artigo 11

Propaganda
ETNOBOTÂNICA E AMPLIAÇÃO DO CONHECIMENTO
SOBRE PLANTAS MEDICINAIS EM ESCOLAS PÚBLICAS
DO DISTRITO FEDERAL
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE
INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE
Vol. 13, N. 20, Ano 2010
Marcos João da Cunha
Leonardo Barbosa Leal
Júnior
Mayron Paes de Almeida
Prof. Gilberto Oliveira
Brandão
Curso:
Ciências Biológicas
FACULDADE ANHANGUERA DE
BRASÍLIA - UNIDADE TAGUATINGA
Trabalho apresentado no I Simpósio de
Ciências Biológicas da Faculdade
Anhanguera de Brasília e no fórum
Anhanguera de plantas medicinais.
RESUMO
No Cerrado, estima-se que existam 270 espécies utilizadas na
medicina popular. O presente estudo teve por objetivo
disponibilizar às escolas públicas do DF um manual contendo
informações sobre plantas comumente utilizadas na medicina
popular. Além disso, procurou-se encontrar distorções entre o
conhecimento popular e o científico, através de questionários que
foram aplicados a alguns raizeiros do Tocantins. Foram
estudadas dez espécies de plantas do Cerrado e dez plantas
cultivadas amplamente utilizadas como fitoterápico. De maneira
geral, para as plantas do Cerrado, os caules e as folhas foram às
partes das plantas que apresentaram maior utilização medicinal.
Enquanto para as plantas cultivadas foram as folhas e flores. 30%
das plantas nativas e 90% das cultivadas apresentam certa
toxicidade ou restrição ao uso. De todas as informações prestadas
pelos raizeiros, 65% delas foram totalmente corretas e 29%
parcialmente corretas. Somente 6% das informações foram
totalmente incompatíveis com a literatura. Apesar da maioria dos
voluntários não possuir conhecimento teórico a respeito das
plantas medicinais, o conhecimento prático adquirido através das
gerações não pode ser desprezado, pois apresenta alto grau de
acerto quando comparados com a literatura. Todas as plantas
com potencial tóxico foram mencionadas por pelo menos um dos
voluntários pesquisados. Entretanto, apenas um dos sete
entrevistados (14,3%) mencionou o potencial tóxico da pata de
vaca e da mama cadela. Esses resultados refletem que nem todas
as pessoas que indicam fitoterápicos tem conhecimento sobre o
potencial toxicológico das plantas.
Palavras-Chave: cerrado; etnobotânica; fitoterápicos; medicina
popular; plantas medicinais.
Anhanguera Educacional Ltda.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 4266
Valinhos, SP - CEP 13278-181
[email protected]
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Publicação: 5 de novembro de 2012
Trabalho realizado com o incentivo e
fomento da Anhanguera Educacional
65
66
Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal
1.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do planeta, possuindo uma rica flora
distribuída em vários biomas. Devida a esta riqueza de espécies vegetais, o país vem se
destacando na exploração de princípios ativos de plantas. O Cerrado é o segundo maior
bioma da América do Sul, superado apenas pela Floresta Amazônica (RIBEIRO &
WALTER, 1998; VIEIRA & MARTINS, 2000; RODRIGUES & CARVALHO, 2001).
Estima-se que sete mil espécies vegetais sejam encontradas no Cerrado, dentre as
quais duzentos e setenta espécies são usadas na medicina popular. A maioria das plantas
utilizadas na medicina popular ainda não foi estudada cientificamente, mas acredita-se
que mesmo as espécies ainda não utilizadas pela medicina popular contenham
substâncias biologicamente ativas para o tratamento de doenças (VIEIRA & MARTINS,
2000).
As plantas medicinais são utilizadas desde os primórdios da civilização, quando
os homens, guiados pelo instinto e observando os animais, aprenderam a distinguir
plantas comestíveis, tóxicas e medicinais (BALBACH, 1986; RODRIGUES & CARVALHO,
2001; MARTINS et al., 2002). A etnobotânica é a ciência que estuda a relação mútua entre
populações tradicionais e as plantas (COTTON, 1996). No Brasil, os primeiros a utilizar
estas plantas medicinais foram às tribos indígenas. Através dos Pajés, o conhecimento das
ervas com potencial medicinal era passado ao longo das gerações. Estes conhecimentos
foram aprimorados pelos portugueses, que desenvolveram vários medicamentos
utilizando como base estes princípios (LORENZI & MATOS, 2008).
