XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 1 XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS AUTOR: verificar nomes e notas com cuidado. Deixar apenas a função principal de cada autor. José Eduardo Corá1/, Dirceu Mattos Júnior2/, Rodrigo Marcelli Boaretto2/, Fernando Alves de Azevedo2/, Fernando Cesar Bachiega Zambrosi3/, José Antônio Quaggio3/ & Priscila Roberta Volante4/ 1/ Engenheiro-Agrônomo, Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Jaboticabal. Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP. E-mail: [email protected] 2/ Engenheiro-Agrônomo, Pesquisador Científico do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, Instituto Agronômico (IAC), Rod. Anhanguera, km 158, CEP 13490-000, Cordeirópolis, SP. E-mail: [email protected], [email protected], [email protected] 3/ Engenheiro-Agrônomo, Pesquisador Científico do Centro de Solos e Recursos Ambientais, Instituto Agronômico (IAC), Avenida Barão de Itapura, 1.481, CEP 13020-902, Campinas, SP. E-mail: zambrosi@iac. sp.gov.br, [email protected] 4/ Engenheira-Agrônoma, Doutoranda em Pós-Graduação em Agronomia (Produção Vegetal) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus Jaboticabal, Via de Acesso Prof.Paulo Donato Castellane s/n, CEP 14884-900, Jaboticabal, SP. E-mail: [email protected] Conteúdo INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................ 1 REGIÕES DE OCORRÊNCIA DA CITRICULTURA (HISTÓRICO)........................................................................ 2 CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E MORFOLÓGICAS DO CITROS E EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS ................................................................................................................................................. 3 PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS EM REGIÕES COM CITRICULTURA (LIMITAÇÕES E QUALIDADES RELACIONADAS ÀS EXIGÊNCIAS DO CITROS).................................................................... 4 MANEJO DO SOLO NA IMPLANTAÇÃO DO POMAR ......................................................................................... 9 MANEJO DO SOLO NO POMAR IMPLANTADO.................................................................................................... 15 Atributos químicos .................................................................................................................................................. 15 Atributos físicos (manejo das entrelinhas) ........................................................................................................... 16 LITERATURA CITADA ................................................................................................................................................. 20 INTRODUÇÃO O manejo do solo é definido como a combinação das operações de cultivo, práticas culturais, fertilização, correção da acidez do solo e outros tratamentos aplicados ao solo que visam maximizar a produção de plantas (Curi et al., 1993). Portanto, é de caráter SBCS, Viçosa, 2015. Manejo do Solo, xxxp. (eds. xxxxxx).DO MANEJO SOLO 2 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. complexo, tanto em decorrência da quantidade de operações e interações entre elas como das interações com cada tipo de solo. O solo, corpo tridimensional na paisagem, é resultado da ação combinada dos fatores de formação, como material de origem, relevo, organismos (fauna e flora) e clima, num espaço de tempo (Jenny, 1941) e de processos pedogenéticos de formação (adição, perda, transformação e translocação), que, especificamente, são os processos denominados de latolização, argiluviação, podzolização, gleização e outros. Portanto, o conjunto de atributos (químicos, físicos, biológicos, morfológicos e mineralógicos) de determinado solo depende da interação entre os fatores e os processos de formação como: composição da rocha de origem, o que interfere a taxa de alteração pelo intemperismo; das condições climáticas; da vegetação existente; e da sua posição na paisagem. Dessa maneira, o produtosolo difere do material do qual foi derivado em muitas propriedades e características, cujo conhecimento permite prever seu padrão de comportamento, ou seja, suas limitações e qualidades para determinado uso (= aptidão). A aptidão define a capacidade de suporte do solo para discriminado uso (atividade), sendo a base para estabelecer o plano de manejo adequado e racional para a atividade agrícola. O plano de manejo com base na capacidade de suporte auxilia na prevenção da degradação do solo e na manutenção da estabilidade da produtividade da atividade (culturas). Também fica clara a necessidade de se conhecerem as características da atividade agrícola para determinar as limitações e qualidades do solo. Quando essa não é compatível com a aptidão e capacidade de suporte do solo (uso e, ou, manejo do solo), pode se tornar inviável tanto de forma econômica quanto ambiental, diminuindo a capacidade produtiva do solo ao longo do tempo. Portanto, é necessário conhecer as limitações e qualidades do solo para sua adequada utilização para que, então, essa atividade seja econômica e ambientalmente sustentável. Os citros possuem grande capacidade de adaptação em relação aos diferentes tipos de solos. Esse fato, entretanto, não permite afirmar que a planta apresente todo o seu potencial produtivo em todos os tipos de solos. Portanto, é necessário conhecer as exigências edáficas das plantas de citros, que é uma combinação de variedades copa e porta-enxerto, para definir as limitações e qualidades de determinado solo à citricultura. Assim, este capítulo teve como objetivo apresentar as principais classes de solos para a citricultura, assim como o manejo do solo considerado adequado desde a implantação à condução do pomar adulto, com base em resultados de pesquisa e experiências práticas. Contudo, não se tem a pretensão de esgotar o assunto, pois se entende que esse manejo deve ser dinâmico, adaptando-se às novas tecnologias e aos avanços alcançados na melhoria genética das espécies comercialmente cultivadas. REGIÕES DE OCORRÊNCIA DA CITRICULTURA (HISTÓRICO) Os citros compreendem um grande grupo de plantas dos gêneros Citrus, Fortunella e Poncirus e híbridos da família Rutaceae, que são representados por laranjas, tangerinas, limões, limas (ácidas e doces), pomelos, cidras e toranjas. São originários principalmente das regiões subtropicais e tropicais da China, Japão e do sudeste da Ásia, incluindo áreas do MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 3 leste da Índia, Bangladesh, como também Filipinas, Indonésia, Austrália e África (Donadio et al., 2005). No Brasil, os citros foram introduzidos pelos portugueses, no começo do século XVI (Donadio et al., 2005). A citricultura é uma das principais atividades agrícolas de importância econômica e social para o Brasil. Destaca-se pela produção de laranjas-doces, tangerinas e limas ácidas, que contribuem com o maior volume do total brasileiro de frutas. Em número, isso representa 48 % dos 43,6 milhões de toneladas obtidos em 2012. Banana, abacaxi, melancia, mamão, uva e maçã, juntas, somaram, em 2012, 39 % (Anuário Brasileiro da Fruticultura, 2013). As laranjas são os principais frutos cítricos cultivados no mundo. O Brasil detém 34 % do total mundial de 51,8 milhões t (USDA, 2014), em cerca de 720 mil ha, com grande concentração no Estado de São Paulo, cuja produção foi cerca de 11,9 milhões de t, em 2014 (IEA, 2015). O Estado de São Paulo responde por aproximadamente 65 % da produção de limas ácidas e limões e por 23 % das tangerinas no país. Seguem em importância na produção brasileira de citros os Estados da Bahia, de Sergipe, de Minas Gerais, do Paraná e do Rio Grande do Sul. Em São Paulo, cerca de 80 % da produção de laranja destina-se à indústria e exportação do suco. Quanto à comercialização da laranja in natura, o volume para os mercados internos e de exportação é menor, contudo, vem crescendo proporcionalmente ao incremento da renda dos brasileiros à sua exigência para melhoria da qualidade dos frutos. Na Bahia, a produção de laranja concentra-se nas regiões do Litoral Norte (Rio Real), Agreste de Alagoinhas (Itapicuru) e