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AMeRICAS
Medicina especializada E saúde
VALOR EM SAÚDE
Melhorar a experiência do paciente.
Ampliar o acesso à saúde. Otimizar custos.
Motivar equipes. Especialistas discutem os
desafios e as alternativas para equilibrar
os modelos atuais de assistência em saúde 10
CEO do Americas fala sobre os desafios do grupo
O impacto da inteligência artificial na medicina
6
18
Cardiologia e mágica. Conheça o médico que concilia as duas atividades
22
nº 01
2017
Nononono
2
AMericas
Nononono
www.americasmed.com.br
Diretoria
Luiz de Luca
CEO do Americas
Serviços Médicos
Vinicius Ferreira da Rocha
COO do Americas
Serviços Médicos
Movimento e
equilíbrio
Dr. Charles Souleyman Al Odeh
CMO do Americas
Serviços Médicos
Conselho Editorial
Dr. Charles Souleyman Al Odeh
Dr. Dario Fortes Ferreira
Dr. Evandro Tinoco Mesquita
Dr. Fernando Leal
Dr. Fernando Meton
Dr. Hyran Godinho
Dr. Valter Furlan
Marketing e Comunicação
Rodrigo Ferreira da Rocha
Diretor de Marketing e
Comunicação UnitedHealth
Group Brasil
Mariana Vendemiatti
Gerente de Marketing
Americas Serviços Médicos
Ranny Alonso
Gerente de Comunicação
Corporativa UnitedHealth
Group Brasil
Renato Duarte Portugal
Controller de Conteúdo e
Qualidade UnitedHealth
Group Brasil
A revista Americas é uma
publicação trimestral do
Americas Serviços Médicos,
distribuída gratuitamente a
todos os médicos que integram
seu corpo clínico. As opiniões
das fontes entrevistadas
expressas no conteúdo da
revista são pessoais e não
refletem, necessariamente, a
opinião da companhia.
Tiragem: 18 mil exemplares
Impressão: Gráfica Sag
Foto de capa: Shutterstock
www.rspress.com.br
Jornalista Responsável
Roberto Souza (Mtb 11.408)
Editor-Chefe
Fábio Berklian
Editor
Rodrigo Moraes
Reportagem
Daniella Pina,
Julia Fabri,
Madson de Moraes e
Verônica Monteiro
Revisão
Paulo Furstenau
Projeto Editorial
Rodrigo Moraes
Projeto Gráfico
Leonardo Fial
Diagramação
Leonardo Fial,
Luis Gustavo Martins e
Rodrigo Coelho
O escritor, consultor de desenvolvimento humano e organizacional
e uma das grandes referências nacionais em educação corporativa, Eugenio Mussak, disse certa vez que “a busca do equilíbrio depende de
aprendizado e experiência”. A frase é simples, direta, mas cheia de significados e simbolismos, assim como a ideia exposta na capa da primeira
edição da revista Americas – Medicina Especializada e Saúde. Falamos
sobre equilíbrio. Falamos sobre a busca que move a vida das pessoas,
assim como move as empresas e seus respectivos segmentos de mercado. É assim na área de saúde. É assim no Americas Serviços Médicos.
Vivemos um exercício perene de busca do equilíbrio, da sustentabilidade financeira e da qualidade no atendimento, no acesso e na atenção
aos profissionais da Medicina. Tudo isso em prol do paciente.
A reportagem principal desta edição (Em Alta) traz a opinião de
especialistas de diferentes áreas sobre os diversos modelos atuais de
assistência em saúde, entre eles o conceito do Quadruple Aim, e sobre
o quanto o médico exerce papel fundamental nessa cadeia.
A edição traz ainda uma reportagem (Inovação) sobre as revoluções – em curso e que ainda virão – causadas pela entrada definitiva
da alta tecnologia na saúde, na qual profissionais de mercado falam
sobre como a inteligência artificial vem transformando a rotina clínica
de médicos e pacientes.
Falamos também sobre os mitos e as verdades que envolvem a
febre amarela (Saúde em Foco) e a curiosa história do Dr. Maurício Jordão, cardiologista de São Paulo (SP) que, nas horas vagas, troca o bisturi pela cartola e pelo baralho para se dedicar ao mundo da mágica - leia
na editoria Sem Jaleco. Apresentamos ainda uma reportagem (Onde,
Quando e Por quê?) sobre o Jalapão, no Tocantins. É possível também
acompanhar algumas das principais notícias e novidades das unidades
do grupo Americas Serviços Médicos.
Por fim, tivemos a honra da participação do escritor Eugenio Mussak,
já citado acima, com um artigo na seção Mentis et Corporis. Ele trouxe
uma mensagem exclusiva sobre o momento atual vivido pelo Americas,
que requer coragem, criatividade, imaginação e, claro, movimento
para se manter em equilíbrio.
Espero que aprecie a publicação e seja bem-vindo ao Americas
Serviços Médicos! Boa leitura!
Luiz de Luca
CEO do Americas Serviços Médicos
4 Beleza na Medicina
5 Digital
6 ENTREVISTA
Luiz de Luca, CEO do
Americas Serviços Médicos
10 Em Alta
Alternativas à insustentabilidade
dos modelos atuais de
assistência médica
16 Saúde em Foco
Mitos e verdades sobre a crise
da febre amarela no Brasil
18 Inovação
Inteligência artificial e a
revolução na medicina
22 Sem Jaleco
Cardiologista de São Paulo
tem a mágica como hobby
24 Mentis et Corporis
Imagine…,
por Eugenio Mussak
26 Onde, quando
e por quê?
Jalapão: um oásis no
cerrado brasileiro
28 Por dentro
do Americas
30 Grupo Americas
3
Shelley Halpain/UC San Diego
Beleza na medicina
Neurônio do hipocampo
em cultura
Os dendritos são verdes; as espinhas dendríticas,
vermelhas; e o DNA no núcleo da célula é azul.
A imagem foi destaque no blog Biomedical Beat
(biobeat.nigms.nih.gov), no post Anesthesia and
Brain Cells? A Temporary Disruption?
4
AMericas
Digital
INOVAÇÃO
A reportagem
Inteligência artificial
e a revolução na
Medicina, publicada
na editoria Inovação,
fala sobre algumas
iniciativas (startups
e apps) que podem
influenciar o futuro da
Medicina. Saiba mais
sobre elas nos links
abaixo. Veja também
um vídeo sobre o IBM
Watson, sistema de
computação cognitiva
que, segundo a
empresa, já leu toda
a literatura médica
disponível no mundo:
Nas Mídias
Sociais
Sem Jaleco
O ‘médico mágico’ Maurício
Jordão fez uma rápida
demonstração informal de
um de seus truques para
a equipe de reportagem
da revista Americas.
Assista na versão digital
da revista e tente não
ficar impressionado!
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Americas no Facebook?
Acesse e fique por dentro
das novidades do grupo.
Também dedicado ao público
leigo, o espaço oferece
informações sobre saúde
e qualidade de vida.
Acesse www.facebook.com/
americasmed
Dicas e
sugestões
IBM Watson
goo.gl/ZL3bsu
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Americas, envie-nos suas
impressões, sugestões e
dicas para revistaamericas@
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baylabs.io
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Arterys
arterys.com
Laura Networks
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Berg Health
berghealth.com
Boas-Vindas
ao Americas
O Americas Serviços Médicos lançou
um hotsite que contém a missão
e os valores da empresa, além de
informações sobre os principais
hospitais e centros especializados
do grupo. O espaço também
disponibiliza um formulário para
solicitação de mais informações e
envio de sugestões.
Acesse:
www.boasvindasamericas.com
Nº 01 2017
5
CEO do Americas
Serviços Médicos, Luiz
de Luca quer instituir
modelos inovadores,
balizados pelas
necessidades dos
pacientes, dos médicos
e das operadoras.
No comando do grupo,
ele fala também sobre
o desejo (e as ações)
para transformar o
cenário da assistência
médico-hospitalar
no País
6
POR DANIELLA PINA
Grupo em
transformação
ENTREVISTA
AMericas
ENTREVISTA
Presente em cinco estados brasileiros e no Distrito Federal, o Americas Serviços
Médicos é composto por instituições reconhecidas no mercado da assistência médico-hospitalar. Sua constituição como unidade de negócios do
UnitedHealth Group Brasil, em agosto de 2016, teve como objetivo principal oferecer acesso a serviços especializados de alto nível e garantir excelência, segurança e solidez aos pacientes. Nesta entrevista, o CEO do Americas
Serviços Médicos, Luiz de Luca, fala sobre esse processo, o qual ele define
como uma “transformação”. Ele também reafirma o compromisso em oferecer
a melhor assistência à saúde, com foco no alto desempenho e na inovação,
buscando a melhor experiência para clientes e médicos.
Quais são as principais propostas
do Americas Serviços Médicos?
