AMeRICAS Medicina especializada E saúde VALOR EM SAÚDE Melhorar a experiência do paciente. Ampliar o acesso à saúde. Otimizar custos. Motivar equipes. Especialistas discutem os desafios e as alternativas para equilibrar os modelos atuais de assistência em saúde 10 CEO do Americas fala sobre os desafios do grupo O impacto da inteligência artificial na medicina 6 18 Cardiologia e mágica. Conheça o médico que concilia as duas atividades 22 nº 01 2017 Nononono 2 AMericas Nononono www.americasmed.com.br Diretoria Luiz de Luca CEO do Americas Serviços Médicos Vinicius Ferreira da Rocha COO do Americas Serviços Médicos Movimento e equilíbrio Dr. Charles Souleyman Al Odeh CMO do Americas Serviços Médicos Conselho Editorial Dr. Charles Souleyman Al Odeh Dr. Dario Fortes Ferreira Dr. Evandro Tinoco Mesquita Dr. Fernando Leal Dr. Fernando Meton Dr. Hyran Godinho Dr. Valter Furlan Marketing e Comunicação Rodrigo Ferreira da Rocha Diretor de Marketing e Comunicação UnitedHealth Group Brasil Mariana Vendemiatti Gerente de Marketing Americas Serviços Médicos Ranny Alonso Gerente de Comunicação Corporativa UnitedHealth Group Brasil Renato Duarte Portugal Controller de Conteúdo e Qualidade UnitedHealth Group Brasil A revista Americas é uma publicação trimestral do Americas Serviços Médicos, distribuída gratuitamente a todos os médicos que integram seu corpo clínico. As opiniões das fontes entrevistadas expressas no conteúdo da revista são pessoais e não refletem, necessariamente, a opinião da companhia. Tiragem: 18 mil exemplares Impressão: Gráfica Sag Foto de capa: Shutterstock www.rspress.com.br Jornalista Responsável Roberto Souza (Mtb 11.408) Editor-Chefe Fábio Berklian Editor Rodrigo Moraes Reportagem Daniella Pina, Julia Fabri, Madson de Moraes e Verônica Monteiro Revisão Paulo Furstenau Projeto Editorial Rodrigo Moraes Projeto Gráfico Leonardo Fial Diagramação Leonardo Fial, Luis Gustavo Martins e Rodrigo Coelho O escritor, consultor de desenvolvimento humano e organizacional e uma das grandes referências nacionais em educação corporativa, Eugenio Mussak, disse certa vez que “a busca do equilíbrio depende de aprendizado e experiência”. A frase é simples, direta, mas cheia de significados e simbolismos, assim como a ideia exposta na capa da primeira edição da revista Americas – Medicina Especializada e Saúde. Falamos sobre equilíbrio. Falamos sobre a busca que move a vida das pessoas, assim como move as empresas e seus respectivos segmentos de mercado. É assim na área de saúde. É assim no Americas Serviços Médicos. Vivemos um exercício perene de busca do equilíbrio, da sustentabilidade financeira e da qualidade no atendimento, no acesso e na atenção aos profissionais da Medicina. Tudo isso em prol do paciente. A reportagem principal desta edição (Em Alta) traz a opinião de especialistas de diferentes áreas sobre os diversos modelos atuais de assistência em saúde, entre eles o conceito do Quadruple Aim, e sobre o quanto o médico exerce papel fundamental nessa cadeia. A edição traz ainda uma reportagem (Inovação) sobre as revoluções – em curso e que ainda virão – causadas pela entrada definitiva da alta tecnologia na saúde, na qual profissionais de mercado falam sobre como a inteligência artificial vem transformando a rotina clínica de médicos e pacientes. Falamos também sobre os mitos e as verdades que envolvem a febre amarela (Saúde em Foco) e a curiosa história do Dr. Maurício Jordão, cardiologista de São Paulo (SP) que, nas horas vagas, troca o bisturi pela cartola e pelo baralho para se dedicar ao mundo da mágica - leia na editoria Sem Jaleco. Apresentamos ainda uma reportagem (Onde, Quando e Por quê?) sobre o Jalapão, no Tocantins. É possível também acompanhar algumas das principais notícias e novidades das unidades do grupo Americas Serviços Médicos. Por fim, tivemos a honra da participação do escritor Eugenio Mussak, já citado acima, com um artigo na seção Mentis et Corporis. Ele trouxe uma mensagem exclusiva sobre o momento atual vivido pelo Americas, que requer coragem, criatividade, imaginação e, claro, movimento para se manter em equilíbrio. Espero que aprecie a publicação e seja bem-vindo ao Americas Serviços Médicos! Boa leitura! Luiz de Luca CEO do Americas Serviços Médicos 4 Beleza na Medicina 5 Digital 6 ENTREVISTA Luiz de Luca, CEO do Americas Serviços Médicos 10 Em Alta Alternativas à insustentabilidade dos modelos atuais de assistência médica 16 Saúde em Foco Mitos e verdades sobre a crise da febre amarela no Brasil 18 Inovação Inteligência artificial e a revolução na medicina 22 Sem Jaleco Cardiologista de São Paulo tem a mágica como hobby 24 Mentis et Corporis Imagine…, por Eugenio Mussak 26 Onde, quando e por quê? Jalapão: um oásis no cerrado brasileiro 28 Por dentro do Americas 30 Grupo Americas 3 Shelley Halpain/UC San Diego Beleza na medicina Neurônio do hipocampo em cultura Os dendritos são verdes; as espinhas dendríticas, vermelhas; e o DNA no núcleo da célula é azul. A imagem foi destaque no blog Biomedical Beat (biobeat.nigms.nih.gov), no post Anesthesia and Brain Cells? A Temporary Disruption? 4 AMericas Digital INOVAÇÃO A reportagem Inteligência artificial e a revolução na Medicina, publicada na editoria Inovação, fala sobre algumas iniciativas (startups e apps) que podem influenciar o futuro da Medicina. Saiba mais sobre elas nos links abaixo. Veja também um vídeo sobre o IBM Watson, sistema de computação cognitiva que, segundo a empresa, já leu toda a literatura médica disponível no mundo: Nas Mídias Sociais Sem Jaleco O ‘médico mágico’ Maurício Jordão fez uma rápida demonstração informal de um de seus truques para a equipe de reportagem da revista Americas. Assista na versão digital da revista e tente não ficar impressionado! Já curtiu a página do Americas no Facebook? Acesse e fique por dentro das novidades do grupo. Também dedicado ao público leigo, o espaço oferece informações sobre saúde e qualidade de vida. Acesse www.facebook.com/ americasmed Dicas e sugestões IBM Watson goo.gl/ZL3bsu Se você gostou da revista Americas, envie-nos suas impressões, sugestões e dicas para revistaamericas@ Enlitic www.enlitic.com Bay Labs baylabs.io americasmed.com.br Arterys arterys.com Laura Networks www.lauranetworks.com Berg Health berghealth.com Boas-Vindas ao Americas O Americas Serviços Médicos lançou um hotsite que contém a missão e os valores da empresa, além de informações sobre os principais hospitais e centros especializados do grupo. O espaço também disponibiliza um formulário para solicitação de mais informações e envio de sugestões. Acesse: www.boasvindasamericas.com Nº 01 2017 5 CEO do Americas Serviços Médicos, Luiz de Luca quer instituir modelos inovadores, balizados pelas necessidades dos pacientes, dos médicos e das operadoras. No comando do grupo, ele fala também sobre o desejo (e as ações) para transformar o cenário da assistência médico-hospitalar no País 6 POR DANIELLA PINA Grupo em transformação ENTREVISTA AMericas ENTREVISTA Presente em cinco estados brasileiros e no Distrito Federal, o Americas Serviços Médicos é composto por instituições reconhecidas no mercado da assistência médico-hospitalar. Sua constituição como unidade de negócios do UnitedHealth Group Brasil, em agosto de 2016, teve como objetivo principal oferecer acesso a serviços especializados de alto nível e garantir excelência, segurança e solidez aos pacientes. Nesta entrevista, o CEO do Americas Serviços Médicos, Luiz de Luca, fala sobre esse processo, o qual ele define como uma “transformação”. Ele também reafirma o compromisso em oferecer a melhor assistência à saúde, com foco no alto desempenho e na inovação, buscando a melhor experiência para clientes e médicos. Quais são as principais propostas do Americas Serviços Médicos? ? ! A qualidade da assistência e a segurança dos pacientes são os maiores direcionadores do nosso trabalho. Apuramos nosso olhar para os detalhes, a fim de atingir uma maturidade diferenciada. Investimos na capacitação dos processos para constituir um nível de alinhamento e homogeneização em todas as unidades do grupo. Para isso, utilizamos indicadores de assistência que nos ajudam a olhar dentro das estruturas hospitalares e aprender com as melhores práticas. Outro ponto relevante é olhar as especialidades como posicionamento estratégico do grupo Americas. Atuaremos por meio de