XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. DETERMINAÇÃO DOS CONSTITUINTES MINERALÓGICOS DE GLEISSOLOS TIOMÓRFICOS CULTIVADOS COM CANA-DEAÇÚCAR NA REGIÃO LITORÂNEA DO ESTADO DO ESTADO DE PERNAMBUCO Elis Regina Guimarães Câmara1, Janyelle de Oliveira Lemos2, Eloise Mello Viana3, Valdomiro Severino de Sousa Júnior4 Introdução Solos com condições de tiomorfismo sofrem processos pedogenéticos de transformação, que estão associadas com reações de oxirredução, representados pelos processos pedogenéticos específicos de sulfidização e sulfurização (Fanning e Fanning, 1989). Solos sobre essas condições são conhecidos como solos tiomórficos ou solos ácidos sulfatados e ocupam uma área mundial de aproximadamente 17.000.000 de hectares. Solos com essas características se localizam principalmente em áreas costeiras que receberam ou recebem influência marinha, onde há presença de matérias orgânica em abundância e o acréscimo constante de sulfato proveniente da água do mar, que são responsáveis por estimular a atividade de bactérias redutoras de sulfato para produzir sulfetos (Bigham & Nordstrom, 2000). Estudos recentes com solos tiomórficos em ambientes de manguezais, ecossistema associado às várzeas litorâneas, identificaram uma assembléia mineralógica bastante diversificada e com indicativos de ambiente geoquímico bastante complexo. Contudo, o entendimento da assembléia mineralógica nos permite compreender as condições físico-químicas que ocorrem no ambiente do solo, auxiliando na compreensão dos processos pedogenéticos predominantes (Velde & Church, 1999; Ku & Walter, 2003), bem como no entendimento das relações desses minerais com metais ou outros poluentes que ocorrem no solo (Caliani et al., 1997; Preda & Cox, 2002). Material e métodos A. Local do estudo e coleta das amostras: Os solos contemplados neste estudo foram provenientes das várzeas do rio Goiana (Perfil 1), do rio Ipojuca (Perfis 2, 3 e 4) e do rio Sirinhaém (Perfis 5, 6 e 7), em áreas pertencentes à Usina Nossa Senhora das Maravilhas, Usina Salgado e Usina Trapiche, respectivamente. Os perfis foram descritos segundo o manual de descrição e coleta de solo no campo (Santos et al., 2005) e os solos foram classificados segundo critérios estabelecidos pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 2006). B. Análise Mineralógica As análises mineralógicas foram realizadas nas frações: areia grossa, areia fina, silte e argila. A fração areia, silte e argila na forma de pó não orientado foram previamente trituradas em almofariz de ágata, a amostra de areia foi colocada em porta-amostras de inox, após leve pressão da amostra sobre papel não liso, de forma a minimizar a orientação preferencial das partículas, em seguida foram irradiadas no intervalo de 5º a 70º 2Ө e velocidade de 1º2Ө/minuto. Para a caracterização de filossilicatos nas amostras da fração argila submetida aos pré-tratamentos supracitados foram saturadas com KCl e analisadas sob temperatura ambiente e aquecidas a 550°C. As amostras também foram saturadas por MgCl2 e, posteriormente, solvatadas com glicerol. Os minerais foram caracterizados qualitativamente por difratometria de raios X (DRX), empregando-se o difratômetro de raios X da marca (Shimadzu XRD 6000) pertencente ao Departamento de Agronomia no campus universitário de Dois Irmãos da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife – PE. Resultados e Discussão A. Fração Areia (areia fina e areia grossa) Os minerais identificados nos difratogramas de raios-X da fração areia fina e grossa foram os minerais primários: como quartzo e feldspato e minerais secundários como, caulinita e mica. Na fração areia (fina e grossa) o mineral predominante, foi o quartzo. Segundo Bêrredo et al., (2008), relataram que o quartzo é o mineral mais comum encontrado nos sedimentos, presente nas frações areia e silte e em fases subcristalinas, como por exemplo a sílica 1 Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Curso de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/nº, CEP 52171-900, e-mail: [email protected]. Aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal Rural de Pernambuco- UFRPE; 3 Pós Doutoranda – PNPD/CAPES – Universidade Federal Rural de Pernambuco- UFRPE. 