Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica As Estrelas mais Próximas Dietmar William Foryta Departamento de Fı́sica, Universidade Federal do Paraná, Centro Politecnico, Caixa Postal 19044, 81531-990, Curitiba, Paraná, Brasil ∗ A partir da observação das estrelas podemos inferir uma grande quantidade de informações que não são acessı́veis a uma medida direta tal qual sobre diversos objetos que podemos ter contato direto aqui na Terra. Com nossa capacidade de medir distâncias e outras propriedades fı́sicas das estrelas podemos tirar diversas conclusões sobre como é o Universo a nossa volta e como ele se organiza. Com isto fica patente que a aparente estabilidade do Universo em escala humana é irreal mas fortemente evolutivo sobre escalas de tempo maiores. Keywords: Estrelas: Distâncias ; Estrelas: Tamanhos ; Estrelas: Brilhos ; 1 Sobre a Possibilidade do Movimento da Terra 3 2 A Distância à Sirius. . . . . . . . . . . . . 7 3 A Paralaxe Estelar . . . . . . . . . . . . . 9 4 A Côr das Estrelas . . . . . . . . . . . . . 11 5 O Diagrama Côr-Magnitude . . . . . . . . 13 6 A Paralaxe Espectroscópica. . . . . . . . . 16 7 A Paralaxe Estatistica . . . . . . . . . . . 17 Um grande e tenebrosa noite de mil anos se fez com o adveto do Cristianismo e necessidade da Igreja Católica, nos primeiros séculos medievais, se organizar a fim de se consolidar como autoridade espiritual e intelectual. Mas é necessário lembrar que o declı́nio da atividade cientı́fica em geral já havia começado durante o Império Romano. Raras são as contribuições cientı́ficas, a excessão na área de Direito, feitas pelos romanos. ∗ Electronic address: [email protected]; URL: http://fisica.ufpr.br/foryta A ciência era para eles [os primeiros padres] um saber profano, salvo quando necessária para a vida cotidiana, era, no melhor dos casos, inútil, e, pior, uma perigosa distração. (Kuhn 1957, cap 4, p. 106) Além disso, a crença que dominou os primeiros séculos da era cristã, de que todo saber necessário ao homem estava contido nas Escrituras, levou alguns a negarem as teorias dos antigos, pro consideralas contrárias às Escrituras. O próprio Aristóteles, durante os séculos IV a XII, recebeu severas crı́ticas eclesiásticas pela aparente inconpatibilidade entre suas idéias e as Escrituras, sendo, em 1210, em Paris, proibido o ensino da fı́sica e da metafı́sica aristotélicas. Embora esta condenação tenha caı́do em letra morta e Aristóteles tenha continuado a ser estudado nas escolas e universidades, ela foi seguida de outras condenações de artigos e proposições aristotélicas (entre os quais estava a doutrina da eternidade do mundo e da unicidade do intelecto), culminando com a con- 2 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 1 Campo de estrelas em uma noite escura. Observa-se facilmente a distribuição não uniforme des estrelas no céu estrelado. Em locais com baixa luminosidade, pode-se perceber a existência de uma faixa mais densa de estrelas conhecida como Via-Lactea. É surpreendente que esta fácil observação, a assimetria da distribuição de estrelas, tenha sido ignorada por tanto tempo. denação em 1277, pelo Bispo de Paris Étienne Tempier, de 219 proposições e argumentos deterministas extraı́dos da, ou baseados na, filosofia de Aristóteles. Aristóteles nega a possibilidade do vácuo (Physica IV, cap 6-9), do infinito real (Physica III, cap 4-8) e de mundos plurais (De Caelo I, cap 8, 276b , 10-20). E ao faze-lo está limitando Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 3 Figura 2 Esquize do argumento de Nicolas Oresme para evidênciar que o estado parado de um objeto é simplesmente aparente pois só somos capazes de perceber o movimento relativo dos corpos. os poderes de Deus, o que os filósofos cristãos não poderiam aceitar. (pg 76) Neste isolamento intelectual da cristiandade ocidental dificilmente se poderia esperar qualquer contribuição para o conhecimento humano do Universo material. Tudo que o Ocidente foi capaz de fazer foi preservar as coleções de fatos e interpretações já feitas pelos enciclopedistas. (Crombie 1979, v 1, p 32). 