núcleos de especialidades para a integração da assistência. Qual é o papel da tecnologia nessa construção? Americas / Divulgação ? Nº 01 2017 ! Estamos totalmente focados na adoção de novas tecnologias e na capacitação dos profissionais de saúde em seu uso. No fim de junho, teremos a inauguração de uma unidade no Rio de Janeiro para treinamento de técnicas cirúrgicas de alta precisão. Trata-se de um projeto do UnitedHealth Group Brasil em parceria com uma das mais importantes instituições de ensino e pesquisa na área em todo o mundo, o Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica (IRCAD). Esse centro representa uma oportunidade para os médicos e torna efetivo nosso objetivo de melhoria do processo assisten- cial, com capacitação, desenvolvimento e disseminação de novas tecnologias. Além do centro de treinamento propriamente, como o IRCAD-Rio, estamos investindo em tecnologia na integração do suporte à assistência, como acontece no Americas Centro de Oncologia Integrado (COI), desde o diagnóstico até a alta do paciente oncológico. Essa ferramenta é desenvolvida pela Optum – empresa do UnitedHealth Group Brasil que oferece serviços de saúde integrados à tecnologia da informação. Quais desafios precisarão ser enfrentados? ? ! Os grandes desafios são fortalecer a visão de trabalhar os processos assistenciais, o posicionamento de mercado baseado em especialidades e o incremento sustentável da tecnologia em todas as unidades do grupo. Não conseguimos ver esses itens de maneira dissociada. Nosso compromisso é trazer uma medicina diferenciada, baseada no processo de especialização, oferecendo mais benefício, resolubilidade e integração da assistência. ? Com que indicadores o grupo pretende direcionar sua rota? Temos trabalhado duas linhas importantes: a primeira delas está relacionada à experiência do paciente. Nesse ponto, buscamos entender as necessidades de nossos clientes para melhorar sua experiência. O Net Promoter Score (NPS) tem sido um indicador e direcionador importante, pois traz a linha mestra da evolução do relacionamento com o paciente. A outra linha é o relacionamento com os médicos. Temos o Customer Relationship Management (CRM) específico para esses profissionais, que nos ajuda a melhorar o entendimento de suas necessidades. Queremos que os médicos façam parte do crescimento do Americas. ! 7 ENTREVISTA “ Como as operadoras entram na estratégia do Americas Serviços Médicos? ? ! Cada vez mais, queremos desenvolver projetos especiais com operadoras, quaisquer que sejam – de autogestão, seguradoras e medicina de grupo, entre outras –, para que possamos entender e responder às necessidades do mercado. Como Americas, podemos oferecer o modelo de uma rede assistencial que atenda a diversos produtos que se deseje desenvolver. O que a constituição do Americas representa para o dia a dia dos médicos que atuam nas unidades? ? ! Para os médicos, o que muda são as perspectivas de desenvolvimento, os recursos disponíveis e a oportunidade de troca com outros hospitais do grupo, em outros estados e até fora do País. Esse médico sai de uma unidade celular para ter uma unidade de sistema, e isso representa possibilidades muito maiores de referenciar e de ser referenciado. Abre-se um leque de oportunidades de desenvolvimento que era mais limitado, até então. Esse é o grande diferencial: uma visão ampliada. Eficiência Eficiência Para os médicos, o que muda são as perspectivas de desenvolvimento, os recursos disponíveis e a oportunidade de troca com outros hospitais do grupo, em outros estados e até fora do país ” ? Em um momento que o País passa por reformas importantes e se discute quais caminhos a saúde irá seguir, como o Americas pode inovar para aperfeiçoar o modelo de assistência vigente? ! O conceito do Americas Serviços Médicos inclui instituir modelos inovadores. Não estamos presos ao modelo pré-concebido do fee-for-service. Em vez de per- Transformação Transformação manecer em transações unitárias, nossos serviços compreendem um contexto assistencial integrado. A integração de várias especialidades e dos recursos de outras instituições é importante para o médico, pois não o torna refém de transações unitárias. Temos, portanto, acesso a recursos de que outros grupos não dispõem e podemos ter alto desempenho à medida que aprofundamos essa integração. ? O que inspira o Americas Serviços Médicos? Poder trazer a transformação e uma mudança real para o mercado de saúde. Como instituição, o Americas Serviços Médicos quer ser pioneiro nesse processo. Sabemos que ainda levará algum tempo, que aprenderemos com os erros, mas persistiremos. Transformar é a nossa grande inspiração. ! Como vê o futuro do grupo projetando essa visão para daqui cinco anos? ? ! O futuro está em construção. São blocos que estão sendo posicionados para que possamos chegar a um modelo de saúde mais eficiente. Estamos trabalhando com competência, desempenho, eficiência e transformação, e a imagem de futuro será a construção final desses blocos. Estamos construindo uma referência e fazendo algo que nunca foi feito para chegarmos a esse futuro. ? A revista Americas é focada no corpo clínico do grupo. Qual a importância de ter um canal como esse? Competência Competência 8 Desempenho Desempenho ! Queremos mostrar nossa realidade ao corpo clínico, bem como aos colaboradores, às operadoras e demais públicos. Esperamos fortalecer nossos canais de comunicação para que todos compreendam nosso posicionamento e nossas aspirações, para que possamos crescer juntos. Todos fazem parte dessa transformação. É preciso entender que ainda temos problemas, mas estamos trabalhando para transformá-los. Para isso, precisamos estar na mesma sintonia de crescimento e de desenvolvimento. AMericas Nº 01 2017 9 EM ALTA 10 AMericas EM ALTA Valor em saúde Especialistas discutem alternativas à insustentabilidade dos modelos atuais de assistência médica Shutterstock POR Daniella Pina e Madson de Moraes Nº 01 2017 Há um consenso de que o modelo atual de assistência médica no Brasil não é mais sustentável economicamente. Gestores de instituições de saúde estão se vendo agora diante do desafio de modernizar esse sistema em um cenário econômico pouco favorável. Para pesquisadores consultados pela revista Americas, o setor precisa aperfeiçoar a gestão dos serviços, coibir desperdícios, tornar os protocolos médicos bem mais eficientes, debater modelos de remuneração alternativos ao fee-for-service e priorizar a prevenção e promoção da saúde ao menor custo per capita – visando aprimorar a qualidade da assistência médica para a população. Estamos falando de um setor cujos gastos tendem a crescer por várias razões ao longo dos anos. A incorporação de novas tecnologias, terapias, medicamentos e exames, além do envelhecimento da população e da migração das pessoas com planos de saúde para a rede pública, leva o próprio sistema de saúde a buscar uma mudança em toda a cadeia de processos para evitar uma asfixia. O diretor científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), Lucas Zambon, avalia que, mais do que o próprio modelo assistencial em si, a falha está muito relacionada a como se faz a gestão. “O que acontece é que o gerenciamento dos custos é feito pelos gestores, deixando a pauta da sustentabilidade em segundo plano. Acabamos olhando só as cifras, o que entra e o que sai, e eventualmente fazendo uma gestão sem racionalizar o sistema como um todo. Você executa a assistência médica sem estar atrelado a metas e objetivos ou mesmo sem utilizar os recursos de forma racional. 