1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Serviço Social Trabalho de Conclusão de Curso O DIFÍCIL RETORNO DO USUÁRIO À UNIDADE DE ACOLHIMENTO PARA ADULTOS E FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE RUA- UNAF/AREAL NO DISTRITO FEDERAL Autora: Mauricéia do Socorro Resende Ramos Gomes Orientadora: Profª. Msc. Késia Miriam Santos de Araújo Brasília 2014 2 MAURICÉIA DO SOCORRO RESENDE RAMOS GOMES O DIFÍCIL RETORNO DO USUÁRIO À UNIDADE DE ACOLHIMENTO PARA ADULTOS E FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE RUA- UNAF/AREAL NO DISTRITO FEDERAL Artigo apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Msc. Késia Miriam Santos de Araújo Brasília 2014 3 Artigo de autoria de Mauricéia do Socorro Resende Ramos Gomes, intitulado “O DIFÍCIL RETORNO DO USUÁRIO À UNIDADE DE ACOLHIMENTO PARA ADULTOS E FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE RUA - UNAF/AREAL NO DISTRITO FEDERAL”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, em __/__/__, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: Prof.ª Msc. Késia Miriam Santos de Araújo Orientadora Curso de Serviço Social – UCB Prof.ª Drª. Helga Cristina Hedler Curso de Serviço Social – UCB Prof.ª Esp. Erci Ribeiro Curso de Serviço Social - UCB Brasília, 2014 4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Jeová Deus, pelo amor e benevolência para comigo em todos os dias da minha vida. Ao meu marido Luciano José, e ao meu amado filho Enzo pelos constantes incentivos. Aos meus amados Pais, Marileia e Valfredo, exemplo de vida e de otimismo, sempre me incentivando a acreditar que tudo é possível. Amo vocês. As minhas amadas irmãs Ana Maria e Valdiléia, pela compreensão, encorajamento e amor sem reservas que a mim tem dedicado. Amo vocês. A minha amiga Lucivânia. Você é uma daquelas pessoas enviada por Deus para iluminar o caminho das pedras a outras, e eu fui a escolhida. Obrigada “irmiga” pelo seu carinho e dedicação dispensados a mim, saiba que os meus méritos também são seus. As minhas amigas maravilhosas, Ia Ivo, Gisela, Soraia, Alessandra e Ingredy, por terem sempre uma palavra positiva e amorosa, palavras essas que me fazem sentir revigorada. A todas vocês, meu carinho e admiração. A minha orientadora Késia Miriam, pela dedicação, comprometimento e discussões teóricas que subsidiaram minhas reflexões e meus conceitos. Pela atenção, profissionalismo e ética com que conduziu todo este processo acadêmico. As professoras Erci Ribeiro e Helga Cristina, por seus ensinamentos e profissionalismo na trajetória deste processo acadêmico. É um prazer tê-las na banca examinadora. A minha querida sobrinha Luana Resende, que com muito carinho me orientou a fazer um curso de graduação. Foi daí que surgiu o meu amor pelo Serviço Social. Obrigada, querida. 5 Reconhecer e valorizar a capacidade humana é, antes de tudo, entender a existência do homem como ser presente nas relações, numa crença de que este se auto capacita para a sua própria realização. Pode parecer fácil presenciar um discurso que defende a valorização da capacidade humana, mas quando se está diante de pessoas rotuladas com preconceito, discriminação, esquecidas, marginalizadas e sofrendo a exclusão social, o valor da vida cria limites. Autor: Francisco Arseli Kern 6 O DIFÍCIL RETORNO DO USUÁRIO À UNIDADE DE ACOLHIMENTO PARA ADULTOS E FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE RUA- UNAF/AREAL NO DISTRITO FEDERAL MAURICÉIA DO SOCORRO RESENDE RAMOS GOMES1 Resumo: O artigo em análise se propõe aprofundar o conhecimento acerca do regresso dos usuários à Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias em Situação de Rua no Distrito Federal–UNAF/Areal, os quais retornam a essa instituição várias vezes em um curto espaço de tempo, sem que tenham suas demandas resolvidas. Identificar que fatores como: desemprego, políticas públicas ineficientes, redes socioassistencias fragilizadas entre outros, que isolados ou agregados contribuem para que o usuário não tenha condições de ter sua autonomia e emancipação a partir do desligamento da instituição. A pesquisa utilizou-se do método qualitativo mediante consulta de material bibliográfico. Dessa forma, o desafio é buscar mecanismos para o enfrentamento dessa realidade socioeconômica vivenciada por esse segmento, através de políticas públicas e redes socioassistenciais eficazes e comprometidas, como forma de produzir mudanças a esse quadro social. PALAVRAS-CHAVES: Políticas públicas. Redes socioassistenciais. Regresso. INTRODUÇÃO Este artigo tem como escopo analisar os fatores que corroboram com que os usuários da Unidade de Acolhimento para Adultos e Famílias em Situação de RuaUNAF/Areal em Brasília - Distrito Federal, retornam a essa instituição por diversas vezes, (documento institucional) sem que tenham suas demandas resolvidas. Essas discussões e apontamentos que ora serão abordados, constituem a principal matriz desse trabalho. A Unidade de Acolhimento para Adultos e Família em Situação de Rua – UNAF/Areal, é um equipamento social que oferta ao cidadão o serviço de acolhimento institucional, mediante a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Social e Transferência de Renda- SEDEST, por meio da Subsecretaria de Assistência Social –SUBSAS, é o órgão responsável pela gestão da Política Pública de Assistência Social no Distrito Federal. Para tanto, foi criado por meio do Decreto nº 29.003, de 29 de abril de 2008 e regulamentado pela portaria nº 59, de 11 de março de 2009 o funcionamento e a organização do Albergue Conviver- ALBERCON, atualmente denominado 1 Acadêmica do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília Email: [email protected] 7 UNAF/Areal, destinado a operacionalidade dos serviços socioassistenciais a nível de Proteção Social Especial de Alta Complexidade no âmbito do Distrito Federal. Por meio da resolução nº 109 de 11 de novembro de 2009, o Conselho Nacional de Assistência Social aprovou a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, que caracterizou a prestação de