O GRITO DA SAÚDE

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O GRITO DA SAÚDE
LEOCIR PESSINI
O Pontifício Conselhos Pastoral dos Profissionais da Saúde publicou recentemente
a segunda edição do INDEZ de todas as instituições de saúde no mundo. Algumas
estatísticas dignas de nota ressaltamos a seguir: O Index reporta a exist6encia de 21.757
instituições de saúde pertencentes à Igreja 9institutos religiosos e dioceses), em 12.596
localidades, distribuídas em 135 países.
Grande parte dessas instituições são hospitais, quase 7.000 (sete mil) que
correspondem à 34% do total. Em segundo lugar, do ponto de vista quantitativo, estão os
centros de idosos. São 4.700 em todo o mundo, o que corresponde em torno de 23% do
total das instituições, concentradas majoritariamente nos países desenvolvidos. Só na
Europa estão 81% desses centros. Os ambulatórios representam a terceira modalidade de
instituições mais difundida, em torno de 20% do total. Na sua maioria estão nos países
pobres: 1800 na África (44% do total) e quase 1500 na Ásia (37,5%). Existem 160
leprosários, dos quais 77 estão na África e 61 na Ásia. Para os deficientes a Igreja dispõe
hoje de 1.000 centros de reabilitação, na sua maioria na Europa. Isso nos dá ainda que a
nível global uma visão do quanto a Igreja investe na área de saúde e como esta realidade
lhe preocupa a nível pastoral. No Brasil a Pastoral da Saúde situa-se no contexto da
chamada linha 6 – dimensão sócio-transformadora, Pastoral Social.
A CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil através da Pastoral Social,
dando continuidade ao tema da Campanha da fraternidade (1995), programou par ao dia 7
de setembro O Grito dos Excluídos, com uma série de eventos em todo o Brasil. Esta
iniciativa tem como objetivo: Anunciar a vida em primeiro lugar; ser e voz e vez dos
excluídos; ser um grito pela cidadania; lutar por uma sociedade radicalmente democrática;
fortalecer a esperança e promover a solidariedade.
O grito da Saúde está programado no evento símbolo, XVI Congresso Brasileiro de
Pastoral de Saúde (7-9 de setembro, no centro de convenções das Faculdades Integradas
São Camilo – São Paulo – Capital) que abordará o tema: A Saúde e os Excluídos.
A Pastoral da Saúde como “ação de todo o povo de Deus, comprometido em
promover, cuidar , defender e celebrar a vida” abrange três dimensões fundamentais
interrelacionadas: a) comunitária: processo educativo, participativo e preventivo; b)
solidária: presença junto aos doentes em nível hospitalar, domiciliar e comunitário; c)
política: atua junto aos organismos e instituições que prestam serviços e formam
profissionais na área de saúde.
Tem como objetivo geral evangelizar o mundo da saúde, à luz da opção preferencial
pelos pobres e enfermos, participando da construção de uma sociedade justa e solidária a
serviço da vida se propõe a atingir entre outros, os seguintes objetivos específicos: 1)
conscientizar a comunidade sobre o direito à vida e o dever de lutar por condições mais
humanas de vida, terra, trabalho, salário, moradia, alimentação, lazer, educação,
saneamento básico e prevenção da natureza; 2) conscientizar o povo de que a saúde é uma
tarefa pessoal, familiar e coletiva; 3) participar ativa e criticamente nas instituições oficiais
que decidem as políticas de saúde; 4) refletir, à luz da fé cristã, a realidade da saúde e da
doença, bem como as implicações da tecnologia e bioética; 5) contribuir para a
humanização das instituições e profissionais da saúde; 6) acompanhar os profissionais e
servidores da saúde em seu processo de formação no seu nível humano, ético e cristão.
Como agentes de Pastoral da Saúde não esqueçamos que nossas ações na área da
saúde, quer a nível pessoal comunitário ou institucional sejam sempre um grito profético de
fé no valor da vida.
DE ( MAU ) HUMOR TAMBÉM SE MORRE
WILSON LUIZ SANVITTO
De humor se vive e de humor também se morre. Aqui, eu me refiro ao humor como
estado de espírito. Mas, o que é humor? É uma disposição afetiva fundamental, suscetível
de oscilar entre os pólos extremos da tristeza e da alegria . Dá a coloração afetiva às
emoções. A variação do humor contribui para o nosso equilíbrio emocional e na opinião de
Bernad Shaw ninguém suportaria uma vida inteira de felicidade (A lietime o happiness).