?
! A qualidade da assistência e a segurança dos pacientes são os maiores direcionadores do nosso trabalho. Apuramos nosso
olhar para os detalhes, a fim de atingir uma
maturidade diferenciada. Investimos na
capacitação dos processos para constituir
um nível de alinhamento e homogeneização em todas as unidades do grupo. Para
isso, utilizamos indicadores de assistência
que nos ajudam a olhar dentro das estruturas hospitalares e aprender com as melhores práticas. Outro ponto relevante é olhar
as especialidades como posicionamento
estratégico do grupo Americas. Atuaremos
por meio de núcleos de especialidades para
a integração da assistência.
Qual é o papel da tecnologia
nessa construção?
Americas / Divulgação
?
Nº 01 2017
! Estamos totalmente focados na adoção
de novas tecnologias e na capacitação dos
profissionais de saúde em seu uso. No fim
de junho, teremos a inauguração de uma
unidade no Rio de Janeiro para treinamento de técnicas cirúrgicas de alta precisão.
Trata-se de um projeto do UnitedHealth
Group Brasil em parceria com uma das mais
importantes instituições de ensino e pesquisa na área em todo o mundo, o Instituto
de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica (IRCAD).
Esse centro representa uma oportunidade
para os médicos e torna efetivo nosso objetivo de melhoria do processo assisten-
cial, com capacitação, desenvolvimento e
disseminação de novas tecnologias. Além
do centro de treinamento propriamente,
como o IRCAD-Rio, estamos investindo
em tecnologia na integração do suporte à
assistência, como acontece no Americas
Centro de Oncologia Integrado (COI), desde o diagnóstico até a alta do paciente oncológico. Essa ferramenta é desenvolvida
pela Optum – empresa do UnitedHealth
Group Brasil que oferece serviços de saúde
integrados à tecnologia da informação.
Quais desafios precisarão
ser enfrentados?
?
! Os grandes desafios são fortalecer a visão de trabalhar os processos assistenciais,
o posicionamento de mercado baseado em
especialidades e o incremento sustentável da tecnologia em todas as unidades do
grupo. Não conseguimos ver esses itens de
maneira dissociada. Nosso compromisso é
trazer uma medicina diferenciada, baseada
no processo de especialização, oferecendo
mais benefício, resolubilidade e integração
da assistência.
? Com que indicadores o grupo
pretende direcionar sua rota?
Temos trabalhado duas linhas importantes: a primeira delas está relacionada
à experiência do paciente. Nesse ponto,
buscamos entender as necessidades de
nossos clientes para melhorar sua experiência. O Net Promoter Score (NPS) tem
sido um indicador e direcionador importante, pois traz a linha mestra da evolução do relacionamento com o paciente.
A outra linha é o relacionamento com os
médicos. Temos o Customer Relationship
Management (CRM) específico para esses
profissionais, que nos ajuda a melhorar
o entendimento de suas necessidades.
Queremos que os médicos façam parte do
crescimento do Americas.
!
7
ENTREVISTA
“
Como as operadoras entram
na estratégia do Americas
Serviços Médicos?
?
! Cada vez mais, queremos desenvolver
projetos especiais com operadoras, quaisquer que sejam – de autogestão, seguradoras e medicina de grupo, entre outras –,
para que possamos entender e responder
às necessidades do mercado. Como Americas, podemos oferecer o modelo de uma
rede assistencial que atenda a diversos produtos que se deseje desenvolver.
O que a constituição do Americas
representa para o dia a dia dos
médicos que atuam nas unidades?
?
! Para os médicos, o que muda são as
perspectivas de desenvolvimento, os recursos disponíveis e a oportunidade de troca
com outros hospitais do grupo, em outros
estados e até fora do País. Esse médico sai
de uma unidade celular para ter uma unidade de sistema, e isso representa possibilidades muito maiores de referenciar e de ser
referenciado. Abre-se um leque de oportunidades de desenvolvimento que era mais
limitado, até então. Esse é o grande diferencial: uma visão ampliada.
Eficiência
Eficiência
Para os médicos,
o que muda são
as perspectivas de
desenvolvimento,
os recursos
disponíveis e a
oportunidade de
troca com outros
hospitais do
grupo, em outros
estados e até fora
do país
”
? Em um momento que o País
passa por reformas importantes e
se discute quais caminhos a saúde
irá seguir, como o Americas pode
inovar para aperfeiçoar o modelo de
assistência vigente?
! O conceito do Americas Serviços Médicos inclui instituir modelos inovadores.
Não estamos presos ao modelo pré-concebido do fee-for-service. Em vez de per-
Transformação
Transformação
manecer em transações unitárias, nossos
serviços compreendem um contexto assistencial integrado. A integração de várias
especialidades e dos recursos de outras instituições é importante para o médico, pois
não o torna refém de transações unitárias.
Temos, portanto, acesso a recursos de que
outros grupos não dispõem e podemos ter
alto desempenho à medida que aprofundamos essa integração.
? O que inspira o Americas Serviços
Médicos?
Poder trazer a transformação e uma mudança real para o mercado de saúde. Como
instituição, o Americas Serviços Médicos
quer ser pioneiro nesse processo. Sabemos
que ainda levará algum tempo, que aprenderemos com os erros, mas persistiremos.
Transformar é a nossa grande inspiração.
!
Como vê o futuro do grupo
projetando essa visão para
daqui cinco anos?
?
! O futuro está em construção. São blocos
que estão sendo posicionados para que possamos chegar a um modelo de saúde mais
eficiente. Estamos trabalhando com competência, desempenho, eficiência e transformação, e a imagem de futuro será a construção
final desses blocos. Estamos construindo
uma referência e fazendo algo que nunca
foi feito para chegarmos a esse futuro.
? A revista Americas é focada
no corpo clínico do grupo.
Qual a importância de ter
um canal como esse?
Competência
Competência
8
Desempenho
Desempenho
! Queremos mostrar nossa realidade ao
corpo clínico, bem como aos colaboradores, às operadoras e demais públicos.
Esperamos fortalecer nossos canais de
comunicação para que todos compreendam nosso posicionamento e nossas aspirações, para que possamos crescer juntos.
Todos fazem parte dessa transformação.
É preciso entender que ainda temos problemas, mas estamos trabalhando para
transformá-los. Para isso, precisamos estar na mesma sintonia de crescimento e
de desenvolvimento.
AMericas
Nº 01 2017
9
EM ALTA
10
AMericas
EM ALTA
Valor em
saúde
Especialistas discutem
alternativas à
insustentabilidade
dos modelos atuais de
assistência médica
Shutterstock
POR Daniella Pina
e Madson de Moraes
Nº 01 2017
Há um consenso de que o modelo atual de assistência médica no Brasil não é mais sustentável economicamente. Gestores de instituições de saúde estão
se vendo agora diante do desafio de modernizar esse
sistema em um cenário econômico pouco favorável.
Para pesquisadores consultados pela revista Americas, o setor precisa aperfeiçoar a gestão dos serviços,
coibir desperdícios, tornar os protocolos médicos
bem mais eficientes, debater modelos de remuneração alternativos ao fee-for-service e priorizar a prevenção e promoção da saúde ao menor custo per
capita – visando aprimorar a qualidade da assistência médica para a população.
Estamos falando de um setor cujos gastos tendem a crescer por várias razões ao longo dos anos.
A incorporação de novas tecnologias, terapias, medicamentos e exames, além do envelhecimento da
população e da migração das pessoas com planos de
saúde para a rede pública, leva o próprio sistema de
saúde a buscar uma mudança em toda a cadeia de
processos para evitar uma asfixia. O diretor científico do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente (IBSP), Lucas Zambon, avalia que, mais do que o
próprio modelo assistencial em si, a falha está muito
relacionada a como se faz a gestão.
“O que acontece é que o gerenciamento dos
custos é feito pelos gestores, deixando a pauta da
sustentabilidade em segundo plano. Acabamos
olhando só as cifras, o que entra e o que sai, e eventualmente fazendo uma gestão sem racionalizar o
sistema como um todo. Você executa a assistência
médica sem estar atrelado a metas e objetivos ou
mesmo sem utilizar os recursos de forma racional.
11
EM ALTA
Em longo prazo, isso é ruim para o paciente, para o profissional e para o sistema de saúde. Tem de haver uma mudança no sistema”, sustenta Zambon.
Coibir desperdícios decorrentes dos
pedidos de exames pode ser uma das chaves para reduzir esses custos. Um estudo
produzido pelo Instituto de Estudos de
Saúde Suplementar (IESS) mostrou que,
em 2015, dos mais de R$ 22 bilhões gastos por operadoras de planos de saúde no
País com contas hospitalares e exames,
quase metade foi destinada a exames laboratoriais que não eram necessários.
