ESTUDO DA ESTABILIDADE FÍSICA DE CALDAS DE PULVERIZAÇÃO PARA APLICAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM BAIXO VOLUME OLEOSO (BVO®) NA CULTURA DO ALGODOEIRO* Casimiro Dias Gadanha Júnior (DER/ESALQ/USP/[email protected]), Marcos Vilela de Magalhães Monteiro (CBB), Johann Wilhem Reichenbach (Bayer CropScience), Javier Alberto Vasquez Castro(Universidad Nacional de La Molina), Rafael de Campos Bull (Esalq/USP) RESUMO - Foi estudado um procedimento para obtenção de caldas de pulverização resultantes de misturas em tanque utilizadas na cultura do algodão. Esse procedimento envolveu a definição de uma seqüência de preparo de acordo com a calda pretendida. A estabilidade física foi a variável qualitativa adotada para a definição da seqüência de preparo, levando-se em consideração a sua homogeneidade. Os resultados obtidos forneceram uma grande porcentagem de caldas estáveis quando os procedimentos e seqüências de preparo foram realizados de acordo com a metodologia desenvolvida neste trabalho. O óleo metilado de soja apresentou um melhor resultado das caldas estudadas. O pH das caldas estudadas variou entre 2,5 e 8,0, para um pH da água de 8,0 e dureza de 255 mg de CaCO 3.L-1. Palavras-chave: tecnologia de aplicação, caldas de pulverização, BVO®, Algodão. INTRODUÇÃO A grande demanda por aplicações de agrotóxicos, via aérea e terrestre e a escassez mundial de água exige novas tecnologias, como a aplicação de volumes reduzidos, visando melhorar a qualidade das pulverizações e reduzir os seus custos. As condições climáticas da região central do Brasil, adversas para as aplicações convencionais, as quais utilizam apenas água como veículo para os agrotóxicos, levaram a adição de óleos vegetais as caldas de pulverização, reduzindo assim os efeitos da elevada temperatura e baixa umidade. Essa tecnologia é denominada BVO® – Baixo Volume Oleoso (MONTEIRO, 2006). A adoção dos atomizadores rotativos de discos, caracterizados pela otimização das variáveis básicas da tecnologia de aplicação, possibilitou baixar os volumes das aplicações aéreas de 30 L.ha-1 para 10 L.ha-1 e das aplicações terrestres de 150 L.ha-1 para 20 L.ha-1, duplicando o rendimento dos equipamentos e aumentando a sua rentabilidade. Devido à grande diversidade existente nos procedimentos e modos de preparo das diferentes caldas de pulverização, algumas delas podem apresentar problemas de estabilidade no tanque e alta variação de pH, podendo influir no resultado biológico dos tratamentos. A falta de estabilidade dessas caldas está relacionada ao fato de que os óleos separam-se dos solventes contidos nas formulações comerciais dos agrotóxicos quando misturados para aplicação (RAMSEY, 2006). A instabilidade dessas caldas podem influenciar na qualidade da aplicação pela interação entre as características dos líquidos a serem aplicados e os mecanismos de formação da pulverização, como vazão, formação, distribuição das gotas e padrão de distribuição volumétrico, resultando em tratamentos de baixa eficiência, aumentando os riscos de deriva e contaminações ambientais (MILLER e BUTLER ELLIS, 2000). O uso de óleos vegetais como adjuvantes nas caldas de pulverização tem mostrado aumento na eficácia dos produtos nas aplicações, porém pouca informação está disponível ao público a respeito da estabilidade das misturas de tanque (HOLLOWAY e WESTERN, 2003). Segundo WOLF et. al. (2003), alguns adjuvantes podem prejudicar a pulverização ao invés de melhorar. A mistura de produtos pode resultar em diferentes separações de fase, como formação de flocos, precipitações e, ainda, pode ocorrer formações de incrustações no tanque, barras e bicos do pulverizador que dificultam a limpeza e funcionamento do equipamento ocorrendo, portanto, a necessidade de avaliar a compatibilidade e homogeneidade das misturas antes de sua utilização. As misturas em tanque estão sendo muito utilizadas para viabilizar economicamente a cultura do algodoeiro, mas destaca-se que a legislação brasileira conforme Portaria 67 de 30/05/1995 da Secretaria de defesa Agropecuária do MAPA restringe esse procedimento. O objetivo do trabalho foi estudar os procedimentos de preparo e estabilidade das