BC0209–Fenômenos Eletromagnéticos Terceiro quadrimestre de 2013 Prof. José Kenichi Mizukoshi Aula 16 (versão 10/01/2014) Campo elétrico induzido ■ De acordo com a lei de Faraday, um fluxo magnético variável induz uma fem e uma corrente em uma espira condutora. ■ Podemos interpretar a situação acima de uma outra abordagem: um fluxo magnético variável induz um campo elétrico, que será responsável pela força sobre os elétrons livres do condutor, gerando corrente elétrica. ■ Considere uma espira condutora de raio r em uma região com campo magnético uniforme, cuja inten~ varia sidade pode variar com o tempo. Como B com o tempo, o fluxo magnético variará com o tempo, o que induzirá na espira uma fem dΦB E =− dt ■ Aula 16 ~ B ~ E ~ E r ~ E ~ E ~ que A corrente induzida implica na existência de um campo elétrico E, devido à direção da corrente, deve ser tangencial à espira. 2 / 24 Campo elétrico induzido ■ Trabalho realizado pelo campo elétrico para fazer uma carga de prova q0 dar uma volta completa na espira: I I ~ · d~ℓ WE = q0 E = F~E · d~ℓ = q0 E Segue que o campo elétrico induzido está relacionado com a fem induzida pela relação I ~ · d~ℓ E= E ◆ O campo elétrico induzido é um campo não conservativo (ao contrário do campo elétrico eletrostático), pois o trabalho sobre um circuito fechado dá diferente de zero; ◆ embora o resultado acima tenha sido derivado levando-se em conta uma espira condutora, o campo elétrico é induzido no espaço, mesmo na ausência de um condutor ou de cargas. Aula 16 3 / 24 Campo elétrico induzido ■ Em termos do fluxo magnético, a expressão fica Z I d dΦB ~ ~ · dA ~ ~ =− B E · dℓ = − dt dt ➠ Se o fluxo magnético muda com o tempo, haverá um campo elétrico induzido. Aula 16 4 / 24 Campo elétrico induzido – exemplo Ex. 1 Considere um solenóide de raio R com n espiras por unidade de comprimento, mostrado na figura ao lado, conduzindo uma corrente I = Imax cos ωt. Determine a magnitude do campo elétrico induzido fora do solenóide, a uma distância r > R de seu eixo longo central. Caminho de integração R r Imax cos ωt Solução ■ Pela lei de Faraday, I d ~ ~ E · dℓ = − dt Z ~ · dA ~ B ~ é tangente a ele e Para o caminho de integração mostrado na figura acima, E o seu módulo é constante. Aula 16 5 / 24 Campo elétrico induzido – exemplo Segue que I I d Edℓ = E dℓ = − (B dA) dt | {z } | {z } 2πr ■ Z ⇒ R2 dB E=− 2r dt = πR2 Conforme deduzida na aula 14, pp. 2-4, o campo magnético dentro de um solenóide ideal é B = µ0 nI. Logo, µ0 nImax R2 d R2 d (µ0 nI) = − (cos ωt) E=− 2r dt 2r dt | {z } = −ω sen ωt ⇒ Aula 16 µ0 nImax ωR2 sen ωt E= 2r 6 / 24 Campo elétrico induzido – exemplo Determine a magnitude do campo elétrico induzido dentro do solenóide, a uma distância r < R de seu eixo longo central. Solução ■ Utiliza-se novamente a lei de Faraday, onde agora o caminho de integração possui raio r < R, portanto o fluxo magnético será dado por Bπr2 : d E(2πr) = − (Bπr2 ) dt ⇒ Aula 16 ⇒ r dB r d E=− =− (µ0 nImax cos ωt) 2 dt 2 dt µ0 nImax ωr E= sen ωt 2 7 / 24 Auto-indutância ■ Considere o circuito da figura ao lado, formado por uma fonte de fem, uma resistência e uma chave. Quando a chave S é fechada, observa-se que ~ B I ◆ A corrente não salta imediatamente de zero a E/R. ◆ À medida que a corrente aumenta com o I tempo, haverá aumento no fluxo magnético. ■ Para conter o aumento no fluxo, surgirá uma fem induzida, no sentido contrário à corrente, para se opor ao seu aumento. Esse efeito