Esse é o relato de experiência emocional, narrado, sobre uma interação que possibilitou que eu pudesse ter uma visão diferente em relação as pessoas, eu optei por fazê-lo, como um diário, para mostrar ser algo mais pessoal. FINAL DE 2019 Sempre morei em uma casa muito cheia, na cidade de Serrolândia (aqui mesmo na Bahia), moro com minha tia, o esposo e os 6 netos, a história que quero contar começa em outubro de 2019, quando eu estava indo ao mercado com minha prima ela contou que o tio dela( esposo da prima) entrava no quarto dela de manhã cedo e tentava tocar nela, então ela pediu para que eu começasse a dormir com ela, pois ela não conseguia dormir direito, por conta da situação, então levei um colchão para o quarto dela e dormia lá todas as noites. No início ele abria a cortina do quarto, mas com o tempo parou, precisei viajar por um final de semana, para um congresso religioso, ela falou que ficaria tudo bem, qualquer anormalidade ela falaria com a minha tia, fui conversando com ela no fim de semana, ela sinalizava que estava tudo bem, então eu parei de dormir com ela, quando voltei do congresso, pois ele já não a incomodava mais, precisei resolver algumas coisas em Feira de Santana, então fui passar uns dias com minha irmã e acabei ficando mais que o esperado, passei uns dois meses, pensei que já estaria livre daquela história, mas as coisas não são tão fáceis assim. No final desse mesmo ano o meu tio recebeu a triste notícia de que estava com câncer de próstata, em um estágio muito avançado, então ele começou a fazer tratamento pra poder fazer a cirurgia. Eu ainda estava em Feira, e fiquei sabendo a notícia de lá, eles ligavam para mim todos os dias, ele queria que eu voltasse logo, pois tinha medo de morrer e as pessoas importantes para ele não estivessem perto, ele pedia pra eu voltar e dizia pra eu fazer o macarrão com sardinha pra ele , eu era única pessoa que sabia fazer da maneira que ele gostava, tentei voltar para Serrolândia o mais rápido possível, pois a rotina deles estava muito pesada por conta do acompanhamento do tratamento e a atenção maior que ele precisava. Quando voltei, enquanto ele fazia o tratamento, em Salvador, eu cuidava das crianças, da casa e estudava, pra fazer o Enem, foi quando uma amiga, de Serrolândia, falou comigo sobre o vestibular da uneb, que ela fazia a alguns anos, ela explicou como o vestibular funcionava, onde ela fazia, que poderia fazer a prova em Jacobina e estudar em outra cidade, pesquisei sobre o curso de fonoaudiologia, e tinha na uneb, ficamos muito animadas e ela me convenceu fazer o vestibular da uneb, nosso plano era passar as duas e ir morar juntas em Salvador, ela estudando psicologia e eu fonoaudiologia, decidir fazer se eu conseguisse ser isenção da taxa de inscrição, pois não acreditava que iria passar por ter pouco tempo para estudar, quando eu fiz a inscrição eu tive que pagar o valor de 100 reais, já estava desistindo e minha mãe, acreditada tanto em mim que insistiu para que ela pagasse o valor e eu fizesse a prova, então mesmo desacreditada eu aceitei fazer. Meu tio só piorava cada dia mais, usando sonda, quando ele voltava para Serrolândia só ficava internado no hospital local, quando estava em casa a sonda se enchia de sangue e chegava a entupir, causando um grande desconforto, fazendo com que ele voltasse para o hospital novamente. O dia do vestibular se aproximava e eu já estava tão cansada, tanto físico como psicologicamente, cheguei a pensar em desistir várias vezes, pois com a rotina diária eu acabei diminuindo os estudos, foi então que começaram as crises de choro, por me sentir insuficiente e incapaz de continuar na situação, mas mesmo com noites sem dormir, por as vezes ter que ficar com meu tio no hospital, fui fazer o e Enem e o vestibular da uneb, sendo Serrolândia uma cidade muito pequena era necessário ir até a cidade mais próxima, jacobina, tanto para fazer o Enem quanto para fazer o vestibular, como foi no final de semana encontrei uma pessoa para cuidar da casa, enquanto eu fazia a prova, eu saia pela manhã e só voltava no final da tarde, alguns dias chegava a noite. No mesmo ano, e o choro continuava, me sentia tão mal que cada dia era mais difícil ter que levantar da cama para ter que suportar mais um dia de rotina, eu chegava a invalidar, meus esforços e acreditava não ter chance alguma de passar nos vestibulares, pois estava totalmente despreparada para as realizações das provas. Meu tio passou o Natal e o ano novo no hospital, não comemoramos, pela situação em que a nossa casa se encontrava, foi o pior final de ano que eu já