ETNOBOTÂNICA E AMPLIAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS EM ESCOLAS PÚBLICAS DO DISTRITO FEDERAL ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. 13, N. 20, Ano 2010 Marcos João da Cunha Leonardo Barbosa Leal Júnior Mayron Paes de Almeida Prof. Gilberto Oliveira Brandão Curso: Ciências Biológicas FACULDADE ANHANGUERA DE BRASÍLIA - UNIDADE TAGUATINGA Trabalho apresentado no I Simpósio de Ciências Biológicas da Faculdade Anhanguera de Brasília e no fórum Anhanguera de plantas medicinais. RESUMO No Cerrado, estima-se que existam 270 espécies utilizadas na medicina popular. O presente estudo teve por objetivo disponibilizar às escolas públicas do DF um manual contendo informações sobre plantas comumente utilizadas na medicina popular. Além disso, procurou-se encontrar distorções entre o conhecimento popular e o científico, através de questionários que foram aplicados a alguns raizeiros do Tocantins. Foram estudadas dez espécies de plantas do Cerrado e dez plantas cultivadas amplamente utilizadas como fitoterápico. De maneira geral, para as plantas do Cerrado, os caules e as folhas foram às partes das plantas que apresentaram maior utilização medicinal. Enquanto para as plantas cultivadas foram as folhas e flores. 30% das plantas nativas e 90% das cultivadas apresentam certa toxicidade ou restrição ao uso. De todas as informações prestadas pelos raizeiros, 65% delas foram totalmente corretas e 29% parcialmente corretas. Somente 6% das informações foram totalmente incompatíveis com a literatura. Apesar da maioria dos voluntários não possuir conhecimento teórico a respeito das plantas medicinais, o conhecimento prático adquirido através das gerações não pode ser desprezado, pois apresenta alto grau de acerto quando comparados com a literatura. Todas as plantas com potencial tóxico foram mencionadas por pelo menos um dos voluntários pesquisados. Entretanto, apenas um dos sete entrevistados (14,3%) mencionou o potencial tóxico da pata de vaca e da mama cadela. Esses resultados refletem que nem todas as pessoas que indicam fitoterápicos tem conhecimento sobre o potencial toxicológico das plantas. Palavras-Chave: cerrado; etnobotânica; fitoterápicos; medicina popular; plantas medicinais. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, SP - CEP 13278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 5 de novembro de 2012 Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional 65 66 Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal 1. INTRODUÇÃO O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do planeta, possuindo uma rica flora distribuída em vários biomas. Devida a esta riqueza de espécies vegetais, o país vem se destacando na exploração de princípios ativos de plantas. O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, superado apenas pela Floresta Amazônica (RIBEIRO & WALTER, 1998; VIEIRA & MARTINS, 2000; RODRIGUES & CARVALHO, 2001). Estima-se que sete mil espécies vegetais sejam encontradas no Cerrado, dentre as quais duzentos e setenta espécies são usadas na medicina popular. A maioria das plantas utilizadas na medicina popular ainda não foi estudada cientificamente, mas acredita-se que mesmo as espécies ainda não utilizadas pela medicina popular contenham substâncias biologicamente ativas para o tratamento de doenças (VIEIRA & MARTINS, 2000). As plantas medicinais são utilizadas desde os primórdios da civilização, quando os homens, guiados pelo instinto e observando os animais, aprenderam a distinguir plantas comestíveis, tóxicas e medicinais (BALBACH, 1986; RODRIGUES & CARVALHO, 2001; MARTINS et al., 2002). A etnobotânica é a ciência que estuda a relação mútua entre populações tradicionais e as plantas (COTTON, 1996). No Brasil, os primeiros a utilizar estas plantas medicinais foram às tribos indígenas. Através dos Pajés, o conhecimento das ervas com potencial medicinal era passado ao longo das gerações. Estes conhecimentos foram aprimorados pelos portugueses, que desenvolveram vários