Artigo Original Nível Sérico de Alumínio: Influência da Água e de Alimentos Ingeridos Por Pacientes Com Insuficiência Renal Crônica Mantidos em Hemodiálise Serum aluminium: Influence of water and food consumed by patients with chronic renal insuficiency on regular hemodialysis treatment Sandra M.R. de Oliveira1, Denise Bertagnolli2, Denise Bohrer2, Paulo Cícero do Nascimento2, Solange C.G. Pomblum 1, Luiz Cláudio Arantes 3, Elvino José G. Barros4 Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (SMRO & SCGP) e 2Departamento de Química (DBe, DBo & PCN) da Universidade Federal de Santa Maria; 3Hospital Universitário de Santa Maria (LCA); e 4Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EJGB), RS. 1 RESUMO Objetivo: O alumínio é muito comum na natureza e pode se acumular nos pacientes com insuficiência renal terminal em tratamento dialítico. É necessário, neste grupo de pacientes, a monitorização sérica e identificação de toxicidade, especialmente óssea. Este trabalho descreve a pesquisa realizada junto a pacientes com insuficiência renal crônica, submetidos a tratamento dialítico na Casa de Saúde de Santa Maria, RS, com a finalidade de verificar se há influência da água e de alimentos ingeridos pelos pacientes nos níveis de alumínio sérico. Pacientes e Métodos: Os pacientes responderam a um ques tionário sobre hábitos alimentares e, de acordo com as respostas, os alimentos de uso mais freqüente foram selecionados e analisados para a quantificação do alumínio. Amostras da água utilizadas em suas residências e de sangue dos pacientes foram coletadas para quantificar o alumínio. O alumínio foi dosado por espectrometria de absorção atômica. Para avaliar a quantidade de alumínio ingerida através dos alimentos padronizou-se o consumo através de porções básicas convertidas em massa. A partir deste cálculo foi possível determinar o alumínio ingerido por dia, por cada paciente em função dos alimentos consumidos. Para a água considerou-se o consumo diário de 1 litro e, portanto, a ingestão da quantidade de alumínio contida neste volume. Um total de 133 pacientes participou do estudo, 82 amostras de água tratada, de poço artesiano e mineral foram analisadas, provenientes de Santa Maria, RS e outras cidades da região. Foram analisados 27 tipos de alimentos incluindo grãos, frutas, verduras, bebidas, pão e açúcar. Resultados: As amostras de água apresentaram níveis de alumínio entre 3 e 439µg/L, considerando as três fontes mencionadas. Entre os alimentos, os maiores níveis foram encontrados no arroz, 92µg/g, na alface, 48µg/g, e no leite, 1700µg/L. Sucos artificiais e refrigerantes também apresentaram níveis elevados de alumínio, entre 60 e 257µg/L. Conclusões: Não foi observada relação entre os níveis de alumínio sérico e o nível de alumínio presente nas águas ingeridas pelos pacientes, porém foi encontrada relação entre o nível de alumínio e a concentração em alguns alimentos. (J Bras Nefrol 2005;27(3):101-109) Descritores: Alumínio. Água potável. Alimentos. ABSTRACT Objective: Aluminum is an ubiquitous element and may accumulate in patients with terminal renal insufficiency in dialysis treatment. For this group of patients, evaluation of both, serum aluminum level and bone toxicity, are necessary. This work describes an investigation carried out with chronic renal patients on hemodialysis treatment at hospital Casa de Saúde in Santa Maria (RS). The aim was to verify if there is any relationship between the water and food ingested by the patients and their aluminum serum level. Methods: Patients answered a questionnaire about food habits and, according to the answers, the most consumed foodstuff were selected for the analysis. Patients undertook a collection of their drinking water at home, which was analyzed for its alu minum content. Patients’ blood was also collected for determination of aluminum levels. A total of 133 patients participated in the study. Eighty-two water samples were analyzed, including mineral water, well water and treated water, from different cities. Twenty-seven different foodstuffs, including grains, fruits, vegetables, drinks, bread