O conhecimento a respeito das plantas e de suas propriedades foi transmitido
oralmente, de uma geração a outra, e se enriqueceu com o passar do tempo
(ALZUGARAY & ALZUGARAY, S/A).
Os princípios ativos são compostos com potencial farmacológico produzidos
naturalmente pelas plantas, em pequenas quantidades. Enquanto não extraídos das
plantas, os princípios ativos são fracos e age progressivamente, razão pela qual as plantas
medicinais são indicadas para tratamento de prevenção e de regeneração, sendo de pouca
aplicabilidade em caso de crises agudas (JÚNIOR et al., 1994).
Em se tratando de material natural, é comum a sua utilização indiscriminada,
devido à falta de informação. Freqüentemente, é possível encontrar pessoas que tomam
doses altas e contínuas de chá contendo plantas que possuem potencial toxicológico
elevado, podendo acarretar em reações contrárias às esperadas. Isso ocorre porque a
diferença entre um medicamento e um veneno é a dosagem e a quantidade ingerida.
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão
67
As plantas medicinais só devem ser usadas com acompanhamento de um
profissional que pode prescrevê-las analisando o potencial farmacológico da planta, seus
benefícios e possíveis reações adversas.
O presente trabalho visa disponibilizar em escolas públicas do Distrito Federal
um manual contendo plantas comumente utilizadas na medicina popular, enfocando suas
indicações e formas de aplicação. A importância desse trabalho é fornecer um manual de
consulta à comunidade, com o objetivo de esclarecê-la sobre o uso de algumas plantas
medicinais e orientá-la sobre possíveis potenciais tóxicos. Além disso, esta pesquisa busca
encontrar distorções entre o conhecimento popular e o cientifico. Para analisar essas
incongruências, um questionário foi elaborado e levado a pessoas da comunidade,
notadamente conhecedoras de tais ervas e seus usos medicinais. Os dados obtidos foram
revisados e confrontados com a literatura.
2.
3.
OBJETIVO

Elaborar um manual educativo contendo informações sobre o uso popular
de dez plantas com potencial medicinal do Cerrado.

Elaborar um manual educativo contendo informações sobre o uso popular
de dez plantas com potencial medicinal cultivada no Brasil.

Disponibilizar os manuais educativos para as escolas publicas e postos de
saúde no intuito de implementar e incentivar o uso de plantas medicinais.

Avaliar o conhecimento popular dos raizeiros que comercializam as
plantas medicinais do Cerrado mais comumente utilizadas.

Avaliar o conhecimento dos raizeiros sobre o potencial tóxico das plantas
medicinais do cerrado mais comumente utilizadas.
METODOLOGIA
3.1. Desenvolvimento
Foram selecionadas dez espécies nativas do Cerrado e dez espécies cultivadas, ambas
amplamente utilizadas na medicina popular. Para cada uma dessas plantas, foi elaborada
uma planilha com os seguintes dados: nomes populares, partes da planta utilizadas,
formas de apresentação, utilização medicinal, potencial tóxico, cultivo e propagação. Todo
o levantamento dos dados foi realizado através de livros, Internet, revistas e artigos.
As dez plantas do Cerrado estudadas foram: Picão – Bidens pilosa (Asteraceae),
Assapeixe – Vernonia polyanthes (Asteraceae), Arnica do campo – Lychnophora polyanthes
(Asteraceae), Jatobá – Hymenaea courbaril (Fabaceae), Pata-de-vaca - Bauhinia fortificata
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
68
Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal
(Fabaceae), Sucupira – Pterodon emarginatus (Fabaceae), Barbatimão – Stryphnodendron
adstringens (Fabaceae), Mama cadela – Brosimum gaudichaudi (Moraceae), Canela de perdiz
– Croton antisyphilicus (Euphorbiaceae) e Pequi – Caryocar brasiliense (Caryocaraceae).
Também foram estudadas dez plantas cultivadas: Hortelã – Mentha x villosa
(Lamiaceae), Alecrim – Rosmarinus officinalis (Lamiaceae), Erva-cidreira – Melissa officinalis
(Lamiaceae), Boldo – Vernonia condensata (Asteraceae), Camomila – Chamomilla recutita
(Asteraceae), Capim-santo – Cymbopongon citratus (Poaceae), Gengibre – Zingiber officinalis
(Zingiberaceae), Mastruz – Chenopodium ambrosioides (Amaranthaceae), Quebra-pedra –
Phyllanthus niruri (Phyllanthaceae), Babosa – Aloe vera (Asphodelaceae).
