Pernambuco/447/2009 2009/08/30 59 66 Rio de Janeiro - Aug 2009 60 Q310H Bottom cluster CY103935 A/Pernambuco/643/2009 2009/10/03 HQ595252 A/Distrito Federal/62652/2009 2009/08/13 CY103924 A/Pernambuco/431/2009 2009/08/27 CY072088 A/Rio de Janeiro/491/2010 2010/02/18 HQ595234 A/Sao Paulo/50280/2009 2009/07/27 S101N CY051988 A/Norway/2917/2009 2009/08/11 CY103931 A/Pernambuco/590/2009 2009/09/18 CY054281 A/Rio de Janeiro/9685/2009 2009/08/10 FJ969540 A/California/07/2009 2009/04/09 0.001 † CY103927 A/Pernambuco/513/2009 2009/09/03 140 Figure1: Neighbor-Joining phylogenetic tree of complete HA gene sequences of A(H1N1)pdm09 viruses. Some sequences downloaded from GenBank were included to represent distinct clusters circulating in the world during 2009-2010 period. The collection date is displayed after the sample identification of each sample. The prototype sample A/California/07/2009 was used to root the tree. ✟: deceased patient. 141 APÊNDICE B – VERSÃO DO ARTIGO 2 EM INGLÊS SUBMETIDO À REVISTA: Journal of Clinical Virology EPIDEMIOLOGICAL A(H1N1)PDM09 AND INFECTIONS VIROLOGICAL AND ASPECTS FREQUENCY OF OTHER INFLUENZA RESPIRATORY VIRUSES IN PERNAMBUCO STATE, BRAZIL: 2009-2010 Maria José Couto Oliveira1,2+, Marilda M Siqueira3, Maria de Lourdes Aguiar Oliveira3, Fernando do Couto Motta3, Marli Tenório Cordeiro1,2, Sharon Carney 3, Wyller Alencar de Mello4, Vera Magalhães da Silveira2. 1 Virology Sector, Central Public Health Laboratory of Pernambuco (LACEN-PE), Recife, PE, Brazil. 2 Postgraduate Program in Tropical Medicine, Federal University of Pernambuco, Recife, PE, Brazil. 3 Respiratory Viruses and Measles Laboratory of Oswaldo Cruz Institute, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brazil. 3 Evandro Chagas Institute, Belém, Pará, Brasil. +Address correspondence to: Maria José Couto Oliveira Rua do Espinheiro, 360, Apto. 1801 – Espinheiro Recife – PE, CEP 52020-020 e-mail: [email protected] 142 ABSTRACT Acute respiratory infections can be caused by different pathogens and relevant morbid-mortality patterns can be found among some risk groups. The epidemiological features of influenza A(H1N1)pdm09 and the prevalence of other respiratory infections were investigated in Pernambuco state, during the 2009-2010 pandemic period. In this cross-sectional study, biological samples (nasopharyngeal swab/lung fragments) from 705 Influenza suspected cases were tested by real time PCR for influenza A(H1N1)pdm09 (CDC protocol) and a subsample (146 FluAnegative) was tested for the presence of respiratory viruses. Epidemiological/clinical data were collected using a standardized formulary. Descriptive/bivariate analyses (Chi-square and/or Fisher exact test and T-test) were performed and significance was considered as p<.005. The prevalence of influenza A(H1N1)pdm09 infection was 26.4%; being significantly higher among males (p=.023) and those aged between 619 years (p>.001). Moreover 12 patients (6,4%) died. Among InfluenzaA-negative subsample, other viruses could be detected in 53 (36.3%), as follows: Rhinovirus (41,0%), Coronavirus (16.1%), Metapneumovirus (14.3%), Parainfluenza (8.9%). Bocavirus (7.1%), Respiratory syncytial virus (5.4%), Influenza B (3.6%), Adenovirus (1.8%) and Enterovirus (1.8%). Multiple infections were found in 3 cases. The magnitude of Flu pandemic in Pernambuco was lower than in South/Southeast of Brazil. Besides influenza A(H1N1)pdm09, other respiratory pathogens were circulating during 2009-2010 Influenza season, and seemed to be responsible for about one third of non-FluA clinical cases. Despite its importance as a diagnostic tool, these results should be interpreted according to the clinical/epidemiological contexts. New studies are under development to assess the Public Health impact of these other pathogens. Key-words: Influenza, Respiratory viruses, acute respiratory infection, Parainfluenza, Coronavirus, Metapneumovirus, Bocavirus, Rhinovirus, Respiratory Syncytial Vírus. 