UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO – UFRPE DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA E FISIOLOGIA ANIMAL – DMFA Corpo Estranho Gastrintestinal Linear em um Cão Maria Elizabeth Chaves Cunha1, Marcelo Weinstein Teixera2, Maria Juliana C. Dias da Silva Teixeira3. 1- Graduanda de Méd. Vet. UFRPE; 2- Prof. Assistente do DMFA/UFRPE; 3- Doutoranda da UFRPE. Introdução Obstruções gastrintestinais por corpos estranhos são bastante freqüentes em animais da espécie canina devido ao seu comportamento alimentar. Em alguns casos, os objetos ingeridos detêm a passagem dos alimentos ou ficam presos, provocando transtornos graves (síndrome oclusiva) (COUTO & NELSON, 2001). Corpos estranhos lineares (e.g. fios, barbantes, plásticos, faixas de pano) prendem-se proximamente ao piloro, enquanto o restante passa para o intestino através do peristaltismo (BISTNER & FORD, 1997). Os corpos estranhos no estômago e intestino podem provocar vários sintomas clínicos, sendo o vômito persistente o mais comum (SLATTER, 2003). No exame clínico os animais podem apresentar dor, dilatação abdominal e uma massa palpável pode ser sentida (COUTO & NELSON, 2001). O diagnóstico pode ser feito através de um exame clínico se o corpo estranho é palpável, mas geralmente é preciso fazer o exame radiológico. A ultra-sonografia e a endoscopia também são elucidativas em alguns casos (BISTNER & FORD, 1997). Objetivo Relatar um caso de corpo estranho linear em cão, cujo diagnóstico foi confirmado pela via endoscópica e o tratamento realizado, com sucesso, por meio de laparotomia exploratória, com gastrotomia e enterectomia e enterotomia segmentar. Materiais e métodos No dia 19 de setembro do corrente ano, foi internado na Clínica Veterinária Harmonia um animal da espécie canina, raça Daschound, sexo masculino, com 5 anos de idade e pesando 6,2 kg. O mesmo apresentava apatia, emagrecimento, dor abdominal e vômitos freqüentes. O paciente foi submetido à ultra-sonografia abdominal e radiografias, nas quais evidenciou-se processo obstrutivo. Optou-se também pela realização de uma endoscopia1 e por fim, pela laparotomia exploratória. Durante o procedimento cirúrgico, observou-se processo inflamatório intenso e pregueamento de todo o intestino delgado2, com presença de um pedaço de plástico ocupando o lúmen. Devido à extensão do material optou-se por gastrotomia, entectomia e enterotomia segmentar3,4, para evitar danos à mucosa intestinal durante a tração. O animal permaneceu sob fluidoterapia parenteral durante 48 horas, após o que, iniciou-se alimentação líquida. Utilizou-se enrofloxacina (5 mg/kg) durante 10 dias, cetoprofeno (1 mg/kg) durante 4 dias e cisaprida 0,5mg/kg, duas vezes ao dia durante 7 dias, para estimular o trânsito gastrointestinal. Os pontos cirúrgicos foram retirados 8 dias após a cirurgia, momento em que o animal foi reavaliado. 1- Exame endoscópioco evidenciando corpo estranho linear na região pilórica 3- Aspecto final das alças intestinais após enterectomia e enterotomias para retirada de corpo estranho linear 2- Aspecto pregueado do intestino delgado com processo de intussuscepção intestinal 4- Segmentos de alça intestinal resseccionada e fragmentos do corpo estranho linear Resultados e discussão Corpos estranhos grandes, ponte-agudos ou lineares que se insinuem pelo piloro, devem ser retirados por meio de cirurgia, devido ao risco iminente de lesão iatrogênica (SLATTER, 2003). A manipulação atraumática dos segmentos intestinais, somada ao cuidado de não tracionar excessivamente o corpo estranho linear, são essenciais para evitar lesões iatrogênicas (FOSSUM, 2002). A utilização do fio de sutura, absorvível sintético, no intestino e estômago é indicado pela lenta degradação que estes possuem, porém, devido à rápida regeneração das camadas do tecido gastrintestinal, não é necessário mais que 48h de jejum após a cirurgia. No retorno do cão para reavaliação, após oito dias, o proprietário informou que o mesmo se alimentava e defecava normalmente Houve ganho progressivo de peso, tendo o mesmo apresentado 7,4 kg. Conclusão O diagnóstico de corpos estranhos, que se alojam no estômago, é facilmente obtido por meio da endoscopia gástrica. A retirada de corpos estranhos gástricos, que se insinuam pelo piloro, é mais segura por meio da celiotomia e enterotomia segmentar, evitando lesões iatrogênicas por tração dos mesmos.