medicamentos utilizando como base estes princípios (LORENZI & MATOS, 2008). O conhecimento a respeito das plantas e de suas propriedades foi transmitido oralmente, de uma geração a outra, e se enriqueceu com o passar do tempo (ALZUGARAY & ALZUGARAY, S/A). Os princípios ativos são compostos com potencial farmacológico produzidos naturalmente pelas plantas, em pequenas quantidades. Enquanto não extraídos das plantas, os princípios ativos são fracos e age progressivamente, razão pela qual as plantas medicinais são indicadas para tratamento de prevenção e de regeneração, sendo de pouca aplicabilidade em caso de crises agudas (JÚNIOR et al., 1994). Em se tratando de material natural, é comum a sua utilização indiscriminada, devido à falta de informação. Freqüentemente, é possível encontrar pessoas que tomam doses altas e contínuas de chá contendo plantas que possuem potencial toxicológico elevado, podendo acarretar em reações contrárias às esperadas. Isso ocorre porque a diferença entre um medicamento e um veneno é a dosagem e a quantidade ingerida. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão 67 As plantas medicinais só devem ser usadas com acompanhamento de um profissional que pode prescrevê-las analisando o potencial farmacológico da planta, seus benefícios e possíveis reações adversas. O presente trabalho visa disponibilizar em escolas públicas do Distrito Federal um manual contendo plantas comumente utilizadas na medicina popular, enfocando suas indicações e formas de aplicação. A importância desse trabalho é fornecer um manual de consulta à comunidade, com o objetivo de esclarecê-la sobre o uso de algumas plantas medicinais e orientá-la sobre possíveis potenciais tóxicos. Além disso, esta pesquisa busca encontrar distorções entre o conhecimento popular e o cientifico. Para analisar essas incongruências, um questionário foi elaborado e levado a pessoas da comunidade, notadamente conhecedoras de tais ervas e seus usos medicinais. Os dados obtidos foram revisados e confrontados com a literatura. 2. 3. OBJETIVO Elaborar um manual educativo contendo informações sobre o uso popular de dez plantas com potencial medicinal do Cerrado. Elaborar um manual educativo contendo informações sobre o uso popular de dez plantas com potencial medicinal cultivada no Brasil. Disponibilizar os manuais educativos para as escolas publicas e postos de saúde no intuito de implementar e incentivar o uso de plantas medicinais. Avaliar o conhecimento popular dos raizeiros que comercializam as plantas medicinais do Cerrado mais comumente utilizadas. Avaliar o conhecimento dos raizeiros sobre o potencial tóxico das plantas medicinais do cerrado mais comumente utilizadas. METODOLOGIA 3.1. Desenvolvimento Foram selecionadas dez espécies nativas do Cerrado e dez espécies cultivadas, ambas amplamente utilizadas na medicina popular. Para cada uma dessas plantas, foi elaborada uma planilha com os seguintes dados: nomes populares, partes da planta utilizadas, formas de apresentação, utilização medicinal, potencial tóxico, cultivo e propagação. Todo o levantamento dos dados foi realizado através de livros, Internet, revistas e artigos. As dez plantas do Cerrado estudadas foram: Picão – Bidens pilosa (Asteraceae), Assapeixe – Vernonia polyanthes (Asteraceae), Arnica do campo – Lychnophora polyanthes (Asteraceae), Jatobá – Hymenaea courbaril (Fabaceae), Pata-de-vaca - Bauhinia fortificata Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 68 Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal (Fabaceae), Sucupira – Pterodon emarginatus (Fabaceae), Barbatimão – Stryphnodendron adstringens (Fabaceae), Mama cadela – Brosimum gaudichaudi (Moraceae), Canela de perdiz – Croton antisyphilicus (Euphorbiaceae) e Pequi – Caryocar brasiliense (Caryocaraceae). Também foram estudadas dez plantas cultivadas: Hortelã – Mentha x villosa (Lamiaceae), Alecrim – Rosmarinus officinalis (Lamiaceae), Erva-cidreira – Melissa officinalis (Lamiaceae), Boldo – Vernonia condensata (Asteraceae), Camomila – Chamomilla recutita (Asteraceae), Capim-santo – Cymbopongon citratus (Poaceae), Gengibre – Zingiber officinalis (Zingiberaceae), Mastruz – Chenopodium ambrosioides (Amaranthaceae), Quebra-pedra – Phyllanthus niruri (Phyllanthaceae), Babosa – Aloe vera (Asphodelaceae). Os dados coletados sobre as plantas foram utilizados para a montagem de dois manuais: um de espécies nativas e outro de espécies cultivadas. Esses manuais estão sendo disponibilizados em escolas públicas do Distrito Federal para livre consulta da população e ampliação do conhecimento sobre essas plantas medicinais. Um questionário foi elaborado e aplicado a raizeiros que fazem indicações de plantas medicinais no Cerrado. O questionário continha informações referentes às dez plantas nativas do Cerrado apresentadas no manual, como nomes populares conhecidos, quais partes da planta eram utilizadas, para quais enfermidades eram comumente indicadas, quais são as suas contras indicações e se fazem uso comercial. Esses dados foram utilizados para analisar o conhecimento transmitido por estes raizeiros aos seus clientes, comparando os dados por eles fornecidos e a bibliografia etnobotânica disponível. 4. RESULTADOS De maneira geral, as partes vegetativas (caule e folha) são aquelas com maior potencial medicinal nas plantas do Cerrado estudadas (Tabela 1). Já nas plantas cultivadas, as partes mais utilizadas são as folhas e flores (Tabela 1). Tabela 1. Porcentagem das partes vegetais utilizadas na medicina popular, para as espécies cultivadas e nativas do Cerrado. Partes utilizadas Planta nativa (%) Planta cultivada (%) Raiz 19 18 Caule 24 0 Folhas 24 47 Frutos / sementes 19 12 Flor 14 23 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão 69 Com relação às formas de uso das plantas nativas, pôde-se encontrar uma grande variedade, sendo que as formas mais comuns foram à apresentação na forma de infusão e uso tópico (47e 29%, respectivamente) (Tabela 2). Nas plantas cultivadas, as formas de apresentação encontradas com maior frequência são em infusão e uso tópico (43 e 15%, respectivamente) (Tabela 2). Tabela 2. Porcentagem das formas de uso das plantas cultivadas e nativas do Cerrado, citadas no presente trabalho. Formas de uso Planta nativa (%) Planta cultivada (%) Infusão 47 43 Ungüento 0 5 Pó 0 5 Decocção 6 10 Óleo 12 10 Garrafada 6 0 Xarope 0 5 Banho 6 10 Uso tópico (sumo, gel e resina) 23 15 As indicações medicinais das plantas nativas do cerrados e das plantas cultivadas apresentadas no manual foram agrupadas em uso nos sistemas respiratório, circulatório, digestivo, urinário, osteo-muscular, reprodutor e outras disfunções (Tabela 3). Para as plantas nativas, as indicações mais freqüentes encontradas foram o uso no sistema digestivo e ósteo-muscular (Tabela 3). Já com relação às indicações das plantas cultivadas, pôde-se encontrar uma grande variedade, sendo que as indicações mais comuns foram o uso em cosméticos, nos sistemas digestivo e respiratório e no combate à cefaléia (Tabela 3). Tabela 3. Indicações medicinais das plantas cultivadas e nativas do Cerrado citadas no presente trabalho. Indicações Plantas nativas (%) Plantas cultivadas (%) Uso em cosméticos 9 12 Sistema respiratório 12 11 Sistema circulatório 9 6 Sistema digestivo 15 15 Sistema urinário 9 4 Sistema reprodutor 9 6 Diabetes 3 2 Anemia 0 2 Uso tópico 9 4 Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 70 Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal Continuação Tabela 3 Indicações Plantas nativas (%) Plantas cultivadas (%) Sistema ósteo-muscular e contusões 22 8 Cefaléia 0 10 Insônia 0 2 Calmante 0 8 Antibiótico 3 8 Hemorróidas 0 2 Com relação às plantas nativas estudadas, 30% delas apresentam potencial tóxico ou alguma restrição ao seu uso (mama cadela, barbatimão e pata de vaca). Já 90% das plantas cultivadas apresentam certa toxicidade ou restrição ao uso (boldo, camomila, capim santo, alecrim, gengibre, mastruz, quebra pedra, erva cidreira e a babosa. Abaixo, encontra-se