EFEITOS DO AUMENTO DA CONCENTRAÇÃO DE CO2 NA ATMOSFERA SOBRE O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PLANTAS Disciplina: Fundamentos de Ecologia e Modelagem Ambiental Professores: Dalton M. Valerian, Silvana Amaral, Eduardo Arraut Juliana Paiva Nunes Kury INTRODUÇÃO • Previsões R4 IPCC (2007), a concentração atmosférica global de CO2 • aumentou de um valor pré-industrial de ~ 280 para 379 ppm em 2005 • até meados deste século pode chegar a 720 ppm • Modelos (IPCC): projetam aumento da temperatura da superfície terrestre da ordem de 1º a 3,5º C até 2100 • Velocidade das alterações pela intensificação do efeito estufa é maior que qualquer outra mudança que tenha ocorrido nos últimos 10.000 a. • somada ao estresse provocado nos últimos dois séc. pelo homem, pode ultrapassar a capacidade de regeneração dos ecossistemas à perda significativa de espécies Principais impactos como função do aumento da mudança da temperatura global média 1 Significativo: mais de 40%. IPCC, 2007 FOTOSSÍNTESE • Processo pelo qual as plantas fixam o CO2 e o incorporam à sua biomassa • Resulta: liberação de O2 e na captura de CO2 da atm., utilizado para sintetizar C • Em geral, o processo é analisado: • fotoquímica: a) na produção do agente redutor (NADPH); b) liberação do O2 como subproduto da dissociação da molécula da água; e c) formação de ATP, por meio do complexo ATP-sintase • química: CO2 é fixado e reduzido até carboidratos • Por meio do processo de respiração, os carboidratos e outros constituintes celulares são convertidos em CO2 e água com a liberação de energia processos importantes na regulação dos teores de O2 e CO2 da atm. terrestre SISTEMAS FOTOSSINTÉTICOS • As plantas podem ser classificadas em três grupos de fixação de CO2 • C3: o 1º composto estável formado é um composto de 3 carbono • C4: algumas sp. de gramíneas (cana de açúcar e milho) capazes de fixar CO2 em compostos de 4 carbono, além de executarem o ciclo C3 • CAM (metabolismo ácido crassuláceo): algumas sp. de plantas em regiões áridas (cactáceas) • abrem seus estômatos somente à noite, quando fixam CO2 pelo mecanismo C4, e fecham durante o dia para evitar a perda excessiva de água, pelo ciclo C3 SISTEMA FOTOSSINTÉTICO “C 3” Processo de fixação do C: 1) carboxilação, catalisada pela enzima Rubisco; 2) redução, utiliza o NADPH e ATP; 3) regeneração do aspertor de CO2; e 4) síntese de produtos a) carboxilação o CO2 é adicionado a um açúcar de 5 carbonos, a ribulose 1,5bifosfato (RuBP) para formar duas moléculas de ácido fosfoglicérico (PGA) de 3 carbono (reação catalizada pela rubisco) b) PGA é convertido (reduzido) a um açúcar de 3 carbono (Triose-P), o aspertor inicial de CO2 (RuBP) é regenerado para posteriores reações de fixação c) Produtos finais: açucares e outros carboidratos • Rubisco: que atua como uma carboxilase, também apresenta uma atividade oxigenase* - O2 e o CO2 competem pela mesma enzima – RuBP * etapa inicial da fotorrespiração - processo que reduz a fixação de CO2 e o crescimento SISTEMA FOTOSSINTÉTICO “C 4” estrutura nas desenvolvido folhas caracterizada por um feixe vascular bem 1) CO2 reage com o fosfoenolpiruvato, via enzima PEPcarboxilase para formar o oxalacelato (ácido com 4 átomos de carbono) 2) oxalacelato são transportados até cél. bainha, onde são carboxilados, liberando CO2 e produzindo piruvato 3) CO2 é liberado e refixado via C3 4) piruvato retorna as células mesofílicas, onde é convertido em fosfoenolpiruvato, regenerando o aceptor inicial do CO2 (p/ posteriores reações de fixação) A alta atividade carboxilativa da PEPcarboxilase assegura uma alta [CO2] nas células da bainha predominando a atividade carboxilase e uma menor taxa de fotorrespiração SISTEMAS FOTOSSINTÉTICOS: “C3 x C 4” Cél. bainha do feixe vascular taxas