cada serviço socioassistencial de acordo com o nível de proteção. No tocante ao Serviço de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, destaca-se o serviço de acolhimento institucional. Esse serviço é ofertado mediante equipamentos sociais voltados ao acolhimento e abrigamento a indivíduos adultos e família cujos vínculos familiares estão fragilizados e rompidos, em situação de rua, migrantes, operações integradas de remoção que se encontram ameaçados e/ou privados de convivência familiar e social. O público assistido pela UNAF/Areal apresenta características particulares, por ser esse formado em sua grande maioria por migrantes advindos das diversas regiões do país em busca de uma melhor condição de vida nesta capital, seja de habitação, saúde, trabalho e outras. Porém, ao chegarem no Distrito Federal se deparam com outra realidade, e assim, sem recursos financeiros e condições de se auto sustento, acabam tendo que procurar a unidade de acolhimento como uma estratégia de sobrevivência, mesmo sabedores de que esta instituição tem acolhida provisória e que a permanência do usuário na instituição é de no máximo noventa dias corridos. Assim, foi possível apreender também que a realidade vivenciada pelos usuários do UNAF/Areal, advém de fatores sócio históricos, que desencadeia em outras variáveis de proporções maiores e mais complexas na exclusão social, que para a Política Nacional de Assistência Social – PNAS "vai além de privações e diferenciais de acesso a bens e serviços, a pobreza associada à desigualdade social e a perversa concentração de renda" (2004, p.36). O interesse no referido estudo, surgiu durante o período da disciplina estágio supervisando I, e II do curso de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília –UCB, realizado no âmbito desta instituição. Além disso, o estudo mostra-se relevante pela incipiência de trabalhos publicados que analisem de forma mais sistemática os fatores preponderantes que contribuem para que esse regresso continue se reproduzindo, e desta forma, ter uma apreensão maior da realidade que permeia o retorno do usuário a instituição e dos níveis elevado de vulnerabilidade e fragilidade social e pessoal desses sujeitos. O texto está organizado em quatro partes. De início será abordada a relação histórica de exploração entre o capitalismo e o trabalho em prol da acumulação e manutenção do capital. Num segundo momento a discussão será sobre a política social e de como sua implementação esta imbricada de interesses difusos, ou seja, ora opera em favorecer a ordem política e econômica vigente, ora age em prol da população de quem a demanda, num constante embate de correlações de forças próprio do sistema capitalista. A terceira parte deste artigo fará referência a política de Assistência Social como uma política que historicamente é voltada paa atender aqueles expropriados e desprovidos dos direitos e proteção que lhes assegurem uma melhor condição de vida e de cidadania. E por último, a quarta parte deste artigo fará referência à rede socioassistencial como um recurso imprescindível para efetivação e consolidação das políticas públicas. 8 METODOLOGIA Este artigo tem essencialmente por base um estudo de natureza bibliográfica, que se estruturou e apoiou na fundamentação das políticas públicas, dentro da relação entre capitalismo e o trabalho, bem como, a rede socioassistencial como um instrumento indispensável na materialização das políticas públicas. Para fundamentação teórica foi realizado uma revisão literária de autores clássicos, que com suas categorias de análise se posicionam criticamente acerca da temática, os quais subsidiaram o referido artigo. Entre os autores referenciados estão Karl Marx, Potyara e Faleiros. Com parte essencial no processo de construção do referido artigo, a metodologia consiste em não somente descrever técnicas e métodos a serem desenvolvidos nesse estudo, mas também direciona-lo para a melhor elucidação dos objetivos almejados. Como bem referenciado por Minayo (2011, p.15) como sendo a metodologia muito mais que técnicas. Ela inclui as concepções teóricas da abordagem, articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com o pensamento sobre a realidade. Para tanto, esta pesquisa utilizou-se do método qualitativo, mediante consulta de material bibliográfico que conforme Gil (2006, p. 65) “é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Como completude da metodologia aplicada, utilizou-se da pesquisa qualitativa que segundo Minayo (2011, p. 21) corresponde: [...] o universo da produção humana que pode ser resumido no mundo das relações, das representações e da intencionalidade e é o objeto da pesquisa qualitativa dificilmente pode ser traduzido em números e indicadores quantitativos. O estudo consubstanciou também, por uma fase exploratória que segundo Minayo (2011, p. 26) consiste na produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos inerente a este. 1. CAPITALISMO E O TRABALHO: UMA BREVE GÊNESE DESSA RELAÇÃO Para uma melhor aclaração dessa relação, é necessário que se discorra como se desenvolveu o processo histórico do capitalismo e suas peculiaridades, e desta forma, perceber como esta relação socioeconômica, tem se configurado e transformado as relações sociais em prol de uma sociedade do capital. Historicamente a gênese dessa relação tem como base o processo de organização produtiva do capitalismo, que determina as suas estratégias por meio da produção econômica e social, as quais necessariamente são os pilares desde modelo de sistema econômico, que decorrente de cada época histórica, política e social e que tem seus “modos operante” com base na exploração e acumulação das classes exploradas pelas classes dominantes. Nesse sentido, os autores F. Engels e Karl Marx relatam: [...] toda a história tem sido uma história de lutas de lutas de classe, de lutas entre as classes dominantes e as classes dominadas, nos 9 diferentes estágios do desenvolvimento social; mas que, atualmente, esta luta atingiu um estado