um pequeno resumo de cada uma das plantas abordadas no manual: Plantas do Cerrado - A pata de vaca (Bauhinia forficata) pertence à família das Fabaceae e pode ser usada como antidiarreica, depurativa, diurética, laxante, purgativa e vermífuga. As partes da planta que são utilizadas nestes tratamentos são a casca, as folhas, as flores e os talos, sendo apresentados na forma de infusão. - O Picão (Bidens pilosa) pertencente à família Asteraceae. Possui várias propriedades medicinais tais como antibiótica, sedativa, expectorante, estimulante, antimicrobiana, diurética, disfunção hepática. Toda a planta é utilizada como infusão no tratamento destas doenças. - O jatobá (Hymenaea courbaril) pertencente à família das Fabaceae é utilizado na medicina popular contra problemas respiratórios, diarréia, hemorragia e fortificante. As partes utilizadas são a casca, a seiva, as folhas e as sementes, apresentadas na forma de infusão. - A Mama cadela (Brosimum gaudichaudii) pertence à família Moraceae e possui propriedades medicinais como antigripal, antioxidante, cicatrizante, depurativo, sendo que as partes utilizadas são raízes, cascas e folhas apresentadas na forma de garrafadas. - O Assa peixe (Vernonia polyanthes) pertence à família das Asteraceae. É utilizada na medicina popular na forma de infusão de toda a planta como antiasmática, antigripal, balsâmica, diurético, expectorante, hemostático, entre outras. - O Barbatimão (Stryphnodendron adstringens) pertence à família das Fabaceae/Mimosoideae. A casca do caule, a raiz e as folhas, na forma de infusão e uso Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão 71 tópico, são utilizadas como adstringente, contra úlceras e gastrites, diarréia, hemorragias, calvície, gonorréia e corrimento vaginal. - A Canela de perdiz (Croton antisyphilliticus) pertence à família das Euphorbiaceae é utilizada como depurativa, anti-sifilítica, antiinflamatória, em úlceras, eczemas, contra reumatismo e cancro venéreo. Toda a planta é utilizada principalmente na forma de infusão. - O Pequi (Caryocar brasiliense) pertence à família Caryocaraceae e suas folhas, polpa, caroço e a castanha soa utilizados na forma de óleos e infusões contra bronquite, gripe, resfriado, rouquidão, dores musculares, contusões, queimaduras e regulação do fluxo menstrual. - A Sucupira (Pterodon emarginatus) pertence à família das Fabaceae e suas sementes e casca são utilizadas na forma de infusão ou decocção como antidiabética, antiinflamatória e anti-reumática. - A Arnica do campo (Lychnophora ericoides) pertence à família das Asteraceae, sendo muito utilizada na medicina popular para o tratamento de escoriações, ferimentos, contusões e dores musculares. As partes utilizadas para o tratamento são as folhas e inflorescência, na forma de tintura ou cataplasma. Plantas Cultivadas - O Boldo (Vernonia condensata) pertence à família das Asteraceae pode ser usado no tratamento de diarréia, anemia, ressaca, obesidade, hemorróidas, gases intestinais e estimulador do apetite. Suas folhas são utilizadas na forma de infusão. - A Camomila (Chamomilla recutita) pertence à família das Asteraceae e é utilizada no tratamento de afta, assadura, afecções na pele, cistites, gengivite, cólicas, enjôo, enxaqueca, ulceras e queimaduras solares. As partes utilizadas no tratamento são os capítulos florais secos e suas formas de apresentação são infusão, decocção e óleo. - O Capim santo (Cymbopogon citratus) pertence à família das Poaceae – é utilizado como analgésico, antidiarreico, calmante, antibacteriano. Suas folhas, rizoma e raízes são apresentados na forma de infusão e inalação. - A Hortelã (Mentha x villosa) pertence à família das Lamiaceae é utilizada na medicina popular contra vômitos, antiprurido, anti-séptica, problemas estomacais e no tratamento de ameba e giárdia. Suas folhas são utilizadas na forma de infusão e pó. - O Alecrim (Rosmarinus officinalis) pertence à família das Lamiaceae e é utilizado no tratamento de afecções, asma, bronquite, calvície, caspa, cicatrização