Cupins - et@llcorp 2001

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Cupins
Os cupins são insetos de tamanho médio que vivem em grupos sociais e
apresentam um sistema de castas altamente desenvolvidos. Numa colônia, ocorrem
tanto indivíduos alados como ápteros e alguns indivíduos podem ser braquípteros. As
asas quando presentes, são em número de quatro, membranosas, com venação algo
reduzida, mas freqüentemente com numerosas rugas semelhantes a nervuras. Nas
espécies brasileiras, as asas anteriores e posteriores têm tamanho e forma iguais (daí o
nome da ordem) e, em repouso, são mantidas horizontalmente sobre o corpo e
ultrapassam a ponta do abdome (Fig. 1). As peças bucais são do tipo mastigador e a
metamorfose é simples.
Os cupins são, algumas vezes, chamados de formigas-brancas, mas diferem das formigas em
muitos pontos. Os cupins têm corpo muito mole e usualmente de cor clara e as formigas, corpo duro e, a
maioria das vezes, cores escuras; as asas anteriores e posteriores dos cupins têm tamanho e nervação
semelhantes, mas nas formigas as posteriores são menores que as anteriores. O abdome dos cupins liga-se
largamente ao tórax, ao passo que o das formigas apresenta constrição basal, ligando-se ao tórax por
delgado pecíolo. As antenas dos cupins são moniliformes ou filiformes e as das formigas são geniculadas.
O sistema de castas é algo diferente nos dois tipos de insetos; os operários e soldados dos cupins
compreendem indivíduos dos dois sexos e todas as ninfas trabalham como operárias; nas formigas, os
indivíduos dessas castas são unicamente fêmeas.
As castas dos cupins
Os indivíduos reprodutores (reis e rainhas) são os mais desenvolvidos sexualmente. Têm asas
completamente desenvolvidas, olhos compostos e, em geral, pigmentação escura. Os machos são muitas
vezes pequenos e as rainhas, em algumas espécies, podem atingir tamanho considerável (8 cm ou mais de
comprimento em algumas espécies tropicais); as rainhas de algumas espécies vivem diversos anos, pondo
milhares de ovos. Reis e rainhas são geralmente produzidos em grande número em determinadas estações;
deixam a colônia numa enxameagem, acasalam-se e cada par estabelece uma nova colônia. A
enxameagem ocorre em diferentes épocas do ano em diferentes espécies e, às vezes, numa mesma
espécie. Os reprodutores abandonam as asas ao se parearem; as asas rompem-se ao longo de uma linha de
fratura perto da base, deixando apenas um coto (escama) preso ao tórax.
Os reprodutores suplementares têm asas curtas e são menos pigmentados que os reprodutores;
têm geralmente olhos menores. Realizam ocasionalmente larga reprodução e podem suplementar a rainha
na formação da colônia. Em algumas espécies, pode haver um segundo grupo de reprodutores
suplementares, algumas vezes chamados de adultos de terceira forma; têm aspecto semelhante ao dos
operários mas são capazes de reprodução.
A casta operária compreende ninfas e adultos estéreis; têm cor pálida, são ápteros e geralmente
não têm olhos compostos; as mandíbulas são relativamente pequenas. Estes indivíduos fazem a maior
parte do trabalho da colônia; buscam o alimento e alimentam as rainhas, os soldados e os jovens recémeclodidos; constroem e cuidam dos jardins de fungos e constroem os ninhos, túneis e galerias.
A casta dos soldados consiste em adultos estéreis de cabeça e mandíbulas ampliadas. As
mandíbulas podem ser, em alguns casos, tão grandes que o inseto não consegue alimentar-se sozinho,
devendo sê-lo pelos operários. Os soldados são usualmente um pouco maiores que os operários; podem
ter olhos compostos ou não. Quando a colônia é perturbada, os soldados atacam os intrusos; fazendo-se
um pequeno orifício na parede de uma galeria, eles tentam fechá-lo com suas cabeças; se o intruso for um
inseto, agarrá-lo-ão com as mandíbulas. Os cupins do gênero Anoplotérmes não têm a casta de soldados.
Em algumas espécies, há uma outra casta, a dos nasutos (Fig. 2). Nestes, a cabeça se prolonga
anteriormente numa tromba fina através da qual uma secreção viscosa é eliminada ou mesmo espirrada
contra um intruso. Os nasutos funcionam como a casta dos soldados, servindo para a defesa da colônia.
Têm, em geral, palpos bem desenvolvidos, mas as mandíbulas são reduzidas.