de absorção de CO2 são muito mais altas, pois o sistema pode armazenar mais C Quando se compara rendimento quântico de plantas C3 e C4 em diferentes temperaturas C4 têm desempenho constante em temperaturas (entre 10 e 40ºC) - C3 apresentam uma queda linear em desempenho (aumenta a temperatura) C3 levam vantagem até ~ 25ºC, mas devido ao fato das C4 não apresentarem queda de rendimento em temperaturas mais altas, passam a ter maior eficiência relativa acima de 25ºC Rendimento quântico equivale ao nº de moles de CO2 absorvido pelo nº do quanto é captado SISTEMAS FOTOSSINTÉTICOS: “C3 x C 4” Plantas C4 • lidam melhor com temperaturas mais altas • permitem que seus sistemas de captação de luz possam suportar intensidades luminosas bem maiores • são mais eficientes em lidar com a água • maior eficiência em captar e armazenar C permite um gerenciamento melhor da abertura estomática (processo fundamental no controle da transp. foliar) • A [CO2] na qual a fotossíntese liquida se iguala a zero* é menor mecanismo de alta [CO2] C3 Temperatura ótima Saturação de luz Taxa transpiração Efic. quântica x temperatura Fotorrespiração * Ponto Compensação CO2 20 - 25 400 - 500 500 - 1000 diminui SIM 20 - 100 C4 30 -45 > 2000 (μmoles) 200 - 350 estável NÃO 0–5 SISTEMAS FOTOSSINTÉTICOS: “C3 x C 4” Curvas de respostas da fotossíntese à incrementos na concentração de CO2 C3 C4 C4 são mais eficientes para os níveis atuais de CO2, mas por outro lado as C3 respondem mais positivamente a um aumento de CO2 A resposta da taxa fotossintética de milho (C4) a concentrações crescentes de CO2 é de saturação a uma Níveis atuais de CO2 2x CO2 concentração ~ 450 ppm, enquanto a taxa fotossintética de trigo (C3) satura a uma concentração de 850 ppm SISTEMAS FOTOSSINTÉTICOS: “C3 x C 4” estômatos: estruturas celulares que estabelece comunicação do meio interno com a atmosfera, constituindo-se um canal para troca de gases e a transpiração do vegetal • condutância estomática (quanto que o estômato de certa forma permite que entre CO2) • C3 é maior que da C4 • C3 trabalha com uma atmosfera interna no estômato (210 – 280 ppm), a C4 com uma [CO2] (120 – 150 ppm) • se aumenta a [CO2] favorece mais a planta C3, pois precisa de uma atmosfera mais concentrada de CO2 na câmara subestomática Câmara Subestomática espaço interno do estomato AquecimentoGlobal e Cenários Futuros da Agricultura Brasileira - Avaliou o impacto do aumento da temperatura sobre a agricultura • cana-de-açúcar, soja, café, algodão, arroz, feijão, milho, girassol e mandioca (86% das áreas plantadas) • zoneamento climático (2007): simulados cenários agrícolas (2010, 2020, 2050 e 2070), levando em consideração cenários de temperatura (IPCC): o B2 (aumento de temp. 1,4 a 3,8º C) e A2 (2º a 5,4ºC) até 2100 Aquecimento global poderá provocar uma mudança significativa no mapa da agricultura brasileira • redução de áreas produtoras; • prejuízos econômicos ~ R$ 7,4 bilhões (2020) - R$ 14 bilhões em 2070 Embrapa / Cepagri / Unicamp (2008) CANA-DE-AÇUCAR (C4) • cultura que mais favorecida com o global Ano 2006 (base) 2020 2070 pode ser aquecimento Área total 6 milhões ha + 16 milhões ha - 13 milhões ha SOJA (C3) • mais deve sofrer com a elevação da temp. • simulações: regiões ao sul e no cerrado nordestinos serão fortemente atingidas Ano 2006 (base) 2020 2050 2070 Produção 52 milhões t - 21,6 a 23,6% - 29,6 a 34,1% - 41,4 % redução da área apta ao plantio RESPOSTAS DAS PLANTAS A ATMOSFERA ENRIQUECIDA DE CO2 • Efeitos diretos: incrementos na disponibilidade de substrato para a fotossíntese e na produtividade primária das plantas pela ação do CO2 como “fertilizante atmosférico” • Efeitos indiretos: relacionado às alterações climáticas, principalmente no incremento da temp. - pode afetar a fisiologia