caldas de pulverização utilizadas na cultura do algodoeiro para aplicações em BVO®. MATERIAL E MÉTODOS Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estudo de Formulações do Departamento de Engenharia Rural, Setor de Mecânica e Máquinas Agrícolas, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” - ESALQ/USP, cidade de Piracicaba, Estado de São Paulo. As composições básicas das 127 caldas de pulverização analisadas no trabalho foram obtidas a partir de pesquisa de campo com produtores de Algodão. As dosagens dos agrotóxicos nas caldas foram definidas a partir da bula dos mesmos. A quantidade dos óleos foi de 3,0 % do volume de calda. Os ensaios foram conduzidos no período de novembro de 2005 a março de 2006, em que avaliou-se a estabilidade das misturas de agrotóxicos (fungicidas e inseticidas) nas caldas de pulverização em baixo volume oleoso (BVO®) para aplicação na cultura do Algodoeiro. As caldas de pulverização foram compostas por óleos, agrotóxicos e água. Os óleos utilizados foram: de algodão, de soja e metilado de soja, todos já acrescidos com emulsificante, chamados de óleo ativado ou emulsificado). Os agrotóxicos apresentaram-se com diversos tipos de formulações. Nas Tabelas 1, 2 e 3 observa-se as características químicas dos componentes das caldas. As caldas foram obtidas conforme cinco procedimentos pré-estabelecidos, em função do tipo de formulação do agrotóxico, definindo, assim, uma mesma seqüência de preparo para todas as caldas, procurando reduzir os efeitos de uma baixa homogeneização na estabilidade final. A agitação utilizada durante o preparo dessas caldas foi manual, com bastão de vidro, e mecânico, com agitador modelo SB40. A estabilidade das caldas foram avaliadas visualmente, em proveta de vidro de 100 mL, observando as separações de fase. Essas avaliações ocorreram sempre em intervalos de tempo prédefinidos, a partir do momento em que foi finalizado o preparo da calda. Os tempos de observação, em minutos, foram de 1; 5; 10; 20; 30 e 60. Na medição do pH da água, dos produtos e das caldas de pulverização foi utilizado o medidor modelo DMPH -2 marca Digimed. Para os agrotóxicos o procedimento foi o da norma NBR 14649 (2001). Foi utilizado um método padrão, definido pela American Public Health Association – APHA, sob o número 2340-C, para determinação da dureza da água. Foram preparadas três amostras para cada calda estudada, nas quais foi feita a avaliação visual da estabilidade e de pH. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os procedimentos adotados para o preparo das caldas mostraram-se adequados, pois favoreceu a estabilidade final das caldas, validando assim essa metodologia de preparo. Esse procedimento está expresso na Figura 1. Emulsificante Óleo Vegetal Óleo Ativado pré-mistura Água CS PM CE Água WG Agitação manual Água Água (VH2O=Vóleo) PM e/ou WG + SC e/ou SA SC e/ou SA CS e/ou CE + SC e/ou SA SC CS e/ou CE PM SA WG pré-mistura Agitação manual CS e/ou CE + PM e/ou WG Água Água Agitação mecânica Agitação mecânica Calda Calda Figura 1. Procedimentos e seqüências de preparo das caldas de pulverização para aplicação no sistema BVO®. Os valores de pH dos produtos utilizados no preparo das caldas são apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3. Os valores de pH das caldas finais apresentaram-se entre 2,5 e 8,0 e o da água utilizada para o preparo das caldas foi de 8,0, com uma dureza de 255 mg de CaCO3 / L. Tabela 1. Óleos utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO® Óleos1 1 Características De algodão Óleo bruto de algodão De soja Óleo bruto de soja Metilado de soja Éster metilado de soja esses óleos já estavam emulsificados ou ativados com Agral®. Tabela 2. Fungicidas utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO® e seus respectivos ingredientes ativos e valores de pH medidos 750 EC Ingrediente ativo3 Hidrocarbonetos alifáticos saturados 3,43 Derosal 500 SC Carbendazim 6,85 Folicur 200 EC Tebuconazole 6,19 Stratego 250 EC Trifloxistrobina e propiconazol 5,33 Fungicidas Formulação Attach2 pH 2Adjuvante 3Fonte: utilizado juntamente com os fungicidas. ANDREI (2005). As caldas sem restrições de formação de fases até os 20 minutos de observação foram consideradas aptas para aplicações sem restrições. Já as caldas com restrições de estabilidade a partir dos 20 minutos (ou anteriormente) de preparo, necessitariam de agitação constante no tanque do pulverizador ou do avião. Os resultados são observados por grupos de produtos contidos nas caldas, iniciando-se pelo grupo algodão fungicida, expressos na Figura 2. O óleo de algodão forneceu um maior número de caldas estáveis do que o óleo de soja ao fim de 60 minutos após o preparo. 