1. Sobre a Possibilidade do Movimento da Terra Os argumentos medievais contra o movimento da Terra são, de um modo geral, os mesmos usados pelos antigos ptolomaicos, e os mesmos que serão usados contra Copérnico, por Dr. Dietmar William Foryta no século XVI. A eles Nicolas Oresme (1323?1382), discı́pulo de Buridan e membro da importante escola nominalista de Paris, responde [É possı́vel sustentar a opinião de que] a Terra está se movendo com movimento diário e o Céu não. E primeiro, eu afirmarei que é impossı́vel mostrar o contrário por qualquer observação [experiènce]; segundo, a partir da razão [par raison]; e terceiro, eu darei razões em favor desta opinião. (Duhen; Le Système du Monde; reprodução de Oresme Le livre du Ciel et du Monde Livro II cap 25) Uma das principais objeções, citadas por Oresme, contra a rotação diária da Terra está baseada na observação de que um flecha, ou 4 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 3 Esquize da idéia de Gregory para a determinação da distância às estrelas, e uma possı́vel técnica prática para tal determinação numérica. pedra, lançada diretamente para cima, sempre volta ao ponto do qual ela foi lançada. Porém, se a Terra girasse, deixaria tal flecha para trás de si e, portanto, ela não retornaria ao ponto de partida como é observado. Oresme se opõe a esse argumento de forma bastante clara no Livro II do Livre du Ciel e du Monde. A flecha (ou pedra) é movida muito rapidamente para leste como ar através do qual ela passa e com toda a massa da parte inferior do Universo, indicada anteriormente, que é movida com o movimento diário; e assim a flecha retorna ao lugar do qual ela foi lançada... [A trajetória real da flecha será uma compisção ou uma mistura de movimento rectilı́neo e circular] (Duhen 1958) Marshall Clagett, comentando as análises de Buridan e Oresme com respeito à compatibilidade da rotação diurna da Terra com os fenômenos astronômicos e a fı́sica terrestre, afirma que (Clagett 1979) talvez Oresme, mais tarde, tenha compreendido que não é o ar que causa o movimento lateral da flecha mas o fato de que ela é parte do sistema mecânico da rotação da Terra, tak qual um homem que move sua mão verticalmente para cima e para baixo em um mastro é parte do sistema mecânico do navio. Quanto ao fato do movimento composto da flecha não ser observado, Oresme responde, tendo em mente suas idéias sobre a relatividade óptica do movimento. Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 5 Figura 4 Esquize do movimento da Terra em torno do Sol e o movimento aparente das estrelas observado. A partir de instantes bem escolhidos podemos associar as grandezas geométricas mensuráveis e determinar a distância às estrelas. Observe que se o ângulo a ser medido for muito pequeno não seremos capazes de atribuir um valor a distância à estrela, e assim poderemos considerar, para efeitos de medida, que a dada estrela está no infinito. Se uma pessoa estivesse sobre um navio movendo-se para leste muito rapidamente sem estar ciente do seu movimento, e se ela levasse sua mão para baixo descreveria uma linha reta ao longo do mastro do navio, parecerlhe-is [il lui samblerait] que sua mão estava se movendo somente com movimento retilı́neo. De acordo com por Dr. Dietmar William Foryta esta opinião, parece-nos do mesmo modo que a flecha desce e sobe em linha reta... [Em defesa desta opinião, consideremos o seguinte:] se um homem naquele navio estava indo para oeste menos rapidamente que o navio