O Sr. Saulo Pedrosa - Câmara dos Deputados

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CÂMARA DOS DEPUTADOS
Comunicações de Liderança
Homenagem ao Marinheiro e Ao Poeta Braulio Abreu
O Sr. Saulo Pedrosa
(12/12/2002)
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, retorno a esta tribuna, e amanhã 13
de dezembro, é o dia do Marinheiro . Esses augustos profissionais, destemidos
heróis de todas as épocas, seguidores dos intrépidos vikings, que com suas
“pirogas” artesanais cruzaram os sete mares em façanhas incríveis, que nos
causam admiração até hoje. Diogo Cão, Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e
Pedro Álvares Cabral foram heróis que escreveram seus nomes nas páginas da
história da navegação portuguesa.
Na época atual,
para orgulho da nação brasileira, surgiu
um jovem
destemido, que com sua coragem, habilidade e competência, dignas de
SHAKLETON, de COOK ou de AMUDSEN, com seu barquinho de apenas cinco
metros, O PARATII, remou, em 1984, durante cem dias, da África ao Brasil,
atravessando com destemor as fronteiras da vida, num feito nunca dantes
conseguido. Refiro-me ao herói-nauta AMIR KLINK que, não contente com esse
feito inédito, partiu, sempre solitário, para a Calota Polar Antártica em 31 de
outubro de 1998, contornando-a em 142 dias, na volta mais curta, mais rápida e
mais difícil que poderia ser realizada, suportando as maiores tempestades deste
século, e enfrentando temperaturas de 30 graus negativos. A esses heróis, mais
do que eu, rende homenagem, o poeta Bráulio Abreu, um ancião de 99 anos, que
vive na Península de Itapagipe em Salvador, fazendo poemas como este.

MAREANTE
Aonde pretendes ir, arrojado mareante ?
Olha que o mar é tredo e o perigo é constante.
A noite é feita. O luar – mariposa prateada –
Já mergulhou no poente. A abóbada estrelada apagou-se.
No espaço, ao bafejo do vento, vão as nuvens fugindo.
É torvo o firmamento.
Que sonho te arrebata? Aonde chegar procuras ?
Louco! por que partir ? As tuas aventuras
poderão envolver-te a ao teu sonho na morte,
porque teu destemor é a fraqueza do forte,
que não pensa e não sente essa desigualdade,
que vai de um grão de areia até a imensidade.
És pequeno demais diante deste infinito
de céu, de mar, de treva, onde se perde o grito
do que tombou na luta, enfrentando a procela.
Deixa vir a manhã deslumbradora e bela,
Surgindo por detrás de azuladas montanhas,
Cobertas do esplendor de verduras estranhas,
Sentinelas guardando o áureo leito de flamasOnde desperta o sol, aureolado de chamas,
E poderás partir, livre do rijo açoite
Dos ventos e do mar
“Eu irei nesta noite,
Torva para a visão dos tímidos,
medonha para quem viu morrer o desejo e não sonha,
mesmo entregue ao rigor do maior desconforto,
as velas recolhendo, ancorado num porto,
tentar um dia, possuir tudo o que mais deseja.
Nômade coração dentro de mim lateja.
Diante do que eu anseio, é demais pequenino o medo de morrer;
O imperioso destino manda que eu siga,
embora o vivo mar profundo,
se lance na obsessão de sepultar o mundo.
Pode o raio gizar esse quadro trevoso da noite;
E o céu tombar no oceano tenebroso;
E a terra estremecer num desespero rudo;
Pode tudo rolar, despedaçar-se tudo:
A cidade, a floresta, o homem, a fera, o templo,
para que os olhos meus vejam todo esse exemplo,
nada me impedirá de partir.
Os lamentos que eu desferir, sentindo o horror dos elementos,
se esta nau for lançada aos escolhos,
o ouvido humano escutará jamais.
O desengano que eu tiver, ao sentir o termo da batalha,
meu mundo envolverá numa fria mortalha.
Tombarei. E este mar – verde sepulcro imenso –
então, sepultará tudo o que eu sonho e penso”.
Meus Senhores...
Este poema é muito longo e profundo O tempo não me permite lê-lo por
inteiro. O poeta Bráulio Abreu, o artífice do verso, com 3 livros publicados e uma
“coroa de sonetos” ainda inédita, está lá, na Baixa do Bonfim, na Rua Cruz Rios,
24, em Salvador, esperando chegar ao centenário no próximo dia 7 de março,
desvendando com magia, os porões da própria alma..
Espero e desejo que a imprensa literária descubra esse centenário ancião
,o último poeta parnasianista, e lhe preste a justa homenagem enquanto Deus
ainda lhe conserva o sopro da vida.
Era o que tinha a dizer . Muito Obrigado.
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