Recôncavo Sul (Cruz das Almas). Em Sergipe, os cinco municípios maiores produtores estaduais são Itabaininha, Cristinápolis, Salgado, Lagarto e Boquim. Os solos cultivados com citros nos Estados da Bahia e de Sergipe apresentam, como característica diferencial, horizontes subsuperficiais adensados, denominados horizontes coesos, que se constituem na principal limitação agrícola para os citros e, portanto, exigindo manejo com algumas especificidades. Por esse fato, tais solos serão tratados separadamente em outro capítulo deste livro. (AUTOR VERIFICAR) Em Minas Gerais, as regiões produtoras são o Triângulo Mineiro, sul e norte do Estado (Souza e Lobato, 2001). A citricultura no Triângulo Mineiro é um prolongamento da citricultura do norte de São Paulo, sendo a safra direcionada para as indústrias de suco de São Paulo (Boteon e Neves, 2005). Já o norte de Minas dedica-se à produção de Tahiti; e o sul, à produção de tangerina ponçã, segundo Souza e Lobato (2001). No Estado do Paraná, a produção é voltada à exportação de suco, como no Estado de São Paulo, e está concentrada no noroeste do Estado, na região de Paranavai (Boteon e Neves, 2005). A participação do Rio Grande do Sul na produção brasileira é principalmente voltada para tangerinas (13 %). CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS E MORFOLÓGICAS DO CITROS E EXIGÊNCIAS EDAFOCLIMÁTICAS Os citros apresentam bom desenvolvimento em regiões onde as temperaturas do ar variam de 22 °C a 33 °C. Entretanto, perdas de produção podem ocorrer quando MANEJO DO SOLO 4 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. as temperaturas ficam acima de 35 °C e abaixo de 13 °C, em razão da diminuição da fotossíntese e dos prejuízos no florescimento e na fixação de frutos jovens (Syvertsen e Lloyd, 1996; Medina et al., 2005). O período entre o florescimento e a maturação dos frutos pode variar de nove a 16 meses, dependendo da espécie ou variedade, da combinação copa/porta-enxerto e das condições edafoclimáticas (Pio et al., 2005). É esse intervalo que define as variedades tidas como precoces (Hamlin e Westin), meia-estação (Pera) e tardias (Valência, Natal e Folha Murcha). O sistema radicular dos citros é constituído de raiz primária ou pivotante, a partir da qual se desenvolvem as raízes secundárias, que, por sua vez, originam as terciárias, quaternárias e assim por diante (Queiroz-Voltan e Blumer, 2005). As raízes mais velhas, geralmente de crescimento secundário, têm função de fixação e armazenamento, enquanto as mais jovens, que se encontram em processo de crescimento primário e localizadas perto do ápice da raiz, têm função na absorção de água e nutrientes (Queiroz-Voltan e Blumer, 2005). Por serem perenifólios e reterem os frutos por vários meses, os citros exigem elevados níveis de umidade no solo ao longo do ano, exceto no período de indução floral. Todas essas características fisiológicas e morfológicas dos citros devem ser levadas em conta na definição das limitações e qualidades do solo para a cultura, ou seja, sua aptidão e manejo adequado do solo para citricultura. Dessa maneira, os solos mais recomendados para citricultura, com menos limitações e mais qualidades, ou seja, maior aptidão, são aqueles com suficiente profundidade efetiva, que não apresentam impedimento físico ou químico nos primeiros 150 cm de profundidade e que possuem capacidade de armazenar quantidade suficiente de àgua disponível para as plantas. O solo deve ser visto como ambiente do sistema radicular, onde a disponibilidade de nutrientes e água é governada pelo conjunto dos atributos fisicos, quimicos e biológicos. A disponibilidade de nutrientes e água determina a extensão e distribuição do sistema radicular, que, por sua vez, resulta no crescimento da parte aérea da planta e, consequentemente, na produtividade da cultura. A produtividade é ainda influenciada por fatores diretos e indiretos como potencial genético da planta, controle fitossanitário (pragas e doenças), plantas infestantes e clima, além das interações entre esses. Assim, o manejo adequado do solo pode ser interpretado como a adaptação da planta às condições do ambiente, ou seja, a relação solo-planta. Os citros evidenciam boa adaptabilidade e mantêm níveis elevados de produtividade em condições edáficas distintas (Corá et al., 2005). PRINCIPAIS CLASSES DE SOLOS EM REGIÕES COM CITRICULTURA (LIMITAÇÕES E QUALIDADES RELACIONADAS ÀS EXIGÊNCIAS DO CITROS) Nas principais áreas produtoras de citros no Brasil, aproximadamente de 720 mil ha, as classes de solos de maior ocorrência são os Latossolos e Argissolos, seguidos pelas dos Neossolos Quartzarênicos e, em menor proporção, pelas dos Neossolos Flúvicos, Cambissolos, Gleissolos, Espodossolos e Plintossolos. MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 5 Nas áreas onde se concentram 65 % da citricultra brasileira (Estado de São Paulo, Triângulo Mineiro e norte do Paraná), destacam-se os Latossolos Vermelhos e VermelhosAmarelos, com aproximadamente 40 %; Argissolos Vermelhos-Amarelos, com 47 %, Gleissolos, com 5 %; Cambissolos, com 4 %; e Neossolos Quartzarênicos e Neossolos Flúvicos, com 2 %. Para o manejo adequado do solo, no caso específico da citricultura, podem ser considerados como indicadores de limitações e qualidades (aptidão) os atributos físicos do solo como textura, estrutura, densidade, porosidade total, volume de macro e microporos, retenção e amazenagem de água e profundidade efetiva do solo; os atributos químicos como capacidade de troca de cátions (CTC), toxicidade de alumínio (Al), deficiência de cálcio (Ca) e magnésio (Mg), saturação por bases (V), teores de fósforo (P), potássio (K) e matéria orgânica (MO); e atributos morfológicos como relevo e posição de ocorrência na paisagem. A classe dos Latossolos (Figura 1) apresenta como principais indicadores de qualidade para a citricultura o relevo geralmente plano ou suave ondulado, favorecendo menor susceptibilidade à erosão; e adequada profundidade efetiva; friabilidade e porosidade adequadas, o que permite o crescimento radicular e a infiltração de água e circulação do ar, favorecendo a respiração e absorção de íons pelas raízes. Como principais limitações, os Latossolos evidenciam baixos teores de P; baixa CTC; baixa capacidade de armazenamento de água disponível para as plantas, quando a textura é mais arenosa; caráter distrófico (baixos teores de Ca, Mg e K) e, ou, caráter álico (saturação por Al maior que 50 %); baixos teores de micronutrientes, naqueles de textura mais arenosa; e susceptibilidade à compactação, quando mais argilosos (Quadros 1 e 2). Figura 1. Perfil de Latossolo Vermelho-Amarelo localizado no município de Palestina, SP. Foto: J.E. Corá. MANEJO DO SOLO JOSÉ EDUARDO CORÁ 6 ET AL. Quadro 1. Atributos químicos de Latossolo Vermelho-Amarelo, município de Palestina, SP Horiz. Prof. pH MO P -3 K -3 Ca Mg H+AL SB CTC -3 --------------------cmolc dm ----------------- V cm CaCl2 g dm mg dm % Ap 0-20 4,2 11 5 0,29 2,3 1,0 1,6 3,59 5,19 69 AB 20-35 4,2 10 2 0,28 0,8 0,9 1,8 1,98 3,78 52 BA 35-55 4,2 8 2 0,24 0,8 0,8 1,8 1,84 3,64 51 Bw1 55-97 4,2 7 1 0,15 0,8 0,7 1,8 1,65 3,45 48 Bw2 97-150 4,3 6 1 0,13 0,7 0,7 1,5 1,53 3,03 50 Diagramador: colocar em negrito MO= Matéria Orgânica; SB = Soma de bases; e CTC = capacidade de troca catiônica. Quadro 2. Atributos físicos de Latossolo Vermelho-Amarelo, município de Palestina, SP Horiz. Ap AB BA Bw1 Bw2 Prof. cm 0-20 20-35 35-55 55-97 97-150 Areia Silte Argila VTP -1 - Macro 3 -----------g kg -------750 50 200 740 50 210 666 64 270 690 40 270 691 39 270 -3 Micro --------------m m ------------0,48 0,19 0,29 0,35 0,11 0,24 0,40 0,17 0,24 0,39 0,13 0,26 0,41 0,15 0,26 Ds kg dm-3 1,22 1,34 1,26 1,11 1,11 VTP = Volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< 0,05 mm); e Ds = Densidade do solo. Os Argissolos (Figura 2) apresentam como característica diferencial o incremento do teor de argila do horizonte B para baixo no perfil (gradiente textural) (Quadro 3). A textura pode variar de arenosa a argilosa no horizonte superficial (horizonte A) e de média a muito argilosa no horizonte Bt, sempre havendo aumento dos teores de argila do horizonte A para o horizonte B. Os Argissolos apresentam-se com