estava indo para leste, perece–lhe-ia que estava se aproximando de oeste, quando realmente estava movendo-se 6 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Tabela I As estrelas mais próximas do que 12 anos-luz. Nome comum Classe Mag Visual Sun G2 -26.8 Proxima Centauri C M5.5 11.01 Alpha Centauri A G2 -0.01 Alpha Centauri B K0 1.35 Barnard’s Star M5 9.54 Wolf 359 M6 13.45 Lalande 21185 M2 7.49 Sirius A A1 -1.44 Sirius B DA2 8.44 L 726-8 A M5.5 12.41 L 726-8 B M5.5 13.25 Ross 154 M4.5 10.37 Ross 248 M6 12.29 Epsilon Eridani K2 3.72 Lacaille 9352 M2 7.35 Ross 128 M4.5 11.12 L 789-6 A M5.5 13.3 L 789-6 B M5 13.3 L 789-6 C M7 14.0 Procyon A F5 0.40 Procyon B DA 10.7 61 Cygni A K5 5.20 61 Cygni B K7 6.05 Struve 2398 A M4 8.94 Struve 2398 B M5 9.70 Groombridge 34 A M2 8.09 Groombridge 34 B M6 11.06 G51-15 M6.5 14.81 Epsilon Indi K4 4.69 Tau Ceti G8 3.49 para leste. Do mesmo modo, caso apresentado acima, todo movimento pareceria como se a Terra estivesse em repouso... Eu concluo, então, que não se pode por toda e qualquer experiência demonstrar que o Céu e não a Terra é movida com o movimento diário. O argumento de Oresme está baseado na sua Mag Abs 4.83 15.45 4.34 5.70 13.24 16.56 10.46 1.45 11.33 15.27 16.11 13.00 14.79 6.18 9.76 13.50 15.6 15.6 16.3 2.68 13.0 7.49 8.33 11.18 11.97 10.33 13.30 17.01 6.89 5.68 Prllx — 772.33 742.12 742.12 549.01 418.3 392.40 379.21 379.21 373.7 373.7 336.48 315.6 310.75 303.90 299.58 294.3 294.3 294.3 285.93 285.93 285.42 285.42 280.28 280.28 280.27 280.27 275.8 275.76 274.17 Dis (al) 0.00 4.22 4.40 4.40 5.94 7.80 8.31 8.60 8.60 8.73 8.73 9.69 10.33 10.50 10.73 10.89 11.08 11.08 11.08 11.41 11.41 11.43 11.43 11.64 11.64 11.64 11.64 11.83 11.83 11.90 suposição que “movimento local não pode ser percebido sensivelmente a não ser tanto quanto se percebe que um corpo esteja (em movimento) olhando-se simplesmente para outro corpo” (Oresme em Duham 1958). Oresme, ao desenvolver este argumento, cita o Livro IV do Perspective de Witelo (1250?-1275), segundo o qual só os movimentos relativos podem ser percebidos (ver Vitellonis ThuringoCuritiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 7 Figura 5 Diagrama esquemático da localização das estrelas conhecidas até uma distância de 12 anosluz. polomi Opticae libri decem, livro IV). Segundo Gram, Witelo teria desenvolvido esta visão a partir da Optica de Alhazen (965?-1039) (Livro II). 2. A Distância à Sirius No coração do Principia de Newton reside um profundo paradoxo. A gravidade é uma força e a gravidade universal é uma força universal, e uma força universal, pelo menos, deveria ser uma causa de movimento universal. É surpreendente que no Principia Newton nada diz sobre o paradoxo da existência de uma força causadora de movimento sobre um universo de estrelas “fixas”. No Principia o termo que Newton usa para as estrelas é fixa (de fixa stella), visto que perto de dois mil por Dr. Dietmar William Foryta anos de observações justificavam este termo. A atenção de Newton foi direcionada às questões cosmológicas somente após 1692, quando Richard Bently, teólogo, escreveu-lhe e perguntou-lhe sobre o Universo ser finito ou infinito. Ambos concordaram facilmente que o universo de estrelas não poderia ser finito por que as estrelas eram fixas, em repouso, e um sistema de estrelas finito em repouso sofreria sob influência da gravidade um rápido colapso. As estrelas seriam puxadas para o centro de um sistema finito. Caso o sistema fosse infinito não existiria um centro para o colapso. James Gregory, em 1668, publicou um pequeno trabalho de geometria contendo num breve 8 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 6 Outro diagrama esquemático da localização das estrelas conhecidas até uma distância de 20 anos-luz. apêndice um brilhante método para