Vírus Influenza Detectados no Estado do Rio

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VIRUS INFLUENZA DETECTADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DURANTE 2006 E 2007 | 5 7
VIRUS INFLUENZA DETECTADOS NO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL DURANTE 2006 E 2007
INFLUENZA VIRUSES DETECTED IN THE STATE OF RIO
GRANDE DO SUL, BRAZIL, DURING 2006 AND 2007
Selir Maria Straliotto
Mestre em Microbiologia Clínica,
IPB-LACEN/FEPPS-RS
Tatiana Schäffer Gregianini
Doutora em Biologia Celular e Molecular,
IPB-LACEN/FEPPS-RS
Tatiana Gasperin Baccin
Mestre em Bioquímica,
IPB-LACEN/FEPPS-RS
Fernando Couto Motta
Doutor em Microbiologia,
IOC/FIOCRUZ-RJ
Marilda Mendonça Siqueira
Doutora em Microbiologia,
IOC/FIOCRUZ-RJ
Correspondência: Av. Ipiranga, 5400. Bairro Jardim Botânico.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul. CEP 90610-000.
E-mail: [email protected]
RESUMO
Amostras de secreção nasofaríngea de aproximadamente 4% dos casos de síndrome gripal em crianças e adultos foram coletadas em 2006-2007 em três unidades sentinela do Estado do Rio Grande do Sul (Uruguaiana, Caxias
do Sul e Porto Alegre). Vírus respiratórios foram detectados em 249 amostras (32%). Destas, 132 foram positivas para influenza A; 20 para influenza B; 39 para vírus
sincicial respiratório (VSR); 11 para adenovírus; 12 para
parainfluenza do tipo 1, 3 para parainfluenza do tipo 2 e 32
para parainfluenza do tipo 3. A maior circulação dos vírus
influenza no biênio ocorreu em julho em 2006, e junho e
julho em 2007. O vírus influenza tipo A foi o mais detectado nos dois anos, com circulação concomitante dos
subtipos A/H3 e A/H1. O vírus Influenza tipo B circulou
mais em 2006 (p=0.004), especialmente em Porto Alegre (p=0.020). O subtipo A/H3 (A/Arizona/4/06-like) circulou em 2006 e duas outras variantes (A/North Carolina/2/07 e A/Guam/AF1043/07) em 2007. As variantes H1
A/Delawere/2/06-like e A/Busan/3/07 circularam em 2006
e 2007, respectivamente. No mesmo período houve cocirculação das linhagens Yamagata (B/Shangai/36/02-like)
e Victoria (B/Malaysia/2506/04) do vírus influenza B. Estudos antigênicos, filogenéticos e comportamento sazonal dos subtipos locais são necessários para aprofundar o
conhecimento da influenza no país.
ABSTRACT
Nasopharyngeal aspirate samples were collected across
the whole year from approximately 4% of children and
adults demanding health care due to acute respiratory
syndromes in three respiratory surveillance units of Rio
Grande do Sul State (Uruguaiana, Caxias do Sul and Porto Alegre). Respiratory viruses were identified in 249
samples (32%). Of these, 132 were influenza A; 20,
influenza B; 39, respiratory syncytial viruses (RSV); 11,
adenoviruses; 12, parainfluenza type 1; 3, parainfluenza
type 2 and 32 parainfluenza type 3. The highest influenza
activity occurred in July 2006 and June-July 2007. Influenza
A viruses predominated in both years, with concomitant
circulation of subtypes A/H3 and A/H1. Influenza B
showed higher circulation in 2006 compared to 2007
(p=0.004), especially in Porto Alegre (p=0.020). The
A/H3 subtype (A/Arizona/4/06-like) circulated in 2006
and two other variants (A/North Carolina/2/07 and A/
Guam/AF1043/07) in 2007. The A/H1 variants A/
Delawere/2/06-like and A/Busan/3/07 circulated in 2006
and 2007, respectively. In the same period there was
co-circulation of the Yamagata (B/Shangai/36/02-like) and
Victoria (B/Malaysia/2506/04) lineages of the influenza B
viruses. Antigenic, phylogenetic and seasonality studies
of the local subtypes are necessary to better understand
the influenza in the country.
PALA
VRA
S- CHA
VE
ALAVRA
VRASCHAVE
Influenza humana. Doenças respiratórias. Rio Grande
do Sul.
KEY WORDS
Influenza, human. Respiratory tract diseases. Rio Grande
do Sul.