Em algumas das espécies primitivas de cupins, apenas se desenvolvem duas castas, a dos
reprodutores e a dos soldados; o trabalho das colônia é feito pelos indivíduos imaturos das duas castas.
Hábitos dos cupins
Os cupins em geral limpa-se mutuamente com as peças bucais, provavelmente como atração de
secreções geralmente disponíveis sobre o corpo. O alimento dos cupins consiste nas exúvias e fezes de
outros indivíduos, de indivíduos mortos e de substâncias vegetais como a madeira e derivados.
Alguns cupins vivem subterrâneamente em condições úmidas e outros, em condições secas
acima do solo. As formas subterrâneas vivem normalmente em madeira enterrada no solo ou em contato
com ele; podem invadir madeira distante do solo, mas precisam manter uma passagem ou galeria de
ligação com o solo, onde obtêm a umidade. Os ninhos podem ser inteiramente subterrâneos ou podem
sobressair da superfície; os ninhos de algumas espécies tropicais podem atingir 9 m de altura. Os cupins
de madeira seca, que vivem acima do chão, habitam postes, tocos, árvores e construções de madeira.
A celulose do alimento dos cupins é digerida por miriades de protozoos flagelados que vivem no
tubo digestivo. Um cupim, do qual estes protozoos tiverem sido retirados, continuará a se alimentar, mas
eventualmente morrerá de fome porque o alimento não é digerido. Esta associação é um excelente
exemplo de simbiose ou mutualismo. Alguns cupins abrigam bactérias e não protozoos. Muitos animais
que comem madeira ou plantas abrigam no trato digestivo microorganismos que auxiliam na digestão;
mesmo no homem, boa parte da digestão é efetuada por bactérias.
Importância econômica das Térmites
Do ponto de vista econômico, as térmitas desempenham dois papéis. Podem ser muito daninhos,
pois se alimentam de muitas estruturas ou materiais utilizados pelo homem (partes de madeira das
construções, móveis, livros, poste telefônicos, moirões de cerca, diversos tecidos, etc.), freqüentemente
destruindo-os. Por outro lado são úteis em contribuir na transformação de árvores mortas e de outros
produtos vegetais em substâncias que podem ser utilizadas pelas plantas.
Diversas espécies de Rhinotermítidae atacam madeira enterrada, árvores caídas e toras;
necessitam manter contato com o solo para obter umidade. Não são capazes de iniciar uma nova colônia
no madeiramento de uma casa; precisam primeiro estabelecer um ninho no chão. Uma vez isto feito,
podem invadir uma construção através de madeira em contato direto com o solo, por fendas ou aberturas
nos alicerces de concreto ou pedras, ou por meio de galerias-túneis construídas sobre os alicerces ou em
fendas destes.
O ataque de cupins subterrâneos a uma construção pode ser percebido pelo enxameamento de
formas aladas na construção ou junto dela, pelo aparecimento de barro entre as tábuas ou vigas ou nas
juntas com os alicerces, pelas galerias cobertas de terra que vão do chão à madeira e pelo som cavo da
madeira que os insetos vão escavando. A lâmina de uma faca pode facilmente ser introduzida na madeira
carcomida pelos cupins e tal madeira quebra-se com facilidade.
O controle dos cupins subterrâneos em edifícios se faz de dois modos: pela construção
apropriada do edifício, tornando-o à prova de cupins, ou pelo uso de substâncias químicas para destruir os
ninhos subterrâneos. O primeiro significa, na construção, não deixar madeira em contato com o solo e não
permitir que as térmitas possam atingir a madeira por degraus ou beiradas externas, ou através dos
alicerces. O segundo envolve o uso de substâncias químicas como arsenito de sódio, hexacloreto de
benzeno, pentaclorofenol, clordane, lindane ou triclorobenzeno. Postes telegráficos e moirões, que têm
que ficar em contato com o solo, podem ser tratados quimiciamente para torná-los à prova de térmites.
Os cupins que atacam a madeira seca podem ser controlados perfurando-se pequenos orifícios na
madeira atacada e forçando-se então os orifícios. Os cupins limpam-se uns aos outros constantemente e,
se alguns indivíduos forem atingidos pelo pó, os outros indivíduos eventualmente obtê-lo-ão e morrerão.
Coleta e conservação de Isoptera
As térmitas podem ser encontradas virando-se troncos caídos ou escavando tocos mortos;
podem ser capturados com uma pinça ou um pincel molhado, ou podem ser recolhidos sobre uma folha de
papel sacudindo-se a madeira infestada. As térmitas devem ser conservadas em álcool 70 ou 80; a maioria
dos indivíduos tem corpo muito mole e encarquilham e se deformam se alfinetados ou montados em
triângulos. Freqüentemente é necessário montá-los em lâminas de microscopia para um estudo minucioso.