profundidade variável, de forte a imperfeitamente drenados, de forte a moderadamente ácidos e com saturação por bases alta ou baixa (Santos et al., 2013). A classe dos Argissolos apresenta como um dos mais importantes indicadores de qualidade o caráter eutrófico no horizonte Bt. Quando eutróficos (Quadro 4), os Argissolos apresentam grande suprimento de bases em profundidade, o que permite o crescimento do sistema radicular, possibilitando maior aproveitamento de água disponível no horizonte Bt, aspecto que favorece a cultura dos citros. As principais limitações ficam por conta da presença de argila de atividade baixa; baixa CTC; baixos teores de P; baixos valores de V; reduzida capacidade de armazenamento de água disponível para as plantas, principalmente quando o horizonte A é arenoso e espesso; elevado gradiente textural de alguns Argissolos; e a posição na paisagem em relevos ondulados e fortemente ondulados, favorecendo o processo erosivo. Quando apresentam elevado gradiente textural, é observada acentuada redução do volume de poros de maior diâmetro (macroporosidade) no horizonte subsuperficial (horizonte Bt) do solo, que são responsáveis pelo movimento da água e do ar no solo. Como consequências, têm-se menor infiltração e redistribuição da água, o que aumenta a susceptibilidade do solo à erosão e diminui a aeração (trocas gasosas), o que influencia o sistema radicular da planta, diminuindo o crescimento e absorção de água e nutrientes. É comum, em prolongados MANEJO DO SOLO Diagramador: colocar em negrito XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 7 períodos de chuvas, se observar amarelecimento no pomar sob Argissolos com gradiente textural elevado, causado por deficiência momentânea de nitrogênio. Figura 2. Perfil de Argissolo Vermelho-Amarelo localizado no município de Matão, SP. Foto: J.E. Corá Quadro 3. Atributos físicos de Argissolo Vermelho-Amarelo, município de Matão, SP Horiz. Prof. cm Ap AB Bt1 Bt2 0-30 30-50 50-70 70-120+ Areia Silte Argila --------------g kg-1 --------------800 757 730 724 55 80 47 46 VTP Macro Micro ------------- m3 m-3 ------------ 145 163 223 230 0,38 0,35 0,39 0,41 0,10 0,10 0,13 0,15 0,28 0,25 0,26 0,26 Ds kg dm-3 1,22 1,34 1,11 1,11 Diagramador: colocar em negrito VTP = Volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< 0,05 mm); e Ds = Densidade do solo. Quadro 4. Atributos químicos de Argissolo Vermelho-Amarelo, município de Matão, SP Horiz. Ap AB Bt1 Bt2 Prof. cm 0-30 30-50 50-70 70-120+ pH CaCl2 4,9 5,0 4,4 4,2 MO g dm-3 9 7 6 5 P mg dm-3 53 1 1 1 K Ca Mg H+AL SB CTC --------------------cmolc dm-3----------------0,18 3,4 1,7 1,6 5,28 6,89 0,15 1,1 2,0 2,0 4,05 6,05 0,07 1,3 2,2 2,2 4,17 6,37 0,08 1,2 2,2 2,2 3,38 5,58 V % 77 67 65 61 MO= Matéria Orgânica; SB = Soma de bases; e CTC = capacidade de troca catiônica. Os Neossolos são solos que apresentam insuficiência de manifestação dos atributos diagnósticos que caracterizam os diversos processos de formação. Apresentam exígua MANEJO DO SOLO Diagramador: colocar em negrito 8 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. diferenciação de horizontes, com individualização de horizonte A seguido do horizonte C ou R. Os Neossolos Quartzarênicos (Figura 3) evidenciam textura areia ou areia franca nos horizontes até a profundidade de 150 cm da superfície do solo ou até o contato lítico (Quadro 5); são essencialmente quartzosos, tendo nas frações areia grossa e areia fina 95 % ou mais de quartzo (Santos et al., 2013). Esse conjunto de atributos imprime aos Neossolos Quartzarênicos limitações como reduzido teor de argila e matéria orgânica, com consequente baixa CTC, baixa saturação por bases e deficiência de macro e micronutrientes (Quadro 6); baixa capacidade de armazenamento e disponibilidade de água para as plantas (Quadro 5); e drenagem excessiva e alta taxa de percolação de água, o que aumenta a taxa de lixiviação de nutrientes. Como indicadores de qualidade, apresentam relevo plano e suave ondulado, o que facilita a mecanização e o controle da erosão; e ausência de impedimento físico em profundidade, o que favorece a penetração do sistema radicular. Os Neossolos Flúvicos são solos derivados de sedimentos aluviais com horizonte A assente sobre horizonte C constituído de camadas estratificadas sem relação pedogenética entre si; podem apresentar caráter salino, sódico, carbonático, psamítico, eutrófico e distrófico (Santos et al., 2013). Como são solos bastante heterogêneos quanto aos atributos físicos e químicos, o manejo fica dificultado. Localizados em áreas de deposição aluviais (várzea), correm riscos de inundação. Como indicadores de qualidade evidenciam a posição de ocorrência na paisagem (áreas de várzea), o que facilita o acesso à água para irrigação, e o relevo plano, favorecendo a mecanização e o controle da erosão. Assim, Neossolos Flúvicos podem ser considerados de relativa potencialidade agrícola. Figura 3. Perfil de Neossolo Quartzarênico típico localizado no município de São Carlos, SP. Foto: J. E. Corá. MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 9 Quadro 5. Atributos físicos de Neossolo Quartzarênico típico, município de São Carlos, SP Horiz. Ap C1 C2 C3 Prof. cm 0-10 10-50 50-90 90-130 Areia Silte Argila ---------------g kg-1------------864 16 120 865 15 120 853 17 130 850 15 135 VTP Macro Micro --------------m3 m-3----------0,37 0,22 0,15 0,34 0,19 0,15 0,37 0,23 0,14 0,35 0,22 0,13 Ds kg dm-3 1,47 1,48 1,47 1,48 Diagramador: colocar em negrito VTP = Volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< 0,05 mm); e Ds = Densidade do solo. Quadro 6. Atributos químicos de Neossolo Quartzarênico típico, município de São Carlos, SP. Horiz. Prof. pH MO P -3 K -3 Ca Mg H+AL SB CTC -3 -------------------cmolc dm --------------- V cm CaCl2 g dm mg dm Ap 0-10 4,4 9 32 0,2,1 1,0 0,5 3,0 1,71 4,72 36 % C1 10-50 4,6 9 2 0,1,5 1,1 0,4 1,7 1,64 3,34 49 C2 50-90 4,2 8 1 0,1,3 0,3 0,2 2,3 0,63 2,93 21 C3 90-130 4,2 6 1 0,1,1 0,3 0,2 2,2 0,61 2,81 22 MO= Matéria Orgânica; SB = Soma de bases; e T = Capacidade de troca de cátions. Diagramador: CTC Os Cambissolos (Figura 4) compreendem solos constituídos por material mineral com horizonte B incipiente (Santos et al., 2013). Em decorrência da heterogeneidade do material de origem, do relevo e das condições climáticas, o conjuto de atributos físicos e químicos (Quadros 7 e 8) desses solos varia muito de um local para outro. Podem-se encontrar solos fortemente até imperfeitamente drenados, de rasos a profundos e de alta a baixa saturação por bases. São solos com grande potencial de produção quando apresentam profundidade efetiva mediana, caráter eutrófico e ausência de restrição prejudicial de drenagem e caráter alumínico. A principal limitação dessa classe de solos é a pequena profundidade efetiva, que limita o crescimento do sistema radicular. A limitação aumenta em regiões que ocorrem prolongados períodos de estiagem, em razão do pequeno volume de solo explorado pelas raízes, sendo pequeno o volume de água disponível em subsuperfície, expondo as plantas ao estresse hídrico regularmente e por longos períodos. A ocorrência na meia-encosta e encosta inferior da paisagem favorece a erosão. Os Gleissolos (Figura 5 e Quadros 9 e 10) são solos formados em materiais estratificados ou não. Comumente, ocorrem nas proximidades dos cursos d’água, em materiais colúvioaluvionais sujeitos a condições de hidromorfia, em áreas de relevo plano de terraços fluviais, lacustres e marinhos, assim como em materiais residuais em áreas abaciadas e depressões. São permanente ou periodicamente saturados por água, podendo a água se elevar por ascenção capilar até atingir a superficie do solo. São solos mal ou muito mal drenados em condições naturais (Santos et al., 2013). MANEJO DO SOLO Diagramador: colocar em negrito JOSÉ EDUARDO CORÁ 10 ET AL. Figura 4. Perfil de Cambissolo Háplico Eutrófico, município de Palestina, SP. Foto: J. E. Corá. Quadro 7. Atributos químicos de Cambissolo Háplico Eutrófico, município de Palestina, SP Horiz. Prof. pH MO P -3 K -3 Ca Mg H+AL SB CTC V ------------------------cmolc dm --------------- % -3 cm CaCl2 g dm mg dm Ap 0-15 5,4 23 60 0,23 3,4 1,7 1,8 5,33 7,13 75 Bi 15-50 5,5 14 4 0,31 3,8 