PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLOGICAS E DA SAÚDE Graduação em Medicina Veterinária Unidade Betim BOLETIM Informativo CONTROLE INTEGRADO DE ECTOPARASITAS NA AVICULTURA Autores: Bianka dos Santos Chaves Clarissa Antunes de Assis e Castro Fernanda Sampaio Agostinho Júlia de Melo Moreira Assunção Lucas Allan dos Santos Rezende Tayná Letícia Antunes Santos CONTROLE INTEGRADO DE ECTOPARASITAS NA AVICULTURA Os ectoparasitas mais comuns de aves são ácaros, piolhos e argas, carrapato, pulgas, moscas e percevejos. As aves parasitadas se tornam predispostas à outras infecções e apresentam queda de desempenho e na postura de ovos1. removendo os ectoparasitas de seu corpo e de outras aves com o bico. Em confinamento, com a O contágio pode ocorrer através de aves urbanas (pombos) e silvestres, roedores, insetos que atuem como vetores mecânicos, equipamentos, fômites, ambiente contaminado e de ave para ave2. ÁCAROS Além das aves, algumas ectoparasitoses se constituem como zoonoses e podem afetar os funcionários da granja, que podem apresentar dermatites, alergias e sarnas. Isso representa um risco para a saúde pública3. Os sinais clínicos associados à ectoparasitas variam de acordo com o parasita, mas em geral se manifestam como prurido, estresse, dermatite, perda de penas (Figura 1), queda no consumo de ração e produção de ovos, que pode chegar a 50% em infestações severas. Em casos de infestações severas por ectoparasitas hematófagos, pode ocorrer anemia e até mesmo óbito4. debicagem, falta de contato com o solo, alta densidade animal e luz solar limitada, a multiplicação e dispersão de ectoparasitas é favorecida5. Os ácaros das aves são artropódes minúsculos de corpo mole, que alimentam-se de sangue, penas, linfa, restos de derme ou secreções sebáceas. Podem ser de vida livre ou parasitas obrigatórios. Os ácaros hematófagos mais comuns são Dermanyssus gallinae, conhecido como “ácarovermelho”; Ornithonyssus sylviarum e O. bursa1. D. gallinae (Figura 2) apresenta distribuição cosmopolita, ocorrendo com maior abundância nas regiões de clima tropical. Se encontra em frestas e fendas das instalações ou em acúmulo de matéria orgânica. Realizam o repasto sanguíneo no periodo noturno5. Figura 2 – Ácaro Dermanyssus gallinae Figura 1 – Frango com perda de penas. Fonte: Wikipedia. Fonte: CPT cursos. Em vida livre, as aves apresentam defesas naturais ao parasitismo, como exposição ao sol, se revolverem em areia seca para limpar suas penas e passaram seu tempo se limpando, Ornithonyssus sylviarum (Figura 3) passa todo seu ciclo de vida no hospedeiro, formando colônias nas penas das aves, que se tornam escurecidas ao redor da cloaca devido ao acúmulo de sangue seco e excremento. São cosmopolitas e se apresentam como infestações menos severas6,3. Figura 3 – Ácaro Ornithonyssus sylviarum Fonte: Entomology Today. Ornithonyssus bursa (Figura 4) formam colônias nas camas e ninhos das aves e dificilmente é encontrado nos plantéis comerciais atualmente. Não sobrevivem por muito tempo sem se alimentar, desaparecendo do ambiente caso seja instaurado períodos de vazio sanitário. Não há necessidade de controle químico para esta espécie, sendo recomendada apenas a limpeza dos galpões5. PIOLHOS Os piolhos são ectoparasitas de aves ou mamíferos, com peças bucais adapatadas à mastigação (não hematófagos). Seu alimento é a descamação da pele, penas e secreções sebáceas. Algumas espécies podem ser hematófagas. Permanecem durante todo o ciclo na ave, colocando seus ovos na base das penas. As principais espécies que afetam a avicultura são: Menacanthus cornutus, M. Stamineus, M. Palidulus e Menopon gallinae (Figura 5)3. Figura 5 – Piolho Menepon gallinae. Figura 4 – Ácaro Ornithonyssus bursa Fonte: ResearchGate. Afetam as aves ao causar estresse e prurido, que acarreta em queda na produção de ovos e retardo no desenvolvimento, além de causar morte de aves jovens. Uma vez que a infestação se instale, é difícil erradicá-la e por vezes as aves permanecem infestadas até o fim do ciclo produtivo5. PERCEVEJOS Fonte: Alchetron. Em decorrência do hematofagismo, as aves se apresentam debilitadas. Em casos de infestações severas, pode ocorrer anemia do tipo microcítica normocrômica devido à perda constante de sangue. Além disso, as aves afetadas ficam estressadas e ocorre elevação nos níveis de corticoesteróides, principalmente cortisol, que é acompanhada por redução da ingestão de alimentos e queda do desempenho e postura, alterações imunológicas e suscetibilidade à doenças7. São insetos hematófagos, sendo mais comumente encontrados em criações não comerciais visto que habitam frestas e rachaduras de parede. A espécie mais comum é Ornithocoris toledoi (Figura 6), que apresenta em torno de 10mm e é desprovido de asas3. Outra espécie comumente encontrada é Cimex lectularius, chamado de “percevejo-de-cama”. É um parasita comum nos trópicos que se alimenta em período noturno. Se forem atacadas por um grande número de percevejos, as aves