“O desperdício existe por utilização
excessiva, equivocada ou até abaixo da
desejável, sendo que, nesse caso, o que é
feito acaba sendo desperdício. Conhecimento, incentivos adequados e evidências
desenhadas sem conflitos de interesse seriam uma boa maneira de reduzir o que se
perde. Por outro lado, qualidade de vida e
saúde têm a ver, entre tantas coisas, com
a adesão da população e demais determinantes sociais. Por isso, não há solução
simples nem rápida”, ressalta Ana Maria
Malik, professora titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Quadruple
aim
Falta para o sistema de saúde algo que
Marcelo Pedroso, economista e coordenador do Núcleo de Estudos no Setor de
Saúde da Faculdade de Economia da USP,
chama de maturidade gerencial. “Quando um setor está num determinado grau
de maturidade gerencial é porque um
conjunto de circunstâncias o levou até lá.
Há vários setores mais maduros em termos de gestão do que a saúde. O grande
gargalo hoje é essa capacitação gerencial
das organizações. A saúde tem várias ineficiências globais – a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os desperdícios correspondam a algo entre 20%
e 40% de todos os gastos com saúde – que
acabam sendo incorporadas ao sistema.
Se for para trazer mais eficiência ao processo, é preciso olhar o sistema de saúde
do país como um todo, tanto o privado
quanto o público, para fazer um redesenho”, garante.
Uma abordagem para todas essas
questões nos serviços de saúde que ganhou força nos últimos anos é o Triple
Aim, modelo lançado em 2008 pelo Institute for Healthcare Improvement (Instituto para a Melhoria da Assistência à Saúde).
O conceito envolve melhorar a saúde da
Melhoria da saúde
da população
Melhoria da
experiência
do paciente
Colaboradores
satisfeitos
12
Custos de
cuidados
reduzidos
população, aperfeiçoar a experiência do
paciente em termos de cuidado, acesso
e confiança e reduzir o custo. Em outras
palavras: para garantir sustentabilidade
ao sistema, a busca pela melhor saúde e
cuidado para o cidadão passa pelo menor
custo per capita. Mais recentemente, uma
quarta vertente (Quadruple Aim) sugere
a sustentabilidade do sistema, tornando
também a experiência das equipes de saúde mais positiva dentro dele.
“É importante que os colaboradores
estejam satisfeitos e atuantes em seus
ambientes de trabalho, com o respeito da
organização, sentindo-se parte do processo de cuidado e gestão. Nosso maior
desafio hoje é trazer os colaboradores
para fazer parte desse processo, recebendo isso como uma preocupação da organização da qual eles fazem parte”, destaca o CEO do Americas Serviços Médicos,
Luiz de Luca.
AMericas
EM ALTA
Americas / Taba Benedicto
O fee-for-service está
com os dias contados?
Lucas Zambon,
diretor científico
do Instituto
Brasileiro para
Segurança do
Paciente (IBSP)
Nº 01 2017
Um relatório publicado em 2014 pela State
Health Care Cost Containment Commission,
comissão organizada pela Universidade da
Virgínia, nos EUA, trouxe recomendações
para a sustentabilidade do sistema de saúde
norte-americano. Segundo o estudo, ao eliminar o fee-for-service, que fragmenta os custos, seria possível reduzir significativamente
os gastos com a saúde. Será que esse modelo está com os dias contados? “Há pelo menos 30 anos, fala-se que sim, mas no Brasil
o modelo continua e é defendido por muitos
stakeholders do setor. Ele causa distorções?
Sim, mas, na verdade, qualquer modelo pode
ter essa característica porque nenhum ocorre
num mercado perfeito”, afirma Ana Maria.
Embora o fee-for-service acabe estimulando a realização de procedimentos, mudar para
algum modelo alternativo de pagamento não
é fácil, embora possível e desejado. “Há várias
alternativas possíveis de remuneração – por
exemplo, o pay for performance, os DRGs e o
fee-for-value. Na verdade, nenhum é perfeito.
Mesmo que fosse possível uma combinação
entre os diferentes modelos, a definição sobre o quanto deveria ser pago estaria sujeita a
questionamentos”, pondera Ana Maria.
Para Tania Furtado, professora pós-doutora em planejamento e avaliação de serviços em saúde pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), culpar exclusivamente o
fee-for-service pelas mazelas do sistema atual
é simplificar demais. “A questão não é matar
o fee-for-service, até porque existem contextos
de prestação de serviço de alta complexidade,
custo elevado, extrema gravidade ou grande
raridade no evento, nos quais o fee-for-service
se enquadra. É evitar seu superuso, banalização e desvio de uso atual”, sustenta Tania.
Ela, que também é pesquisadora do Núcleo
de Liderança e Desenvolvimento de Competências Empresariais para a Saúde da FGV, reforça
que todos os modelos necessitam de um forte
componente de abordagem de saúde populacional com conhecimento de estratificação de
risco em pirâmide. Sem isso, explica, qualquer
sistema, inclusive o fee-for-service, será um salto no escuro sem garantias de sustentabilidade
financeira em médio e longo prazos.
13
EM ALTA
14
André Volschan, coordenador
de Ensino e Pesquisa do
Hospital Pró-Cardíaco
Embora a redução de custos não seja o
foco prioritário da campanha, o aumento
das despesas médicas e hospitalares também é uma preocupação dos entusiastas da
Choosing Wisely, já que estudos demonstram que o desperdício no sistema de cuidados de saúde pode ser de até 30%. “Isso
significa que, mantendo a mesma qualidade assistencial, poderíamos ser mais custo-efetivos”, diz o coordenador de Ensino e
Pesquisa do Hospital Pró-Cardíaco. Para
ele, o médico constitui parte fundamental
no processo de mudança, pois participa em
80% dos gastos do sistema de saúde.
É necessário, portanto, que as condutas gerem resultados relevantes – incluindo os clínicos propriamente ditos e a experiência do paciente –, pois representam
o real valor do cuidado. “Essas estratégias
devem ser iniciadas na formação dos profissionais ainda na graduação, estimulando discussões de condutas e seu impacto
no paciente e sistema de saúde”, conclui.
Arquivo pessoal
Entusiasta da campanha Choosing Wisely,
o coordenador de Ensino e Pesquisa do
Hospital Pró-Cardíaco, André Volschan,
explica que o overuse de exames e procedimentos pode trazer danos por condutas
inapropriadas, além de gerar desequilíbrio nos recursos aplicados no sistema de
saúde. A Choosing Wisely é uma iniciativa
do American Board of Internal Medicine
(Abim), que combate o uso excessivo de
exames e procedimentos médicos que
não tragam benefício aos pacientes, com
maior participação destes nas decisões.
A campanha tem a participação de
diversas sociedades médicas para que sejam considerados os diferentes aspectos
do problema. Após discussões, as entidades são estimuladas a listarem condutas – por meio de diretrizes e protocolos
– que devem ser evitadas. Os documentos
orientam profissionais sobre as melhores
práticas, contextualizadas a cada local de
atuação e considerando aspectos específicos de diferentes realidades assistenciais.
A identificação de falhas no processo de
implementação passa pelo acompanhamento da adesão aos protocolos e às auditorias de rotina, visando melhorar o ciclo
de cuidado continuamente.
O paciente tem papel fundamental
nesse cenário e, para que se produza um
ambiente de confiança, um dos pontos
mais importantes é fortalecer o diálogo médico-paciente. “A capacidade de
comunicação está entre as várias competências exigidas do médico contemporâneo. É essencial que o profissional
converse com o paciente sobre suas estratégias de diagnóstico e tratamento. O
paciente, por sua vez, deve questionar
sempre que tiver dúvida sobre a conduta
a que será submetido”, explica Volschan.
De acordo com ele, a campanha sugere
cinco perguntas que podem sintetizar essas questões: 1) Realmente preciso desse
teste ou procedimento?; 2) Quais são os
riscos?; 3) Existem opções mais simples
ou mais seguras?; 4) O que pode acontecer se eu não fizer nada?; 5) Quais são os
custos envolvidos?
Americas / Taba Benedicto
Escolhas sábias
AMericas
EM ALTA
Alguns projetos-pilotos já estão em execução no Americas Serviços Médicos para
alcançar o que se espera de um sistema
de saúde mais sustentável e custo-efetivo.
Em parceria com a empresa Optum, especializada em otimização de sistemas de
“
saúde, e a operadora Amil, o Americas está
apostando no Inpatient Grouper (IPG),
um sistema de codificação e mensuração
de assistência. De acordo com o CEO do
Americas Serviços Médicos, trata-se de
um modelo de avaliação com gravidade e
valoração do processo.