em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) não pode mais libertar-se da classe explorada e oprime (a burguesia), sem libertar, ao mesmo tempo e para sempre, da exploração, da opressão e das lutas de classes, toda a sociedade. (2010, p. 29). Não obstante dessa realidade, de exploração e opressão das classes detentoras dos meios de produção sobre as classes menos favorecidas, em prol da organização produtiva do capitalismo de se manter e desenvolve forçosamente pela exploração da força de trabalho humano. Fato esse, desencadeado pelo processo histórico entre o século XV e final do século XVI, em que o sistema feudal e a sua estrutura econômica, por assim dizer, subsidiou a formação da econômica capitalista, “a decomposição daquela liberou elementos para a formação desta” (MARX, 1890, p. 830). Nesse sentido, o processo gerador do sistema capitalismo configura-se apenas no processo de permuta onde se retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de subsistência, os expulsando do seu meio de produção, e por não terem como sobreviver acabam sendo obrigados a vender sua força de trabalho nos grandes conglomerados urbanos, desencadeando assim a acumulação primitiva que para Marx (1890, p. 830) é apenas o processo histórico que dissocia o trabalhador dos meios de produção. Destarte, dava-se início a acumulação de riqueza a qual se concentrava nas mãos da nascente burguesia, “surgida das ruínas da sociedade feudal, o que por sinal, não eliminou o antagonismo entre as classes” Marx e Engels (2010), mas, ao contrário, imporia cada vez mais a supremacia da sociedade burguesa, em detrimento à classe subalterna. Nessa direção, os autores Marx e Engels, (2010), reforçam que "a burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou a população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos”. A dispersão suprimida pela nascente burguesia, fez com que forçosamente e de forma violenta expulsaram de suas terras os trabalhadores das terras feudais o que culminou com a migração compulsória dos camponeses, ora então desprovidos totalmente dos seus meios de produção, a se refugiarem nas cidades em busca de sobrevivência. Nesse sentido Marx afirmou que: Os que foram expulsos de suas terras com a dissolução das vassalagens feudais e como a expropriação intermitente e violenta, esse proletariado sem direitos, não podiam ser absorvidos, pela manufatura nascente com a mesma rapidez com que se tornavam disponíveis. Bruscamente arrancados das suas condições habituais de existência, não podiam enquadrar-se, da noite para o dia, na disciplina exigida pela nova situação. Muitos se transformavam em mendigo, ladrões, em parte por inclinação, mas na maioria dos casos por força das circunstâncias. (1890, p. 851) Nessa direção, com a expropriação e expulsão da população rural para as cidades, culminou na formação da classe operária, que tornava-se imprescindível para o fortalecimento e da acumulação mercadológica do capital industrial. Formavase um contingente de trabalhadores desprovidos de suas terras e consequentemente do seu meio de subsistência, passavam então a engrossar as fileiras de trabalhadores excedentes, para suprir o vasto mercado industrial, assim 10 definido por Marx apud Silva (2006) como um exército industrial de reserva. O capitalismo começa a perpetuar a sua lógica de exploração e reprodução da sua força propulsora e intermitente de acumulação, que para Marx [...] o processo capitalista de produção reproduz, portanto, a separação entre a força de trabalho e as condições de trabalho, perpetuando, assim, as condições de exploração do trabalhador. Compele sempre o trabalhador a vender a sua força de trabalho para viver, e capacita sempre o capitalista a compra-la, para enriquecer-se. (1890, p. 672). Nesse contexto, paradoxalmente imbricado de contradições, onde, quem produz e desenvolve a força produtiva não são os que detêm os meios de produção. O que consequentemente não passam a usufruir do fruto do seu trabalho, sendo estes obrigados a entregar a riqueza socialmente produzida nas mãos do capitalista, os detentores dos meios de produção. Eis uma gênese de uma sociedade dividida em classes, (se expressa por uma classe social usurpar o trabalho da outra) antagônicas entre si, pois, a classe burguesa que defende o interesse da acumulação e da exploração e que detém os meios de produção, em detrimento da classe que vende sua força de trabalho. Marx (1988b apud SILVA, 2006, p. 22) reforça que: Na produção capitalista, o trabalhador encontra-se separado dos meios de produção e aliena sua força de trabalho ao capitalista, por um intervalo de tempo, assim, entra e sai do processo de produção na mesma condição, ou seja, por meio de força de trabalho produz a riqueza, que é apropriada privadamente pelo capitalista, mas continua desprovido de todos os meios para realizar essa riqueza em seu proveito. Desse modo, o capitalismo engendra o ciclo de reprodução das condições existentes da força produtiva do trabalho humano, transformando-a em um rico valor mercadológico, com o objetivo de cada vez mais, criar novas mercadorias e manter a sua lógica destrutiva: a da acumulação e da exploração. No processo histórico da organização produtiva, vinculam-se aos processos inerentes à acumulação e reprodução do capital proveniente da relação entre o capital e trabalho o que segundo Marx (1988b apud 2006) "a relação que se estabelece entre o capital e o trabalho giram em torno da compra e venda da força de trabalho, o que implica o valor da mercadoria é a própria força de trabalho". O valor da força de trabalho, como o de toda outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho necessário à produção, portanto também reprodução, desse artigo específico. Enquanto valor, a própria força de trabalho representa apenas determinado quantum de trabalho social médio nela objetivado. A força de trabalho só existe como disposição do indivíduo vivo. Sua produção pressupõe, portanto, a existência dele. Dada a existência do indivíduo, a produção da força de trabalho consiste em sua própria reprodução ou manutenção. Para sua manutenção, o indivíduo vivo precisa de certa soma de meios de subsistência. O tempo de trabalho necessário a produção desses meios de subsistência ou o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção do seu possuidor [...]