Geoquímica das rochas ígneas do plutão de Reguengos de Monsaraz (Alto Alentejo) Geochemistry of igneous rocks from Reguengos de Monsaraz pluton (Alto Alentejo) M.M.V.G. Silva(1) e M.M.S.C. Pinto(2) (1) Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra. Largo Marquês de Pombal. 3000-272 Coimbra. Portugal. (2) Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro. Campus de Santiago. 3810-193 Aveiro. Portugal. [email protected]; [email protected] SUMÁRIO O plutão de Reguengos de Monsaraz é um plutão tardi a pós-tectónico, constituído por rochas granitóides e dioritos, e possuindo encraves microgranulares máficos. São rochas metaluminosas que não se relacionam por cristalização fraccionada. Os REE mostram que o diorito e o granitóide possuem fontes distintas, o que é confirmado pelos isótopos de oxigénio e Sr. Palavras-chave: granitóide, diorito; geoquímica, isótopos SUMMARY The Reguengos de Monsaraz pluton is a late to pos-tectonic, formed by granitoid rocks, diorites and mafic microgranular enclaves. All rocks are metaluminous and are not related by fractional crystallization. REE show that the diorite and the granitoid have different source rocks, which is confirmed by oxygen and Sr isotopes. Key-words: granitoid; diorite; geochemistry; isotopes 1. Introdução O plutão de Reguengos de Monsaraz é um granitóide tardi a pós tectónico que intruíu discordantemente os filitos da Formação de Barrancos, afectados por metamorfismo regional da fácies dos xistos verdes e que foram transformados em corneanas no contacto com o magma granitóide. As rochas que constituem o plutão são essencialmente granodioritos/tonalitos, mas também ocorre stock de diorito, pequenos corpos dioríticos dispersos e encraves microgranulares. O plutão mostra heterogeneidade sendo mais rico em biotite, encraves microgranulares nas proximidades do stock de diorito. Este também se mostra heterogéneo desenvolvendo-se grandes cristais de biotite nas proximidades do contacto com o granitóide. Neste trabalho são apresentados os dados geoquímicos, os REE e dados isotópicos de Rb/Sr e oxigénio obtidos neste plutão, com vista à sua caracterização geoquímica e isotópica e ao estabelecimento da sua petrogénese. 2. Métodos analíticos Os elementos maiores e menores foram analisados por FRX no Department of Earth Sciences, University of Manchester. O FeO, a H2O+, o F e o Li foram analisados no Departamento Ciências da Terra da Universidade de Coimbra. Os métodos e os erros analíticos estão descritos em [1]. Os REE foram analisados por ICP-MS no Dep. of Earth Sciences, Univ. of Bristol, com um erro de 5%. Os isótopos de oxigénio foram analisados na Univ. de Western Ontário, tendo uma precisão de + 0.2 ‰. Os isótopos de Rb e Sr formam analisados por espectrofotometria de massa com diluição isotópica na Universidade de Aveiro. 3. Geoquímica das rochas O granitóide do plutão de Reguengos de Monsaraz assim como os encraves e o diorito são na generalidade rochas intermédias, com teores de 249 Os encraves que ocorrem no granitóide do plutão de Reguengos de Monsaraz têm valores de (δ18O) que variam entre 8,621 e 8,793, sendo % MgO SiO2 que variam entre 58 e 66% no granitóide, entre 52 e 55% no diorito e entre 53 -55% nos encraves. São também na generalidade rochas metaluminosas com valores de A/CNK variando entre 0,70-0,92. Apenas a amostra mais siliciosa do granitóide se classifica como peraluminosa. Os diagramas de variação mostram decréscimo em TiO2, FeO e Mg e aumento em K2O desde o diorito ao granitóide, tendo os encraves composição semelhante à do diorito, mas não se observa tendência contínua de variação no diagrama K2O-SiO2, (Fig.1), indicando que as rochas não se relacionam por um processo de cristalização fraccionada. Os diagramas de variação de elementos menores (Fig. 1) também mostram a inexistência de um processo de cristalização fraccionada a relacionar estas rochas. Às tendências de variação observadas na maioria dos diagramas não se podem ajustar rectas. Os dioritos e encraves possuem composições muito semelhantes entre si e diferentes da composição do granitóide hospedeiro (Fig. 1) e sem continuidade nos diagramas. As temperaturas de saturação do zircão foram calculadas, usando o método de Watson e Harrison (1983) para o granitóide; variam entre 819 e 759º C e podem ser usadas como estimativa da temperatura de cristalização desta rocha. 