Os dados coletados sobre as plantas foram utilizados para a montagem de dois
manuais: um de espécies nativas e outro de espécies cultivadas. Esses manuais estão
sendo disponibilizados em escolas públicas do Distrito Federal para livre consulta da
população e ampliação do conhecimento sobre essas plantas medicinais.
Um questionário foi elaborado e aplicado a raizeiros que fazem indicações de
plantas medicinais no Cerrado. O questionário continha informações referentes às dez
plantas nativas do Cerrado apresentadas no manual, como nomes populares conhecidos,
quais partes da planta eram utilizadas, para quais enfermidades eram comumente
indicadas, quais são as suas contras indicações e se fazem uso comercial. Esses dados
foram utilizados para analisar o conhecimento transmitido por estes raizeiros aos seus
clientes, comparando os dados por eles fornecidos e a bibliografia etnobotânica
disponível.
4.
RESULTADOS
De maneira geral, as partes vegetativas (caule e folha) são aquelas com maior potencial
medicinal nas plantas do Cerrado estudadas (Tabela 1). Já nas plantas cultivadas, as
partes mais utilizadas são as folhas e flores (Tabela 1).
Tabela 1. Porcentagem das partes vegetais utilizadas na medicina popular,
para as espécies cultivadas e nativas do Cerrado.
Partes utilizadas
Planta nativa (%)
Planta cultivada (%)
Raiz
19
18
Caule
24
0
Folhas
24
47
Frutos / sementes
19
12
Flor
14
23
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão
69
Com relação às formas de uso das plantas nativas, pôde-se encontrar uma grande
variedade, sendo que as formas mais comuns foram à apresentação na forma de infusão e
uso tópico (47e 29%, respectivamente) (Tabela 2). Nas plantas cultivadas, as formas de
apresentação encontradas com maior frequência são em infusão e uso tópico (43 e 15%,
respectivamente) (Tabela 2).
Tabela 2. Porcentagem das formas de uso das plantas cultivadas e nativas do Cerrado,
citadas no presente trabalho.
Formas de uso
Planta nativa (%)
Planta cultivada (%)
Infusão
47
43
Ungüento
0
5
Pó
0
5
Decocção
6
10
Óleo
12
10
Garrafada
6
0
Xarope
0
5
Banho
6
10
Uso tópico (sumo, gel e resina)
23
15
As indicações medicinais das plantas nativas do cerrados e das plantas cultivadas
apresentadas no manual foram agrupadas em uso nos sistemas respiratório, circulatório,
digestivo, urinário, osteo-muscular, reprodutor e outras disfunções (Tabela 3). Para as
plantas nativas, as indicações mais freqüentes encontradas foram o uso no sistema
digestivo e ósteo-muscular (Tabela 3). Já com relação às indicações das plantas cultivadas,
pôde-se encontrar uma grande variedade, sendo que as indicações mais comuns foram o
uso em cosméticos, nos sistemas digestivo e respiratório e no combate à cefaléia (Tabela
3).
Tabela 3. Indicações medicinais das plantas cultivadas e nativas do Cerrado
citadas no presente trabalho.
Indicações
Plantas nativas (%)
Plantas cultivadas (%)
Uso em cosméticos
9
12
Sistema respiratório
12
11
Sistema circulatório
9
6
Sistema digestivo
15
15
Sistema urinário
9
4
Sistema reprodutor
9
6
Diabetes
3
2
Anemia
0
2
Uso tópico
9
4
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
70
Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal
Continuação Tabela 3
Indicações
Plantas nativas (%)
Plantas cultivadas (%)
Sistema ósteo-muscular e contusões
22
8
Cefaléia
0
10
Insônia
0
2
Calmante
0
8
Antibiótico
3
8
Hemorróidas
0
2
Com relação às plantas nativas estudadas, 30% delas apresentam potencial tóxico
ou alguma restrição ao seu uso (mama cadela, barbatimão e pata de vaca). Já 90% das
plantas cultivadas apresentam certa toxicidade ou restrição ao uso (boldo, camomila,
capim santo, alecrim, gengibre, mastruz, quebra pedra, erva cidreira e a babosa. Abaixo,
encontra-se um pequeno resumo de cada uma das plantas abordadas no manual:
Plantas do Cerrado
- A pata de vaca (Bauhinia forficata) pertence à família das Fabaceae e pode ser usada como
antidiarreica, depurativa, diurética, laxante, purgativa e vermífuga. As partes da planta
que são utilizadas nestes tratamentos são a casca, as folhas, as flores e os talos, sendo
apresentados na forma de infusão.