1,4 1,5 5,51 7,01 79 Cr - - - - - - - - - - - Diagramador: colocar em negrito MO= Matéria Orgânica; SB = Soma de bases; e CTC = Capacidade de troca de cátions. Diagramador: colocar em negrito Quadro 8. Atributos físicos de Cambissolo Háplico Eutrófico, município de Palestina, SP. Horiz. Prof. cm Areia Silte Agila VTP ---------------g kg-1--------------- Ap 0-15 720 120 160 Bi 15-50 660 150 190 Cr - - - - Macro Micro --------------m3 m-3----------- - Ds kg dm-3 0,36 0,20 0,16 1,45 0,32 0,18 0,14 1,47 - - - - VTP = Volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< 0,05 mm); e Ds = Densidade do solo. Como principais limitações ao uso e manejo, os Gleissolos apresentam elevado nível do lençol freático, baixa drenagem, alto risco de inundação, baixa aeração e deficiência de oxigênio para as plantas. Como indicadores de qualidade, evidenciam altos teores de matéria orgânica na camada superficial, o que proporciona maior capacidade de troca de cátions; baixa suscetibilidade ao processo erosivo, relevos planos ou suavemente ondulados, o que favorece a mecanização e o controle da erosão. Quando drenados, apresentam adequada armazenagem de água. MANEJO DO SOLO Diagramador: colocar em negrito XI - MANEJO SOLO DO EM CULTIVO DE CITROS 11 Figura 5. Perfil de Gleissolo Háplico, município de Caracaraí, RR. Foto: J. E. Corá. Autor: MO? Quadro 9. Atributos químicos de Gleissolo Háplico, município de Caracaraí, RR Horiz. A1 A2 A3 CAg Cg1 Cg2 Prof. pH CO P -1 cm H2O g kg 0-15 15-37 37-60 60-87 87-120 120-178 4,3 4,2 4,5 4,8 4,8 4,9 12,8 7,1 4,3 2,0 1,2 1,2 K -3 Al+3 H+ SB CTC V -------------------cmolc dm ---------------4,4 0,4 1,0 0,47 5.87 2,9 0,2 0,7 0,23 3,83 2,4 0,1 0,6 0,12 3,12 1,5 0,1 0,6 0,11 2,21 1,2 0,1 0,5 0,11 1,81 1,0 0,1 0,5 0,11 1,61 % -3 mg dm 2 1 1 <1 <1 <1 Ca + Mg 0,07 0,03 0,02 0,01 0,01 0,01 8 6 4 5 6 7 Diagramador: colocar em negrito MO= Matéria Orgânica; SB = Soma de bases; e CTC = Capacidade de troca de cátions. Adaptado de Vale Junior, et al., 2015, Guia de campo da XI Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos, Roraima, 2015. Quadro 10. Atributos físicos de Gleissolo Háplico, município de Caracaraí, RR Horiz. Prof. cm A1 A2 A3 CAg Cg1 Cg2 0-15 15-35 35-60 60-87 87-120 120-178 Areia Silte Argila VTP -1 - 3 -------------g kg -------------802 830 820 772 744 711 97 49 39 67 75 67 Macro Micro -3 ---------------m m ------------ 101 121 141 161 181 222 0,55 0,49 nd nd 0,38 nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd nd Ds kg dm-3 1,08 1,32 nd nd 1,63 nd VTP = Volume total de poros; Macro = macroporos (> 0,05 mm); Micro = microporos (< 0,05 mm); Ds = Densidade do solo; e nd = não determinado. Adaptado de Vale Junior et al. (2015) Guia de campo da XI Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos, Roraima, 2015. MANEJO DO SOLO Diagramador: colocar em negrito 12 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. Apresentadas as características das classes de solos que ocorrem nas principais regiões citrícolas do país, constata-se que não existe uma determinada classe que apresente somente limitações ou somente qualidades. Desse modo, as classes de solos compreendem tanto aspectos positivos como negativos para a citricultura, o que dificulta a definição de manejo único e adequado para as diferentes classes de solos. O manejo adequado para cada classe de solo deve ser com base no conhecimento do comportamento daquela classe em relação à planta e ao ambiente. Isso só é possível com o conhecimento do conjunto de atributos do solo com elevada influência na produtividade da cultura, o que é conseguido com um detalhado levantamento do solo nas áreas destinadas à implantação da cultura. Adequar cada uso ao ambiente que lhe é mais próprio é a melhor prática de manejo e conservação do solo e da água. Nesse contexto, os estudos pedológicos são de extrema utilidade. Apesar da disponibilidade de ferramentas como geoprocessamento, os trabalhos de campo continuam sendo insubstituíveis nos levantamentos de solos e nas atividades afins. MANEJO DO SOLO NA IMPLANTAÇÃO DO POMAR A implantação do pomar de citros requer adequado planejamento para melhor eficiência de produção e retorno de investimento. As informações mais pertinentes a essa questão foram reunidas por De Negri et al. (2005), os quais abordaram desde a escolha da área até o plantio da muda no campo. Outras publicações têm tratado mais especificamente do manejo dos atributos químicos do solo na citricultura (Quaggio et al., 2010; Mattos Jr. et al., 2012). Questões referentes a preparo do solo, operações de subsolagem, gradagem e aração, direcionamento e locação das linhas de plantio e conservação do solo têm avançado pelo mérito técnico nos novos plantios da citricultura moderna, buscando o preparo mínimo da área, apenas nas linhas de plantio. Mais recentemente, a pesquisa tem investido esforços no estudo do manejo de culturas intercalares e, ou, da vegetação nativa com relação às alterações dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo, associadas à produção dos pomares. Nesse contexto, as informações, a seguir, abordam os principais pontos requeridos para implantar pomares de citros: A) Escolha da área – o plantio dos citros deve ser planejado com base na avaliação da capacidade de uso do solo, visando manutenção da sustentabilidade da produtividade, o que é possível com o conhecimento do conjuto de atributos do solo com elevada influência na produtividade da cultura, como: físicos (textura, estrutura, densidade, porosidade, resistência do solo à penetração, retenção de água e profundidade efetiva do solo), químicos (CTC, toxicidade de Al, teores de nutrientes, V e MO) e morfológicos (relevo e posição de ocorrência na paisagem), além das características do clima, como temperatura, umidade relativa do ar, regime hídrico e distribuição de chuvas. Essas informações são conseguidas com um detalhado levantamento do solo e do local das áreas destinadas à implantação da cultura. Como se trata de uma cultura perene, equívocos cometidos na implantação do pomar de citros permanecerão ao longo de sua vida útil e refletirão no seu desempenho. Portanto, é recomendada a eliminação de impedimentos físicos, como camadas compactadas subsuperficiais (pé-de-grade ou pé-de-arado), e químicos (teores MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 13 elevados de Al e/ou baixos de Ca) antes da implantação do pomar. Em áreas com limitações em atributos químicos e físicos, cultivo de grãos em um ou dois ciclos agrícolas deve ser considerado como estratégia viável antes da implantação do pomar, visando diminuir limitações químicas e físicas do solo ao longo do tempo, o que favorecerá o estabelecimento e a precocidade de produção dos citros. B) Planejamento de talhões – a declividade e conformação do terreno, o tipo de solo, o tamanho da propriedade e as exigências técnicas para operações mecanizadas devem ser levados em conta para definir o desenho e tamanho dos talhões. Os talhões podem representar áreas pequenas até de 5 ha, ou áreas maiores com cerca de 20 ha. Assim, podem ser quadrados ou retangulares, em áreas com relevo plano e suave ondulado (declividade <10 %), ou irregulares, em áreas com declividade variável e mais sujeitas à erosão. Aspectos como estradas, divisas e uso de irrigação também interferem e devem ser levados em consideração por ocasião da definição da forma e do tamanho dos talhões. Com a necessidade do plantio de pomares mais adensados e que facilitem o manejo regional para o controle do huanglongbing (HLB) (Belasque Jr. et al., 2010), verifica-se a tendência de plantio de pomares divididos em talhões com linhas de plantio retas, passando sobre as possíveis curvas de nível, estabelecidas inicialmente no terreno, o que diminui o número de ruas “mortas” e facilita a aplicação de inseticidas em bordas, com ganhos no rendimento operacional. Isso é possível em terrenos com declividade até de 10 %, sem prejuízos para a conservação do solo. A manutenção de cobertura vegetal do solo, por exemplo, com capim braquiária até o preparo de faixas de plantio, contribui para diminuir o escoamento da água das chuvas e da erosão do solo, durante o período de implantação do pomar (Auler et