Enviado por Do utilizador13127

Documento (10)

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Esse é o relato de experiência emocional, narrado, sobre uma interação
que possibilitou que eu pudesse ter uma visão diferente em relação as
pessoas, eu optei por fazê-lo, como um diário, para mostrar ser algo
mais pessoal.
FINAL DE 2019
Sempre morei em uma casa muito cheia, na cidade de Serrolândia (aqui mesmo na Bahia),
moro com minha tia, o esposo e os 6 netos, a história que quero contar começa em outubro de
2019, quando eu estava indo ao mercado com minha prima ela contou que o tio dela( esposo
da prima) entrava no quarto dela de manhã cedo e tentava tocar nela, então ela pediu para
que eu começasse a dormir com ela, pois ela não conseguia dormir direito, por conta da
situação, então levei um colchão para o quarto dela e dormia lá todas as noites. No início ele
abria a cortina do quarto, mas com o tempo parou, precisei viajar por um final de semana,
para um congresso religioso, ela falou que ficaria tudo bem, qualquer anormalidade ela falaria
com a minha tia, fui conversando com ela no fim de semana, ela sinalizava que estava tudo
bem, então eu parei de dormir com ela, quando voltei do congresso, pois ele já não a
incomodava mais, precisei resolver algumas coisas em Feira de Santana, então fui passar uns
dias com minha irmã e acabei ficando mais que o esperado, passei uns dois meses, pensei que
já estaria livre daquela história, mas as coisas não são tão fáceis assim.
No final desse mesmo ano o meu tio recebeu a triste notícia de que estava com câncer de
próstata, em um estágio muito avançado, então ele começou a fazer tratamento pra poder
fazer a cirurgia. Eu ainda estava em Feira, e fiquei sabendo a notícia de lá, eles ligavam para
mim todos os dias, ele queria que eu voltasse logo, pois tinha medo de morrer e as pessoas
importantes para ele não estivessem perto, ele pedia pra eu voltar e dizia pra eu fazer o
macarrão com sardinha pra ele , eu era única pessoa que sabia fazer da maneira que ele
gostava, tentei voltar para Serrolândia o mais rápido possível, pois a rotina deles estava muito
pesada por conta do acompanhamento do tratamento e a atenção maior que ele precisava.
Quando voltei, enquanto ele fazia o tratamento, em Salvador, eu cuidava das crianças, da casa
e estudava, pra fazer o Enem, foi quando uma amiga, de Serrolândia, falou comigo sobre o
vestibular da uneb, que ela fazia a alguns anos, ela explicou como o vestibular funcionava,
onde ela fazia, que poderia fazer a prova em Jacobina e estudar em outra cidade, pesquisei
sobre o curso de fonoaudiologia, e tinha na uneb, ficamos muito animadas e ela me convenceu
fazer o vestibular da uneb, nosso plano era passar as duas e ir morar juntas em Salvador, ela
estudando psicologia e eu fonoaudiologia, decidir fazer se eu conseguisse ser isenção da taxa
de inscrição, pois não acreditava que iria passar por ter pouco tempo para estudar, quando eu
fiz a inscrição eu tive que pagar o valor de 100 reais, já estava desistindo e minha mãe,
acreditada tanto em mim que insistiu para que ela pagasse o valor e eu fizesse a prova, então
mesmo desacreditada eu aceitei fazer.
Meu tio só piorava cada dia mais, usando sonda, quando ele voltava para Serrolândia só ficava
internado no hospital local, quando estava em casa a sonda se enchia de sangue e chegava a
entupir, causando um grande desconforto, fazendo com que ele voltasse para o hospital
novamente. O dia do vestibular se aproximava e eu já estava tão cansada, tanto físico como
psicologicamente, cheguei a pensar em desistir várias vezes, pois com a rotina diária eu acabei
diminuindo os estudos, foi então que começaram as crises de choro, por me sentir insuficiente
e incapaz de continuar na situação, mas mesmo com noites sem dormir, por as vezes ter que
ficar com meu tio no hospital, fui fazer o e Enem e o vestibular da uneb, sendo Serrolândia
uma cidade muito pequena era necessário ir até a cidade mais próxima, jacobina, tanto para
fazer o Enem quanto para fazer o vestibular, como foi no final de semana encontrei uma
pessoa para cuidar da casa, enquanto eu fazia a prova, eu saia pela manhã e só voltava no final
da tarde, alguns dias chegava a noite. No mesmo ano, e o choro continuava, me sentia tão mal
que cada dia era mais difícil ter que levantar da cama para ter que suportar mais um dia de
rotina, eu chegava a invalidar, meus esforços e acreditava não ter chance alguma de passar
nos vestibulares, pois estava totalmente despreparada para as realizações das provas.