- O Picão (Bidens pilosa) pertencente à família Asteraceae. Possui várias propriedades
medicinais tais como antibiótica, sedativa, expectorante, estimulante, antimicrobiana,
diurética, disfunção hepática. Toda a planta é utilizada como infusão no tratamento destas
doenças.
- O jatobá (Hymenaea courbaril) pertencente à família das Fabaceae é utilizado na medicina
popular contra problemas respiratórios, diarréia, hemorragia e fortificante. As partes
utilizadas são a casca, a seiva, as folhas e as sementes, apresentadas na forma de infusão.
- A Mama cadela (Brosimum gaudichaudii) pertence à família Moraceae e possui
propriedades medicinais como antigripal, antioxidante, cicatrizante, depurativo, sendo
que as partes utilizadas são raízes, cascas e folhas apresentadas na forma de garrafadas.
- O Assa peixe (Vernonia polyanthes) pertence à família das Asteraceae. É utilizada na
medicina popular na forma de infusão de toda a planta como antiasmática, antigripal,
balsâmica, diurético, expectorante, hemostático, entre outras.
-
O
Barbatimão
(Stryphnodendron
adstringens)
pertence
à
família
das
Fabaceae/Mimosoideae. A casca do caule, a raiz e as folhas, na forma de infusão e uso
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão
71
tópico, são utilizadas como adstringente, contra úlceras e gastrites, diarréia, hemorragias,
calvície, gonorréia e corrimento vaginal.
- A Canela de perdiz (Croton antisyphilliticus) pertence à família das Euphorbiaceae é
utilizada como depurativa, anti-sifilítica, antiinflamatória, em úlceras, eczemas, contra
reumatismo e cancro venéreo. Toda a planta é utilizada principalmente na forma de
infusão.
- O Pequi (Caryocar brasiliense) pertence à família Caryocaraceae e suas folhas, polpa,
caroço e a castanha soa utilizados na forma de óleos e infusões contra bronquite, gripe,
resfriado, rouquidão, dores musculares, contusões, queimaduras e regulação do fluxo
menstrual.
- A Sucupira (Pterodon emarginatus) pertence à família das Fabaceae e suas sementes e
casca são utilizadas na forma de infusão ou decocção como antidiabética, antiinflamatória
e anti-reumática.
- A Arnica do campo (Lychnophora ericoides) pertence à família das Asteraceae, sendo
muito utilizada na medicina popular para o tratamento de escoriações, ferimentos,
contusões e dores musculares. As partes utilizadas para o tratamento são as folhas e
inflorescência, na forma de tintura ou cataplasma.
Plantas Cultivadas
- O Boldo (Vernonia condensata) pertence à família das Asteraceae pode ser usado no
tratamento de diarréia, anemia, ressaca, obesidade, hemorróidas, gases intestinais e
estimulador do apetite. Suas folhas são utilizadas na forma de infusão.
- A Camomila (Chamomilla recutita) pertence à família das Asteraceae e é utilizada no
tratamento de afta, assadura, afecções na pele, cistites, gengivite, cólicas, enjôo,
enxaqueca, ulceras e queimaduras solares. As partes utilizadas no tratamento são os
capítulos florais secos e suas formas de apresentação são infusão, decocção e óleo.
- O Capim santo (Cymbopogon citratus) pertence à família das Poaceae – é utilizado como
analgésico, antidiarreico, calmante, antibacteriano. Suas folhas, rizoma e raízes são
apresentados na forma de infusão e inalação.
- A Hortelã (Mentha x villosa) pertence à família das Lamiaceae é utilizada na medicina
popular contra vômitos, antiprurido, anti-séptica, problemas estomacais e no tratamento
de ameba e giárdia. Suas folhas são utilizadas na forma de infusão e pó.
- O Alecrim (Rosmarinus officinalis) pertence à família das Lamiaceae e é utilizado no
tratamento de afecções, asma, bronquite, calvície, caspa, cicatrização de feridas, colesterol,
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
72
Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal
dor de cabeça dor muscular, impotência, gás intestinal, nervosíssimo, rins, ulcera, rugas,
vesícula. As folhas e flores são utilizadas na forma de infusão, xarope, decocção, xampu e
banho.