de feridas, colesterol, Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 72 Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal dor de cabeça dor muscular, impotência, gás intestinal, nervosíssimo, rins, ulcera, rugas, vesícula. As folhas e flores são utilizadas na forma de infusão, xarope, decocção, xampu e banho. - O rizoma do Gengibre (Zingiber officinale) pertence à família das Zingiberaceae é utilizado na forma de infusão no tratamento de amigdalite, anorexia, colesterol alto, e dores musculares. - O Mastruz (Chenopodium ambrosioides) pertence à família das Chenopodiaceae e é utilizado na medicina popular contra asma, bronquite, câimbras e na cicatrização de feridas. As partes utilizadas são as folhas apresentadas na forma de infusão, xarope, suco e extrato oleoso. - A Quebra-pedra (Phyllanthus niruri) pertence à família das Euphorbiaceae e é utilizado na medicina popular contra cálculo renal, como analgésico, anti-séptico, antidiarreico, antiinflamatório, antidiabetico, purgativo, relaxante e vermífugo. As partes utilizadas são as folhas, flores e frutos na forma de infusão. - As folhas e inflorescências de Erva-cidreira (Melissa officinalis) pertencem à família Lamiaceae são utilizadas na forma de infusão contra enxaqueca, calmante, gripe, bronquite, cólicas intestinais, caxumba e inflamação nos olhos. - A Babosa (Aloe vera) pertence à família das Asphodelaceae (antiga Liliaceae) e é muito utilizada na medicina popular em queimaduras, ferimentos, hemorróidas, no cuidado da pele de dos cabelos, contra tuberculose e úlceras. As folhas são utilizadas na forma de gel, sumo e pedaços em compressa. 4.1. Avaliação do conhecimento dos raizeiros no estado do Tocantins Nesta etapa do trabalho, apenas as dez espécies do Cerrado estudadas anteriormente foram pesquisadas. Apesar do comércio local de plantas medicinais ser muito ativo em Brasília, muitos dos vendedores não tem o conhecimento etnobotânico das plantas comercializadas. Desta forma, a pesquisa do conhecimento dos raizeiros foi realizada no estado do Tocantins, onde se encontra varias pessoas com um pouco mais de conhecimento etnobotânico devido à existência de comunidades de origem indígena e quilombolas. Dos sete voluntários entrevistados, apenas um deles comercializa as plantas (Quadro 1). O restante dos voluntários apenas faz indicação do potencial medicinal das espécies vegetais. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão 73 Analisando todas as plantas e os voluntários, 87% dos pesquisados fazem indicação do uso medicinal das espécies vegetais (Quadro 1). Isso reflete o grande potencial fitoterápico das espécies pesquisadas neste trabalho, além de sua notória utilização pela população. Quadro 1. Comercialização das dez plantas estudadas nesta pesquisa pelos voluntários. Voluntários 1 2 3 4 5 N C N N N N Arnica do Cerrado Assa-peixe Barbatimão N N Canela de perdiz 6 7 N N N C N N C Jatobá N N N N C N N Mama cadela N N N N C N N N N N Pata-de-vaca N Pequi N N N N C N N Picão N N N N N N N Sucupira N N N N C N N C= faz indicação e comercialização da planta medicinal N= faz indicação, mas não comercializa a planta medicinal * as células em branco representam a não indicação da planta medicinal pelo voluntário Com relação às partes das plantas utilizadas como fitoterápicas, nenhum voluntário fez uma indicação totalmente incorreta de acordo com a literatura disponível (Quadro 2). De todas as informações fornecidas por eles, 76% eram totalmente corretas e 24% parcialmente corretas (Quadro 2), mostrando um bom conhecimento dos raizeiros relativo às partes vegetais utilizadas. Quadro 2. Comparação entre o conhecimento dos voluntários e a literatura dos fitoterápicos, sobre as partes das plantas utilizadas na medicina popular. Voluntários 1 2 3 4 5 +/- +/- +/- +/- + +/- Arnica do Cerrado Assa-peixe Barbatimão + + Canela de perdiz 6 7 +/- +/- +/- + + + +/- Jatobá + + + + + + + Mama cadela + + + + + + + + + + Pata-de-vaca + Pequi +/- + + + + +/- + Picão + +/- + + + +/- + Sucupira + + + + + + + + = confere totalmente com a literatura +/- = confere parcialmente com a literatura - = não confere com a literatura Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 74 Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal Já com relação às informações fornecidas a respeito das indicações terapêuticas, 32% das indicações são parcialmente corretas. Apenas 13% das informações não conferem em nada com a literatura (Quadro 3). Quase metade das informações prestadas pelos raizeiros não condizem ou conferem apenas parcialmente com a bibliografia etnobotânica, mostrando que, mesmo pessoas com renomado conhecimento sobre plantas medicinais tem domínio completo do assunto. Quadro 3. Comparação entre o conhecimento dos voluntários e a literatura dos fitoterápicos, sobre as indicações terapêuticas das plantas utilizadas na medicina popular. Voluntários 1 2 3 4 5 - +/- +/- +/- - + Arnica do Cerrado Assa-peixe Barbatimão + + Canela de perdiz Jatobá 6 7 + + +/- - - +/- + +/- +/- +/- + + - + + + + +/- +/- - + +/- +/- + Mama cadela Pata-de-vaca + Pequi + + +/- +/- + + + Picão +/- - + + + + + Sucupira +/- + + + +/- +/- + + = confere totalmente com a literatura +/- = confere parcialmente com a literatura - = não confere com a literatura De todas as informações prestadas pelos voluntários, 65% delas foram totalmente corretas e 29% parcialmente corretas. Somente 6% das informações foram totalmente incompatíveis com a literatura. Todas as plantas com potencial tóxico foram mencionadas por pelo menos um dos voluntários pesquisados. Todos os voluntários salientaram a importância de não utilizar o barbatimão durante a gravidez em função da toxicidade e de seu potencial abortivo. Apenas um dos sete entrevistados (14,3%) mencionou a necessidade de se evitar o consumo de altas doses da pata de vaca ou de evitar a exposição ao sol após o uso da mama cadela. Esses resultados refletem que nem todas as pessoas que indicam fitoterápicos para prevenir e curar determinadas doenças tem conhecimento sobre o potencial toxicológico das plantas. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75 Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão 5. 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS Existe uma grande variedade de plantas utilizadas como medicinais, inclusive plantas do Cerrado. As plantas são indicadas para uma infinidade de enfermidades, no entanto, elas são empregadas com maior eficácia para o tratamento de poucas doenças. Apesar de muitas vezes, as plantas medicinais serem utilizadas indiscriminadamente, muitas delas possuem potencial toxicológico e restrição ao uso. Ainda faltam estudos para comprovar cientificamente a eficácia de certas plantas para algumas doenças. Apesar da maioria dos voluntários não possuir conhecimento teórico a respeito das plantas medicinais, o conhecimento prático adquirido através das gerações não pode ser desprezado, pois apresenta alto grau de acerto quando comparados com a literatura. REFERÊNCIAS Alzugaray, D. & Alzugary, C. s/a . A Cura está na Natureza. Medicina Natural. São Paulo: Ed. Três, s/a. 544 pp. Balbach A. As Plantas Curam. São Paulo: EDEL, 1986. 411pp. Cotton, C.M. Ethnobotany: principles and aplications. New York: Wiley, 1996. 320 p. Junior, C. C.; Ming, S. C.; Scheffer, M. C. Cultivo de Plantas Medicinais Condimentares e Aromáticas. São Paulo: FUNE, 1994. 151pp. Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª. ed. São Paulo: Plantarum, 2008. 492p. Martins, E. R.; Castro, D. M.; Castellani, D. C. & Dias, J. E. Plantas Medicinais. Minas Gerais: UFV, 2002. 220pp. Rodrigues, V.E. & Carvalho, D.A. Plantas Medicinais no Domínio dos Cerrados. Minas Gerais: UFLA, 2001. 180pp. Vieira, G. B. & Martins M.V.M. Recursos Genéticos de Plantas Medicinais do Cerrado: uma Compilação de dados. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 3 (1):13- 36. 2000. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente Vol. 13, N. 20, Ano 2010 p. 65-75