lOMoARcPSD|11961386 Resumo exame (10ºano) Português (Ensino Secundário (Portugal)) A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Poesia trovadoresca 1. Contextualização histórico-literária Poesia trovadoresca é a designação dada ao conjunto de composições poéticas medievais que eram destinadas a serem cantadas e que foram produzidas por poetas que, para alem de comporem poemas (cantigas), tocavam e cantavam sendo por isso trovadores. Esses trovadores eram normalmente nobres e dedicavam-se a compor e cantar poemas apenas por prazer. A poesia trovadoresca apareceu durante a Idade média (de meados do século XII a meados do seculo XIV). Clero → cultura monástica; Nobreza e povo → cultura profana. 2. Representação de afetos e emoções A poesia trovadoresca reflete, de forma de trabalhada e representa vivências do seu tempo de forma subjetiva, pois tem por base os sentimentos e as emoções. Um dos temas predominantes é o amor. →Cantiga de amigo – apresenta uma voz feminina (donzela), os sentimentos por ela vividos relativamente a um amigo que pode estar longe, ausente (por sua vontade ou guerra/viagem), levando-a a manifestar saudade, tristeza, mágoa, angústia etc. O sentimento que tem pelo amigo também pode expressar nela alegria, sensualidade, confiança. A donzela normalmente revela o que sente à sua mãe, às amigas ou mesmo à Natureza, tornando-se assim, todas confidentes desse amor, ou silenciosas ou respondendo aos seus anseios e duvidas da donzela. A ligação à Natureza e sendo ela uma personagem de confiança, dão a este tipo de cantiga uma espontaneidade e naturalidade próprias. →Cantigas de amor – apresenta uma voz masculina e o sentimento vivido por homem que se coloca ao serviço da mulher, normalmente, casada. A dama reflete-se distante fria ou até indiferente que a torna superior ao poeta, o que lhe presta um serviço de vassalagem seguindo o código de amor cortês. O sujeito masculino vive numa paixão infeliz (coita de amor) porque não pode ser concretizada. Nestes poemas encontramse emoções que refletem o seu sofrimento de amor, como a dor, a angústia, o desespero, a loucura ou a própria morte. O amador pode louvar também a sua amada, a sua senhor, e traça todo um retrato idealizado da mesma, realçando as suas características físicas (cabelo, pele…) ou características morais (bom senso, bem falar…). Para prestar um bom serviço, o poeta nunca menciona a donzela mantendo o respeito por ela. →Cantigas de escárnio e maldizer – os trovadores e jograis sentiram também necessidade de apontar o dedo a algumas figuras da sociedade, como situações ou comportamento, e fizeram-no de forma direta usando linguagem satírica, por vezes violenta- cantigas de maldizer. As cantigas de escárnio são mais indiretas, não referindo especificamente quem era o alvo e recorrendo a uma linguagem de trocadilhos e irónica. Este tipo de cantigas tem uma intenção critica, moralizadora e cómica, dando assim um retrato mais completo da sociedade daqueles tempos. 3. ▪ ▪ ▪ Espaços, protagonistas e circunstância Cantiga de amigo – Ambiente doméstico e familiar, marcadamente feminino (donzela ou meninas e as amigas, ou a mãe e a filha); ambiente coletivo (romaria, santuário) ou rural (campo, rio, mar); origem autóctone, resultando da tradição lírica já existente na região. Cantiga de amor – Ambiente aristocrático (rei, nobres, senhores); palácio ou corte; ambiente marcado por um código e por convenções (amor cortês); cantigas importadas em particular da zona de Provença. Cantiga de escárnio e maldizer – Ambiente palaciano e de corte. 4. Linguagem, estilo e estrutura → As cantigas de amigo caracterizam se por uma estrutura rítmica e estrófica muito próxima de uma musica. Como tal, podem acontecer dois processos (em simultâneo ou isolados) : o refrãorepetição de um ou mais versos no final de cada estrofe- e o paralelismo. Estão presentes também recursos expressivos como a personificação, comparação ou apostrofe. As cantigas de amor podem ou não recorrer a um refrão e normalmente são utilizados recursos expressivos como a adjetivação, a hipérbole ou a comparação. Nas cantigas de maldizer e escárnio é muito recorrente utilizar a sátira e o cómico recorrendo também, como recurso expressivo, a ironia Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Analise de algumas cantigas: Características temáticas : ▪ 1. Ondas do Mar de Vigo Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! E ai, Deus!, se verrá cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! E ai Deus!, se verrá cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro! E ai Deus!, se verrá cedo! Se vistes meu amado, por que hei gran cuidado! E ai Deus!, se verrá cedo! ▪ ▪ ▪ ▪ Nesta cantiga, a amiga dirige-se às ondas do mar (apostrofe), querendo saber noticias novas do seu amigo. A natureza torna-se confidente (personificação) mas o mar não responde (símbolo de distância e do perigo “mar levado”) As ondas simbolizam a inquietação e o estado de espirito da menina. Esta confidência ao mar é acentuada pela súplica que a menina faz a Deus (“e ai Deus, se verrá cedo”- apostrofe) Por sua vez , o apelo a Deus « traduz um sentimento de grande expectativa pelo regresso do amigo. Marcas das cantigas de amigo: ▪ ▪ ▪ ▪ O sujeito poético é uma donzela que deseja saber noticias sobre o seu amigo ausente e distante. A natureza é confidente da menina e é às ondas que a donzela questiona pelo amado. O cenário é primitivo e singelo – o mar. A simplicidade da cantiga é evidente na sua estrutura (refrão e paralelismo) e também no tipo de rima. 2. Cantigas de amigo Ai eu, coitada, como vivo en gran cuidado por meu amigo, que hei alongado! Muito me tarda o meu amigo na Guarda! Ai eu, coitada, como vivo en gran desejo por meu amigo, que tarda e non vejo! Muito me tarda o meu amigo na Guarda Caracteristicas temáticas : ▪ ▪ ▪ ▪ A donzela revela o seu sofrimento, a sua coita (desgraça), e preocupação pelo amigo que está afastado e que se demora na Guarda. A donzela revela na segunda estrofe, que a saudade torna-se em grande desejo de o ver. A interjeição “Aí” confere um tom de confidência que acentua a dor da ausência. O excesso de (!) contribui para acentuar a sentimentalidade já expressada. Marcas de cantiga de amigo: ▪ ▪ ▪ Voz feminina; Sentimentalidade espontânea e natural – expressão da saudade pelo amigo que tarda. Estrutura simples e repetida (paralelismo e refrão) que remete para um caracter tradicional (autóctone). 3. Bailemos nós ja todas tres, ai amigas, so aquestas avelaneiras frolidas e quen for velida, como nós, velidas, se amigo amar, so aquestas avelaneiras frolidas verrá bailar. Bailemos nós ja todas tres, ai irmanas, so aqueste ramo destas avelanas e quen for louçana, como nós, louçanas se amig'amar, so aqueste ramo destas avelanas verrá bailar. Caracteristicas temáticas: ▪ ▪ ▪ ▪ Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos, so aqueste ramo frolido bailemos e quen ben parecer, como nós parecemos, se amig'amar, so aqueste ramo so'l que nós bailemos verrá bailar. Marcas das cantigas de amigo: Uma donzela enamorada, alegre e feliz, confiante na sua beleza e na das suas amigas, certa na sua capacidade de sedução, mostra-se ansiosa por ir bailar e faz o convite às amigas. Esse convite é alargado a outras donzelas desde que sejam igualmente formosas e belas, desde que estejam apaixonadas. As donzelas, sendo as destinatárias do convite são as suas confidentes. Todas bailam, envolvidas na Natureza, que com elas partilha a alegria do despertar do amor. -Voz feminina faz convite a outras donzelas, que também são suas confidentes. -Autoelogio às mulheres -Empatia com a Natureza que está em consonância com os sentimentos de felicidade, amor e sedução da menina. -O refrão e o paralelismo ajudam a criar um ritmo e uma cadência, reforçando a mensagem e contribuindo para o caracter musical da cantiga. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Proençaes soen mui ben trobar e dizen eles que é con amor; mais os que troban no tempo da frol e non en outro, sei eu ben que non an tan gran coita no seu coraçon qual m'eu por mha senhor vejo levar. Caracteristicas temáticas: ▪ ▪ Pero que troban e saben loar sas senhores o mais e o melhor que eles poden, soõ sabedor que os que troban quand'a frol sazon á, e non ante, se Deus mi perdon, non an tal coita qual eu ei sen par. ▪ ▪ Ca os que troban e que s'alegrar van eno tempo que ten a color a frol consigu', e, tanto que se for aquel tempo, logu'en trobar razon non an, non viven [en] qual perdiçon oj'eu vivo, que pois m'á-de matar. 4. Ai, dona fea! Foste-vos queixar que vos nunca louv'en meu trobar; mas ora quero fazer um cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai, dona fea! Se Deus me pardon! pois avedes [a] tan gran coraçon que vos eu loe, en esta razon vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bon cantar farei, en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia! O tema desta cantiga é a coita do amor, ou seja, a morte por amor. O trovador compara o seu amor com o dos provençais. Embora os provençais saibam trovar, só trovam na primavera (“tempo da flor”) e fora desse tempo não. Logo, o trovador critica e distancia-se dos poetas provençais. O sofrimento do interprete é verdadeiro em oposição ao convencionalismo provençal. Esta cantiga também pode funcionar como uma arte poética na arte de trovar: a poesia convencional (a dos provençais) e uma poética autêntica assente na coita de amor profunda (a do trovador). Marcas das cantigas de amor: ▪ ▪ ▪ O sujeito poético é masculino – um trovador. Coita do amor associadas ao amor cortês. Relação direta entre a senhor e o sofrimento do poeta. Caracteristicas temáticas: - É uma cantiga de escárnio pois critica de forma indireta (sem referir o nome) a atitude, o comportamento de uma dona que quer ser louvada, apesar de não possuir atributos para tal de tão “fea, velha e sandia”. - Nesta cantiga também é uma paródia ao amor cortês pois é uma imitação de uma cantiga de amor com um propósito cómico e irónico. - A ironia é comprovada ao longo da cantiga: - a dona queixou-se de não ser louvada e manifestou grande desejo em sê-lo e o poeta parece aceder-lhe esse desejo; -apesar de o sujeito poético louvar a dona, não o faz da maneira que esta pretendia, uma vez que o louvor é repetido no refrão “fea, velha e sandia” o que prova a ironia; - O refrão assinala, assim o efeito cómico que se cria ao elogiar-se não uma dona bela, jovem e com bom senso habitualmente retratada nas cantigas de amor, mas antes uma mulher cuja imagem é extremamente negativa. Marcas de cantigas de escárnio: • • A critica ao objeto de louvor evitando-se a identificação direta, apontando a sátira. Está presente uma linguagem rude que identifica uma poesia satírica. