XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 24 A 27 DE AGOSTO DE 2016 Florianópolis DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE TRÂNSITO ESOFÁGICO POR MEIO DA TÉCNICA APRIMORADA DE DEMONS Michele N. de Souza1, Fernando E. B. Xavier2, Marie Secaf2, Luiz E. A. Troncon2, Ricardo B. de Oliveira2 e Eder R. Moraes1 1 Grupo de Imagens em Medicina Nuclear – GIMN, Departamento de Física, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil. 2 Departamento de Clínica Médica, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Brasil. Resumo: Este trabalho apresenta um método capaz de calcular a velocidade do trânsito esofágico de forma direta e automatizada por meio do corregistro de imagens cintilográficas dinâmicas. Para isso, foram utilizadas 36 imagens de 9 voluntários saudáveis. As imagens foram pré-processadas e corregistradas. Por meio dos campos de deformação obtidos, foi calculada a Velocidade Resultante Regional. Foram revelados parâmetros fisiológicos importantes do esôfago por meio da Velocidade Resultante Regional obtida, como a velocidade de trânsito esofágico proximal (4.06 ± 0.74 cm/s) que se aproximou consideravelmente da velocidade da onda peristáltica primária (4 cm/s) e a diminuição da velocidade de trânsito da porção proximal do esôfago em direção à distal. Palavras-chave: velocidade de trânsito esofágico, corregistro de imagens, Técnica Aprimorada de Demons, velocidade da onda peristáltica primária, imagens cintilográficas. Abstract: This paper presents a method to compute oesophageal transit velocity in a direct and automatized manner by the registration of dynamic scintigraphy images. To reach this aim, 36 images from nine healthy volunteers were pre-processed and registered. From the deformation field, the Resultant Regional Velocity was computed. Important physiological parameters were revealed by the Resultant Regional Velocity such as the proximal esophageal transit velocity (4.06 ± 0.74 cm/s) approaching considerably from the primary peristaltic pump velocity (4 cm/s) and the phenomenon of the decreasing of the transit velocity from the proximal to the distal esophageal portions Keywords: oesophageal transit velocity, image registration, improved Demons Technique, primary peristaltic pump velocity, scintigraphy images. Introdução: O trânsito esofágico é um parâmetro obtido por meio de imagens cintilográficas podendo revelar problemas na motilidade do esôfago. Esses problemas podem ser causados por degeneração neuronal em doenças como a Acalásia [1] e a doença de Chagas [2], ou por substituição de tecido muscular como no Esôfago de Barret [3]. O objetivo desse trabalho é sugerir um método para se estudar o trânsito esofágico que avalia diretamente a velocidade do bolus na direção crânio caudal do esôfago. A obtenção dessa velocidade é permitida por meio da aplicação do corregistro entre as imagens adquiridas através da Técnica Aprimorada de Demons [4]. Este trabalho sumariza os resultados obtidos em [5]. Métodos: Foram utilizadas imagens cintilográficas planas, dinâmicas, de estudos de trânsito oroesofágico de 9 voluntários saudáveis. As imagens foram obtidas por meio de um banco de imagens previamente coletadas em estudos aprovados pelo comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. A refeição teste utilizada foi 5 ml de solução fisiológica “marcada” com aproximadamente 26MBq (cerca de 700µCi) de 99mTecnécio (pertecnetato) ligado a moléculas de fitato. XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 24 A 27 DE AGOSTO DE 2016 Florianópolis Os voluntários iniciaram o exame em jejum de no mínimo 8 horas. Foram feitas 10 deglutições, sendo as de número 1, 4, 7 e 10 feitas com a refeição teste descrita e adquiridas com o voluntário em posição supino entre os dois detectores de uma Gamma Câmara (Sopha Vision – DST, Sopha Medical Vision América, USA), e as demais foram feitas com 5 ml de solução fisiológica para a limpeza do esôfago. Cada aquisição iniciou-se momentos antes da sua respectiva deglutição e durou 1 minuto, sendo gerada uma imagem a cada 250ms totalizando 240 imagens no final de cada aquisição. As imagens foram exportadas em formato DICOM, para posterior análise em plataforma MatLab (Mathworks Inc.). Os quatro conjuntos de imagens