REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 71 - nº 2 - Março/Abril 2012 MAR/ABR 2012 VOLUME 71 NÚMERO 2 P. 73-143 100 95 75 25 RBO 5 0 DESDE 1942 CAPA REVISTA-MAR-ABR-12 terça-feira, 29 de maio de 2012 10:06:02 73 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Arlindo Jose Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Co-editores Abelardo de Souza Couto Jr.- Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE José Beniz Neto - Goiania - GO Leonardo Akaishi - Brasília - DF Marcelo Netto - São Paulo - SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro - RJ Newton Kara-José Jr. - São Paulo SP Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Daniel Grigera - Olivos - Argentina Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Felix Gil Carrasco - México - México Corpo Editorial Nacional A. Duarte - Rio de Janeiro - RJ André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Ari de Souza Pena- Niteroi- RJ Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Carlos Alexandre de Amorim Garcia- Natal- RN Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Ramos de Souza Dias- Sao Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belem- PA Eduardo Cunha de Souza- Sao Paulo- SP Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Evandro Lucena Jr. - Rio de Janeiro - RJ Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa- Recife- PE Francisco Grupenmacher- Curitiba- PR Francisco Valter da Justa Freitas- Fortaleza- CE Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helder Alves da Costa Filho - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 71, n. 2, p. 73-143, Mar./Abr. 2012 Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Itamar Soares - Rio de Janeiro - RJ Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira- Florianopolis- SC João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Joaquim Marinho de Queiroz- Belém- PA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Ricardo Carvalho L. Rehder- Sáo Paulo- SP Juliana Bohn Alves - Rio de Janeiro - RJ Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara José - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Fadel - Curitiba - PR Paulo Schor - São Paulo - SP Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo - SP Tiago Bisol - Rio de Janeiro - RJ Virgilio Augusto M. Centurion- São Paulo- SP Vitor Cerqueira - Rio de Janeiro - RJ Walton Nose- Sao Paulo- SP Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição:Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Contato publicitário: Westinghouse Carvalho Tels.: (11)3726-6941 / 9274-0724 [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$420,00 ou US$280,00 Impressão: Gráfica Colorset Associada a ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos 74 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2011-2012 Presidente Aderbal de Albuquerque Alves Jr. Vice-presidente RJ Marcus Vinicius Abbud Safady Vice-presidentes regionais Roberto Abdalla Moura Leon Grupenmacher Osvaldo Travassos de Medeiros Alípio de Souza Neto Secretário Geral: Gilberto dos Passos 1º Secretário: Armando Crema 2º Secretário: Marco Antônio Alves Tesoureiro: Ricardo Miguel Japiassú Diretor de Cursos: André Portes Diretor de Publicações: Arlindo Portes Diretor de Biblioteca: Renato Ambrósio Jr. Conselho Consultivo: Aderbal de Albuquerque Alves Acácio Muralha Neto Mário Motta (RJ) Miguel Ângelo Padilha (RJ) Oswaldo Moura Brasil (RJ) Sérgio Fernandes (RJ) Conselho Fiscal: Efetivos: Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Ricardo Lima de Almeida Neves (RJ) Sérgio Meirelles (RJ) Suplentes: Mário Nagao (RJ) Octávio Moura Brasil (RJ) Sansão Kac (RJ) SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ernani Luiz Garcia Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fabiano Saulo Rocha Jr. Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dra. Luciene Barbosa de Souza Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Dr. Lhano Fernandes Adorno Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. José Eduardo Prata Cancado Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Sergio Mendes Ferreira Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Mário Ursulino Machado Carvalho Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Leonardo Akaishi Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Ricardo Morschbacher Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. Newton Leitão de Andrade Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Norma Allerman Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Romero Henrique Carvalho Bertrand Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dr. Jorge Luiz Santos Gomes Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. Edmar Guedes Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Raimundo Emanuel Menezes Maciel Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. João Pessoa de Souza Filho Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Dr. Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Saulo Zanone Lemos Neiva Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Dennis Marcelo de Souza Ramos Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Lauro Barata Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. Fábio Braga Soares Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Bruno Campelo 75 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 71, n. 2, p. 73-143, Mar./Abr. 2012 Sumário - Contents Editorial 77 Ultrassonografia orbitária e de anexos Arlindo José Freire Portes Artigos originais 79 Influência da anestesia geral e bloqueio peribulbar em trabeculectomias: comparação visual e pressórica Peribulbar blockage and general anesthesia influency in trabeculectomies: visual and pressure effects Carlos Buhler, Juliana Almodin, Flavia Almodin, Tadeu Cvintal 84 Eficácia do uso intraoperatório de mitomicina C na cirurgia do pterígio: análise de 102 casos Eficacy of intraoperative use of mitomycin C pterygium surgery: analysis of 102 cases Rodrigo Salustiano Correa e Silva, Marcos Pereira de Ávila, Álcio Coutinho de Paula, Leiser Franco de Morais Filho, Bruna Thomé Rassi 89 Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória Intrastromal corneal ring segments for keratoconus: results and correlation with preoperative corneal biomechanics Renato Ambrósio Jr, José Salgado Borges,Cláudia Costa-Ferreira, Vinícius Coelho, Renata Siqueira da Silva, Bruno Valbon, Jorge Augusto Siqueira, Guillermo Coca Velarde 76 100 Avaliação do conhecimento sobre urgências oftalmológicas dos acadêmicos da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas Assessment of knowledge about ophthalmic emergencies of Pontifical Catholic University of Campinas medical students Carolina Roman Rached, Tiago Cena de Oliveira, Camila Lacerda Muniz de Melo Sousa, Isabela Minozzi Escudeiro, Lilian Pagano Mori, Fernanda Proa Ferreira, Juliana Cixi Barbosa Xavier, Beatriz Helena de Moraes Milioni, Renan Radaeli de Figueiredo, Mônica Alves de Paula Relato de Caso 106 Autoimmune optic neuropathy as the first manifestation of systemic lupus erythematosus Neuropatia óptica autoimune como primeira manifestação do lúpus eritematoso sistêmico 111 Úlcera de córnea por Pseudomonas stutzeri Pseudomonas stutzeri corneal ulcer Maria Helena Lopes Amigo, Emmanuel Casotti Duque de Bárbara, Wagner Ghirelli Fellipe Berno Mattos, Fernanda Spinassé Agostini, Marcelo Berno Mattos, Diusete Maria Pavan Batista 115 Relevância da biomecânica da córnea no glaucoma Relevancy of corneal biomechanical in glaucoma Jorge Augusto Siqueira da Silva, Renata Siqueira da Silva, Renato Ambrósio Jr Artigo de Revisão 119 Facoemulsificação versus extração extracapsular no sistema público de saúde: análise de custos para o hospital, para o governo e para a sociedade Phacoemulsification versus extracapsular extraction on public health care system: cost analysis to the hospital, to the government and to the society 125 Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior Retinal nerve fiber evaluation in neuro-ophthalmic diseases of the anterior visual pathway Newton Kara-Junior, Marcony Rodrigues de Santhiago, Rodrigo França de Espindola Mário Luiz Ribeiro Monteiro Comentário sobre livro oftalmológico 139 THE RETINAL ATLAS (Expert consult online and in print) Instruções aos autores 140 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 77 Ultrassonografia orbitária e de anexos O exame de ultrassonografia é um dos mais realizados pelos oftalmologistas. A ecografia é o exame de eleição para analisar o segmento anterior ou posterior do globo ocular quando há opacidade de meios intraoculares. Trata-se de método de imagem com resolução maior para observação dos olhos do que a ressonância magnética nuclear ou a tomografia axial computadorizada. Por outro lado, o exame de ultrassonografia da órbita ou anexos é pouco realizado pelos oftalmologistas. O mesmo aparelho que avalia o segmento posterior dos olhos pode ser utilizado para observar a órbita e anexos, porém