al., 2008). Somando-se a isso, em áreas planas ou ligeiramente inclinadas, preconiza-se direcionar as linhas de plantio no sentido leste-oeste, o que proporciona melhor insolação e evita que apenas um lado da planta receba o sol da tarde, principalmente em locais mais quentes, o que pode prejudicar o florescimento e pegamento de frutos jovens. Além disso, em regiões mais frias e sujeitas ao ataque da podridão floral, provocada pelo fungo Colletrotricum acutatum, também é conveniente o alinhamento do plantio no sentido lesteoeste, o que permite que os dois lados das plantas sequem mais rapidamente pela manhã, após orvalho ou chuva, o que é fundamental no controle dessa doença. C) Sistematização e preparo do terreno – essa fase deve ser planejada com base na necessidade da construção de terraços, do plantio em nível, do desenho de estradas e carreadores, da construção de canais de drenagem e da implantação de sistemas de irrigação. A redução da movimentação do solo é fundamental no que se refere ao manejo e à conservação desse por proporcionar benefícios como manutenção ou melhoria da estrutura do solo; menor possibilidade de compactação do solo; menor perda de solo e água por erosão; maior disponibilidade de água para as plantas; e redução de custos de produção. No entanto, é importante ressaltar que camadas de solo compactadas em subsuperfície são frequentemente encontradas em áreas de culturas perenes e semiperenes (Mazza et al., 1994; Tersi e Rosa, 1995). Nesse caso, o preparo do solo para implantar o pomar deve ser precedido de avaliação dessas condições; posteriormente, empregam-se práticas que visem eliminar qualquer camada de impedimento físico para o crescimento das raízes das plantas. O desafio de um adequado manejo do solo para citricultura moderna é grande, pois a fertilidade natural dos solos tropicais, comuns na citricultura brasileira, é baixa. Nesse cenário, agregam-se áreas de reforma de pomares ou implantação de novo pomar em áreas utilizadas anteriormente com outras culturas, que, muitas vezes, foram submetidas ao uso MANEJO DO SOLO 14 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. e manejo inadequados, culminando em processos de acidificação e perda de nutrientes e matéria orgânica. A fase de implantação dos pomares é o momento propício para eliminar ou equalizar as limitações apresentadas pelo solo para a cultura. Entretanto, muitas vezes, isso é negligenciado ou não é alcançado em razão das falhas no manejo do solo e da cultura, o que se torna de difícil solução e de alto custo após a implantar o pomar. Dentre as atividades, geralmente negligenciadas ou não alcançadas na implantação do pomar, destacam-se: profundidade de preparo insuficiente para eliminar camadas compactadas no solo; incorporação rasa de calcário; ausência de aplicação de fertilizante fosfatado no sulco de plantio; ausência de descompactação do sulco de plantio; e posicionamento muito profundo da muda no sulco (Tersi, 2001; De Negri et al., 2005). A acidez do solo é um dos principais fatores da baixa produtividade das culturas, o que está associada à toxicidade por Al e, particularmente, à deficiência de Ca. As respostas à calagem indicam que os citros são plantas sensíveis à acidez elevada do solo (Anderson, 1971; Quaggio et al., 1992a; Auler et al., 2011). Os incrementos de produtividade com a aplicação de calcário devem-se, em parte, à demanda elevada dos citros por Ca e Mg (Quaggio et al., 1992b; Mattos Jr et al., 2003), pois absorvem mais Ca do que N, o que acontece com poucas espécies de plantas. Além disso, os citros apresentam alta demanda por Mg (Quaggio et al., 1992b). Assim, em solos com limitação química natural, como excesso de Al (saturação por Al na CTC do solo m >40 %) e, ou, deficiência em Ca (V < 25 %), o preparo deve ocorrer com a maior antecedência possível ao plantio das mudas para permitir a adequada reação do calcário no solo. Deve-se dar preferência por calcário com maiores teores de Mg, que deverá ser aplicado em área total, visando elevar o valor de V na camada arável (0 a 0,20 m de profundidade) para 70 % (Quaggio et al., 1992a) e os tores de Mg no solo em 0,9 cmolc dm-3 (Quaggio et al., 1992b). Esse valor de V no solo corresponde a pH 5,5, determinado em solução de CaCl2 0,01 mol L-1 (Raij et al., 2001). Recomenda-se pré-incorporação do calcário ao solo em área total, utilizando-se grade de discos com pelo menos 30 pol. de diâmetro. Em seguida, é recomendada a incorporação profunda do calcário usando-se grade pesada, arado de discos ou arado de aivecas. Também, é desejável aplicar calcário no sulco de plantio, com profundidade de 0,25 a 0,30 m, na dose de 0,5 kg por metro, misturando posteriormente o insumo ao solo com subsolador de três hastes. Além da calagem, recomenda-se aplicar gesso agrícola em solos cuja saturação por Al for maior que 40 % ou o teor de Ca for menor que 0,5 cmolc dm-3, na camada de 0,20 a 0,40 m. A quantidade a ser utilizada é calculada com base no teor de argila do solo, utilizando-se a seguinte fórmula: Dose de gesso (DG) (t ha-1) = 0,006 x argila (g kg-1) (Sousa e Lobato, 2004). Dessa forma, a acidez da camada arável será corrigida rapidamente, enquanto o sulfato e o cálcio, constituintes do gesso agrícola, movimentam-se para camadas inferiores do perfil do solo, o que reduz a saturação por Al tóxico em subsuperfície. Com isso, ocorre melhoria no ambiente do solo em profundidade para o crescimento do sistema radicular, tendo como consequência maior eficiência na absorção de água e nutrientes pelos citros. Após a calagem e gessagem, recomenda-se deixar a vegetação espontânea voltar a cobrir o solo. Caso não houver banco natural de sementes na área aconselha-se a semeadura de gramíneas do gênero Brachiaria. Essa prática de manejo, associada ao preparo do solo somente nas faixas de plantio, permite que a área esteja pronta para o plantio, inclusive durante o período das chuvas. Assim, recomendam-se: MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 15 A marcação das linhas de plantio. Em seguida, a promoção da dessecação do mato com herbicida não seletivo numa faixa de 2,4 m de largura ao longo das linhas de plantio. Com o mato seco, a abertura dos sulcos de plantio com profundidade de 0,30-0,40 m. A incorporação do calcário no sulco dever ser feita com auxílio de um subsolador com três hastes. Quando esse implemento é equipado com reservatório de fertilizantes, recomenda-se aplicação de P em profundidade na mesma operação, conhecida como tríplice operação (Figura 6). A quantidade de P recomendada é de 120-160 kg ha-1 de P2O5, independentemente do teor de P no solo. Deve-se dar preferência por fontes de P solúveis em água como superfosfato simples e, se possível, contendo 0,5 % de zinco. Figura 6. Incorporação de calcário e gesso no sulco de plantio simultaneamente à aplicação de adubo fosfatado em profundidade, no sistema de preparo em faixas na instalação do pomar. Detalhes do equipamento de operação tríplice (a e b), operação em campo (c e d) e crescimento de raízes ao longo da linha de incorporação do adubo fosfatado em profundidade (e). Fotos: J.A. Quaggio. A estratégia de incorporação do P no sulco de plantio surgiu em decorrência de frequente constatação de sintomas de deficiência do nutriente em pomares jovens. Isso se deve ao fato que plantas jovens apresentam taxa de crescimento e demanda por P mais elevadas do que plantas adultas e, ao mesmo tempo, possuem sistema radicular menos desenvolvido MANEJO DO SOLO 16 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. (Quaggio et al., 2005). As plantas deficientes em P evidenciam folhas maduras com tamanho aumentado, de cor bronzeada, sem brilho, coriáceas, que caem, prematuramente, quando a carência de P é severa. Por essa razão, os ramos tornam-se desfolhados da base para o ápice (Figura 7), em decorrência da redistribuição do nutriente das folhas mais velhas para as mais novas, flores e frutos (Mattos Jr et al., 2005; Zambrosi et al., 2012a). O benefício da aplicação do P no sulco de plantio para a formação de pomares mais vigorosos foi comprovado pelo fato de o crescimento inicial das laranjeiras ser favorecido pela melhor distribuição do fertilizante fosfatado