Enviado por kruelfilho

PH calda de defensivos 14 01 2016

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ESTUDO DA ESTABILIDADE FÍSICA DE CALDAS DE PULVERIZAÇÃO PARA APLICAÇÃO DE
AGROTÓXICOS EM BAIXO VOLUME OLEOSO (BVO®) NA CULTURA DO ALGODOEIRO*
Casimiro Dias Gadanha Júnior (DER/ESALQ/USP/[email protected]), Marcos Vilela de
Magalhães Monteiro (CBB), Johann Wilhem Reichenbach (Bayer CropScience), Javier Alberto Vasquez
Castro(Universidad Nacional de La Molina), Rafael de Campos Bull (Esalq/USP)
RESUMO - Foi estudado um procedimento para obtenção de caldas de pulverização resultantes de
misturas em tanque utilizadas na cultura do algodão. Esse procedimento envolveu a definição de uma
seqüência de preparo de acordo com a calda pretendida. A estabilidade física foi a variável qualitativa
adotada para a definição da seqüência de preparo, levando-se em consideração a sua
homogeneidade. Os resultados obtidos forneceram uma grande porcentagem de caldas estáveis
quando os procedimentos e seqüências de preparo foram realizados de acordo com a metodologia
desenvolvida neste trabalho. O óleo metilado de soja apresentou um melhor resultado das caldas
estudadas. O pH das caldas estudadas variou entre 2,5 e 8,0, para um pH da água de 8,0 e dureza de
255 mg de CaCO 3.L-1.
Palavras-chave: tecnologia de aplicação, caldas de pulverização, BVO®, Algodão.
INTRODUÇÃO
A grande demanda por aplicações de agrotóxicos, via aérea e terrestre e a escassez mundial
de água exige novas tecnologias, como a aplicação de volumes reduzidos, visando melhorar a
qualidade das pulverizações e reduzir os seus custos.
As condições climáticas da região central do Brasil, adversas para as aplicações
convencionais, as quais utilizam apenas água como veículo para os agrotóxicos, levaram a adição de
óleos vegetais as caldas de pulverização, reduzindo assim os efeitos da elevada temperatura e baixa
umidade. Essa tecnologia é denominada BVO® – Baixo Volume Oleoso (MONTEIRO, 2006).
A adoção dos atomizadores rotativos de discos, caracterizados pela otimização das variáveis
básicas da tecnologia de aplicação, possibilitou baixar os volumes das aplicações aéreas de 30 L.ha-1
para 10 L.ha-1 e das aplicações terrestres de 150 L.ha-1 para 20 L.ha-1, duplicando o rendimento dos
equipamentos e aumentando a sua rentabilidade.
Devido à grande diversidade existente nos procedimentos e modos de preparo das diferentes
caldas de pulverização, algumas delas podem apresentar problemas de estabilidade no tanque e alta
variação de pH, podendo influir no resultado biológico dos tratamentos.
A falta de estabilidade dessas caldas está relacionada ao fato de que os óleos separam-se dos
solventes contidos nas formulações comerciais dos agrotóxicos quando misturados para aplicação
(RAMSEY, 2006).
A instabilidade dessas caldas podem influenciar na qualidade da aplicação pela interação entre
as características dos líquidos a serem aplicados e os mecanismos de formação da pulverização, como
vazão, formação, distribuição das gotas e padrão de distribuição volumétrico, resultando em
tratamentos de baixa eficiência, aumentando os riscos de deriva e contaminações ambientais (MILLER
e BUTLER ELLIS, 2000).
O uso de óleos vegetais como adjuvantes nas caldas de pulverização tem mostrado aumento
na eficácia dos produtos nas aplicações, porém pouca informação está disponível ao público a respeito
da estabilidade das misturas de tanque (HOLLOWAY e WESTERN, 2003).
Segundo WOLF et. al. (2003), alguns adjuvantes podem prejudicar a pulverização ao invés de
melhorar. A mistura de produtos pode resultar em diferentes separações de fase, como formação de
flocos, precipitações e, ainda, pode ocorrer formações de incrustações no tanque, barras e bicos do
pulverizador que dificultam a limpeza e funcionamento do equipamento ocorrendo, portanto, a
necessidade de avaliar a compatibilidade e homogeneidade das misturas antes de sua utilização.
As misturas em tanque estão sendo muito utilizadas para viabilizar economicamente a cultura
do algodoeiro, mas destaca-se que a legislação brasileira conforme Portaria 67 de 30/05/1995 da
Secretaria de defesa Agropecuária do MAPA restringe esse procedimento.
O objetivo do trabalho foi estudar os procedimentos de preparo e estabilidade das caldas de
pulverização utilizadas na cultura do algodoeiro para aplicações em BVO®.