e a produtividade das plantas • fotossíntese: 1) aumento da atividade RUBISCO via estímulo da carboxilação e inibição da oxigenação da RuBP; 2) Redução da abertura estomática; 3) alteração da respiração • fisiologia e crescimento: 1) fotossíntese líquida e respiração; 2) condutância estomática e a eficiência do uso da água; 3) alocação de carbono e crescimento; 4) estrutura da planta e fenologia; 5) concentração de nutrientes na planta EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A SUCESSÃO ECOLÓGICA • Perda e fragmentação de habitats devido às mudanças no uso e cobertura da terra aliado a altas taxas de emissão dos GEE compõem um quadro de ameaça à biodiversidade global • conhecer o processo de sucessão ecológica auxilia na compreensão dos mecanismos de resistência e resiliência das florestas permitindo o monitoramento dos possíveis efeitos das mud. climáticas sobre a biodiv. • As florestas podem desempenhar um papel fundamental na mitigação dos impactos decorrentes do aumento das [CO2 ] • captando carbono através da fotossíntese e transformando-o em biomassa RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 Marcos Aidar (2002) • estudou o comportamento de plântulas de Hymenaea courbaril • Jatobá: espécie secundária tardia/clímax • sementes recém germinadas foram cultivadas em câmaras de topo aberto com [CO2]: 360 e 720 ppm RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 Marcos Aidar (2002) • Comparação entre plântulas crescendo em atmosfera de CO2 mostraram: • aumento significativo em área foliar • fotossíntese foi significativamente aumentada em [CO2] elevada • De acordo com os resultados, parece que as plantas crescidas sob concentrações enriquecidas de CO2 não aclimataram • sob as condições climáticas previstas com base nos níveis atmosféricos atuais, plântulas de jatobá deverão estabelecer mais rapidamente em seu ambiente natural * redução na capacidade fotossintética da planta para responder ao incremento do CO2 atmosférico RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 Paula M. F. Costa (2005) "Efeitos da Alta Concentração de CO2 sobre o Crescimento e o Estabelecimento de Plântulas do Jatobá de mata - Hymenaea courbaril l. Var. Stilbocarpa (heyne) Lee & Langenheim (Leguminosae, caesalpinioideae)” • analisados os efeitos da alteração do CO2 na atmosfera (720 ppm) • Jatobá: sp. de estágio avançado de sucessão ecológica • Observado: além de aumentar a fotossíntese, há também um grande aumento nos teores de sacarose, amido e celulose nas folhas e caules • redução significativa no índice estomático (em plantas cresceram CO2 elevado) analisadas folhas de espécies de herbário (coleta no início do séc. XX) - indicaram que folhas de 1919 e 1959 apresentaram o dobro do índice estomático em comparação com as folhas de plantas atuais e incubadas em alto CO2. RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 Paula M. F. Costa (2005) • Resultados: sinal de aclimatação da planta, que vem diminuindo sua capacidade total de entrada de CO2 ao longo de um período que a [CO2] aumentou • Como a redução do nº de estômatos ocorreu simultaneamente com um aumento no fluxo de C, é provável que os dois fenômenos estejam relacionados • Observado que o teor de amido das folhas está aumentando significativamente • confirmar a hipótese de que o fluxo de carbono é maior quando a planta cresce em CO2 elevado RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 Mauro A. Marabesi (2007) (Efeito do alto CO2 no crescimento inicial e na fisiologia da fotossíntese em plântulas Senna alata (L.) Roxb.) • Plantas submetida [CO2]: 380 e 720 ppm • ao longo de 67 dias foram realizadas medidas de crescimento • Resultado - plantas crescidas em alta [CO2] • menor altura, o que coincidiu com o menor investimento no