INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM

Propaganda
1614
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM PRESCRIÇÕES
AMBULATORIAIS DE UM HOSPITAL ESPECIALIZADO DE FEIRA DE
SANTANA – BA
Zenaide Dourado Barreto Neta1; Kaio Vinicius Freitas de Andrade2
1. Graduanda em Farmácia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
[email protected]
2. Orientador, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana,
e-mail: [email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Interações medicamentosas, Prescrições de medicamentos,
Polimedicação.
INTRODUÇÃO
Interação medicamentosa é uma resposta farmacológica ou clínica a
administração de uma combinação de medicamentos, diferente dos efeitos de dois
agentes dados individualmente, onde o resultado final pode aumentar ou diminuir os
efeitos de um ou dos dois princípios ativos, ou pode promover o aparecimento de um
novo efeito que não ocorreu com um dos princípios ativos sozinho (ANVISA, 2002). As
interações medicamentosas podem acontecer entre princípio ativo-princípio ativo,
princípio ativo-alimentos, princípio ativo-exames laboratoriais e princípio ativosubstâncias químicas.
A polifarmácia, definida como o uso de vários medicamentos concomitante, é
um dos principais fatores de risco para ocorrência de interações medicamentosas e
reações adversas ao medicamento, merecendo, assim, uma atenção especial. Os
medicamentos são substâncias químicas que, quando interagem entre si e com
nutrientes ou agentes químicos ambientais, podem desencadear respostas indesejadas ou
iatrogênicas (Secoli, 2010).
O desenvolvimento da Psiquiatria e seu consequente refinamento diagnóstico
transformaram polifarmacoterapia não numa exceção, mas sim em regra no tratamento
dos transtornos mentais, especialmente quando resistentes à abordagem com um único
medicamento, bem como com a mudança do foco do tratamento por “tempo limitado”
de uma doença aguda, para doenças crônicas, de difícil resolução (Soares, 2004). Diante
disso, torna-se importante a o estudo das interações potencias em prescrições
ambulatoriais, para melhor conhecimento dos seus efeitos e consequências ocasionadas
ao paciente, no intuito de sugerir condutas que possam vir a prevenir ou minimizar a
ocorrência das interações detectadas, contribuindo para a prescrição racional de
psicofármacos no ambulatório de psiquiatria
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com delineamento transversal,
realizado no HELR, um hospital especializado em psiquiatria, localizado no município
de Feira de Santana, Bahia. Foram incluídas no estudo todas as prescrições
ambulatoriais aviadas durante o mês de novembro de 2011 (escolha aleatória),
localizadas no arquivo da farmácia ambulatorial do HELR.
1615
Os dados foram coletados através da transcrição das prescrições selecionadas
para uma ficha pré-estruturada. Este instrumento de coleta foi utilizado para a obtenção
de informações relativas aos medicamentos prescritos: nome genérico ou comercial,
concentração, posologia e via de administração.
Foi realizada uma busca de interações através de consulta à base de dados
Micromedex® e o Manual de Interações Medicamentosas (Bachmann, 2006). As
interações foram classificadas com base nos critérios de gravidade (contraindicada,
importante, moderada e irrelevante); mecanismo de ação (farmacocinéticas ou
farmacodinâmicas); velocidade em que a interação se manifesta (rápidas ou tardias) e
em relação ao conhecimento científico existente ao seu respeito. Os dados foram
processados e analisados com o auxílio dos programas estatísticos SPSS for Windows®,
versão 17.0 e Microsoft Excel® 2007.
RESULTADOS E/OU DISCUSSÃO
Durante o período selecionado, obteve-se um total de 1248 prescrições, das
quais foram selecionadas 62,7% (782) prescrições de psicofármacos, arquivadas na
farmácia ambulatorial do Hospital Especializado Lopes Rodrigues (HELR), que
atendiam aos critérios de inclusão no estudo (possuir no mínimo dois medicamentos
prescritos). Foram encontrados 23 fármacos distintos, totalizando 2258 medicamentos
prescritos, obtendo-se, assim, uma média de 2,9 medicamentos/prescrição. A
Organização Mundial de Saúde (1993) preconiza que a média de
medicamentos/prescrição deve estar compreendida na faixa de 1,3 a 2,2. Deste modo, o
resultado obtido no presente estudo está acima da média recomendada pela OMS, o que
aponta uma tendência à polimedicação ou polifarmácia.
Em relação aos fármacos prescritos, obteve-se maior frequência de prescrições
contendo haloperidol (17,1%), prometazina (16,2%), clorpromazina (14,7%) e
diazepam (14%) como mostra o Gráfico 1.
Gráfico 01 – Medicamentos mais frequentes nas prescrições ambulatoriais, Feira de
Santana, Bahia, nov. 2011. (N = 2153)
CLONAZEPAM
FLUOXETINA
AMITRIPTILINA
BIPERIDENO
FENOBARBITAL
CARBAMAZEP…
DIAZEPAM
CLORPROMAZ…
PROMETAZINA
HALOPERIDOL
0,0
1,6%
2,2%
4,1%
5,9%
7,4%
12,4%
14,0%
14,7%
16,2%
17,1%
5,0
10,0
15,0
20,0
Dentre os medicamentos prescritos, um percentual de 58,8% foram identificados
pelo principio ativo, conforme a Denominação Comum Brasileira (DCB). Vale destacar
que, no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS), os prescritores devem adotar
1616
obrigatoriamente a DCB ou, na sua ausência, a Denominação Comum Internacional
(DCI) para cumprimento de critérios legais, segundo a Lei nº 9.787/99.