143 INTRODUCTION Globally, acute respiratory infections (ARI) are an important cause of morbidity and mortality, especially among some groups, such as elderly, children and immunocompromised patients.1,2 Most of these infections have a viral etiology3 and are clinically similar to Influenza infections, being altogether referred as influenza-like illness (ILI).4 Besides Influenza,5 other viruses are associated with ILI like respiratory syncytial virus (RSV),6 Rhinovirus(RV),7 coronavirus (HCoV),8 parainfluenza (PIV) viruses 1-4,9 adenovirus (AdV)10, enterovirus (EV),11 parechovirus (PeV)12 and the lately identified metapneumovirus (HMPV)13 and bocavirus (HBoV).14 Recently, real time PCR have been developed for detection of multiple respiratory pathogens.15-19 However, the clinical and public health relevance of these infections are still under study, especially in Brazil, where data is very scarce. 2 The aim of this study was to explore the virological and epidemiological aspects of influenza A(H1N1)pdm09 infections in Pernambuco during the 2009-2010 pandemic period as to investigate the prevalence of other viral pathogens in FluAnegative clinical cases. METHODS Study design and population This retrospective cross-sectional study, 705 ARI patients were investigated from May 2009-May 2010. Subjects were attended at reference hospitals from Pernambuco state. Until July, 2009 case classification criteria consisted of fever >38ºC, cough and directed contact with travelers to areas with confirmed influenza A(H1N1)pdm09 in the last 10 days. After sustained viral transmission in Brazil (epi week 29/09), criteria included severe acute respiratory cases, characterized as the presence of dyspnea, fever >38ºC and cough as well as fatal cases19. During hospitalization, clinical samples (Nasopharyngeal swabs and/or lung fragments) were collected for lab testing. For other viral pathogens detection, a subsample composed of 146 FluA-negative cases was selected, representative of epidemiological weeks. 144 Influenza A (H1N1)pdm09 and other respiratory viruses detection For Influenza A(H1N1)pdm09, RNA was extracted by using the kit QIAamp® Viral RNA Mini Kit (QIAGEN Inc., CA) and real time RT-PCR was conduced according to the CDC protocol 21 (accessible in <http://www.who.int/csr/resources/publications/swineflu/CDCRealtimeRTPCR_ SwineH1Assay-2009_20090430.pdf>). These assays were performed at Evandro Chagas Institute (Belém, Pará state, Brazil). For real time detection of multiple respiratory viral pathogens, the nucleic acid extraction was carried out using the Magna Pure LC Total Nucleic Acid Isolation Kit (Roche Diagnostics), followed by Fast track21 plus® kit (Laboratoires Réunis – Luxemburgo). This test is able to detect 23 respiratory pathogens as seasonal FLUA, FLUB, FLUA(H1N1)pdm09, RV, HCoV229, HCoV63, HCoV43 e HCoV KHU; PIV-2, PIV-3, PIV-4 HBoV, HMPV, PIV-1, AdV, EV, PeV, RSV; Chlamydia pneumoniae, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus and Streptococcus pneumoniae. Only viruses were considered in this investigation. These assays were performed at Respiratory Virus Laboratory from Oswaldo Cruz Foundation (IOC, FIOCRUZ), Rio de Janeiro. Statistical