O CIE face à Obesidade - Ordem dos Enfermeiros

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A ENFERMAGEM É IMPORTANTE
A Enfermagem é importante fornece informação breve de referência,
com uma perspectiva internacional da profissão de enfermagem
sobre questões sociais e de saúde actuais
Folha Informativa
O CIE face à Obesidade:
CRIAÇÃO DA CONSCIENCIALIZAÇÃO PÚBLICA
DE UMA DOENÇA SÓCIO-AMBIENTAL
A obesidade está a aumentar a uma taxa alarmante, não apenas nos países industrializados mas
também nos países em desenvolvimento, onde coexiste com a malnutrição.
A Organização Mundial de Saúde considera a obesidade como sendo uma epidemia global e
um grave problema de saúde pública. Ainda que a urbanização e a industrialização tenham
levado à melhoria das condições de vida, estas alterações, paradoxalmente, afectaram os hábitos
alimentares e o estilo de vida das pessoas em todo o mundo. A obesidade é agora reportada
como sendo a 2a principal causa de morte prevenível, a seguir ao tabagismo1.
Qual a diferença entre o excesso de peso e a obesidade?
Os termos “obesidade” e “excesso de peso” são frequentemente utilizados de forma indiscriminada, mas trata-se de estados diferentes. A “obesidade” refere-se ao excesso de gordura corporal, enquanto o “excesso de peso” se refere a excesso de peso para a respectiva altura, o que
poderá ser proveniente de músculo, de osso, de gordura e/ou água corporal.
Os métodos utilizados para a medição da gordura corporal incluem testes da espessura da prega
de pele e análise da impedância bioeléctrica. O Índice de Massa Corporal (IMC) como cálculo
directo baseado na altura e no peso constitui actualmente o método mais aceite e mais largamente
utilizado para a determinação do excesso de peso e da obesidade tanto em homens como em
mulheres. Um IMC entre 25 e 30 é um indicador de excesso de peso. Um IMC acima de 30
classifica um indivíduo como sendo clinicamente obeso2.
Tendências actuais
Estima-se que a obesidade afecte 18% da população global, tendo-se verificado um aumento de
50% ao longo dos últimos sete anos3. Nos últimos 10 anos a prevalência da obesidade aumentou
ICN ● CIE ● CII
3, Place Jean-Marteau, 1201 Geneve - Switzerland - Tel. +41 22 908 01 00
Fax: +41 22 908 01 01 - e-mail: [email protected] - web: www.icn.ch
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em 10-40% na maioria dos países europeus. O aumento mais drástico ocorreu no Reino Unido, onde quase
duplicou entre 1980 e 1995; de 6% para 15% entre os homens e de 8% para 17% entre as mulheres4.
O número crescente de crianças com excesso de peso e obesas ao nível nacional e internacional constitui
uma preocupação real, aumentando o risco de mais tarde virem a desenvolver doença cardiovascular,
hipertensão e diabetes.
A obesidade nas crianças em idade escolar aproxima-se dos 10% em países industrializados tais com
os Estados Unidos, o Japão e alguns países europeus e também em países em rápida industrialização,
tais como a Algéria, Argentina, Chile, Egipto, Indonésia, Irão, Kiribati, Marrocos, Peru, África do Sul,
Tailândia e muitos países das Caraíbas5. A obesidade, considerada durante muito tempo como uma
“doença ocidental” coloca agora uma grave ameaça à saúde pública nas nações em desenvolvimento.
Adultos - factos e valores
Há cerca de 300 milhões de adultos obesos em todo o mundo e muitos mais com excesso
de peso6.
●
Nos Estados Unidos, 80% das pessoas com mais de 25 anos têm excesso de peso. Este
valor tem vindo a aumentar, de 71% em 1995, 64% em 1990 e 58% em 19837.
●
● Cerca
de 15% da população chinesa tem excesso de peso. Mais de 50% das pessoas com
idades entre os 35 e os 59 anos têm excesso de peso e prevê-se que estes valores dupliquem
no prazo de uma década8.
●
No Brasil e na Colômbia, a obesidade ronda os 40%9.
● Na
África subsaariana, onde vive a maior parte das pessoas que passam fome no mundo,
a obesidade atingiu um nível de 30%, tendo-se verificado um aumento sobretudo entre as
mulheres em meios urbanos10.
Nalgumas ilhas do Pacífico, tais como a Samoa Ocidental e Tonga, a prevalência da
obesidade atingiu níveis de mais de 65% para os homens e 77% para as mulheres11.