Há também o MCG Health, uma ferramenta que auxilia instituições de saúde
Arquivo pessoal
Estratégias adotadas
pelo Americas
Serviços Médicos
Conhecimento,
incentivos
adequados
e evidências
desenhadas sem
conflitos de interesse
seriam uma boa
maneira de reduzir
o desperdício
”
Americas / Taba Benedicto
Ana Maria Malik,
professora titular da Escola de
Administração de Empresas
de São Paulo, da FGV
Nº 01 2017
a implementar linhas de cuidados pautadas pela medicina baseada em evidências.
O processo une protocolos específicos e
trabalha todos os estágios da assistência
ao paciente, desde sua entrada no pronto-socorro. Ele define, por exemplo, critérios
no cuidado e o tempo de permanência necessário para ter uma assistência mais eficaz, garantindo que o uso de recursos e o
tempo de permanência no hospital sejam
adequados, sem sobrecarregar recursos
desnecessariamente, sobretudo no momento intra-hospitalar.
Para avaliar a percepção do valor em
saúde, são necessários atividades, processos e recursos de mensuração por meio de
uma metodologia de gestão. Uma importante ferramenta nesse sentido é o balance
score card (BSC), que trabalha quatro perspectivas voltadas à participação de pessoas
(aprendizado e crescimento), processos,
mercado e resultados financeiros. “Estamos aplicando essa metodologia no Americas para alcançar o que esperamos do
Quadruple Aim. O BSC engloba todos esses
conceitos: treinamento de pessoas, utilização de processos internos, estreitamento
da relação com nossos clientes (pacientes,
operadoras de saúde ou empresas que contratam planos de saúde para serem assistidos em nossos hospitais) e resultados econômico-financeiros”, explica Luiz de Luca.
Segundo ele, as iniciativas requerem tempo
e treinamento das equipes. O cenário também envolve tempo de adequação das unidades físicas, melhoria de processos e tecnologia da informação, para que, de fato,
seja possível otimizar os resultados. “Nosso
foco sempre será o resultado assistencial,
mas, como empresa, também precisamos
ser viáveis econômica e financeiramente”,
explica. Um dos objetivos dessas iniciativas
é tornar a marca Americas ainda mais sólida e trabalhar de forma homogeneizada
em todas as unidades de saúde do grupo.
“Baseamos nossa gestão de saúde nesses
conceitos e não temos dúvida de que a percepção de valor do processo assistencial
será percebida como o resultado que queremos disponibilizar no mercado”, completa o CEO do Americas Serviços Médicos.
15
Shutterstock
SAÚDE EM FOCO
Mitos e
verdades
sobre a
febre amarela
Tudo começou quando, em dezembro do
ano passado, macacos foram encontrados mortos com suspeita de febre amarela silvestre nas regiões rurais e de mata
de Minas Gerais. Isso acendeu um alerta
entre especialistas e autoridades, pois as
mortes desses animais são um aviso de
que a doença pode estar presente em determinada região. Desde então, o que era
suspeita se transformou em surto e novos
casos já ocorreram em outros estados, trazendo preocupação para a população. E
não é para menos: o atual surto da febre
amarela silvestre, com mais de 500 casos
confirmados até o momento, é considerado o maior dos últimos 37 anos.
Um dos boletins divulgados pelo Ministério da Saúde apontava 187 mortes por
causa da doença no País desde dezembro
de 2016. Minas Gerais continua sendo o
estado mais afetado. Espírito Santo, São
Paulo, Bahia, Tocantins e Rio Grande do
Norte têm casos investigados ou confirmados. A Organização Mundial da Saúde
(OMS) estima que a doença mate até 60
mil pessoas por ano no mundo.
Vale dizer que o atual surto da febre
amarela não tem relação com o mosquito
Aedes aegypti, transmissor de doenças
como dengue e zika vírus. Os casos e as
mortes notificados até agora por febre ama-
16
Com mais de 500 casos
confirmados (até o fim de
março) pelo Ministério da
Saúde, o atual surto da
febre amarela silvestre
é considerado o maior dos
últimos 37 anos
Por Madson de Moraes
rela são os silvestres, ou seja, adquiridos em
regiões rurais e de mata. Os vetores são os
mosquitos do gênero Sabethes e Haemagogus, e não o Aedes, vetor transmissor da
doença em áreas urbanas. Desde 1942, o
Brasil não registra casos de febre amarela
por transmissão urbana.
No entanto, a preocupação de a febre
amarela chegar ao meio urbano é grande por causa da numerosidade do Aedes
nas cidades. Para a médica infectologista
Bianca Miranda, do Hospital Samaritano
de São Paulo, o risco existe e é bem real. “A
alta densidade populacional do Aedes torna
real o risco de transmissão no meio urbano.
Com alto trânsito de pessoas entre cidades
e estados, o vírus realmente pode acabar
chegando às cidades”, adverte.
Na maioria dos casos, a doença se apresenta com sintomas como mal-estar, febre
alta de início repentino, dor no corpo e de
cabeça - bem semelhantes aos de outras
doenças e viroses comuns. Após alguns dias,
até ocorre melhora da febre e dos sintomas
gerais, o que dura de duas horas a dois dias,
e a pessoa chega a pensar que está melhorando. “Nas fases iniciais, não há como diferenciar a febre amarela de outros vírus, e
a maioria das pessoas infectadas desenvolve
sintomas muito leves, que se parecem com
outras viroses comuns”, afirma a médica.
Idosos, gestantes e lactantes devem ser avaliados por
médicos antes de receberem a imunização
AMericas
SAÚDE EM FOCO
Quem precisa e
deve se vacinar?
A vacinação de rotina para febre amarela é ofertada em 19 estados (Acre, Amapá,
Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás,
Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio
Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa
Catarina, São Paulo e Tocantins), com recomendação para imunização. Vale destacar
que na Bahia, no Piauí, em São Paulo, no
Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa
Catarina, a vacinação não ocorre em todos
os municípios. Além das áreas com recomendação, também está sendo vacinada,
de forma escalonada, a população do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. Todas as pessoas que vivem nesses locais devem tomar
uma dose da vacina ao longo da vida.
Presente no Calendário Nacional de
Vacinação do Ministério da Saúde, a vacina é oferecida para moradores dessas
áreas a partir dos nove meses de idade e
disponibilizada gratuitamente em postos
de saúde da rede pública de todas as ciNº 01 2017
dades do País. No caso de surto, ela pode
ser antecipada para os seis meses de idade. Depois, uma segunda dose é dada aos
quatro anos, o que garante a proteção por
toda a vida. Para pessoas de dois a 59 anos,
a recomendação é de duas doses, sendo a
segunda aplicada após um intervalo de 10
anos. O estado de São Paulo, por sua vez,
usa a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que considera que
apenas uma dose da vacina é suficiente
para proteger pelo resto da vida.
“Todas as pessoas que viajam para áreas
endêmicas em que há recomendação da
vacina devem tomá-la ao menos 10 dias
antes da viagem, pois esse é o tempo de que
nosso sistema imunológico precisa para
produzir níveis de anticorpos suficientes
para nos proteger da infecção. Isso serve
para estrangeiros ou brasileiros que se desloquem de áreas sem recomendação para
áreas com recomendação de vacinação”,
adverte a infectologista Bianca Miranda.
“
Todas as pessoas que
viajam para áreas
endêmicas em que há
recomendação da vacina
devem tomá-la ao menos
10 dias antes da viagem
”
Bianca Miranda,
infectologista do Americas Serviços Médicos
Arquivo pessoal
O que pode acontecer após esse pequeno período é uma versão mais grave da
doença, quando podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele
amarelados), manifestações hemorrágicas
e cansaço intenso. “É nessa fase que as
complicações acontecem, podendo haver
acometimento de órgãos vitais, como fígado, rins, coração e sistema nervoso central”,
reforça Bianca. Vale dizer que uma pessoa
não transmite a doença diretamente para
outra - a transmissão é feita apenas pela picada de mosquitos infectados.
Quem apresentar quadro de febre alta
súbita, dor no corpo intensa e mal-estar
significativo, acompanhado ou não de icterícia, deve procurar o quanto antes um médico. “Essa conduta é primordial para que
sejam feitos uma avaliação clínica e um
diagnóstico diferencial de outras doenças
que também podem ser graves, como dengue, malária, leptospirose e hepatites virais,
além de ser indicado tratamento imediato.
O tratamento precoce pode salvar a vida”,
afirma a infectologista.
Quem não mora nessas
áreas deve se vacinar?
Segundo Bianca, quem não tem risco de
exposição não tem necessidade de se vacinar. “A vacina é aplicada pelo Programa
Nacional de Imunizações do SUS em quase
todo o País. Em áreas urbanas onde não há
indícios de circulação do vírus nem em primatas não humanos, a vacina é desnecessária. Mas há indicação de vacinação para
pessoas que irão se deslocar para áreas de
alta prevalência da doença ao menos 10
dias antes da viagem”, explica.