Analyses Descriptive and bivariate (Chi-square, Fisher exact test and T-test) analyses were performed using STATA software, version 9.0. Putative associations between viral infections and demographic, clinical and epidemiological variables were assessed and significance was established when p <.005. Ethical aspects This study was approved by the Health Sciences CENTERS from the Federal Pernambuco University IRB. RESULTS Demographic, clinical and epidemiological features of Influenza A(H1N1)pdm09 infections 145 The demographic, clinical and epidemiological features of Influenza A(H1N1)pdm09 infections are shown in Table I. Within the studied period, 839 Flu cases were notified and samples were collected from 705 subjects (84.2%). From these, 453 (64.3%) and 252 (35.7%) were from female and male gender, respectively, and the mean age was 29,4 (±19) years (range 3 months to 89 years). In 67.4%, samples were collected up to 3 days after the first symptoms and in 7.2% after 8 days. From the 705 subjects, 209 were influenza A positive at CDC test and 186 (26,4%) were positive for influenza A(H1N1)pdm09. From these, 106 (23.4%) were females and 80 (31.7%) were males, with mean age of 24,6 (±15.6) years (range 1 month to 82 years). A significantly higher prevalence was found among those aged between 6-19 years (p<.001). The most frequent symptoms were fever, cough, dyspnea, according to the case classification criteria from the Brazilian MoH. Two peaks on the number of influenza A(H1N1)pdm09 cases were observed: the first at the epidemiological week 26 (13 cases) and the second between weeks 30 and 38 (113 cases) (Figure 1). During the Flu pandemics, pregnant women were one of the main risk groups for severe outcomes.22 In Pernambuco state, among 307 women at reproducing age, 23.5% (CI: 18.7% a 28.2%) were positive for influenza A(H1N1)pdm09. From these, 22 (27.8%) were pregnant. From 79 pregnant, 22 (27.8%) were positive for influenza A (H1N1)pdm09. Influenza A(H1N1)pdm09 fatal cases The demographic and epidemiological characteristics of influenza A(H1N1)pdm09 fatal cases are described in Table II. Among fatal cases (35), influenza A(H1N1)pdm09 were detected in 12 (34.3%) subjects (8 in 2009 e 4 in 2010). The diseases occurred in both genders and the age range was of 4-53 years. In the two pregnant women who died (cases 4, 7 and 12, with 21, 28 and 23 years, respectively) pregnancy was the only reported risk factor. Other viral respiratory infections Among the 146 influenza A(H1N1)pdm09-negative samples, other respiratory pathogen was detected in 53 (36.3%) of subjects (Table III). 146 The most prevalent viruses were Rhinovirus (n=23), metapneumovirus (n=8) e Coronavirus OC43 (n=8). Within the Rhinovirus cases mean age was 23.1 15.3 years, with major prevalence among males (19.6%). The peak of cases occurred between July and September - the period of higher influenza A(H1N1)pdm09 circulation and notification of ARI cases. In three samples, double Rhinovirus + Bocavirus; Rhinovirus + Metapneumovirus e Influenza B + Coronavirus OC43 were observed. Furthermore, among the 5 fatal cases which were submitted to multiplex testing, other viral pathogens were found in only one sample (RSV). DISCUSSION The prevalence of influenza A(H1N1)pdm09 infection during 2009-2010 in Pernambuco was 26.4%, in such a way that the magnitude of Flu pandemics in our state was significantly lower than those observed in the South and Southeast of Brazil.22 The findings corroborate other reports on the different regional profiles in the country.2 According to