MATERIAL E MÉTODOS
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Estudo de Formulações do Departamento de
Engenharia Rural, Setor de Mecânica e Máquinas Agrícolas, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” - ESALQ/USP, cidade de Piracicaba, Estado de São Paulo.
As composições básicas das 127 caldas de pulverização analisadas no trabalho foram obtidas
a partir de pesquisa de campo com produtores de Algodão. As dosagens dos agrotóxicos nas caldas
foram definidas a partir da bula dos mesmos. A quantidade dos óleos foi de 3,0 % do volume de calda.
Os ensaios foram conduzidos no período de novembro de 2005 a março de 2006, em que
avaliou-se a estabilidade das misturas de agrotóxicos (fungicidas e inseticidas) nas caldas de
pulverização em baixo volume oleoso (BVO®) para aplicação na cultura do Algodoeiro.
As caldas de pulverização foram compostas por óleos, agrotóxicos e água. Os óleos utilizados
foram: de algodão, de soja e metilado de soja, todos já acrescidos com emulsificante, chamados de
óleo ativado ou emulsificado). Os agrotóxicos apresentaram-se com diversos tipos de formulações. Nas
Tabelas 1, 2 e 3 observa-se as características químicas dos componentes das caldas.
As caldas foram obtidas conforme cinco procedimentos pré-estabelecidos, em função do tipo
de formulação do agrotóxico, definindo, assim, uma mesma seqüência de preparo para todas as
caldas, procurando reduzir os efeitos de uma baixa homogeneização na estabilidade final. A agitação
utilizada durante o preparo dessas caldas foi manual, com bastão de vidro, e mecânico, com agitador
modelo SB40.
A estabilidade das caldas foram avaliadas visualmente, em proveta de vidro de 100 mL,
observando as separações de fase. Essas avaliações ocorreram sempre em intervalos de tempo prédefinidos, a partir do momento em que foi finalizado o preparo da calda. Os tempos de observação, em
minutos, foram de 1; 5; 10; 20; 30 e 60.
Na medição do pH da água, dos produtos e das caldas de pulverização foi utilizado o medidor
modelo DMPH -2 marca Digimed. Para os agrotóxicos o procedimento foi o da norma NBR 14649
(2001).
Foi utilizado um método padrão, definido pela American Public Health Association – APHA, sob
o número 2340-C, para determinação da dureza da água.
Foram preparadas três amostras para cada calda estudada, nas quais foi feita a avaliação
visual da estabilidade e de pH.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os procedimentos adotados para o preparo das caldas mostraram-se adequados, pois
favoreceu a estabilidade final das caldas, validando assim essa metodologia de preparo. Esse
procedimento está expresso na Figura 1.
Emulsificante
Óleo Vegetal
Óleo Ativado
pré-mistura
Água
CS
PM
CE
Água
WG
Agitação manual
Água
Água (VH2O=Vóleo)
PM e/ou WG + SC e/ou SA
SC e/ou SA
CS e/ou CE + SC e/ou SA
SC
CS e/ou CE
PM
SA
WG
pré-mistura
Agitação manual
CS e/ou CE + PM e/ou WG
Água
Água
Agitação mecânica
Agitação mecânica
Calda
Calda
Figura 1. Procedimentos e seqüências de preparo das caldas de pulverização para aplicação no
sistema BVO®.
Os valores de pH dos produtos utilizados no preparo das caldas são apresentados nas Tabelas
1, 2 e 3. Os valores de pH das caldas finais apresentaram-se entre 2,5 e 8,0 e o da água utilizada para
o preparo das caldas foi de 8,0, com uma dureza de 255 mg de CaCO3 / L.
Tabela 1. Óleos utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO®
Óleos1
1
Características
De algodão
Óleo bruto de algodão
De soja
Óleo bruto de soja
Metilado de soja
Éster metilado de soja
esses óleos já estavam emulsificados ou ativados com Agral®.
Tabela 2. Fungicidas utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO® e seus respectivos
ingredientes ativos e valores de pH medidos
750 EC
Ingrediente ativo3
Hidrocarbonetos alifáticos saturados
3,43
Derosal
500 SC
Carbendazim
6,85
Folicur
200 EC
Tebuconazole
6,19
Stratego
250 EC
Trifloxistrobina e propiconazol
5,33
Fungicidas
Formulação
Attach2
pH
2Adjuvante
3Fonte:
utilizado juntamente com os fungicidas.
ANDREI (2005).
As caldas sem restrições de formação de fases até os 20 minutos de observação foram
consideradas aptas para aplicações sem restrições. Já as caldas com restrições de estabilidade a partir
dos 20 minutos (ou anteriormente) de preparo, necessitariam de agitação constante no tanque do
pulverizador ou do avião.
