Vale a pena informar o cérebro

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“Vale a pena informar o cérebro”
Entre todas as incertezas que ainda reinam sobre o
desenvolvimento do cérebro, e a própria definição de inteligência,
Alexandre Castro Caldas assegura que já existem algumas
certezas: que para além do factor genético, o cérebro se
desenvolve de acordo com o meio ambiente em que o indivíduo se
insere e sem dúvida de acordo com a aprendizagem. Entrevista –
Margarida Lencastre publicada na revista Xis de 1 de Abril de 2006
É possível estabelecer como se desenvolve a inteligência?
A própria definição de inteligência é difícil. Mas já sabemos hoje que
os ambientes ricos em experiências e aprendizagem fazem
desenvolver mais o cérebro.
Não há dúvida que as pessoas que possuem mais escolaridade e
educação conseguem atingir níveis mais elevados de performance.
Os meus estudos ao nível cerebral com analfabetos demonstram
que os indivíduos com um nível maior de escolaridade conseguem
sempre resolver melhor os problemas com que se deparam. No
analfabeto existem zonas do cérebro que se desenvolveram menos
que outras. A escolaridade faz desenvolver o cérebro. É um facto
garantido que a aprendizagem de skills – competências – obriga o
cérebro a adaptar-se para as resolver, leva o meio neuronal a criar
mais sinapses e a desenvolver mais capacidades. Assim,
concluímos com facilidade que vale a pena informar o cérebro.
(…)
Voltando à tal definição de inteligência, é possível “ensaiar”
uma?
É ser capaz de resolver um problema com “pouco cérebro”. Quanto
menos cérebro se utiliza para resolver um problema, mais
inteligência temos, mais desenvolvido está o nosso cérebro. É uma
questão de economia. Se formos capazes de resolver grandes
problemas com pouco cérebro vamos sendo capazes de resolver
vários grandes problemas ao mesmo tempo. E não gastamos muita
energia. Pode ser esta questão operacional. É um conceito teórico,
mas podemos medir a actividade metabólica do cérebro. (…) Isso já
está estudado – com que áreas do cérebro as pessoas resolvem os
problemas. Quando o problema é novo exige muito cérebro – à
medida que vamos ficando familiarizados com a questão vamos
utilizando cada vez menos cérebro para a resolver. Isto porque o
cérebro não possui reservas energéticas, portanto tem de ser muito
económico.
Assim,(…), quanto mais treino, quanto mais aprendizagem
efectua, mais automatizado e mais capacitado ser torna?
Sim, cada vez se estabelecem mais circuitos e estes são cada vez
mais rápidos.
Quanto menor
aprendizagem…
a
aprendizagem
e
a
necessidade
de
Mais cérebro tem de utilizar para resolver cada problema.
Voltando à educação das crianças, as teorias de não exigência
de esforço por parte da criança na aprendizagem são refutadas
por esta descoberta…
Sem dúvida. É um erro crasso. Há anos fez-se um estudo sobre
quais a as áreas a estimular nas crianças dos três aos seis anos.
Houve quem tenha reagido contra, defendendo que as crianças não
têm de aprender nada com essa idade. Houve quem dissesse que
deveria ser mesmo antes. De facto, começa à nascença. Quanto
mais informação a criança recebe melhor.
Mas não se trata de “informação à pressão” (…), em que há
situações caricatas como mostrarem-lhes (crianças de colo)
quadros de grandes pintores enquanto almoçam ou exigir que
façam um sem número de exercícios antes de se deitarem.
De todo. Trata-se da informação adequada à sua idade. Aos sons,
cores formas na sua exposição gradual. Convém não sobreexpor a
criança, senão vou criar um monstro com uma expectativa
demasiado elevada para a realidade. Não queremos um superhomem, queremos pessoas adequadas ao mundo. Isso seria como
implantar um maior número de dedos nas mãos. Há que criar a
possibilidade de aprender com prazer. Em Portugal a aprendizagem
é um “happening”. Se a criança não aprende, não faz mal; passa à
mesma. Mas convém sublinhar que estas falhas são irreversíveis.
É assim, da opinião que deve existir um determinado nível de
exigência no ensino?
Acho indispensável haver exigência e existem capacidades e
práticas de ensino fundamentais. A memorização, por exemplo, é
uma delas. O treino da memória cria matrizes, como se fossem
moldes, que tornamos a utilizar em situações futuras. Aprender a
decorar os rios vai possibilitar-lhe decorar as artérias se for para
medicina. Que façam teatro, por exemplo, possibilita-lhes que sejam
capazes de manter um discurso coerente. Quem está a decorar um
discurso está a fixar a lógica de entrosamento de um discurso que
lhe será útil futuramente. Está a criar uma lógica de entrosamento
de ideias. Se eu não criar este sistema de suporte, depois vou ter
dificuldades futuras noutras apreensões.
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