É preciso ficar atento porque alguns
perfis exigem uma avaliação médica antes de se imunizar, como idosos, gestantes
e lactantes. “Para indivíduos acima de 60
anos que nunca tomaram a vacina, a indicação deve ser avaliada de acordo com o
risco de adoecer. Tudo depende do risco ao
qual estão expostos, da presença de outras
doenças crônicas e do uso de medicamentos. A partir dos 60 anos de idade, a indicação da vacina deve ser mais criteriosa”,
adverte a infectologista.
A vacina para a febre amarela é contraindicada para crianças com menos de
seis meses de idade, pacientes infectados
pelo HIV com imunossupressão grave, pacientes em tratamento com drogas imunossupressoras (corticosteroides, quimioterapia, radioterapia, imunomoduladores),
submetidos a transplante de órgãos, com
imunodeficiência primária, com neoplasia,
pessoas com história de reação anafilática
relacionada a substâncias presentes na vacina (ovo de galinha e seus derivados, gelatina e outros produtos que contêm proteína animal bovina) e pessoas com história
pregressa de doenças do timo (miastenia
grave, timoma, casos de ausência de timo
ou remoção cirúrgica).
A única forma de evitar a febre amarela
silvestre é a vacinação contra a doença. Por
enquanto, não foi detectada sua transmissão pelo Aedes aegypti, mosquito transmissor da febre amarela nas áreas urbanas. A
melhor ação na prevenção da febre amarela é impedir a proliferação do mosquito,
adotando-se ações como acabar com a água
parada em qualquer tipo de recipiente.
17
INOVAÇÃO
18
e a maioria dos provedores de saúde terão
algum tipo de experiência com inteligência
artificial empoderando a prática médica”,
aposta Eduardo Cipriani Almeida, líder de
Watson Health na IBM Brasil.
O Watson é um caso a ser destacado
nesse universo: ele é um sistema de computação cognitiva que, segundo a IBM, já
leu toda a literatura médica que está disponível no mundo e já tem bancos de dados
para cânceres de mama, de pulmão, gastrointestinal, de cólon e cervical. Para você
ter uma ideia, em 2016, o Laboratório de
Por Madson
de Moraes
Shutterstock
A inteligência artificial (IA) está dentro da
nossa vida e dessa revolução não dá mais
para fugir. Quando usamos o aplicativo
Waze, buscamos algo no Google ou recebemos uma indicação de livro feita pela Amazon, por exemplo, estamos mergulhados
nessa tecnologia. E a medicina não passaria incólume do impacto causado pela IA.
Supercomputadores capazes de armazenar dados e processar informações para
detectar e diagnosticar doenças não são
mais coisa de filme de ficção científica - já
são realidade e essa revolução interessa a
governos, operadoras, administradores de
planos, hospitais, farmacêuticas e médicos. Toda a indústria da saúde será afetada
– para melhor – pela inteligência artificial.
Segundo análise feita pela empresa
norte-americana Frost & Sullivan, até 2025
os sistemas de inteligência artificial de-
Supercomputadores
capazes de
armazenar dados
e processar
vem se envolver em todos os aspectos e
informações
processos na saúde, desde a gestão até as
para detectar
consultas específicas com pacientes. “Não
estamos falando de futuro, mas do que já
e diagnosticar
é realidade em diversos lugares no mundo.
doenças já são
Eu diria que, em dois ou três anos, a maioria
da indústria da saúde dentro dos hospitais
realidade
AMericas
INOVAÇÃO
Um médico
precisaria
estudar mais de
160 horas por
semana para
poder se manter
atualizado.
Um paciente
com câncer
gera cerca de
1 terabyte de
dados diários
com exames,
sendo que
apenas 0,5%
desses dados
é avaliado
Medicina da Universidade de Tóquio utilizou o computador da IBM para diagnosticar um tipo raro de câncer em uma idosa
de 66 anos, apontando o tratamento mais
adequado. E fez tudo isso em menos de 10
minutos. Na prática, o médico reúne todas
as informações necessárias sobre o paciente e as fornece ao Watson, que responderá
com os possíveis tratamentos.
“Com essa explosão de dados e informações na literatura médica, precisamos
instrumentalizar e empoderar o médico.
E isso é feito deixando que a inteligência
artificial se encarregue de toda essa carga
operacional de correlacionar as informações do paciente, as evidências e os estudos científicos, os possíveis tratamentos e
efeitos colaterais, por exemplo, para que
esse médico, tendo todas essas informações em mãos, possa tomar a melhor deciNº 01 2017
19
INOVAÇÃO
são. A tecnologia libera mais tempo para o
médico pensar e interagir com o paciente”,
afirma Cipriani.
Nos programas de inteligência artificial
como o Watson, programadores alimentam
os softwares com algoritmos avançados e
os expõem a uma quantidade gigantesca
de dados do big data, usando técnicas de
IA como machine learning (aprendizado
de máquina) ou deep learning (aprendizado profundo). Subsidiados, então, com
esses dados – que podem ser informações
de cada paciente, indicadores de saúde da
população, características das doenças e
toda a literatura médica e científica produzida –, esses algoritmos acabam “aprendendo” sobre determinada doença. Assim,
conseguem reconhecer insights e hipóteses colhidas nesses dados e as fornecem
ao médico ou profissional de saúde, o que
amplifica sua capacidade de escolher o tratamento mais adequado.
E o volume de informações na saúde
não para de crescer. Um médico precisaria
estudar mais de 160 horas por semana para
conseguir se manter atualizado. Um paciente com câncer, por exemplo, gera cerca
de 1 terabyte de dados diários com exames,
sendo que apenas 0,5% desses dados são
Conheça cinco iniciativas de
inteligência artificial na Medicina
Enlitic
A empresa desenvolveu um algoritmo que pode aumentar a precisão
e leitura dos exames radiológicos. Em um teste feito com uma base
de 6 mil diagnósticos positivos e negativos de câncer de pulmão, o
resultado indicou que a leitura feita pelo software foi 50% mais precisa
do que a leitura feita por médicos radiologistas. A empresa quer
comercializar sua tecnologia como algo que “capacite” os radiologistas
em vez de “substituí-los”.
Bay Labs
A startup já recebeu 2,5 milhões de dólares em financiamento até o
momento para desenvolver tecnologias que apliquem a inteligência
artificial para ultrassom, com o objetivo de reduzir a principal causa de
morte no mundo: as doenças cardiovasculares.
Arterys
A empresa arrecadou mais de 13 milhões de dólares para desenvolver
uma plataforma automatizada e inteligente de imagem médica que
pretende ajudar a diagnosticar problemas cardíacos. O objetivo é ajudar
médicos a entender como um coração está funcionando, fornecendo
medições precisas do volume de cada ventrículo e permitindo uma
avaliação mais precisa da saúde. A empresa recentemente anunciou
que sua plataforma recebeu da Food and Drug Administration (FDA), a
agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovação
para ser usada em um ambiente clínico.
Laura Networks
A empresa brasileira desenvolveu o robô Laura, um computador com
inteligência artificial aplicada na gestão de risco de hospitais que ajuda
no monitoramento dos casos e alerta médicos e enfermeiros caso algum
paciente precise de atendimento. Criado inicialmente para combater a
sepse, uma infecção generalizada que pode levar à morte, o programa
provocou uma queda nos casos da doença num hospital de Curitiba (PR).
Segundo o criador do Laura, Jacson Fressatto, o software foi desenvolvido
para hospitais, mas é aplicável em quaisquer outras empresas.
Berg Health
Fundada em 2006, a startup quer reduzir o tempo e os custos do
desenvolvimento de medicamentos pela metade, por meio de sua
plataforma Berg Interrogative Biology. A empresa tem atraído o
interesse da indústria farmacêutica porque afirma conseguir acelerar
o desenvolvimento de novas drogas ao selecionar os pacientes
“biologicamente certos”, o que reduz os altos custos envolvidos em
todas as etapas. A empresa desenvolveu o que poderá ser considerado
o primeiro medicamento para o câncer de pâncreas identificado pela
inteligência artificial, o BPM 31510, ainda em fase inicial de testes.
20
AMericas
INOVAÇÃO
Shutterstock
Nº 01 2017
“
Eu diria que, em
dois ou três anos,
a maioria da
indústria da saúde
terá algum tipo
de experiência
com inteligência
artificial
”
Arquivo pessoal
avaliados. Segundo a American Medical
Informatics Association, é provável que até
2050 o volume de dados em saúde aumente em 50 vezes. Como é humanamente impossível hoje para o médico acompanhar
esse fluxo, as tecnologias de IA, ao analisarem essa enorme quantidade de dados
coletados, podem apontar caminhos mais
sustentáveis do ponto de vista diagnóstico
que se refletirão na gestão de recursos.