●
Crianças e adolescentes - factos e valores
●
A obesidade atingiu proporções epidémicas entre as crianças.
A OMS estimou que cerca de 22 milhões de crianças com menos de 5 anos tenham
excesso de peso.
●
Nos Estados Unidos, a percentagem de crianças com excesso de peso com idades entre
os 5-14 anos aumentou ao longo dos últimos 30 anos de 15% para 32%.
●
Uma em cada quatro crianças nos Estados Unidos tem excesso de peso, enquanto 11%
são obesas.
●
●
Em Pequim, 20% das crianças em idade escolar são obesas.
●
16% Dos rapazes em idade escolar na Arábia Saudita são obesos.
(Fonte: World Heart Federation, Obesity/Nutrition, June 2002)
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Ganho de peso e obesidade por sexo
Em geral, ainda que os homens tenham maior probabilidade de terem excesso de peso, as mulheres têm
maior probabilidade de serem obesas12. Nos homens, o IMC tende a aumentar até aos 50 anos, altura
em que fica estacionário; nas mulheres, o peso tende aumentar até aos 70 anos antes de estabilizar.
Há três períodos de risco elevado para o ganho de peso nas mulheres:
1. No início da menstruação, sobretudo se ocorrer precocemente.
2. Após a gravidez, com risco mais elevado para as mulheres que já têm excesso de peso.
3. Após a menopausa13.
A hipertensão, diabetes e colesterol elevado têm uma prevalência duas a seis vezes maior entre as
mulheres mais pesadas. A obesidade é frequentemente mais prevalente nas mulheres do que nos homens
nos países do sul de África, Médio Oriente, Caraíbas, América Latina e Ásia14.
Impacto social e ambiental
Em todas as regiões, a obesidade parece aumentar com o aumento dos rendimentos. Segundo o Grupo
de Trabalho Internacional para a Obesidade, os ilhéus do Pacífico encontram-se agora entre as
populações mais obesas do planeta. A adopção do modo de vida dos países industrializados criou um
impacto ambiental à medida que os países em desenvolvimento se tornam mais prósperos. Na China,
África e Médio Oriente, a imagem de prosperidade e sucesso pode ser associada ao excesso de peso,
dado que as pessoas esperam beneficiar de uma dieta rica em calorias e em proteína animal15.
Causas do excesso de peso e obesidade
A actual epidemia de obesidade não pode ser explicada do ponto de vista genético ou por um insucesso
na disciplina pessoal ou na formação psicológica durante o crescimento. Está sobretudo associada à
adopção do modo de vida dos países industrializados, que promove a ingestão excessiva de alimentos
e desencoraja a actividade física16.
O marketing, dirigido tanto aos adultos como às crianças, encoraja a ingestão de alimentos processados
e de pequenas refeições (snack) com elevado conteúdo de gorduras, e raramente apresenta o consumo
de fruta e/ou vegetais. Há menos pessoas a trabalhar em ocupações de elevado desgaste físico, como
a agricultura e minas, e o esforço físico requerido em muitos tipos de ocupações está a diminuir. A posse
de televisões e automóveis contribuiu para uma geração de pessoas sedentárias. O número excessivo de
horas a ver televisão e as actividades sedentárias, tais como os videojogos, e estar sentado ao
computador desempenham um papel crítico na obesidade, sobretudo entre as crianças.
Riscos de saúde
A obesidade está associada a um risco aumentado de morbilidade e mortalidade. Estima-se que mais
de 115 milhões de pessoas em países de baixos e médios rendimentos sofram de problemas relacionados com a obesidade17. Nos Estados Unidos, a obesidade poderá em breve matar mais americanos
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do que o fumo de tabaco. Nas nações industrializadas, a obesidade está associada a um risco aumentado de diabetes, cancro, doenças cardiovasculares e doenças digestivas18.
Nas regiões em vias de desenvolvimento, as melhorias na saúde e as esperanças médias de vida estão
a ser dificultadas pelas taxas crescentes de mortes prematuras devidas a doenças do estilo de vida relacionadas com a obesidade, tal como a diabetes19.
As crianças com excesso de peso têm maior probabilidade de virem a ser adultos com excesso de peso
e de terem problemas crónicos de saúde associados com a obesidade na idade adulta.