Meu tio passou o Natal e o ano novo no hospital, não comemoramos, pela situação em que a
nossa casa se encontrava, foi o pior final de ano que eu já passei, as pessoas das igrejas nos
ajudavam com orações e cestas básicas, com remédios e alguns familiares até com dinheiro,
pois ninguém da casa conseguia trabalha por conta da rotina no hospital, a filha mais velha
dele trabalhava durante o dia e dormia no hospital em dias alternados, para que a mãe
pudesse ir para casa dormir. No início do ano de 2020, ainda em janeiro, estávamos
conversando na sala, meu tio estava em Salvador, com a folha, se preparando para a cirurgia,
foi quando minha prima chegou bêbada em casa e começou a conversar, estávamos rindo, se
divertindo, pela primeira vez depois de tanto tempo, não tinha adultos no momento, a mais
velha era eu com 21 anos.
Então ela simplesmente contou que uma pessoa da família à molestava, o que gerou mais
uma reviravolta em nossa família, eu que estava ali com a responsabilidade de resolver as
coisas, cai aos prantos, eu só chorava, não conseguia falar, não tinha relação, meu corpo nem
se movia, só conseguia ouvir choro e gritos das pessoas ao saberem de quem era, quando
finalmente consegui me mover coloquei a minha prima no chuveiro, eu sabia que ela falou a
verdade, mas não sabia como ajudar, tive que dispersar os curiosos( os vizinhos começaram
entrar na casa para saber o que estava acontecendo),colocar a minha prima para dormir, como
ela estava bêbada toda hora se levantava para tentar dar uma nova explicação, minha outra
prima, que é filha de quem estava sendo acusado, não parava de chorar, como se ela já
soubesse de tudo, para afastar ela dos curiosos tive que levá-la para a casa de uma assistente
social que morava ao lado. A assistente social ligou para o juizado que foi em nossa casa na
mesma noite, mas como não conseguiu resolver, pois estavam todos com os nervos muito
aflorados, ela foi no outro dia para conversar com minha prima, tentei ficar ao lado dela para
dar apoio, pois eu era a única pessoa que acreditava nela, mas óbvio que foi uma conversa
particular, como não houve estupro, a situação continuou a mesma de antes, a única diferença
é que minha prima agora é vista como destruidora de lares e eu como apoiadora da causa,
mais uma vez me sentir frágil e sem capacidade alguma, me sentir sem controle da situação
sempre me deixou muito desconfortável, ainda mais por saber que esperam muito de mim, eu
não consegui me alimentar direito por várias e varias semanas, até que decidi passar uns dias
com minha família, onde levei a minha prima comigo, pois todos acreditavam que ela inventou
tudo por conta do álcool.
Em Feira de Santana, ela passou algumas semanas, mostrei um pouco da cidade, tentei dar o
máximo de atenção possível, mas ela começou a ter crises ansiosas, pois ela tomava remédio,
decorrente a depressão, e com o tempo parou, pois não achava mais necessário, contudo com
as situações e sentiu a necessidade de voltar, o monto em que percebi que não tinha condições
de que ela ficasse aqui, foi quando ela teve uma crise as 3h da manhã, repetia inúmeras vezes
que iria morrer, não queria que eu a deixasse um segundo se quer , ficamos até as 8h da manhã
na upa, mais próxima, então ela voltou para Serrolândia, na semana seguinte.
Foi então que decidir fazer terapia, após incentivos de uma amiga que faz psicologia, pois ela
sabia o quanto os acontecimentos com minha família me afetam, não me sentia, mais eu, não
conseguia sair para me divertir, e foi a partir disso que a psicóloga começou a trabalhar em mim,
passando exercícios ou tarefas para que eu voltasse a me relacionar com outras pessoas
novamente, pudesse sair sem me sentir perdida, ela pedia para que eu pudesse começar com
pessoas mais próxima, visitar amigas, tornando viável minhas relações interpessoais
novamente, pois qualquer situação nova fazia com que eu começasse a tremer, isso fez com que
eu entendesse que não posso ter o controle de tudo, e precisava aprender a conviver com isso,
sem que eu sentisse tanta agonia ou pavor, entrasse em pânico, mas mesmo assim eu n consegui
continuar, fazendo terapia, permaneci durante dois meses, somente, pois não tenho forças, as
vezes ainda me tranco no quarto e fico isolada do mundo, só chorando o dia inteiro, com isso
tudo eu só percebi que sou frágil e estagnei.
Observação: todos os envolvidos e citados da história concordaram com que eu escrevesse
sobre eles. Eu senti muita dificuldade ao escrever essa história, a algo muito doloroso para
mim ainda, demorei vários dias para escrever, mas achei necessário e no final libertador,
obrigada pela oportunidade de escrevê-la.
Atenciosamente, Tailane Rosa de Jesus, segundo semestre de fonoaudiologia, 07.12.2021.
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