a determinação da distância aproximada das estrelas. O método baseava-se no princı́pio, cada vez mais aceito como certo, que o Sol é uma estrela que casualmente é a mais próxima, e que as estrelas e o Sol eram fisicamente similares. Segue-se assim, que o Sol e uma estrela, por exemplo Sirius, diferiam de brilho aparente pela suas distâncias até nós e que se o Sol estivesse tão longe quanto Sı́rius, este brilharia tanto quanto Sı́rius nos é visı́vel. Agora, se espaço entre nós e Sı́rius for completamente transparente, o brilho observado diminuiria com o quadrado da distância. Com isto basta medir a diferença de brilho para terCuritiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 9 Figura 7 A idéia dos ı́ndices de côr baseia-se no perfil de brilho de um dado corpo ser diferente a diferentes temperaturas. O pico de brilho desloca-se cada vez mais a esquerda, neste diagrama, indicando uma maior temperatura. A faixa visı́vel pelo olho humano vai de, aproximadamente, 400 nm a 700 nm. A diferença de altura nestas extremidades indicam o valor de temperatura. se uma idéia da distância à Sı́rius em Unidades Astronômicas, a da distância da Terra ao Sol. A dificuldade residia em determinar a diferença de brilho com as tecnologias disponı́veis na época. Gregory imaginou um método engenhoso para resolver esta dificuldade prática que foi aplicada por Newton em seu Sistema do Mundo concluindo que Sı́rius estaria a impressionante distância de um milhão de Unidades Astronômicas. Assim fica surpreendente que a primeira pessoa na história, Newton, que pode entrever as distâncias entre as estrelas, capaz de perceber que o estado de repouso das estrelas era compor Dr. Dietmar William Foryta pletamente inconclusivo, não tenha o feito. 3. A Paralaxe Estelar Uma dificuldade natural do “método” utilizado por Newton é o uso da hipótese de que Sı́rius teria o mesmo brilho que o Sol, o que, a priori, não será. Isto significa que a distância inferida pelo método não é confiável, apesar de refletir, de alguma maneira, o valor “verdadeiro”. A partir deste raciocı́nio percebe-se que há a necessidade de encontrar um outro método de determinação de distâncias. Outra grande objeção a construção de um modelo héliocentrico do sistema de planetas consistia na medida nula da paralaxe estelar. 10 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 8 Diagrama côr-magnitude para as estrelas próximas. Observe a distribuição estruturada das estrelas. Identifica-se facilmente 4 grupos principais: O mais numeroso nomeado como Sequência Principal, acima, os grupos das Gigantes e das Supergigantes e embaixo a esquerda as Anãs Brancas (mesmo que estas não sejam brancas). Como no modelo héliocentrico caracterizavase pelo movimento da Terra, este movimento colocaria um observador situado nela e posições diferentes quando observando as estrelas. Assim, dever-se-ia notar uma mudança no padrão das estrelas, este movimento estelar periódico chamava-se paralaxe estelar. Com uma estimativa de distância pode-se concluir, parcialmente, que mesmo possuindo um movimento devida a distância a paralaxe estelar seria muito pequena e, muito provavelmente, além da capacidade observacional. Assim, as estrelas pareceriam paradas. Podemos exemplificar a paralaxe estelar pelo passeio em meio a um arvoredo. A medida em que se passeia as arvores movem-se umas em relação às outras pela existência do movimento através das árvores. Imaginemos agora o movimento da Terra em torno do Sol e como estas estrelas mover-seiam supondo que este observador seja capaz de observar pequenos ângulos. Para efeitos de análise considere uma estrela “próxima” e diversas estrelas mais distantes. A medida em que a Terra percorre sua órbita, a estrela “próxima” descreve um caminho no céu que reflete a mudança do