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100,0% 83% 80% 80% Porcentagem de caldas estáveis 80,0% 60,0% 40% 40% 40,0% 20,0% 0,0% 1 min. 5 min. Óleo de Soja 10 min. Óleo de Algodão 20 min. 30 min. 60 min. Óleo Metilado de Soja Figura 2. Distribuição porcentual de caldas estáveis em função do tempo e dos óleos utilizados, para o grupo algodão fungicida, de um total de 16 caldas preparadas. Os resultados do grupo algodão inseticida são expressos na Figura 3. Os óleos de algodão e de soja tiveram comportamento semelhante, porém o óleo metilado de soja produziu um número maior de caldas estáveis ao final de 60 minutos após o preparo. Tabela 3. Inseticidas utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO® e seus respectivos ingredientes ativos e valores de pH medidos Inseticidas Bulldock 125 SC Certero 480 SC Connect 100 SC Hostathion 400 CE Lannate 785 CS Larvin 800 WG Marshal 400 SC Mospilan 200 OS Oberon 480 SC Pix 50 CS Polo 500 PM Provado 200 SC Talstar 100 CE Tamaron BR Thiodan 350 CE Tracer 480 SC Tuval 100 CS 3Fonte: ANDREI (2005). 100% 100,0% Ingrediente ativo3 pH Betaciflutrina Triflumurom Imidacloprido e betaciflutrina Triazophos Metomil Tiodicarbe Carbosulfan Acetamiprido Spiromesifen Cloreto de mepiquat Diafentiuron Imidacloprido Bifenthrin Metamidofós Endosulfan Spinosad Cloreto de clormequat 5,20 5,96 5,11 3,63 6,21 6,08 6,73 9,01 5,57 6,07 7,33 6,98 6,68 6,13 7,05 8,30 7,81 Formulação 100% 100% 97% 100% 97% 97% 97% 97% 92% 78% Porcentagem de caldas estáveis 80,0% 76% 73% 70% 65% 65% 60,0% 57% 54% 40,0% 20,0% 0,0% 1 min. 5 min. Óleo de Soja 10 min. Óleo de Algodão 20 min. 30 min. 60 min. Óleo Metilado de Soja Figura 3. Distribuição do número de caldas estáveis em função do tempo e dos óleos utilizados, para o grupo algodão inseticida, de um total de 111 caldas preparadas. CONCLUSÕES A metodologia desenvolvida foi adequada para o preparo das caldas, a partir da definição de fluxogramas desenvolvidos neste trabalho. Os resultados de laboratório forneceram uma alta porcentagem de caldas estáveis, de acordo com a metodologia desenvolvida . O óleo metilado de soja apresentou uma melhor estabilidade das caldas estudadas. O pH das caldas estudadas variou entre 2,5 e 8,0, podendo influir no resultado biológico dos tratamentos. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO O estudo da estabilidade das caldas de pulverização utilizadas na cultura do algodão é de fundamental importância para auxiliar no procedimento de preparo das mesmas no campo, com possível influencia na eficiência biológica das aplicações. Este trabalho procurou atender as necessidades acima descritas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDREI, E. Compêndio de defensivos agrícolas: guia prático de produtos fitossanitários para uso agrícola. 7.ed. São Paulo: Organização Andrei , 2005. 1141 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14649: Agrotóxico – determinação de pH. Rio de Janeiro, 2001. 2 p. HOLLOWAY, P. J.; WESTERN, N. M. Tank-mix adjuvants and pesticide residues: some regulatory and quantitative aspects. Pest Management Science, v. 59, p. 1237-1244, 2003. MILLER, P. C. H.; BUTLER ELLIS, M. C. Effects of formulation on spray nozzle performance for applications from ground-based boom sprayers. Crop Protection, v. 19, p. 609-615, 2000. MONTEIRO, M. V. M. Compêndio de aviação agrícola. Sorocaba: Cidade, 2006. 298p. RAMSEY, C. A review of oil carrier properties and benefits. Disponível em: http://www.cphst.org, acesso em: 24/01/2006. WOLF, R. E.; GARDISSER, D. R.; MINIHAN, C. L. Field comparisons for drift reducing/deposition aid tank mixes. St. Joseph: ASAE, 2003. 17p. (ASAE PAPER N° AA03-002).