- O rizoma do Gengibre (Zingiber officinale) pertence à família das Zingiberaceae é utilizado
na forma de infusão no tratamento de amigdalite, anorexia, colesterol alto, e dores
musculares.
- O Mastruz (Chenopodium ambrosioides) pertence à família das Chenopodiaceae e é
utilizado na medicina popular contra asma, bronquite, câimbras e na cicatrização de
feridas. As partes utilizadas são as folhas apresentadas na forma de infusão, xarope, suco
e extrato oleoso.
- A Quebra-pedra (Phyllanthus niruri) pertence à família das Euphorbiaceae e é utilizado
na medicina popular contra cálculo renal, como analgésico, anti-séptico, antidiarreico,
antiinflamatório, antidiabetico, purgativo, relaxante e vermífugo. As partes utilizadas são
as folhas, flores e frutos na forma de infusão.
- As folhas e inflorescências de Erva-cidreira (Melissa officinalis) pertencem à família
Lamiaceae são utilizadas na forma de infusão contra enxaqueca, calmante, gripe,
bronquite, cólicas intestinais, caxumba e inflamação nos olhos.
- A Babosa (Aloe vera) pertence à família das Asphodelaceae (antiga Liliaceae) e é muito
utilizada na medicina popular em queimaduras, ferimentos, hemorróidas, no cuidado da
pele de dos cabelos, contra tuberculose e úlceras. As folhas são utilizadas na forma de gel,
sumo e pedaços em compressa.
4.1. Avaliação do conhecimento dos raizeiros no estado do Tocantins
Nesta etapa do trabalho, apenas as dez espécies do Cerrado estudadas anteriormente
foram pesquisadas. Apesar do comércio local de plantas medicinais ser muito ativo em
Brasília, muitos dos vendedores não tem o conhecimento etnobotânico das plantas
comercializadas. Desta forma, a pesquisa do conhecimento dos raizeiros foi realizada no
estado do Tocantins, onde se encontra varias pessoas com um pouco mais de
conhecimento etnobotânico devido à existência de comunidades de origem indígena e
quilombolas.
Dos sete voluntários entrevistados, apenas um deles comercializa as plantas
(Quadro 1). O restante dos voluntários apenas faz indicação do potencial medicinal das
espécies vegetais.
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão
73
Analisando todas as plantas e os voluntários, 87% dos pesquisados fazem
indicação do uso medicinal das espécies vegetais (Quadro 1). Isso reflete o grande
potencial fitoterápico das espécies pesquisadas neste trabalho, além de sua notória
utilização pela população.
Quadro 1. Comercialização das dez plantas estudadas nesta pesquisa pelos voluntários.
Voluntários
1
2
3
4
5
N
C
N
N
N
N
Arnica do Cerrado
Assa-peixe
Barbatimão
N
N
Canela de perdiz
6
7
N
N
N
C
N
N
C
Jatobá
N
N
N
N
C
N
N
Mama cadela
N
N
N
N
C
N
N
N
N
N
Pata-de-vaca
N
Pequi
N
N
N
N
C
N
N
Picão
N
N
N
N
N
N
N
Sucupira
N
N
N
N
C
N
N
C= faz indicação e comercialização da planta medicinal
N= faz indicação, mas não comercializa a planta medicinal
* as células em branco representam a não indicação da planta medicinal pelo voluntário
Com relação às partes das plantas utilizadas como fitoterápicas, nenhum
voluntário fez uma indicação totalmente incorreta de acordo com a literatura disponível
(Quadro 2). De todas as informações fornecidas por eles, 76% eram totalmente corretas e
24% parcialmente corretas (Quadro 2), mostrando um bom conhecimento dos raizeiros
relativo às partes vegetais utilizadas.
Quadro 2. Comparação entre o conhecimento dos voluntários e a literatura dos fitoterápicos,
sobre as partes das plantas utilizadas na medicina popular.
Voluntários
1
2
3
4
5
+/-
+/-
+/-
+/-
+
+/-
Arnica do Cerrado
Assa-peixe
Barbatimão
+
+
Canela de perdiz
6
7
+/-
+/-
+/-
+
+
+
+/-
Jatobá
+
+
+
+
+
+
+
Mama cadela
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
Pata-de-vaca
+
Pequi
+/-
+
+
+
+
+/-
+
Picão
+
+/-
+
+
+
+/-
+
Sucupira
+
+
+
+
+
+
+
+ = confere totalmente com a literatura
+/- = confere parcialmente com a literatura
- = não confere com a literatura
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
74
Etnobotânica e ampliação do conhecimento sobre plantas medicinais em escolas públicas do Distrito Federal
Já com relação às informações fornecidas a respeito das indicações terapêuticas,
32% das indicações são parcialmente corretas. Apenas 13% das informações não conferem
em nada com a literatura (Quadro 3). Quase metade das informações prestadas pelos
raizeiros não condizem ou conferem apenas parcialmente com a bibliografia etnobotânica,
mostrando que, mesmo pessoas com renomado conhecimento sobre plantas medicinais
tem domínio completo do assunto.