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 5. Roi Queimado morreu con amor en seus cantares, par Sancta Maria, por ũa dona que gran ben queria: e, por se meter por mais trobador, porque lhe ela non quis ben fazer, feze-s'el en seus cantares morrer, mais resurgiu depois ao tercer dia! Esto fez el por ũa sa senhor que quer gran ben, e mais vos en diria: por que cuida que faz i maestria, enos cantares que faz, á sabor de morrer i e des i d'ar viver; esto faz el que x'o pode fazer, mais outr'omem per ren' nono faria. E non á já de sa morte pavor, senon sa morte mais la temeria, mais sabe ben, per sa sabedoria, que viverá, des quando morto for, e faz-[s'] en seu cantar morte prender, des i ar vive: vedes que poder que lhi Deus deu, mais que non cuidaria. Características temáticas: ▪ ▪ ▪ ▪ ▪ Critica direta e explicita a um poeta “Roi Queimado” que por causa do amor por uma dona, anunciava a sua morte, embora continuasse a viver – cantiga de maldizer que critica o ridículo deste poeta em particular. Critica mordaz e irónica à morte de amor tão convencional das cantigas de amor: - Roi Queimado afirmou nas suas cantigas que estava apaixonado por uma dona e que por ela morreu de amor; - fez tudo isto para provar que era um trovador com grandes qualidades; - no entanto “ressuscitou” no terceiro dia da sua morte causada pelo amor. Recurso à ironia para satirizar o poder que o Roi Queimado parece ter – morrer para depois viver outra vez fazendo alusão à ressurreição de Jesus, dizendo mesmo, no fim da cantiga que desejava ter esse poder. Os dotes do Roi Queimado para a poesia, são igualmente criticadas. Esta cantiga demonstra o artificialismo dos trovadores (pouco natural e fingido) e do quão comum existe amor cortês. E, se mi Deus a mim desse poder qual oj'el á, pois morrer, de viver, já mais morte nunca temeria. Marcas de cantigas de maldizer: • • Voz masculina que manifesta a sua posição critica perante o comportamento ridículo de um poeta especifico. Efeito comico nas antíteses “morrer”/”viver” e da ironia. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Fernão Lopes, Crónica de D. João I 1. Contextualização histórico: A crónica de D. João I é, na realidade, uma legitimação da nova dinastia, a dinastia de Avis, iniciada após um período conturbado entre dois reinos na monarquia portuguesa que vai de 1383 a 1385 (crise politica). Esta crónica é considerada a crónica medieval mais importante, quer pelos acontecimentos que relata, quer pela qualidade literária da sua prosa. Foi publicada pela primeira vez em Lisboa a 1644 e está dividida em duas partes: → a 1ª ocupa-se no espaço e no tempo desde a morte de D. Fernando até à eleição de D. João I; → a 2ª relata o reinado deste monarca até à paz com Castela em 1411. 1.1 Pequeno resumo da obra: É no prólogo da Crónica de D. João I que o cronista expõe o seu objetivo e método de historiar inovador. O seu desejo é "em esta obra escrever verdade sem outra mistura", para o que faz concorrer toda a gama de documentos possível, desde narrativas a documentos oficiais, confrontando-os entre si para assegurar a veracidade dos registos existentes. Ao mesmo tempo, esta crónica estabelece, de certa forma, o ponto de chegada das duas crónicas precedentes, na medida em que estas preparam os acontecimentos que culminam com a sublevação popular e consequentemente, com a entronização de D. João I. A primeira parte da crónica descreve a insurreição de Lisboa na narração célere dos episódios quase simultâneos do assassinato do conde Andeiro, do alvoroço da multidão que acorre a defender o Mestre e da morte do bispo de Lisboa. Ao longo dos capítulos, fundamenta-se a legitimidade da eleição do Mestre, consumada nas cortes de Coimbra, na sequência da argumentação do doutor João das Regras, enquanto desfecho inevitável imposto pela vontade da população. Nesta primeira parte, o talento do cronista na animação de retratos individuais, como os de D. Leonor Teles ou D. João I, excede-se na composição de uma personagem coletiva, o povo, verdadeiro protagonista que influi sobre o devir dos acontecimentos históricos. Na segunda parte, o ritmo narrativo diminui, tratando-se agora de reconhecer o rei saído das cortes, e é de novo pela ação do povo que a glorificação do monarca é transmitida, como, por exemplo, no modo como o acolhe a cidade do Porto. Um outro momento de maior relevo é consagrado, nesta parte, à narrativa da Batalha de Aljubarrota, embora aí não ecoe o mesmo tom de exaltação com que, na primeira parte, colocara em cena o movimento da massa popular. 2. Afirmação da consciência coletiva: A crónica de D. João I constitui uma afirmação da consciência coletiva, no sentido em que o verdadeiro herói que povoa na obra não é um herói individual como habitual (não é um cavaleiro, um nobre…) mas sim um herói coletivo – o POVO. Fernão Lopes mostram-nos com imenso realismo, vivacidade, pormenor descritivo e emotividade o povo que se revolta, que irrompe as ruas de Lisboa à procura do Mestre, que defende a cidade contra os castelhanos, que passa fome e privações por causa do cerco. A voz do povo, o sentir dos homens e das mulheres, dos mesteirais, dos homens-bons, é muitas vezes transmitida através de uma voz anonima e da multidão. Outras vezes é a própria cidade que parece revelar essa consciência do todo, assumindo quase o estatuto de uma personagem coletiva. O povo manifesta o seu patriotismo e o seu apoio ao Mestre. O povo é o verdadeiro herói da revolução e da crónica de Fernão Lopes. 3. Atores individuais e coletivos: ▪ ▪ Atores coletivos: as gentes de Lisboa, quer como uma massa, uma coletividade, quer como grupos sociais (ex: lavradores, homens-bons, as mulheres). Atores individuais: ✓ Mestre de Avis- é caracterizado como um homem vulgar, hesitante e vulnerável às fraquezas. É um homem receoso, no seguimento do assassinato do conde Andeiro. Apesar destes defeitos – que o tornam uma personagem profundamente realista –, D. João I mostra também ser capaz de atos espontâneos de solidariedade, o que o converte numa figura cativante. Líder “desfeito” mas também solidário com a população, durante o cerco de Lisboa. ✓ Álvaro Pais- o burguês que espalha pelas ruas de Lisboa que estão a matar o Mestre, influenciando o povo a correr a seu auxilio. ✓ D. Leonor Teles- a mulher que gera ódio na população e é apelidada de “aleivosa” (traidora). Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 5. Capítulos 11, 115 e 148 da 1ª parte ( + importantes) Uma das importâncias para Fernão Lopes era relatar a verdade objetiva e para isso o cronista não só recolhe e compila registos anteriores, como também pesquisa, confronta e recorre a documentos da Torre do Tombo, de cartórios etc… Falamos então de uma critica documental e histórica. ❖ Capitulo 11 (resumo): • • • • • • • • O pajem do Mestre de Avis grita pelas ruas, a caminho da casa de Álvaro Pais, que matam o Mestre nos paços da rainha, o que leva as gentes, em agitação, a saírem para a rua e a pegarem em armas; Álvaro Pais, que já estava preparado, dirige-se com o pajem e outros aliados para o paços, apelando à população para se junte e corra em auxilio de Mestre; Chegada às portas do paço, que estavam fechadas, a multidão mostra-se ansiosa e agitada, querendo entrar para confirmar que o Mestre está vivo; Aconselhado pelos que estavam consigo e atendendo ao alvoroço das pessoas, o Mestre aparece à janela para apaziguar os ânimos. Perante esta visão, a população manifesta um “gram prazer”. Sentindo-se seguro, o Mestre deixa os paços e cavalga pelas ruas em direção aos paços do Almirante, onde se encontrava o conde D. João Afonso, irmão da rainha. Pelo caminho, o Mestre contacta com a população, que se mostra aliviada, alegre e disponível. Próximo dos paços do Almirante, o Mestre é acolhido pelo conde, pelos funcionários da cidade e por outros fidalgos. Já à mesa, vêm dizer ao Mestre que as gentes da cidade querem matar o bispo. O Mestre faz tenções de o ir socorrer, mas é aconselhado a permanecer ali (o bispo é morto pela população) Tópico de analise: • O episódio narrado neste capítulo enquadra-se na sequência de eventos que levaram ao cerco da cidade de Lisboa, considerado um dos focos estruturadores da crónica. • Neste capitulo, Fernão Lopes relata como se deu a aclamação do Mestre, após o assassinato do conde Andeiro, as ações da população quando soube que o Mestre corria perigo e os seus sentimentos relativamente ao futuro monarca do país. • A população é, aliás, a protagonista deste episódio. Assemelhando-se a um repórter que assistiu ao desenrolar dos acontecimentos, Fernão Lopes transmite-nos as movimentações (“d’as gentes”) através de sensações auditivas e visuais. • Verifica-se uma concentração espacial (rua-paço-janela) que coincide com uma gradação e um ritmo crescentes das ações (ao apelo do pajem e de Álvaro Pais, segue-se o alvoroço da população, que se desloca para o paço e que aí mostra o seu estado de espírito – confusão, nervosismo) que culminam no clímax: o aparecimento do Mestre à janela. • Após a visão do Mestre, o ritmo narrativo diminui e o estado de espirito da população passa a ser de alegria, de satisfação e de alivio. • Os sentimentos do povo são ainda realçados através das próprias falas que tanto conferem uma totalidade realista e expressiva a todo o episódio como servem também para denegrir a imagem de Leonor Teles e para fazer a apologia do futuro monarca. • Entre a multidão (atores coletivos) destacam-se porém alguns atores individuais como: →Pajem do Mestre- já preparado, desencadeia toda a movimentação posterior; →Álvaro Pais- avisado pelo pajem, e também ele pronto, pegou no seu cavalo e, com os seus aliados foi até ao paço espalhando o alvoroço e influenciado o povo a correr em auxilio do Mestre. →Mestre de Avis- atua segundo o conselho dos que o rodeiam; de inicio, parece ter receio da multidão e depois, mostra-se à janela e sentindo-se seguro, abandona o palácio e percorre as ruas da cidade a cavalo até ao paço do Almirante. • Quanto ao narrador, detetamos a sua subjetividade e a sua simpatia pelo povo e a sua defesa do Mestre. Linguagem e estilo: • Visualismo e dinamismo: a movimentação e o sentir das massas são-nos apresentados de uma forma muito forte e real, não só através de recursos expressivos, como a comparação, como também através do apelo às sensações ou do uso de verbos de movimento. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 ❖ Capitulo 115 (resumo): • • • • • • • • Ao saberem da vinda do rei de castelo, o mestre e os habitantes de Lisboa começam a recolher mantimentos e muitos vão buscar gado morto para alimentação. As populações movimentam-se: muitos lavradores deslocam-se para ao pé das mulheres e dos filhos com tudo o que têm para dentro da cidade; outros vão para Setubal e Palmela; outros ficam em Lisboa e há quem permaneça em terras que apoiam os Castela. Começa-se por preparar a defesa da cidade: primeiro pensa-se na defesa a nivel das muralhas e das torres, tarefa que o mestre dá aos fidalgos e cidadãos honrados, que contam com a ajuda de homens de armasO mestre mostra preocupação em defender a cidade. As gentes estão em alerta e são cuidadosos. Depois, analisa-se a defesa das portas da cidade: quem vigia as várias portase que cuidados devem ter. Depois, na ribeira foram construidas estacas para impedir e dificultar a passagem dos castelhanos. Ainda sobre a defesa, há uma construção de um muro à volta das muralhas da cidade que com a ajuda das mulheres sem medo, apanham pedras pelas herdades e cantam cantigas a louvar Lisboa. O narrador salienta a coragem e a determinação dos portugueses que defendem a cidade ao mesmo tempo que construem uma muralha, comparando-os com os filhos de Israel. Todos pensavam em sintonia, num bem maior, o que leva o cronista a concluir o capitulo num tom elogioso. No final, Fernão Lopes, menciona a superioridade do rei de castela apenas para elogiar o povo português que defendeu a cidade de Lisboa perante um adversário feroz. Tópico de análise: • • • • • • O leitor começa, neste capitulo por presenciar: →a descrição da cidade de Lisboa (quando o rei de castela a cerca); →a preparação da defesa da cidade pelo Mestre de Avis com a ajuda da população; →o esforço, a valentia, a determinação que a gente de Lisboa mostrava. O cronista passa a relatar o que foi feito em relação aos mantimentos, mostrando depois a sua preocupação por defender a cidade. A informação sobre a defesa da cidade é bastante detalhada: fala-se dos muros, depois das torres, chegandose por fim às portas da cidade (há referencia por exemplo do numero de portas/ torres... e há termos associadas a “guerra”). Ao ir descrevendo a situação de defesa da cidade , vai também referindo os atores coletivos (grupos sociais) que participam. Os lavradores recolhem à cidade, pois a defesa da muralha ficou encarregue dos fidalgos e homens de armas. As mulheres também tiveram um papel importante de recolher pedras e cantando. A cantiga ilustra bem a solidariedade, o espirito de entreajuda, de patriotismo e de orgulho que reinava entre as gentes. Esta atitude é várias vezes elogiada pelo narrador . Há, assim, uma afirmaçao da consciência coletiva das gentes contra o inimigo pela defesa da cidade. O mestre (ator individual) também recebe elogios pelo seu comportamento digno de louvor, que merece uma caracterização favoravel destacando a sua determinação bem como todo o apoio dado ao povo. Linguagem e estilo: • • Registo coloquial- evidente nos apelos ao leitor e no uso da 2ª pessoa do plural (vós); a transcrição da cantiga, ao reproduzir uma linguagem popular e cheia de insinuações. Descrição viva e dinâmica - os preparativos da defesa são descritos minunciosamente recorrendo a promenores, a vocabulário técnico e a recursos expressivos, como a enumeração e a dejetivação. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 ❖ Capitulo 148 (resumo): • • • • • A cidade está cercada e os mantimentos começaram a falhar, por causa da quantidade de pessoas dentro das muralhas, o que leva a quem vá procurar comida fora do cerco correndo perigo. As esmolas escasseiam e não ha como socorrer os pobres. Começa se a estabelecer quem deve ser colocado fora da cerca: as pessoas miseráveis, os que não combatem, as prostitutas, os judeos...Inicialmente os castelhanos recolhiam todos mas após verem que tal ato se devia à fome, recusaram. Na cidade há carência de todos os elementos (milho, vinho, trigo). O preço dos produtos é elevado e por isso os habitos alimentares alteraram-se, levando pessoas a beberem agua até à morte ou mesmo procurar apenas graos de trigo na terra. A carne e os ovos são outros alimentos caros e escassos. As crianças não tem que comer e pedem pela cidade, mães já não têm leite para os filhos e veem-nos morrer. A cidade está agora num ambiente de tristeza, de pesar e de morte. As pessoas rezam. Circula um rumor de que o mestre vai expulsar todos os que não tem comida mas esse rumor é depois desmentido. O capitulo termina com um forte apelo ao leitor, representante da “geração que depois vem”, que não teve de enfrentar os sofrimentos descritos anteriormente. Tópico de analise: • • • • • Mais uma vez, o capitulo começa com uma interpelação ao leitor através da qual estabelece uma ponte com o capitulo anterior e se transmite uma ideia de continuidade e de ligação ao centro da narrativa, o cerco. O protagonismo do capitulo é dado às gentes de lisboa (ator coletivo), que vivem momentos atrozes por causa da fome que assola a cidade, devido ao grande numero de pessoas que nela se acolheram Num estilo vivo e emotivo, o cronista narra e descreve promenorizadamente, o sofrimento da população: a procura arriscada de trigo, à noite e em barcos; a falta de esmolas para socorrer os pobres; a expulsão de todos aqueles que não podiam combater, bem como os judeus e das prostitutas; a recusa dos castelhanos ao recolhimento dos que foram expulsos do cerco; a procura desesperada de algo para comer ou beber. O sofrimento é evidenciado através de promenores como o preço alto dos alimentos. Perante este cenário, o narrador mostra-se solidário e pretende sensibilizar os leitores. Por isso, dirige-lhes, repetidamente, perguntas retóricas carregadas de intensidade. O mestre de avis (ator individual) aparece-nos neste capitulo como o chefe que tem de tomar decisões, algumas dificeis até, a bem da comunidade como a expulsão dos inaptos. Por outro, mostra se solidário com as suas gentes. Linguagem e estilo • Rigor do pormenor- descrição detalhada e minunciosa dos que saiam à noite de barco e iam buscar trigo; informação precisa sobre o preço de alguns alimentos como o trigo, o milho, o vinho, a carne- recurso à enumeração. • Conjunção de planos – por um lado, é-nos dado um plano geral da cidade; por outro, são-nos apresentados planos de pormenor. • Coloquialismo – muito evidente nas interrogações retóricas e no uso do imeprativo. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente 1. Pequeno resumo: Inês Pereira é uma jovem solteira que sofre a pressão constante do casamento, e reclama da sorte por estar presa em casa, aos serviços domésticos, cansando-se deles. Imagina Inês casar-se com um homem que ao mesmo tempo seja alegre, bem-humorado, galante e que goste de dançar e cantar, o que já se percebe na primeira conversa que estabelece com sua mãe e Leonor Vaz. Essas duas têm uma visão mais prática do matrimônio: o que importa é que o marido cumpra suas obrigações financeiras, enquanto que Inês está apenas preocupada com o lado prazeroso, cortesão. O primeiro candidato, apresentado por Leonor Vaz, é Pero Marques, camponês de posses, o que satisfazia a idéia de marido na visão de sua mãe, mas era extremamente simplório, grosseirão, desajeitado, fatos que desagradam Inês. Por isso Pero Marques é descartado pela moça. Aceita então a proposta de dois judeus casamenteiros divertidíssimos, Latão e Vidal, que somente se interessam no dinheiro que o casamento arranjado pode lhes render, não dando importância ao bem-estar da moça. Então lhe apresentam Brás da Mata, um escudeiro, que mostra-se exatamente do jeito que Inês esperava, apesar das desconfianças de sua mãe. Eles se casam. No entanto, consumado o casamento, Brás, seu marido, mostra ser tirano, proibindo-a de tudo, até de ir à janela. Chegava a pregar as janelas para que Inês não olhasse para a rua. Proibia Inês de cantar dentro de casa, pois queria uma mulher obediente e discreta. Encarcerada em sua própria casa, Inês encontra sua desgraça. Mas a desventura dura pouco pois Brás torna-se cavaleiro e é chamado para a guerra, onde morre nas mãos de um mouro quando fugia de forma covarde. Viúva e mais experiente, fingindo tristeza pela morte do marido tirano, Inês aceita casar-se com Pero Marques, seu antigo pretendente. Aproveitando-se da ingenuidade de Pero, o trai descaradamente quando é procurada por um ermitão que tinha sido um antigo apaixonado seu. Marcam um encontro