V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 A RELAÇÃO INDIVIDUAL DE PARÂMETROS METEOROLÓGICOS E A OCORRÊNCIA DA DENGUE EM UBERABA/MG, 2012 Leonardo Batista Pedroso Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Jaqueline Dall Agnol Universidade Federal de Uberlândia [email protected] RESUMO A dengue é uma das mais notórias arboviroses e se constitui enquanto um sério problema de saúde pública mundial, atingindo em sua maior parte países intertropicais e subtropicais, devido à facilidade oferecida por determinantes sociais e naturais. Contudo, o peso destas variáveis na flutuação dos casos depende de cada localidade, da efetividade das políticas públicas de combate à doença e ao vetor, entre outros parâmetros. Este trabalho trata da dengue em uma perspectiva local e regional, cujo objetivo é analisar a influência individual de aspectos meteorológicos sobre o número de ocorrências da dengue para o município de Uberaba, Minas Gerais, Brasil, para o ano de 2012. Para tal, foi realizado levantamento bibliográfico acerca das temáticas Dengue, Saúde Ambiental, Saúde Pública e Climatologia voltada à Saúde. Em seguida, foram levantados dados sobre a dengue nas manifestações “Dengue Clássico, “Dengue com complicações”, “Febre Hemorrágica do Dengue”, “Síndrome do Choque do Dengue” e “Inconclusivos” para o ano de 2012, conforme a CID-10, padrão definido pela OMS. Foram obtidos dados meteorológicos de temperatura, precipitação pluviométrica e umidade relativa do ar junto ao INMET. Após tratamento estatístico e análise dos dados, os mesmos foram correlacionados mediante aplicação do Coeficiente de Correlação de Pearson (r). Averiguou-se a correlação linear individual entre os casos de dengue e as variáveis meteorológicas. Os índices para a relação entre ocorrência da dengue e variáveis de temperatura e precipitação pluviométrica foram estatisticamente nulos. Já o parâmetro de umidade relativa apresentou média intensidade na correlação. Ao aplicar-se o delay de um mês no período necessário ao acúmulo de água, proliferação vetorial e viremia, os resultados apontaram índices superiores, todos classificados como níveis médios na intensidade de correlação. Os resultados evidenciam a necessidade de análise de outros parâmetros, sobretudo de ordem socioeconômica e eficácia de políticas públicas de controle vetorial e da doença. Palavras-chave – Dengue, Uberaba, Aspectos Meteorológicos. ABSTRACT Dengue is one of the most notorious arboviruses and is constituted as a serious worldwide public health problem, affecting mostly intertropical and subtropical countries, due to the ease offered by social and natural determinants. However, the weight of these variables on the fluctuation of cases depends of each locality, the effectiveness of public policies to combat the disease and the vector, among other parameters. This work deals with dengue at a local and regional perspective, aiming to examine the individual influence of meteorological aspects of the number of occurrences of dengue in the municipality of Uberaba, Minas Gerais, Brazil, for the year 2012. In order to this, was conducted a bibliographical survey on the thematics Dengue, Environmental Health, Public Health and Climatology focused on Health. Then, were collected data about Dengue on the manifestations "Classical Dengue", “Dengue with Complications”, “Dengue Hemorrhagic Fever”, "Dengue Shock Syndrome" and "Inconclusive" for the year of 2012, according to ICD-10, standard defined by WHO. Were obtained meteorological data on temperature, rainfall and relative humidity with the INMET. After statistical processing and analysis of data, they were correlated by applying the Pearson Correlation Coefficient (r). Was established whether individual linear correlation between dengue cases and meteorological variables. The indexes for the relation between the occurrence of dengue and temperature and rainfall variability were statistically null. V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 The parameter of relative humidity had a mean intensity in the correlation. By applying the delay of a month, considered the period needed for the accumulation of water, vector proliferation and viremic period, the results indicated higher rates, all classified as medium intensity correlation levels. The results highlight the need for analysis of other parameters, especially of socioeconomic