observador. A amplitude desta mudança pode ser medida na Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 11 Figura 9 Relação massa luminosidade que pode ser obtida pela análise de perı́odos orbitais em estrelas binárias. foma de um ângulo, como está esquematizado na figura 4. Tendo-se agora este ângulo e conhecendo-se a distância entre os dois pontos extremos da órbita terrestre, conhecemos então a distância a estrela “próxima”. . incluir tabela de estrelas mais próximas (nome, paralaxe e distância) Agora que conhecemos a distância por um método que não é baseado no brilho da própria estrela, poderemos saber qual é seu brilho, sua potência, e comparar com a potência do Sol. Uma vez feita tal tabela, objeto, potência e distância, podemos perceber que a hipótese de Gregory é somente aproximada e leva a um erro na determinação da distância. Vale muito salientar que a idéia de Gregory não deve ser rejeitada simplesmente por que ela não dá o valor “correto” da distância, por Dr. Dietmar William Foryta mas sim considera-la como extremamente útil, pois foi esta que permitiu a primeira estimativa de distância para alguma estrela. Claro que técnicas mais aprimoradas resultarão em valores “melhores”, todavia uma informação mesmo que aproximada é melhor do que nenhuma. 4. A Côr das Estrelas Quando observamos a Natureza devemos tentar observa-la muito mais além do que simplesmente o que nos é a primeira vista mais evidente. Muitas informações estão a disposição e não as percebemos. Isto mostra que não existe descoberta “por acidente”! Se o pensador não estiver preparado para descobrir, ela não descobrirá. Observando as estrelas da noite podemos perceber que as estrelas, além de possuirem bri- 12 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 10 Exemplo de espectro de um corpo, neste caso uma lâmpada fluorescente, evidênciando o significado da côr. lhos diversos, também possuem cores diversas. Interessante notar que não existem estrelas azuis tuquesa, lilases ou rosas... Qual a origem destas cores? Existiria um mecanismo que faça as estrelas terem as cores que tem? Considerando nosso Sol, sabemos que o Sol nos aquece. Vamos considerar como objeto de experimentação um corpo quente, por exemplo uma barra de ferro, como uma “análogo” ao Sol. Quando aquecemos um pouco a barra de ferro, podemos mesmo nos queimar sem perceber visualmente que a barra estava aquecida. Mas se a barra estiver “muito” aquecida, podere- mos perceber pelo seu brilho que a barra esta aquecida. A experiência nos diz que quanto mais aquecida estiver a barra mais brilhante esta estará. Assim poderemos correlacionar o brilho com a temperatura da barra. Vale notar que o brilho da barra tem colorações diferentes a diferentes temperaturas. Inicialmente vermelho escuro, avermelhado mais brilhante, passando para o laranja, amarelo e atingindo um branco amarelado. Analogamente, quando temos uma chama em um fogão, ela será avermelhada quando “for fria”, depois amarelada e, finalmente, azulada quando for “mais quente”. Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 13 1H 4 He 7 Li 12 C 14 N 16 O 20 Ne 23 Na 24 Mg 27 Al 28 Si 32 S 40 Ar 40 Ca 56 Fe 83 Kr 87 Sr 131 Xe 137 Ba Figura 11 Espectro de diversos elementos. . procurar figuras adequadas: corpo negro vermelho, amarelo e azul Podemos, então, definir um ı́ndice de cores que podemos associar a temperatura do corpo, quanto mais azulado, “mais quente” este corpo será. . exemplo de estrelas e temperatura . tabela com ı́ndices de cores e temperatura por Dr. Dietmar William Foryta 5. O Diagrama Côr-Magnitude Filho de peixe peixinho será, não poderá ser leão. Isto evidência a existência de um mecanismo que torna filho de peixe, peixe. Caso na Natureza encontremos “estruturas”, a estas estruturas deverão estar