4 Professor Adjunto – Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da Universidade Federal Rural de Pernambuco- UFRPE 2 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. biogênica que constitui a carapaça das diatomáceas (grupo dos protistas) nos manguezais. Nos perfis 2 e 3 (Figura 1), classificados como Gleissolos Tiomórficos, ocorre a presença do feldspato na fração areia, de acordo com Mendonça (2011), a presença de feldspatos na fração areia está associada a reserva mineral que é uma fonte de potássio para as plantas e em solos tiomórficos, isso ocorre devido a oxidação de sulfeto e geração de acidez, o que contribui para a formação de jarosita. B. Fração Silte Nos perfis 2 e 3 (Figura 2), foram identificados os minerais quartzo, mica, feldspato e caulinita. As frações areia e silte apresentaram assembléia mineralógica semelhante. Em ambas as frações a caulinita foi identificada, mesmo sendo um mineral secundário comumente pode ser encontrado na fração argila, possivelmente a ocorrência da caulinita pode estar relacionada com pequenos agregados de argila não eliminados no processo de dispersão, ou também a presença pode estar associada a pseudoamorfa originada de mica ou feldspato (Kretzschmar et al., 1997; Jolicoeur et al., 2000). B. Fração Argila Os minerais da fração argila dos perfis foram identificados através de difratogramas de raios-X, sendo encontrados minerais como: ilita, caulinita, goethita e minerais do grupo esmectíticos (Figura 3). De acordo com Mendonça (2011), a presença de esmectitas provavelmente está associada a origem em processos autigênicos, isto é, minerais formados durante a sedimentação, condicionados pela drenagem deficiente ao longo desses perfis de solos, favorecendo a precipitação dos íons, na solução do solo, formando assim esmectitas. Já a presença de goethita nesses solos pode estar relacionada ao processo de oxirredução, onde há formação desses minerais a partir da precipitação de dos íons ferro em solução nos ambientes aerados juntamente à atividades biológicas. A fração argila foi submetida aos pré-tratamentos, com o objetivo de caracterizar os filossilicatos nas amostras, onde foram identificados através de difratogramas de raios-X os minerais como: esmectitas, caulinita e ilita. Nas amostras de argila dos perfis 1, 3 e 5 foi realizado o teste de Greene Kelly. Foram identificados minerais esmectíticos, beidelita/nontronita e montmorilonita, corroborando com estudos feitos por Souza (2010), em seu trabalho ao longo do litoral do Estado de São Paulo que identificou o predomínio de nontronita em solos de manguezais, classificados como Gleissolos e Organossolos, ambos Tiomórficos. Agradecimentos Ao CNPq pela concessão da bolsa. Referências BÊRRETO, J.F.; COSTA, M. L.; VILHENA, M. P. S. P.; SANTOS, J.T. Mineralogia e geoquímica de sedimentos de manguezais da costa amazônica: o exemplo do estuário do rio Marapanim (Pará). Revista Brasileira de Geociências, v. 38, p.26 -37. 2008. BIGHAM, J.M.; NORDSTROM, D.K. Iron and aluminum hydroxysulfates from acid sulfate waters: Reviews in Mineralogy and Geochemistry, v. 40, p. 351-403, 2000. CALIANI, J.C.F.; MUÑOZ, F.R.; GALÁN, E. Clay mineral and heavy metal distributions in the lower estuary of Huelva and adjacent Atlantic shelf, SW Spain. 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Dissertação (Mestrado em Ciência do Solo) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2011. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. PREDA, M.; COX, M.E. Trace metal occurrence and distribution in sediments and mangroves, Pumicestone region, southeast Queensland, Australia. Environment International, New York, v.28, p. 433– 449, 2002. SOUZA-JÚNIOR, V. S.; VIDAL-TORRADO, P.; GARCIA-GONZALÉZ, M. T.; MACIAS, F.; OTERO, X. L. Esmectitas em solos de mangue no Estado de São Paulo. Scientia Agrícola. v. 67, p. 47-52, 2010. VELDE, B.; CHURCH, T. Rapid clay transformations in Delaware salt marshes. Applied Geochemistry, Oxford, v. 14, p. 559-568, 1999. Figura 1. DRX das frações areia grossa e areia fina dos perfis 2 e 3 (Gleissolos Tiomórficos). Q (Quartzo); Fd (Feldspato); M (Mica); Ct (Caulinita). Figura 12. DRX da fração silte dos perfis 2 e 3 (Gleissolos Tiomórficos). Q (Quartzo); M (Mica); Fd (Feldspato); Ct (Caulinita). Figura 3. DRX da fração argila natural dos perfis 2 e 3 (Gleissolos Tiomórficos). I (Ilita); Es (Esmectita); Ct (Caulinita); Gt (Goethita).