Pior ainda seria conviver, o tempo todo, com a tristeza e a falta de perspectiva na vida;
seria como cair num buraco negro. A convivência com o nosso estado de humor nem
sempre é pacífica, a tal ponto que muitos poderiam exclamar:
- Socorro! Achei o inimigo. Sou eu mesmo! Parece que nossos piores inimigos são
as nossas emoções mal-administradas. É preciso se estar bem azeitado do ponto de vista
emocional.
Na vida emocional do dia-a-dia, nós passamos boa parte do tempo num estado
neutro. Quando há uma exaltação do humo sobrevêm a alegria e quando há uma depressão
sobrevêm a tristeza. Do ponto de vista dialético pode-se afirmar que o humor muda, o
humor muda o homem, o homem muda o humor. Nesta flutuação do estado de humor
encontramos desde o desanimado até o super animado e raciocínios do tipo: de hora em
hora o mundo piora, não adianta fazer nada. É o pessimista. Aqui a melhor receita vem de
Confúcio: “Ao invés de praguejar contra a escuridão, o melhor a fazer é ascender uma
vela”. Ou então: de hora em hora, Deus melhora; nunca se deve desanimar. É o otimista
incorrigível com sua crença de que existe uma ordem no mundo, racional ou providencial, e
o ser humano só deve esperar pelo seu grande destino. Aqui a receita é: pés no chão, cabeça
fria e coração quente.
Neste nosso mundo cheio de injustiças, catástrofes, misérias e tantos dramas
existenciais, cultivar o bom-humor é preciso. Mais do que nunca é preciso investir no
humor e reencontrar a joie de vivre. Bem- aventurados os vocacionados para a tristeza. É
preciso considerar, contudo, que a vida das pessoas não é feita exclusivamente de grandes
lances – o nascimento, a escolha da profissão, o amor e o casamento, o sucesso e o fracasso
– mas também de pequenos acontecimentos do dia-a-dia. De sorte que a nossa vida
emocional tem muito de artesanal e precisa ser construída também à custa desses pequenos
acontecimentos. Passear com o cão, apreciar um pôr-do-sol, fazer uma sauna, dedilhar o
violão, jogar conversa fora num papo descontraído... são investimentos seguros para fazer
um dia feliz. Neste aspecto eu discordo de Heidegger, que, ao condenar a “conversa fiada”,
condenou o mundo da vida cotidiana constituído de ocorrências e de fatos miúdos e
pessoais, de gosto e de hábitos comuns. É evidente que este mundo está cheio de
preconceitos e equívocos, mas é o mundo do calor humano e dos relacionamentos sociais e
é com ele que temos de lidar e construir nosso estado de espírito.
Buscamos o prazer e sonhamos com a felicidade, para com isso mantermos nosso
tônus humoral elevado. Entretanto é impensável uma vida devotada só ao prazer, ou
voltada apenas para satisfações imediatas, pois isso seguramente não contribui para tornar
uma pessoa feliz. A busca desenfreada do prazer pode significar uma fuga para um mundo
fantástico e irreal. Esta trilha freqüentemente desemboca no álcool, na droga, na
sexualidade indiscriminada e em outras práticas condenáveis na busca do prazer. O prazer
deve contribuir para estabilizar o humor e tornar a vida serena, não para destruí-la. A
perversão do prazer acaba determinando a desestabilização do humor.
Os ups down do humor dependem de múltiplos fatores. Além de um componente
biológico, o humor depende de muitos fatores psicológicos e ambientais, enfim da
capacidade de cada um lidar com os problemas do mundo, de assimilar perdas, de amortizar
conflitos, de administrar impasses, de conviver com ‘as misérias da vida”. Até mesmo as
modulações temporais de nossos ritmos biológicos podem influir em nosso estado de
espírito. Muitas pessoas referem uma certa melancolia no período da manhã e se tornam
mais ativas e alegres no fim da tarde e início da noite. O nosso Vinícios dispara: “De manhã
escureço/ De dia tardo? De tarde anoiteço/ De noite ardo”. Os franceses falam na tristesse
du matin dos deprimidos. Também fatores climáticos influem em nosso humor, que piora
nos dias chuvosos e melhora nos dias ensolarados. Existem mesmo pessoas que no inverno
(principalmente nos países de clima temperado) perdem o interesse pela vida, dormem mais
e demonstram menos energia. Nestes casos, o fator ambiental é responsável por mudanças
no cérebro dessas pessoas. Na escuridão prolongada dos dias de inverno , o hipotálamo
estimula a epífise que assim elabora mais melatonina.