11 EM ALTA Em longo prazo, isso é ruim para o paciente, para o profissional e para o sistema de saúde. Tem de haver uma mudança no sistema”, sustenta Zambon. Coibir desperdícios decorrentes dos pedidos de exames pode ser uma das chaves para reduzir esses custos. Um estudo produzido pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostrou que, em 2015, dos mais de R$ 22 bilhões gastos por operadoras de planos de saúde no País com contas hospitalares e exames, quase metade foi destinada a exames laboratoriais que não eram necessários. “O desperdício existe por utilização excessiva, equivocada ou até abaixo da desejável, sendo que, nesse caso, o que é feito acaba sendo desperdício. Conhecimento, incentivos adequados e evidências desenhadas sem conflitos de interesse seriam uma boa maneira de reduzir o que se perde. Por outro lado, qualidade de vida e saúde têm a ver, entre tantas coisas, com a adesão da população e demais determinantes sociais. Por isso, não há solução simples nem rápida”, ressalta Ana Maria Malik, professora titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Quadruple aim Falta para o sistema de saúde algo que Marcelo Pedroso, economista e coordenador do Núcleo de Estudos no Setor de Saúde da Faculdade de Economia da USP, chama de maturidade gerencial. “Quando um setor está num determinado grau de maturidade gerencial é porque um conjunto de circunstâncias o levou até lá. Há vários setores mais maduros em termos de gestão do que a saúde. O grande gargalo hoje é essa capacitação gerencial das organizações. A saúde tem várias ineficiências globais – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os desperdícios correspondam a algo entre 20% e 40% de todos os gastos com saúde – que acabam sendo incorporadas ao sistema. Se for para trazer mais eficiência ao processo, é preciso olhar o sistema de saúde do país como um todo, tanto o privado quanto o público, para fazer um redesenho”, garante. Uma abordagem para todas essas questões nos serviços de saúde que ganhou força nos últimos anos é o Triple Aim, modelo lançado em 2008 pelo Institute for Healthcare Improvement (Instituto para a Melhoria da Assistência à Saúde). O conceito envolve melhorar a saúde da Melhoria da saúde da população Melhoria da experiência do paciente Colaboradores satisfeitos 12 Custos de cuidados reduzidos população, aperfeiçoar a experiência do paciente em termos de cuidado, acesso e confiança e reduzir o custo. Em outras palavras: para garantir sustentabilidade ao sistema, a busca pela melhor saúde e cuidado para o cidadão passa pelo menor custo per capita. Mais recentemente, uma quarta vertente (Quadruple Aim) sugere a sustentabilidade do sistema, tornando também a experiência das equipes de saúde mais positiva dentro dele. “É importante que os colaboradores estejam satisfeitos e atuantes em seus ambientes de trabalho, com o respeito da organização, sentindo-se parte do processo de cuidado e gestão. Nosso maior desafio hoje é trazer os colaboradores para fazer parte desse processo, recebendo isso como uma preocupação da organização da qual eles fazem parte”, destaca o CEO do Americas Serviços Médicos, Luiz de Luca. AMericas EM ALTA Americas / Taba Benedicto O fee-for-service está com os dias contados? Lucas Zambon, diretor científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP) Nº 01 2017 Um relatório publicado em 2014 pela State Health Care Cost Containment Commission, comissão organizada pela Universidade da Virgínia, nos EUA, trouxe recomendações para a sustentabilidade do sistema de saúde norte-americano. Segundo o estudo, ao eliminar o fee-for-service, que fragmenta os custos, seria possível reduzir significativamente os gastos com a saúde. Será que esse modelo está com os dias contados? “Há pelo menos 30 anos, fala-se que sim, mas no Brasil o modelo continua e é defendido por muitos stakeholders do setor. Ele causa distorções? Sim, mas, na verdade, qualquer modelo pode ter essa característica porque nenhum ocorre num mercado perfeito”, afirma Ana Maria. Embora o fee-for-service acabe estimulando a realização de procedimentos, mudar para algum modelo alternativo de pagamento não é fácil, embora possível e desejado. “Há várias alternativas possíveis de remuneração – por exemplo, o pay for performance, os DRGs e o fee-for-value. Na verdade, nenhum é perfeito. Mesmo que fosse possível uma combinação entre os diferentes modelos, a definição sobre o quanto deveria ser pago estaria sujeita a questionamentos”, pondera Ana Maria. Para Tania Furtado, professora pós-doutora em planejamento e avaliação de serviços em saúde pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), culpar exclusivamente o fee-for-service pelas mazelas do sistema atual é simplificar demais. “A questão não é matar o fee-for-service, até porque existem contextos de prestação de serviço de alta complexidade, custo elevado, extrema gravidade ou grande raridade no evento, nos quais o fee-for-service se enquadra. É evitar seu superuso, banalização e desvio de uso atual”, sustenta Tania. Ela, que também é pesquisadora do Núcleo de Liderança e Desenvolvimento de Competências Empresariais para a Saúde da FGV, reforça que todos os modelos necessitam de um forte componente de abordagem de saúde populacional com conhecimento de estratificação de risco em pirâmide. Sem isso, explica, qualquer sistema, inclusive o fee-for-service, será um salto no escuro sem garantias de sustentabilidade financeira em médio e longo prazos. 13 EM ALTA 14 André Volschan, coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco Embora a redução de custos não seja o foco prioritário da campanha, o aumento das despesas médicas e hospitalares também é uma preocupação dos entusiastas da Choosing Wisely, já que estudos demonstram que o desperdício no sistema de cuidados de saúde pode ser de até 30%. “Isso significa que, mantendo a mesma qualidade assistencial, poderíamos ser mais custo-efetivos”, diz o coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco. Para ele, o médico constitui parte fundamental no processo de mudança, pois participa em 80% dos gastos do sistema de saúde. É necessário, portanto, que as condutas gerem resultados relevantes – incluindo os clínicos propriamente ditos e a experiência do paciente –, pois representam o real valor do cuidado. “Essas estratégias devem ser iniciadas na formação dos profissionais ainda na graduação, estimulando discussões de condutas e seu impacto no paciente e sistema de saúde”, conclui. Arquivo pessoal Entusiasta da campanha Choosing Wisely, o coordenador de Ensino e Pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco, André Volschan, explica que o overuse de exames e procedimentos pode trazer danos por condutas inapropriadas, além de gerar desequilíbrio nos recursos aplicados no sistema de saúde. A Choosing Wisely é uma iniciativa do American Board of Internal Medicine (Abim), que combate o uso excessivo de exames e procedimentos médicos que não tragam benefício aos pacientes, com maior participação destes nas decisões. A campanha tem a participação de diversas sociedades médicas para que sejam considerados os diferentes aspectos do problema. Após discussões, as entidades são estimuladas a listarem condutas – por meio de diretrizes e protocolos – que devem ser evitadas. Os documentos orientam profissionais sobre as melhores práticas, contextualizadas a cada local de atuação e considerando aspectos específicos de diferentes realidades assistenciais. A identificação de falhas no processo de implementação passa pelo acompanhamento da adesão aos protocolos e às auditorias de rotina, visando melhorar o ciclo de cuidado continuamente. O paciente tem papel fundamental nesse cenário e, para que se produza um ambiente de confiança, um dos pontos mais importantes é fortalecer o diálogo médico-paciente. “A capacidade de comunicação está entre as várias competências exigidas do médico contemporâneo. É essencial que o profissional converse com o paciente sobre suas estratégias de diagnóstico e tratamento. O paciente, por sua vez, deve questionar sempre que tiver dúvida sobre a conduta a que será submetido”, explica Volschan. De acordo com ele, a campanha sugere cinco perguntas que podem sintetizar essas questões: 1) Realmente preciso desse teste ou procedimento?; 2) Quais são os riscos?; 3) Existem opções mais simples ou mais seguras?; 4) O que pode acontecer se eu não fizer nada?; 5) Quais são os custos envolvidos? Americas / Taba Benedicto Escolhas sábias AMericas EM ALTA Alguns projetos-pilotos já estão em execução no Americas Serviços Médicos para alcançar o que se espera de um sistema de saúde mais sustentável e custo-efetivo. Em parceria com a empresa Optum, especializada em otimização de sistemas de “ saúde, e a operadora Amil, o Americas está apostando no Inpatient Grouper (IPG), um sistema de codificação e mensuração de assistência. De acordo com o CEO do Americas Serviços Médicos, trata-se de um modelo de avaliação com gravidade e valoração do processo. Há também o MCG Health, uma ferramenta que auxilia instituições de saúde Arquivo pessoal Estratégias adotadas pelo Americas Serviços Médicos