na ermida e Inês exige que Pero, seu marido, a leve ao encontro do ermitão. Ele obedece colocando-a montada em suas costas e levando Inês ao encontro do amante. Consuma-se assim o tema, que era um ditado popular de que "é melhor um asno que nos carregue do que um cavalo que nos derrube" 2. Personagens (caracteristicas e relações entre elas): Inês Pereira: esta personagem é a protagonista da farsa, pois a intriga desenvolve-se à volta do desejo de casar (para ter mais liberdade) e das escolhas que faz neste sentido. De ínicio, esta personagem feminina surge como alguém muito descontente com a vida que tem: Inês sente-se “cativa” da vida doméstica que leva e gostaria de ter a mesma vida que as outras jovens com uma vida mais folgada. Deste modo, representa um grupo social com uma forma es estar, de pensar e de agir muito tipica. Inês construi uma imagem idealizada do seu marido de sonho. A sua mãe, a alcoviteira Lianor Vaz tentam orientá-la mas Inês mostra-se decidida e irredutivel nas suas opinões. Inês acabará por aprender por sim e com os seus erros. Numa primeira fase, enganada pelo Escudeiro Brás de Mata pela aparência, inês opta pelo pretendente mais galante. Depressa apercebe-se da má escolha que fizera e arrepende-se. Constata-se uma mudança de atitude da protagonista que revela um plano futuro para se vingar do sucedido. Depois de ter sido enganada por Brás da Mata, Inês escolhe a personagem que representa o “asno”, o lavrador Pêro Marques. Mãe : uma mulher de pouca sorte, perspicaz, manifesta opiniões totalmente contraditórias das da filha relativamente ao casamento e ao marido que esta devia escolher. Analisando as suas falas, repletas de provérbios e as suas falas podemos dizer que a mãe é a voz do bom senso, da razão e também da expriência. A mãe quer ajudar a sua filha tanto que elogia-a ao saber da proposta da Alcoviteira. Por outro lado, dá conselhos a Inês sempre que um pretendente a vem visitar, o que mostra cuidado e preocupação. Outras vezes coloca perguntas à filha com fim a deixá-la reflirir e a ponderar melhor sobre o seu futuro, fazendo referência à necessidade de um futuro seguro. Inês não quer casar com um homem da sua classe social mas sim alguém da corte com um home que toque viola e que saiba falar bem. A mãe porém é mais realista e interessa-se pela condição económica do Lavrador. A partir do casamento com o escudeiro, a mãe não volta a aparecer, como se a sua missão já estivesse terminada e que agora “todo o mal” fosse responsabilidade da escolha que Inês fez. Lianor vaz: esta é uma personagem-tipo, uma alcoviteira, é uma mulher cujo oficio consistia em arranjar casamentos apresentando pretendentes. Assim dá a conher Pêro Maruqes a Inês e à sua mãe considerando-o “bom marido, rico, honrado conhecido”. Lianor Vaz partilha das mesmas opiniões da mãe quanto à escolha que Inês devia fazer. Porém, tal como a Mãe, a alcoviteira não consegue convencer inicialmente Inês a optar pelo lavrador e é só depois da morte do Escudeiro que Lianor Vaz aparece e aconselha-a novamente chamando a atenção para as vantagens económicas de tal união. Esta personagem denuncia o comportamento devasso do clero, através do encontro com o clérigo que a assedia, o que constitui uma critica social. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Pêro Maques: Retrato fiel do camponês, do homem rústico e simples, Pêro Marques é uma personagem-tipo e aparece como o primeiro pretendente, aquele que, apesar de todos os elogios da Alcoviteira, é desprezado por Inês Pereira. Inês não hesita em caracterizá-lo de uma forma bastante negativa e sarcástica, tecendo comentários insultuosos sobre ele (“parvo vilão”/”nunca vi tal coisa”/ “oh, Jesus!Que joão de bestas”). Esta caracterização direta (heterocaracterização) decorre das atitudes e comportamentos que Pêro Marquês teve com Inês mesmo ainda antes de a conhecer (por exemplo, a carta que lhe escreveu com uma linguagem demasiado básico). Quando é apresentando a inês, esta personagem tem uma situação cómica que se cria com Pêro Marques sem saber para que serve uma cadeira sentando-se ao contrário nela ou quando procura em vão as pêras no seu chapéu. Pêro Marques autocaracteriza-se como sendo um homem do bem, sério e decente. Para Inês estas qualidades não são de valorizar, antes pelo contrário (ridiculariza-o sem perceber que ele se sente desconfortavel por estar na mesma sala com apenas ela). Por fim, a imagem do camponês inocente, ingénuo e desajeitado fica completa no ultimo episódio da peça quando o vemos a transportar Inês, agora sua mulher, às costas, levando-as ao encontro do Ermitão. Pêro Marques encara então o papel de marido ingénuo e obdiente que é enganado pela mulher. Escudeiro Brás da Mata: Segundo pretendente de Inês Pereira que parece corresponder ao perfil desenhado por ela para seu marido. Após os vários elogios dos judeus, o Escudeito também ele é uma pesonagem-tipo que parece ser um homem encantador, hábil com as palavras e com os instrumentos musicais, mas na verdade é apenas um homem falso, arrogante, pelintra e prepotente. Judeus (Latão e Vidal): Desempenham um papel semelhante ao da Alcoviteira e têm por missão apresentar a Inês o Escudeiro. São personagens cómicas e recorrem a uma linguagem caricaturial como quando apresentam o Escudeiro a Inês num retrato exagerado. Pertencem a uma comunidade judaica, contribuindo para serem como personagens-tipo (na cerimónia de casamento executam rituais judaicos). São grananciosos pois concretizam o casamento e exigem logo a quantia de dinheiro devida. Funcionam como uma unica personagem porque tanto ao nivel do discurso como a nivel do comportamneto, ambos completam-se. Moço: Criado do Escudeiro, acompanha-o ao longo de toda a peça e é uma voz critica do amo. Leva uma vida dura de pobreza e é maltratado pelo amo. É fiel mesmo assim ao seu amo fazendo tudo o que lhe pede (como, por exemplo, o pedido do escudeiro para o moço vigiar inês) e contra a sua vontade, cumpre o pedido. 3. Ermitão: é um ermitão que é diferente dos ermitas e monges que viviam isolados para se dedicarem exclusivamente a Deus e que viviam da a fé e da a caridade das pessoas que os ajudavam e os alimentavam. Para este “Deus é Cupido”. Seduz Inês Pereira e representa a vida da liberdade que a moça pretendia levar, com a aprovação do próprio marido que não vê maldade em nada. Representa uma critica ao clero, à sua imoralidade e à sua corrupção. A representação do quotidiano: As farsas têm como caracteristica a representação da vida quotidiana e nesta podemos encontrar os hábitos, os costumes, as crenças e os modos de vida da época, em especial aos que diziam respeito: Ao casamento: o texto vicentino dá-nos a conhecer as ideias contrárias de Inês , da Mãe e de Lianor Vaz em relação ao casamento (a intervenção de uma alcoviteira e dos judeus, os encontros com os pretendentes, as regras, a festa de casamento e a vida a dois). Ao estatuto da mulher: (sobretudo a solteira). Os casamentos eram, grande parte das vezes, um negócio entre duas partes, sem que a mulher tivesse alguma participação na decisão. Neste caso, que é uma exceção a essa regra, apesar de haver na mesma intermediários entre ambos, a ultima palavra é de Inês que deseja uma vida sem ser de “cativeiro” e ascender socialmente, objetivo esse que não foi cumprido com o primeiro marido (o escudeiro). À vida doméstica: ao longo da farsa, acompanhamos a protagonista nas suas tarefas domésticas, assumindo uma postura da típica mulher que trata da casa. No seu monólogo inicial, Inês encontra-se a costurar em casa; depois, já casada, também costura fechada em casa. À vida palaciana: apesar da vida de aparências que existiam na corte e que está representada na figura do Escudeiro , muitos ambicionavam a sua ascendência social de modo a fazer parte desta classe (ex: Inês) À vida do campo: Uma vida simples, autêntica mas pouco considerada. Pêro Marques representa essa classe social em oposição à vida falsa da corte. Esta vida simples de trabalho garantia mais sustento que a vida dos fidalgos pelintras. À vida do clero: o encontro da alcoviteira com um membro do clero e o de Inês Pereira com um Ermitão devoto de cupido são exemplos que denunciam comportamentos imorais desta classe social. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 4. A dimensão satírica: Um dos objetivos do teatro de Gil vicente era denunciar, criticar e mostrar algumas mudanças que afetavam a sociedade, como por exemplo, o desejo de ascendência social, o adultério, a imoralidade do clero, entre outros. Estes comportamentos são denunciados através de personagens-tipo e da linguagem cómica. Nesta farsa reconehcemos alguns tipos: →a alcoviteira e os judeus (Lianor Vaz, Latão e Vidal)- figuras gananciosas que agem com um fim económico; →Pêro Marques- personagem rústica, serve para fazer rir a gente da corte com a sua ignorância e simplicidade. →o Escudeiro Brás da Mata- género de parasita, vadio, que imita os padrões da nobreza (ex: tocar guitarra, faz serenatas, fingese corajoso, mas é medroso e maltrata o moço). Não trabalha e passa fome. →o Ermitão- há uma conformidade entre os atos e os ideias pois invés de procurar renunciar o mudo e a pobreza, busca a riqueza e os prazeres que não estão ligados à religião. 