order and effectiveness of vector and disease control public policies. Keyswords – Dengue Fever, Uberaba, Meteorological Aspects. INTRODUÇÃO A dengue vem se alastrando por todo o Brasil ao longo das últimas décadas, sob influência do aumento da circulação de seus sorotipos virais, de pessoas e de mercadorias. As cidades médias e grandes desempenham um papel importante nesta rede de difusão da doença e, com isso, as menores, subordinadas aos fluxos constantes com as supracitadas, entram em risco quando ao desenvolvimento dos casos. Constata-se uma série de tentativas de se erradicar o vetor nas diferentes regiões do país. Por vezes, os trabalhos obtêm sucesso temporário, mas que no decorrer dos anos, tem-se uma retomada do quadro preocupante. Nestas áreas, deve-se elaborar planos e trabalhos específicos para o controle da doença, baseados no conhecimento adquirido pelos serviços e pesquisas locais já realizadas (BRASIL, 2001; CATÃO, 2011). Segundo Silva (2008), o clima quente e úmido facilita a proliferação dos mosquitos transmissores de arboviroses como a Dengue. Dessa forma, grande parte dos países da América Central e, sobretudo do Sul é afetada, como o Brasil, Bolívia, Paraguai, Equador, Peru e Cuba (BRASIL, 1998). Na América Central, destaca-se a Nicarágua, que segundo Kouri et. al. (1991), sofreu com uma epidemia no segundo semestre de 1985, concomitantemente ao período chuvoso, resultando em 17.483 casos e 7 mortes oriundas da Febre Hemorrágica da Dengue. Diferentes epidemias concomitaram para uma situação epidemiológica alarmante em distintos períodos da história. Em Cuba, Pontes e Ruffino-Netto (1994) mostram que 44,5% da população localizada em centros urbanos havia sido infectada pelo sorotipo 1 da doença no ano de 1978. Já no ano de 1981, sob influência do sorotipo 2, a epidemia foi mais crítica, resultando em 344.203 casos e 158 óbitos, dentre os quais destacam-se 101 crianças, em apenas três meses. No Brasil, há referências sobre a dengue desde o ano de 1846, quando uma epidemia atingiu cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e outras. Esta epidemia durou dois anos, sendo conhecida, na época, por outros nomes: “polca”, “patuléia” febre eruptiva reumatiforme. Há registro de uma epidemia em São Paulo, entre os anos de 1851 e 1853 e outra em 1916, que ficou conhecida pelo nome de "urucubaca", mas somente em 1981-1982 é que vai ocorrer a primeira epidemia documentada clínica e laboratorialmente na cidade de Boa Vista Roraima, causadas pelos sorotipos 1 e 4. (BRASIL, 1998). De 1986 a julho de 2002 foram notificados, no país 2.999.726 casos de dengue, deste total, 672.371 casos foram notificados de janeiro a julho de 2002, sendo a taxa de incidência deste período de 385,14/100000hab (BRASIL, 1996; 2007). Compreendendo a importância desta enfermidade no cenário nacional e internacional, este trabalho se justifica não só pela necessidade de produção de conhecimento científico sobre a doença e seu vetor no recorte espacial a ser apresentado, mas também pela possibilidade da elaboração e experimentação de estratégias e/ou ferramentas de planejamento em saúde e controle da doença, contribuído para melhoria da qualidade de vida da população. Diante do exposto, o objetivo é analisar a influência individual de aspectos meteorológicos sobre o número de ocorrências da dengue para o município de Uberaba, Minas Gerais, Brasil, para o ano de 2012, considerando a importância regional deste município para a região a qual se insere – a Mesorregião Geográfica do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, conforme figura a seguir: V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 Figura 01 – Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba: Localização do Município de Uberaba Fonte: Leonardo Batista Pedroso, 2010 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o desenvolvimento da pesquisa e o êxito sobre o objetivo proposto, uma série de procedimentos foi realizada. Inicialmente, realizou-se um levantamento bibliográfico acerca das temáticas Dengue, Saúde Ambiental, Saúde Pública e Climatologia e Meteorologia voltadas à Saúde. Em seguida, foram levantados dados sobre a dengue nas manifestações “Dengue Clássico, “Dengue com complicações”, “Febre Hemorrágica do Dengue”, “Síndrome do Choque do Dengue” e “Inconclusivos” para o ano de 2012, todas registradas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde CID-10, conforme padrão definido pela Organização Mundial da Saúde - OMS. Os dados foram obtidos junto à Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais - SESMG e ao Banco de Dados do Sistema Único de Saúde DATASUS, mais especificamente no Sistema de Informações de Agravos de Notificação SINAN. Foram obtidos dados meteorológicos de máximas, mínimas e médias de temperatura, alturas das precipitações pluviométricas e umidade relativa do ar junto ao Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, Estação Uberaba (código 83577). Após tratamento estatístico e análise dos dados, os mesmos foram correlacionados mediante aplicação do Coeficiente de Correlação de Pearson (r). Desta forma, averiguou-se a correlação linear individual entre os casos de dengue e as variáveis meteorológicas. A fórmula que expressa o Coeficiente de Correlação Linear de Pearson (r) se configura como: Na fórmula, r representa o coeficiente de correlação linear; ∑ representa a soma dos itens descritos; x representa a variável dependente e y a variável independente, sendo estas relativas aos dados de dengue e parâmetros meteorológicos, respectivamente. A relação dada resulta numa aproximação entre os pontos de cruzamento das variáveis e uma linha de tendência, cujo “r” varia entre -1 e 1. A intensidade da correlação, conforme Oliveira (2005) é demonstrada no quadro a seguir: V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 R 0 0,00 ---| 0,30 0,30 ---| 0,60 0,60 ---| 0,90 0,90 ---| 0,99 1 Classificação Nula Fraca Média Forte Fortíssima Perfeita Figura 02 – Classificação da intensidade da correlação Fonte: Oliveira, 2005 RESULTADOS E DISCUSSÕES A variabilidade do número de ocorrências de dengue em Uberaba no ano de 2012 está associada à inúmeros fatores de ordem natural e social, sobretudo de políticas públicas de controle da doença. Para compreender tal variação em si, é necessária a realização de um conjunto de pesquisas integradas que visem a compreensão da dinâmica da doença, bem como dos parâmetros que, segundo relatos da literatura científica, possam incidir sobre tal variabilidade. A compreensão sobre o quadro de manifestação da doença no respectivo ano é ilustrada no quadro disposto a seguir: Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total Dengue Clássico 56 247 558 625 380 204 86 50 16 66 135 270 2693 Dengue com Febre Hemorrágica complicações do Dengue Inconclusivo 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 110 2 1 112 Total 56 248 558 627 380 204 86 50 16 67 136 380 2808 Figura 03 – Dengue em distintas manifestações clínicas em Uberaba/MG, 2012 Fonte: SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 Foram registrados 2808 casos em 2012, dentre os quais, 2693 enquadram-se na manifestação clínica clássica. Dengue com complicações e Febre Hemorrágica de Dengue apresentaram valores inexpressivos. Em relação à distribuição temporal dos casos, constatou-se que os meses com maior número de registros foram abril, março, maio e dezembro, com 627, 558, 380 e 380 casos, respectivamente. O período em destaque caracteriza-se pela manifestação das chuvas na região, com exceção do mês de maio, pelo início do período de estiagem. Em contrapartida, os meses de setembro, agosto e janeiro foram os que apresentaram menor número de casos, com 16, 50 e 56 registros, respectivamente. Com exceção de janeiro, os demais meses caracterizam-se pelo período de estiagem e menores temperaturas médias. V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 Em relação aos aspectos meteorológicos, analisa-se a variação da precipitação pluviométrica para o município em destaque ao longo do ano de 2012: Figura 04 – Distribuição mensal da soma da precipitação pluviométrica em Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, 2012 A análise do gráfico acima permite identificar características pertinentes as variáveis meteorológicas de Uberaba. Não demonstra com eficácia a característica climática básica da região, haja visto que seria necessária a análise destes elementos durante um recorte temporal superior a 30 anos, visando uma sucessão habitual e comum destes elementos, sem a interferência de fenômenos e anomalias climáticas. Os três meses que somaram as maiores alturas pluviométricas foram janeiro, novembro e dezembro, com 415,5mm, 221,8mm e 169,2mm, respectivamente. Tais alturas pluviométricas são típicas do período na