vários especialistas em olhos não o fazem. Uma das barreiras ao conhecimento sobre o exame da ultrassonografia orbitária é a escassez de cursos ou de publicações, sejam artigos ou livros, que abordem o tema em profundidade. No livro “Ultrassonography of The Eye and Orbit”(1), a técnica do exame orbitário e de anexos, bem como o diagnóstico diferencial das doenças em questão são abordados em aproximadamente 200 páginas. Portanto, quase a metade do livro (um dos mais completos sobre ultrassonografia oftalmológica) é direcionada a ecografia orbitária e de anexos. Entre as múltiplas alterações que podem ser observadas ao ultrassom estão: tumores de glândula lacrimal(1), avaliação de fase de doença de Graves(1), análise diferencial de cistos (2), detecção de lesões traumáticas(1), padrões de tumores orbitários como o linfoma (3-4), características de doenças inflamatórias como a dacriocistite(5) etc. A órbita é área de estudo comum a outras especialidades médicas e outros exames de imagem podem ser utilizados para avaliá-la. Qual é o melhor método de imagem para estudar a órbita? Não há um método com superioridade absoluta, por isso existem vários. A literatura médica esclarece que cada exame produz seus resultados por meios diferentes e tem suas indicações e contraindicações particulares. Os resultados dos exames de imagem não se anulam, mas podem se somar para ratificar ou não o diagnóstico clínico. Não há necessidade para um determinado caso clínico de se usar os três, mas em casos mais complicados, a utilização de todos eles poderia ser desejável. No quadro 1, observamos características diferenciais dos três exames (6). Quadro 1 Diferenças entre exames de imagens utilizados em oftalmologia Energia utilizada Tempo de exame Examinador Contraste Custo Contraindicações Ultrassonografia Tomografia Axial Computadorizada Ressonância Magnética Nuclear Acústica Relativamente rápido Em geral é realizado pelo oftalmologista e a precisão do exame depende do examinador Não usa Baixo Necessidade de avaliação do ápice orbitário Raios-x Rápido Em geral é realizado pelo radiologista e a precisão do exame depende do examinador Iodado Moderado Alergia a iodo Campo magnético Longo Em geral é realizado pelo radiologista e a precisão do exame depende do examinador Paramagnético Alto Possuir marca-passo cardíaco, Implante coclear ou ter claustrofobia Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 77-8 78 Portes AJF Conforme observamos no quadro acima, a realização mais frequente da ultrassonografia da órbita e anexos pode reduzir custos no sistema de saúde, valorizar mais o oftalmologista e evitar os efeitos adversos dos raios-x ou complicações associadas à exposição ao campo magnético. Portanto, penso que iniciativas para aumentar o ensino, a prática e publicações envolvendo este tipo de exame são importantes. Arlindo José Freire Portes Mestre e Doutor em Oftalmologia pela UFRJ Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Estácio de Sá – RJ Editor-Chefe da Revista Brasileira de Oftalmologia REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. Byrne SF, Green RL. Ultrasound of the eye and orbit. 2nded. St Louis: Mosby; 2002. Ghanem RC, Monteiro ML. Cisto hemático intraconal espontâneo de órbita. Relato de caso. ArqBras Oftalmol. 2002;65(4):479-82. Couto Jr AS, Barbosa RS, Portes AL, Portes AJ, Benchimol ML. Lnfoma orbitário- relato de casos e apresentação atípica. RevBras Oftalmol. 2000; 59(10):759-63. Docampo J, Santoro D, Bruno C, Morales C. Fibromatosis orbitaria solitária. Reporte de caso. RevArgent Radiol. 2010; 74(1):43-6. Lorena SHT, Silva JAF. Dacriocistite aguda: relato de 2 casos. RevBras Oftalmol. 2011; 70(1):37-40. Watanabe M, Morais CA, Couto Jr AB. Considerações sobre eficiência administrativa relacionada aos exames de ultra-sonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética nas afecções orbitárias. RevBras Oftalmol. 2007; 66(6):376-82. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 77-8 ARTIGO ORIGINAL79 Influência da anestesia geral e bloqueio peribulbar em trabeculectomias: comparação visual e pressórica Peribulbar blockage and general anesthesia influency in trabeculectomies: visual and pressure effects Carlos Buhler1, Juliana Almodin2, Flavia Almodin3, Tadeu Cvintal4 RESUMO Objetivo: Avaliar os resultados de trabeculectomias (TRECs) com anestesia geral e bloqueio peribulbar, visando definir de forma indireta a influência das técnicas anestésicas no resultado da cirurgia. Métodos: Foram analisados os prontuários de 25 pacientes com glaucoma não controlado submetidos à trabeculectomia (TREC), sendo 11 com anestesia geral e 14 com anestesia peribulbar. Foram incluídos somente pacientes pseudofácicos com glaucoma e sem outras patologias oculares como retinopatia diabética ou doença macular relacionada a idade. A acuidade visual (AV), pressão intraocultar (PIO), número de medicações utilizadas, além de dados demográficos foram coletados retrospectivamente com 7, 30, 6 meses e 1 ano de pós-operatório. Resultados: Ambos os grupos foram semelhantes nos quesitos demográficos, onde não houve diferença estatisticamente significante entre idade, sexo e raça. Não foram encontradas diferenças significativas nas variáveis estudadas em todas as avaliações, com significância estatística (p<0,05). Conclusão: Não encontramos diferenças entre os resultados de TRECs com anestesia geral e com bloqueio peribulbar, porém mais estudos com um número maior de pacientes são necessários para comprovar este achado. Descritores: Glaucoma; Trabeculectomia; Anestesia geral; Anestesia local; Pressão intraocular ABSTRACT Objective: To evaluate trabeculetomies results with peribulbar anesthesia and general anesthesia and to watch the influence by this two techniques in the surgery result. Methods: It was analyzed charts of 25 patients with uncontrolled glaucoma that undergone trabeculectomy, 11 patients had general anesthesia and 14 with peribulbar anesthesia. It was included in this study pseudophakic patients with glaucoma. We excluded other ocular patologies such as diabetic retinopathy and macular degeneration. Visual acuity, intraocular pressure, number of medications and demographic data were collected. The data were analyzed in 7 days, 30 days, 6 months and 1 year after surgery. Results: Both groups were similar in demographic data, with no statically significance among age, sex and race. We didn’t find significant differences in the variables studied in all evaluations, with statisctically significance (p<0.05). Conclusion: There was no statistically difference between patients submitted to surgery with general anesthesia or peribulbar anesthesia. We need a larger group of patients to comprove it. Keywords: Glaucoma; Trabeculectomy; Anestesia, general; Anestesia, local; Intraocular pressure Instituto Instituto 3 Instituto 4 Instituto 1 2 de de de de Oftalmologia Oftalmologia Oftalmologia Oftalmologia Tadeu Tadeu Tadeu Tadeu Cvintal Cvintal Cvintal Cvintal – São Paulo (SP), Brasil; - São Paulo (SP), Brasil; - São Paulo (SP), Brasil; - São Paulo (SP), Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 28/2/2011 - Aceito para publicação em 7/11/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 79-83 80 Buhler C, Almodin J, Almodin F, Cvintal T INTRODUÇÃO A trabeculectomia (TREC) é uma das modalidades de cirurgias filtrantes mais usadas no controle da pressão intraocular (PIO). Ela consiste em criar uma comunicação entre a câmara anterior (CA) do olho com o espaço subconjuntival, permitindo o escoamento do humor aquoso (HA) e diminuindo a PIO. Existem alguns tipos de anestesia para realização dessa técnica cirúrgica, sendo elas a anestesia geral, a local (peribulbar, retrobulbar e subtenoniana) e a tópica. Todas as técnicas anestésicas visam à realização de uma cirurgia com serenidade, proporcionando a analgesia do paciente, o conforto, sangramento mínimo e prevenção da hipertensão ocular (HO).(1) A anestesia geral tem sido indicada em casos de cirurgias em crianças, pacientes com deficiência mental, emocionalmente instáveis ou olhos com alguma alteração anatômica, como alta miopia e bulftalmos.(2) Com a melhora das drogas utilizadas na indução e manutenção da anestesia geral a variação da PIO pode ser mais bem controlada.(3-6) A técnica peribulbar comprovadamente causa variação da PIO pelo aumento do volume intraorbitário causado pela injeção o anestésico.