A obesidade é um factor de risco significativo para uma gama de graves doenças
não transmissíveis
Doença cardiovascular
Diabetes mellitus
(tipo 2: não insulino-dependente)
Diversas formas de cancro
Problemas musculo-esqueléticos
Doenças da vesícula
Baixa auto-estima
Hipertensão e AVC
Níveis elevados de colesterolémia
Doenças gastrointestinais e hepáticas
Veias varicosas
Apneia do sono
Depressão e acidentes
Implicações para os enfermeiros:
Prevenção e promoção de um estilo de vida saudável
Os enfermeiros têm uma oportunidade ideal para incentivar actividades de promoção de saúde de
forma a reduzir os riscos de ter excesso de peso ou ser obeso. Para compreender melhor as circunstâncias que afectam os hábitos alimentares e os estilos de vida das populações, as estratégias de
promoção da saúde têm de considerar os múltiplos determinantes da saúde.
Para uma prevenção e tratamento eficazes, os enfermeiros e todos os profissionais de saúde devem
considerar a dinâmica psicossocial e cultural que afecta os comportamentos da saúde, bem como as comorbilidades associadas a ter excesso de peso ou ser obeso. A motivação do doente e a vontade de
mudar são essenciais para o tratamento da obesidade.
Os enfermeiros são encorajados a promover padrões saudáveis de estilo de vida familiar ao longo de
todo o ciclo de vida. Por exemplo, o encorajamento da amamentação, da actividade física, de refeições
regulares e o aconselhamento nutricional e de vigilância do peso são intervenções importantes que
ajudam a reduzir o risco de obesidade em todas as etapas do desenvolvimento humano.
Criação de políticas de saúde pública pelos enfermeiros
É importante uma abordagem robusta de saúde pública por parte dos enfermeiros para prevenir a
obesidade aos níveis local, nacional e internacional. O estabelecimento de alianças com uma vasta
gama de sectores ajuda a fortalecer as acções comunitárias que servem para promover estilos de vida
mais saudáveis.
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Por exemplo, o planeamento das cidades, dos sistemas de transporte, as iniciativas no local de trabalho
e as instalações públicas recreativas deveriam promover a actividade física. A formação de parcerias
com outros grupos de profissionais de saúde, meios de comunicação social, escolas, organizações
governamentais e não governamentais é uma abordagem efectiva para a prevenção da obesidade.
Os enfermeiros devem ajudar o público a compreender que a obesidade é acima de tudo uma doença
socio-ambiental. Os enfermeiros podem criar uma consciencialização pública das múltiplas e mutáveis
determinantes de saúde que afectam o facto de uma pessoa ficar com excesso de peso ou se tornar obesa.
Podem identificar, oferecer e fazer o encaminhamento para os programas e políticas de pre-venção da
obesidade, bem como desempenhar um papel na monitorização e avaliação de programas e políticas.
Para mais informações, contacte:
Pat Hughes: [email protected]
Secretariat of 1st International Conference and World Forum on Technology Transfer of Obesity and Nutrition, Cairo, Egypt
25-28 June 2002.
2
Statistics Related to Overweight and Obesity, http://www.niddk.nih.gov/health/nutrit/pubs/statobes.htm#what
3
La Velle, Marquisa (social anthropologist, University of Rhode Island). The Independent, Monday February 18 2002. Steve
Connor ed.
4
World Heart Federation (2001). Obesity threatens the heart. News Release, August.
5
World Health Organization (1998). Malnutrition Worldwide, http://www.mikeschoice.com/reports/malnutrition_worldwide.htm.
6
World Health Organization (2002). Nutrition Controlling the Global Obesity Epidemic, Author, Geneva,
http://www.who.int/nut/obshtm.
7
Harris Poll, Harris Interactive Inc., March 5th 2002.
8
Kam-Sang, Woo & Sung, Rita (2001). The Chinese University of Hong Kong. Leads in combating obesity and early atherosclerosis, http://www.cuhk.edu.hk/ipro/010315e.htm.
9
Food and Agriculture Organization of the United Nations (2002). The developing world’s new burden: Obesity,
http://www.fao.org/Focus/E/obesity/obes2.htm.
10
Ibid.
11
Ibid.
12
Supra, note 6.
13
Obesity: Worldwide Epidemic? (2002), http://www.echoedvoices.org/Feb2002/Obesity.html.
14
Pakistan Medical Research Council (1998). Islamabad, Network Publication Service.
15
Supra, note 5.
16
Supra, note 4.
17
Supra, note 7.
18 United States Surgeon General Report, December 2001
19 Supra, note 7.
1
Edição Portuguesa
Tradução do original inglês
"ICN on Obesity"
Ordem dos Enfermeiros (Hermínia Castro)
Revisão
Maria Isabel Soares / Lisete Fradique
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