and sugar were also analyzed. Aluminum determination was carried out by graphite furnace atomic absorption spectrometry, after convenient sample treatment. Results: Water samples presented aluminum levels between 3 and 439µg/L. Among the foodstuff, the highest levels were found in rice, 92µg/g, lettuce, 48µg/g, and milk, 1700µg/L. Artificial juice and soft drinks also presented elevated aluminum levels, between 60 and 257µg/L. In order to evaluate the aluminum ingestion through food, the intake was standardized considering portions in a mass basis. Thus, it was possible to deter mine the amount of aluminum ingested by each patient per day via food. For water, it was considered the consumption of one liter per patient per day. Con clusions: It was not observed a clear relationship between the level of aluminum in the patients’ blood and the aluminum intake via water. However, a cor relation was found between the aluminum ingested via food and the aluminum blood level of the patients. (J Bras Nefrol 2005;27(3): 101-109) Keywords: Aluminum. Drinking water. Food. Recebido em 20/06/05 / Aprovado em 08/08/05 Endereço para correspondência: Denise Bohrer Departamento de Química Universidade Federal de Santa Maria 97105-900 Santa Maria, RS Fone/Fax: (55) 220-8870 E-mail: [email protected] Água e alimentos como fontes de alumínio 102 INTRODUÇÃO Na natureza, o alumínio é ubiqüitário, sendo o terceiro elemento mais prevalente da crosta terrestre; todavia, em sistemas biológicos ele existe como “elemento-traço”. Como elemento-traço, não essencial, o alumínio está presente em concentrações muito baixas em diversos sistemas biológicos, sendo que as células epiteliais protegem naturalmente o organismo da exposição excessiva ao alumínio1. Sendo um dos elementos mais abundantes da crosta terrestre, o alumínio está presente em partículas de pó, vegetais e utensílios domésticos. Além disto, é utilizado em aditivos alimentícios, medicamentos como antiácidos à base de hidróxido de alumínio e na purificação da água, inclusive potável, pois o sulfato de alumínio é utilizado como agente floculante no processo de purificação da água. O homem tem contato direto com o alumínio diariamente por via oral ou inalação. A ingestão de alumínio é elevada, sendo que a dieta habitual fornece de 5 a 10mg de alumínio por dia, que são quase que totalmente eliminados via gastro-intestinal, a pequena fração reabsorvida é eliminada pelos rins1. Estudos recentes sugerem que a ingestão diária de água com excesso de alumínio é causa da deposição deste elemento no cérebro, levando ao desenvolvimento da Doença de Alzheimer 2 e da Esclerose Lateral Amiotrófica3. O aumento do nível de alumínio no organismo foi sugerido como uma possível causa para o aparecimento de hipertensão arterial 4-9. Apesar de muitos estudos apontando o alumínio como causa de diversas patologias, o problema da intoxicação apresenta real significância em indivíduos com Insuficiência Renal Crônica (IRC), que dependem do tratamento de hemodiálise. A hemodiálise é um importante método de depuração extra-renal capaz de remover eficientemente uma série de produtos finais do metabolismo, como catabólitos nitrogenados, que não são adequadamente eliminados pela urina em pacientes com insuficiência renal avançada10-12. Ela também é importante para remover adequadamente o excesso de potássio, água e sal que se acumulam facilmente nestes pacientes, o que poderia determinar sua morte. Além disso, a hemodiálise possibilita a correção da acidose metabólica habitual no paciente com insuficiência renal. A hemodiálise permite manter vivos pacientes com insuficiência renal aguda enquanto recuperam a sua função renal inicial, o que ocorre em mais de 80% dos casos. Além disso, permite também manter vivos pacientes com IRC avançada, seja como método definitivo de tratamento ou até a realização de um transplante renal13. Ao longo dos anos, o paciente com IRC submetido ao tratamento de hemodiálise tende a ter elevada concentração sanguínea de alumínio (hiperaluminemia) e a acumular este elemento preferencialmente nos tecidos ósseo e