podem se tornar anêmicas2. Figura 6 – Percevejo Menepon gallinae. PULGAS A espécie Echdnophaga gallinacea (Figura 8) é exclusiva de aves e habitualmente se localizam na pele da cabeça das aves, onde permanece aderido por dias ou semanas. As infecções podem ser severas em aves jovens2. Figura 8 – Pulga Echdnophaga gallinacea. Fonte: Wikipedia. CARRAPATOS Os carrapatos são artrópodes pertencentes à classe Arachnida e apresentam distribuição cosmopolita, porém não percorrem distâncias longas e sua disseminação se restringe a região afetada. São parasitas hematófagos obrigatórios, necessitando de sangue em pelo menos um estágio do seu ciclo de vida1. A Argas persicus (Figura 7) apresenta distribuição mundial. São ativos na avicultura durante o tempo seco e quente e se escondem em frestas e rachaduras. Nas aves afetadas, podem ser encontradas larvas aderidas à pele. Apresentam hábito norturno e são vetores de doenças como a espiroquetose aviária e cólera aviária2. Fonte: Entomology Today. MOSCAS E BORRACHUDOS A Pseudolynchia canariensis (Figura 9) é um parasita importante de pombos, e pode afetar as aves comerciais caso o contágio entre as espécies ocorra. São importantes em áreas quentes ou tropicais e podem transmitir patógenos2. Figura 9 – Mosca Pseudolynchia canariensis. Figura 7 – Carrapato Argas persicus Fonte: BugGuide. Fonte: Wikipedia. As Similium spp (Figura 10) são conhecidas popularmente como “borrachudos” e são hematófagas e transmissoras de patógenos, como a leucocitozoonose. São habitantes de áreas temperadas e tropicais e frequentemente atacam em enxames. Como parte do seu ciclo ocorre na água, são importantes em granjas que se localizam próximas à coleções hídricas2. Figura 11 – Inseto “tesourinha”. Figura 10 – Borrachudo Simillum sp. Fonte: Insetologia. Fonte: Wikipedia. CONTROLE Para controle dos ectoparasitas na avicultura comercial, deve ser realizado o exame periódico das aves, visando tratar as infestações em seu momento inicial, caso hajam. A identificação correta do parasito é fundamental para a escolha correta das medidas de controle. Alguns ectoparasitas podem ser coletados, armazenados em um vidro contendo álcool 70% e enviados ao laboratório para identificação3. Além disso, outras medidas de controle que devem ser tomadas são: evitar a presença de outras aves e roedores nas instalações, monitorar os galpões periodicamente para detecção de focos, tratar os focos encontrados adequadamente e realizar dedetizações periodicas no período de vazio sanitário, inspeção de telhados, armadilhas, manter os ambientes bem ventilados e arejados. Pintos de 1 dia contaminados também podem ser fontes de infecção3. Uma alternativa para o controle de ácaros é a utilização de dermapteros (tesourinhas – Figura 11), que são inimigos naturais destes parasitas. Estes insetos ocorrem naturalmente no esterco de galinhas, que pode ser tratado e preservado para utilização no controle biológico5. Para moscas, o ideal é que seja realizado a instalação de armadilhas apropriadas espalhadas ao longo da propriedade em pontos estratégicos. Essa medida deve ser acompanhada da adoção de medidas de higienização das instalações e da destinação correta de dejetos e carcaças8. Para utilização de controle químico, deve-se levar em conta a idade do lote, tipo de criação, época do ano e distribuição da infestação. Podem ser utilizados agentes químicos como carbamatos, piretróides, organofosforados, organoclorados, dentre outros. O ideal é identificar o parasita para saber qual o método mais eficaz de controle2. REFERÊNCIAS 1 SOARES, Sabrina Dos Santos. Ectoparasitismo de aves em um fragmento de Mata Atlântica- (Piraí, RJ). 2018. 49p. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal). Instituto de Biologia, Departamento de Biologia Animal, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2018. 2 NEPOMUCENO, Giane Lima. Ectoparasita na produção de aves. 3rlab. 4 de agosto de 2016. Disponível em: <https://www.3rlab.com.br/2016/08/04/ectoparasita-na-producaode-aves/>. Acesso em: 08 de outubro de 2020. 3 PEDROSO-DE-PAIVA, Doralice. Principais parasitos externos de aves. EMBRAPA – suínos e aves. Circular técnica n.18, Concórdia – SC, 24p., 1996. 4 LOPES, Jackelline Cristina Ost. Avicultura. Caderno Agrícola de Floriano – PI. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 96p. 2011. 5 LUCCI, Edna. Ectoparasitas em granjas de postura. Produção Animal – Avicultura. Caderno de postura, p.50-57, 2016. 6 FORNARI. Ectoparasitas na produção de galinhas de postura: entenda esse perigo e saiba como combatê-lo. Fornani Indústria, 16 de março de 2017. Disponível em: < http://www.fornariindustria.com.br/avicultura/ectoparasitas-naproducao-de-galinhas/>. Acesso em: 08 de outubro de 2020. 7 PALERMO-NETO;SPINOSA; GÓRNIAK. aplicada à avicultura. São Paulo: Roca, 2005. Farmacologia 8 MARQUES, Humberto Luis. Controle de moscas e outros vetores em granjas avícolas. Revista Avicultura Industrial, n. 10, p.4447, 2017. BOLETIM Informativo