A elevação da melatonina torna a pessoa mais sonolenta e apática. Algumas chegam
a entrar num quadro depressivo, também conhecido como doença afetiva sazonal. O
tratamento indicado nestas depressões sazonais é banho de luz.
Na época da escravidão alguns negros, vindos da África, eram vítimas do banzo,
uma espécie de nostalgia mortal que os tornava tristes, apáticos e eles caminhavam para
uma forma de suicídio lento. Era a grave de fome da época. A patologia do humor é variada
e abriga, dentro de um arco, desde a depressão reativa (luto, ruptura amorosa, desemprego)
até a depressão endógena, condição em que o estado depressivo é pouco (ou nada)
dependendo do ambiente.
Uma das teorias para explicar a depressão dá ênfase à oferta insuficiente de certas
substâncias químicas (aminas biogênicas) ao cérebro: é a teoria humoral moderna.
Curiosamente a teoria humoral antiga (da medicina hipocrática) postulava que o corpo
humano alberga em si sangue, pituíta, bile amarela e bile negra. O equilíbrio desses
humores era fundamental para a saúde física e o bem-estar psicológico. O derrame da bile
negra, elaborada no baço, era responsabilizada pela melancolia. Do ponto de vista
etimológico, melancolia significa bile negra e a palavra inglesa spleen (baço) tem até hoje
uma conotação de tédio. De sorte que as expressões bom humor e mau humor têm a sua
origem na medicina grega e seus humores.
Na matemática emocional, o deprimido contabiliza perdas com redução da
capacidade de experimentar prazer, desinteresse pelo ambiente, além de queda da energia,
do libido e da eficiência intelectual... Nas fases mais avançadas, ocorre uma perda da autoestima e surge uma desesperança. Aqui o grande risco é o deprimido transformar-se na
vítima de si mesmo através do suicídio, que é uma forma de autocrítica levada ao extremo.
Só este fator de risco justifica o auxílio ao deprimido, porque, se de humor se vive, de
humor também se morre. É a lei da vida.
Wilson Luiz Sanvito é Prof. De Neurologia da Faculdade de Ciência Médicas da
Santa Casa.
CORA –CENTRO ONCOLÓGICO DE RECUPERAÇÃO E APOIO
Fortaleça0se na luta contra o câncer. Sinta que a responsabilidade pelo tratamento e
a recuperação é sua. Para isso, o CORA está ao seu lado através do Programa Avançado de
Auto-Ajuda.
O QUE É O CORA
O centro Oncológico de recuperação e Apoio é uma sociedade civil de caráter
privado, de âmbito nacional e sem fins lucrativos, destinada à união de esforços de autoajuda da pessoas atingidas pelo câncer. Este centro teve inicio a partir da vivência pessoal
e iniciativa de alguns ex-pacientes, amigos, familiares, profissionais médicos e
paramédicos.
SEUS PRINCIPAIS OBJETIVOS SÀO:
-aprimorar as condições psicossociais das pessoas portadoras de moléstias
oncológicas;
-estimular o esforço individual de recuperação pelo esclarecimento dos doentes
sobre as oportunidades de superação de suas dificuldades;
-combater a discriminação contra o câncer através do esclarecimento à sociedade
sobre a moléstia;
-incentivar o complemento da formação do pessoal médico e paramédico quanto aos
aspectos psicossociais envolvidos no tratamento e recuperação;
-recomendar normas de conduta e princípios para o relacionamento médicopaciente;
-reconhecer os direitos dos portadores de moléstias oncológicas e representá-los
publicamente;
-promover o interc6ambio com entidades fins no âmbito nacional e internacional ;
-incentivar as atividades de pesquisa científica no seu campo de atuação.
PAAA: PROGRAMA AVANÇADO DE AUTO-AJUDA
Trata-se de um trabalho especialmente dirigido a grupos de pacientes de câncer,
introduzido e adaptado no Brasil pelo CORA, mediante convênio com o Cancer Support
and Education Centre, Menlo Park, Califórnia, EUA, onde vem sendo aplicado há mais de
20 anos.
O trabalho é feito em grupos e utiliza as abordagens psicológicas mais avançadas.
Em cerca de 60 horas de trabalho em conjunto, com técnicas dirigidas, oferece ao paciente
a oportunidade de entrar em contato com suas emoções mais profundas relacionadas à
doença.
O paciente não é tratado como vítima, mas como pessoa que está corajosamente
buscando ajuda para enfrentar esse problema face a face.
A convivência com outros pacientes na mesma luta, e sobretudo, com ex-pacientes
que enfrentaram e superaram a moléstia é um elemento chave no tratamento.