em profundidade no solo, comparado à aplicação concentrada na camada superficial (Quadro 11; Zambrosi et al., 2013). A interação do P com a matriz do solo e a ocorrência de P em formas orgânicas, além da baixa taxa de difusão desse elemento na solução do solo, fazem com que a disponibilidade na rizosfera seja limitada, restringindo a absorção pelas raízes e o seu crescimento (Vance et al., 2003; Zambrosi et al., 2008). Esse fato se torna mais relevante considerando que adubações subsequentes são realizadas na superfície do solo, cuja umidade é baixa durante períodos de veranico, reduzindo ainda mais a disponibilidade de P para as plantas. Destaca-se que a baixa disponibilidade de P compromete o crescimento absoluto das raízes (Quadro 11). Portanto, pomares jovens, cujas plantas apresentam maior crescimento do sistema radicular em decorrência do adequado fornecimento de P no plantio, se apresentam mais vigorosos, como resultado da maior capacidade de absorção de água e nutrientes pelas plantas. Figura 7. Sintomas da deficiência de P em citros: folhas velhas bronzeadas (a), queda em razão da deficiência severa (b) e pecíolos retidos após queda de folhas (c). Fotos: D. Mattos Jr. MANEJO DO SOLO XI - MANEJO Diagramador: colocar em negrito DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 17 Quadro 11. Massa seca (MS) de folhas, parte aérea e raiz de árvores jovens de citros em razão de doses e formas de aplicação de fósforo no solo Tratamentos com P MS-folhas MS-parte aérea MS-raiz -1 -------------------------- g planta -----------------------P0/P0 73,0 P1/P0 79,4 165,3 104,0 178,8 Diagramador: 118,7 P0.5/P0.5 88,1 188,7 P2/P0 92,1 192,2 125,7 P1/P1 98,0 211,4 126,5 excluir 121,7 Contrastes ortogonais P0/P0 vs P1/P0 + P0,5/P0,5 * * * P0/P0 vs P2/P0 + P1/P1 * * * P1/P0 + P0,5/P0.5 vs P2/P0 + P1/P1 * * ns P1/P0 + P2/P0 vs P0,5/P0,5 + P1/P1 * * ns O primeiro e segundo ‘P’ indicam a camada de 0-0,30 e 0,31-0,60 m, respectivamente. P0/P0 = sem aplicação de P no solo. P1/P0 = 8 g de P por planta concentrado na primeira camada. P0,5/P0,5 = 8 g de P por planta divido em duas camadas. P2/P0 = 16 g de P por planta concentrado na primeira camada. P1/P1 = 16 g de P por planta divido em duas camadas. Comparação dos tratamentos por meio de contrastes ortogonais. * p < 0,1 e ns = não significativo (p>0,1). Adaptado de Zambrosi et al. (2013). A resposta dos citros à adubação fosfatada depende da combinação copa/porta-enxerto (Figura 8), o que está associado às diferenças na absorção de P por cada porta-enxerto. Por exemplo, árvores jovens de laranja Pera sobre limão Cravo apresentam maior crescimento do sistema radicular do que aquelas sobre tangerina Cleópatra (Figuras 9a). Além disso, árvores sobre limão Cravo evidenciam maior eficiência na absorção de P (EAP) (Figura 9b), promovendo maior crescimento radicular, atendendo à demanda por crescimento e produção de frutos. Desse modo, variações na capacidade de absorção de P por diferentes porta-enxertos justificam recomendação diferenciada de adubação fosfatada na formação do pomar entre árvores sobre tangerina Cleópatra ou limão Cravo, considerando a essa tangerina como mais exigente no suprimento de P (Quaggio et al., 2005; Zambrosi et al., 2012a,b, 2013). A diversificação do uso de porta-enxertos tem sido uma busca frequente na citricultura, em razão principalmente da susceptibilidade de algumas variedades a doenças como a tristeza dos citros (CTV), a gomose de Phtophthora, o declínio dos citros e a morte súbita dos citros (MSC) (Pompeu Jr, 2005). Outras questões, relacionadas às características regionais, como temperatura e défice hídrico, têm definido a opção do uso de porta-enxertos mais tolerantes à seca ou mais responsivos à irrigação. Em regiões mais quentes e com maior défice hídrico tem sido mais usado o Limão Cravo, com risco de reduzir a vida útil do pomar com a MSC, em razão da susceptibilidade desse porta-enxerto à doença. Nessas condições, é recomendável o uso da tangerina Sunki, que, se bem plantada, com correção da acidez do solo e adequados níveis de P, especialmente em profundidade, apresenta tolerância à seca próxima à do Limão Cravo e não é susceptível à MSC. Em pomares irrigados ou localizados em regiões com temperaturas mais amenas e menor défice hídrico, podem ser utilizados porta-enxertos como a tangerina Cleópatra, o citrumelo-swingle e a tangerina Sunki, que se adaptam nessas condições. MANEJO DO SOLO 18 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. Figura 8. Produção relativa de laranjeiras sobre diferentes porta-enxertos em resposta à adubação com fósforo. Dados referem-se à média de doses em dois locais e às quantidades totais aplicadas até o quinto ano, após plantio no campo. Diagramador: Fonte: Adaptado de Mattos Jr. et al. (2006). excluir -1 Figura 9. Eficiência de absorção de P (EAP) e crescimento do sistema radicular de plantas jovens de laranjeira Pera sobre dois porta-enxertos. As letras indicam diferença significativa pelo teste F (Prob. < 0,05). Fonte: Adaptado de Zambrosi et al. (2013). Os citros adaptam-se bem a solos mais arenosos na superfície, com bom arejamento para as radicelas e gradiente textural entre os horizontes A e B; portanto, com maior capacidade de retenção de água em profundidade. Entretanto, não toleram solos com drenagem insuficiente, mesmo que temporária (Corá et al., 2005). Portanto, além da susceptibilidade a doenças e questões relacionadas ao ambiente como temperatura e défice hídrico, a definição do porta-enxerto deve passar, obrigatoriamente, pelo estudo das limitações e qualidades do ambiente para cada porta-enxerto, baseando-se no conjunto de atributos do solo, como mencionado. MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 19 A textura, retenção de água e drenagem são considerados os atributos do solo de maior importância e que não devem ser negligenciados, portanto, na definição de portaenxerto. De maneira geral, nas partes mais altas da paisagem, onde o relevo é mais plano, geralmente ocorrem solos com maior produndidade efetiva e bem drenados e, dependendo da textura, com menor retenção de água. Nessas condições, deve-se dar preferência para porta-enxertos mais tolerantes ao estresse hídrico, em combinação com copas precoces, onde os frutos já terão sido colhidos antes do período de seca. Em áreas cujos solos apresentam boa drenagem e gradiente textural entre os horizontes, o que ocorre, em geral, na meia-encosta da topossequência, recomenda-se porta-enxerto de citrumelo Swingle, com copas de variedades precoces e tardias, e tangerinas Sunki, para a variedade Pera. A variedade Pera é considerada de meia-estação e incompatível com porta-enxerto de citrumelo Swingle; portanto, sendo necessário utilizar-se de interenxerto. Nas partes mais baixas do relevo, onde podem ocorrer solos com drenagem imperfeita, deve-se evitar porta-enxerto de tangerina Sunki, considerado sensível à condição de drenagem insuficiente. Nessa condição, o porta-enxerto mais recomendado é o citrumelo Swingle, que possui maior tolerância aos períodos curtos de encharcamento. MANEJO DO SOLO NO POMAR IMPLANTADO Atributos químicos O manejo da adubação dos pomares, principalmente por causa do uso continuado de fertilizantes nitrogenados amoniacais, se apresenta como causa principal da acidificação do solo. A acidificação promove perdas de Ca e Mg para camadas mais profundas do perfil do solo, diminuindo os teores desses elementos nas suas camadas superficiais (Cantarella et al., 2003), onde se concentra maior volume de raízes das plantas. Esse processo pode ser mais intenso na região do bulbo úmido no solo, em pomares fertirrigados, dadas as características termodinâmicas na solução do solo e pela maior absorção de N-amoniacal comparado ao N-nítrico pelas plantas (Quaggio et al., 2007, 2014). Um dos aspectos mais importantes a ser considerado no manejo da acidez do solo para os citros se refere ao efeito residual da calagem e à resposta à produção (Anderson, 1971; Quaggio et al., 1992a), embora essa variação seja em razão do poder-tampão do solo e da intensificação do manejo. Com o objetivo de evitar a aplicação de doses inadequadas de calcário, a avaliação da acidez do solo deve ser feita