cerebral. Diversas síndromes clínicas podem estar associadas com o excesso de alumínio, entre elas: encefalopatia dialítica (demência dialítica), neurotoxicidade aguda, doença óssea e anemia microcítica4,9,14. A Portaria nº 82 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabelece normas para o funcionamento das Clínicas de Hemodiálise. Em relação à água preconiza a análise química semestral, a análise de endotoxinas mensal, além da análise microbiológica15. A resolução nº 20 do CONAMA, que define parâmetros e indicadores específicos para avaliar a qualidade das águas doces, salobras e salinas, estabelece o limite de 100µg/L para o alumínio na água tratada destinada ao abastecimento doméstico18. Desta forma, explica-se a importância do controle do nível de alumínio sérico em pacientes com IRC submetidos ao tratamento de hemodiálise, bem como da qualidade da água utilizada em centros de hemodiálise. Temos observado, nestes últimos anos, que apesar do tratamento adequado da água de diálise, níveis de alumínio muito baixos (< 10µg/L), os pacientes apresentam níveis de alumínio sérico com grande variação. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi investigar que fontes externas contribuiriam para o aumento do alumínio sérico nestes pacientes. PACIENTES E MÉTODOS A população estudada foi de pacientes com insuficiência renal crônica em tratamento regular de hemodiálise. Do total de 133 pacientes que participaram deste estudo, 71 são do sexo masculino e 62 do sexo feminino. O tratamento dos pacientes é realizado em máquinas de proporção. O tempo de tratamento dos pacientes para melhor compreensão foi agrupado em períodos compreendidos de 0-2 anos com população percentual 44,36%, 34 anos, 27,06%, 4-6 anos, 15,78%, mais de 7 anos, 12,78%. A coleta dos dados para a realização deste trabalho foi feita através de entrevista realizada com pacientes da Casa de Saúde de Santa Maria, RS. Do estudo foram obtidas informações como: sexo, peso, idade, cidade onde reside, o tipo de abastecimento de água doméstica, hábitos alimentares e o nível de alumínio sérico que serviram como dados preliminares para a avaliação dos resultados. Equipamentos Espectrômetro de Absorção Atômica SpectrAA200, Varian (Melbourne, Austrália), equipado com forno de grafite GTA 100 e amostrador automático AS-40. Câmara de fluxo laminar classe 100, Trox (Curitiba, Brasil), centrífuga Jouan C412 (Saint Herblain, França), J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 103 forno de microondas doméstico Philco (São Paulo, Brasil), homogeinizador automático Edgard Bühler (Bodelshausen, Alemanha). Amostras de sangue Reagentes Para a coleta do sangue dos pacientes, frascos plásticos de 5mL de capacidade com tampa de rosca externa foram previamente descontaminados. De 2 a 3mL de sangue foram coletados diretamente da fístula artériovenosa, antes de o paciente ser heparinizado, evitando desta forma riscos de contaminação da amostra. Como as amostras de sangue foram processadas no mesmo dia da coleta, não houve necessidade de adição de anticoagulante aos frascos. As amostras de sangue foram centrifugadas durante 15 minutos a 2400g, para que houvesse a separação do soro. Uma solução padrão contendo 1000mg/L Al (Merck, Alemanha) foi utilizada para preparar as soluções analíticas através de adequada diluição. Solução de ácido tricloroacético 1% (m/v) (Merck). Ácido nítrico p.a. (Merck) adicionalmente purificado por destilação em aparelho próprio para destilação de ácidos (Sub-boilling distilation, Berghof, Alemanha). Precauções com a contaminação A água utilizada na execução da análise foi destilada, deionizada e adicionalmente purificada em um sistema Milli-Q (Millipore, Bedford, USA). Apenas material plástico (pipetas, buretas, balões volumétricos etc.) foi utilizado no preparo das amostras. Esse material foi deixado por pelo menos 24h mergulhado em solução etanólica de HNO3 10% (v/v), sendo, após este período, lavado abundantemente com água purificada. Todas as etapas do preparo de soluções e manuseio das amostras foram conduzidas dentro da câmara de fluxo laminar classe 100. Amostras