(7-9) O objetivo desse estudo é avaliar os resultados das TRECs realizadas com anestesia geral e com bloqueio peribulbar, visando definir de forma indireta a influência dessas técnicas anestésicas no sucesso dessa cirurgia. MÉTODOS Foram selecionados e avaliados os prontuários de pacientes com glaucoma não controlado clinicamente com medicação tópica ocular que foram submetidos à TREC com pelo menos um ano de pós-operatório de um serviço de referência na cidade de São Paulo (Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal). Foram incluídos pacientes com diagnóstico de glaucoma de ângulo aberto (GPAA), já submetidos à facectomia e que não apresentassem alguma comorbidade ocular que afetasse AV. Foram excluídos os pacientes que apresentassem glaucoma neovascular, afácicos, glaucoma uveítico, glaucoma congênito, pacientes que apresentassem doenças retinianas que pudessem influenciar na AV como degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética, pacientes que apresentassem qualquer grau de opacidade cristaliniana ou que tinham cristalino transparente e que pudessem evoluir com algum grau de catarata. Os prontuários foram revisados e anotados os dados demográficos: idade, sexo, raça, olho operado. A AV, Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 79-83 a PIO e o número de medicações antiglaucomatosas foram verificados com sete, trinta, seis meses, e um ano de pós-operatório. A AV foi medida em escala Snellen e transformada para escala LogMAR.Consideramos como sucesso cirúrgico pacientes que mantiveram com PIO < 21 mmhg com ou sem medicação antiglaucomatosa. No grupo da anestesia geral foram incluídos 11 pacientes (44%), sendo 6 mulheres e 5 homens com uma média de idade de 75 anos (variação de 61 a 84 anos). No grupo do bloqueio peribulbar foram incluídos 14 pacientes (56%), sendo 12 homens e 2 mulheres com uma média de idade de 74,5 anos (variação de 49 a 92 anos). A associação entre grupo de anestesia e as variáveis categóricas foi avaliada pelo Teste do Qui-quadrado ou Teste exato de Fisher, de acordo com a indicação. Foram aplicados modelos de Análise de Variância para medidas repetidas para comparar as medidas de AV e de PIO entre os grupos ao longo do seguimento. Os grupos foram comparados quanto ao número de medicações utilizadas ao longo do seguimento pelo Teste de Mann-Whitney para amostras independentes, aplicado em cada momento de avaliação. Dentro de cada grupo, as avaliações foram comparadas pelo Teste de Friedman para dados relacionados. Foi adotado o nível de significância de 0,05 (a = 5%) e utilizado o programa estatístico SPSS versão 15.0 for Windows para todas as análises estatísticas. RESULTADOS Eliminando os pacientes que não se encaixavam nos critérios de inclusão, foram selecionados vinte e cinco pacientes, sendo que onze (44%) foram submetidos à TREC com anestesia geral e quatorze (56%) com anestesia peribulbar. Quanto às variáveis demográficas, não foi encontrado diferença estatística entre os grupos, tanto na idade, sexo e raça, indicando semelhança entre os grupos (p > 0,05 em todas as comparações), conforme indica tabela 1. Quanto ao fator AV não foi observado efeito estatisticamente significante da interação entre o fator acima nos dois grupos (p = 0,148), indicando que os grupos apresentaram comportamento semelhante ao longo do tempo de seguimento. Foi encontrado efeito estatisticamente significante do fator AV durante o seguimento nos dois grupos (p = 0,001), com as seguintes diferenças: - A média de AV na avaliação pré foi significantemente maior do que as médias das avaliações de 7d PO (p < 0,001) e 1m PO (p = 0,012); - A média de AV na avaliação de 7d PO foi Influência da anestesia geral e bloqueio peribulbar em trabeculectomias: comparação visual e pressórica 81 Tabela 1 Características da amostra de pacientes Grupo Variáveis Olho – n (%) Direito Esquerdo Sexo – n (%) Feminino Masculino Idade (anos) Média (dp) Mediana Mínimo – máximo Raça – n (%) Branca Negra Parda Anestesia geral (n = 11) Bloqueio peribulbar (n = 14) Amostra total (n = 25) Valor de p 7 (63,6) 4 (36,4) 9 (64,3) 5 (35,7) 16 (64,0) 9 (36,0) 1,000 6 (54,5) 5 (45,5) 2 (14,3) 12 (85,7) 8 (32,0) 17 (68,0) 0,081 75,4 (6,3) 75,0 61 – 84 73,1 (11,7) 74,5 49 – 92 74,1 (9,6) 75,0 49 – 92 0,575 8 (72,7) 2 (18,2) 1 (9,1) 8 (57,1) 2 (14,3) 4 (28,6) 16 (64,0) 4 (16,0) 5 (20,0) 0,457 Tabela 2 Acuidade Visual (LogMAR) ao longo do seguimento, segundo o grupo de anestesia Grupo Anestesia geral (n = 11) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Bloqueio peribulbar (n = 14) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Amostra total (n = 25) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Efeito de interação Efeito de avaliação Efeito de grupo Avaliação Pré 7d PO 1m PO 6m PO 1a PO 0,67 (0,56) 0,40 0,0 – 1,6 1,21 (0,63) 1,00 0,4 – 2,3 0,90 (0,54) 0,80 0,1 – 1,9 0,78 (0,59) 0,50 0,1 – 1,9 0,72 (0,61) 0,40 0,1 – 1,9 0,99 (0,76) 0,70 0,1 – 2,5 1,26 (0,69) 1,00 0,4 – 2,5 1,19 (0,72) 0,80 0,2 – 2,5 1,04 (0,82) 0,70 0,0 – 2,5 1,16 (1,00) 0,80 0,0 – 3,0 0,85 (0,69) 0,60 0,0 – 2,5 p = 0,148 p = 0,001 p = 0,337 1,24 (0,65) 1,00 0,4 – 2,5 1,06 (0,65) 0,80 0,1 – 2,5 0,92 (0,72) 0,60 0,0 – 2,5 0,97 (0,87) 0,60 0,0 – 3,0 significantemente menor do que as médias das avaliações de 1m PO (p = 0,032), 6m PO (p = 0,003) e 1a PO (p = 0,046). As comparações entre as demais avaliações não mostraram diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05 em todas as demais comparações), conforme mostra tabela 2. Quanto a PIO, não foi observado efeito estatisticamente significante da interação entre os grupos (p = 0,680), indicando que os grupos apresentaram com- portamento semelhante ao longo do tempo de seguimento. Foi encontrado efeito estatisticamente significante do fator PIO durante o seguimento nos dois grupos (p < 0,001), com as seguintes diferenças: · A média de PIO na avaliação Pré foi significantemente maior do que as médias das demais avaliações (p < 0,001 em todas as comparações); · A média de PIO na avaliação de 7d PO foi significantemente menor do que as médias das demais Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 79-83 82 Buhler C, Almodin J, Almodin F, Cvintal T Tabela 3 Pressão Intraocular (mmHg) ao longo do seguimento, segundo o grupo de anestesia Grupo Anestesia geral (n = 11) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Bloqueio peribulbar (n = 14) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Amostra total (n = 25) Média (dp) Mediana Mínimo / máximo Efeito de interação Efeito de avaliação Efeito de grupo Avaliação Pré 7d PO 1m PO 6m PO 1a PO 18,4 (2,4) 18,0 15 – 23 7,5 (4,0) 8,0 2 – 14 11,6 (2,1) 12,0 7 – 15 11,1 (2,3) 11,0 8 – 15 11,6 (2,9) 11,0 8 – 18 21,4 (6,0) 20,0 16 – 38 8,1 (4,7) 9,0 0 – 14 11,4 (2,7) 12,0 7 – 16 11,0 (3,0) 10,0 6 – 18 13,1 (5,6) 12,5 5 – 26 20,0 (4,9) 19,0 15 – 38 p = 0,680 p < 0,001 p = 0,196 7,8 (4,4) 8,0 0 – 14 11,5 (2,4) 12,0 7 – 16 11,0 (2,7) 10,0 6 – 18 12,4 (4,6) 12,0 5 – 26 avaliações (p = 0,003 comparado ao 1m PO, p = 0,045 comparado ao 6m PO e p = 0,015 comparado ao 1a PO). As comparações entre as demais avaliações não mostraram diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05 em todas as demais comparações), conforme a tabela 3. Quanto ao número de medicações antiglaucomatosas, não foi encontrado efeito estatisticamente significante desse fator entre os grupos (p > 0,05 em todas as avaliações). No Grupo anestesia geral foi encontrado efeito estatisticamente significante do fator avaliação (p < 0,001), onde: O número de medicações na avaliação pré foi significantemente maior do que das demais avaliações; O número de medicações na avaliação 1ª PO foi significantemente maior do que das avaliações de 7d PO e 1m PO; As comparações entre as demais avaliações não mostraram diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05 em todas as demais comparações). No Grupo bloqueio peribulbar foi encontrado efeito estatisticamente significante do fator avaliação (p < 0,001), onde: O número de medicações na avaliação pré foi significantemente maior do que das demais avaliações; As comparações entre as demais avaliações não mostraram diferenças estatisticamente significantes (p > 0,05 em todas as demais comparações). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 79-83 DISCUSSÃO A anestesia local é o procedimento de escolha para cirurgias do glaucoma, porém em algumas situações de glaucoma com lesão avançada do nervo óptico, a anestesia geral ainda é indicada visando controlar o aumento da PIO após bloqueio anestésico e evitar possível lesão adicional glaucomatosa.(2) Muitos estudos já mostraram a variação da PIO tanto com anestesia geral quanto com bloqueio peribulbar. Na anestesia geral alguns estudos mostraram maior eficácia no controle da PIO utilizando drogas como propofol e alfentanil, sendo a primeira, a droga utilizada em nosso estudo.(5-10) Em um estudo com bloqueio peribulbar, a PIO mostrou-se elevada e diminuiu o fluxo sanguíneo ocular pulsátil nos minutos iniciais, porém mostrou recuperação total após 10min(11). Em outro estudo os pesquisadores concluíram que o aumento da PIO após bloqueio peribulbar pode ser lesivo em olhos glaucomatosos.