região, com aumento gradativo da precipitação da precipitação pluviométrica nos meses que antecedem o verão. Janeiro, novembro e dezembro também foram os meses com maior quantidade de dias com chuva, com 21, 18 e 16 dias, respectivamente. A soma das alturas pluviométricas dos três meses foi de 806,5mm, correspondente a 56,87% do total. Agosto foi o único mês que não registrou chuvas e as menores alturas concentraram-se em julho, setembro e outubro, com 10,2mm, 30,6mm e 35,5mm, respectivamente. Já em relação a temperatura média, conforme dados do INMET (2012), também é possível constatar determinados padrões, como se observa no gráfico a seguir: Figura 05 – Temperatura média mensal de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, 2012 V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 A temperatura máxima média anual de 2012 situou-se em 30,4°C, enquanto a mínima situou-se em 17,3°C e a temperatura média anual compensada foi 22,7°C. O padrão representado pelos dados reflete a característica regional, onde as temperaturas médias são mais elevadas ao início e ao fim do ano, caracterizando duas estações bem definidas, sendo um verão com maiores temperaturas e maior índice pluviométrico e um inverno mais brando com estiagem. Outubro, setembro e dezembro foram os três meses mais quentes do ano, com temperaturas máximas médias situadas em 34,6°C, 32,8°C e 31,8°C, respectivamente, enquanto que julho, agosto e maio foram os meses mais frios, registrando média das mínimas em 12,2°C, 14,1°C e 14,6°C, respectivamente. Outro parâmetro de grande importância para a análise da prevalência da dengue é a umidade relativa do ar, a qual se representa mediante as informações do gráfico disposto a seguir: Figura 06 – Umidade relativa do ar média mensal de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, 2012 A umidade relativa do ar média para o ano em destaque varia entre 53% e 81%, sendo os meses de janeiro, abril, junho e dezembro os mais úmidos, com 81%, 77%, 75% e 75%, respectivamente. Os meses de menor umidade relativa foram agosto, outubro e setembro, com 53%, 54% e 63%, respectivamente. Correlacionando tais dados com os de precipitação pluviométrica, constatou-se que o mês mais úmido (janeiro) foi o que apresentou as maiores alturas pluviométricas, enquanto o mais seco (agosto) foi o único que não apresentou chuvas. Embora a variabilidade não seja tão abrupta, percebe-se que o segundo semestre apresentou uma umidade relativa média mais baixa, caracterizando o inverno na região como tipicamente seco no período. A relação entre o comportamento de tais parâmetros apresentados e a variabilidade sobre a ocorrência de casos de dengue em Uberaba se dá mediante aplicação do método estatístico de correlação linear de Pearson. Ressalta-se que essa correlação se dá de forma individual, visando apurar a intensidade da relação entre um parâmetro e o número de casos a partir do referido ano em Uberaba. O coeficiente de correlação de Pearson para o parâmetro precipitação pluviométrica acusou a relação desta variável com a ocorrência de casos de dengue com um índice de 0,00, considerado estatisticamente nulo. O gráfico de dispersão da correlação está disposto a seguir: V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 Figura 07 – Correlação entre precipitação pluviométrica e casos de dengue de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 A partir da análise do gráfico, é possível verificar que o ponto de cruzamento entre as variáveis está distante da linha de tendência, o que indica que a correlação é muito pequena; no caso, nula. O mesmo ocorre na correlação entre a temperatura média e o número de casos de dengue, cujo índice de correlação foi de 0,06, expresso no gráfico a seguir: Figura 08 – Correlação entre temperatura média e casos de dengue de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 Já o parâmetro de umidade relativa do ar, por sua vez, apresentou um índice de 0,49 na correlação, considerado de média intensidade, o que demonstra, de certo modo, a influência da variabilidade da umidade relativa sobre a ocorrência de casos de dengue no recorte espacial adotado. A correlação é expressa no gráfico de dispersão a seguir, representado pela Figura 09: Figura 09 – Correlação entre umidade relativa do ar média e casos de dengue de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 A partir da análise do gráfico, é