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 Granitóide Encraves Diorito 50 55 60 65 70 % SiO 2 r o chas 3,50 % K2O 3,00 2,50 Granitóide 2,00 Encraves 1,50 Diorito 1,00 0,50 0,00 50 55 60 65 70 % SiO2 ro chas 60,0 ppm Cs 50,0 40,0 Granit óide 30,0 Encraves 20,0 Diorito 10,0 4. Geoquímica dos elementos terras raras (REE) no plutão de Reguengos de Monsaraz 0,0 50 55 60 65 70 % Si O 2 r o chas Na Fig. 2 são dados os perfis de REE, normalizados para condrito. Os encraves são na generalidade as rochas mais ricas em REE. Nos encraves os ΣREE variam entre 117,4 e 170,9 ppm. O granitóide tem ΣREE que variam entre 118,3 e 158,7 ppm e o diorito é menos enriquecido em REE, com ΣREE entre 110,9 3 131,16 ppm. O diorito possui também as menores anomalias negativas de Eu enquanto o granitóide possui as anomalias negativas mais acentuadas. O diorito é a rocha com perfis menos fraccionados (La/Lu varia entre 6,3 e 12,3) enquanto no granitóide este cociente varia entre 6,9 e 14,96. Os encraves possuem os perfis menos fraccionados, pois são as rochas mais ricas em HREE. Os perfis do diorito e dos encraves são sub-paralelos, mas os do granitóide são mais ricos em LREE, indicando fontes com composição distinta para estas rochas. 35 ppm Nb 30 25 Granitóide 20 Encraves 15 Diorito 10 5 0 50 60 70 % SiO2 ro chas ppm Rb 160 140 120 Granit óide 100 80 60 40 20 Encraves Diorito 0 50 60 70 % SiO 2 r o chas 5. Composições isotópicas das rochas ígneas do plutão de Reguengos de Monsaraz Fig.1. Diagramas de variação das rochas ígneas do plutão de Reguengos de Monsaraz. 5.1. Isótopos de oxigénio 250 semelhantes aos do granitóide hospedeiro, que variam entre 8,637 e 8,812. Estes valores são superiores ao encontrado no diorito (8,111) indicando uma fonte diferente para o diorito e para granitóide hospedeiro. Os valores de δ18O encontrados nos encraves mostram que foi atingido o equilíbrio isotópico com o granitóide hospedeiro. 0,7205 0,7185 86 Sr/ Sr 0,7195 0,7175 87 100,0 0,7165 Age = 312 ± 60 Ma Initial 0,7155 87Sr/86Sr =0,7098 ± 0.0015 MSWD = 18 0,7145 1,1 1,3 1,5 1,7 87 1,9 2,1 2,3 2,5 86 Rb/ Sr rocha/condrito Fig. 3. Diagrama 87Rb/86Sr – 87Sr/86Sr do granitóide do Plutão de Reguengos de Monsaraz. 10,0 O diorito possui o menor valor desde cociente- 0,7066. Observa-se assim um aumento no valor da razão inicial de 87Sr/86Sr desde o diorito ao granitóide. Os valores distintos na razão inicial de 87Sr/86Sr entre o granitóide e o diorito indicam origens distintas nos magmas que os originaram, o que foi também indicado pelos isótopos de oxigénio. 1,0 La Ce Pr Nd Sm Eu Gd Tb Dy Er Yb Lu 6. Conclusões O plutão de Reguengos de Monsaraz, tardia pós-tectónic é constituído essencialmente por rochas granitóides granodioríticas-tonalíticas, metaluminosas, por dioritos e por encraves microgranulares máficos. Estas rochas não se relacionam por cristalização fraccionada. O granitóide cristalizou entre 819-759º C e o seu magma tem origem crustal, como indicado pelos isótopos de Sr. O magma que originou o diorito teve fonte distinta daquele que originou o granitóide. Fig. 2: Perfis de REE das rochas ígneas do plutão de Reguengos de Monsaraz. Símbolos como na Fig.1. 5.2. Isótopos de Rb e Sr As composições isotópicas de 87Rb/86Sr e 87 86 Sr/ Sr são dadas na Tabela 1. Não foi possível obter isócrona, pois o MSWD é muito alto (Fig. 3). Contudo a idade obtida para o granitóide, de 312 Ma, se bem que com um erro muito alto (+60 Ma) e apenas com 5 das amostras analisadas, é semelhante à admitida para os granitóides póstectónicos na Zona de Ossa -Morena. Para este granitóide foram calculados os valores de (87Sr/86)o para 312 Ma das 5 amostras usadas na isócrona e variam entre 0,7095 e 0,7099 sendo nitidamente crustais. Os encraves possuem valores menores deste cociente, variando entre 0,7089-0,7092. Referências Bibliográficas [1] Silva, M.M.V.G., Neiva A.M.R and Whitehouse, MJ. (2000). LITHOS, 50, 153-170. Agradecimentos Trabalho desenvolvido no âmbito do projecto POCTI/CTA/34366/00 da FCT e do Centro de Geociências. Tabela 1 - valores de isótopos de Rb e Sr das rochas ígneas do plutão de Reguengos de Monsaraz. Diorito Granitóide Encraves Amostras RM10 QL17 QL15 QL20 QL12 RM1 QL1 RM16 RM4 RM5 87 0,5624 2,2630 1,7330 2,0036 1,3630 1,6290 1,4090 0,8760 0,9751 1,0075 0,00530 0,02100 0,01600 0,01900 0,01300 0,01500 0,01300 0,015 0,0092 0,0095 Sr/ Sr 0,70905 0,71997 0,71756 0,71835 0,71585 0,71522 0,71598 0,71307 0,71360 0,71342 Erro (2σ) 0,00006 0,00005 0,00005 0,00005 0,00005 0,00005 0,00005 0,000048 0,000051 0,000051 (87Sr/86Sr)o 0,7066 0,7099 0,7099 0,7095 0,7098 0,7080 0,7097 0,7092 0,7093 0,7089 Rb/86Sr Erro (2σ) 87 86 251