adquiridos foram submetidos a um pré-processamento em plataforma MatLab: As imagens foram corrigidas quanto ao decaimento radioativo, foi aplicada uma média geométrica entre as imagens anteriores e posteriores, a região do esôfago foi delimitada por meio de uma Região de Interesse (ROI) e as imagens foram suavizadas e corregistradas. Os campos de deformação obtidos foram somados e foi calculado um vetor resultante que corresponde à velocidade de trânsito do bolus em cada região do esôfago chamado Velocidade Resultante Regional. As Velocidades Resultantes Regionais de cada deglutição para cada paciente foram obtidas e comparadas com as velocidades obtidas por meio dos tempos de trânsito calculados através das curvas de Tempo vs Atividade (TAC, do inglês Time Activity Curves). A velocidade do bolus foi obtida dividindo-se o comprimento de cada porção do esôfago pelo Tempo de Trânsito nessa porção. Resultados e Discussão: A média das velocidades resultantes regionais diminui progressivamente da região proximal para a distal, como esperado. Ela apresenta valores diferentes na porção proximal em comparação com as porções média e distal (P<0.05) e seu valor para o esôfago proximal (4.06 ± 0.74 cm/s) se aproxima consideravelmente da velocidade da onda peristáltica primária (4 cm/s) [5]. A comparação entre as médias das velocidades obtidas por meio da Técnica Aprimorada de Demons em relação com as obtidas por meio das curvas TAC revelou concordância entre as técnicas apenas para Figura 1 – Média das Velocidades a região proximal. A diferença entre as velocidades obtidas em cada Resultantes Regionais para as regiões Proximal, Média e Distal do esôfago. técnica para as porções média e distal pode ser explicada pelo espalhamento do bolus dentro do esôfago que causa um aumento aparente no comprimento das porções, já que o bolus deve percorrer uma distância maior do que o comprimento da porção para esvaziá-la completamente. Esse fenômeno não ocorre no esôfago proximal, pois o bolus percorre essa porção de forma mais compactada. A média das velocidades de trânsito obtidas para cada porção também foram comparadas com os tempos de trânsito calculados por Miranda e Dantas [6]. Foi encontrada uma forte correlação inversa entre esses valores, como esperado (r=-0.94 P=0.22). Conclusões: As Velocidades Resultantes Regionais obtidas por meio da Técnica Aprimorada de Demons revelou parâmetros fisiológicos do esôfago como a redução da velocidade de trânsito da porção proximal em direção à distal e a obtenção da velocidade da onda peristáltica primária na porção proximal do esôfago. A comparação do método apresentado com o método das curvas TAC revelou uma correlação inversa entre a Velocidade Resultante Regional e o Tempo de Trânsito. Agradecimentos: A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP (número dos processos: 2010/07639-9 e 2011/05011-5), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq (números de processos: 478903/2011-1 e 307941/2010-8) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES pelo apoio financeiro. Referências: 1. 2. Boeckxstaens GE, Zaninotto G, Richter JE. Achalasia. Lancet [Internet]. 2014 Jan 4 [cited 2014 Jan 22];383(9911):83– 93. Dantas RO, Tavares Alves LM, Aguiar Cassiani R, Manfredi dos Santos C. Clinical measurement of swallowing and XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 24 A 27 DE AGOSTO DE 2016 Florianópolis 3. 4. 5. 6. 7. proximal esophageal contractions in Chagas’ disease. Esophagus [Internet]. 2009 Dec 21 [cited 2014 Feb 13];6(4):231–6. Stier A, Stein H, Allescher H, Feith M, Schwaiger M. A scintigraphic study of local oesophageal bolus transit: differences between patients with Barrett’s oesophagus and healthy controls. Gut. 2002;159–65. Lu C, Mandal M. Improved Demons Technique with Orthogonal Gradient. IEICE Trans Inf Syst. 2010;(12):3414–7. De Souza MN, Xavier FEB, Secaf M, Troncon LE a., de Oliveira RB, Moraes ER. Evaluation of oesophageal transit velocity using the improved Demons technique. Nucl Med Commun. 2016;37(1):87–91. Mariani G, Boni G, Barreca M, Bellini M, Fattori B, AlSharif A, et al. Radionuclide gastroesophageal motor studies. J Nucl Med [Internet]. 2004 Jun;45(6):1004–28. 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