associados mecanismos que mantém estas estruturas. Por exemplo, se soltarmos um corpo este cairá. Por- 14 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 12 Espectro de diversas estrelas identificadas pelo código nimeado “classe espectral”. A classe espectral adiciona-se os sı́mbolos V e III para representar respectivamente, estrelas de sequência principal e do grupo das gigantes. Por exemplo observe as estrelas da classe K4 em ambos os diagramas. A diferença que fica evidente é a maior inclinação a esquerda e um perfil mais “plano” a direita presente no espectro das gigantes. Assim podemos identificar se a estrela pertence a classe das gigantes ou da sequêncioa principal. tanto existe alguma “coisa” que faz este corpo cair. Esta “coisa” chamamos de peso, a força da gravidade atuando sobre o corpo próximo a superfı́cie da Terra. Se existir um movimento desconhecido, por exemplo de um fio conduzindo corrente elétrica muito próximo a um ı́mã, o fio será, eventualmente, “puxado” para uma direção que não é vertical, então existe uma força, neste caso será uma força magnética. Existiria alguma estrutura nos valores numéricos das propriedades fı́sicas das estrelas que poderiam nos dar informações sobre o que são as estrelas? O que temos de propriedades fı́sicas que pertencem as estrelas? A distância até nós não pertencem as estrelas, mas sua temperatura e seu brilho sim. Façamos um diagrama correspondendo estes valores e vemos no que dará... . diagrama côr-magnitude Na figura (?) temos tal diagrama. Observe que os pontos representando as estrelas não Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas 15 Figura 13 Segundo a temperatura superficial da estrela, certos elementos são mais brilhantes do que outros. Assim podemos via espectro usar a intensidade relativa das linhas espectrais para confirmar a estimativa obtida pela técnica de ı́ndice de cores. estão distribuı́dos ao acaso, mas formando estruturas. Duas estruturas são mais evidêntes. Uma “grande” faixa diagonal que será chamada Sequência Principal, pois contém a maioria dos pontos, e um agrupamento, além de alguns pontos algo espalhados. Pelo momento não sabemos ainda qual deverá ser o mecanismo que assim distribui as estrelas, mas sabendo que ele existe poderemos (i) procurar qual a origem deste mecanismo, o por Dr. Dietmar William Foryta mescanismo ele próprio, e (ii) utilizar tal conhecimento e obter mais informações sobre as estrelas. Analisemos segundo a linha (ii) pelo momento. Considere uma linha vertical. Ela afirma que duas estrelas terão a mesma temperatura, assim, se há uma separação vertical, tendo portanto potencias diferentes, então as estrelas terão tamanhos diferentes. Quanto maior a potencia, maior o tamanho. Assim uma es- 16 Introdução à Astronomia e à Astrofı́sica Figura 14 Técnica da paralaxe espectroscópica baseia-se na idéia que a partir do conhecimento do espectro, saber temperatura e classe, podemos inferir qual deva ser a luminosidade da estrela observada. Nota-se que como as classes não são muito estreitas, isto implicará em uma determinação imprecisa do brilho absoluto, o que resultará em um determinação imprecisa da distância. trela do agrupamento que não seja a Sequência Principal, por estar acima desta, será muito maior do que uma estrela na Sequência Principal. Portanto daremos o nome ao agrupamento de estrelas, de Gigantes. Por oposição às Gigantes, teremos, as Estrelas Anãs. Considere uma linha horizontal. Ela afirma que dois pontos que estão sobre esta linha horizontal terão a mesma potência. Assim se a temperatura de cada estrela for diferente, portanto há uma distância horizontal, isto significa que o tamanho das estrelas serão diferentes. Então pontos a esquerda, no diagrama, serão imesamente menores, se as estrelas de sequência principal são chamadas Anãs, então o que é menor do que Anãs? Daremo-lhes o nome de Anãs Brancas, por serem muito quentes e portanto esbranquiçadas. 