the Pernambuco Vigillance Surveillance Service, 846 suspected cases were notified between may 2009 – 2010. The mortality coefficient per 100.000 habitants was 0.1 in 2009 and 0.04 in 2010 (oral communication ). In Pernambuco, the frequency of infections was significantly higher among males than in females (p=0,023), contrasting with the profile previously described in Brazil.2,24 Similar figures were also found for age strata. Whereas in Pernambuco the most affected subjects were aged between 6-19 years (p<.001), national data identified the young adults ranged between 20 a 29 years, the main affected group within the 2009-2010 period.24 According to the national 2 and international literature,25 those aged ≥60 years showed lower prevalence of viral infection than their counterparts. As previously published, these event seem to be due to previous exposition and acquired cross-immunity between Flu viruses, especially among those born before 1957.26 Chronic respiratory disease was the main risk factor, reported by 40.4% of subjects, as also observed in national data.23 Despite the small sample composed of pregnant women, about 1/3 was infected by influenza A(H1N1)pdm09, including three fatal cases. These findings corroborate the literature, where pregnancy figures 147 as one of the most important risk groups for severe disease and outcomes from Influenza infections.27, 28 Among the influenza A(H1N1)pdm09 suspected cases, only 29.4% were positive for the pandemic Flu. The remaining 496 cases had their etiology unknown. In Brazil, the lower rate of laboratory confirmation was seen in the Northeast region (32.3%).23 Many factors can have contributed to the low frequency of influenza A(H1N1)pdm09 detection: i) late sample collection - in some cases, even after the 7th Day after the symptoms; ii) the clinical material (nasopharyngeal swab, which is less sensitive than aspirate for PCR detection;29 iii) inadequate temperature along transportation, which could have compromised sample quality. In order to elucidate the etiology of those FluA negative ARI cases, we tested a subsample of 146 samples for the presence of other 18 viral pathogens. The main finding of this study was that by using this real time RT-PCR multiplex approach, we were able to elucidate about 40.0% of these cases, from which Rhinovirus was the most prevalent viral pathogen (41.0%). In a Swiss study carried out among transplanted and immunocompromised patients Rhinovirus was the second most frequent respiratory virus (22.6%), after Coronavirus infections (32.2%).18 Similar findings were also found in Sweden and the authors raised the hypothesis that this high RV prevalence could have contributed to lowering influenza A(H1N1)pdm09 circulation.30,31 In our subsample, 3 (2,0%) multiple viral infections were detected: RV + HMPV, RV + HBoV e FLUB + HCoV-OC43. The frequency was lower than those found in studies among children from elsewhere,17,29,32,33 but similar to the those found in São Paulo (3.77%).34 Unfortunately, due to the small sample and low prevalence, we were not able to explore putative associations between viral infections and other demographic and epidemiological characteristics, in order to better know the profile of these infections and their importance under the public health perspective. Other study is under development in order to assess these information. In the PCR era, the diagnosis of viral diseases had improved significantly in the last 15 years. However, most studies had been carried out among children.35 In this context and with special regard to multiple infections, it is relevant to consider that, despite the relevance of real time PCR as a very remarkable diagnostic tool, results should be interpreted in the light of clinical data and epidemiological plausibility, due to the high sensitivity of this technique. 