Conhecimento, incentivos adequados e evidências desenhadas sem conflitos de interesse seriam uma boa maneira de reduzir o desperdício ” Americas / Taba Benedicto Ana Maria Malik, professora titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da FGV Nº 01 2017 a implementar linhas de cuidados pautadas pela medicina baseada em evidências. O processo une protocolos específicos e trabalha todos os estágios da assistência ao paciente, desde sua entrada no pronto-socorro. Ele define, por exemplo, critérios no cuidado e o tempo de permanência necessário para ter uma assistência mais eficaz, garantindo que o uso de recursos e o tempo de permanência no hospital sejam adequados, sem sobrecarregar recursos desnecessariamente, sobretudo no momento intra-hospitalar. Para avaliar a percepção do valor em saúde, são necessários atividades, processos e recursos de mensuração por meio de uma metodologia de gestão. Uma importante ferramenta nesse sentido é o balance score card (BSC), que trabalha quatro perspectivas voltadas à participação de pessoas (aprendizado e crescimento), processos, mercado e resultados financeiros. “Estamos aplicando essa metodologia no Americas para alcançar o que esperamos do Quadruple Aim. O BSC engloba todos esses conceitos: treinamento de pessoas, utilização de processos internos, estreitamento da relação com nossos clientes (pacientes, operadoras de saúde ou empresas que contratam planos de saúde para serem assistidos em nossos hospitais) e resultados econômico-financeiros”, explica Luiz de Luca. Segundo ele, as iniciativas requerem tempo e treinamento das equipes. O cenário também envolve tempo de adequação das unidades físicas, melhoria de processos e tecnologia da informação, para que, de fato, seja possível otimizar os resultados. “Nosso foco sempre será o resultado assistencial, mas, como empresa, também precisamos ser viáveis econômica e financeiramente”, explica. Um dos objetivos dessas iniciativas é tornar a marca Americas ainda mais sólida e trabalhar de forma homogeneizada em todas as unidades de saúde do grupo. “Baseamos nossa gestão de saúde nesses conceitos e não temos dúvida de que a percepção de valor do processo assistencial será percebida como o resultado que queremos disponibilizar no mercado”, completa o CEO do Americas Serviços Médicos. 15 Shutterstock SAÚDE EM FOCO Mitos e verdades sobre a febre amarela Tudo começou quando, em dezembro do ano passado, macacos foram encontrados mortos com suspeita de febre amarela silvestre nas regiões rurais e de mata de Minas Gerais. Isso acendeu um alerta entre especialistas e autoridades, pois as mortes desses animais são um aviso de que a doença pode estar presente em determinada região. Desde então, o que era suspeita se transformou em surto e novos casos já ocorreram em outros estados, trazendo preocupação para a população. E não é para menos: o atual surto da febre amarela silvestre, com mais de 500 casos confirmados até o momento, é considerado o maior dos últimos 37 anos. Um dos boletins divulgados pelo Ministério da Saúde apontava 187 mortes por causa da doença no País desde dezembro de 2016. Minas Gerais continua sendo o estado mais afetado. Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Tocantins e Rio Grande do Norte têm casos investigados ou confirmados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a doença mate até 60 mil pessoas por ano no mundo. Vale dizer que o atual surto da febre amarela não tem relação com o mosquito Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue e zika vírus. Os casos e as mortes notificados até agora por febre ama- 16 Com mais de 500 casos confirmados (até o fim de março) pelo Ministério da Saúde, o atual surto da febre amarela silvestre é considerado o maior dos últimos 37 anos Por Madson de Moraes rela são os silvestres, ou seja, adquiridos em regiões rurais e de mata. Os vetores são os mosquitos do gênero Sabethes e Haemagogus, e não o Aedes, vetor transmissor da doença em áreas urbanas. Desde 1942, o Brasil não registra casos de febre amarela por transmissão urbana. No entanto, a preocupação de a febre amarela chegar ao meio urbano é grande por causa da numerosidade do Aedes nas cidades. Para a médica infectologista Bianca Miranda, do Hospital Samaritano de São Paulo, o risco existe e é bem real. “A alta densidade populacional do Aedes torna real o risco de transmissão no meio urbano. Com alto trânsito de pessoas entre cidades e estados, o vírus realmente pode acabar chegando às cidades”, adverte. Na maioria dos casos, a doença se apresenta com sintomas como mal-estar, febre alta de início repentino, dor no corpo e de cabeça - bem semelhantes aos de outras doenças e viroses comuns. Após alguns dias, até ocorre melhora da febre e dos sintomas gerais, o que dura de duas horas a dois dias, e a pessoa chega a pensar que está melhorando. “Nas fases iniciais, não há como diferenciar a febre amarela de outros vírus, e a maioria das pessoas infectadas desenvolve sintomas muito leves, que se parecem com outras viroses comuns”, afirma a médica. Idosos, gestantes e lactantes devem ser avaliados por médicos antes de receberem a imunização AMericas SAÚDE EM FOCO Quem precisa e deve se vacinar? A vacinação de rotina para febre amarela é ofertada em 19 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins), com recomendação para imunização. Vale destacar que na Bahia, no Piauí, em São Paulo, no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a vacinação não ocorre em todos os municípios. Além das áreas com recomendação, também está sendo vacinada, de forma escalonada, a população do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Todas as pessoas que vivem nesses locais devem tomar uma dose da vacina ao longo da vida. Presente no Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde, a vacina é oferecida para moradores dessas áreas a partir dos nove meses de idade e disponibilizada gratuitamente em postos de saúde da rede pública de todas as ciNº 01 2017 dades do País. No caso de surto, ela pode ser antecipada para os seis meses de idade. Depois, uma segunda dose é dada aos quatro anos, o que garante a proteção por toda a vida. Para pessoas de dois a 59 anos, a recomendação é de duas doses, sendo a segunda aplicada após um intervalo de 10 anos. O estado de São Paulo, por sua vez, usa a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera que apenas uma dose da vacina é suficiente para proteger pelo resto da vida. “Todas as pessoas que viajam para áreas endêmicas em que há recomendação da vacina devem tomá-la ao menos 10 dias antes da viagem, pois esse é o tempo de que nosso sistema imunológico precisa para produzir níveis de anticorpos suficientes para nos proteger da infecção. Isso serve para estrangeiros ou brasileiros que se desloquem de áreas sem recomendação para áreas com recomendação de vacinação”, adverte a infectologista Bianca Miranda. “ Todas as pessoas que viajam para áreas endêmicas em que há recomendação da vacina devem tomá-la ao menos 10 dias antes da viagem ” Bianca Miranda, infectologista do Americas Serviços Médicos Arquivo pessoal O que pode acontecer após esse pequeno período é uma versão mais grave da doença, quando podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele amarelados), manifestações hemorrágicas e cansaço intenso. “É nessa fase que as complicações acontecem, podendo haver acometimento de órgãos vitais, como fígado, rins, coração e sistema nervoso central”, reforça Bianca. Vale dizer que uma pessoa não transmite a doença diretamente para outra - a transmissão é feita apenas pela picada de mosquitos infectados. Quem apresentar quadro de febre alta súbita, dor no corpo intensa e mal-estar significativo, acompanhado ou não de icterícia, deve procurar o quanto antes um médico. “Essa conduta é primordial para que sejam feitos uma avaliação clínica e um diagnóstico diferencial de outras doenças que também podem ser graves, como dengue, malária, leptospirose e hepatites virais, além de ser indicado tratamento imediato. O tratamento precoce pode salvar a vida”, afirma a infectologista. Quem não mora nessas áreas deve se vacinar? Segundo Bianca, quem não tem risco de exposição não tem necessidade de se vacinar. “A vacina é aplicada pelo Programa Nacional de Imunizações do SUS em quase todo o País. Em áreas urbanas onde não há indícios de circulação do