Bol. Saúde | Porto Alegre | v. 23 | n. 1 | p. 57-62 | jan./jun. 2009
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INTRODUÇÃO
Vírus respiratórios são responsáveis por
uma proporção significativa de enfermidades,
em todas as faixas etárias, com elevação da
morbidade e mortalidade infantil, principalmente
nos meses frios. Estes vírus são sazonais, com
tropismo celular para vários tecidos do trato
respiratório. A transmissão interpessoal pode
ocorrer direta ou indiretamente através de perdigotos e fomites. Diferentes patógenos podem
produzir doenças respiratórias com sintomas
clínicos similares exigindo o constante aperfeiçoamento do sistema de vigilância para identificação dos principais agentes etiológicos virais
(influenza A e B, vírus sincicial respiratório (VSR),
adenovírus e parainfluenza tipos 1, 2 e 3).
O vírus influenza tem três tipos antigenicamente distintos: A, B e C. As epidemias são causadas pelos tipos A e B. O tipo C provoca doença subclínica e não ocasiona epidemias. A Influenza tem um comportamento sazonal e os vírus
circulam em diferentes épocas nos dois hemisférios. A diversidade antigênica dos vírus A está
associada ao surgimento frequente de novas cepas. No entanto, alguns vírus podem persistir
no mesmo local e continuar circulando, subclinicamente, dentro da população, re-emergindo na
estação subsequente de influenza com baixa troca genética (TANG E COLS., 2008; RUSSEL ET
AL. 2008). Os vírus influenza B podem ser divididos em duas linhagens antigenicamente distintas, representadas pelos vírus B/Victoria/02/87
e B/Yamagata/16/88 (CENTER FOR DISEASE
CONTROL AND PREVENTION, 2008). No
entanto, a sazonalidade para estas duas linhagens,
atualmente co-circulantes, é pouco conhecida, e
outros estudos filogenéticos são necessários.
Vacinação é a melhor opção para a redução
da gravidade da doença (LUKE; SUBBARAO,
2006). A Organização Mundial da Saúde faz duas
recomendações para a composição da vacina,
(dois subtipos de A e um de B), baseadas nas
cepas circulantes no ano anterior nos hemisférios Norte e Sul (CENTER FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008). Desta forma, o conhecimento dos subtipos antigênicos
e moleculares de Influenza circulantes nas comunidades é de extrema importância para a eficácia da vacina.
O monitoramento da influenza humana é realizado através de uma rede mundial de vigilância
do vírus, da qual o Brasil participa através do
Sistema Nacional de Vigilância da Influenza do
Ministério da Saúde (www.saude. gov.br/svs).
Utiliza-se uma estratégia de vigilância sentinela, baseada numa rede de unidades de saúde (atenção
básica e pronto atendimento) e de laboratórios de
diagnóstico. A rede nacional de laboratórios para o
diagnóstico de Influenza é composta por 27 laboratórios estaduais, dois laboratórios de fronteira
(Uruguaiana e Foz do Iguaçu), dois laboratórios de
referência regional e um laboratório de referência
nacional (Fig. 1). No Rio Grande do Sul, a captação
das amostras é realizada em três unidades sentinela
(Porto Alegre, Uruguaiana e Caxias do Sul) e processada no Laboratório Central de Saúde Pública
do Estado (IPB-LACEN/FEPPS).
METODOL
OGIA
METODOLOGIA
Secreção nasofaríngea de crianças e adultos com síndrome gripal (indivíduo com doença respiratória aguda de até cinco dias de sintomas apresentando febre, tosse ou dor de garganta, na ausência de outros diagnósticos) provenientes das três unidades sentinelas do Rio
Grande do Sul (quinze amostras semanais), foi
coletada no período de 2006 a 2007.
As amostras foram processadas para um
diagnóstico rápido de influenza por imunofluorescência indireta - IFI (ANDERSON, 1985) e
também testadas para adenovírus, parainfluenza e VSR. As amostras positivas para Influenza
foram encaminhadas ao Laboratório Nacional
de Referência para influenza (FIOCRUZ/RJ) para
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isolamento viral, e identificação antigênica e genômica dos subtipos virais.
A identificação laboratorial dos vírus respiratórios utiliza, habitualmente, métodos diagnósticos diretos (isolamento viral e imunofluorescência) e moleculares baseados na metodologia
da Multiplex RT-PCR (transcrição reversa associada à reação em cadeia da polimerase), em sua
maioria (ELLIS; ZAMBON, 2002).
cou-se uma frequência maior do influenza A em
ambos os períodos analisados, nas três unidades
sentinela (Fig. 2). A circulação do subtipo B foi significativamente maior (p = 0,004) no ano de 2006,
especialmente em Porto Alegre (p = 0,020).
Diferentemente do observado em outras regi-
RESUL
TADOS E DISCUSSÃO
RESULT
Do total de amostras de secreção nasofaríngea analisadas no biênio 2006-2007, 249
(32%) foram positivas para síndrome gripal viral, das quais 152 (61%) para influenza, sendo
132 para influenza A e 20 para influenza B. Nas
demais amostras foram identificados vírus sincicial respiratório (VSR) (39); adenovírus (11),
parainfluenza tipo 1 (12), parainfluenza tipo 2
(3) e parainfluenza tipo 3 (32).
