257 A CIRCULAÇÃO SECUNDÁRIA E A PLUVIOSIDADE NO MATO GROSSO DO SUL ProfDr. João Afonso Zavatini - UNESP- IGCE - Rio Claro(SP) ABSTRACT There are few climatologic studies about Mato Grosso do Sul State, the meridional part of the MiddJe-West Region of Brazil. In this state the main atmospheric systems of South America act and there are contrasting pluviometric regimens (dry versus wet areas). So, we chose three different years - rainy, habitual and droughty - respectively 1983, 1984 and 1985, to study the atmospheric circulation of these years over ten observation points, located in Mato Grosso do Sul State and adjacency. Through creation of"rhythmic analysis" graphics (MONTEIRO, 1971) by computer and daily analysis ofsynoptic charts (00; 06; 12; 18 GMT), was found the pluviometric genesis of the chosen years. Too, was understood the different polar fronts and streams (MONTEIRO, 1%9; TARIFA, 1975) that arrive to the Mato Grosso do Sul State. 1. Introducão Os estudos climáticos revelam, ainda hoje, enormes lacunas quanto ao papel exercido pela dinâmica atmosférica na gênese das chuvas mo Centro-Oeste do Brasil. Nem mesmo a porção meridional dessa grande região, o Estado do Mato Grosso do Sul, escapa a tal observação.Considerando que esse Estado, a exemplo do que ocorre com o território paulista, situa-se na confluência dos principais sistemas atmosféricos da América do Sul, e possui distintos tipos de regime pluviométrico (áreas com estiagem que chega a durar seis meses opondo-se a outras onde os períodos de seca são curtos ou nem são notados), realizou-se um estudo do ritmo de sucessão dos tipos de tempo e das chuvas a eles associadas, ao longo de três "anos-padrão" (chuvoso, habitual e seco, respectivamente 1983, 1984 e 1985). 2. Metodologia Para tanto adotou-se a concepção climática de SORRE,1951 ("a série dos estados atmosféricos acima de um lugar em sua sucessão habitual"), combinada com a "Análise Rítmica" (MONTEIRO, 1971), onde a representação das variações diárias dos elementos climáticos vem associada a circulação atmosférica regional, possibilitando a explicação das mesmas.Através da análise diária de cartas sinóticas meteorológicas de superfície (00; 06; 12 e 18 GMT) dos referidos "anos-padrão", foram identificados os sistemas atmosféricos atuantes sobre a área de estudo e arredores, a partir dos seguintes pontos de observação: Coxim, Corumbá, Campo Grande, Ponta-Porã, Paranaíba e Três Lagoas, localidades sul-matogrossenses; Cuiabá e Poxoréu, em terras do Mato Grosso; Guaíra (PR) e Presidente Prudente (SP).Esses sistemas atmosféricos, lançados no rodapé dos gráficos de "Análise Rítmica" de cada uma das dez localidades mencionadas, possibilitaram a obtenção dos índices - mensais, sazonais e anuais - da participação geral dos mesmos, bem como dos índices relativos as chuvas por eles geradas. Foi também graças a análise da circulação atmosférica que se pode compreender os diferentes "fluxos de invasão polar" (MONTEIRO, 1969; TARIFA, 1975) que alcançam o Mato Grosso do Sul, bem como verificar o número de passagens da Frente Polar Atlântica (eixo principal), ou quantas vezes seu eixo reflexo se definiu sobre a referida área. Tanto os gráficos de "Análise Rítmica" quanto as tabelas contendo os índice~; de atuação geral dos sistemas atmosféricos, foram construídos via computador, em função de "software" especialmente elaborado para esse estudo (ZAVATINI & FLORES, 1988; 1990). 258 3. Resultados Para cada uma das dez localidades mencionadas foram construídos gráficos diários de "Análise Rítmica", dos três "anos-padrão" escolhidos (1983, 1984 e 1985), num total de 360 gráficos mensais, a partir dos quais puderam ser elaboradas 60 tabelas anuais, sendo 30 referentes à atuação geral dos sistemas atmosféricos e as demais relacionadas à gênese pluvial. Em função do número restrito de páginas reservado aos trabalhos deste congresso, somente dois exemplos serão apresentados, após a bibliografia citada: um gráfico de "análise rítmica" e respectiva legenda e um mapa-síntese da frequência das principais massas de ar (PA = Polar Atlântica; PV = Polar Velha; PVC = Polar Velha Continentalizada; TA = Tropical Atlântica; TAC = Tropical Atlântica Continentalizada; TC = Tropical Continental e EC = Equatorial Continental), que atuaram sobre o Mato Grosso do Sul e adjacências, ao longo dos três "anos-padrão" estudados do ponto de vista rítmico. Com o objetivo de fornecer uma idéia aproximada dos resultados alcançados foi feita a seguinte síntese: - em 1983 (ano de alta pluviosidade) a forte atividade do ar polar possibilitou a ocorrência de intensos choques frontais na altura do Trópico e até além