vírus nem em primatas não humanos, a vacina é desnecessária. Mas há indicação de vacinação para pessoas que irão se deslocar para áreas de alta prevalência da doença ao menos 10 dias antes da viagem”, explica. É preciso ficar atento porque alguns perfis exigem uma avaliação médica antes de se imunizar, como idosos, gestantes e lactantes. “Para indivíduos acima de 60 anos que nunca tomaram a vacina, a indicação deve ser avaliada de acordo com o risco de adoecer. Tudo depende do risco ao qual estão expostos, da presença de outras doenças crônicas e do uso de medicamentos. A partir dos 60 anos de idade, a indicação da vacina deve ser mais criteriosa”, adverte a infectologista. A vacina para a febre amarela é contraindicada para crianças com menos de seis meses de idade, pacientes infectados pelo HIV com imunossupressão grave, pacientes em tratamento com drogas imunossupressoras (corticosteroides, quimioterapia, radioterapia, imunomoduladores), submetidos a transplante de órgãos, com imunodeficiência primária, com neoplasia, pessoas com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina (ovo de galinha e seus derivados, gelatina e outros produtos que contêm proteína animal bovina) e pessoas com história pregressa de doenças do timo (miastenia grave, timoma, casos de ausência de timo ou remoção cirúrgica). A única forma de evitar a febre amarela silvestre é a vacinação contra a doença. Por enquanto, não foi detectada sua transmissão pelo Aedes aegypti, mosquito transmissor da febre amarela nas áreas urbanas. A melhor ação na prevenção da febre amarela é impedir a proliferação do mosquito, adotando-se ações como acabar com a água parada em qualquer tipo de recipiente. 17 INOVAÇÃO 18 e a maioria dos provedores de saúde terão algum tipo de experiência com inteligência artificial empoderando a prática médica”, aposta Eduardo Cipriani Almeida, líder de Watson Health na IBM Brasil. O Watson é um caso a ser destacado nesse universo: ele é um sistema de computação cognitiva que, segundo a IBM, já leu toda a literatura médica que está disponível no mundo e já tem bancos de dados para cânceres de mama, de pulmão, gastrointestinal, de cólon e cervical. Para você ter uma ideia, em 2016, o Laboratório de Por Madson de Moraes Shutterstock A inteligência artificial (IA) está dentro da nossa vida e dessa revolução não dá mais para fugir. Quando usamos o aplicativo Waze, buscamos algo no Google ou recebemos uma indicação de livro feita pela Amazon, por exemplo, estamos mergulhados nessa tecnologia. E a medicina não passaria incólume do impacto causado pela IA. Supercomputadores capazes de armazenar dados e processar informações para detectar e diagnosticar doenças não são mais coisa de filme de ficção científica - já são realidade e essa revolução interessa a governos, operadoras, administradores de planos, hospitais, farmacêuticas e médicos. Toda a indústria da saúde será afetada – para melhor – pela inteligência artificial. Segundo análise feita pela empresa norte-americana Frost & Sullivan, até 2025 os sistemas de inteligência artificial de- Supercomputadores capazes de armazenar dados e processar vem se envolver em todos os aspectos e informações processos na saúde, desde a gestão até as para detectar consultas específicas com pacientes. “Não estamos falando de futuro, mas do que já e diagnosticar é realidade em diversos lugares no mundo. doenças já são Eu diria que, em dois ou três anos, a maioria da indústria da saúde dentro dos hospitais realidade AMericas INOVAÇÃO Um médico precisaria estudar mais de 160 horas por semana para poder se manter atualizado. Um paciente com câncer gera cerca de 1 terabyte de dados diários com exames, sendo que apenas 0,5% desses dados é avaliado Medicina da Universidade de Tóquio utilizou o computador da IBM para diagnosticar um tipo raro de câncer em uma idosa de 66 anos, apontando o tratamento mais adequado. E fez tudo isso em menos de 10 minutos. Na prática, o médico reúne todas as informações necessárias sobre o paciente e as fornece ao Watson, que responderá com os possíveis tratamentos. “Com essa explosão de dados e informações na literatura médica, precisamos instrumentalizar e empoderar o médico. E isso é feito deixando que a inteligência artificial se encarregue de toda essa carga operacional de correlacionar as informações do paciente, as evidências e os estudos científicos, os possíveis tratamentos e efeitos colaterais, por exemplo, para que esse médico, tendo todas essas informações em mãos, possa tomar a melhor deciNº 01 2017 19 INOVAÇÃO são. A tecnologia libera mais tempo para o médico pensar e interagir com o paciente”, afirma Cipriani. Nos programas de inteligência artificial como o Watson, programadores alimentam os softwares com algoritmos avançados e os expõem a uma quantidade gigantesca de dados do big data, usando técnicas de IA como machine learning (aprendizado de máquina) ou deep learning (aprendizado profundo). Subsidiados, então, com esses dados – que podem ser informações de cada paciente, indicadores de saúde da população, características das doenças e toda a literatura médica e científica produzida –, esses algoritmos acabam “aprendendo” sobre determinada doença. Assim, conseguem reconhecer insights e hipóteses colhidas nesses dados e as fornecem ao médico ou profissional de saúde, o que amplifica sua capacidade de escolher o tratamento mais adequado. E o volume de informações na saúde não para de crescer. Um médico precisaria estudar mais de 160 horas por semana para conseguir se manter atualizado. Um paciente com câncer, por exemplo, gera cerca de 1 terabyte de dados diários com exames, sendo que apenas 0,5% desses dados são Conheça cinco iniciativas de inteligência artificial na Medicina Enlitic A empresa desenvolveu um algoritmo que pode aumentar a precisão e leitura dos exames radiológicos. Em um teste feito com uma base de 6 mil diagnósticos positivos e negativos de câncer de pulmão, o resultado indicou que a leitura feita pelo software foi 50% mais precisa do que a leitura feita por médicos radiologistas. A empresa quer comercializar sua tecnologia como algo que “capacite” os radiologistas em vez de “substituí-los”. Bay Labs A startup já recebeu 2,5 milhões de dólares em financiamento até o momento para desenvolver tecnologias que apliquem a inteligência artificial para ultrassom, com o objetivo de reduzir a principal causa de morte no mundo: as doenças cardiovasculares. Arterys A empresa arrecadou mais de 13 milhões de dólares para desenvolver uma plataforma automatizada e inteligente de imagem médica que pretende ajudar a diagnosticar problemas cardíacos. O objetivo é ajudar médicos a entender como um coração está funcionando, fornecendo medições precisas do volume de cada ventrículo e permitindo uma avaliação mais precisa da saúde. A empresa recentemente anunciou que sua plataforma recebeu da Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovação para ser usada em um ambiente clínico. Laura Networks A empresa brasileira desenvolveu o robô Laura, um computador com inteligência artificial aplicada na gestão de risco de hospitais que ajuda no monitoramento dos casos e alerta médicos e enfermeiros caso algum paciente precise de atendimento. Criado inicialmente para combater a sepse, uma infecção generalizada que pode levar à morte, o programa provocou uma queda nos casos da doença num hospital de Curitiba (PR). Segundo o criador do Laura, Jacson Fressatto, o software foi desenvolvido para hospitais, mas é aplicável em quaisquer outras empresas. Berg Health Fundada em 2006, a startup quer reduzir o tempo e os custos do desenvolvimento de medicamentos pela metade, por meio de sua plataforma Berg Interrogative Biology. A empresa tem atraído o interesse da indústria farmacêutica porque afirma conseguir acelerar o desenvolvimento de novas drogas ao selecionar os pacientes “biologicamente certos”, o que reduz os altos custos envolvidos em todas as etapas. A empresa desenvolveu o que poderá ser considerado o primeiro medicamento para o câncer de pâncreas identificado pela inteligência artificial, o BPM 31510, ainda em fase inicial de testes. 