passei, as pessoas das igrejas nos ajudavam com orações e cestas básicas, com remédios e alguns familiares até com dinheiro, pois ninguém da casa conseguia trabalha por conta da rotina no hospital, a filha mais velha dele trabalhava durante o dia e dormia no hospital em dias alternados, para que a mãe pudesse ir para casa dormir. No início do ano de 2020, ainda em janeiro, estávamos conversando na sala, meu tio estava em Salvador, com a folha, se preparando para a cirurgia, foi quando minha prima chegou bêbada em casa e começou a conversar, estávamos rindo, se divertindo, pela primeira vez depois de tanto tempo, não tinha adultos no momento, a mais velha era eu com 21 anos. Então ela simplesmente contou que uma pessoa da família à molestava, o que gerou mais uma reviravolta em nossa família, eu que estava ali com a responsabilidade de resolver as coisas, cai aos prantos, eu só chorava, não conseguia falar, não tinha relação, meu corpo nem se movia, só conseguia ouvir choro e gritos das pessoas ao saberem de quem era, quando finalmente consegui me mover coloquei a minha prima no chuveiro, eu sabia que ela falou a verdade, mas não sabia como ajudar, tive que dispersar os curiosos( os vizinhos começaram entrar na casa para saber o que estava acontecendo),colocar a minha prima para dormir, como ela estava bêbada toda hora se levantava para tentar dar uma nova explicação, minha outra prima, que é filha de quem estava sendo acusado, não parava de chorar, como se ela já soubesse de tudo, para afastar ela dos curiosos tive que levá-la para a casa de uma assistente social que morava ao lado. A assistente social ligou para o juizado que foi em nossa casa na mesma noite, mas como não conseguiu resolver, pois estavam todos com os nervos muito aflorados, ela foi no outro dia para conversar com minha prima, tentei ficar ao lado dela para dar apoio, pois eu era a única pessoa que acreditava nela, mas óbvio que foi uma conversa particular, como não houve estupro, a situação continuou a mesma de antes, a única diferença é que minha prima agora é vista como destruidora de lares e eu como apoiadora da causa, mais uma vez me sentir frágil e sem capacidade alguma, me sentir sem controle da situação sempre me deixou muito desconfortável, ainda mais por saber que esperam muito de mim, eu não consegui me alimentar direito por várias e varias semanas, até que decidi passar uns dias com minha família, onde levei a minha prima comigo, pois todos acreditavam que ela inventou tudo por conta do álcool. Em Feira de Santana, ela passou algumas semanas, mostrei um pouco da cidade, tentei dar o máximo de atenção possível, mas ela começou a ter crises ansiosas, pois ela tomava remédio, decorrente a depressão, e com o tempo parou, pois não achava mais necessário, contudo com as situações e sentiu a necessidade de voltar, o monto em que percebi que não tinha condições de que ela ficasse aqui, foi quando ela teve uma crise as 3h da manhã, repetia inúmeras vezes que iria morrer, não queria que eu a deixasse um segundo se quer , ficamos até as 8h da manhã na upa, mais próxima, então ela voltou para Serrolândia, na semana seguinte. Foi então que decidir fazer terapia, após incentivos de uma amiga que faz psicologia, pois ela sabia o quanto os acontecimentos com minha família me afetam, não me sentia, mais eu, não conseguia sair para me divertir, e foi a partir disso que a psicóloga começou a trabalhar em mim, passando exercícios ou tarefas para que eu voltasse a me relacionar com outras pessoas novamente, pudesse sair sem me sentir perdida, ela pedia para que eu pudesse começar com pessoas mais próxima, visitar amigas, tornando viável minhas relações interpessoais novamente, pois qualquer situação nova fazia com que eu começasse a tremer, isso fez com que eu entendesse que não posso ter o controle de tudo, e precisava aprender a conviver com isso, sem que eu sentisse tanta agonia ou pavor, entrasse em pânico, mas mesmo assim eu n consegui continuar, fazendo terapia, permaneci durante dois meses, somente, pois não tenho forças, as vezes ainda me tranco no quarto e fico isolada do mundo, só chorando o dia inteiro, com isso tudo eu só percebi que sou frágil e estagnei. Observação: todos os envolvidos e citados da história concordaram com que eu escrevesse sobre eles. Eu senti muita dificuldade ao escrever essa história, a algo muito doloroso para mim ainda, demorei vários dias para escrever, mas achei necessário e no final libertador, obrigada pela oportunidade de escrevê-la. Atenciosamente, Tailane Rosa de Jesus, segundo semestre de fonoaudiologia, 07.12.2021.