O big data, conforme explica Alexandre Dias Chiavegatto Filho, professor da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do
Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps), tem um potencial
enorme para ajudar na melhoria dos diagnósticos e auxiliar o trabalho dos profissionais de saúde. “O acúmulo de dados tem
permitido muitos avanços na precisão dos
tratamentos em saúde e no atendimento
cada vez mais individualizado aos pacientes. Hoje, são poucos os profissionais que
se recusam a trabalhar com dados ou tomar decisões baseadas em evidências. O
ganho do uso de dados para auxiliar no
diagnóstico clínico já é evidente e muitos
profissionais estão vendo isso claramente
em seu dia a dia.”
Eduardo Cipriani Almeida,
líder de Watson Health na IBM Brasil
“A aposta em big data na saúde é um
grande investimento”, ressalta o engenheiro eletrônico e consultor de inovação
e novos negócios em mobilidade, saúde e
big data Eduardo Prado. “Com o big data,
o setor de saúde vai poder se aprofundar
no comportamento de pessoas, organizações, mercado, genômica, medicamentos
e muito mais. Esse aprofundamento reduzirá seus custos operacionais, sempre
crescentes até agora, e possibilitará a melhoria de seus fluxos de trabalho operacionais”, garante.
Para Fernando Cembranelli, CEO da
Berrini Ventures, aceleradora de startups de
saúde no Brasil, o grande desafio da inteligência artificial é que ela vai revolucionar a
forma como o trabalho é feito hoje em algumas áreas dentro da medicina. “Na saúde,
em muitas áreas, como a radiologia, a inteligência artificial conseguirá dar a grande
maioria dos laudos automaticamente. Há
uma percepção de que, a cada ano que passa, fica difícil não adotar essa tecnologia. A
inteligência artificial passa a ser imprescindível”, observa o empreendedor.
Nesse debate entre tecnologia e ser
humano, uma pergunta costuma ser feita:
a inteligência artificial, então, retira o pro-
tagonismo do médico e do profissional da
área de saúde? Na avaliação de Eduardo
Prado, médicos não devem se sentir ameaçados porque a inteligência artificial na
medicina criará serviços que não existiam.
É o caso de robôs e ferramentas automatizadas para cuidar de idosos ou ferramentas
que aumentarão a melhoria de processos
médicos, como a utilização de algoritmos
de machine learning para tratar doenças
crônicas. “Acredito que as melhorias da inteligência artificial chegarão para auxiliar o
diagnóstico médico”, diz o consultor.
Para Cipriani, da IBM, a IA não tira do
médico a capacidade de pensar e raciocinar, mas elimina muito do trabalho operacional antes feito exclusivamente por ele.
“A tecnologia de inteligência artificial não
vem com o objetivo de trazer a resposta
correta, mas, sim, mostrar todas as possíveis respostas e evidências para que o médico consiga pensar e definir qual o melhor
tratamento para aquele paciente. Essa é
uma transformação natural que já começou a ocorrer e o próprio profissional da
área de saúde se transformará num médico
muito mais informado”, diz. A revolução da
inteligência artificial na medicina, garante
Cipriani, apenas começou.
21
Shutterstock
SEM JALECO
O
médico
mágico
Maurício Jordão é cardiologista e tem a
mágica como hobby. Assim como na Medicina,
a prática exige muito estudo e dedicação
Por Daniella Pina
O fantástico universo da mágica foi apresentado ao cardiologista Maurício Jordão quando ele tinha apenas 10 anos. Presente da madrinha, a caixa de truques despertou no
garoto o fascínio pela habilidade de causar surpresa, espanto e levar alegria às pessoas.
Quatro anos depois, o mágico argentino Julio Lipan, sua maior inspiração na arte
do ilusionismo, mudou-se para Rio Claro, cidade no interior de São Paulo onde Jordão
vivia com a família. “Bati em sua casa, disse que gostava de mágica e queria aprender
mais”, recorda. Lipan foi responsável por convidá-lo para participar de sua primeira
entidade de classe, a Associação de Mágicos do Interior de São Paulo.
Embora latente, a paixão pela mágica precisou ficar em segundo plano durante
a faculdade de Medicina. Foi na residência, em um plantão médico, que a mágica se
colocaria a sua frente mais uma vez. “Quando chamei a ficha do paciente, entrou em
minha sala Roberto Calegari (conhecido no meio artístico como Robert), um mágico
que havia chamado muito minha atenção durante o congresso da Federação Latino-Americana de Sociedades Mágicas (Flasoma), da qual eu já participava.”
A surpresa de ambos foi grande e nasceu ali uma amizade que, mais uma vez, faria
Jordão ampliar seus horizontes na mágica. A partir dali, ele passou a fazer parte da
Associação dos Mágicos de São Paulo (AMSP), a mais antiga entidade relacionada ao
tema no País.
22
AMericas
SEM JALECO
Até hoje, a mágica continua muito presente na vida do cardiologista, que atua
no Hospital Samaritano de São Paulo há
13 anos. “Frequento as reuniões da AMSP
toda segunda-feira, participo dos congressos e continuo estudando por livros, DVDs
e conversando com mágicos experientes,
que fizeram a história da mágica no País.”
A prática é levada como hobby e o médico não realiza trabalhos profissionais, pois
acredita que seria impensável conciliá-los com a rotina de cardiologista. “A ideia
é manter dessa forma, pelo conceito em si:
ter dedicação e um espaço pessoal que me
permita abstrair dos problemas, da profissão e da família.”
Assim como na Medicina, a mágica
possui diversas especialidades. A favorita
de Jordão é o close-up, ou seja, a mágica
de perto. Nela, o maior desafio é desviar a
atenção do espectador (misdirection), para
que ele não olhe para onde “não deve” e
descubra o truque.
Dentro da modalidade, a cartomagia é a
que mais encanta o cardiologista. Ela também possui suas subdivisões, com baralhos
normais e outros nem tanto. “Eu uso apenas os normais, pois são mais desafiadores.
É preciso ter uma misdirection muito boa”,
explica. “Para mim, a proposta da mágica
não é ser um desafio intelectual, em que as
pessoas tentem descobrir como é. A mágica
é para divertir e trazer surpresa”, justifica.
Além de surpresas, a mágica já trouxe
ao médico muita emoção. “Um amigo da
minha irmã sonhava ser mágico e estava
internado com leucemia. Quando soube
que eu era, pediu à minha irmã que eu fizesse alguns truques para ele. Foi uma experiência inesquecível, pois a forma como
ele reagia às mágicas me marcou”, lembra.
O jovem faleceu após alguns dias, mas
Jordão sente que aquele foi um momento
muito especial para ambos.
Além do episódio, o cardiologista já
usou a mágica para entreter pacientes internados, mas somente quando há abertura e intimidade para isso. “No começo, eu
tinha receio de que os colegas e pacientes
Nº 01 2017
Maurício Jordão
Mágica ou
ilusionismo?
A pergunta pode confundir muita
gente, mas para Maurício Jordão não
há diferença. “Como na Medicina, a
mágica é cheia de especialidades.
Tem o close-up, que envolve objetos
pequenos. Tem a mágica com objetos
maiores, feita para um público um
pouco maior. E, enfim, tem as grandes
ilusões, mais ligadas ao estilo de
David Copperfield, famoso por seus
grandiosos espetáculos.”
O ilusionismo acabou vinculado às
grandes ilusões – como levitar, serrar
pessoas ao meio ou fazê-las desaparecer
–, mas ambos são indissociáveis. “Tudo
é mágica, e mágica é ilusionismo, ou
seja, criar uma ilusão.”
Americas / Arquivo
Emoção e
inspiração
soubessem que faço mágica e não me julgassem uma pessoa séria. Mas, depois,
comecei a lidar melhor com esses conflitos, e isso parou de me incomodar, pois
o preconceito estava em mim, e não nas
pessoas.” Hoje, Jordão se apresenta mensalmente em eventos gratuitos e abertos ao
público, apoiados pela AMSP.
Ele até inspirou outras pessoas. “Minha afilhada de sete anos está indo muito
bem. Dei a ela uma caixa de mágica e ela
está adorando”, diz Jordão, que também já
ensinou truques a outros colegas médicos e
até os levou para conhecer a AMSP. “Tanto
a mágica quanto a Medicina compreendem
desafios. São modalidades completamente
diferentes, mas ambas envolvem arte e técnica. A diferença é que, na Medicina, você
pode ser vítima de uma cilada cognitiva e
falhar. Na mágica, o viés cognitivo está a
seu favor e transforma isso em entretenimento”, conclui.
23
Mentis et Corporis
2
IMAGINE...
Por Eugenio Mussak*
Certa vez, entrei no Central Park de Nova Iorque, pelo portão que
leva a um jardim chamado Strawberry Fields, e foi quando senti
uma emoção diferente. A primeira coisa que vi foi um círculo na
calçada – na verdade, uma mandala com raios concêntricos, desenhados com pequenos mosaicos portugueses brancos e pretos,
em cujo centro está escrita apenas uma palavra mágica: ‘Imagine’!