. (MARX, 1983 apud ALCÂNTARA 2007, 70). 11 Essa relação história, de apropriação pelo capital em detrimento a explorada classe trabalhadora, configurou-se no decorrer dos anos, numa excessiva preocupação por parte dos detentores do meio de produção, qual seja, o de elevar cada vez mais o patamar de manutenção e acumulação da riqueza, o que consequentemente tem gerado transformações e modificações substancial nas relações sociais e trabalhista. Fomentando dessa forma, a contratos de trabalho desregulamentado, flexível, precarizado e desprovidos de quaisquer amparos e garantias legais no que concerne a direitos sociais e trabalhistas, desencadeando na inevitável redução de espaços de trabalho e na formação de uma população excedente, que conforme ressaltado por Marx (1988, p. 40) uma “superpopulação relativa ou exército industrial de reserva”. Torna-se evidente que, a mão-de-obra excedente só propicia ao capitalista uma margem de liberdade para manusear as relações de trabalho. Nesse quadro, visualiza-se uma desqualificação do trabalho formal, que para Antunes é bem destacado como: O crescimento das diversas formas de trabalho precarizado, possibilita colocar em questão as teses que apontam para a supressão ou mesmo eliminação da classe trabalhadora na era do capital mundializado e tecnicamente avançado, visto que simultaneamente ocorre uma diminuição dos postos de trabalho gerada pelo emprego de novas tecnologias na produção e um aumento de trabalho precário. (1999. p. 68) Nesse sentido, depreende-se um quadro próprio do capital, o que desencadeia uma expressiva expansão da terceirização, e do crescente setor de serviços, o que repercute diretamente numa “subproletarização” contínua, presente nas relações trabalhistas. Essa desfavorável condição permite que o trabalhador subordine-se as regras mercadológicas, a rebaixamento dos salários em consonância com a sempre crescente busca por maior lucratividade, corroborando assim com os “modos operante” do capital. É importante ressaltar que essa relação de subordinação intrínseca entre o capital e o trabalho, tem por fundamento ser o trabalho um componente vivo, em constante mediação de forças, desencadeando conflitos e oposições ao outro lado formador desse processo que é a reação social capitalista. Dessa forma, a inserção no mercado formal de trabalho, atinge diretamente o público assistido pela UNAF-Areal, pois este se constitui na sua grande maioria de migrantes de outras regiões, que fugindo do desemprego e das precárias condições de miséria, migram para esta Capital. Assim, Brasília passa a ser idealizada por esses, como a metrópole que propicia oportunidades e melhores condições de vida. De fato, o Distrito Federal tem um forte potencial atrativo de investimentos econômicos, principalmente no polo da construção civil, o qual absorve um significante percentual de mão de obra, fomentando assim, grande perspectiva desse segmento a buscarem por esta metrópole como a “capital da esperança”, na perspectiva de encontrarem aqui uma condição digna de moradia, alimentação, saúde e trabalho, para então, prosseguirem com seus projetos de vida. Assim, a arquitetônica Capital Federal não difere das grandes metrópoles, onde as exigências para se conseguir um emprego formal são cada vez mais acirradas, principalmente para classe menos favorecida como é o caso desse segmento, que pelo fato de se encontrarem albergados já se torna uma grande barreira a formalização do emprego formal, que somados ao preconceito e a 12 discriminação socioeconômica, ao grau de escolaridade, aparência, documentação (muitos que adentram a UNAF/Areal perderam ou estão sem documentação). A própria situação de vulnerabilidade e fragilização envolvida no contexto sócio histórico do indivíduo e/ou famílias abridas na unidade entre outros, se tornam fatores aglutinadores que excluem e contribuem par a manipulação, tornando-os como “presa” fácil para manutenção do sistema. E assim, desprovidos dos meios legais de trabalho, são empurrados a informalidade executando trabalhos degradantes como: flanelinhas, panfleteiros, pequenos trabalhos de jardinagem, limpeza de terrenos (os denominados “bicos”) e outros, como estratégia de subsistência. Assim, subtraídos dos direitos que lhes assegurem a proteção social e trabalhista, os albergados regressam a instituição de acolhimento UNAF/Areal, como forma de estratégia de sobrevivência. A atual reestruturação produtiva do mercado e sua relação com níveis elevados de desemprego vem abrangendo um contingente cada vez mais expressivos de trabalhadores, impondo assim de forma expressiva a exclusão desse segmento ao acessar o mercado via contratação formal de trabalho. Nessas condições, faz-se necessário que o sistema de proteção social, através das políticas públicas de educação, emprego, habitação, trabalho e outras se materializam na objetivação da proteção ao trabalhador, possibilitando vias de acesso efetivo na concretização e na dinamização da justiça social. 