possível considerar uma maior proximidade entre o ponto de cruzamento das variáveis e a linha de tendência, o que não ocorre na correlação entre a dengue e os parâmetros de temperatura e precipitação pluviométrica apresentados em análise anterior. Contudo, conforme expresso por grande parte da literatura científica e entendendo a dinâmica natural da doença, sabe-se que há um período hábil entre três e cinco semanas que compreende o início e estabilização das chuvas, acúmulo de água nos recipientes, posterior proliferação vetorial em seus respectivos criadouros e, então, o início da transmissão e do surgimento dos casos de dengue. Desta forma, aplicando-se o “delay” (atraso) de um mês em relação aos dados de precipitação pluviométrica, temperatura média e umidade relativa do ar média para com a ocorrência da dengue, tem-se os índices de -0,06, -0,54, e 0,57, respectivamente, conforme exposto pelos gráficos a seguir: Figura 10 – Correlação entre precipitação pluviométrica e casos de dengue com delay (de um mês) de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 Figura 11 – Correlação entre temperatura média e casos de dengue com delay (de um mês) de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 Figura 12 – Correlação entre umidade relativa do ar média e casos de dengue com delay (de um mês) de Uberaba/MG, 2012 Fonte: INMET, SINAN/DATASUS/SES-MG, 2012 Para o parâmetro precipitação pluviométrica, a aplicação do delay de um mês não representou alteração significativa na correlação, continuando nulo na intensidade. Conforme expresso pela Figura 10, a dispersão dos pontos de cruzamento das variáveis se mantém significativa em relação à linha de tendência. Já para o parâmetro temperatura média, houve uma mudança abrupta na aplicação do delay, cujo índice subiu de 0,06 (correlação nula) para -0,54, considerado de média intensidade. O gráfico apresentado na Figura 11 mostra que os cruzamentos das variáveis estão mais próximos da linha de tendência, indicando maior relação. Ao aplicar-se o delay de um mês para o índice de correlação entre as variáveis umidade relativa do ar média e casos de dengue, observou-se um crescimento pequeno, cujo valor ascendeu de 0,49 para 0,57, ainda considerado de média intensidade. O gráfico exposto na Figura 12 expressa a proximidade dos cruzamentos com a tendência. Desta forma, foi o parâmetro que apresentou maior relação individual com a ocorrência da doença no município no ano de 2012. CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise permitiu concluir que a influência individual de cada parâmetro meteorológico para o referido período não foi estatisticamente significativa, ou seja; ao analisar-se a precipitação pluviométrica, a temperatura média e a umidade relativa do ar, entende-se que cada variável apresenta sua parcela de contribuição para a ocorrência da doença. Contudo, na ausência das demais, não se verifica a existência daquela que seria considerada a proeminente na prevalência da dengue. Ainda que não seja estatisticamente forte, o índice mostrou que o parâmetro de maior intensidade na correlação, tanto na aplicação, quanto na ausência do delay de um mês, foi o de umidade relativa do ar, seguido de temperatura média. Mesmo que se enquadre enquanto uma ferramenta importante para a gestão epidemiológica e da saúde, a análise estatística de tais parâmetros, por si só, não responde à todos questionamentos postos à variabilidade do fenômeno descrito. É necessário o desenvolvimento de pesquisas voltadas à variáveis de cunho socioeconômico e também de ações do poder público nas diferentes esferas voltadas ao controle do vetor e da doença. REFERÊNCIAS V CONGRESSO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA DA SAÚDE Geografia da saúde: ambientes e sujeitos sociais no mundo globalizado Manaus – Amazonas, Brasil, 24 a 28 de novembro de 2014 BANCO DE DADOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – DATASUS. Dados de dengue de Uberaba. Disponível em: < http://sinan.saude.gov.br/sinan>. Acesso em 10 out. 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde, 1998. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Dengue – vigilância epidemiológica e atenção ao doente. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Vigilância ambiental em saúde. Brasília, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 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