4.1. O cómico → utilizado para críticar os costumes da época. a) Cómico de caracter: assenta na personalidade e no modo de ser da personagem. Pêro Marques e o escudeiro mostram que são personagem cómicas. O primeiro é o retrato fiel do provinciano desajeitado e desconhecedor das convenções sociais; já o segundo estava arruinado e era cobarde, embora aparentasse ser rico e elegante. Pêro Marques, quando visita Inês pela priemira vez revela imediatamente o seu lado cómico (ex: não sabe para que serve a cadeira e ao sentar-se coloca-se de costas para as outras personagens, invés de presentes elegantes, traz peras). Quanto ao Escudeiro, a sua faceta cómica reside precisamente no contraste que há entre agir com o moço (é pelintra, arrogante, autoritário) ou com Inês, já casados (é severo, insensivel), e aquilo que ele manifesta quando a conhece (é afável, cortês, galante). b) Cómico de situação: baseia-se na intriga e no próprio desenrolar dos episódios. Como exemplo disso tem-se, as atitudes desajeitadas de Pêro Marques ao longo da obra ou mesmo os judeus quando querem forçar Inês a conhecer o pretendente que eles escolheram. A morte do Escudeiro também é considerado cómico de situação pois foi morto pelo pastor mouro. Por fim, Pêro Marques leva Inês às costas e esta canta uma cantiga sobre um “marido cuco”, isto é, traído. Toda esta cena é cómica pois este não percebe e comporta-se como um “asno” c) Cómico de linguagem: resulta da desadequação do que é dito ou do modo que é falado relativamente ao contexto envolvente, pode ser produzido através da ironia, apartes, sarcasmo, trocadilho, jogo de palavras, o calão ou expressões populares. Pêro Marques escreve uma carta a InÊs com uma linguagem muito provinciana e provoca o riso ao leitor e à própria protagonista. Tem um discurso e uma linguagem provinciana, por vezes, confusa queserve também para o caracterizar. Os judeus também têm uma linguagem cómica fruto da repetiçaõ do discurso mas também o uso do registo popular e, por vezes, o calão. A ironia presente nos apartes de Inês onde ela refere Pêro Marques também é um exemplo, tal como os apartes do moço referentes ao seu amo. 5. Linguagem e estilo Gil Vicente procurou adequar a linguagem de cada personagem ao seu grupo social ou à atividade que desempenhava. a) Pêro Marques fala como lavrador que é, de forma simples, muito provinciana e por veze, confusa, visto que não é instruído. b) Inês Pereira, a Mãe e Lianor Vaz falam como mulheres do povo recorrendo muito a ditados populares e a provérbios. c) Bras da Mata, como pretende enganr Inês, fala com ela de um modo galante sendo o seu discurso rebuscado. Já com o moço, usa uma linguagem mais coloquial e agressiva, tal como faz com Inês depois do casamento. d) Os Judeus recorrem a uma linguagem de cariz popular e , a dada altura usam rituais judaicos . Recursos expressivos recorrentes nesta obra: - Ironia; -Comparação; -Interrogação retórica; -Metáfora Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Luis de Camões, Rimas 1. Contextualização histórico-literárica: A idade média foi considerada uma época de trevas, de ignorância e de atraso. Existia uma grande vitalidade intelectual na idade média já que, durante este longo periodo, se sucederam os “renascimentos” e os esforços para recriar a sabedoria clássica. O renascimento pode definir-se como um moviemnto cultural que marca a transição da idade média para a idade moderna e teve repercurssões politicas, sociais, económicos e culturais. Em Portugal, o renasciemnto surgiu na segunda metade do século XVI e apresentou a particularidade de estar ligado à expansão maritima. Renascentismo - estudo das civilizações antigas (gregas, latinas e hebraicas) e respetivas linguas e culturas; - recuperação e imitação criativa de valores e modelos da antiguidade greco-romana; - renovação das artes plásticas, arquitetura e letras, inspiradas no clássico; - forte curiosidade diante da vida e do Homem. 2. Linguagem, estilo e estrutura: Esta poesia foi influenciada por duas tendências estéticas- uma mais tradicional e outra mais clássica. ✓ Redondilhas- poemas com versos de 5 ou 7 sílabas métricas, ou seja, a medida velha e podem ter a forma de cantigas, vilancetes, esparsas ou trovas; ✓ Sonetos- poemas com influências de Itália e da valorização clássica. Encontra-se então versos com 10 sílabas métricas (decassilábico), a chamada medida nova. A lirica tradicional seguem uma estrutura comum da poesia palaciana, um mote desenvolvido em voltas ou glosas. o Mote- verso ou conjunto de versos que começam o poema e que servem para apresentar a ideia que será desenvolvida nos versos seguintes. o Glosas ou voltas- versos que aparecem depois do mote agrupados em estrofes. Ao recuperar o tema explicitado no mote, a glosa pode reptir um ou mais vezes o mote, funcionando assim, como um refrão. Já a inspiração clássica está present na transformação das composições em decassilabos que podiam ser em formas de odes, sonetos ou canções. o Soneto- constituido por 2 quadras e 2 tercetos comvários tipos de esquemas rimáticos. 3. Temáticas da lirica camoniana: a) A experiência amorosa e a reflexão sobre o amor• Existem 2 tipos de mulher (a espiritual e a carnal)- a mulher sensual desperta o amor carnal e fisico. A mulher petrarquista é descrita como um ser ideal, que não deve ser desejado fisicamente mas amado e idolatrado. (*petrarquista- inspiração na deusa petrarca) • O poeta sente às vezes que a realização total do amor só é possivel através do amor espiritual e do amor fisico/carnal. • O sujeito poético está dividido entre o fascinio do amor platónico (espiritual)/petrarquista vs. a atração por um amor carnal (entre a mulher que admira e a que deseja). • A ausência da mulher amada origina sofrimento, saudade e ânsia por um reencontro físico. • A experiência de uma vida amorosa fracassada poderá explicar a influência do amor de conceção platónica. • O amor e os seus efeitos têm um poder transformador. b) A representação da amada• Imagem de uma mulher angélica, um ser divido, de pele, olhos e cabelo claros, elementos fisicos reveladores das qualidades da alma, com um poder transformador da Natureza e do Homem (influência petrarquista). • Representação de uma mulher maléfica, em contraste com a mulher anjo. • Novo conceito de beleza feminina distante do de Petrarca (pele, olhos e cabelos escuros), capaz de provocar fascinio e tranquilidade no amador. • A imagem realista, inspirada na vida quotidiana, presente em algumas redondilhas. • A imagem petrarquista da mulher que representa a beleza, a castidade, a serenidade, a harmonia, a unidade profunda entre a beleza exterma e a beleza interna. Em geral, é um modelo feminino de cabelos de “oiro”, pele clara, serena, impalpável, simbolo da perfeição. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 c) A representação da Natureza• Espaço alegre, tranquilo, sereno, propicio ao amor. • Espelho da alma do poeta, refletindo os seus sentimentos. • Confidente, testemunha da dor da ausÊncia/separação da amada. • É solidário com as qualidades femininas exaltadas conferindo-lhes luz, graça, pureza... • É espelho das vivências do sujeito poético. • É locus amoenus (lugar ameno), a paisagem amena, verdejante, colorida, mágica, harmónica. d) A representação da vida pessoal• Reflexão do poeta sobre o destino (que nunca lhe foi favorável), os erros que cometeu, o amor fracassado, o desterro... • Afirma que nasceu para sofrer e que ele é o seu próprio tormento. • Considera-se com pouca sorte (“má fortuna”), e com azar no amor, refletindo sobre o seu infortunio e sobre o seu sofrimento. • O sujeito poético amaldiçoa o dia do seu nascimento, pois esse dia “deitou ao mundo a vida/mais desventurada que se viu”. e) O tema do desconcerto• Camões apresenta o destino e ele próprio como os responsaveis pelo seu infortunio. • Nesta temática, já não é so o amor o sentimento que é explorado, mas também a revolta, o remorso, o cansaço e o desespero perante a existência da morte. • Socialmente, o mundo é um desconcerto, provocando injustiças aos bons premiando os maus. • As destruição do amor puro, a morte e a passagem do tempo, que só traz infortunio, são algumas realidades que chocam o poeta. • O desconcerto do mundo provoca espanto, revolta e inconformismo. • Reflexão sobre o desconcerto do mundo, ao nivel social e moral, evidenciada em aspetos como: a errada distribuição dos prémios e castigos (os maus são galardoados, os bons severamente castigados); os contrastes entre a riqueza e a miséria; o crescente interesse dos homens por valores materiais. f) O tema da mudança• A sucessão de mudanças ocorre através do tempo. • Na Natureza, a mudança opera de forma ciclica, natural e positiva, enquanto na vida do poeta se concretiza de modo negativo. • A passagem do tempo traz novidade, mas nem sempre esperança. • A consciência da irreversibilidade do tempo que conduz à reflexão sobre a renovação ciclica da Natureza, sobre a mudança da vida e das coisas e o caminho enexorável do poeta para a morte, razão que lhe acentua a angustia. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Os Lusiadas, Luis de Camões 1. Visão Global: A epopeia “os Lusíadas” é uma narrativa em verso destinada a celebrar feitos grandiosos de um heroi, neste caso coletivo – o povo. Esta obra pode ser reconhecida por epopeia porque: • • • • • A ação é épica, com grandeza e solenidade, de modo a mostrar heroismo: o A ação de central é a aventura dos Descobrimentos de que se destaca a viagem maritima de Vasco da Gama à India, uma ação cheia de heroismo e digna de ser louvada. o Em articulação com essa ação, surge episódios de mitologia – plano da mitologia. o A par da ação centra, verifica-se também a narração de outros feitos históricos a cabo pelos Portugueses e contados por Vasco da Gama ao rei de melidnde e por Paulo da Gama ao Catual de Calecute- plano da história de Portugal. O herói desta epopeia é o povo português representado na figura de comandante das naus, Vasco da Gama. Há portanto um heroi coletivo e um heroi individual. O maravilhoso não só aparece com intervenções das divindades da mitologia (ex: vénus ou baco), como do Deus dos Cristãos (reza de Vasco da Gama aquando da tempestade). Forma- há um narrador que relata os acontecimentos; em Os Lusiadas podemos, inclusive, distinguir os vários narradores. o O poeta que relata a viagem de Vasco da Gama desde Moçambique até à India e toda a viagem de regresso. o Vasco da Gama que conta ao rei de Melinde tabto a história de Portugal como a viagem de Lisboa a Moçambique. o Paulo da Gama que relata, em Calecute, ao Catual alguns factos da nossa História e explica o significado das 23 figuras representadas nas bandeiras. o Fernão Veloso que descreve o episódio dos Doze de Inglaterra. Estruturao Partes obrigatórias como a Proposição, a Invocação, a Narração e a dedicatória que era opcional. Os Lusiadas dedicam a obra ao rei D.Sebasteão. o A narração in media res que é o facto da narração começar com a viagem já a meio. Camões procurou fontes literárias como: Obra ❖ ❖ ❖ ❖ Autor Ilíada Homero Odisseia Homero Eneida Virgilio Herói Assunto Aquiles – um grego, filho de um humano e da deusa do mar Tétis. Através das suas ações revela o seu caractér nobre e guerreiro Canta o episodio da Guerra de Troia, que opôs o povo da grécia antiga aos troianos. A personagem principal, Aquiles, luta e mata o seu rival Heitor, principe troiano. A narrativa começa quando a guerra já esta no ultimo ano. Depois da guerra de Troia, ulisses vive muitas aventuras ao longo da sua viagem de vários anos. Canta as aventuras de Eneias, unico heroi que se salvara da destruição de Troia. É acolhido por Dido em Cartago, vagueia pela Itália e desce ao reino dos mortos, onde ouve o futuro e a história de Roma. Ulisses – heroi grego que é exemplo de astúcia, determinação e coragem Eneias – príncipe troiano, filho de Anquises e de Vénus Estrura interna Proposição (apresentação do assunto): nesta parte Camões propõe-se cantar as navegações e conquista no Oriente nos reinados de D.Manuel e de D. João III., as vitórias em África de D.João I a D. Manuel e a organização do país durante a 1ªdinastia. Invocação (súplica de inspiração para escrever o poema): 1ª súplica às ninfas do Tejo (Tágides) para que o ajudem na organização do poema; 2ª súplica a Caliope, porque estão em causa os mais importantes feitos lusitanos; 3ª súplica às ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se dos seus infortúnios; 4ª nova invocação a Calíope para que o inspire para terminar a obra. Dedicatória (oferecimento da obra a D. Sebasteão): esta dedicatória ao rei D. Sebasteão reflete a esperança do povo português no novo monarca e sobretudo, na possibilidade de retomar a expansão no Norte de África. Narração (desenvolvimento do assunto): iniciada in media res (quando a frota já se encontrava no canal de Moçambique a caminho de Melinde), apresenta momentos retrospetivos da História de Portugal e da viagem, momentos prospetivos como sonhos, presságios, profecias e um Epilogo, o regresso dos nautas, incluindo o episódio da Ilha dos Amores. Estrutura externa: forma narrativa; versos decassilábicos; rimas com esquema abababcc; estâncias- oitavas; poema dividido em dez cantos. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Proposição: Estância 1 a 3 do Canto I 1 As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; 2 E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando, Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte. 3 Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta. A proposição indica qual é o objeto do canto – “o peito ilustre Lusitano”. Esta expressão incorpora: - as armas e os barões assinalados, isto é, os feitos bélicos e quem os executou, os homens ilustres e notáveis. Esses homens partiram de Portugal, da ocidental praia lusitana e após perigos e guerras conseguiram alcançar territórios para lá da ilha da Ceilão -“passaram para além da Taprobana”. - os Reis que foram dilatando/ A fé, o império e que andaram a devastar as terras desconhecedoras da religião cristã – as terras viciosas/ De África e de Asia. - aqueles que por obras valerosas/ Sevão da lei da Morte libertando, isto é, todos os que, por causa das suas ações magnificas merecem ser louvados e imortalizados. Os portugueses são então o herói da epopeia – herói coletivo- e são os seus feitos que o poeta espalhará cantando. Sobre os portugueses diz-nos ainda que os seus feitos superam os de figuras miticas (ulisses e eneias) e os de figuras históricas, que esses feitos são tão gloriosos que até os deus do mar e da guerra – Neptuno e Marte- se submeteram aos Portugueses e que representam um “valor mais alto” Na proposição são indicados os 4 planos estruturais da narração (plano da viagem, da história de Portugal, do Poeta e da mitologia) Invocação: Estância 4 e 5 do Canto I 4 E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mi um novo engenho ardente, Se sempre em verso humilde celebrado Foi de mi vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e sublimado, Um estilo grandíloco e corrente, Por que de vossas águas Febo ordene Que não tenham enveja às de Hipocrene. 5 Dai-me ũa fúria grande e sonorosa, E não de agreste avena ou frauta ruda, Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao gesto muda; Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; Que se espalhe e se cante no universo, Se tão sublime preço cabe em verso. Camões tem plena consciência da grandiosidade do que vai cantar e, por isso, sabe que o estilo do seu canto de ser “grandíloco” e fluente. O poeta logo no início, pede ajuda e inspiração às ninfas do Tejo. Só estas divindades poderiam fazer despertar no poeta “um novo engenho ardente”, um ”som alto e sublimado”, que não se assemelha ao da poesia bucólica, mas é antes um som digno capaz dedar ânimo e provocar emoções. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 Dedicatória: Estância 6 a 18 do Canto I A dedicatória não era um elemento estrutural obrigatório do género épico, mas Luís de Camões decide dedicar o seu poema ao rei D. Sebastião, a quem louva pelo que representa para a independência de Portugal e para o aumento do mundo cristão. os louvores, segue-se o apelo. Referindo-se com modéstia à sua obra, que designa como “um pregão do ninho (...) paterno”, pede ao Rei que a leia. Na breve exposição que faz do assunto d’Os Lusíadas, o poeta evidencia um aspecto particularmente importante, a obra não versará heróis e factos lendários ou fantasiosos, como todas as epopeias anteriores, mas matéria histórica. Documenta-o nomeando alguns heróis nacionais que valoriza pelo confronto com os de outras epopeias. O discurso da Dedicatória organiza-se, pois, segundo esta lógica — louvor, apelo de carácter pessoal e argumentos que o fundamentem, incitamento/apelo de carácter nacional e, em jeito de conclusão, breve reforço do apelo pessoal. Na estância 6, D. Sebastião é-nos apresentado como defensor nato da liberdade da Nação, como o continuador da dilatação da Fé e do Império, como o Rei temido pelo Infiel, como o homem certo no tempo certo, «dado ao mundo por Deus». Na estância 10 e 11, o poeta pede a D. Sebastião que ponha os olhos no poema que desinteressadamente fez e lhe dedica, no qual ele verá os grandes feitos dos portugueses, reais e não fingidos, maiores do que os narrados nas antigas epopeias, de tal forma que o jovem rei se poderia julgar mais feliz como rei de tal gente do que como rei do mundo todo (hipérbole). O poeta desliga a glória de ser conhecido pela sua obra do «prémio vil», já que o moveu o «amor da pátria». Os Lusíadas são fonte de glória para Camões pode ver-se nos quatro primeiros versos da estrofe 10, em que o poeta afirma que foi levado a escrever o seu poema, não pelo desejo de um prémio vil (material), mas de um prémio alto e quase eterno. Esse prémio é a fama de grande poeta entre os portugueses. O poeta exalta D. Sebastião como jovem rei destinado pelo Fado (destino) a grandes feitos, num império já imenso, mas que ele acrescentaria ainda, dilatando a fé e o império. O louvor de D. Sebastião está pois, em ser apresentado como um jovem-rei em que o povo português tudo espera, rei que a providência faz surgir para retomar a grandeza dos feitos portugueses. A ideia do jovem rei como salvador da pátria reflete a crise em que a nação já se encontrava, mas ela estava lá tão firme no povo que não desapareceu da sua alma nem com a morte do rei. O sebastianismo é precisamente isso: a imagem de um rei fatalmente destinado a ser salvador de uma nação em crise. Naração ➢ A narração tem inicio quando a ação já vai a meio, ou seja, in media res.Quando se inicia o relato da viagem (ação central), os portugueses já tinham percorrido metade do caminho, encontrando-se no oceano Índico. ➢ A parte inicial da viagem só será narrada posteriormente, num processo de retrospetiva – analepse. A narração é então a articulação dos quatro planos. Resumo dos Cantos Canto I ▪ Proposição- apresentação do assunto do poema: cântico das grandes figuras da saga nacional- navegadores, conquistadores, ... ▪ Invocação- o poeta pede inspiração às ninfas do Tejo, para que elas lhe concedam um estilo adequando à grandeza dos feitos nacionais que vai cantar e divulgar por todo o mundo. ▪ Dedicatória- o poema é dedicado a D.Sebasteão, que é incentivadoa continuar os grandes feitos dos seus antepassados, em especial os da expansão de carácter de guerra e religioso e elogio dos herois portugueses. ▪ Inicio da narração: enquanto a armada de Vasco da Gama já se encontra no Índico, reúne-se o Consílio dos Deus (1º episódio do plano dos deuses), convocado por Júpiter, com o objetivo de decidir se os Portugueses devem ou não ser apoiados na sua aventura marítima . Vénus e Marte estão do lado dos portugues; Baco está contra e recusa-se a ajudar, pois teme ser esquecido no Oriente. Júpiter cede aos argumentos da deusa do amor e do deus da guerra, decidindo que os portugueses devem chegar à India, dando cumprimento ao destino (fado). Apesar desta decisão, Baco prepara ciladas aos Portugueses na ilha de Moçambique e em Quíloa. Aqui a intervenção de Vénus, a protetora dos nautas, salvará os navegadores que rumarão a Mombaça. ▪ O canto feha com uma reflexão do poeta: a vida oferece tºão pouca segurança ao homem, apresentando-se como “caminho de vida nunca certo”. Canto II ▪ Em mombaça, a armada de Vasco da Gama é recebida pelo rei, que influenciado por Baco, prepara uma armadilha. Mais uma vez, vénus intervém a favor dos Portugueses. Com a colaboração das nereidas , impede a entrada dos portugues no porto de Mombaça. ▪ Vasco da Gama, tomando consciência do perigo que haviam corrido, dirige uma prece aos céus, agradecendo terem sido salvos. ▪ Uma vez em Melinde, o rei receve os portugueses calorosamente e faz uma visita armada, pedindo que lhe conte as “guerras famosas e excelentes”. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 ▪ ▪ ▪ • • • • • • • • • • • • • • • Canto III O poeta, consciente da grandeza da tarefa que lhe é pedida – narrar-, invoca Caliope, para que ela lhe dê a inspiração condizente com a narrativa da história de Portugal que vai encetar. Assim, ao longo deste e do canto seguinte, o plano da história de portugal é inserido na narrativa. A narrativa de Vasco da Gama é longa e inclui bastante informação como a localização de portugal na europa, a descrição da europa, a história primitiva e lendária de Portugal... O canto termina com uma reflexão, motivada pelo amor de D. Fernando por D. Leonor de Teles cujo tema é precisamente o poder do amor. Canto IV Vasco da Gama continua a sua narrativa, relatando acontecimentos da segunda dinastia, como a crise após a morte de D.Fernando, a batalha de aljubarrota, o reinado de D.João I (...), até ao reinado de D. Manuel e os com destaque da explicaçãodos preparativos da viagem maritima à India. O canto termina com o episódio do Velho do Restelo que culmina com uma reflexão sobre a ambição desmedida do Homem. Canto V Este canto ocupa-se da narrativa da viagem da armada de Vasco da Gama de Lisboa a Melinde, em que o comandante luso conta ao rei de Melinde episódios dessa viagem, com destaque, para o encontro com o gigante Adamastor , durante o qual se destacam também as profecias dos desastres e naufrágios a ocorrer no cabo das tormentas e o escorbuto que atacou grande parte da tripulação. Vasco da Gama conclui a sua narrativa e depois o poeta encerra o canto com uma reflexão que critica os portugueses, seus contemporâneos pelo desprezo pelas Letras. Canto VI O peta recupera o estatuto de narrador, contando a saida da armada de Melinde a caminho de Calecute, orientada por um piloto melindano (de Melinde). Baco não se conforma com a iminente chegada dos Portugueses à Índia, desce ao plácio de Neptuno e é convocado um consilio dos deuses marinhos. Após essa acesa discussão, a decisão é apoiar Baco no seu capricho. Para tal, ordena Éolo que solte os ventos irados, com o objetivode destruir a armada portuguesa. No mar ainda calmo, os marinheiros passam tempo a ouvir histórias como o episódio dos Doze de Inglaterra (*), contada por Fernão Veloso. De repente surge de forma violenta uma tempestade. Vasco da Gama com medo do seu fim, dirige uma prece à Divina Guarda. Esta prece é ouvida por Vénus , que mais uma vez socorre os portugueses com a ajuda das ninfas, as quais, com o seu poder sedutor, acalmando os ventos. Vasco da Gama agradece a Deus o sucesso da viagem. A finalizar o vanto, o poeta volta a refletir sobre o verdadeiro valor da glória. Canto VII Com a armada em Calecute, o canto começa com uma reflexão do poeta: um elogio ao espirito de cruzada lusitano e uma critica severa às nações europeias que não seguem o exemplo de Portugal na sua expansão da fé cristã. Descreve-se Índia. Ao encerrar o canto, uma nova lamentação do poeta. Camões, ao invocar as ninfas do Tejo e do Mondego, queixa-se dos seus infortunios, criticando, também todos aqueles que oprimem e exploram o povo. Porém reconhece com ironia amarga que o não apreço pelo seu trabalho desencorajará futuros escitores. Canto VIII Paulo da Gama, novo narrador, relata ao Catual alguns episódios da história de Portugal, destacando a coragem de alguns heróis miticos e/ou históricos. Terminada esta analepse na estrutura do poema, Catual e seus companheiros abandonam a nau. Entretanto os sacrifícios aos deuses, que o Samorim mandara fazer, vaticinam que "a nova gente" iria impor "eterno cativeiro" à Índia. Também Baco - agora pela última vez - aparece em sonhos a um sacerdote e em forma de "profeta falso" inspira-lhe ódio de morte contra os portugueses. O samorim que fora advertido por esse falso sacerdote, interroga Vasco da Gama. Este procura esclarecer a situação dizendo que passará pela troca de fazendas europeias por especiarias orientais. No entento o Catual opõe-se à decisaão e prende o capitão, e este só consegue regressar à armada após subornar o catual que, a troco de fazendas europeias, lhe permite regressar a bordo. Camões termina o Canto fazendo pertinentes considerações moralistas acerca dos malefícios do ouro "no rico, assi como no pobre". Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 • • • • • • • 2. Canto IX Utrapassados alguns contrantempos, os portugues sempre ajudados por Monçaide, inicam a sua viagem de regresso à pátria. Vénus, permanentemente atenta, resolve preparar-lhes um surpresa, uma recompensa por todos os sacrificios passados. Cria uma ilha divina e maravilhosa, povoada por ninfas que se oferecerão aos nautas. Estes, viverão momentos de amor e de prazer que constituem um prémio merecido para quem tão alto fez subir o nome de Portugal. Vasco da Gama encontra-se com Tétis no seu palácio e a ninfa explica-lhe que este repouso é a compensação do trabalho dos marinheiros. O poeta explica a simbologia da ilha e termina tecendo considerações sobre a verdadeira forma de antigir a fama e a imortalidade. Canto X Tétis e as restantes ninfas oferecem um banquete aos marinheiros durante o qual uma ninfa narra os feitos futuros dos lusitanos no Oriente, não sem antes, o poema ter de novo invocando caliope. Tétis leva Vasco da Gama até ao alto de um monte e aí mostra a máquina do mundo e os locais por onde se estenderá o Império Português. Por fim, os naegadores embarcam rumo a Portugal trazendo para a sua pátria e para o seu rei glória e titulos novos. O canto encerra com um lamento do poeta pelo facto de o seu talento não ser recoenhecido sobretudo por aqueles a quem canta (para os portugueses). Exorta D.Sebastão a dar continuidade à glória dos portugueses oferecendo-se para servir o rei e a pátria. O poeta aponta ainda um caminho: o norte de África. Os 4 planos e a sua interdependência: a) Plano da viagem (plano central): a narração dos aconteciemntos ocorrido durante a viagem realizada entre Lisboa e Calecute: • Partida a 8 julho de 1497 • Peripécias da viagem- destaque para a grande coragem e valor guerreiro dos marinheiros portugueses, para a tempestade, o escorbuto, as vitórias sobre traições entre outras. • Paragem em Melinde durante 10 dias. • Chegada a Calecute (Índia) a 18 de maio de 1498. • Regresso a 29 de Agosto de 1498. • Chegada da nau de Vasco da Gama a Lisboa em 29 de agosto de 1499. A funcionalidade deste plano é conferir unidade ao poema. É, por isso, uma esécie de “esqueleto” da epopeia. b) Plano da História de Portugal (plano encaixado): relata factos marcantes da História de Portugal: • • Em Melinde, Vasco da Gama narra ao rei os principais acontecimento da nossa história. Em Calecute, Paulo da Gama apresenta ao Catual episódios e personagens representadas nas bandeiras portuguesas. A função deste plano é relatar e enaltecer a História de Portugal. c) Plano da Mitologia (plano paralelo): A mitologia permite e favorece a evolução da ação: os deuses assumemse como apoiantes (Vénus) ou como oponentes dos portugueses (Baco): • Os deuses apoiam os Portugueses: consílio dos deuses no Olimpo. • Consilio dos deuses marinhos. • Ilha dos Amores. A função deste plano é conferir beleza, ação e diversidade ao poema, ajudando no processo de divinização dos Portugueses. d) Plano do poeta (plano ocasional): Considerações, criticas, lamentos e opiniões do poeta, expressas nomeadamente, no inicio e no fim dos cantos. Este plano serve para o poeta transmitir as suas posições face ao mundo, aos outros e a si mesmo. ❖ O plano da viagem e o plano da mitologia ocorrem em simultâneo . ❖ A articulação entre o plano da viagem e da mitologia sai reforçada pelo estatuto que os Portugueses conquistam, após chegarem à Índia – estatuto de divindade, por terem concretizado algo de sobre-humano, como um prémio é-lhes oferecida uma recompensa digna de deus- Ilha dos Amores. ❖ O plano da História de Portugal é um plano encaixado, que apresenta episódios de guerra e liricos. ❖ O plano da história de Portugal funciona como analepse e prolepse. ❖ O plano das intervenções ou reflexões do poeta será vital para o entendimento do pendor humanista da epopeia. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 3. Imaginário épico 3.1. Matéria épica e sublimidade do canto Como foi visto na proposição, a intenção do poeta ao escrever esta obra é cantor o “peito ilustre lusitano”, isto é, glorificar os feitos do povo português. Esses feitos dizem respeiro quer aos nautas quer a outras ilustre figuras históricas portuguesas. Por esta razão podemos dizer que a matéria épica de Os Lusiadas integra: →a viagem de Vasco da Gama à Índia – as descobertas; →os feitos históricos – apresentação por Vasco Da Gama ao rei de Melinde e por Paulo da Gama ao Catual. A matéria épica só se torna verdadeiramente épica quando passa a estar subordinada ao mito, isto é, quando a sua interpretação passa a ser simbólogica. Nesse sentido, o própria herói é subordinado ao mito, ou seja, sofre um processo de mitificação. 