A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO AMBULATORIAL DE FERIDAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA Isabella Beatriz Barbosa Oliveira1, Vanessa de Alencar Barros2, Tatiane Lins da Silva3, Flávia da Costa Rodrigues Lima3, Liane Lopes de Souza3 A assistência aos pacientes portadores de lesões de pele é uma atividade que compõe a rotina da Enfermagem, exigindo um cuidar complexo e dinâmico, sobretudo quando se trata de feridas crônicas ou infectadas. O enfermeiro é o profissional capacitado para avaliar e intervir de forma autônoma no tratamento de diversos tipos de lesões(1). Este estudo teve como objetivo relatar as práticas do enfermeiro frente ao cuidado ambulatorial de pacientes portadores de feridas. Trata-se de uma pesquisa descritiva, do tipo relato de experiência, desenvolvida no mês de abril de 2012. O estudo foi realizado no Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco (PROCAPE), referência nortenordeste em Cardiologia, através das consultas ambulatoriais aos portadores de lesões de pele egressos de internação no serviço. O ambulatório de feridas do PROCAPE, criado em 2007, está localizado no térreo da instituição e possui estrutura básica, contendo os materiais e mobiliário necessários à realização de curativos. O ambiente é compartilhado para atendimento médico em horários distintos. A consulta é realizada por duas enfermeiras, sendo uma estomaterapeuta e a outra, infectologista, e duas técnicas de Enfermagem, que compõem a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH). Os atendimentos são previamente agendados, sendo realizadas, em média, 3 a 5 consultas por dia. Os usuários assistidos são egressos de internação na instituição e portadores de lesões de pele decorrentes de procedimentos cirúrgicos, complicações vasculares, imobilização prolongada, dentre outros. Os pacientes portadores de feridas estão sujeitos à alta hospitalar quando as suas patologias de base foram corrigidas ou controladas, seja através de tratamento cirúrgico ou conservador. A equipe médica, composta por cirurgiões e clínicos, discute, então, com as enfermeiras da CCIH, a possibilidade da resolução das lesões cutâneas através de acompanhamento ambulatorial. Este, quando indicado, transfere para as enfermeiras a responsabilidade de guiar a continuidade do tratamento, sendo imprescindível o suporte do próprio paciente, dos seus cuidadores e da equipe de Saúde da Família, através da contrareferência para a Unidade de Saúde da Família (USF) mais próxima do domicílio do usuário. Nas consultas de Enfermagem, a profissional examina as feridas, avaliando, dentre outras características, o tipo da lesão, estadiamento, tamanho, presença de odor ou exsudação, sinais de flogísticos, áreas de necrose seca ou úmida e tecido de granulação. Além disso, há também a avaliação do paciente com relação ao seu estado psicológico, nutricional, presença de comorbidades, terapia farmacológica e condições socioeconômicas. Através desta análise, a enfermeira indica o tipo de tratamento adequado, seja através de desbridamento, de coberturas passivas, bioativas e/ou interativas ou, até mesmo, de curativos abertos. Ela instrui os pacientes e o acompanhante com relação ao método de troca dos curativos e cuidados com as lesões, demonstrando como procedê-los. Quando a condição financeira do paciente o limita na aquisição das coberturas, a enfermeira 1 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Enfermagem em Cardiologia pelo Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco. Recife-PE, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco. Especialista em Enfermagem em Cardiologia pelo Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco. Recife-PE, Brasil. 3 Enfermeira. Residente em Enfermagem em Cardiologia do Pronto Socorro Cardiológico de Pernambuco. Recife-PE, Brasil. 02413 fornece o material necessário até a consulta subsequente, como forma de viabilizar a continuidade do tratamento. A profissional orienta o paciente e seu acompanhante com relação à importância dos hábitos alimentares saudáveis e do tratamento de comorbidades para favorecer a cicatrização. A necessidade de abordagem cirúrgica ou mudança na terapia farmacológica, sobretudo a antibioticoterapia, é discutida em conjunto com a equipe médica. Nos âmbitos da atenção e da educação em saúde, a atividade descrita pode ser considerada um modelo de estratégia a ser empregado em outras instituições. A consulta era guiada pelas queixas do paciente, evidenciando a importância atribuída à figura do mesmo no processo. Os usuários foram abordados de forma adequada, valorizando também a participação do acompanhante durante a consulta. As enfermeiras utilizavam uma linguagem simples, sem termos técnicos, a qual viabilizava a compreensão dos usuários acerca da sua patologia. Houve um suporte adequado para atender esses indivíduos, oferecendo o cuidado de forma holística, ao admitir que, por trás da ferida, existe um ser humano com medos, angústias e que sofre no seu cotidiano, o qual necessita, assim, de amparo e acompanhamento psicoemocional. Neste sentido, outros fatores, como os socioeconômicos e culturais, também foram valorizados durante as consultas, pois os mesmos podem fazer com que o usuário não siga as recomendações necessárias para restabelecer seu padrão de saúde ou mesmo não retorne para o acompanhamento no serviço. O cuidado integral, centrado no usuário, considerando a sua realidade, desenvolvendo o pensamento crítico e reflexivo e propondo ações transformadoras para a saúde dos indivíduos, famílias e coletividade pode melhorar a eficácia e eficiência do tratamento(2). A ampliação da autonomia dos pacientes possibilita o aumento da capacidade de compreenderem e atuarem sobre si mesmos e sobre a sua qualidade de vida, compreendendo o processo saúdedoença no qual estão inseridos(3). É importante salientar que, durante os atendimentos, não houve a aplicação de todas as etapas da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), com a ausência de alguns registros essenciais para o cuidado continuado e também para pesquisas na área. A SAE consiste em uma metodologia para organizar e sistematizar o cuidado, tendo como base os princípios do método científico. Objetiva identificar situações de saúdedoença e as necessidades de cuidados de Enfermagem, subsidiando intervenções de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação(4). O desenvolvimento deste estudo possibilitou vivenciar uma assistência de Enfermagem holística caracterizada pela autonomia do enfermeiro e pautada na educação em saúde. Neste sentido, a atividade possuía como prioridade o empoderamento do paciente dentro do processo saúdedoença, a fim de garantir a promoção da saúde. O atendimento prestado pode, desta forma, ser considerado um modelo a ser implementado em outras instituições hospitalares. Referências: 1. Ferreira AM, Candido MCFS, Candido MA. O cuidado de pacientes com feridas e a construção da autonomia do enfermeiro. Rev. enferm. UERJ. 2010;18(4):656-60. 2. Ribeiro MMF, Amaral CFS. Medicina centrada no paciente e ensino médico: a importância do cuidado com a pessoa e o poder médico. Revista Brasileira de Educação Médica. 2008;29(1);90-7. 3. Lacerda MR. Cuidado domiciliar: em busca da autonomia do indivíduo e da família – na perspectiva da área pública. Ciência & Saúde Coletiva. 2010;15(5):2621-6. 4. TruppelI TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo SA, Crozeta K. Sistematização da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Enferm. 2009;62(2):221-7. Descritores: Cicatrização; Assistência Ambulatorial; Cuidados de Enfermagem. 02414 Área temática: Políticas e Práticas em Saúde e Enfermagem 02415