Os resultados são observados por grupos de produtos contidos nas caldas, iniciando-se pelo
grupo algodão fungicida, expressos na Figura 2. O óleo de algodão forneceu um maior número de
caldas estáveis do que o óleo de soja ao fim de 60 minutos após o preparo.
100% 100% 100%
100% 100% 100%
100% 100% 100%
100% 100%
100% 100%
100,0%
83%
80%
80%
Porcentagem de caldas estáveis
80,0%
60,0%
40%
40%
40,0%
20,0%
0,0%
1 min.
5 min.
Óleo de Soja
10 min.
Óleo de Algodão
20 min.
30 min.
60 min.
Óleo Metilado de Soja
Figura 2. Distribuição porcentual de caldas estáveis em função do tempo e dos óleos utilizados, para o
grupo algodão fungicida, de um total de 16 caldas preparadas.
Os resultados do grupo algodão inseticida são expressos na Figura 3. Os óleos de algodão e
de soja tiveram comportamento semelhante, porém o óleo metilado de soja produziu um número maior
de caldas estáveis ao final de 60 minutos após o preparo.
Tabela 3. Inseticidas utilizados no preparo das caldas de pulverização em BVO® e seus respectivos
ingredientes ativos e valores de pH medidos
Inseticidas
Bulldock
125 SC
Certero
480 SC
Connect
100 SC
Hostathion
400 CE
Lannate
785 CS
Larvin
800 WG
Marshal
400 SC
Mospilan
200 OS
Oberon
480 SC
Pix
50 CS
Polo
500 PM
Provado
200 SC
Talstar
100 CE
Tamaron
BR
Thiodan
350 CE
Tracer
480 SC
Tuval
100 CS
3Fonte: ANDREI (2005).
100%
100,0%
Ingrediente ativo3
pH
Betaciflutrina
Triflumurom
Imidacloprido e betaciflutrina
Triazophos
Metomil
Tiodicarbe
Carbosulfan
Acetamiprido
Spiromesifen
Cloreto de mepiquat
Diafentiuron
Imidacloprido
Bifenthrin
Metamidofós
Endosulfan
Spinosad
Cloreto de clormequat
5,20
5,96
5,11
3,63
6,21
6,08
6,73
9,01
5,57
6,07
7,33
6,98
6,68
6,13
7,05
8,30
7,81
Formulação
100%
100%
97%
100%
97%
97%
97%
97%
92%
78%
Porcentagem de caldas estáveis
80,0%
76%
73%
70%
65%
65%
60,0%
57%
54%
40,0%
20,0%
0,0%
1 min.
5 min.
Óleo de Soja
10 min.
Óleo de Algodão
20 min.
30 min.
60 min.
Óleo Metilado de Soja
Figura 3. Distribuição do número de caldas estáveis em função do tempo e dos óleos utilizados, para o
grupo algodão inseticida, de um total de 111 caldas preparadas.
CONCLUSÕES
A metodologia desenvolvida foi adequada para o preparo das caldas, a partir da definição de
fluxogramas desenvolvidos neste trabalho.
Os resultados de laboratório forneceram uma alta porcentagem de caldas estáveis, de acordo
com a metodologia desenvolvida .
O óleo metilado de soja apresentou uma melhor estabilidade das caldas estudadas.
O pH das caldas estudadas variou entre 2,5 e 8,0, podendo influir no resultado biológico dos
tratamentos.
CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO
O estudo da estabilidade das caldas de pulverização utilizadas na cultura do algodão é de
fundamental importância para auxiliar no procedimento de preparo das mesmas no campo, com
possível influencia na eficiência biológica das aplicações. Este trabalho procurou atender as
necessidades acima descritas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREI, E. Compêndio de defensivos agrícolas: guia prático de produtos fitossanitários para uso
agrícola. 7.ed. São Paulo: Organização Andrei , 2005. 1141 p.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14649: Agrotóxico – determinação de pH.
Rio de Janeiro, 2001. 2 p.
HOLLOWAY, P. J.; WESTERN, N. M. Tank-mix adjuvants and pesticide residues: some regulatory and
quantitative aspects. Pest Management Science, v. 59, p. 1237-1244, 2003.
MILLER, P. C. H.; BUTLER ELLIS, M. C. Effects of formulation on spray nozzle performance for
applications from ground-based boom sprayers. Crop Protection, v. 19, p. 609-615, 2000.
MONTEIRO, M. V. M. Compêndio de aviação agrícola. Sorocaba: Cidade, 2006. 298p.
RAMSEY, C. A review of oil carrier properties and benefits. Disponível em: http://www.cphst.org,
acesso em: 24/01/2006.
WOLF, R. E.; GARDISSER, D. R.; MINIHAN, C. L. Field comparisons for drift reducing/deposition
aid tank mixes. St. Joseph: ASAE, 2003. 17p. (ASAE PAPER N° AA03-002).
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