3.2. Mitificação do herói Camões não escolheu um herói individual que motivasse o título da sua obra, mas procurou que a sua epopeia enunciasse a história de todo o povo da "geração de luso". A intenção em exaltar os portugueses levou Camões a torná-los verdadeiros heróis que se foram construindo, ao longo da obra, e que mereceram a mitificação. Deste modo, estamos perante um herói colectivo, que é constituído pelas "armas e barões assinalados", pelos Reis, por "aqueles que por obras valerosas/Se vão da lei da morte libertando" e pelos navegadores, que no seu conjunto formam "o peito ilustre lusitano". Para que este se fosse construindo, vários elementos foram fundamentais, tais como: a inteligência, pois os portugueses fizeram grande parte da viagem sem que os Deuses se apercebessem; a coragem e a valentia, que demonstraram perante as ciladas de Baco e perante o Gigante Adamastor, símbolo do perigo e do inultrapassável, que permitiu a heroificação de Vasco da Gama, no momento de inversão. Além disso, o episódio do Velho do Restelo, que simbolizando a contraposição e prenunciando vários perigos, mortes, tormentas e outros desastres, contribui para a formação do herói, que enfrenta estes obstáculos com coragem e esforço. Depois de todas as etapas vencidas, os portugueses merecem descanso, que decorrerá na Ilha dos Amores, local concebido pelo épico, simbolizando a recompensa pela heroicidade, a satisfação dos sentidos e a harmonia no Universo. É aqui que os portugueses são mitificados e se tornam Deuses, como se verifica quando as Ninfas se entregam aos navegadores, alcançando a glória. Finalmente, a viagem, mais do que a exploração dos mares, é a passagem do desconhecido para o conhecido, conseguida pelo esforço e motivada pelo amor, tendo como resultado a posse do conhecimento. 4. Refleções do poeta Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom épico, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente crítica. Outras vezes, expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo. Canto I (105-106) Limites da condição humana: Os perigos que espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante das forças poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos traiçoeiros enganos dos inimigos. ❖ Canto III Poder do amor: surge do tema do amor de D. Fernando por D.Leonor ❖ Canto IV ambição desmedida do homem ❖ Canto V (92-100) Desprezo das artes e das letras: O poeta lamenta o desprezo que os Portugueses valorizam as letras, pois apesar de serem de terra de heróis, não reconhecem o valor da arte. ❖ Canto VI (95-99)Verdadeiro valor da glória: Nestas estâncias, o Poeta realça o verdadeiro valor das honras e da glória alcançado por mérito próprio. O herói faz-se pela sua coragem e virtude, pela generosidade da sua entrega a causas desinteressadas. ❖ Canto VII (78-93) Lamento pelos infortúnios da vida: Camões elogia o Espírito de Cruzadas dos Portugueses, destacando-os de outros povos. O poeta, invoca as Ninfas do Tejo e do Mondego, queixando-se da ingratidão de que é vítima. Ele que sonhava com a coroa de louros dos poetas, vê-se votado ao esquecimento e à sorte mais mesquinha, não lhe reconhecendo, os que detêm o poder, o serviço que presta à Pátria. ❖ Canto VIII (96-99) o poder corrupto do ouro: Faz-se, nestas estâncias, uma severa crítica; o alvo é o poder corruptor do dinheiro e do «ouro». ❖ Canto IX (93-99) verdadeiro caminho para atingir a fama: O poeta incita os homens a alcançarem a verdadeira glória e a fama, que não se conseguem pela cobiça, a ambição ou a tirania; mas pela justiça, a coragem e o heroismo desinteressado. ❖ Canto X (145-156) lamentos pela falta de reconhecimento do povo: O poeta volta a referir-se à importância das Letras (Literatura) e desabafa que já está cansado de se dirigir a quem não quer escutar o seu canto, «gente surda e endurecida». Exorta o Rei a concretizar novas glórias. Antiepopeia- a riqueza do poema está na vertente didática e interventiva, nesta capaciadade de Camões mostrar o outro lado da epopeia (antiepopeia). Na verdade, os momentos em que o poeta tece criticas aos portugueses ou quando deixa conselhos dos seus contemporâneos, a matéria épica e o canto sublime dão lugar à antiepopeia, isto é, ao reconhecimento e à condenação da vileza e da miséria humana. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 História trágico-maritima I. Caracteristicas Esta obra narra breves episódios de naufrágios da época dos Descobrimentos. As histórias são verdadeiras e diretamente relacionadas com esse momento marcante. Relatam o lado trágico dos Descobrimentos como a destruição de embarcações, perda de mercadoria e de vidas humanas. • Função sociológica- saber noticias de parentes ou amigos que tinham partido em viagem. • Função didática-transmitir ensinamentos para as viagens futuras. • Função de exemplaridade- “demonstração exemplar da justiça divina”. II. Estrutura narrativa→ antecedentes – partida – tempestade – naufrágio – Arribana – Peregrinação – Retorno. III. Causas para os naufrágios: • Materiais- mau estado das embarcações; excesso de carga; partida com o tempo desfavorável (ventos, estado do mar) • Humanas- egoismo, ambição, desleixo. IV. Autores→ nem sempre constam autores precisos, mas a maior parte da narrativa apresenta autoria de alguns sobreviventes dos naufrágios. Capítulo V : As terriveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho Aventuras e desventuras dos Descobrimentos I. Inicio da Viagem: Os primeiros paragrafos deste capitulo V menciona que esta história decorre num período em que o país se encontrava em decadência política, social e moral. A corrupção dos valores e a ganância dos portugueses são criticados de forma subtil através da viagem narrada, representando a nau Santo António uma metonímia de Portugal. Os paragrafos 2-4 apresentam de forma sintética outros factos relevantes da vida e da infância do protagonista desta narrativa. Segue-se um relato das suas ações, com vista a destacar as qualidades de guerreiro, bem como as qualidades morais, como preparação para a narração da viagem que Jorge de Albuquerque Coelho decide empreender da vila de Olinda até Lisboa, uma vez que a capitania estava pacificada. A segunda parte do excerto é dedicada ao inico da viagem na nau “Santo António” sobre a qual nos é dito que ia “carregado de muita fazenda” e que saiu do “belo porto da vila de Olinda” no dia 16 de maio de 65. Esta narração está repleta de referências temporais ao longo do texto o que marca a sucessão dos acontecimentos. Logo no inicio da viagem começam os contratempos. Com efeito, não tinham saido da barra, o vento conduziu a nau para um baixo. Foram socorridos por batéis, mas a nau só desencalhou quando cortaram os mastros, o que obrigou a regressar ao porto, onde foi examinada e novamente preparada e carregada. Perante este incidente, é curioso observar as duas reações distintas: os amigos de Jorge de Albuuerque Coelho aconselharam-no a não embarcar; ele, pelo contrário, não deu ouvidos e embarcou com os outros passageiros. No entanto, a viagem começou com novos obstáculos: a mudança do vento obrigou a atirar a carga ao mar, o casco acabou por abrir, um furacão partiu um mastro; ocorreram trovoadas. Assim, a deterioração da nau (mastros cortados, logo na primeira viagem), o atraso na partida (a primeira viagem foi mal sucedida) e o excesso de carga (poucos dias depois da segunda partida, tiveram de deitar mercadoria ao mar) são as causas que fazem prever a tragédia que se avizinha. II. ❖ ❖ ❖ ❖ ❖ Ataque dos Corsários: Este excerto tem como evento principal o ataque dos corsários franceses à nau dos Portugueses. O relato mostra-nos : A bravura, a determinação, o patriotismo de Jorge de Albuquerque Coelho que com apenas duas armas e sete homens, luta contra os corsários. A traição, a fraqueza dos restantes tripulantes (exceto os 7 homens) que mal veem os corsários, decidem render-se; só não o fazem imediatamente porque Jorge de Albuquerque consegue dissuadi-los, numa primeira fase. O contraste entre a nau dos franceses (superior) e a nau dos portugueses. O contraste entre o numero de combatentes portugueses (Jorge Albuquerque e 7 homens) e o numeor de combatentes franceses ( seis dezenas). O respeito e a admiração que o capitão francês revela pelo capitão português concedendo-lhe, por exemplo, depois de uma rendição dos portugueses, o privilegio de jantar à sua mesa. Um promenor deste excerto é a postura elogiosa que o narrador manifesta relativamente aos corsários franceses. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected]) lOMoARcPSD|11961386 III. Desventuras antes da chegada Este é um excerto carregado de dramatismo, atendendo às várias peripécias relatadas com extrema vivacidade e impacto e que debunciam as desventuras da tripulação. Primeiro têm de deitar a mercadoria ao mar- caixas e armas. Depois asão destruidos por uma tempestade que atira os homens ao mar (tanto portugueses como franceses), provoca ferimentos noutros e sobretudo, desperta medo e terror. A juntar a estas desventuras, verificamos o abandono dos corsários e a fome da tripulação. A tempestade é descrita com muita vivacidade, o que se deve à conjunção de vários recursos: ❖ Uso recorrente de adjetivos; ❖ Uso de vocabulário sugestivo, que revela sensações auditivas e visuais. ❖ Uso de recursos expressivos como a metáfora e a personificação. A dada altura, fala-se nos comapnheiros que morreram de fome e que, por isso, têm de ser lançados ao mar. Perante a violência deste ato e o desespero em que todos se encontravam, só Jorge de Albuquerque parece manter a razão e a humanidade, merecendo destaque. Finalmente, avista a serra de Sintra . no entanto, o navio não tinha condições para se aproximar da costa. Algumas embarcações passam pela nau dos portugueses mas apenas um pequeno barco acode os portugueses. Já em terra, Jorge de Albuquerque recompensa o chefe desse barquinho. E, mostrando a sua religiosidade, vai “em romaria a Nossa Senhora da Luz”. A sua caracterização fica completa, sendo um homem de palavra e de fé. A cena final (dialogo entre Jorge de Albuquerque e seu primo) serve para mostrar o impacto que aquela viagem e as suas desventuras tiveram no capitão. Com efeito, Jorge de Albuquerque estava tão desfigurado que o primo não o reconheceu. Descarregado por Lara Fernandes ([email protected])