dele, que foram os maiores responsáveis pelos elevados índices pluviométricos registrados por todo o Mato Grosso do Sul. Cerca de 80% (em média) das chuvas desse ano foi gerado por sistemas frontais, mais atuantes no sul e no leste que na porção setentrional e ocidental do Estado. Por outro lado as condições do tempo sobre metade do território sul-matogrossense, mais precisamente entre os 20°1/2 e 24° latitude sul, foram controladas por correntes do sul; - em 1984 (ano de pluviosidade média) diferentes correntes atmosféricas disputaram o controle das condições do tempo sobre o Mato Grosso do Sul. Na porção meridional (22° a 24° latitude sul) predominaram as correntes do sul. Na porção oriental houve quase um equilíbrio de forças entre as correntes do sul e as do leste. A região central, apesar do sensível controle da circulação por parte das correntes do sul, revelou grandes afinidades com as porções norte e central do Pantanal, áreas onde as correntes do oeste e do norte atuaram de forma expressiva. A gênese das chuvas nesse ano foi predominantemente frontal (índices em torno de 80% ou mais), exceção feita à porção norte do Estado, onde observou-se que 30% delas originaram-se de sistemas intertropicais, principalmente das Linhas de Instabilidade e das Massas Continentais Tropical e Equatorial; - em 1985 (ano de pluviosidade reduzida) as correntes do sul detiveram o controle da circulação atmosférica somente sobre as porções meridional e central do Estado, com destaque para a participação do ar polar modificado (Massa Polar Velha / Polar Velha Continentalizada), cujos índices foram bem superiores aos do ar polar "fácies" principal (Massa Polar Atlântica). Enquanto sobre o Alto Curso do Rio Paraná as correntes do sul nunca atingiram índices inferiores a 50%, o mesmo não ocorreu na Planície do Pantanal, onde registraram-se expressivos 36% relativos a ação das correntes do oeste e do norte (Massas Continentais Tropical e Equatorial).Essas correntes do interior do continente também atuaram intensamente sobre o resto do Estado, alcançando o oeste paulista e o noroeste do Paraná com valores em torno dos 15%, os mais elevados dentre o três "anos-padrão" analisados. Paralelamente, notou-se uma diminuição da ação das correntes do leste sobre o Mato Grosso do Sul. A reduzida pluviosidade desse ano teve gênese predominantemente frontal, com índices sempre superiores a 80%. No setor meridional do Estado e no centro do Pantanal destacou-se a ação pluvial do eixo principal das Frentes Polares Atlânticas, enquanto no restante do território, as FPA Estacionárias e com setor quente de retorno, além do eixo reflexo, dividiram com aquele a responsabilidade da geração das fracas chuvas. 4. Bibliografia citada MONTEIRO, c.A. de F. A Frente Polar Atlântica e as Chuvas de Inverno na Fachada Sul-Oriental do Brasil (Contribuição metodológica à análise rítmica dos tipos de tempo no Brasil). USP/lG, São Paulo, 1969. _ _ _ _ _ _ _ _ _ Análise Rítmica em Climatologia.USP/lG, São Paulo, 1971. 259 SORRE, M. Les FODdemeDts Biologiques - Essai d'uDe écologie de I'homme. In: Les Fondements de la Géographie Humaine. Tomo I. Armimd Colin, Paris, 1951. TARIFA, J.R. Fluxos Polares e as Chuvas de Primavera-Verão no Estado de São Paulo. USPIIG, São Paulo, 1975. ZAVATINI, J.A. & FLORES, E.F. Construção do Gráfico de Análise Rítmica Via Computador. In: III Simpósio de Quantificação em Geociências. UNESP, Rio Claro, 1988. Gráfico de Análise Rítmica - Aplicações e Adaptações. In: IV Simpósio de Quantificação em Geociências. UNESP, Rio Claro, 1990. CAMPO GRANDE (MS) OUTUBRO - 1983 .f I LECIJmA - CRAflCO DE AHALISE RI1MICA Sist~"as AtMOsr~ricos • ~ I\ U ~ ~ i ~ •• 11 Polar AtlilJln-C41 (FPA) Polar Reflfxa (FPR) ~A fM Dissipacao A Oclusa ~J'CU5sao de m EstacionaJ'ia rPA fetor ~~~ntf Rft. Conto ~n f Quente 5sa Tropical Atlantica (MTA) KJA Continentalizada lM!At> M. Tropical Contin,ntal (M!C) ".r~op. cl Linhas Insta),. (IT) Massa Polar Atlantica <MPA) Massa PolAr IJelha <KPV) KPV Continentalizada (MPVC) ".[quatorial Continental (MIC) CC) mnt1!' r~nte Ht>),ulosidade (deciMOS) TeM~l"atuJ'a MaxíMa O MiniMa I• l5 hO.N5 15 horas 11 I . 9 horas I"L I I~ ~ 1 2 3 I -- 123 MM. ~ () ~ r. X IJ C - 2 - 4 ~ -- 6 "8 8 ., 9 - 19 dir. vento falha viU'i au,I calMiJ'ia II I I I 1\ 1\ 260 I _ MAPA - SINTESE DA FREQUENCIA ESPACIAL DAS PRINCIPAIS MASSAS DE AR ATUANTES NO MATO GROSSO DO SUL NO TRIÊNIO 1983/85. -:. . :. . =..__-- .. _--::::::;=-=;====~ ==;:=====;:::===~-- .r- .1 CUIABÁ • •POXORÉU 20 "I. "",_. ZAVATlNI - 1990 L.::=::::================'==~::..===:_~ 52I LEGENDA: PROJE.CÃO ___ PV/PYC TA/TAC TC EC (SeALA Of: tURCAT.D.ll li 1.1100.0oo . ._ .