é conhecido como auto-indutância e a fem em questão é uma fem auto-induzida, EL . Para uma bobina com N espiras, a lei de Faraday pode ser escrita como dΦB dI EL = −N = −L dt dt Aula 16 8 / 24 Auto-indutância ■ L é uma constante de proporcionalidade, conhecida como indutância da bobina, e só depende da geometria da bobina e do material o qual as espiras estão enroladas. Da última igualdade da equação da página anterior, dΦB dI −N dt = −L dt | dt{z } |dt{z } = dΦB ⇒ −N Z ΦB dΦB = −L 0 Z i dI 0 = di portanto para uma bobina com N espiras, N ΦB L= I ◆ Unidade da indutância no SI: [L] = Aula 16 V·s = henry (H) A 9 / 24 Indutância de um solenóide – exemplo Ex. 2 Obtenha a indutância de um solenóide ideal uniformemente enrolado com N espiras, de comprimento ℓ. Solução ■ O campo magnético no interior de um solenóide ideal é dado por (veja aula 14, pp. 2-4) N B = µ0 nI = µ0 I ℓ ■ O fluxo magnético em cada espira de área da seção transversal A é dado por ΦB = BA = N ΦB Como L = , tem-se que I µ0 N 2 A L= ℓ Aula 16 ou µ0 N AI ℓ L = µ0 n2 Aℓ 10 / 24 Indutância de um solenóide – exemplo Como Aℓ é o volume do solenóide, Vsolen. , temos que a indutância pode ser dada por L = µ0 n2 Vsolen. Aula 16 11 / 24 Indutor ■ Um elemento de circuito que possui a finalidade de fornecer a indutância para o circuito é conhecido como indutor, que é caracterizado pela indutância L. Num circuito, representamos o indutor através do sı́mbolo dI ■ Sentido (sinal) da fem induzida: é determinado pelo sinal de . dt EL I Aula 16 EL I 12 / 24 Circuitos RL ■ ■ Considere o circuito da figura ao lado, formado por um resistor, um indutor, uma chave e uma bateria ideal. Se a chave S for colocada na posição a em t = 0, surge no circuito uma corrente i que começa a aumentar com o tempo. I a c b S d A variação da corrente produz uma fem EL (às vezes chamada de força contra-eletromotriz), que se opõe ao aumento da corrente, dada por dI EL = −L dt dI é positivo (aumento da corrente elétrica), tem-se que EL é Como dt negativa, ou seja, uma queda de potencial ocorre do ponto c para o ponto d da figura. Aula 16 13 / 24 Circuitos RL ■ Aplicando a regra das malhas de Kirchhoff a esse circuito, obtemos dI dI R E E − RI − L I− =0 ⇒ =− dt dt L R Sabendo-se que em t = 0 a corrente é nula, temos que Z I Z t R dI dt ⇒ =− L 0 0 I − E/R E/R − I Rt ⇒ ln =− ⇒ E/R L Aula 16 I E Rt ln I − = − R 0 L E/R − I − Rt =e L E/R 14 / 24 Circuitos RL I Portanto, E − Rt I(t) = (1 − e L ) R Similarmente ao circuito RC, podemos definir a constante de tempo indutiva do circuito RL como τL = L/R. ■ τ A diferença de potencial no resistor é dada por ∆VR = RI, enquanto no dI indutor é ∆VL = L . Como dt E − Rt dI = e L dt L tem-se que ∆VR = E(1 − e − Rt L ) e ∆VL = Ee − Rt L Conformo esperado, verifica-se que ∆VR + ∆VL = E. Aula 16 15 / 24 Circuitos RL ■ Gráficos de ∆VR e ∆VL para R = 2000 Ω, L = 4, 0 H e E = 10 V. E Aula 16 E 16 / 24 Circuitos RL ■ Vamos supor agora que a chave tenha ficado muito tempo na posição a (veja Fig. da p. 13), tal que a corrente no circuito tenha alcançado o valor máximo E/R. Nessa situação, zera-se o cronômetro e a chave é colocada na posição b no instante t = 0, obtendo-se um circuito RL sem a bateria. ■ Aplicando a regra das malhas de Kirchhoff para esse circuito, obtemos a equação diferencial RI + L dI =0 dt ⇒ dI R =− I dt L Resolvemos a equação de forma análoga ao caso anterior, lembrando que a condição inicial agora é I(0) = E/R: Z Aula 16 I E/R dI R =− I L Z t dt 0 ⇒ I ln I E/R Rt =− L 17 / 24 Circuitos RL i Segue que I Rt ln =− E/R L ∴ ■ E − τt I(t) = e L R Diferenças de potencial no resistor e no indutor: ∆VR = Ee Aula 16 ⇒ E − Rt I(t) = e L R − Rt L e ∆VL = −Ee − Rt L ⇒ ∆VR + ∆VL = 0 18 / 24 Energia armazenada em um campo magnético ■ Conforme visto na p. 14, a equação de um circuito RL com a bateria conectada é dada por dI E − RI − L =0 dt Isolando E e multiplicando toda a equação pela corrente, obtemos dI EI = RI + LI dt 2 Temos que: ◆ o lado esquerdo da equação acima é a potência (energia por unidade de tempo) fornecida pela bateria; ◆ o primeiro termo do lado direito é a energia dissipada por unidade de tempo no resistor (efeito Joule); ◆ Identificamos o segundo termo como sendo a energia fornecida ao indutor por unidade de tempo. Aula 16 19 / 24 Energia armazenada em um campo magnético ■ Se UB é a energia armazenada no indutor para um dado instante, temos que a energia transferida por unidade de tempo ao indutor é dada por dUB dI = LI dt dt ⇒ dUB = LIdI Integrando ambos os lados, obtemos Z Aula 16 UB dUB = L 0 Z I IdI 0 ⇒ 1 UB = LI 2 2 ■ Observa-se uma similaridade com a energia armazenada num capacitor de 1 q2 . capacitância C, carregado com carga q: UE = 2C ■ No caso do capacitor, associamos UE à energia armazenada no campo elétrico. No caso do indutor, identificamos UB como sendo a energia armazenada no campo magnético. 20 / 24 Densidade de energia magnética ■ No intuito de se obter a densidade de energia magnética, vamos calcular a energia armazenada num solenóide ideal. Conforme calculado na p. 11, a indutância é L = µ0 n2 Vsolen. , enquanto que o campo magnético em seu interior é B = µ0 nI. Segue que 1 2 1 B 2 UB = LI = µ0 n Vsolen. 2 2 µ0 n 2 ⇒ B 2 Vsolen. UB = 2µ0 Logo, a densidade de energia (energia por volume) é UB uB = Vsolen. ⇒ B2 uB = 2µ0 ➠ Embora a expressão acima tenha sido deduzida para um solenóide ideal, o resultado é geral. Se existe um campo magnético numa região do espaço, há uma energia magnética acumulada por unidade de volume associada a ele, dada pela expressão acima. Aula 16 21 / 24 Energia magnética armazenada num indutor – exemplo Ex. 3 Considere novamente o circuito RL mostrado na figura ao lado, com a chave colocada na posição b em t = 0, após ter ficado muito tempo na posição a. Mostre que a energia total transferida ao resistor é igual à energia total inicialmente armazenada no indutor. I a c b S d Solução ■ Para um dado instante t, a corrente no circuito é (veja p. 18) I(t) = I0 e − τt L onde I0 = E/R e τL = L/R. ■ A potência no resistor é dada por 2 PR = RI = R I0 e Aula 16 − τt L 2 2t ⇒ PR = − RI02 e τL 22 / 24 Energia magnética armazenada num indutor – exemplo ■ Como a potência é a taxa de variação da energia, tem-se que dER PR = dt dER = PR dt ⇒ Para encontrar a energia total ER transferida para o resistor, integra-se a expressão acima de t = 0 até t → ∞: Z ER dER = 0 Z ∞ PR dt = 0 RI02 Z ∞ dt } |0 2t τL − τ ∞ =− e L 2 Como τL = L/R, segue que − τ2t e {z L ⇒ 1 ER = RI02 τL 2 0 1 2 ER = LI0 2 que é exatamente a energia magnética armazenada no indutor no instante t = 0. Aula 16 23 / 24 Referências Aula 16 ■ R. A. Serway, e J. W. Jewett Jr., Princı́pios de Fı́sica, Vol. 3, Cengage Learning; ■ D. Halliday, R. Resnick e K. S. Krane, Fı́sica, Vol. 3, LTC; ■ H. D. Young e R. A. Freedman – Sears e Zemansky, Fı́sica III: Eletromagnetismo, Pearson Addison Wesley. 24 / 24