Fica praticamente em frente ao Dakota Apartments, o prédio
art nouveau construído no final do século 19, famoso por ter sido o
último lar de John Lennon e também o local de sua morte – ele foi
assassinado na entrada do prédio por um lunático em dezembro
de 1980, quando chegava em casa vindo do estúdio de gravação, ao
lado de Yoko Ono.
Alguns anos antes, Lennon havia lançado seu primeiro disco
solo, que trazia a música Imagine, que também dava nome ao álbum. Sua mensagem propõe que imaginemos que as fronteiras, as
posses, a ganância e a religião – os grandes causadores de conflitos
– não existem, e por isso o mundo vive em paz. Termina dizendo:
“Você pode achar que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único
e você ainda vai se juntar a nós”.
A música é realmente belíssima, não há quem não se emocione
com sua letra e sua melodia, simples e profundas. Até porque é difícil ser contra o que ela defende: a paz. Entretanto, a música é portadora de uma segunda mensagem, que passa despercebida apesar
de ser tão explícita. E essa mensagem é exatamente o que propõe o
próprio título: imagine. Além de ser uma ode à paz, Imagine é também um tributo à maravilhosa qualidade excessivamente humana
que é a capacidade de imaginar.
Aquele momento, lá no Central Park, acabou me remetendo a
outro, muitos anos antes, quando me formei em Medicina na UFPR.
Nosso patrono, o emérito professor e cirurgião espetacular Mário de
Abreu, nos aconselhou: “Nunca parem de imaginar um mundo melhor a partir da profissão para a qual acabam de se formar”.
Sim, estávamos nos formando médicos. E quem é um médico
24
1
se não alguém capaz de mitigar o sofrimento da doença e promover a saúde, como bem maior? É possível imaginar uma missão
mais bela, digna e edificante?
Nosso mestre nos estimulava a imaginar um mundo melhor,
com menos doenças, sofrimentos e injustiças. E nos conclamava
a lutar para que esse mundo melhor exista, usando as armas que
acabávamos de receber na cerimônia da formatura e com as quais
havíamos sido treinados para usar durante o curso. Sempre, claro,
com a consciência de que esse treinamento jamais teria fim, com a
diferença de que agora a responsabilidade seria, cada vez mais, de
cada um de nós.
Nada melhor, para um médico, do que estar ligado a uma instituição que lhe dá suporte, liberdade e estímulo, que lhe permite
AMericas
Mentis et corporis
4
1. Shutterstock | 2. hans engbers / Shutterstock | 3. rSnapshotPhotos / Shutterstock | 4. EarthScape ImageGraphy / Shutterstock
3
1. Mandala formada por
mosaicos no jardim
Strawberry Fields, no
Central Park, em Nova Iorque
2. Fachada do Dakota
Apartments
3 e 4. Vista do jardim
Nº 01 2017
imaginar. A tão falada autonomia, que nada mais é do que a possibilidade de cuidar da própria vida – o que inclui a carreira –, não
pressupõe o isolamento, a falta de vínculos. Ao contrário. Estar
“livre de” é diferente de estar “livre para”. Estar “livre de” significa
preferir não ter vínculos. Trabalhar em uma grande organização,
com estrutura empresarial, pressupõe um vínculo, com respeito a
valores, normas e condutas bem definidas. Por outro lado, é algo
que nos dá imensa “liberdade para”, ou seja, uma evidente maior
possibilidade para imaginar e realizar.
Tempos de mudança são tempos de imaginação. “É fácil se você
se esforçar”, disse Lennon, e acertou em cheio. Às vezes, não nos
esforçamos para imaginar nossas infinitas possibilidades e perdemos uma parte importante de nós mesmos.
(*) Eugenio Mussak é
formado em Medicina
pela UFPR, com
especialização em
fisiologia, mas dedicou
a maior parte de sua
vida à carreira de
professor. Atualmente,
leciona a disciplina de
gestão de pessoas na
Fundação Dom Cabral
e na FIA, sendo escritor
nas horas vagas.
25
ONDE, QUANDO e POR Quê?
Um
Texto Julia Fabri*
Fotos Marcio Caiado
No Brasil, o ecoturismo geralmente é associado às belas praias do Nordeste, à paisagem serrana do sul do País e ao verde da
floresta amazônica. Mas por que não experimentar algo diferente dentro dessa vertente, como chapadas e até um deserto? O
estado do Tocantins abriga um cenário exótico, intocado, onde a natureza é preservada e o sol brilha com força o ano todo. Arrume as malas: é hora de conhecer o Jalapão.
O município de Ponte Alta do Tocantins é a porta de entrada para o Jalapão. De
Palmas, capital do estado, até lá são aproximadamente 110 km. O Jalapão é grande: ocupa uma área de 34.000 km2, sendo maior que Sergipe. Outros povoados,
como Mateiros e São Félix do Tocantins,
também servem de base para desbravar a
região. É bom relevar as longas distâncias.
Para chegar aos atrativos naturais, é preciso vencer estradas de terra, muitas delas
somente transitáveis por veículos 4x4 disponíveis para aluguel em Palmas.
Vamos começar por Ponte Alta, cidadezinha onde há hotéis de estrutura simples
e restaurantes de ambiente familiar. É preciso uma dose de paciência quando se deixa Ponte Alta, mas qualquer deslocamento
vem acompanhado de uma bela paisagem
que enche os olhos e espanta a monotonia.
Seguindo as orientações do guia, vão surgindo os primeiros ‘chuveirinhos’, planta
típica do cerrado que lembra um delicado
buquê de noiva.
A primeira parada é para contemplação.
É fácil acessar a cachoeira do Rio Soninho:
aos poucos, ela vai se revelando entre as
árvores. O som da queda-d’água é inconfundível, mas o volume e a força impressionam. É parar e testemunhar o espetáculo da
natureza em sua mais exuberante manifes-
26
oásis
no cerrado brasileiro
tação. E se o banho ali não é possível, logo
se chega ao próprio Rio Soninho, que, fazendo justiça ao nome, é bom para relaxar.
Aproveite para se refrescar nos trechos mais
rasinhos e se entregue sem culpa à tranquilidade da água cristalina e geladinha.
Seguindo o trajeto, a próxima cachoeira, a da Fumaça, exige um pouco mais de
empenho: desde Ponte Alta, são 90 km até
lá, sendo 60 em estrada de terra. Como entrega o nome, o vapor da água lembra uma
névoa, como fumaça avistada ao longe,
aguçando a curiosidade de quem se aproxima. Descendo por uma trilha, a cachoeira
surge em sua grandiosidade. E se faltar um
toque aventureiro à viagem, o turista pode
se arriscar, com cuidado, pelas pedras, até
se posicionar atrás da queda-d’água. O som
é ensurdecedor e a cortina branca que cai
diante dos olhos intimida. Uma experiência molhada, divertida e emocionante.
Já em direção a Mateiros, a primeira
parada do roteiro configura um cenário
bem diferente e exótico: trata-se do Cânion Sussuapara, uma fenda de 25 metros
de profundidade entre paredões rochosos.
Uma vez no interior do cânion, ao olhar
para cima, é possível perceber a água que
vem escorrendo sem cessar entre raízes e
samambaias nativas, que se desenvolvem
graças à pouca luminosidade e umidade.
Alguns quilômetros adiante, pausa para
mais um banho. Na Cachoeira do Lajeado,
a formação rochosa lembra uma escadinha
(ou seja, lajes, de onde vem o nome). De degrau em degrau, acha-se o melhor cantinho
AMericas
ONDE, QUANDO e POR Quê?
2
3
1
1. Cânion de Sussuapara. 2. Cachoeira do Lajeado.
3. Cachoeira do Rio Soninho. 4. As altas temperaturas
na região duram praticamente o ano inteiro.
para se refrescar. A maior queda-d’água tem
15 metros de altura, formando uma fotogênica piscina natural. Para assistir ao emblemático e inesquecível pôr do sol no cerrado
jalapoeiro, siga direto para as dunas. Daí
o termo ‘deserto do Jalapão’ passa a fazer
sentido, ainda que não seja em literalidade.
Montes de areia dourada de até 30 metros de
altura proporcionam a contemplação de um
cenário arrebatador. Afoitos por aventuras
podem observar o espetáculo lá do alto da
Serra do Espírito Santo, aonde se chega por
uma trilha. Em cima da chapada, há um mirante para admirar o pôr do sol.
Em Mateiros, estão os fervedouros, alguns dos mais famosos cartões-postais do
Jalapão. São nascentes onde a força da água
de rios subterrâneos não permite afundar,
um fenômeno natural chamado “ressurgência”. O roteiro pode ser concluído com
uma visita ao povoado Mumbuca, onde
vive uma comunidade quilombola que
produz artesanato com o capim dourado
(proveniente da planta conhecida como
‘sempre-viva’), ou à Casa do Artesão, onde é
possível comprar peças dos artesãos locais
- um bom pretexto para ouvir as histórias
do povo que vive e respira o Jalapão.