Ao entrar em contato com a voz interior, o paciente vai descobrir o que realmente
deseja para si próprio. Aprende a transformar os sentimentos de desamparo e desesperança
em saudável desejo de viver.
Já se foi o tempo em que a medicina não levava em consideração os fatores
emocionais na evolução da doença. No PAAA, o paciente aprende técnicas que vão ajudálo a se aliar aos tratamento, potencializando os seus efeitos. O tratamento médico é
importantíssimo, mas a atitude do paciente diante dele e de si próprio pode ser
fundamental.
ESTRUTURA DO PAAAA
-Entrevista para esclarecimento sobre os objetivos e funcionamento do programa;
-Nove encontros semanais de seis horas consecutivas de trabalho, com um intervalo
para refeição;
-Mensagens relaxantes ao londo do programa;
-Sessões individuais de aconselhamento;
-Orientaçào nutricional.
Os grupos são formados por oito a doze paciente e respectivos acompanhantes –
pessoas próximas, se possível da família – um coordenador com formação em psicologia ou
psiquiatria e monitores, na proporção de um para quatro pacientes.
Monitores e coordenadores, entre os quais vários ex-pacientes de câncer, foram
especialmente habilitados para esse trabalho pelo Programa de Formação e Treinamento
ministrado no Brasil pela equipe técnica do Cancer Support and Education Center, sob a
coordenação da Dra. Magdalen B. Creighton.
APRENDA A LUTAR MELHOR POR SI PRÓPRIO
O PAAAA não pretende oferecer curas milagrosas, mas apenas colocar à sua
disposição e de seus familiares instrumentos capazes de aumentar a eficácia dos
tratamentos e proporcionar meios para que você possa rever e refazer o seu próprio
caminho.
POBREZA MATA 12 MILHÕES DE CRIANÇAS POR ANO
Segundo relatório da Organização Mundial de Saúde, a maioria das mortes tem
como causa doenças que podem se prevenidas, como pneumonia, diarréia, sarampo e
malária.
GENEBRA – A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou relatório
revelando que 12 milhões de crianças morrem a cada ano nos países em desenvolvimento
antes de atingir 5 anos. De acordo com a OMS, que classificou o documento com “o mais
devastador retrato de nossos tempos”, a maioria das mortes – que em números eqüivalem à
população da Noruega e Suécia juntas – é provocada por pneumonia, diarréia, sarampo e
malária – todas doenças que podem ser prevenidas.
“Enquanto você lê esta frase, uma criança em alguma parte do mundo morre nos
braços da mãe: a pobreza extrema é a primeira causa de mortalidade e sofrimento no
mundo”. A OMS escolheu essa forma ora descrever o estado da saúde mundial, num
informe de 20 páginas intitulado Pobreza no Mundo e apresentado na abertura da 48ª
Assembléia Mundial da Saúde aberta ontem em Genebra.
Combater a extrema pobreza na qual mais de uma em cada cinco pessoas vive no
planeta é a chave para melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade no Terceiro
Mundo, afirmou a organização. Para a OMS, a pobreza é o denominador comum de muitos
dos males que afligem o planeta: crianças que morrem por falta de vacinação, mães que
não sobrevivem ao parto, suicídio, desnutrição.
O resultado é que a esperança de vida ao nascer, nos países subdesenvolvidos, é de
43 anos, enquanto nos desenvolvidos atinge 78 anos. “Isso significa que um homem rico e
são pode viver o dobro do que um pobre e doente”, afirmou a OMS no relatório,
concluindo que as desigualdades entre ricos e pobres, idade e sexo estão se acentuando,
apesar dos avanços obtidos nos últimos anos.
Segundo o informe, mais de um quinto dos 5,6 bilhões de habitantes da Terra vive
em extrema pobreza e aproximadamente um terço se encontra desnutrido, enquanto a
metade da população mundial não tem acesso a medicamentos ou assistência sanitária. A
indigência é a primeira cauda das 16,4 milhões de mortes anuais por enfermidades
infecciosas e parasitárias e das 320 mortes de cada mil recém-nascidos nos países pobres.
O estudo assinalou o aumento das doenças vinculadas diretamente à miséria: cólera
(7 mil mortos por anos); tuberculose (3 milhões) e Aids, considerada uma bomba de efeito
retardado. Hoje mais de 13 milhões de adultos estão contaminados pelo vírus causador da
doença, o HIV, e antes do final do século os infectados serão entre 30 e 40 milhões, dos
quais 5 milhões crianças.
O estado de S. Paulo – Saúde, A15 – 2 de maio de 1995.
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