caule. • maior número de folhas (relacionado à maior retenção das folhas antigas (menor taxa de queda de folhas) e não devido a uma maior produção de folhas novas) • maior taxa de assimilação de CO2 saturada de luz • Final do experimento as plantas tiveram um aumento de biomassa ~ 60% • sp. indicada para programas de sequestro de carbono em curto prazo (plantas possuem um ciclo de vida curto) RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 João R. Leme de Godoy (2007) (Ecofisiologia do estabelecimento de leguminosas arbóreas da Mata Atlântica, pertencentes a diferentes grupos funcionais, sob atmosfera enriquecida com CO2: uma abordagem sucessional) >100 a.. Hymenaea Courbaril 25-30 anos 50-100 a. Dalbergia nigra 5 a 10 anos Piptadenia gonoacantha compreender como o CO2 poderá influenciar no estabelecimento das plântulas de sp. Leguminosae (M. Atlântica) Schyzolobium parahyba Sesbania virgata - sob atmosfera natural (370) e enriquecida com CO2 (720 ppm) - sp. estágios distintos na sucessão ecológica RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 João R. Leme de Godoy (2007) • CO2 elevado: respostas dependeram da sp., parâmetro e fase do experimento • sp. (geral): • maiores valores: altura, área foliar, taxa de crescimento relativo inicial, assimilação líq. de CO2, eficiência de uso da água e capacidade fotossintética • Análise: • sp. iniciais na sucessão (S. virgata, S. parahyba) apresentaram maiores valores • • • • as taxas iniciais de crescimento relativo nº de folhas em torno dos 40 dias assimilação líquida de CO2 incremento percentual na capacidade fotossintética e no acúmulo de biomassa • menores valores: os incrementos percentuais na assimilação líq. de CO2 e na redução da taxa de carboxilação da Rubisco RESPOSTAS DAS PLANTAS BRASILEIRAS A UMA ELEVAÇÃO NA CONCENTRAÇÃO ATMOSFÉRICA DE CO2 João R. Leme de Godoy (2007) • Resultados evidenciaram: • ciclos de vida mais curtos, as maiores densidades populacionais, as madeiras de menor densidade e o quadro oposto apresentado pelas espécies secundárias tardias indicaram: • os diferentes grupos funcionais podem, no longo prazo, garantir maior estabilidade do seq. de C em relação às sp. isoladamente EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A SUCESSÃO ECOLÓGICA • De maneira geral: • sp. pioneiras crescem rápido e sequestram grandes quantidades de C rapidamente - as sp. de crescimento mais lento seq. menos C no mesmo período, porém vivem mais floresta tropical em regeneração seq. C continuamente por um longo período • Dados obtidos: calcular o desempenho fisiológico em alto CO2 de forma comparada: • sp. intermediárias, principalmente o Piptadenia gonoacanta (pau-jacaré), têm um desempenho fisiológico melhor em relação às demais espécies o aumento na [CO2] tem o potencial de afetar o processo de sucessão ecológica por meio da melhora no desempenho fisiológico de algumas sp. (estágio intermediário) em relação às demais (iniciais e secundárias tardias) EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A SUCESSÃO ECOLÓGICA “Modelo Especulativo”: potenciais de aumento de sequestro de C em alto CO2 por sp. de Leguminosae (diferentes grupos funcionais) ao longo de toda a vida • pretende sugerir que vale mais a pena usar um modelo de sucessão do que sp. isoladas • o conjunto de plantas crescendo seq. significativamente mais C do que em modelos onde se usa somente uma sp. esses dados ainda possuem incertezas, pois o único efeito avaliado foi o da [CO2] quais seriam os efeitos da temperatura e de variações na disponibilidade hídrica??? Figura. Padrão quantitativo hipotético de sequestro de C0 por sp. de leguminosas pioneiras, secundárias iniciais e tardias. A linha tracejada é a soma das taxas de sequestro de cada grupo funcional. OBRIGADA !!!!