2. CONSIDERAÇÕES SOBRE A POLÍTICA SOCIAL NUM CONTEXTO CAPITALISTA Para uma melhor aferição do que representa o escopo da política social e de como essa se tornou um meio possível e legítimo de concretização, embora o seu alcance seja imbricado de contradições e interesses difusos, é mister entender sua trajetória num contexto de Estado capitalista. Assim, reforçado por Pereira (2009, p. 123) Essa dinâmica de funcionamento do Estado capitalista, a existência de contradições assim configuradas: a máquina estatal serve amplamente aos interesses da classe dominante, mas a sua própria universalização que exige que ela dê atenção à sociedade como um todo. Assim, da mesma forma que ele ajuda a explorar os trabalhadores, tem de atender as suas reivindicações. Nessa direção, a questão social2, emerge dessa relação entre capital e trabalho, como resposta das diversas desigualdades sociais, se intensificando a partir do século XIX, com o advento da Revolução Industrial quando a exploração e acumulação capitalista atinge seu ápice, culminando com a massificação da pobreza e dos riscos sociais. A partir desse quadro, de agravamento da questão social, o proletariado começa a se reconhecer como coletivo e a buscar reações positivas em direção a reformas sociais no capitalismo. Tendo como passo inicial, para essas reações, 2 Para Netto, “por ‘ questão social’, [...] o conjunto de problemas políticos, sociais e econômicos que o surgimento da classe operária impôs no curso da constituição da sociedade capitalista. Assim, a ‘questão social’ está fundamentalmente vinculada ao conflito entre capital e o trabalho” (CERQUEIRA, 1982. p. 21). 13 segundo Pereira (2009, p. 121) apud Marx, a "legislação fabril foi à primeira reação consciente e sistemática dos trabalhadores contra as condições espoliadoras de vida e de trabalho que estavam subjugados". Assim, as políticas sociais surgem nesse período, como sendo resposta as inflexões do processo produção e reprodução das relações sociais, movimento este inseparáveis da construção social dado o momento histórico, que de forma gradual e diferenciado entre os países, dependendo de como os movimentos de organização e da pressão da classe trabalhadora, e do nível de desenvolvimento das forças produtivas, e das correlações e composições de força no âmbito do Estado. Ainda nessa direção, Behring e Boschetti (2010, p. 64) ressaltam que: As políticas sociais e formatação de padrões de proteção social são desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento – em geral setorizadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo funcionamento se encontra nas relações de exploração do capital sobre o trabalho (2011, p.51). Nessa direção, a política social, tem na sua trajetória histórica balizada por contraposições oriundas das relações produtivas do capital, pois é observável comumente que essa política nem sempre atende os interesses dos necessitados, e age em muitas das vezes em prol de favorecimentos para organizações das classes dominantes, e de regimes políticos prevalecentes. Como descreve Pereira A política social por não ser só uma forma de regulação, mas um processo dinâmico resultante da relação conflituosa entre interesses contrários, predominantemente de classes, tem se colocado, como mostra a história, a serviço de quem maior domínio exercer sobre ela. (2009, p.86). Destarte, a política social tem no seu escopo a garantia de direitos de quem a demanda, embora sua aplicabilidade e materialização em muitas das vezes não constitui a realidade social, pois os processos burocráticos e de correlações de forças impedem a concretização e a aplicabilidade eficaz dessa política. Sendo assim, Tal política jamais poderá ser compreendida como processo linear, de conotação exclusivamente positiva ou negativa, ou a serviço exclusivo desta ou daquela classe. Na realidade, ela tem se mostrado simultaneamente positiva e negativa e beneficiando interesses contraditórios de acordo com a correlação de forças prevalecente. É isso que torna a política social dialeticamente contraditória. E é essa contradição que permite à classe trabalhadora e aos pobres em geral também utilizá-la a seu favor (PEREIRA, 2009, p. 166). De fato, as políticas sociais se caracterizam por essa dualidade de conotação, ora por prover ações, programas, serviços e projetos capazes viabilizar direitos sociais, que são efetivados por meio desta, como forma de redistribuição de renda em prol de promover condições de melhoria de vida dos usuários que demandam por esta política, ora esta atua em benefícios dos interesses de classe, da ordem política e econômica vigente em um embate de correlações de forças existentes. O que para Faleiros (2006), “a política social perpassa pelo papel desempenhando pelo Estado na forma de suprir necessidades da força de trabalho, articulando as 14 pressões de mobilização das classes trabalhadoras com a valorização e manutenção da ordem capitalista”. Nesse sentido, é de salutar importância a representação eficaz dos segmentos de controle e fiscalização como: os sindicatos, conselhos e movimentos sociais, entre outros que conjuntamente com a sociedade civil exigem e cobrem dos órgãos públicos, o cumprimento e a materialização das políticas públicas como resposta as demandas colocadas por esse segmento social. 3. A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Dentre as políticas sociais desenvolvidas pelo Estado a política de assistência social se destaca pelo fato de voltar-se àqueles totalmente expropriados, que historicamente vem lutando por seus direitos conquistados e expostos no arcabouço jurisdicional da referida política. No atual arranjo institucional brasileiro a política de assistência social compõe a Seguridade Social aglutinando no seu escopo jurídico as políticas de saúde, previdência e assistência social. No entanto, tais políticas vêm sendo sucateadas com o advento da globalização e do ideário neoliberal, tendo esse último como prerrogativas o de descontruir ou até mesmo extinguir direitos certos e garantidos por leis, priorizando a programas focalizados e residuais em detrimento a programas universalistas e distributivos com assim preconiza a política de assistência social. Enfatizando essa ideia Pereira ressalta que: [...] É preciso ter em mente que a assistência social é a única política pública eminentemente social, e por isso, ela se descaracterizará se fizer qualquer concessão às exigências utilitárias do mercado. Afinal, a assistência existi para atender às necessidades sociais, colocandose como um contraponto à lógica da rentabilidade econômica. (2012, p. 229) Nesse enfoque, a política de assistência social, como política da seguridade social, visa a contribuir de forma gratuita e