de água A coleta das amostras de água foi realizada pelos pacientes em suas residências. Frascos de polietileno previamente descontaminados, com capacidade de 250ml, com tampa rosqueada, contendo instruções de coleta foram entregues aos mesmos. As amostras de água coletadas pelos pacientes foram provenientes de diversas cidades, a saber: São Sepé, Restinga Seca, Jaguari, Itaara, Santiago, Paraíso do Sul, Cacequi, São Vicente do Sul, Júlio de Castilhos, Caçapava, São Francisco de Assis, Faxinal do Soturno, Formigueiro, São Borja e Santa Maria. As amostras foram divididas em três grupos, baseadas na avaliação dos dados obtidos: Grupo I: água tratada – Corsan Grupo II: água de poço sem tratamento Grupo III: água mineral Após o recebimento, as amostras foram mantidas sob refrigeração (± 4°C) e o teor de alumínio foi determinado por espectrometria de absorção atômica em forno de grafite. Coleta das amostras e separação do soro Desproteinização A separação do soro foi executada em câmara de fluxo laminar classe 100, utilizando apenas material plástico previamente descontaminado. A desproteinização das amostras de soro foi realizada por ação do TCA, tendo como coadjuvante microondas de acordo com Bohrer e Pomblum16,17. Uma solução 1% de TCA foi adicionada ao soro na proporção de 1:1. Após a homogeneização, o frasco foi fechado e levado ao forno de microondas por cerca de 10 min seguindo um programa de aquecimento com a aplicação de potências crescentes. Após a precipitação das proteínas, a amostra foi centrifugada por 15 min a 2400g. Após a separação, o sobrenadante foi separado para a determinação do alumínio. Amostras de alimentos Os alimentos de uso mais freqüente foram selecionados a partir da entrevista realizada com os pacientes. De acordo com a sua classificação nutricional, foram divididos em grupos como: proteínas, carboidratos, leguminosas e verduras, frutas, bebidas em geral. As amostras líquidas como leite, café, vinagre e adoçante foram diluídas em água ultrapura Milli-Q, na proporção de 1:1. As amostras com elevada solubilidade em água, tais como açúcar, café solúvel e sal, foram pesados (0,5g de amostra) e o volume completado a 20ml com água ultrapura. As amostras sólidas como arroz, feijão, erva-mate, pão, foram pesadas (0,5g), adicionadas de 25ml de ácido nítrico destilado e deixadas em repouso por 72 horas. Após este procedimento, o volume foi completado a 50ml com água ultrapura. Após a dissolução ou abertura das Água e alimentos como fontes de alumínio 104 amostras, o alumínio foi determinado por espectrofotometria de absorção atômica com forno de grafite (GFAAS). Quantificação do alumínio O programa de temperatura e as condições de funcionamento do espectrômetro estão mostrados na tabela 1. Da mesma forma que os frascos para a coleta, os copos para colocação das amostras no carrossel do amostrador foram descontaminados. As amostras foram colocadas no carrossel na medida em que foram sendo quantificadas. A permanência das amostras no amostrador por um tempo maior do que 20-30 min pode levar à contaminação através da deposição de partículas de pó do ar sobre as amostras, mesmo que o carrossel tenha uma cobertura. Juntamente com as amostras, a solução de TCA 1% diluída 1:1 foi analisada e o valor de alumínio encontrado, descontado das amostras. RESULTADOS Os resultados obtidos para a água tratada, poço e mineral encontram-se respectivamente nas tabelas 2, 3 e 4. Na tabela 2 vemos a origem das amostras de água tratada analisadas, sendo que com exceção da amostra proveniente do município de Santiago, que apresentou um índice de 325µg/L, as demais, na média, enquadram-se ao estabelecido pela resolução. Na tabela 3 encontram-se os resultados obtidos para a água de poço; com exceção da cidade de Restinga Seca, as demais cidades obtiveram valores elevados. Na tabela 4 encontram-se os resultados obtidos para a água mineral, cujos valores foram mais constantes variando de 44 a 93µg/L de alumínio. Na figura 1 encontramos os teores de alumínio na água doméstica consumida por cada paciente, bem como os respectivos teores de alumínio sérico. Os