6. A Paralaxe Espectroscópica . acertar as figuras com os elementos quı́micos Observe que o uso do diagrama CôrMagnitude só é, a priori, utilizável para estrelas com distância conhecida. E o que faremos com aquelas estrelas que não sabemos a distância? Mesmo não sabendo a distância, pela sua côr poderemos identificar sua côr, i.e., sua temperatura superfı́cial. Então, basta seguir uma linha de temperatura e verificar qual seu brilho absoluto, pois as duas propriedades estão correlacionadas por algum mecanismo (mesmo que desconhecido). Todavia, através do ı́ndice de cores não poderemos saber se a estrela observada pertence a sequência principal ou ao grupo das gigantes. Como saber então como diferencia-las? Curitiba, 21 de Outubro de 2003 As Estrelas mais Próximas Analizando a luz que nos chega das estrelas podemos perceber que a luz é muito mais estruturada do que somente a nı́vel de cores como foi analizada anteriormente. Se abrirmos a luz com um prisma, ou com um dispersor mais eficiente, poderemos ver aquilo que chamamos de espectro da luz. Observando o espectro da luz de diversos objetos podemos perceber que algumas vezes temos cores mais brilhantes ou mais escuras do que outras vizinhas. A estes chamamos respectivamente, linhas de emissão e linhas de absorção. Observando as linhas de emissão e de absorção no espectro das estrelas podemos identificar se a mesma é uma gigante ou de sequência principal. Na figura (?) temos diversos exemplos de espectros, em particular podemos analisar a estrela de espectro K4, V para sequência principal e III para gigantes. Note que o perfil espectral no comprimentos de onda maiores é mais “plano” para as gigantes e o perfil em comprimentos de onda menores é mais inclinado nas gigantes. Sabendo, i.e., estimando o brilho da estrela poderemos determinar a distância pelo brilho observado. Claro que esta estimativa de distância tem um “grande erro”, pois no diagrama Côr-Magnitude, os agrupamentos da Sequência Principal e das Gigantes não é muito estreito, o que dá um erro na estimativa de brilho e portanto na distância. Mesmo assim, uma estimativa de distância é muito melhor do que nenhuma estimativa. 7. A Paralaxe Estatistica Quando observamos os céus percebemos que as estrelas não estão uniformemente dis- por Dr. Dietmar William Foryta 17 tribuı́das. Em particular podemos perceber alguns grupos que parecem mais compactos do que simples aproximações ao acaso. A estes grupos chamamos de Aglomerados de Estrelas. Note que estes Aglomerados não são simples associações casuais, pois o número de estrelas parece indicar que estas formam um grupo coeso, que não dispersa-se com o tempo, pois estão “unidas” de alguma forma. A partir da Lei da Gravitação Universal, podemos imaginar que estas estrelas estão unidas gravitacionalmente. Se estas formam um grupo, a distância entre as estrelas do grupo não poderá ser muito grande, e portanto todas as estrelas do grupo deverão estar aproximadamente a mesma distância. Estando a mesma distância, a queda no brilho destas estrelas será na mesma escala. Assim, teremos o equivalente do diagrama CôrMagnitude para o grupo, mas ao invés de termos o brilho “real”, teremos o brilho observado. Assim se “puxarmos” a sequência principal e sobrepusermos a sequência principal de um diagrama Côr-Magnitude com brilho “real” teremos então uma estimativa do brilho “real” destas estrelas, e portanto suas distâncias. Este método é mais poderoso do que o método de paralaxe espectroscópica pois a largura da banda de estrelas deverá ser correlacionada com a largura do outro diagrama minimizando o erro vertical na determinação de brilho.