PESQUISA DE COMPOSTOS DAS PLANTAS COM PROPRIEDADES INSECTICIDAS Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e ICETA-CECA Secção Autónoma de Ciências Agrárias Campus Agrário de Vairão, 4485-661 Vairão Tel:252-660-400; Fax:252-661-780 Ana Aguiar, Eng. Agrícola e Margarida Bastos, Prof. Auxiliar Email: [email protected] e [email protected] Resumo As pragas das culturas são a causa de grandes quebras de produção dos alimentos em todo o mundo. As plantas são uma riqueza quase inesgotável de compostos orgânicos que podem ser usados como insecticidas. Para tal é necessário um profundo conhecimento das propriedades dos compostos e do comportamento das pragas a combater. Na Faculdade de Ciências do Porto existe um biotério com criação da praga traça da uva, Lobesia botrana, para estudos de comportamento e bio-ensaios de potenciais insecticidas botânicos. Introdução Apesar dos grandes avanços no conhecimento científico as pragas continuam a ser, no início do século XXI responsáveis por significativas quebras de produção. Para combater estes inimigos das culturas o agricultor tem à sua disposição diferentes meios de luta: meios de luta cultural e meios de luta biológicos utilizados pelos adeptos da agricultura biológica e pelos adeptos da protecção integrada e meios de luta química usados por estes últimos dentro de certos condicionalismos. Procura-se reduzir os prejuízos causados pelas pragas o que exige novas soluções, novos meios de luta capazes de dar resposta às exigências económicas, sociais e ambientais. O conhecimento que certas plantas ou certos compostos de plantas têm acção insecticida ou fungicida remonta à antiguidade tendo evoluído até hoje (Ware, 1994). Dos inúmeros compostos utilizados referem-se, a título de exemplo, quatro: - a nicotina, extraída das folhas de Nicotiana tabacum é utilizada para combater afídios e outros insectos picadores sugadores em culturas ornamentais; - a rotenona retirada das raízes de Lonchocarpus sp., Derriss sp. e Tephrosia sp. é utilizada no combate a diversos afídios sendo de destacar o combate ao piolho cinzento da macieira Dysaphis plantaginea. - a azadirachtina retirada das sementes de Azadirachta indica é utilizada como insecticida sendo aplicada aos grãos de milho antes da sementeira; verifica-se que paralelamente favorece a fotossíntese contribuindo assim para maiores produções. - os piretroides, cuja introdução em Portugal foi considerada um marco importante (Fernandes, 1979) constituem uma família química cujas substâncias activas – as piretrinas - foram inicialmente extraídas das flores de Chrysanthemum cinerariaefolium: trata-se de insecticidas que são extremamente eficazes mesmo a reduzidas doses; sendo de origem vegetal são autorizados em programas de Agricultura Biológica. A sua utilização em programas de Produção ou Protecção Integradas está restringida a certas situações devido à constatação do elevado efeito tóxico para fauna aquática e auxiliares (DGPC, 2002). AA - 1 São conhecidos mais de 10.000 metabolitos secundários estimando-se que o número total seja superior a 400.000 compostos (Schoonhoven 1982). Estes compostos secundários produzidos pela planta e recebidos pelo insecto (que pode ser praga) são frequentemente reconhecidos como aleloquímicos1. O insecto ao aproximar-se da planta “sente” os aleloquímicos que podem ser atractivos ou repelentes “descodifica” a informação e toma a decisão de se dirigir ou não para essa planta. Caso decida pousar, novos estímulos poderão condicionar o comportamento de aceitação ou rejeição. Novas soluções As plantas são uma riqueza quase inesgotável de compostos orgânicos considerando-se que alguns destes compostos podem ser usados como insecticidas. Provavelmente as novas soluções de combate às praga poderão relacionar-se com um melhor conhecimento dos comportamentos dos insectos e dos compostos – atractivos ou repelentes - presentes nas plantas. Fig. 1 - Sequência de opções no comportamento do insecto (adaptado de Renwick, 1989). Investigação em curso As instalações de Vairão da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto estão equipadas com um biotério actualmente utilizado para criação de traça da uva - Lobesia botrana - praga chave das vinhas contra a qual se pesquisam novos meios de luta com base em extractos de plantas enquadrando-se num projecto intitulado “Produtos naturais das uvas: perspectivas da sua utilização na luta contra a praga Lobesia botrana” parcialmente financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (POCTI 34591/99/AGR). Bibliografia referida / recomendada Amaro P., Aguiar A & Freitas J 2001. Traça da uva Lobesia botrana. Eupoecilia ambiguella. In Protecção Integrada da vinha na região Norte. Isa-Press. Porto. 59-67. DGPC, 2002 - www.dgpc.min-agricultura.pt Fernandes, A Silva 1996. Grupos químicos de produtos fitofarmacêuticos; a sua evolução em Portugal nos últimos 30 anos. Simpósio Protecção das plantas, agricultura e ambiente. Oeiras, Maio. 81-99. Renwick, 1989. Chemical ecology of oviposition in phytophagous insects. Experientia 45. 223-227. Schoonhoven 1982. Biological aspects of antifeedants. Ent. Exp. & Appl. 31. 57-59. Ware George W 1994. The Pesticides Book, 4th Thomson Publications, Fresno 1 Aleloquímicos – compostos que medeiam a interacção entre seres vivos. AA - 2