20 AMericas INOVAÇÃO Shutterstock Nº 01 2017 “ Eu diria que, em dois ou três anos, a maioria da indústria da saúde terá algum tipo de experiência com inteligência artificial ” Arquivo pessoal avaliados. Segundo a American Medical Informatics Association, é provável que até 2050 o volume de dados em saúde aumente em 50 vezes. Como é humanamente impossível hoje para o médico acompanhar esse fluxo, as tecnologias de IA, ao analisarem essa enorme quantidade de dados coletados, podem apontar caminhos mais sustentáveis do ponto de vista diagnóstico que se refletirão na gestão de recursos. O big data, conforme explica Alexandre Dias Chiavegatto Filho, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps), tem um potencial enorme para ajudar na melhoria dos diagnósticos e auxiliar o trabalho dos profissionais de saúde. “O acúmulo de dados tem permitido muitos avanços na precisão dos tratamentos em saúde e no atendimento cada vez mais individualizado aos pacientes. Hoje, são poucos os profissionais que se recusam a trabalhar com dados ou tomar decisões baseadas em evidências. O ganho do uso de dados para auxiliar no diagnóstico clínico já é evidente e muitos profissionais estão vendo isso claramente em seu dia a dia.” Eduardo Cipriani Almeida, líder de Watson Health na IBM Brasil “A aposta em big data na saúde é um grande investimento”, ressalta o engenheiro eletrônico e consultor de inovação e novos negócios em mobilidade, saúde e big data Eduardo Prado. “Com o big data, o setor de saúde vai poder se aprofundar no comportamento de pessoas, organizações, mercado, genômica, medicamentos e muito mais. Esse aprofundamento reduzirá seus custos operacionais, sempre crescentes até agora, e possibilitará a melhoria de seus fluxos de trabalho operacionais”, garante. Para Fernando Cembranelli, CEO da Berrini Ventures, aceleradora de startups de saúde no Brasil, o grande desafio da inteligência artificial é que ela vai revolucionar a forma como o trabalho é feito hoje em algumas áreas dentro da medicina. “Na saúde, em muitas áreas, como a radiologia, a inteligência artificial conseguirá dar a grande maioria dos laudos automaticamente. Há uma percepção de que, a cada ano que passa, fica difícil não adotar essa tecnologia. A inteligência artificial passa a ser imprescindível”, observa o empreendedor. Nesse debate entre tecnologia e ser humano, uma pergunta costuma ser feita: a inteligência artificial, então, retira o pro- tagonismo do médico e do profissional da área de saúde? Na avaliação de Eduardo Prado, médicos não devem se sentir ameaçados porque a inteligência artificial na medicina criará serviços que não existiam. É o caso de robôs e ferramentas automatizadas para cuidar de idosos ou ferramentas que aumentarão a melhoria de processos médicos, como a utilização de algoritmos de machine learning para tratar doenças crônicas. “Acredito que as melhorias da inteligência artificial chegarão para auxiliar o diagnóstico médico”, diz o consultor. Para Cipriani, da IBM, a IA não tira do médico a capacidade de pensar e raciocinar, mas elimina muito do trabalho operacional antes feito exclusivamente por ele. “A tecnologia de inteligência artificial não vem com o objetivo de trazer a resposta correta, mas, sim, mostrar todas as possíveis respostas e evidências para que o médico consiga pensar e definir qual o melhor tratamento para aquele paciente. Essa é uma transformação natural que já começou a ocorrer e o próprio profissional da área de saúde se transformará num médico muito mais informado”, diz. A revolução da inteligência artificial na medicina, garante Cipriani, apenas começou. 21 Shutterstock SEM JALECO O médico mágico Maurício Jordão é cardiologista e tem a mágica como hobby. Assim como na Medicina, a prática exige muito estudo e dedicação Por Daniella Pina O fantástico universo da mágica foi apresentado ao cardiologista Maurício Jordão quando ele tinha apenas 10 anos. Presente da madrinha, a caixa de truques despertou no garoto o fascínio pela habilidade de causar surpresa, espanto e levar alegria às pessoas. Quatro anos depois, o mágico argentino Julio Lipan, sua maior inspiração na arte do ilusionismo, mudou-se para Rio Claro, cidade no interior de São Paulo onde Jordão vivia com a família. “Bati em sua casa, disse que gostava de mágica e queria aprender mais”, recorda. Lipan foi responsável por convidá-lo para participar de sua primeira entidade de classe, a Associação de Mágicos do Interior de São Paulo. Embora latente, a paixão pela mágica precisou ficar em segundo plano durante a faculdade de Medicina. Foi na residência, em um plantão médico, que a mágica se colocaria a sua frente mais uma vez. “Quando chamei a ficha do paciente, entrou em minha sala Roberto Calegari (conhecido no meio artístico como Robert), um mágico que havia chamado muito minha atenção durante o congresso da Federação Latino-Americana de Sociedades Mágicas (Flasoma), da qual eu já participava.” A surpresa de ambos foi grande e nasceu ali uma amizade que, mais uma vez, faria Jordão ampliar seus horizontes na mágica. A partir dali, ele passou a fazer parte da Associação dos Mágicos de São Paulo (AMSP), a mais antiga entidade relacionada ao tema no País. 22 AMericas SEM JALECO Até hoje, a mágica continua muito presente na vida do cardiologista, que atua no Hospital Samaritano de São Paulo há 13 anos. “Frequento as reuniões da AMSP toda segunda-feira, participo dos congressos e continuo estudando por livros, DVDs e conversando com mágicos experientes, que fizeram a história da mágica no País.” A prática é levada como hobby e o médico não realiza trabalhos profissionais, pois acredita que seria impensável conciliá-los com a rotina de cardiologista. “A ideia é manter dessa forma, pelo conceito em si: ter dedicação e um espaço pessoal que me permita abstrair dos problemas, da profissão e da família.” Assim como na Medicina, a mágica possui diversas especialidades. A favorita de Jordão é o close-up, ou seja, a mágica de perto. Nela, o maior desafio é desviar a atenção do espectador (misdirection), para que ele não olhe para onde “não deve” e descubra o truque. Dentro da modalidade, a cartomagia é a que mais encanta o cardiologista. Ela também possui suas subdivisões, com baralhos normais e outros nem tanto. “Eu uso apenas os normais, pois são mais desafiadores. É preciso ter uma misdirection muito boa”, explica. “Para mim, a proposta da mágica não é ser um desafio intelectual, em que as pessoas tentem descobrir como é. A mágica é para divertir e trazer surpresa”, justifica. Além de surpresas, a mágica já trouxe ao médico muita emoção. “Um amigo da minha irmã sonhava ser mágico e estava internado com leucemia. Quando soube que eu era, pediu à minha irmã que eu fizesse alguns truques para ele. Foi uma experiência inesquecível, pois a forma como ele reagia às mágicas me marcou”, lembra. O jovem faleceu após alguns dias, mas Jordão sente que aquele foi um momento muito especial para ambos. Além do episódio, o cardiologista já usou a mágica para entreter pacientes internados, mas somente quando há abertura e intimidade para isso. “No começo, eu tinha receio de que os colegas e pacientes Nº 01 2017 Maurício Jordão Mágica ou ilusionismo? A pergunta pode confundir muita gente, mas para Maurício Jordão não há diferença. “Como na Medicina, a mágica é cheia de especialidades. Tem o close-up, que envolve objetos pequenos. Tem a mágica com objetos maiores, feita para um público um pouco maior. E, enfim, tem as grandes ilusões, mais ligadas ao estilo de David Copperfield, famoso por seus grandiosos espetáculos.” O ilusionismo acabou vinculado às grandes ilusões – como levitar, serrar pessoas ao meio ou fazê-las desaparecer –, mas ambos são indissociáveis. “Tudo é mágica, e mágica é ilusionismo, ou seja, criar uma ilusão.” Americas / Arquivo Emoção e inspiração soubessem que faço mágica e não me julgassem uma pessoa séria. Mas, depois, comecei a lidar melhor com esses conflitos, e isso parou de me incomodar, pois o preconceito estava em mim, e não nas pessoas.” Hoje, Jordão se apresenta mensalmente em eventos gratuitos e abertos ao público, apoiados pela AMSP. Ele até inspirou outras pessoas. “Minha afilhada de sete anos está indo muito bem. Dei a ela uma caixa de mágica e ela está adorando”, diz Jordão, que também já ensinou truques a outros colegas médicos e até os levou para conhecer a AMSP. “Tanto a mágica quanto a Medicina compreendem desafios. São modalidades completamente diferentes, mas ambas envolvem arte e técnica. A diferença é que, na Medicina, você pode ser vítima de uma cilada cognitiva e falhar. Na mágica, o viés cognitivo está a seu favor e transforma isso em entretenimento”, conclui. 