Insetos Xilófagos
A madeira é composta, fundamentalmente, de lignina e celulose, substâncias formadas por
cadeias de açúcares que dão à madeira sua dureza e criam problemas para os animais que dela queiram se
alimentar. Certos animais, porém, conseguiram resolver este problema, e vivem unicamente alimentandose de madeira. A maioria deles é composta de insetos, tendo como exceção um molusco da espécie
Teredo navalis, conhecido como verme-dos-barcos. O Teredo vale-se de sua concha para cavar um túnel
na madeira, sendo este depois revestido com secreções calcárias que impedem sua obstrução. Foi
verdadeira praga para os barcos construídos com madeira, e atualmente ainda o é para os postes dos cais e
instalações semelhantes.
Agindo de diversas maneiras, os insetos solucionaram o problema da digestão da madeira,
embora nenhum deles pareça capaz de digerir a lignina. Só alguns podem utilizar a celulose. Alguns
segregam uma enzima que a hidrolisa, enquanto outros têm em seu aparelho digestivo bactérias ou
protozoários que trabalham a seus favor. A maioria dos insetos fitófagos não pode utilizar a celulose, e
alimentam-se unicamente dos conteúdos celulares e dos polissacarídeos da molécula pequena. Um grande
número de Coleópteros que aparentemente se alimentam de madeira (xilófagos), não o faz na realidade
diretamente, e sim nutrindo-se de vários fungos que antes invadiram o tronco. Os coleópteros da ambrósia
(Ipidos) levam consigo os fungos para “plantá-los” na madeira nova. O valor nutritivo da madeira não é
muito alto e, comumente as lagartas da mariposa da madeira passam quatro anos dentro do tronco antes
de atingirem o desenvolvimento máximo. Também as vespas da madeira têm vida larvar muito longa,
durante a qual furam as árvores. Mas a maioria dos insetos perfuradores da madeira pertence a uma destas
duas ordens: dos isópteros (cupins) e dos coleópteros (besouros).
Os cupins freqüentemente recebem erradamente o nome de formigas brancas; constituem
importante praga da madeira, e sua existência não se limita apenas a países tropicais. Estes insetos são
sociais no verdadeiro sentido da palavra e vivem em grandes colônias de milhares de indivíduos.
Algumas espécies atacam árvores vivas, e são sério perigo para as zonas florestais. Outras são pragas
agrícolas. Nas regiões onde existem cupins, todas as construções de madeira costumam ser protegidas
especialmente por meios químicos ou mecânicos, porque do contrário terão vida breve.
Estes insetos podem destruir completamente construções que não estejam protegidas, pois os
milhares de indivíduos que roem a estrutura acabam por enfraquecê-la e não demoram a consumi-la
totalmente. A digestão da madeira fica a cargo de grande número de protozoários e bactérias que vivem
no tubo digestivo dos cupins. Tanto estes como os protozoários beneficiam-se desta associação. São
conhecidas milhares de espécies de coleópteros que se alimenta tanto da madeira viva como da madeira
morta. Mas apenas um pequeno número deles pode ser considerado praga, já que os besouros, por
exemplo, que decompõem a madeira morta dos bosques, desempenham papel vital na devolução da
matéria orgânica ao solo. Certo número de coleópteros passa o estado larvar nos troncos e, às vezes, o
prejuízo que causam justifica medidas de extermínio. Mas, do ponto de vista econômico, as mais
importantes pragas são aquelas que atacam a madeira dos móveis e das estruturas dos edifícios. Na
Europa, há mais de uma dúzia de espécies destes insetos, dos quais o mais abundante é o caruncho
comum dos móveis. Calcula-se que perto de 90% dos prejuízos causados à madeira são devidos a ele.
Apesar do nome de “caruncho dos móveis”, este inseto não se limita apenas a atacar estes
objetos, mas também causa danos em tacos, vigas, rodapés, etc. Na Nova Zelândia, por exemplo, é
conhecido com o nome de verme-da-madeira (wood-worm), nome que, embora impróprio, diz bem de seu
regime alimentar. Cientificamente, é chamado Anobium punctatum, referindo-se o segundo termo às
séries de pequenos pontos salientes que possui nos élitros. Provavelmente, é originário da Eurásia, mas se
distribuiu — principalmente pela ação do homem — por todo o mundo, exceto na zona tropical.