(7) Apesar dessas evidências o resultado funcional nem sempre pode ser determinado o que leva a busca de comparação dos resultados dessas técnicas anestésicas. Em nosso estudo, os grupos tiveram comportamento semelhante quanto à AV no período analisado, não encontrando diferenças significantes entre os grupos (P>0,05). A AV avaliada no sétimo pós-operatório foi significativamente menor que nas demais avaliações, efeito possivelmente causado pelo estado pós-cirúrgico recente, visto que nas demais avaliações o estado visual Influência da anestesia geral e bloqueio peribulbar em trabeculectomias: comparação visual e pressórica inicial foi quase que totalmente recuperado. Quanto a PIO, os grupos se mostraram semelhantes, mostrando comportamento semelhante durante o seguimento. Em ambos os grupos os resultados da mediana da PIO esteve dentro do classificado como sucesso cirúrgico (PIO<21mmHg com ou sem medicação antiglaucomatosa) como demonstrado em outros estudos.(11,12,13) Em resumo, não encontramos diferenças significativas entres os resultados de TRECs realizadas com anestesia geral e bloqueio peribulbar, porém o número de pacientes analisados é pequeno, é necessário mais estudos com um número maior de pacientes para comprovar os efeitos mostrados. 6. 7. 8. 9. 10. 11. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 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Endereço para correspondência: Juliana Almodin Rua Xavier Curado,nº 351 - apto 131 CEP 04210-100 - Ipiranga - SP E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 79-83 ARTIGO ORIGINAL 84 Eficácia do uso intraoperatório de mitomicina C na cirurgia do pterígio: análise de 102 casos Eficacy of intraoperative use of mitomycin C pterygium surgery: analysis of 102 cases Rodrigo Salustiano Correa e Silva1 , Marcos Pereira de Ávila1 , Álcio Coutinho de Paula1 , Leiser Franco de Morais Filho1 , Bruna Thomé Rassi1 RESUMO Objetivo: Avaliar a eficácia e a segurança do uso intraoperatório da mitomicina C (MMC) no tratamento cirúrgico do pterígio. Métodos: Estudo de 102 pacientes (204 olhos) divididos em dois grupos, e submetidos a exérese do pterígio com rotação de retalho conjuntival e aplicação intra-operatória de MMC 0,02% por 2 minutos e a mesma técnica utilizando solução salina a 0,9% (grupo controle). Os pacientes foram avaliados no 1º, 7 º, 21º, 30º, 60º e 90º dia de pós-operatório (PO). Resultados: Houve um maior acometimento do pterígio no sexo feminino (59,9%). A idade variou entre 33 a 69 anos. As recidivas (9) no no grupo MMC foram identificadas no 90º PO. No grupo controle foi identificado 18 recidivas em 60 dias de pós-operatório. As complicações identificadas no grupo da MMC foram: ceratite, edema de pálpebra, deiscência de sutura, isquemia, granuloma, corneal dellen e simbléfaro. Conclusão: O uso da MMC foi útil na redução da taxa de recidiva do pterígio, comparada ao uso de solução salina, porém seus efeitos deletérios devem sempre ser avaliados. Descritores: Mitomicina/administração & dosagem; Pterígio/cirurgia; Conjuntiva; Granuloma; Cornea ABSTRACT Purpose: Measure of efficacy and the security of intraoperative of mitomycin C (MMC) in the pterygium surgery. Methods: Realized prospective analysis of 102 patients (204 eyes) divided in two groups submitted intraoperative MMC 0.02 % for 2 minutes or saline solution 0.9%. The patients were available in 1º, 7 º, 21º, 30º, 60º and 90º days of postoperative. Results: The pterygium was more prevalence in females (58,33%). The age various 33 to 69 years. The recidive (9) was in the 90º PO in the group of MMC. In the control group was identificated two recidives in 60 days. The complications found in MMC group were: ceratitis, lips edema, dehiscence of suture, ischemia, granuloma, corneal dellen and simblefaro. Conclusion: The use of MMC was useful in reducing the rate of recurrence in pterygium compared to the use of saline solution, but its harmful effects must always be evaluated. Keywords: Mitomycin/administration & dosage; Pterygium/surgery; Conjunctiva; Granuloma; Córnea 1 Centro de Referência em Oftalmologia (CEROF), Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. Instituição onde o trabalho foi realizado: Centro de Referência em Oftalmologia (CEROF), Universidade Federal de Goiás (UFG) – Goiânia (GO), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 21/3/2010 - Aceito para publicação em 26/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 84-8 Eficácia do uso intraoperatório de mitomicina C na cirurgia do pterígio: análise de 102 casos INTRODUÇÃO O pterígio é caracterizado por um crescimento de tecido fibrovascular da conjuntiva bulbar sobre a córnea. É uma doença com maior frequência em indivíduos de países de clima tropical, geralmente próximos ao equador, acometendo predominantemente indivíduos do sexo masculino e acima dos 30 anos de idade.(1) A etiologia é de origem ainda bastante discutida e incerta, aventando-se a hipótese de influência multifatorial, decorrente da associação entre a exposição à radiação ultravioleta, microtraumas produzidos por pó e areia em indivíduos susceptíveis, entre outras.(2) Os pterígios sintomáticos podem ser ressecados de maneira simples, porém a taxa de recorrência é bastante alta, variando de 40 a 89%. Diversos tratamentos têm sido recomendados na tentativa de diminuir a sua recorrência: betaterapia, esclera nua, rotação de retalho conjuntival, transplante autólogo de conjuntiva, enxerto de membrana amniótica, entre outras.(3) A mitomicina C na cirurgia de pterígio pode ser usada em concentrações que variam de 0,02 a 0,1% na forma de colírios ou aplicada diretamente sobre a esclera nua após a ressecção cirúrgica, sendo bastante eficaz na diminuição da taxa de recorrência do pterígio.(4,5) Apresenta complicações tais como: defeitos epiteliais persistentes, catarata, necrose escleral, granulomas e simbléfaros, os quais devem ser avaliados antes da opção pelo seu uso. (2,3) A taxa de recidiva do pterígio com técnicas em que se utiliza a mitomicina C intraoperatória tem sido relatada como sendo em torno de 4%.(6) O presente trabalho tem como objetivo comparar, em pacientes portadores de pterígio bilateral, a ressecção com rotação de retalho conjuntival com e sem o uso intraoperatório de MMC, a fim de avaliarmos sua eficácia, segurança e as possíveis complicações. MÉTODOS Realizou-se uma análise prospectiva de 102 pacientes (204 olhos) atendidos no ambulatório do CEROF (Centro de Referência em Oftalmologia) da Universidade Federal de Goiás, portadores de pterígio bilateral primário submetidos à exérese com rotação de retalho conjuntival associado à aplicação intraoperatória de MMC (0,02%), comparada à rotação de retalho conjuntival e aplicação de solução salina (0,9%) no olho contralateral (grupo controle). O protocolo de seleção foi confeccionado cons- 85 tando de nome, idade, sexo, acuidade visual com correção no pré e no pós-operatório, classificação do pterígio quanto ao tamanho e tipo segundo a classificação proposta por Garrido et al,(7) as intercorrências intra-operatórias e as evoluções pós-operatórias. Os pacientes foram escolhidos aleatoriamente, independentes de idade e do sexo, com posterior recebimento do termo de informação do presente estudo. Os critérios de inclusão forma: pterígio bilateral e nunca submetidos a tratamento cirúrgico, e termo de consentimento prévio. Este estudo foi previamente analisado e aprovado pela comissão de ética do Hospital das clínicas da Universidade Federal de Goiás. O nível de proliferação da conjuntiva foi analisado e classificado segundo Garrido et al(7): Tamanho:Grau I – crescimento de 2 mm além do limbo; Grau II – crescimento entre 2 a 3,5 mm do limbo; Grau III – crescimento acima de 3,5 mm do limbo. Macroscopia: Atrófico - vasos esparsos e não elevados; Carnoso: vasos ingurgitados e elevados. O primeiro olho a ser operado e a escolha do uso ou não do antimitótico no intraoperatório ocorreu de maneira aleatória. Os olhos de um mesmo paciente foram operados pelo mesmo cirurgião com intervalo de 15 dias e sob bloqueio peribulbar com cloridrato de lidocaína 2% e cloridrato de bupivacaína 0,75% (2 ml). A técnica consistiu da dissecção da conjuntiva importando o corpo do pterígio, seguido por excisão e separação entre corpo e cabeça do mesmo. O corpo foi ressecado preservando-se a maior área de conjuntiva sadia. Aplicação de zaragatoa embebida com MMC 0,02% ou solução salina 0,9% por 2 minutos. Enxágue com 60 ml de soro fisiológico. Remoção da cabeça do pterígio e delaminação da córnea com lamina de bisturi nº 15. Confecção e rotação de retalho conjuntival pedunculado superior e sutura no leito escleral com 2 pontos episclerais no limbo e pontos contínuos tipo chuleio ancorado com fio trançado absorvível nº 7,0 (Vicryl® 7.0). Aplicação de pomada oftalmológica de polimixina B, neomicina e dexametasona (Maxitrol®) e curativo oclusivo por 24 horas. Os pacientes foram avaliados no 1º, 7º, 21º, 30º, 60º e 90º dia de pós-operatório. Receberam no pós-operatório colírio de polimixina B, neomixina e dexametasona (Maxitrol®) 6 vezes ao dia por 15 dias e, após, 4 vezes por dia por mais 15 dias. Foi considerada como recidiva, a proliferação fibrovascular na córnea além limbo, pela mesma classificação prévia. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 84-8 86 Correa e Silva RS, Ávila MP, Paula AC, Morais Filho LF, Rassi BT RESULTADOS quemose em 9 (8,8%). No 7º PO observou-se deiscência de sutura em 16 olhos (15,68%) e algum grau de isquemia conjuntival em 8 (7,8%). No 21º PO observouse corneal dellen discreto (4), simbléfaro (4), granuloma (4) e isquemia de retalho (4), correspondendo a 3,9% cada uma destas alterações. Não foram observadas alterações no 30º e no 60º dia. Nove proliferações conjuntivais grau I foram verificadas no 90º PO e consideradas recidivas (Tabela 1). Nos olhos tratados com solução salina 0,9% (controle) observou-se no 1º pós-operatório, ceratite em 52 olhos (50,9%) e edema de pálpebra em 9 (8,8%). No 7º dia 8 olhos (7,8%) apresentaram quemose. No 60º PO, dezoito olhos (17,6%) apresentaram proliferação fibroconjuntival grau I considerada recidiva. Não foram observadas complicações no 21º, 30º e 90º dia de pós-operatório (Tabela 2). A amostra consistiu em 102 pacientes (204 olhos) sendo que 41 (40,1%) eram do sexo masculino e 63 (59,9%), do sexo feminino. A idade variou de 33 a 69 anos com a média de 52,58 anos. Em relação ao tamanho, 68 olhos (33,33%) eram de grau I, 92 (45,1%) de grau II e 44 (21,5%) de grau III. Noventa e quatro olhos (46,08%) eram tidos como atróficos e 110 (53,92%) carnosos. A acuidade visual pré-operatória com a melhor correção variou de 20/20 a contadedos (CD) a 50 cm. Não houve intercorrências intraoperatórias que comprometessem a técnica operatória. Dos olhos submetidos à exérese com MMC, observou-se que no 1º PO a presença de ceratite em 66 olhos (64,7%), edema de pálpebra em 9 (8,8%) e Tabela 1 Complicações pós-operatórias com o uso intraoperatório de mitomicina na exérese de pterígio Complicações Dellen Ceratite Quemose Edema de pálpebra Deiscência de sutura Isquemia do retalho Simbléfaro Granuloma Recidiva Total Dias de pós-operatório 1º 7º 21º 30º 60º 90º Total 66 09 09 84 16 08 24 04 04 04 04 16 0 0 09 09 04 66 09 09 16 12 04 04 09 133 Tabela 2 Complicações pós-operatórias com o uso intraoperatório de solução salina 0,9% (controle) na exérese de pterígio Complicações Ceratite Quemose Edema de pálpebra Recidiva Total Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 84-8 Dias de pós-operatório 1º 7º 21º 30º 60º 90º Total 52 09 61 08 8 0 0 18 18 0 52 8 9 18 87 Eficácia do uso intraoperatório de mitomicina C na cirurgia do pterígio: análise de 102 casos DISCUSSÃO Não se encontra de modo específico a prevalência de pterígio em indivíduos do sexo masculino ou feminino, porém, num relato de casos de 5147 pacientes(8) houve maior ocorrência em mulheres (55,4%), o que coincidiu com os achados desta análise onde se verificou 59,9% de mulheres acometidas. Este dado difere de outro estudo que identificou uma maior prevalência em indivíduos do sexo masculino.(9) Em relação à idade, este estudo detectou idade variando entre 33 e 69 anos (média de 52,58 anos), foi excluído um caso com idade inferior a 20 anos, pois o mesmo apresentava pterígio recidivado. Outros estudos relataram idades entre 40 e 101 anos(8). Jaros et al(10) considerou a maior incidência em indivíduos acima de 30 anos. A acuidade visual pré-operatória dos pacientes variou amplamente entre 20/20 e CD a 50 cm. O paciente com a pior AV apresentava um pterígio Grau III carnoso medindo 9,5 mm de comprimento além do limbo em ambos os olhos, o que lhe causava grande prejuízo visual. Este paciente apresentou no pós-operatório, acuidade visual corrigida de 20/30. Uma grande melhora visual foi experimentada por outros dois pacientes que também apresentavam pterígio grau III, com ganho de 5 linhas da tabela de Snellen em uma paciente com 20/100, e de 2 linhas em outro com 20/40. Nos olhos submetidos à exérese com MMC, identificou-se 133 complicações ao longo do segmento, enquanto 87 foram encontradas naqueles submetidos à exérese com solução salina (grupo controle). O maior índice de complicações com o uso da MMC é amplamente descrito na literatura sendo mais frequentes: corneal dellen, isquemia, granuloma e simbléfaros, todas encontradas nesta análise.(2,3) No 1º PO as complicações encontradas no grupo da MMC foram a ceratite, por óbvia lesão de córnea após a retirada do pterígio, e quemose associada a edema de pálpebra que foram atribuídos a fatores intrínsecos do paciente e também a microtraumas do blefarostato. O mesmo ocorreu no grupo controle, onde foram identificados ceratite e edema de pálpebra no 1º PO. Observou-se a presença de deiscência de sutura no 7º PO em 16 casos, o que poderia ser relacionada ao emprego da MMC. Esta complicação não foi observada no grupo controle. A isquemia observada no 7º PO foi observada apenas em parte do retalho e apresentou evolução benigna. A opção pelo emprego da MMC antes da retirada da cabeça do pterígio foi feita na tentativa de prevenir os efeitos deletérios da substância sob a córnea 87 desepitelizada. No 21º PO observou-se o maior número de complicações (16 casos) mais graves que as anteriores. Destas, o corneal dellen e o simbléfaro foram os mais preocupantes e atribuídos ao emprego da MMC. O tratamento do corneal dellen foi feito com o uso de lubrificantes e seguimento diário. Os pacientes que apresentaram simbléfaro foram encaminhados ao setor de plástica ocular sendo submetidos à cirurgia corretiva. A recidiva do pterígio no grupo da MMC foi identificada em apenas 09 (8,8%) olhos e no 90º dia de pós-operatório. Esta taxa de recidiva pode ser considerada elevada se comparada a outros trabalhos, que identificaram taxas de 3,7% e 3,0%.(10,11) Em uma análise de 103 olhos operados com MMC a 0,04% no intraoperatório verificou-se recidiva em 8,74%,(12) duas vezes maior que a observada neste estudo. O número de recidivas encontrado no grupo controle foi o dobro comparativamente com o encontrado no grupo da MMC, ou seja, 17,6% e foram identificados no 60º PO, trinta dias antes do aparecimento no grupo da MMC. Esta taxa está abaixo das taxas de recidiva da exérese simples, que variou de 40 a 89%.(2,3) Outras técnicas podem evoluir com baixa recidiva pós-cirurgia de pterígio, o transplante de membrana amniótica associada ao transplante de conjuntiva autólogo no tratamento do pterígio primário pode evoluir com recidivas de 2,0 a 7,89%.(13,14) CONCLUSÃO Houve um maior acometimento do pterígio em pacientes do sexo feminino neste estudo, o que está em concordância com outros estudos. A mitomicina C (0,02%) intraoperatória aplicada foi efetiva neste estudo, no controle da recidiva da proliferação fibrovascular e no aparecimento desta recidiva, quando comparada com o grupo controle, embora sabendo que devem sempre ser analisadas as possíveis complicações inerentes ao seu uso antes da opção pelo seu emprego. Agradecimentos: Instituição CEROF (Centro de referência em Oftalmologia) da Universidade Federal de Goiás (UFG). REFERÊNCIAS 1. 2. Anuch J P, Becker C D. Manejo quirúrcico de pterigium. Arch Chil Oftalmol. 2004;61(2):51-6. Rodriguez JA, Ferrari C, Hernández GA. Intraoperative application of topical mitomycin C 0.05% for pterygium surgery. Bol Asoc Med P R. 2004;96(2):100-2. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 84-8 88 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Correa e Silva RS, Ávila MP, Paula AC, Morais Filho LF, Rassi BT Victoria FHC, Dantas MCN, Almeida PB, Holzchuh N. Efeito da aplicação per-operatória de mitomicina-C a 0.02 sobre o tratamento de pterígio recidivado. Arq Bras Oftalmol. 1996;59(1):45-8, 50. Alves M, Rosa SF, Gadioli D, Raskin E, Raskin DG, Alves MR. Mitomicina C subconjuntival como adjuvante no tratamento cirúrgico de pterígio: resultados preliminares. Rev Bras Oftalmol. 2003;62(1):35-40. Herzog G, Moreno GL, Arteaga S, Sebastiá R. Colírio de mitomicina a 0,02 por cento em cirurgias de pterígio primário e pterígio recidivado: indicação estética e funcional. Rev Bras Oftalmol. 2003;62(1):29-33. de La Torre A, Toro L, Núñez MX. Cirugía de pterígio sin recurrencias. Colomb Med. 2004;35(3):161-3. Garrido C, Campos M. Acuidade visual, refração e videoceratografia após a cirurgia do pterígio. Arq Bras Oftalmol. 1997;60(5):470-6. Rodríguez Durán M. Autoinjerto de conjuntiva y mitomicina C como tratamiento combinado para el pterigión. Rev Oftalmol Venez. 2002;58(2):36-42. McCarty CA, Fu CL, Taylor HR. Epidemiology of pterygium in Victoria, Australia. Br J Ophthalmol. 2000;84(3):289-92. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 84-8 10. 