distributiva, o acesso a programas, bens, serviços e direitos objetivando melhoria das condições de vida e de cidadania aos segmentos populacionais de baixa renda. Para tanto Pereira ressalta que: [...] Trata-se, assim, a política de assistência social, de medida ativa e positiva que, além de procurar corrigir injustiças, visa prevenir situações de vulnerabilidade e riscos sociais que representam ameaças, perdas e danos a vários segmentos sociais. (2012, p. 230) Na trajetória dos grandes avanços na Assistência Social brasileira, a começar pela inserção dessa no texto constitucional de 1988 descritos nos artigos 203 e 204, deu-se em 07 de dezembro de 1993 quando o governo sancionou a Lei Orgânica da Assistência Social- (LOAS), que estabelece um conjunto integrado de ações as quais definem as diretrizes, princípios e competências objetivando o seu funcionamento e organização em prol dos direitos socioassistenciais. Outro importante avanço deu-se com a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), em 2005, conforme determinação da LOAS e da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Assim, o SUAS se organiza de forma participativa e descentralizada com o envolvimento das três esferas governamental ofertando programas, projetos, bens e serviços socioassistenciais voltadas para as 15 famílias seus membros e dos indivíduos. De acordo com Mota (2010), “a criação do SUAS pode viabilizar uma normatização, organização, racionalização e padronização dos serviços prestados, inclusive considerando as particularidades regionais e locais”. Além de o SUAS organizar, normatizar e regulamentar as ações socioassistenciais brasileira, com diretrizes e princípios de descentralização e participação políticas nas três esferas de gestão governamental. Ele também organiza e desenvolve as ações da assistência social em dois níveis de proteção social – Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade. Conforme a Lei Nº 12.435, de 6 de julho de 2011, que altera a Lei 8.742, de 7 de dezembro de 1993, o que dispõe sobre a organização da Assistência Social, definido no Art. 6º-A os tipos de proteção social a saber: I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários; II - proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos. 4. REDE SOCIOASSISTENCIAL: UM INSTRUMENTO DE ARTICULAÇÃO COMPARTILHADA O termo rede origina-se do latim retis, que na língua portuguesa significa fio, como “fios entrelaçados com abertura regulares”, é a partir deste conceito a palavra rede ganha novos significados e configurações para as diversas situações. Segundo Guimarães, (2007) visam, além de explicar a realidade, transformála. Para tanto, o conceito de “rede tornou-se uma alternativa prática de organização, capaz de possibilitar e responder às demandas de conectividade, operacionalidade e descentralização das esferas de atuação e articulações sociais diversas”. Assim, para as mais diferentes vertentes existentes nas áreas das ciências sociais, cabe ressaltar dois tipos de rede: a rede fechada onde se manifesta em função de seus objetivos, de forma hierarquizada e burocratizada. A outra vertente é a rede aberta, onde a forma organizacional acontece de fora das instituições, onde a informação é constantemente repassada e o poder distribuído entre todos os componentes da rede, para assim, poder criar um processo comum de comunicação entre todos os que estão envolvidos no problema e possuem um objeto comum. Para Leal apud Faleiros (1996), as redes sociais se apresentam como categoria principal para fortalecer os sujeitos, e define este instrumental como: [...] a concepção da intervenção profissional como confrontação de interesses, recursos, energias, conhecimentos, inscrita no processo de hegemonia/contra hegemonia, de dominação/resistência e conflito/consenso que os grupos sociais se desenvolvem a partir de projetos societários básicos (2001, p. 133). 16 Uma articulação em rede pode interligar somente pessoas, somente instituições ou pessoas e instituições. As pessoas e ou instituições interligadas numa rede podem ser do mesmo tipo ou distintas, depende dos objetivos que a rede almeja alcançar. É importante salientar que, a mobilização em rede não existe por si só, é um espaço formado de uma cultura e cooperação, do envolvimento, da colaboração e da corresponsabilidade dos atores envolvidos. Pois se não houver esse conjunto de fatores agregados no sentido de alimentar essa rede com participação efetiva, ela perde seu real propósito, seu real objetivo, o que torna difícil manter a sua horizontalidade e o seu desenvolvimento em prol da integralidade do atendimento. Por se tratar de um importante instrumento estratégico de articulação coletiva, participativa e de forma horizontalizada, as redes sociais vêm rompendo com as formas tradicionais, setorizadas, especializadas e de ações pontuais de como os atendimentos dos serviços sociais vem sendo potencializado. O atendimento em rede se constitui pela articulação em torno de interesses comuns, de um conjunto amplo e dinâmico de instituições e organizações públicas e privadas, bem como ainda empresas que prestam serviços e produtos a rede de atendimento social. Faleiros salienta que: As redes não são invenções abstratas, mas partem da articulação de atores/organizações – forças existentes no território para uma ação conjunta multidimensional com responsabilidade compartilhada (parcerias) e negociada. A existência de redes pressupõe uma visão relacional dos atores/ forças numa correlação de poder onde a perspectiva da totalidade predomina sobre a fragmentação (FALEIROS e col.2001, n. p). Como instrumento de intervenção profissional no campo das ciências sociais em específico de Serviço Social, possibilita ao profissional desta área um leque maior de possibilidades de intervir e de dar respostas as diversas demandas cada vez mais complexas das questões sociais, decorrentes das transformações econômicas, sociais e políticas presentes na atual sociedade. Dessa forma, a intervenção em rede estabelece