com base nos resultados da análise química em amostras de terra coletadas na faixa onde são realizadas as adubações. Em pomares já implantados, a aplicação do calcário em faixas, com distribuição de 70 % da dose recomendada sob a projeção da copa das plantas, é opção eficiente para corrigir a área mais acidificada do pomar, em decorrência das adubações nitrogenadas. Entretanto, em pomares fertirrigados, recomenda-se aplicação de 100 % da dose sob a projeção da copa, por causa de o efeito de acidificação do solo ser maior nessa região. De maneira geral, a época mais adequada para se realizar calagem em solos sob citricultura é entre os meses de março e abril, precedendo a efetivação das aplicações de fertilizantes. O manejo da adubação dos citros deve ser estabelecido para as fases de: plantio – discutido anteriormente; formação – árvores jovens com menos de quatro anos de idade; MANEJO DO SOLO 20 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. e pomar em produção – árvores adultas. Nesse último caso, há distinção das doses de fertilizantes recomendadas para os grupos de variedades de laranjas, lima ácida, limões, tangerinas e tangor. Ainda, para pomares de laranjas em produção, as recomendações de adubação devem levar em consideração a qualidade desejada para a fruta e o seu destino, se para indústria ou mercado in natura. As definições de doses, modos e épocas de aplicação e fontes dos fertilizantes são abordadas em detalhes por Quaggio et al. (2010). Atributos físicos (manejo das entrelinhas) O manejo físico do solo e as práticas culturais realizadas nos pomares de citros são de fundamental importância para o desenvolvimento da cultura, pois, no caso específico dessa cultura, a maior parte das radicelas se concentra próximo à superfície (Carvalho et al., 2005). O manejo da entrelinha dos pomares de citros, visando à eliminação da vegetação espontânea, era realizado, preferencialmente, com uso de grade e arado até a década de 1990. Na linha, eram realizadas capinas manuais. No entanto, esse manejo ainda continua sendo muito utilizado por pequenos e médios citricultores (Figura 10). Sabe-se que práticas para o controle da vegetação espontânea que se baseiam no revolvimento do solo não trazem benefício para a cultura, pois, além de desestruturar o solo, cortam as radicelas das plantas, o que dificulta a absorção de água e nutrientes e facilita a entrada de patógenos que vivem no solo, como nematóides, podendo promover diminuição do nível de colonização micorrízica no solo (Carvalho et al., 1995). A desestruturação do solo pelo revolvimento intensifica o processo de compactação e erosão e proporciona exposição do solo a altas temperaturas, aumentando a perda de água por evaporação e acelerando o processo de degradação da matéria orgânica nele (Cintra et al., 1983), contribuindo para a baixa produtividade e redução da longevidade dos pomares. Tais práticas são associadas ao tráfego intenso de máquinas utilizadas em adubações, manejo fitossanitário, controle de plantas daninhas e colheita dos frutos, que podem intensificar o processo de degradação do solo. As plantas cítricas não promovem satisfatória cobertura do solo, tornando necessária a adoção de técnicas de cultivo que auxiliem na proteção do solo, a fim de minimizar ou evitar sua degradação pela erosão. Com o objetivo de evitar tais problemas e visando conduzir a citricultura brasileira para um sistema de produção agrícola moderno e sustentável, recomenda-se o controle da vegetação espontânea nas linhas de plantio, utilizando-se herbicidas e manutenção da vegetação nativa ou introduzida nas entrelinhas, sendo o controle realizado com roçadeiras do tipo convencional ou ecológica. A roçadeira tipo ecológica ceifa a massa vegetal da entrelinha, com a vantagem de projetá-la na linha de plantio da cultura (Figura 11). Essa prática é, relativamente, recente na citricultura, mas com resultados promissores. O controle da vegetação espontânea na linha de plantio dos citros é realizado, principalmente, com o uso de herbicidas não seletivos sistêmicos, sendo o mais comum o glifosato, sem efeito residual no solo (Rodrigues e Almeida, 2005). Contudo, o frequente uso de determinado herbicida, ou de diferentes herbicidas com mesmo mecanismo de ação, favorece a seleção de espécies de plantas daninhas resistentes aos respectivos produtos (Christoffoleti et al., 1994). Ao contrário, a manutenção da cobertura vegetal do solo na linha de plantio da cultura, quando adequadamente efetivada, contribui para o controle efetivo da vegetação espontânea (IAPAR, 1985; Carvalho et al., MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 21 2002; Hirata et al., 2009). A adoção do manejo da entrelinha dos citros com cobertura do solo na projeção da copa das árvores tem demonstrado, ainda, redução significativa de ocorrência da doença mancha-preta dos citros, por dificultar a propagação do fungo (Guignardia citricarpa), aumentando a produtividade do pomar (Azevedo et al., 2012). Figura 10. Manejo do mato na entrelinha do citros por meio de gradagem. Taquaritinga, SP, outubro/2015. Fotos: P.R. Volante. Figura 11. Manejo do mato na entrelinha do citros utilizando-se roçadeira lateral tipo ecológica (direita). Detalhe evidenciando palhada depositada na linha de plantio. Mogi Mirim, SP. Fotos: F. A. Azevedo. O manejo das entrelinhas com cobertura vegetal proporciona melhora dos atributos físicos e químicos do solo porque tanto a cobertura vegetal viva como a biomassa residual reduzem o impacto das gotas de chuva, evitando o entupimento dos poros do solo (selamento superficial). Isso disponibliza aumento na aeração do solo, infiltração de água e capacidade de armazenagem de água pelo solo. O material vegetal depositado na superfície do solo proporciona efeito dissipador (efeito colchão ou esponja) de forças externas (peso de máquinas e equipamentos), que podem causar a compactação dele, dado MANEJO DO SOLO 22 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. o aumento da superfície de contato com o solo, dissipando as forças em área superficial maior, diminuindo o efeito da sua compactação no local. A cobertura vegetal proporciona, ainda, conservação da umidade do solo, por diminuir a amplitude térmica e evaporação da água na superficie desse, assim como o aumento no teor de matéria orgânica do solo (Cintra et al., 1983; Fidalski et al., 2007; Auler et al., 2008). Todos esses aspectos promovem melhoria da estrutura do solo e favorecem o desenvolvimento de macro e microorganismos benéficos, que atuam na ciclagem de nutrientes. Estudos evidenciaram que a produtividade e qualidade de frutos de citros não foram interferidas quando braquiária brizanta, feijão-de-porco, labe-labe (Dolichus lablab L.), feijãoguandu-anão (Ragozo et al., 2006), Brachiaria humidicola, Paspalum notatum (grama batatais), Arachis pintoi (amendoim forrageiro), Callopogonium mucunoides (calopogônio) (Auler et al., 2008), Brachiaria decumbens, capim-pé-de-galinha (Chloris distichophylla), guandu (Cajanus cajan) e milheto (Pennisetum americanum) (Bordin et al., 2008) foram utilizados como plantas de cobertura nas entrelinhas de citros. Crotalaria juncea, calopogônio, mucuna-anã (Stizolobium deeringianum) (Francese, 1994), Brachiaria ruziziensis e amendoim forrageirro (Volante, 2010) não influenciaram o crescimento das plantas de citros no período de formação do pomar (até quatro anos), quando utilizados como plantas de cobertura do solo nas entrelinhas da cultura. Contudo, plantas de cobertura nas entrelinhas dos citros podem provocar competição por água e nutrientes, reduzindo a produtividade dos citros. Perin et al. (2002), ao avaliarem amendoim forrageiro, cudzu tropical (Pueraria phaseoloides) e siratro (Macroptilium atropurpureum), como plantas de cobertura nas entrelinhas dos citros, observaram que o amendoim forrageiro proporcionou efeito negativo nos citros em decorrência da competição por água, quando comparado ao solo sem cobertura, por causa da maior capacidade de distribuição das suas raízes no perfil do solo. Fidalski et al. (2006) verificaram que a manutenção de amendoim forrageirro nas entrelinhas do pomar de laranja Pera promoveu competição pela água do solo