23 Mentis et Corporis 2 IMAGINE... Por Eugenio Mussak* Certa vez, entrei no Central Park de Nova Iorque, pelo portão que leva a um jardim chamado Strawberry Fields, e foi quando senti uma emoção diferente. A primeira coisa que vi foi um círculo na calçada – na verdade, uma mandala com raios concêntricos, desenhados com pequenos mosaicos portugueses brancos e pretos, em cujo centro está escrita apenas uma palavra mágica: ‘Imagine’! Fica praticamente em frente ao Dakota Apartments, o prédio art nouveau construído no final do século 19, famoso por ter sido o último lar de John Lennon e também o local de sua morte – ele foi assassinado na entrada do prédio por um lunático em dezembro de 1980, quando chegava em casa vindo do estúdio de gravação, ao lado de Yoko Ono. Alguns anos antes, Lennon havia lançado seu primeiro disco solo, que trazia a música Imagine, que também dava nome ao álbum. Sua mensagem propõe que imaginemos que as fronteiras, as posses, a ganância e a religião – os grandes causadores de conflitos – não existem, e por isso o mundo vive em paz. Termina dizendo: “Você pode achar que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único e você ainda vai se juntar a nós”. A música é realmente belíssima, não há quem não se emocione com sua letra e sua melodia, simples e profundas. Até porque é difícil ser contra o que ela defende: a paz. Entretanto, a música é portadora de uma segunda mensagem, que passa despercebida apesar de ser tão explícita. E essa mensagem é exatamente o que propõe o próprio título: imagine. Além de ser uma ode à paz, Imagine é também um tributo à maravilhosa qualidade excessivamente humana que é a capacidade de imaginar. Aquele momento, lá no Central Park, acabou me remetendo a outro, muitos anos antes, quando me formei em Medicina na UFPR. Nosso patrono, o emérito professor e cirurgião espetacular Mário de Abreu, nos aconselhou: “Nunca parem de imaginar um mundo melhor a partir da profissão para a qual acabam de se formar”. Sim, estávamos nos formando médicos. E quem é um médico 24 1 se não alguém capaz de mitigar o sofrimento da doença e promover a saúde, como bem maior? É possível imaginar uma missão mais bela, digna e edificante? Nosso mestre nos estimulava a imaginar um mundo melhor, com menos doenças, sofrimentos e injustiças. E nos conclamava a lutar para que esse mundo melhor exista, usando as armas que acabávamos de receber na cerimônia da formatura e com as quais havíamos sido treinados para usar durante o curso. Sempre, claro, com a consciência de que esse treinamento jamais teria fim, com a diferença de que agora a responsabilidade seria, cada vez mais, de cada um de nós. Nada melhor, para um médico, do que estar ligado a uma instituição que lhe dá suporte, liberdade e estímulo, que lhe permite AMericas Mentis et corporis 4 1. Shutterstock | 2. hans engbers / Shutterstock | 3. rSnapshotPhotos / Shutterstock | 4. EarthScape ImageGraphy / Shutterstock 3 1. Mandala formada por mosaicos no jardim Strawberry Fields, no Central Park, em Nova Iorque 2. Fachada do Dakota Apartments 3 e 4. Vista do jardim Nº 01 2017 imaginar. A tão falada autonomia, que nada mais é do que a possibilidade de cuidar da própria vida – o que inclui a carreira –, não pressupõe o isolamento, a falta de vínculos. Ao contrário. Estar “livre de” é diferente de estar “livre para”. Estar “livre de” significa preferir não ter vínculos. Trabalhar em uma grande organização, com estrutura empresarial, pressupõe um vínculo, com respeito a valores, normas e condutas bem definidas. Por outro lado, é algo que nos dá imensa “liberdade para”, ou seja, uma evidente maior possibilidade para imaginar e realizar. Tempos de mudança são tempos de imaginação. “É fácil se você se esforçar”, disse Lennon, e acertou em cheio. Às vezes, não nos esforçamos para imaginar nossas infinitas possibilidades e perdemos uma parte importante de nós mesmos. (*) Eugenio Mussak é formado em Medicina pela UFPR, com especialização em fisiologia, mas dedicou a maior parte de sua vida à carreira de professor. Atualmente, leciona a disciplina de gestão de pessoas na Fundação Dom Cabral e na FIA, sendo escritor nas horas vagas. 25 ONDE, QUANDO e POR Quê? Um Texto Julia Fabri* Fotos Marcio Caiado No Brasil, o ecoturismo geralmente é associado às belas praias do Nordeste, à paisagem serrana do sul do País e ao verde da floresta amazônica. Mas por que não experimentar algo diferente dentro dessa vertente, como chapadas e até um deserto? O estado do Tocantins abriga um cenário exótico, intocado, onde a natureza é preservada e o sol brilha com força o ano todo. Arrume as malas: é hora de conhecer o Jalapão. O município de Ponte Alta do Tocantins é a porta de entrada para o Jalapão. De Palmas, capital do estado, até lá são aproximadamente 110 km. O Jalapão é grande: ocupa uma área de 34.000 km2, sendo maior que Sergipe. Outros povoados, como Mateiros e São Félix do Tocantins, também servem de base para desbravar a região. É bom relevar as longas distâncias. Para chegar aos atrativos naturais, é preciso vencer estradas de terra, muitas delas somente transitáveis por veículos 4x4 disponíveis para aluguel em Palmas. Vamos começar por Ponte Alta, cidadezinha onde há hotéis de estrutura simples e restaurantes de ambiente familiar. É preciso uma dose de paciência quando se deixa Ponte Alta, mas qualquer deslocamento vem acompanhado de uma bela paisagem que enche os olhos e espanta a monotonia. Seguindo as orientações do guia, vão surgindo os primeiros ‘chuveirinhos’, planta típica do cerrado que lembra um delicado buquê de noiva. A primeira parada é para contemplação. É fácil acessar a cachoeira do Rio Soninho: aos poucos, ela vai se revelando entre as árvores. O som da queda-d’água é inconfundível, mas o volume e a força impressionam. É parar e testemunhar o espetáculo da natureza em sua mais exuberante manifes- 26 oásis no cerrado brasileiro tação. E se o banho ali não é possível, logo se chega ao próprio Rio Soninho, que, fazendo justiça ao nome, é bom para relaxar. Aproveite para se refrescar nos trechos mais rasinhos e se entregue sem culpa à tranquilidade da água cristalina e geladinha. Seguindo o trajeto, a próxima cachoeira, a da Fumaça, exige um pouco mais de empenho: desde Ponte Alta, são 90 km até lá, sendo 60 em estrada de terra. Como entrega o nome, o vapor da água lembra uma névoa, como fumaça avistada ao longe, aguçando a curiosidade de quem se aproxima. Descendo por uma trilha, a cachoeira surge em sua grandiosidade. E se faltar um toque aventureiro à viagem, o turista pode se arriscar, com cuidado, pelas pedras, até se posicionar atrás da queda-d’água. O som é ensurdecedor e a cortina branca que cai diante dos olhos intimida. Uma experiência molhada, divertida e emocionante. Já em direção a Mateiros, a primeira parada do roteiro configura um cenário bem diferente e exótico: trata-se do Cânion Sussuapara, uma fenda de 25 metros de profundidade entre paredões rochosos. Uma vez no interior do cânion, ao olhar para cima, é possível perceber a água que vem escorrendo sem cessar entre raízes e samambaias nativas, que se desenvolvem graças à pouca luminosidade e umidade. Alguns quilômetros adiante, pausa para mais um banho. Na Cachoeira do Lajeado, a formação rochosa lembra uma escadinha (ou seja, lajes, de onde vem o nome). De degrau em degrau, acha-se o melhor cantinho AMericas ONDE, QUANDO e POR Quê? 2 3 1 1. Cânion de Sussuapara. 2. Cachoeira do Lajeado. 3. Cachoeira do Rio Soninho. 