148 REFERENCES: 1. Boivin G, Côté S, Déry P, De Serres G, Bergeron MG. Multiplex Real-Time PCR Assay for Detection of Influenza and Human Respiratory Syncytial Viruses. J Clin Microbiol 2004; 42: 45-51. 2. Raboni SM, Stella V, Cruz CR, França JB, Moreira S, Gonçalves L, et al. Laboratory Diagnosis, Epidemiology, and Clinical Outcomes of Pandemic Influenza A and Community Respiratory Viral Infections in Southern Brazil. J Clin Microbiol 2011; 49: 1287-93. 3. Costa LF, Yokosawa J, Mantese O, Oliveira TFM, Silveira Hl, Nepomuceno Ll, et al. 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Gender Males Females Age range (years)b ≤2 3-5 6-9 10 - 19 20 - 39 40 - 49 50 - 59 ≥60 Comorbidities Chronic respiratory disease Cardiopathy Chronic metabolic disease Chronic renal disease Immunodeficiency Hemoglobinopathy Other comorbidities Signals and symptoms Fever Cough Dyspnea Sore nose Myalgia Throat ache Calafrio Arthralgia Diarrea Conjunctivitis Others Deaths Interval between the first symptom and sample collection (days) ≤3 4a7 ≥8 a p = 0.023; b 2 patients have no age record ; Positive cases for influenza A (H1N1)pdm09 N Variables c p<.001 252 (35,7%) 453 (64,3%) 80 (31,7%)a 106 (23,4%) 37 (5,3%) 24 (3,4%) 31 (4,4%) 128 (18,2%) 311 (44,2%) 64 (9,1%) 49 (7,0%) 59 (8,4%) 07 (18,9%) 03 (12,5%) 15 (48,4%)c 53 (41,4%) 77 (24,8%) 14 (21,9%) 11 (22,4%) 06 (10,2%) 99 (14,0%) 35 (5,0%) 19 (2,7%) 08 (1,1%) 22 (3,1%) 08 (1,1%) 147 (20,9%) 40 (40,4%) 05 (14,3%) 05 (26,3%) 01 (12,5%) 06 (27,3%) 03 (37,5%) 46 (31,3%) 667 (94,6%) 664 (94,2%) 520 (73,8%) 426 (60,4%) 402 (57,0%) 347 (49,6%) 272 (38,6%) 181 (27,1%) 88 (12,5%) 44 (6,2%) 128 (18,2%) 184 (98,9%) 179 (96,2%) 142 (76,3%) 107 (57,5%) 102 (54,8%) 86 (46,2%) 70 (37,6%) 35 (18,8%) 19 (10,2%) 10 (5,4%) 43 (23,1%) 35 12 467 (67,4%) 176 (25,4%) 50 (7,2%) 133 (72,3%) 40 (21,7%) 11 (6,0%) 153 Table II –Influenza A(H1N1)pdm09 fatal cases in the state of Pernambuco. May 2009May 2010. Sample # Age Gender 1 27 Female 2 50 Female 3 53 Male 4 28 Female 5 40 Male 6 4 Female 7 21 Female 8 24 Male 9 29 Male 10 47 Male 11 31 Male 12 23 Female Source: SINAN, MoH, Brazil Month/ year 8/09 8/09 9/09 9/09 10/09 10/09 11/09 12/09 3/10 4/10 4/10 4/10 Interval between first symptom and hospitalization (days) 5 3 5 5 9 3 4 8 7 5 2 Interval between first symptom and death (days) 10 14 5 20 12 6 22 6 29 7 5 6 Risk factor Unknown Unknown Unknown Pregnancy Unknown Unknown Pregnancy Obesity, asthma Obesity Unknown Unknown Pregnancy Table III – Frequency of other respiratory viral pathogens among ARI cases in the state of Pernanmbuco. May 2009-May 2010. Viral pathogens N=146 N (%) Negative 93 (63,7%) Positive 53 (36,3%) Any viral pathogen 56 Rhinovírus 23 (41,0%) Metapneumovirus 08 (14,3%) Coronavirus 43 08 (14,3%) Human Bocavirus 04 (7,1%) Respiratory syncytial virus 03 (5,4%) Influenza B 02 (3,6%) Parainfluenza 2 02 (3,6%) Parainfluenza 3 02 (3,6%) Parainfluenza 1 01 (1,8%) Adenovirus 01 (1,8%) Enterovirus 01 (1,8%) Coronavirus HKU 01 (1,8%) 154 ANEXOS ANEXO A – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA 155 ANEXO B – CARTA DE ANUÊNCIA DO LACEN - PE 156 ANEXO C – CARTA DE ANUÊNCIA DA DIRETORIA GERAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E AMBIENTAL 157 ANEXO D – FICHA DE INVESTIGAÇÃO INFLUENZA HUMANA POR NOVO SUBTIPO (PANDÊMICO) 158