*Julia Fabri é jornalista e viajante. Percorreu
todo o Brasil como repórter do programa Brasil
Caminhoneiro e já esteve em mais de 20 países
turistando, estudando e produzindo conteúdo.
Aventura o
ano inteiro
4
Nº 01 2017
Onde? Parque Estadual do Japalão,
no Tocantins.
Quando? O Jalapão é visitável o
ano todo e sempre apresenta altas
temperaturas. Entre os meses de maio
e setembro, quase não chove e o céu é
de um azul límpido.
Por quê? As paisagens exóticas do
Jalapão fazem do destino um lugar
único no Brasil.
Mais informações: jalapao.to.gov.br
27
POR DENTRO DO AMERICAS
O Hospital Vitória Santos, localizado na
Vila Belmiro (Santos/SP), implementou,
no início de 2015, um projeto de ampliação dos serviços oferecidos, que incluiu
atendimento ambulatorial e realização
de cirurgias em 26 especialidades, além
da oncologia. Nos últimos dois anos, já
foram realizados mais de seis mil procedimentos, principalmente nas áreas de
cirurgia geral e ortopedia.
Um dos aspectos que contribuíram
para a consolidação do projeto foi a ampliação do número de leitos do hospital,
que passou de 25 para 44 em 2015, quando foi inaugurada a Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) Adulta. “Nossa meta é reforçar a atuação como um hospital geral,
com atendimento de baixa, média e alta
complexidades e estrutura tecnológica e
assistencial para atendimentos em várias
especialidades médicas”, ressalta o diretor da instituição, Agnaldo Carlesse.
Americas / Arquivo
Hospital Vitória
Santos alcança 6 mil
cirurgias em dois anos
Certificação atesta a excelência da qualidade e da segurança dos atendimentos
Hospital Samaritano de Botafogo
conquista acreditação da JCI
e acompanhantes. O diretor do Hospital,
Ricardo Periard, destaca que a acreditação
da JCI é um importante marco na trajetória da instituição, que há quase 70 anos
vem aprimorando e profissionalizando sua
atuação. De acordo com ele, também foram
avaliados os protocolos que envolvem qualificação profissional, adequação da gestão,
atendimento assistencial e padrões técnicos e de infraestrutura.
A unidade do Hospital Samaritano localizada no bairro de Botafogo (RJ) conquistou, em fevereiro deste ano, a acreditação
da Joint Commission International (JCI), a
mais importante entidade certificadora da
qualidade dos serviços de saúde no mundo.
O certificado atesta a adoção de protocolos internacionais que reforçam a qualificação dos processos assistenciais, garantindo qualidade e segurança aos pacientes
Novo pronto atendimento em cardiologia no Rio de Janeiro
na Barra da Tijuca (RJ). Até o final de fevereiro, o serviço – que tem capacidade para
até 20 mil pacientes por mês – já atendeu
mais de 400 casos com indicação clínica
para a especialidade.
Americas / Arquivo
Desde janeiro, um novo pronto atendimento 24 horas em cardiologia está em funcionamento nos hospitais Vitória e Samaritano – unidades integrantes do complexo
médico-hospitalar Americas Medical City,
Setor tem capacidade de atendimento para até 20 mil pacientes por mês
28
O intervalo entre a chegada do paciente
e a assistência cardiológica é inferior a 15
minutos – e imediato nos casos de extrema
gravidade, como os de infarto agudo do
miocárdio, que chegam a ser tratados na
hemodinâmica em até 40 minutos.
O coordenador do Serviço de Cardiologia do Americas Medical City, Celso Musa,
explica que o tempo e o respeito aos protocolos são fundamentais nesse tipo de atendimento. “O paciente que dá entrada na
unidade com suspeita de infarto agudo do
miocárdio, por exemplo, é encaminhado
de imediato para a realização de um eletrocardiograma pelo próprio enfermeiro, na
fase da classificação de risco, quando são
listados as primeiras queixas e sintomas”,
observa o médico.
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POR DENTRO DO AMERICAS
Novas diretrizes
para o tratamento
do AVC isquêmico
De acordo com dados de 2016 do Ministério da Saúde, o acidente vascular
cerebral (AVC) atinge mais de dois milhões de pessoas no Brasil. As informações mostram ainda que, desde 2005,
o AVC é a principal causa de morte e
incapacidade funcional no País. Com
o objetivo de diminuir os óbitos provocados pela doença, membros da
Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares (SBDCV) e entidades
associadas desenvolveram, após o
Congresso Brasileiro de Neurorradiologia, em novembro de 2016, um manual de condutas para o tratamento
endovascular do AVC isquêmico, o
mais comum entre as doenças neurológicas. O radiologista intervencionista Gustavo Andrade, do Hospital Santa
Joana Recife, participou da iniciativa.
O protocolo, publicado em janeiro deste ano na respeitada revista
científica de circulação internacional Arquivos de Neuro-Psiquiatria,
serve de orientação para profissionais de saúde e gestores de saúde
pública e suplementar no Brasil
quanto ao manejo dos pacientes afetados pelo AVC isquêmico.
Em parceria com a líder em cirurgia ortopédica, evento aconteceu em 10 de fevereiro, em São Paulo (SP)
3º Simpósio Internacional
de Artroplastias
Americas / Arquivo
O Hospital Alvorada, de São Paulo, e o
Hospital for Special Surgery (HSS), instituição líder em cirurgia ortopédica nos
Estados Unidos, realizaram, pelo terceiro
ano consecutivo, o Simpósio Internacional de Artroplastias, em 10 de fevereiro, na
capital paulista.
O evento teve a participação de três especialistas do HSS: Mathias Bostrom, cirurgião do quadril e do joelho e professor da
Universidade de Cornell; Fritz Boettner, especializado em artroplastia de quadril pela
Gustavo Andrade participou
da elaboração da nova diretriz
Nº 01 2017
Steadman Hawkins Clinic; e Seth Jerabek,
especialista em substituição de articulações.
A programação foi dividida em dois temas principais: artrose primária de joelho
e quadril e suas complicações. “O Simpósio
está se consolidando, no calendário da ortopedia brasileira, como uma referência em
artroplastias primárias. O evento contribui
para difundir as informações mais atualizadas quanto ao tratamento de artroses de
quadril e joelho”, destaca o diretor do Hospital Alvorada, Fernando Moisés José Pedro.
Hospital Monte Klinikum
amplia seu Pronto-Socorro
Localizado em Fortaleza (CE), o Hospital Monte Klinikum inaugurou em fevereiro as novas
instalações de seu Pronto-Socorro. Os atendimentos de urgência e emergência, que terão
a capacidade ampliada em 10%, passam a contar com cinco consultórios, nove leitos de
observação, recepção e setores de triagem e aplicação de medicamentos totalmente renovados, em uma área total de 800 m2 – mais do que o dobro do espaço anterior, de 375 m2.
A ampliação faz parte do plano de expansão do Hospital. “O PS conta com um fluxo de
processos que agiliza os atendimentos, em linha com a crescente demanda por cuidados
com a saúde. Além disso, a conexão com as diferentes áreas e profissionais foi reforçada,
contribuindo para o funcionamento geral da instituição”, destaca a diretora do Monte Klinikum, Thais Moreno. Atualmente, são realizados cerca de 2,7 mil exames por mês e, com a
ampliação, a previsão é que esse número chegue a três mil nos próximos meses.
29
GRUPO AMERICAS
Americas
Serviços Médicos
Ceará
Fortaleza
Hospital Monte Klinikum
Rio Grande do Norte
Natal
Hospital Promater
Pernambuco
Recife
Hospital Santa Joana Recife
Distrito Federal
Brasília
Hospital Alvorada Brasília
Rio de Janeiro
Rio de Janeiro - Capital
Hospital e Maternidade Santa Lúcia
Hospital Pró-Cardíaco
Hospital Samaritano - Botafogo
Americas Medical City
(Samaritano Barra e Vitória Barra)
Americas Centro de Oncologia Integrado
30
São Paulo
São Paulo - Capital
Hospital Samaritano
Hospital Vitória Anália Franco
Hospital Alvorada
Hospital e Maternidade Metropolitano
Hospital Paulistano
Hospital TotalCor
Mogi das Cruzes
Hospital Ipiranga
Guarulhos
Hospital Carlos Chagas
Caieiras
Hospital de Clínicas de Caieiras
Arujá
Hospital e Maternidade Ipiranga Arujá
Santos
Hospital Vitória Santos
Campinas
Hospital e Maternidade Madre Theodora
AMericas
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