um dos procedimentos centrais na atual forma de intervenção social. Os processos realizados para a efetivação deste instrumental e os desafios colocados pela questão social exigem que os atores sociais, compreendam e desenvolvam o seu agir profissional nas diversas demandas apresentadas em sua máxima complexidade. Nesse enfoque Faleiros relata que: A rede é uma articulação de atores em torno, vamos nos expressar assim, de uma questão disputada, de uma questão ao mesmo tempo política, social, profundamente complexa e processualmente dialética. Trabalhar em rede é muito mais difícil do que empreender a mudança de comportamento (1999, p.25). De fato, trabalhar com redes de relações socioassistenciais é indiscutivelmente essencial, por ser essa capaz de articulação com as demais políticas setoriais e organismos de natureza pública ou privados visando a complementariedade das ações. Todavia, ter a dimensão que o trabalho em redes é um desafio, pois exige que todos os atores envolvidos no processo de articulação da mesma estejam envolvidos e comprometidos, compreendendo que essa existe em função do sujeito, da sua emancipação, autonomia e pertencimento social. 17 Para isto, é importante salientar que: O trabalho em redes implica, em primeiro lugar, a participação dos usuários envolvidos e interessados, pois é em razão deles que a rede se estrutura para promover seu protagonismo através de apoios, dispositivos, organizações e estratégias. (FALEIROS 1999, pg.179) CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que a vida dos usuários do UNAF/Areal advém de extrema vulnerabilidade social e pessoal, e que diante dessa situação regressar a essa instituição por diversas vezes em um curto período de tempo, sem que tenham suas demandas resolvidas, consubstanciou a matriz deste trabalho. Refletir sobre as situações que levam os usuários a procurarem a instituição de acolhimento, mesmo sabedores que sua estada ali é de caráter provisório, bem como, das condições e dos níveis de vulnerabilidade e fragilidade com que esses usuários adentram a unidade, é transitar do espaço abstrato, imediato, que coloca os processos sociais de forma “natural”, para uma escala maior de apreensão, que configura a realidade vivenciada por esses sujeitos. Desse modo, faz-se necessário estratégias de intervenção que corrobore no desenvolvimento emancipatório que contribua para a autonomia e o fortalecimento do sujeito, respeitando sua subjetividade como mecanismos de resgatar a sua autoestima e sua independência social e individual. Nesse sentido, é cabível de argumentação que o processo de fortalecimento do usuário envolve toda uma conjuntura, não só por elementos estruturais socioeconômicos, políticos e culturais, mas também o que concerne a subjetividade do sujeito. Há de considerar ainda que as profundas mudanças em curso, decorrente do atual sistema econômico e da sua conflituosa relação entre o capitalismo e o trabalho vem impondo um elevado grau de exigências para contratação do emprego formal, o que constitui para que o público atendido na UNAF/ Areal encontre uma grande barreira no enfrentamento dessa realidade social. Tais mudanças originariam do sistema capitalista, tem imposto grandes limitações, exigências e dificuldade a esse público no acesso as políticas públicas sejam de habitação, trabalho, educação, saúde e outras, as quais são implementadas com a prerrogativa de concretizar diretos sociais. Entendendo que direitos sociais, são regidos pelos princípios norteadores da igualdade, equidade e da justiça social. Ou, de uma outra forma, podemos dizer que os direitos garantidos e declarados em leis, só tem a sua eficácia e aplicabilidade mediante políticas públicas. Porém, o que se percebe atualmente é que a implementação e materialização das políticas públicas, estão mais voltadas para ações de caráter emergenciais e pontuais, a qual tomamos por exemplo: os de concessões de passagens para o retorno a cidade de origem, auxilio aluguel, casa lar, abrigo provisórios e tantos outros, dos quais se “beneficiam” os usuários acolhidos no UNAF/Areal. Vale ressaltar também, a importância do trabalho em rede como uma estratégia essencial para a consolidação das políticas públicas, e da 18 complementariedade dos serviços desenvolvidos na garantia de efetivação dos encaminhamentos necessários no âmbito dessa instituição. No entanto, o que se percebe é a fragilidade de articulação com que as rede socioassistencial vem atuando, seu pouco espaço de articulação com as demais políticas setoriais, as falhas em suas teias de comunicação, o não comprometimento e participação dos atores envolvidos, e a pouca responsabilização do Estado, fazem com que esse instrumental altamente indispensável a concretização das políticas públicas se torne uma ferramenta engessada, com seus pontos de articulação comprometidos, o que corrobora como sendo esse um dos fatores que contribuem para o regresso dos usuários por várias vezes a instituição sem que tenham suas demandas resolvidas, o que confirma o marco hipotético que fundamentou a argumentação desenvolvida nesta pesquisa. É importante salientar que, a rede socioassistencial por si só, não constitui o fator desencadeador para que essa situação se reproduza, mas sim, todo um contexto econômico, político, social, cultural e familiar, que aglutinados contribuem para que essa realidade social permaneça inalterada. Desta forma, foi possível apreender por meio das análises contidas neste trabalho, que para fortalecimento, emancipação e autonomia dos usuários do UNAF/Areal a partir do seu desligamento, é imprescindível a materialização das políticas públicas e do comprometimento da sociedade civil no enfrentamento desta realidade social. THE RETURN OF THE HARD DRIVE USER HOST FOR ADULTS AND FAMILIES IN A SITUATION OF STREET - UNAF / AREAL IN FEDERAL DISTRICT MAURICÉIA DO SOCORRO RESENDE RAMOS GOMES Abstract: The article in question is proposed to deepen the knowledge of the users return to Unit Home for Adults and Families in Homeless in the Distrito Federal– UNAF/Areal. That return to this institution several times in a short space of time, without having their demands resolved. Identify factors like unemployment, inefficient public policies, socioassistencias fragile networks, among others, that contribute singly or aggregated so that the user is unable to have their autonomy and emancipation from the shutdown of the institution. The research used the qualitative method by consulting the bibliography. Thus, the challenge is to find mechanisms to cope with this economic reality experienced by this segment, through public policies and effective and committed social assistance networks as a way to produce changes to this membership. KEYWORDS: Public Policy. Socioassistencial Network, Return. 