alimentos consumidos pelos pacientes foram: arroz, feijão, açúcar, café, leite, adoçante, pão, carne de gado, frango, peixe, ovo, tomate, alface, cenoura, maçã, refrigerantes, sucos naturais e artificiais, sal, vinagre, extrato de tomate e erva-mate. Através do questionário definiu-se os alimentos mais consumidos pelos pacientes. Na tabela 5 encontramse os alimentos investigados, a porcentagem dos pacientes que consomem cada um deles, o teor médio de alumínio encontrado, a ingestão média considerada para cada alimento, bem como o alumínio contido na porção média considerada. Dentre os grãos analisados, o arroz foi o que apresentou o teor mais elevado em torno de 85µg/g em média, seguido do café, em torno de 38µg/g. Valores elevados foram encontrados também para os refrigerantes de guaraná e cola de 257 a 60µg/L em média respectivamente, e principalmente para o leite, 1700µg/L. O extrato de tomate e a erva-mate com teores de alumínio de 206 e 989µg/g, respectivamente, foram os alimentos que apresentaram os maiores índices de alumínio nas amostras sólidas. Com base na tabela 5 e através dos dados obtidos de cada paciente, o alumínio ingerido através dos alimentos foi calculado através de um somatório, incluindo apenas os alimentos mais consumidos. Por exemplo: um paciente que consome diariamente 2 colheres de arroz Tabela 1. Condições de operação do espectrômetro de absorção atômica. Comprimento de onda (nm) Corrente da lâmpada (mA) Fenda (nm) Corretor de fundo 309,3 10 0,5 lâmpada de deutério Forno de grafite piroliticamente revestido com plataforma de L’Vov e argônio como gás de purga. Programa de temperatura Etapa Temperatura (°C) 1 2 3 4 5 6 7* 8* 9 *leitura 85 95 120 1100 1100 1100 2500 2500 2600 Tempo (s) Vazão gás (L/min) 5,0 35 10 20 10 2,0 0,7 1,0 1,0 3,0 3,0 3,0 3,0 3,0 0,0 0,0 0,0 3,0 J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 105 Tabela 2. Alumínio encontrado em amostras de água tratada. Origem Santa Maria São Pedro Restinga Seca Júlio de Castilhos Formigueiro Caçapava do Sul Santiago Jaguari São Borja Faxinal do Soturno São Francisco de Assis Cacequi Paraíso do Sul Nº Amostras % Total Valor médio Al (µg/L) 38 01 03 02 01 05 01 01 01 03 01 02 02 61 2 5 3 2 8 2 2 2 5 2 3 3 65 ± 24 72 135 ± 165 30 ± 34 77 65 ± 41 326 48 65 19 ± 10 36 37 ± 29 62 ± 38 Tabela 3. Alumínio encontrado em amostras de água de poço. Origem Santa Maria Restinga Seca Itaara São Sepé Nº Amostras % Total Valor médio Al (µg/L) 09 01 01 01 76 8 8 8 130 ± 194 3 382 439 Tabela 4. Alumínio encontrado em amostras de água mineral. Origem Santa Maria Itaara Paraíso do Sul São Sepé São Vicente do Sul Nº Amostras % Total Valor médio Al (µg/L) 05 01 01 01 01 60 10 10 10 10 82 ± 38 47 82 44 93 (20g), deverá ingerir em torno de 1696µg de alumínio através deste alimento. E assim sucessivamente foi feito o cálculo, incluindo cada alimento consumido pelo paciente diariamente na quantidade mencionada no questionário. Como o chimarrão apresentou um percentual de consumo em torno de 40% e o teor de alumínio na erva mate é bastante elevado, foi também incluído neste somatório. Para avaliar a quantidade de alumínio ingerido pelo paciente através do chimarrão tomado, considerou-se uma quantidade de erva de cerca de 50g, que deve conter 49mg de alumínio. Se no total de infusões consumidas (número de chimarrões) for extraído em torno de 5% do alumínio da erva, teremos então 2,5mg de alumínio por cada dia de consumo. Alimentos como a cenoura e a maçã, que não apresentaram teores muito elevados de alumínio, quando considerado em µg de alumínio por grama de alimento, podem representar uma ingestão elevada em função da quantidade ingerida 100g de cenoura e 200g de maçã, contendo respectivamente em torno de 2,4mg e 7,4mg de alumínio. DISCUSSÃO As fontes primárias de alumínio para o homem são a água e o ar. Entretanto, medicamentos como antiácidos, aspirina tamponada, antiperspirantes e alimentos, entre outros, podem ser também fontes significativas19. De acordo com Yokel20, a ingestão diária de alumínio pode chegar a 0,1mg através da água e a 10mg através dos alimentos. O alumínio