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Fax: (62) 3096-8000 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL89 Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória Intrastromal corneal ring segments for keratoconus: results and correlation with preoperative corneal biomechanics Renato Ambrósio Jr1,2; José Salgado Borges3,4; Cláudia Costa-Ferreira3,4; Vinícius Coelho2; Renata Siqueira da Silva1,2; Bruno Valbon1,2; Jorge Augusto Siqueira2; Guillermo Coca Velarde5 RESUMO Objetivo: Verificar os resultados da cirurgia de implante de segmentos de anel estromal para ceratocone e as possíveis correlações existentes entre o resultado cirúrgico e o estado biomecânico da córnea no pré-operatório. Métodos: Dezenove olhos de 19 pacientes com ceratocone foram avaliados antes e 12 meses após a cirurgia de implante de segmento anel estromal. O implante de um ou dois segmentos de anel de Ferrara foi realizado de acordo com o nomograma, considerando-se espessura da córnea, padrão topográfico da ectasia e o astigmatismo. O teste de Wilcoxon signed rank foi realizado para verificar diferenças entre a acuidade visual (logMAR) corrigida com óculos antes da cirurgia (AVccPré) e a obtida sem correção (AVscPós) e com correção (AVccPós) após a cirurgia, bem como entre os valores pré e pós-operatórios de variáveis tomográficas medidas com o Pentacam e variáveis biomecânicas da córnea medidas com o ORA (ocular response analyzer). As diferenças absolutas antes e após a cirurgia (valores delta – Δ) das variáveis com diferenças significantes foram calculadas. Os valores Δ foram correlacionados com as medidas do ORA no pré-operatório por meio dos testes de Pearson ou de Spaerman, de acordo com a distribuição das variáveis ser normal ou não (teste de Kolmogorov-Smirnov). Resultados: Observou-se melhora significante na AVcc, bem como na AVscPós em comparação com a AVccPré (teste de Wilcoxon, p<0,05). Houve redução significativa do astigmatismo ceratométrico (AST), dos valores ceratométricos centrais (K1 e K2), do valor ceratométrico mais elevado (KMáx) e dos índices CKI (índice de severidade do ceratocone - center keratoconus index ), IHD (índice de descentração da elevação - index of height decentration) e ISV (índice de variação da superfície - index of surface variance) após a cirurgia (teste de Wilcoxon, p<0,05). Observou-se um significativo aumento da espessura corneana a 3,8 e a 4mm do ápice em direção temporal no meridiano horizontal, bem como houve deslocamento inferior significativo da posição do KMáx (teste de Wilcoxon, p<0,05). Nenhuma variável biomecânica apresentou diferença estatisticamente significante após a cirurgia (teste de Wilcoxon, p>0,05). Os parâmetros do ORA derivados das pressões de aplanamento: histerese da córnea (corneal hysteresis – CH), fator de resistência da córnea (corneal resistance factor – CRF) e as medidas da pressão ocular (IOPg e IOPcc) não apresentaram correlações significantes com os parâmetros delta (Δ). Quinze das 38 variáveis biomecânicas derivadas do sinal de reflexo da córnea do ORA apresentaram correlação significante com pelo menos um parâmetro Δ, destacando-se as correlações entre o ΔKMáx com aindex e path1 (teste de Pearson, p<0,05; r=-0,56 e 0,56 respectivamente) e entre o ΔAVccPré-AVscPós e aindex (teste de Pearson, p<0,05; r=0,48). A variável que teve maior número de correlações significantes foi w21, que se correlacionou negativamente com ΔK2, ΔK1, ΔCKI e ΔKMáx (teste de Spearman, p<0,05; r=-0,56; -0,55; -0,51 e -0,47) respectivamente. Conclusão: Existe melhora significante da acuidade visual e de parâmetros ceratométricos após cirurgia de implante de segmentos de anel de Ferrara para ceratocone. A melhora de diversos destes parâmetros com a cirurgia foi significativamente correlacionada com características biomecânicas derivadas do sinal do reflexo da córnea do ORA no préoperatório. Um estado biomecânico pré-operatório “mais fraco” ou “menos resistente” foi significativamente relacionado com um maior benefício clínico da cirurgia. Análises com associações múltiplas (multivariadas) são necessárias, incluindo parâmetros tomográficos da córnea e de aberrometria total do pré-operatório. Tais informações abrem novos horizontes para a seleção de pacientes e o planejamento de cirurgia de implante de segmentos de anel para ceratocone. Descritores: Ceratocone/cirurgia; Córnea/fisiologia; Próteses e implantes; Acuidade visual; Período pré-operatório; Resultado de tratamento Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica de Córnea do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Serviço de Oftalmologia do Hospital de São Sebastião, Santa Maria da Feira, Portugal; 4 Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. 5 Departamento de Estatística, Universidade Federal Fluminense - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Trabalho ganhador do 39º Prêmio Varilux – SBO 2011 na Categoria Master 1 2 Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 4/4/2011 - Aceito para publicação em 30/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 90 Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velarde GC ABSTRACT Objective: To verify possible correlations between the biomechanical state of the cornea before surgery and the results of stromal ring segments implant for keratoconus. Methods: Nineteen eyes of 19 patients with keratoconus were evaluated before and 12 months after stromal ring segment implant surgery. The implant of one or two Ferrara ring segments was performed accordingly to the nomogram, considering corneal thickness, ectasy pattern on topography and astigmatism. The Wilcoxon test was performed to verify the differences between visual acuity (logMAR) with correction before surgery (AVccPre) and without correction (AVscPos) and with correction (AVccPos) after surgery, topography variables measured with Pentacam on pre and post operative and corneal biomechanics variables measure with ORA (ocular response analyzer). The absolute differences before and after the surgery (delta values - Δ) of variables with significant differences were calculated. The Δ values were correlated with the ORA measurements pre-operatively using Pearson or Spearman’s tests, according with the distribution of the variables to be or not normal (Kolmogorov-Smirnov test). Results: There were significant improvements on AVcc and AVscPos comparing with AVccPre (Wilcoxon test, p<0,05). Significant reduction was observed on keratometric astigmatism (AST), Keratometric central values (K1 and K2), higher keratometric value (KMax) and topometric indices: CKI (Center Keratoconus Index), IHD (Index of Height Decentration) and ISV (Index of Surface Variance) after surgery (Wilcoxon test, p<0.05). There was a significant increase in corneal thickness of 3.8 and 4 mm from the apex toward the temporal horizontal meridian observed a significant increase on cornea thickness, and there was significant downward displacement of the position of KMax (Wilcoxon test, p<0.05). No variable biomechanical statistically significant difference after surgery (Wilcoxon test, p>0.05). The ORA parameters derivate form the aplanation pressure: Corneal Hysteresis (CH), Corneal Resistance Factor (CRF) and the measures of the ocular pressure (IOPg and IOPcc) showed no significant correlations with the parameters delta (Δ). Fifteen of the 38 biomechanical variables derived from the sign of ORA corneal reflex presented significant correlation with at least one parameter Δ, highlighting the correlations between ΔKMax with aindex e path1 (Pearson test, p<0.05; r=-0.56 and 0.56 respectively) and between AVccPre-AVscPos and aindex (Pearson test, p<0.05; r=0.48). The variable that had the greatest number of significant correlations was w21, which correlated negatively with, ΔK2, ΔK1, ΔCKI and ΔKMax (Spearman test, p<0.05; r=-0.56; -0.55; -0.51 and -0.47) respectively. Conclusion: There is a significant improvement in visual acuity and keratometric parameters after surgery of implant the Ferrara ring segments for keratoconus. The improvement of several of these parameters with the surgery was significantly correlated with biomechanical characteristics derived from the signal of the ORA corneal reflex preoperatively. A biomechanical preoperative state “weaker” or “less resistant” was significantly related to greater clinical benefit of surgery. Analysis with multiple associations (multivariate) is necessary, including topographic parameters of the cornea and wavefront analysis of preoperative total. This information opens up new horizons for patient selection and planning of ring segments implant surgery for keratoconus. Keywords: Keratoconus/surgery; Cornea/physiology; Prostheses and implants; Visual acuity; Preoperative period; Treatment outcome INTRODUÇÃO O implante de segmento de anel estromal é uma alternativa cirúrgica para tratamento de ceratocone.(1-20) Tradicionalmente, a cirurgia é indicada para adiar ou mesmo evitar o transplante de córnea em casos em que a reabilitação visual não é possível com métodos tradicionais (óculos e lentes de contato [LC]).