O Anobium vive freqüentemente ao ar livre, tanto no estado adulto como larvar. A larva pode ser
encontrada nos galhos mortos, tocos de árvores, cercas, etc. O Besouro ataca a madeira dura como a
mole, porém é necessário que ambas tenham “amadurecido” antes até determinado ponto. Provavelmente,
ocorre uma série de reações químicas na madeira que a torna aceitável para o inseto. O tempo requerido
varia de acordo com o tipo da madeira. O carvalho não parece suscetível de ataque até os cinquüenta anos
de idade; a madeira mole (das coníferas) é atacada no final de mais ou menos quinze anos, embora haja
provas recentes de que este prazo possa ser menor, e a madeira da bétula é atacada com a idade de cinco
anos. O enorme aumento dos prejuízos pelo caruncho nos últimos trinta anos é atribuído ao uso em
grande escala da madeira mole na construção, a partir da Primeira Guerra Mundial. Freqüentemente casas
antigas que têm estruturas de madeira dura só são atacadas depois de passados muitos anos. Por isso, o
caruncho foi considerado como uma prova de antiguidade dos móveis e casas. Há madeiras como a teca
(Tectona grandis) e o mogno, que nunca são atacadas.
Como a maioria dos coleópteros, o caruncho adulto tem asas e voa muito bem. Não há dúvida de
que esta faculdade, contribui para sua difusão pelo mundo. O adulto costuma ter aproximadamente 3 mm
de comprimento. Depois da cópula, as fêmeas põem até 60 ovos, em pequenos grupos. Geralmente são
deixados em fendas ou rachaduras de móveis, motivo pelo qual as partes completamente lisas e inteiras
ficam relativamente a salvo. Mas as superfícies não polidas (como as bases dos pés das cadeiras) estão
expostas ao ataque. As bordas superiores e inferiores das portas, as partes internas dos armários e as vigas
dos telhados, devida à pouca atenção que lhes prestam durante a limpeza, costumam proporcionar ao
caruncho locais ideais para a postura. As larvas eclodem em poucas semanas e começam a perfurar a
madeira. Passam uns três anos cavando túneis e, se são numerosas, podem enfraquecê-la seriamente.
A larva é de cor esbranquiçada, exceto a cabeça, que é marrom. Possui seis pequenas patas e
numerosas cerdas. As mandíbulas são muito fortes, e com elas mastiga a madeira, desta forma abrindo os
túneis. Tanto as enzimas digestivas como os microrganismos intervêm na digestão deste material
alimentar. A duração exata da vida larvar depende do tipo de madeira, da umidade e da temperatura. Em
média, no final de três anos a larva abre caminho até a superfície da madeira, fabricando uma câmara
imediata a esta. Ali passa o período de muda, quando aparece a ninfa ou pupa. Esta continua a ser de cor
branca, mas já mostra forma de besouro adulto. O estado de ninfa dura apenas três semanas, no final das
quais o adulto aflora, depois de romper a pele. Quando sua cutícula endurece (ficando de cor pardoavermelhada), abre caminho com as mandíbulas através da madeira fazendo nela um orifício de saída. A
presença destes buracos não é indício seguro de que a madeira esteja infestada, pois podem ter sido feitos
por besouros que saíram para o exterior já há vários anos. Por outro lado, madeiras que exteriormente
parecem sãs, podem estar cheias de túneis do interior (e, portanto, enfraquecidas), apesar de não
apresentarem buracos de saída, porque os adultos ainda não a abandonaram. O interior dos orifícios
recentes de saída tem cor de madeira limpa e, quando neles há larvas podem ser vistos montículos de pó
(madeira não digerida) que as mesmas expulsaram para o exterior. Este é um sintoma certo de infestação,
exigindo providências para exterminar o inseto.
O método normal é o uso de inseticidas especiais descobertos depois de ter sido bem estudada a
vida destes insetos e a natureza da madeira. Como é impossível pulverizar diretamente as larvas, é
necessário que o inseticida penetre na madeira e as mate. A maioria dos produtos empregados tem, além
disso, ação fumigante, e ao atravessar o túnel em forma de vapor também mata as larvas. Injetar em
alguns orifícios de saída é uma boa prática, mas é preciso levar em conta que estes buracos já indicam a
saída do adulto. Mas seria um erro tratar apenas estes locais. Para se obter bons resultados deve-se tratar
toda a superfície da madeira. Embora qualquer pessoa possa aplicar inseticidas em sua casa, quando a
infestação é grave e danifica as estruturas do edifício, o tratamento deve ser feito por pessoas
especializadas.
Bibliografia
* Barnes, R. D. 1984 - Zoologia dos Invertebrados – Ed. Roca – São Paulo
* Donald S. Bonor & Dwight M. Delong 1964 – Estudos dos Insetos – Ed. Edgard
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