com as laranjeiras. Já o cultivo das entrelinhas com grama batatais proporcionou relações hídricas e metabólicas positivas com as laranjeiras. Entretanto, a produção de frutos das laranjeiras, cujas entrelinhas eram cultivadas com gramínea ou leguminosa, não foi comprometida em relação à testemunha com baixa cobertura vegetal. A introdução de adubos verdes anuais na entrelinha da cultura pode ser alternativa para o manejo da entrelinha dos citros, principalmente em razão da adição de nitrogênio no sistema por meio do processo de fixação biológica. Contudo, a prática tem o inconveniente da dependência de ressemeaduras, onerando os custos da atividade com aquisição de sementes e operações mecanizadas para semeadura. Como opções de espécies de coberturas perenes, destacam-se as gramíneas como a Brachiaria ruziziensis, que apresenta menor competição com citros, quando comparada às outras espécies de braquiárias como a B. decumbens. Nos períodos de seca, a B. ruziziensis seca, deixando de concorrer por água e nutrientes com as plantas de citros, enquanto que a B. decumbens apresenta maior persistência (Sanches, 1998). Trabalho coordenado pelo Centro de Citricultura Sylvio Moreira, do Instituto Agronômico (IAC), no município de Mogi Mirim, SP, em pomar de lima ácida Tahiti, desde a implantação em 2010, utilizando braquiárias (B. decumbens e B. ruziziensis) nas MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 23 entrelinhas e diferentes roçadeiras (convencional e ecológica) tem demonstrado adequado controle da população de plantas infestantes, na linha de cultivo dos citros, quando se maneja a vegetação intercalar com roçadeira lateral tipo ecológica (Figura 12). A opção pelas braquiárias no mencionado estudo se deu pelo fato da sua usual utilização como prática conservacionista, seja em semeadura em áreas que ainda não estão estabelecidas, seja por meio da sua manutenção e controle em áreas onde estão estabelecidas (Souza Filho et al., 2005). No mencionado estudo, Molinari (2012) observou menor perda de água do solo, quando o manejo das plantas da entrelinha do pomar foi realizado com roçadeira tipo ecológica, e o solo na linha de plantio foi mantido coberto por biomassa residual resultante da deposição da palhada das braquiárias. Esse efeito foi associado à maior infiltração de água na camanda de 0 a 0,20 m do solo (Soares et al., 2002). Segundo esses autores, menor disponibilidade de água no solo foi observada nas áreas com controle de plantas infestantes com herbicida. Avaliações também demonstraram maior resistência do solo à penetração na linha de plantio no tratamento com roçadeira convencional (Figura 13). Menores valores para o uso de roçadeira ecológica foram observados na entrelinha da cultura, em detrimento ao efeito que essa roçadeira proporciona na entrelinha, retirando a massa vegetal da entrelinha e projetando-a para linha. No caso da roçadeira convencional, a massa roçada é mantida na entrelinha. Figura 12. Densidade de plantas daninhas na linha de citros em pomar de lima ácida Tahiti manejado com roçadeiras convencional e ecológica desde 2010 (Mogi Mirim, SP, 2012-2013). *Tukey (5 %). A massa vegetal deixada na superfície do solo como cobertura, além de proteger o solo, como mencionado anteriormente, possibilita o aporte de nutrientes ao solo, pois com a decomposição da biomassa residual ocorre a mineralização dos nutrientes e consequente liberação para o solo. O manejo da entrelinha dos pomares, aproveitando-se a vegetação espontânea e, ou, introduzida em benefício da cultura, em que grande número de citricultores tem optado, evidencia-se interessante. Aliado a isso, o correto manejo da fertilidade do solo vem sendo fator condicionante para obter maior produtividade dos pomares de citros. Com isso, a MANEJO DO SOLO 24 JOSÉ EDUARDO CORÁ ET AL. combinação de diferentes métodos de manejo da vegetação na entrelinha dos pomares é recomendada, como a combinação de roçadeiras laterais e herbicida. Figura 13. Resistência do solo à penetração na linha e entrelinha de pomar de lima ácida ‘Tahiti’ manejado com roçadeiras convencional e ecológica (Mogi Mirim, SP, 2013). A redução da movimentação do solo é fundamental no manejo e na conservação do solo, por proporcionar benefícios como manutenção ou melhoria da estrutura do solo; menor possibilidade de compactação do solo; menores perdas de solo e água por erosão; maior disponibilidade de água para as plantas; e redução de custos de produção. Portanto, a redução da movimentação do solo contribui significativamente para manutenção da sua capacidade produtiva ao longo do tempo. A manutenção da cobertura vegetal na superficie do solo é uma prática que proporciona efeito efetivo no controle da erosão do solo, além de proporcionar vários outros benefícios como: reduz efeitos negativos causados pelas chuvas e enxurradas ao reduzir o impacto das gotas de chuva na superfície do solo, que provoca o rompimento e a pulverização dos agregados. Partículas do solo desagregadas ficam suspensas na água e são facilmente arrastadas pela enxurrada, com consequente assoreamento de rios e lagos. Essas partículas preenchem os poros do solo (selamento superficial), reduzindo drasticamente a taxa de infiltração da água no solo, com consequente aumento do escoamento superficial da água, intensificando a formação de enxurradas e o processo erosivo; atua como impedimento ao fluxo de água da enxurrada, reduzindo sua velocidade e, assim, seu efeito desagregador e de transporte de solo; proporciona incorporação de matéria orgânica ao solo, promovendo melhoria de seus atributos físicos (estrutura, porosidade, aeração, infiltração e retenção de água), favorecendo o crescimento do sistema radicular dos citros e das plantas de cobertura do solo. As raízes das plantas de cobertura, após decomposição, deixam canais, denominados bioporos, que promovem aumento na taxa de infiltração e armazenagem da água no solo. Maior disponibilidade de água promove aumento na eficiência de absorção de nutrientes pela planta. A matéria orgânica tem grande importância no comportamento MANEJO DO SOLO XI - MANEJO DO SOLO EM CULTIVO DE CITROS 25 mecânico do solo, principalmente quando ele é submetido à carga externa. O acúmulo de matéria orgânica pode reduzir a densidade máxima do solo e aumentar a umidade crítica para que ocorra compactação, reduzindo o impacto negativo dela (Braida et al., 2006); promove aumento da biomassa microbiana do solo, estimulando a atividade biológica desse; diminui a amplitude térmica do solo, favorecendo o crescimento do sistema radicular das plantas e a atividade dos organismos presentes nele; atua na redução das perdas de água do solo por evaporação, promovendo aumento da quantidade de água disponível para as plantas; elimina ou reduz a incidência de plantas infestantes por efeito supressor físico e, ou, químico, promovendo diminuição de custos com controle da vegetação espontânea; proporciona ambiente favorável à criação/multiplicação de insetos polinizadores e de agentes de controle biológico; aumenta teores de nutrientes no solo, gerando diminuição dos custos com aquisição de fertilizantes; e aumenta a produção e qualidade dos frutos dos citros. Pelo exposto, constata-se que o manejo da linha e entrelinha do citros, por meio do controle da cobertura vegetal, propicia efetiva conservação do solo, com efeitos positivos no aumento da umidade do solo e da disponibilidade de água para as plantas, assim como a melhoria nos atributos físicos do solo, com redução da compactação e do aumento da capacidade produtiva do desse e, consequentemente, aumento da produtividade dos citros. Autor: CONSIDERAÇÕES FINAIS? LITERATURA CITADA Anderson CA. Effects of soil pH and calcium on yields and fruits quality of young Valencia oranges. Proc Florida State Hortic Soc. 1971;84:4-11. Anuário Brasileiro da Fruticultura. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa Cruz, 2013. Auler PAM, Fidalski J, Pavan MA, Neves CSVJ. Produção de laranja-‘Pera’ em sistemas de preparo de solo e manejo nas entrelinhas. Rev Bras Cien Solo. 2008;32:363-74. Diagramador: Cienc Auler PAM, Neves CSVJ, Fidalski J, Pavan MA. 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