Observando a circulação anual de vírus verifiBol. Saúde | Porto Alegre | v. 23 | n. 1 | p. 57-62 | jan./jun. 2009
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ões do mundo - maior prevalência do vírus influenza B em faixas etárias extremas (CENTER
FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2008) - o vírus foi encontrado somente
na população de cinco a 59 anos. No ano de
2007 houve um aumento do vírus parainfluenza tipo 3 em todas as unidades sentinela, principalmente em Caxias do Sul (p = 0,032), sugerindo a ocorrência de surto respiratório, mesmo com a amostragem sendo direcionada para
síndrome gripal. A prevalência do VSR foi semelhante em ambos os períodos (p = 0,126).
A maior atividade do vírus influenza, medida
pela distribuição sazonal de amostras positivas em
2006 e 2007, ocorreu no mês de julho de 2006 e
junho e julho de 2007 (Fig. 3). No ano de 2006
houve a circulação concomitante dos subtipos A
e B de junho a setembro, enquanto em 2007 os
dois circularam em momentos distintos, com o
subtipo B surgindo na população em agosto, coincidindo com a diminuição da circulação do subtipo A, e persistindo até o final do ano.
Cento e quarenta e uma das 152 amostras com
vírus influenza identificados por IFI foram enviadas
à Fiocruz/RJ e testadas por Multiplex RT-PCR. Destas, onze não puderam ser caracterizadas molecularmente. Este resultado pode estar associado a
falhas no protocolo molecular, ou na degradação
do RNA durante o transporte da amostra ao Rio
de Janeiro, hipóteses que serão analisadas posteriormente por reteste da amostra.
As 126 amostras caracterizadas (Tabela 1)
mostraram co-circulação das variantes A/H3 e A/
H1, com predomínio de A/H3 nos dois anos, e
aumento nos isolamentos deste subtipo, absoluto
e relativo, este de 53% em 2006 para 83% em
2007. Observou-se também, uma diminuição da
circulação do vírus influenza tipo B (de 27% em
2006 para 7,7% em 2007; p = 0,01), embora o
protótipo viral presente na vacina tivesse identidade filogenética com apenas umas das variantes
que circularam na população (B/Malaysia/2506/04),
como visto na Figura 4. A circulação do vírus H1
reduziu entre 2006 e 2007 (19 e 9%).
Com relação à identidade filogenética, o vírus influenza A/H3 detectado em 2006 foi o A/
Arizona/4/06-like. Duas outras variantes circularam em 2007: A/North Carolina/2/07 e A/
Guam/AF1043/07. O subtipo de A/H1 em 2006
foi A/Delaware/2/06-like e em 2007 foi A/Busan/3/07. Tanto em 2006, quanto em 2007
houve circulação das duas linhagens do vírus
influenza B: B/Shanghai/36/02-like (L. Yamagata) e B/Malaysia/2506/04 (L. Victoria), confirmando o observado por Barr et al. (2003) quanto à co-circulação de linhagens distintas antigênica e filogeneticamente do subtipo B por longos períodos na população. Ao contrário do
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vírus influenza A, os vírus influenza B co-circulam com a variante dominante durante um surto epidêmico, permitindo a reemergência de
variantes antigas e o rearranjo entre cepas
(MOTTA et al., 2006).
As composições vacinais para 2006 e
2007, definidas a partir das correlações com
as identidades antigênicas e filogenéticas das
variantes circulantes em 2005 e 2006, mantiveram, para ambos os períodos, o protótipo
New Caledonia/20/99-like virus para o subtipo A/H1. Para o subtipo A/H3 foram recomendados os protótipos A/California /7/04-like
virus em 2006 e A/Wisconsin/67/05-like virus
em 2007 (Figura 4). A comparação das identidades filogenéticas das cepas do subtipo A circulantes no Brasil em 2007 indicou identidade
vacinal com os protótipos A/Salomon Islands/
3/2006-like virus para o A/H1 e A/Brisbane/
10/2007)-like virus para o A/H3 (dados não
mostrados), recomendados para a composição da vacina do Hemisfério Sul em 2008
(www.who.int/csr/disease/influenza). Por outro lado, a recomendação do protótipo B/
Florida/4/2006-like virus (L. Yamagata) para
o influenza B, com decréscimo de prevalência no biênio analisado e identidade filogenética para apenas 25% das cepas circulantes
no RS em 2007, é representativa das amostras circulantes nos países do hemisfério sul.
Paralelamente ao consolidado nacional sobre
as informações do vírus influenza, as avaliações antigênica e genômica dos eventos locais contribuem para melhor elucidar o conhecimento da influenza no país.
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