4. As altas temperaturas na região duram praticamente o ano inteiro. para se refrescar. A maior queda-d’água tem 15 metros de altura, formando uma fotogênica piscina natural. Para assistir ao emblemático e inesquecível pôr do sol no cerrado jalapoeiro, siga direto para as dunas. Daí o termo ‘deserto do Jalapão’ passa a fazer sentido, ainda que não seja em literalidade. Montes de areia dourada de até 30 metros de altura proporcionam a contemplação de um cenário arrebatador. Afoitos por aventuras podem observar o espetáculo lá do alto da Serra do Espírito Santo, aonde se chega por uma trilha. Em cima da chapada, há um mirante para admirar o pôr do sol. Em Mateiros, estão os fervedouros, alguns dos mais famosos cartões-postais do Jalapão. São nascentes onde a força da água de rios subterrâneos não permite afundar, um fenômeno natural chamado “ressurgência”. O roteiro pode ser concluído com uma visita ao povoado Mumbuca, onde vive uma comunidade quilombola que produz artesanato com o capim dourado (proveniente da planta conhecida como ‘sempre-viva’), ou à Casa do Artesão, onde é possível comprar peças dos artesãos locais - um bom pretexto para ouvir as histórias do povo que vive e respira o Jalapão. *Julia Fabri é jornalista e viajante. Percorreu todo o Brasil como repórter do programa Brasil Caminhoneiro e já esteve em mais de 20 países turistando, estudando e produzindo conteúdo. Aventura o ano inteiro 4 Nº 01 2017 Onde? Parque Estadual do Japalão, no Tocantins. Quando? O Jalapão é visitável o ano todo e sempre apresenta altas temperaturas. Entre os meses de maio e setembro, quase não chove e o céu é de um azul límpido. Por quê? As paisagens exóticas do Jalapão fazem do destino um lugar único no Brasil. Mais informações: jalapao.to.gov.br 27 POR DENTRO DO AMERICAS O Hospital Vitória Santos, localizado na Vila Belmiro (Santos/SP), implementou, no início de 2015, um projeto de ampliação dos serviços oferecidos, que incluiu atendimento ambulatorial e realização de cirurgias em 26 especialidades, além da oncologia. Nos últimos dois anos, já foram realizados mais de seis mil procedimentos, principalmente nas áreas de cirurgia geral e ortopedia. Um dos aspectos que contribuíram para a consolidação do projeto foi a ampliação do número de leitos do hospital, que passou de 25 para 44 em 2015, quando foi inaugurada a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulta. “Nossa meta é reforçar a atuação como um hospital geral, com atendimento de baixa, média e alta complexidades e estrutura tecnológica e assistencial para atendimentos em várias especialidades médicas”, ressalta o diretor da instituição, Agnaldo Carlesse. Americas / Arquivo Hospital Vitória Santos alcança 6 mil cirurgias em dois anos Certificação atesta a excelência da qualidade e da segurança dos atendimentos Hospital Samaritano de Botafogo conquista acreditação da JCI e acompanhantes. O diretor do Hospital, Ricardo Periard, destaca que a acreditação da JCI é um importante marco na trajetória da instituição, que há quase 70 anos vem aprimorando e profissionalizando sua atuação. De acordo com ele, também foram avaliados os protocolos que envolvem qualificação profissional, adequação da gestão, atendimento assistencial e padrões técnicos e de infraestrutura. A unidade do Hospital Samaritano localizada no bairro de Botafogo (RJ) conquistou, em fevereiro deste ano, a acreditação da Joint Commission International (JCI), a mais importante entidade certificadora da qualidade dos serviços de saúde no mundo. O certificado atesta a adoção de protocolos internacionais que reforçam a qualificação dos processos assistenciais, garantindo qualidade e segurança aos pacientes Novo pronto atendimento em cardiologia no Rio de Janeiro na Barra da Tijuca (RJ). Até o final de fevereiro, o serviço – que tem capacidade para até 20 mil pacientes por mês – já atendeu mais de 400 casos com indicação clínica para a especialidade. Americas / Arquivo Desde janeiro, um novo pronto atendimento 24 horas em cardiologia está em funcionamento nos hospitais Vitória e Samaritano – unidades integrantes do complexo médico-hospitalar Americas Medical City, Setor tem capacidade de atendimento para até 20 mil pacientes por mês 28 O intervalo entre a chegada do paciente e a assistência cardiológica é inferior a 15 minutos – e imediato nos casos de extrema gravidade, como os de infarto agudo do miocárdio, que chegam a ser tratados na hemodinâmica em até 40 minutos. O coordenador do Serviço de Cardiologia do Americas Medical City, Celso Musa, explica que o tempo e o respeito aos protocolos são fundamentais nesse tipo de atendimento. “O paciente que dá entrada na unidade com suspeita de infarto agudo do miocárdio, por exemplo, é encaminhado de imediato para a realização de um eletrocardiograma pelo próprio enfermeiro, na fase da classificação de risco, quando são listados as primeiras queixas e sintomas”, observa o médico. AMericas Shutterstock POR DENTRO DO AMERICAS Novas diretrizes para o tratamento do AVC isquêmico De acordo com dados de 2016 do Ministério da Saúde, o acidente vascular cerebral (AVC) atinge mais de dois milhões de pessoas no Brasil. As informações mostram ainda que, desde 2005, o AVC é a principal causa de morte e incapacidade funcional no País. Com o objetivo de diminuir os óbitos provocados pela doença, membros da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV) e entidades associadas desenvolveram, após o Congresso Brasileiro de Neurorradiologia, em novembro de 2016, um manual de condutas para o tratamento endovascular do AVC isquêmico, o mais comum entre as doenças neurológicas. O radiologista intervencionista Gustavo Andrade, do Hospital Santa Joana Recife, participou da iniciativa. O protocolo, publicado em janeiro deste ano na respeitada revista científica de circulação internacional Arquivos de Neuro-Psiquiatria, serve de orientação para profissionais de saúde e gestores de saúde pública e suplementar no Brasil quanto ao manejo dos pacientes afetados pelo AVC isquêmico. Em parceria com a líder em cirurgia ortopédica, evento aconteceu em 10 de fevereiro, em São Paulo (SP) 3º Simpósio Internacional de Artroplastias Americas / Arquivo O Hospital Alvorada, de São Paulo, e o Hospital for Special Surgery (HSS), instituição líder em cirurgia ortopédica nos Estados Unidos, realizaram, pelo terceiro ano consecutivo, o Simpósio Internacional de Artroplastias, em 10 de fevereiro, na capital paulista. O evento teve a participação de três especialistas do HSS: Mathias Bostrom, cirurgião do quadril e do joelho e professor da Universidade de Cornell; Fritz Boettner, especializado em artroplastia de quadril pela Gustavo Andrade participou da elaboração da nova diretriz Nº 01 2017 Steadman Hawkins Clinic; e Seth Jerabek, especialista em substituição de articulações. A programação foi dividida em dois temas principais: artrose primária de joelho e quadril e suas complicações. “O Simpósio está se consolidando, no calendário da ortopedia brasileira, como uma referência em artroplastias primárias. O evento contribui para difundir as informações mais atualizadas quanto ao tratamento de artroses de quadril e joelho”, destaca o diretor do Hospital Alvorada, Fernando Moisés José Pedro. Hospital Monte Klinikum amplia seu Pronto-Socorro Localizado em Fortaleza (CE), o Hospital Monte Klinikum inaugurou em fevereiro as novas instalações de seu Pronto-Socorro. Os atendimentos de urgência e emergência, que terão a capacidade ampliada em 10%, passam a contar com cinco consultórios, nove leitos de observação, recepção e setores de triagem e aplicação de medicamentos totalmente renovados, em uma área total de 800 m2 – mais do que o dobro do espaço anterior, de 375 m2. A ampliação faz parte do plano de expansão do Hospital. “O PS conta com um fluxo de processos que agiliza os atendimentos, em linha com a crescente demanda por cuidados com a saúde. Além disso, a conexão com as diferentes áreas e profissionais foi reforçada, contribuindo para o funcionamento geral da instituição”, destaca a diretora do Monte Klinikum, Thais Moreno. Atualmente, são realizados cerca de 2,7 mil exames por mês e, com a ampliação, a previsão é que esse número chegue a três mil nos próximos meses. 29 GRUPO AMERICAS Americas Serviços Médicos Ceará Fortaleza Hospital Monte Klinikum Rio Grande do Norte Natal Hospital Promater Pernambuco Recife Hospital Santa Joana Recife Distrito Federal Brasília Hospital Alvorada Brasília Rio de Janeiro Rio de Janeiro - Capital Hospital e Maternidade Santa Lúcia Hospital Pró-Cardíaco Hospital Samaritano - Botafogo Americas Medical City (Samaritano Barra e Vitória Barra) Americas Centro de Oncologia Integrado 30 São Paulo São Paulo - Capital Hospital Samaritano Hospital Vitória Anália Franco Hospital Alvorada Hospital e Maternidade Metropolitano Hospital Paulistano Hospital TotalCor Mogi das Cruzes Hospital Ipiranga Guarulhos Hospital Carlos Chagas Caieiras Hospital de Clínicas de Caieiras Arujá Hospital e Maternidade Ipiranga Arujá Santos Hospital Vitória Santos Campinas Hospital e Maternidade Madre Theodora AMericas