ocorre nos alimentos como um componente natural e também como aditivo. A maioria dos alimentos não processados contém menos de 10mg Al/kg. Exceção são alguns grãos e muitos temperos e ervas. Algumas ervas e chás podem acumular até 4g Al/kg23. Além disto, a quantidade de alumínio pode depender não só da variedade dos vegetais mas também das condições do solo. Solos podem ser fonte de alumínio em função da sua composição e acidez. O aumento da acidez do solo pode tornar solúveis certos minerais como os aluminosilicatos, aumentando assim a disponibilidade do alumínio para ser absorvido pelas plantas. O alumínio na água potável provém tanto de fontes naturais quanto dos métodos de tratamento que são utiliza- Água e alimentos como fontes de alumínio 106 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Figura 1: Teor de Alumínio encontrado na água tratada, de poço e mineral, e teor de Alumínio no soro dos pacientes Tabela 5. Alimentos investigados para a determinação de alumínio, porcentagem dos pacientes que consomem estes alimentos, teor de alumínio e alumínio ingerido em função da ingestão diária de cada tipo de alimento. Alimentos Pacientes que consomem o alimento diariamente (%) Arroz Café em pó Café solúvel Feijão Açúcar Pão francês Pão de forma Adoçante esteviosídeo Adoçante sacarina Adoçante aspartame Gado Frango Peixe Leite Clara Gema Alface Cenoura Maçã Tomate Batata inglesa Refrigerante de guaraná Refrigerante de cola Suco natural laranja Suco natural uva Suco artificial laranja Suco artificial uva Erva mate Extrato de tomate Sal Vinagre 92 46 80 54 75 85 78 63 (ovo) 69 40 67 34 52 39 41 39 40 41 - * Considerada uma extração de 5% do alumínio presente - não incluído Al Porção básica considerada Al presente na porção ingerida (µg) 85 ± 3µg/g 38 ± 1µg/g 12 ± 1µg/g 4 ± 1µg/g 4 ± 1µg/g 11 ± 3µg/g 23 ± 2µg/g 6 ± 16µg/g 12 ± 1µg/mL 7 ± 3µg/mL 16 ± 37µg/g 5 ± 5µg/g 10 ± 11µg/g 1,70 ± 0,2µg/mL 1,8 ± 0,8µg/mL 0,9 ± 1,2µg/mL 48 ± 6µg/g 24 ± 12µg/g 37 ± 5µg/g 24 ± 5µg/g 17 ± 8µg/g 0,06 ± 2,7µg/mL 0,26 ± 8,4µg/mL 0,07 ± 4,8µg/mL 0,04 ± 3,2µg/mL 0,15 ± 4,5µg/mL 0,08 ± 8,3µg/mL 989 ± 21µg/g 206 ± 3µg/g 3 ± 1µg/g 1 ± 1µg/mL 10g (1colher sopa) 15g (1concha) 2g (1colher sopa) 50g 100g 250 ml (1copo) 13ml (1 ovo) 850 60 20 550 1600 425 23 5g (1porção) 100g (1unidade) 200g (1unidade) 70g (1unidade) 240 2400 7400 1680 250ml (1copo) 250ml (1copo) 250ml (1copo) 250ml (1copo) 250ml (1copo) 50g por chimarrão* - 64 15 17 9 37 2474 - J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 dos na purificação da água. Nas estações de tratamento, o sulfato de alumínio é utilizado como agente de coagulação em processos de purificação da água20. Neste trabalho foram analisadas 82 amostras de água, sendo 61 de água tratada, 12 de água de poço e 9 de água mineral. As amostras analisadas foram provenientes de diferentes localidades, sendo a cidade de Santa Maria a mais freqüente, seguida de Caçapava, Restinga Seca e Faxinal do Soturno. Com relação aos teores de alumínio, valores bastante variados foram encontrados, de 19µg/L na água tratada proveniente de Faxinal do Soturno a 326µg/L para água tratada proveniente de Santiago. A variação ocorrida nas amostras de água tratada deve-se à origem das águas, que sendo de diferentes localidades, devem provavelmente receber um tratamento diferenciado no processo de purificação. Outro fator pode ser o sistema de distribuição da água, que pode levar à contaminação das amostras. Em um estudo da especiação do alumínio em água potável tratada e não tratada com alumínio, foi encontrado que a concentração total de alumínio foi reduzida na água potável tratada21. As águas de poço artesiano ou de fontes naturais, que não receberam nenhum tipo de tratamento, foram as que apresentaram teores mais elevados de alumínio, possivelmente devido à presença de aluminosilicatos no solo e à sua acidez 22. Tanto a água tratada como a água de poço e a água mineral não tiveram relação com o alumínio sérico apresentado pelos pacientes. Embora a água seja uma fonte primária de entrada do alumínio no organismo, seja pura ou na preparação de alimentos, o