19 BIBLIOGRAFIA AFRÂNIO, Mendes Catani. O que é o capitalismo – São Paulo: Brasiliense, 2004 – (Coleção primeiros passos; 4). ALCÂNTARA, Fernanda Henrique Cupertino. Os Clássicos no Cotidiano. São Paulo. Arte e Cia. 2007. Disponível em: http://books.google.com.br. Acesso em 15 de março de 2014. AMARAL, Vivianne. Rede: uma abordagem operativa. Disponível em: http:// www.mda.gov.br.htm. Acesso em: 12 de novembro 2013. ANTUNES, Ricardo L. (2006). Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do Mundo do Trabalho. – 11. Ed. – São Paulo: Cortez; Campinas, SP. ARAUJO, Carlos Henrique. No meio da rua: nômades, excluídos e viradores. In: BURSZTYN, Marcel (org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2003. BRAVO, Maria Inês Souza, PEREIRA, Potyara A. P. (orgs.). Política Social e Democracia - 5. ed. – São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2012 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Norma Operacional Básica (NOB/SUAS). Brasília: MDS, 2005. ________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais- Resolução nº 109, de 11 de Novembro de 2009. Brasília: MDS, 2009. _________. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. LOAS Lei Orgânica de Assistência Social. Brasília, [s.d]. BEHRING, Elaine R; BOSCHETTI, Ivanete. Política Social. Fundamentos e história. 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2010. CERQUEIRA FILHO, G.A “questão social” no Brasil. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1982. FALCÃO, Maria do Carmo; FLEURY, Sônia Maria Teixeira SPOSATI, Aldaíza. Os direitos (dos desassistidos) sociais. – 5. Ed. – São Paulo: Cortez, 2006. FALEIROS, Vicente de Paula. Estratégias em Serviço Social. São Paulo. – 9 ed.São Paulo: Cortez, 2010. FALEIROS, Vicente de Paula. A política social do estado capitalista: as funções da previdência e assistência sociais: São Paulo: Cortez, 2006. ________. Desafios do Serviço Social na era da globalização. Revista SS & Sociedade. São Paulo, Cortez, n.61, nov.1999. 20 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2006. GUIMARÃES. Fabiana Aguiar Oliveira. Rede Social e suas contradições: Espaço de disputa ideo-política. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Porto Alegre, RS, 2007. Acesso em: 25 de janeiro 2014 IAMAMOTO, Marilda Villela: Serviço Social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social - 7ed.- São Paulo: Cortez 2012. JUSSARA, Maria Rosa Mendes; JANE, Cruz Prates e Beatriz; Gershenson Aguinsky. O Sistema único de assistência social: as contribuições à fundamentação e os desafios à implantação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. KERN, Francisco A. As mediações em redes como estratégia metodológica do serviço social. 3 ed. rev. amp. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. LEAL, Maria Lúcia Pinto. As ONGS no enfrentamento da exploração, abuso sexual e maus tratos de crianças e adolescentes - Pós 1993. Revista ser social. Nº 2. Ano 2001. Disponível em: http://periodicos.bce.unb.br. Acesso em 20 de abril de 2014. MARTINELLI, Maria Lúcia; KOUMROUYAN, Elza. Um novo olhar para a questão dos instrumentais técnico-operativos em Serviço Social. Revista Serviço Social & Sociedade. N.º 54. São Paulo: Cortez, 1994. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 3. ed. v.2. Editora civilização brasileira S.A. Rio Janeiro, 1890. ______, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do partido comunista. 5ª reimpressão – Ed. Martin Claret. Ltda. – São Paulo- SP, 2010. MINAYO, M. C. S. Pesquisa social - Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2011. MOTA, Ana Elizabete (Org.). O mito da Assistência Social: ensaio sobre Estado, política e sociedade. 4ed. São Paulo: Cortez, 2010. PAULO NETTO, J. Capitalismo monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 1996. PEREIRA, P. A. P. Política Social: temas e questões. 2ed.- São Paulo: Cortez, 2009. ________. Necessidades humanas: subsídios à crítica dos mínimos sociais. 4- ed.São Paulo: Cortez, 2007. SALVADOR, Evilásio. Fundo público e seguridade social no Brasil. – São Paulo: Cortez, 2010. 21 SILVA, Carlos Antônio. O que são redes? 2007. Disponível em: http://www.rits.org.br Acesso em: 02 de outubro 2013. Sinopse estatística mensal – UNAF/Areal. Mês: Outubro/ 2012. SILVA, Maria Lucia Lopes. Mudanças Recentes no Mundo do Trabalho e o Fenômeno População em Situação de Rua no Brasil. 1995-2005. Disponível em: http://repositorio.bce.unb.br. Acesso > em 24 de abril de 2014. SOUSA, Charles Toniolo. A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional. Revista Emancipação, Ponta Grossa, Disponível em: http://www.uepg.br/emancipacao. Acesso em: 27 de outubro de 2013. TUMOLO. Paulo Sérgio. Trabalho, Vida Social e Capital na Virada do Milênio: Apontamentos de Interpretação. Educ. Soc., Campinas, vol. 24, n. 82, p. 159-178, abril 2003. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso > em: 01de abril de 2014. PRAZERES, Michelle. Desafios da atuação em Rede; Observatório da Educação; disponível em: http://www.acaoeducativa.org.brwww.acaoeducativa.org.br. Acesso em: 19 /10/2013. WHITAKER, F. Rede: uma estrutura alternativa de organização. Disponível em: http://www.inforum.insite.com.br. Acesso em: 19 de outubro de 2013.