Quadro 3. Comparação entre o conhecimento dos voluntários e a literatura dos fitoterápicos,
sobre as indicações terapêuticas das plantas utilizadas na medicina popular.
Voluntários
1
2
3
4
5
-
+/-
+/-
+/-
-
+
Arnica do Cerrado
Assa-peixe
Barbatimão
+
+
Canela de perdiz
Jatobá
6
7
+
+
+/-
-
-
+/-
+
+/-
+/-
+/-
+
+
-
+
+
+
+
+/-
+/-
-
+
+/-
+/-
+
Mama cadela
Pata-de-vaca
+
Pequi
+
+
+/-
+/-
+
+
+
Picão
+/-
-
+
+
+
+
+
Sucupira
+/-
+
+
+
+/-
+/-
+
+ = confere totalmente com a literatura
+/- = confere parcialmente com a literatura
- = não confere com a literatura
De todas as informações prestadas pelos voluntários, 65% delas foram totalmente
corretas e 29% parcialmente corretas. Somente 6% das informações foram totalmente
incompatíveis com a literatura.
Todas as plantas com potencial tóxico foram mencionadas por pelo menos um
dos voluntários pesquisados. Todos os voluntários salientaram a importância de não
utilizar o barbatimão durante a gravidez em função da toxicidade e de seu potencial
abortivo. Apenas um dos sete entrevistados (14,3%) mencionou a necessidade de se evitar
o consumo de altas doses da pata de vaca ou de evitar a exposição ao sol após o uso da
mama cadela. Esses resultados refletem que nem todas as pessoas que indicam
fitoterápicos para prevenir e curar determinadas doenças tem conhecimento sobre o
potencial toxicológico das plantas.
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Marcos João da Cunha, Leonardo Barbosa Leal Júnior, Mayron Paes de Almeida, Gilberto Oliveira Brandão
5.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Existe uma grande variedade de plantas utilizadas como medicinais, inclusive plantas do
Cerrado. As plantas são indicadas para uma infinidade de enfermidades, no entanto, elas
são empregadas com maior eficácia para o tratamento de poucas doenças. Apesar de
muitas vezes, as plantas medicinais serem utilizadas indiscriminadamente, muitas delas
possuem potencial toxicológico e restrição ao uso. Ainda faltam estudos para comprovar
cientificamente a eficácia de certas plantas para algumas doenças.
Apesar da maioria dos voluntários não possuir conhecimento teórico a respeito
das plantas medicinais, o conhecimento prático adquirido através das gerações não pode
ser desprezado, pois apresenta alto grau de acerto quando comparados com a literatura.
REFERÊNCIAS
Alzugaray, D. & Alzugary, C. s/a . A Cura está na Natureza. Medicina Natural. São Paulo: Ed.
Três, s/a. 544 pp.
Balbach A. As Plantas Curam. São Paulo: EDEL, 1986. 411pp.
Cotton, C.M. Ethnobotany: principles and aplications. New York: Wiley, 1996. 320 p.
Junior, C. C.; Ming, S. C.; Scheffer, M. C. Cultivo de Plantas Medicinais Condimentares e
Aromáticas. São Paulo: FUNE, 1994. 151pp.
Lorenzi, H. & Matos, F.J.A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. 2ª. ed. São Paulo:
Plantarum, 2008. 492p.
Martins, E. R.; Castro, D. M.; Castellani, D. C. & Dias, J. E. Plantas Medicinais. Minas Gerais: UFV,
2002. 220pp.
Rodrigues, V.E. & Carvalho, D.A. Plantas Medicinais no Domínio dos Cerrados. Minas Gerais:
UFLA, 2001. 180pp.
Vieira, G. B. & Martins M.V.M. Recursos Genéticos de Plantas Medicinais do Cerrado: uma
Compilação de dados. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, 3 (1):13- 36. 2000.
Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente  Vol. 13, N. 20, Ano 2010  p. 65-75
Download