alumínio nela contido, mesmo os valores mais elevados, não está em um nível suficientemente elevado para determinar valores elevados de alumínio sérico, principalmente quando comparado com o ingerido através dos alimentos. O alumínio ingerido pelos pacientes através da água variou entre 3 e 439µg/dia se considerarmos o consumo de 1 litro diário. Entretanto, pela análise da figura 1 pode-se observar que os teores de alumínio encontrados na água de consumo doméstico não apresentam uma relação clara com os teores de alumínio sérico dos pacientes. Os alimentos mostraram-se uma fonte de alumínio para os pacientes mais importante do que a água. Se considerarmos apenas as porções individuais, a ingestão de alumínio através de cada alimento variou de 9µg/dia em um copo de suco de uva a 7400µg/dia com o consumo de 1 maçã (tabela 5). Considera-se o nível de alumínio médio ingerido através dos alimentos como sendo cerca de 6mg/dia, sendo que os utensílios domésticos usados no processamento dos alimentos também apresentam uma pequena contribuição. Os alimentos in natura apresentam concentrações mais baixas do que os alimentos processados, devido ao alumínio ser usado extensivamente nas indústrias alimentícias24-26. Podem ser exemplos disto o 107 pão, o extrato de tomate e os refrigerantes e sucos artificiais. Nas amostras de pão analisadas encontrou-se uma quantidade considerável de alumínio (11 e 23µg/g), que pode ser o resultado do uso de aditivos alimentares que contêm alumínio, ou ainda devido ao processamento. O alumínio é usado na etapa de refinamento do açúcar e, apesar disto, a concentração de alumínio no açúcar refinado é menor que a encontrada nos adoçantes, o que provavelmente se deve ao uso de aditivos químicos no preparo dos adoçantes22. Entretanto, como o açúcar é consumido em maior quantidade, a sua contribuição para o alumínio ingerido pode ser significativa. A erva-mate destacou-se entre os alimentos sólidos, apresentando a maior quantidade de alumínio. Isto é esperado devido à erva-mate ser uma espécie vegetal, que é capaz de acumular alumínio27. Este resultado mostra que um estudo mais detalhado sobre a erva-mate deve ser realizado. A figura 2 mostra o alumínio ingerido pelos pacientes através dos alimentos mais consumidos e o teor do alumínio encontrado no soro dos pacientes. O somatório do alumínio ingerido através dos alimentos consumidos pelos pacientes não pode ser considerado como um dado absoluto, visto que cada paciente pode consumir mais determinado alimento em um dia e menos em outro, assim como a ingestão de líquidos que pode ser reduzida até mesmo por restrição médica, mas foi a maneira que julgamos mais adequada para expressar o consumo. Observa-se na figura 2 que, para a maioria dos pacientes, um elevado teor de alumínio ingerido através dos alimentos corresponde a um teor de alumínio sérico também elevado. CONCLUSÃO Através da análise dos dados foi possível constatar que o teor de alumínio no soro dos pacientes não apresentou relação com a água ingerida por eles, mesmo tendo a água valores elevados de alumínio. No entanto, com relação aos alimentos foi constatada relação entre alguns alimentos ingeridos e o nível de alumínio encontrado no soro dos pacientes. AGRADECIMENTOS Aos profissionais da saúde que atuam no setor de hemodiálise da Casa de Saúde de Santa Maria, um agradecimento especial. Aos pacientes que nos repassaram prestimosas informações para que pudéssemos dar andamento ao trabalho, os nossos mais sinceros agradecimentos. Água e alimentos como fontes de alumínio 108 Figura 2: Teor de Alumínio encontrado nos alimentos e teor de Alumínio encontrado no soro dos pacientes REFERÊNCIAS 11. Gordon EJ. Patient’s decisions for treatment of end-stage renal disease and their implications for acess to transplantation. Social Science & Medicine 2001; 53:971-987. 1. Frazão MJ, Coburn W. Aluminium toxicity in patients with end-stage renal disease: Diagnosis, treatment and prevention. Rev Port Nefr Hipertens 1996;10 (Supl 1):S85-S112. 12. Lindberg J, Churchill DN, Fishbane S. 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