Em relação às interações medicamentosas potencias encontrou-se um total de
1711 interações, obtendo uma média aproximada de 2 interações por prescrição. Entre
elas, as de maior ocorrência foram: haloperidol e prometazina (15,7%), clorpromazina e
prometazina (11,1%), clorpromazina e haloperidol (10,4%), diazepam e haloperidol
(7,5%) e carbamazepina e prometazina (6,0%) como mostra o Gráfico 2.
Gráfico 02 – Interações medicamentosas mais frequentes nas prescrições
ambulatoriais, Feira de Santana, Bahia, nov. 2011.
4,4%
Amitriptilina e Diazepam
5,3%
Diazepam e Fenobarbital
6,4%
Carbamazepina e Haloperidol
Carbamazepina e fenobarbital
6,8%
Carbamazepina e Diazepam
7,0%
8,3%
Carbamazepina e Prometazina
10,4%
Diazepam e Haloperidol
14,4%
Clorpromazina e Haloperidol
15,4%
Clorpromazina e Prometazina
21,8%
Haloperidol e Prometazina
Fonte: AUTORES, 2012.
As interações detectadas nas prescrições foram avaliadas, e classificadas
utilizando os critérios de gravidade, documentação, mecanismo e início de ação. O
Quadro 1 mostra a classificação das 10 interações mais frequentes nesse estudo.
Ressaltando que em 80% das interações a velocidade ainda não foi especificada, exceto
a amitriptilina e diazepam (ação rápida), e a carbamazepina e o haloperidol (atrasada).
Quadro 01 – Classificação das interações medicamentosas mais frequentes nas
prescrições ambulatoriais, Feira de Santana, Bahia, nov. 2011
Interações
Classificação
Gravidade Documentação Mecanismo
Amitriptilina e Diazepam
Moderada
Boa
Farmacodinâmico
Carbamazepina e Diazepam
Moderada
Boa
Farmacocinético
Carbamazepina e Fenobarbital
Moderada
Razoável
Farmacocinético
Carbamazepina e Haloperidol
Moderada
Boa
Farmacocinético
Carbamazepina e Prometazina
Moderada
Razoável
Farmacocinético
1617
Clorpromazina e Haloperidol
Importante
Razoável
Farmacodinâmico
Clorpromazina e Prometazina
Importante
Razoável
Farmacodinâmico
Diazepam e Fenobarbital
Importante
Boa
Farmacodinâmico
Diazepam e Haloperidol
Moderada
Razoável
Farmacocinético
Haloperidol e Prometazina
Importante
Razoável
Farmacodinâmico
Dentre as condutas sugeridas na literatura consultada para as possíveis
interações encontradas no presente estudo, destacaram-se como mais importantes:
monitorização do paciente, ajuste da dose, troca ou suspensão de um dos medicamentos.
Observou-se, ainda, que o reconhecimento dos efeitos benéficos e a
identificação e prevenção das interações medicamentosas adversas exigem um
conhecimento extenso dos efeitos almejados e possíveis dos fármacos prescritos. O
processo de identificação e classificação das interações medicamentosas, bem como o
conhecimento do manejo clínico adequado, ou seja, os procedimentos necessários para
minimizar os efeitos ou até mesmo evitar a ocorrência de interações são de fundamental
importância para os profissionais de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste estudo, foi possível evidenciar que interações potenciais entre
fármacos referem-se às possibilidades de modificação nos efeitos farmacológicos de um
ou ambos, administrados concomitantemente, podendo ocasionar a redução,
intensificação da resposta ou ainda o surgimento de um novo efeito, não observado
quando os fármacos são empregados isoladamente.
Por este motivo, é imprescindível que se faça uma avaliação contínua e precisa
das prescrições de medicamentos na prática clínica e por meio de estudos científicos,
visando à identificação e análise da relação risco/benefício de interações
medicamentosas potenciais e reais. A participação ativa do farmacêutico junto às
equipes multiprofissionais pode diminuir a incidência de interações medicamentosas
indesejáveis na prática clínica
REFERÊCIAS
ANVISA. 2012. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 2002. Disponível em: <
http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/CP/CP%5B2723-1-0%5D.PDF>.Acesso em 13
ago. 2012.
BACHMANN, K. A. 2006. Interações medicamentosas. 2. ed. São Paulo: Manole.
BRASIL, Ministério da Saúde. Resolução nº 196 de 1996 do Conselho Nacional de
Saúde. Dispõe sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo
seres humanos. Diário Oficial da União, 10 de out. 1996.
SECOLI, R. S. 2010. Polifarmácia: interações e reações adversas no uso de
medicamentos por idosos. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n. 1, p.
136-140.
SOARES, O. T. 2012. Interações Medicamentosas em Psiquiatria. Faculdade de
Medicina de São Paulo, 2004. Disponível em: <www//http://ipqhc.org.br/pdfs/Psico.pdf
> Acesso: 14 jan. 2012.
Download