(2,7,12,13,19,20) Entretanto, existe uma tendência para indicações mais precoces e de forma eletiva (ex. casos ainda com boa acuidade visual com LC),(13-18) havendo uma exigência crescente para maior previsibilidade e segurança para estes procedimentos. Embora os resultados com estes procedimentos sejam altamente satisfatórios, existe uma grande variabilidade nos resultados obtidos. Por exemplo, é comum observarmos que dois casos com ceratocone apresentado características topográficas similares tenham resultados distintos apesar de ter um mesmo plano de cirurgia realizada por cirurgião experiente. Os nomogramas classicamente levam em consideração o aspecto topográfico (curvatura axial) da ectasia, a espessura da córnea e o estado refracional do paciente. (7,13,19) Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 Figura 1: Padrão de distribuição da ectasia no mapa de curvatura (axial ou sagital) da topografia Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória Nomogramas mais avançados são propostos com base em novas variáveis, como cálculos da aberrometria (decomposição dos polinômios de Zernike) da córnea21 e estudos vetoriais do astigmatismo.(22) Outras variáveis como a asfericidade da córnea vêm sendo estudadas para aprimorar os nomogramas de implante de anel, sendo esta uma das áreas de maior interesse da subespecialidade. Desde o advento da topografia corneana,(23,24) que estuda detalhadamente a face anterior da córnea, novas tecnologias incrementam a propedêutica para caracterização da córnea em nível tomográfico, (25,26) biomecânico,(27-29) bem como das aberrações de alta ordem do sistema óptico ocular.(24,30) Variáveis geradas por estes exames mais avançados permitem, além de aumentar nossa capacidade de diagnóstico e prognóstico de ceratocone e outras ectasias, melhorar o planejamento cirúrgico e o seguimento dos resultados obtidos. Considerando-se a variabilidade dos resultados obtidos com implante de segmento de anel para ceratocone, levantamos a hipótese que o comportamento pós cirúrgico está relacionado com o estado biomecânico da córnea. O presente estudo reporta os resultados com um ano de seguimento de uma série de casos de ceratocone tratados cirurgicamente com implante de um ou dois segmentos de anel de Ferrara. Os resultados foram correlacionados com características biomecânicas pré-operatórias da córnea obtidas com o ORA (ocular response analyzer, Reichert). MÉTODOS O estudo retrospectivo incluiu 19 olhos de 19 pacientes com ceratocone, tratados com implante de um ou dois segmentos de anel de Ferrara. Os pacientes foram operados pelo mesmo cirurgião (JSB). O estudo seguiu os critérios e recomendações da Declaração de Helsinki. Os pacientes apresentavam ceratocone com grau II ou III (Amsler-Krumeich), eram intolerantes ao uso de lentes de contato e concordaram com os riscos, benefícios e limitações da cirurgia proposta. Todos os pacientes assinaram termo de consentimento e concordaram em participar deste estudo. Os critérios de exclusão para a cirurgia foram opacidade central da córnea e espessura inferior a 370µm ou a 460µm no local da incisão. O implante de um ou dois segmentos de 160º de arco anel de Ferrara, que apresenta formato triangular com 600µm de base, raio interno 5mm e raio externo 6mm, foi realizado de acordo com nomograma em vigência. O nomograma utilizado considerou a espessura da córnea e 91 o padrão topográfico da ectasia no mapa de curvatura axial ou sagital e o astigmatismo. O implante de um ou dois segmentos e a distribuição das espessuras destes foi definida com base na distribuição ceratométrica da ectasia, dividindo-se a córnea em metades (Figura 1). Por exemplo, se 100% da área de maior curvatura no mapa de curvatura axial estivesse localizado em uma metade, apenas um seguimento seria implantado. Se 25% ou mais estivesse na outra metade, um segundo seguimento era utilizado, mantendo-se a relação das espessuras dos seguimentos o mais semelhante possível com a da distribuição da área de maior curvatura. As cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião sob anestesia tópica. A profundidade da incisão foi de 80% da espessura no local da incisão de acordo com o mapa paquimétrico (Pentacam). Uma incisão única superior foi realizada. A marcação do trajeto do anel com tinta de violeta de Genciana foi centralizada no primeiro reflexo de Purkinje da córnea com fixação do paciente no feixe de luz do microscópio. Após incisão com bisturi de diamante, a dissecção foi realizada de forma manual com criação de um bolso inicial com dissector de Soares, seguindo-se com confecção do túnel com espátulas curvas de Ferrara para única incisão. O implante de um ou dois segmentos de anel foi realizado com pinça e gancho tipo Sinskey. Associação de colírio antibiótico e corticóide foi usada por uma semana. Lubrificantes e tratamento antialérgico tópicos foram prescritos de acordo com cada caso. Os pacientes foram avaliados antes e após 12 meses da cirurgia. Os pacientes foram submetidos, antes e após a cirurgia, a exame oftalmológico geral, incluindo medidas da acuidade visual sem e com correção, biomicroscopia, fundoscopia, refratometria, tonometria e estudo biomecânico da córnea com o ORA (Reichert) e tomografia de córnea e segmento anterior com o Pentacam (Oculus). A acuidade visual (AV) foi convertida de frações de Snellen com numerador 20 para logMAR. A AV corrigida com melhor correção antes da cirurgia (AVccPré) foi comparada com a obtida sem correção (AVscPós) e com correção (AVccPós) após a cirurgia. Cinco índices topométricos, calculados a partir de dados do mapa de curvatura axial anterior (Tabela 1) foram estudados juntamente com a ceratometria central (K1 e K2), o valor de ceratometria mais elevado (KMáx) e sua posição cartesiana (x [sempre positivo na direção nasal] e y [positivo superior]) em relação ao ponto central dos mapas (ápice). Além das variáveis topométricas, a espessura central, a do ponto mais fino e as espessuras ao longo do meridiano horizontal passando pelo ponto mais fino com Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 92 Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velarde GC Tabela 1 Variáveis topométricas do Pentacam CKI Center Keratoconus Index ISV IVA Index of Surface Variation Index of Vertical Asymmetry IHA Index of Height Asymmetry ‘ Index of Height Decentration IHD índice que combina valores ceratométricos para diagnóstico de ceratocone variação da curvatura em relação ao valor médio simetria superior e inferior dos valores ceratométricos simetria superior e inferior dos valores de elevação valor de descentralizacao dos dados de elevação no eito vertical 0,2mm de intervalo foram estudadas, juntamente com os índices de progressão paquimétrica. Além dos parâmetros básicos do ORA derivados das pressões de aplanamento: histerese da córnea (Corneal Hysteresis – CH), fator de resistência da córnea (Corneal Resistance Factor – CRF) e as medidas da pressão ocular (IOPg e IOPcc),(29) 38 variáveis biomecânicas derivadas do sinal de reflexo da córnea do ORA foram estudadas. Estas 38 novas variáveis foram introduzidas por David Luce, PhD com o objetivo de descrever numericamente o comportamento da deformação da córnea em resposta ao sopro de ar durante o exame do ORA (Tabela 2, Figura 2). O teste de Wilcoxon signed rank para grupos pareados com distribuição não paramétrica foi realizado para verificar diferenças de cada parâmetro estudado antes e após a cirurgia. As diferenças absolutas (valores delta – Δ) entre as variáveis com diferenças significantes antes e após a cirurgia foram calculadas. Quanto maior o valor Δ, maior o benefício com a cirurgia, com exceção dos valores de espessura. Por exemplo, a melhora da AV em logMAR apresenta redução dos valores, assim como o deslocamento vertical do KMáx, que se apresenta mais negativo (mais deslocado inferiormente) após a cirurgia (Figura 3). As reduções do astigmatismo e dos valores ceratométricos são associadas com melhores resultados, também determinando valores Δ positivos. Os valores Δ foram correlacionados de forma pareada para cada caso com as medidas do ORA no pré-operatório por meio dos testes de Pearson ou de Spearman, de acordo com a distribuição das variáveis ser normal ou não (teste de Kolmogorov-Smirnov). Caso ambas as variáveis, valor Δ e o parâmetro do ORA pré-operatório, tivessem distribuição normal, o teste de Pearson era utilizado. No caso de uma das variáveis correlacionadas não apresentar distribuição normal, o teste de Spearman era utilizado. Valores de p menores que 0,05 foram considerados como estatisticamente significantes. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 Tabela 2 Variáveis do ORA IOPg IOPcc CRF CH LTI aindex bindex p1area p2area aspect1 aspect2 uslope1 uslope2 dslope1 dslope2 w1 w2 h1 h2 dive1 path1 path2 mslew1 mslew2 slew1 slew2 aplhf p1area1 p2area1 aspect11 aspect21 uslope11 uslope21 dslope11 dslope21 w11 w21 h11 h21 path11 RESULTADOS Quatorze pacientes eram do sexo masculino e 5 pacientes do sexo feminino. A idade variou entre 24 e 46 anos (31.9 ± 6.2). De acordo com o nomograma, considerando-se a distribuição da ectasia no mapa de curvatura axial anterior, optou-se pela colocação de um segmento de anel em 10 olhos e dois segmentos em 9 casos. O acompanhamento pós-operatório médio foi de 18 ± 4,3 meses, variando entre 16 e 27 meses. Observou-se melhora significante na AVcc antes e após a cirurgia, bem como na AVscPós em comparação com a AVccPré (teste de Wilcoxon, p<0,001 e p=0,03). A média da acuidade visual corrigida (AVcc) melhorou de 0,4±0,28 (20/50) para 0,11±0,11 (20/26). A média da Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória 93 Tabela 3 Variáveis topométricas com diferenças significante antes e 12 meses após cirurgia de implante de segmentos de anel de Ferrara (*Teste de Wilcoxon) valor p* Média Pré Desv. Pad. Pré Média Pós Desv. Pad. Pós K1 (D) K2 (D) ASTIG K Max CKI IHD ISV 0,025 48,484 3,723 45,911 3,017 0,008 53,826 4,907 49,495 4,615 0,028 5,54 3,02 3,44 2,61 0,027 60,375 6,081 55,613 6,635 0,007 1,093 0,041 1,054 0,043 0,032 0,121 0,044 0,090 0,040 0,014 122,368 32,733 93,47 34,835 Tabela 4 Sumário de todas as correlações significantes entre os valores Δ e os parâmetros biomecânicos pré-operatórios Melhora com cirurgia (Valor Δ) Parâmetro biomecânico pré-op Teste Valor p Coeficiente de correlação KMáx AVccPré x AVscPós KMáx_y KMáx_y ASTIG ASTIG KMáx_y KMáx Paqui temp. a 4mm ápice Paqui temp. a 3,8mm ápice KMáx K2.D KMáx_y ASTIG KMáx_y KMáx_y K1 CKI K2 K1 CKI KMáx aindex aindex aspect11 aspect21 bindex LTI mslew1 p1area1 p2area p2area path1 Slew1 slew1 slew2 w1 w11 w2 w2 w21 w21 w21 w21 Pearson Pearson Pearson Pearson Spearman Pearson Pearson Pearson Spearman Spearman Pearson Pearson Pearson Pearson Pearson Pearson Pearson Pearson Spearman Spearman Spearman Spearman 0,0115 0,036 0,0226 0,0399 0,0364 0,0428 0,0317 0,0407 0,0412 0,044 0,0119 0,0346 0,0361 0,0489 0,0414 0,0175 0,041 0,048 0,0171 0,0198 0,0296 0,0459 -0.5664 0,4835038 0,5195514 0,4749466 -0,4922805 -0,4690226 0,4936497 -0,4733162 0,4820019 0,4756473 0,5637977 0,4866947 0,4831907 -0,457487 -0,4718817 -0,5379393 -0,4726129 -0,4590463 -0,5610617 -0,5483064 -0,5117734 -0,4696427 acuidade visual sem correção (AVscPós) pós foi de 0,29±0,26 (20/39). Houve também diferença significante entre a AVccPós e AVscPós (teste de Wilcoxon, p=0,009). Houve redução significativa do astigmatismo ceratométrico (AST), dos valores ceratométricos centrais (K1 e K2), do astigmatismo (ASTIG), do valor ceratométrico mais elevado (KMáx) e dos índices CKI (Center Keratoconus Index), IHD (Index of Height Decentration) e ISV (Index of Surface Variance) após a cirurgia (Tabela 3). Observou-se um significativo aumento da espessura corneana a 3,8 e a 4,0mm do ápice em direção temporal no meridiano horizontal (teste de Wilcoxon, p<0,05). A espessura média da córnea aumentou de 603±36 para 627±36 a 3,8mm e de 615±36 para 640±37 a 4mm. Observou-se deslocamento inferior significativo da posição do KMáx (teste de Wilcoxon, p<0,05). A posição do KMáx no eixo vertical (Y) passou de -1,09±0,84 para -1,85±1,22 (Figura 3). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 94 Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velarde GC Figura 2 - Análise do Sinal do ORA Nenhuma variável biomecânica apresentou diferença estatisticamente significante após a cirurgia (teste de Wilcoxon, p>0,05). Os parâmetros do ORA derivados das pressões de aplanamento: histerese da córnea (corneal hysteresis – CH), fator de resistência da córnea (corneal resistance Factor – CRF) e as medidas da pressão ocular (IOPg e IOPcc) não apresentaram correlações significantes com os parâmetros delta (Δ) (teste de Wilcoxon, p>0,05). Entretanto, 15 das 38 variáveis biomecânicas derivadas do sinal de reflexo da córnea do ORA apresentaram pelo menos uma correlação significante com um parâmetro Δ, que reflete o resultado da cirurgia. O sumário de todas as correlações significantes encontra-se na tabela 4. Correlações com coeficiente positivo significam que o aumento de uma variável está relacionado com o aumento da outra. Portanto, neste estudo, no caso de correlações negativas, quanto menor o parâmetro préoperatório, maior foi o valor Δ em questão. Destacam-se na figura 4, as correlações entre o ΔKMáx com aindex e path1 (teste de Pearson, p<0,05; r=-0,56 e 0,56 respectivamente), entre o ΔAVccPréAVscPós e aindex (teste de Pearson, p<0,05; r=0,48). A variável que teve maior número de correlações significantes foi w21, que se correlacionou negativamente com ΔK2, ΔK1, ΔCKI e ΔKMáx (teste de Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 Figura 3 - Deslocamento vertical do KMáx no eixo Y Spearman, p<0,05; rs=-0,56; -0,55; -0,51 e -0,47 respectivamente). O deslocamento vertical do KMáx se relacionou positivamente com mslew1, aspect21, aspect11 e slew1 (teste de Pearson, p<0,05; r=0,49; 0,47; 0,52; 0,48 respectivamente) e negativamente com w1 e w11 (teste de Pearson, p<0,05;r=-0,47 e -0,54 respectivamente). Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória 95 Figura 4 – Correlações entre a mudança da Ceratometria mais elevada (KMáx), K2 e melhor acuidade visual corrigida (AVcc) e parâmetros biomecânicos Figura 5 - Imagem de Scheimpflug, recomposição tomográfica e mapas paquimétricos pré, pós e diferencial Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 96 Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velarde GC Figura 6 - Dois exemplos com evoluções distintas após cirurgias similares. Mapas de curvatura sagital pré, pós e diferencial e o sinal do ORA pré-operatório DISCUSSÃO Ceratocone é uma distrofia ectásica não inflamatória de caráter progressivo, caracterizada por afinamento e encurvamento da córnea, com protrusão cônica central ou paracentral, que ocorre por uma falência biomecânica do estroma da córnea que não é mais capaz de resistir às pressões internas e externas exercidas.(31,32) A doença determina redução da acuidade visual, bem como na qualidade de visão, o que afeta significativamente a qualidade de vida do paciente.(33-37) No caso do tratamento da disfunção visual não ser adequado com óculos e inicialmente lentes de contato (LC) especiais, está indicada a cirurgia. As variações de ceratoplastia ou transplante de córnea eram as únicas cirurgias indicadas, sendo o ceratocone uma das causas mais frequentes de transplante de córnea.(38,39) Entretanto, novas técnicas cirúrgicas como a promoção de ligações covalentes para reticulação do colágeno corneano (crosslinking),(40-43) o implante de segmentos de anéis intra-estromais,(5,11,44-47) lentes fácicas,(48) e técnicas de fotoablação (49-53) são capazes de adiar ou mesmo evitar o transplante. Por outro lado, existe uma tendência crescente de indicar o tratamento cirúrgico do ceratocone mais precocemente. Por exemplo, a indicação do crosslinking deve Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 ser realizada para evitar a piora da visão, sendo fundamental uma propedêutica adequada para confirmar a indicação. Os avanços dos métodos diagnósticos em córnea, desde a topografia(23,54) até a tomografia com reconstrução 3-D,(25,26,55,56) o estudo biomecânico da córnea in vivo (29,57-61) e a aberrometria ocular,(62-64) se destacam também para o planejamento cirúrgico. O implante de anel foi inicialmente desenvolvido para tratamento de miopia. (65) Entretanto, o ceratocone se mostrou uma melhor indicação para este procedimento que adiciona material na periferia da córnea, com objetivo de induzir aplanamento central, o que também contribui para uma estabilidade estrutural. Neste estudo, observamos a eficácia da cirurgia de implantes de segmentos de anel de Ferrara para melhorar a acuidade visual após a cirurgia. Além de haver diferença significante na acuidade visual corrigida, a visão sem correção após a cirurgia mostrou-se melhor que a corrigida antes da cirurgia. Entretanto, após a cirurgia, os pacientes apresentaram melhor AV com correção que sem correção, o que indica que mesmo após o tratamento cirúrgico, os pacientes podem se beneficiar de correção com óculos. A orientação adequada dos pacientes é fundamental para que entendam o papel da cirurgia, sem expectativas irreais de eliminação total dos erros refrativos. Implante de segmentos de anel estromal em ceratocone: resultados e correlações com a biomecânica corneana pré-operatória Observou-se melhora significativa nos valores ceratométricos e em diversos parâmetros topométricos após implante de segmentos de anel em casos de ceratocone. Adicionalmente, o estudo tomográfico foi eficiente para identificar aumento da espessura da córnea na região temporal, a 3,8 e 4mm do ápice. Tal aumento de espessura reflete exatamente a posição do anel. Entretanto, não representa o aumento da espessura do anel, o que pode ser explicado por haver uma reorganização lamelar. Tal observação pode ser correlacionada com achados do mapa paquimétrico diferencial antes e após a cirurgia (Figura 5). Nenhuma variável biomecânica apresentou diferença estatisticamente significante após a cirurgia (teste de Wilcoxon, p>0,05). Tal observação corrobora com o conceito de que o implante de segmentos de anel não muda a estrutura da córnea, mas é capaz de equilibrar “ortopedicamente” a instabilidade ectásica, pois reduz o comprimento de arco das lamelas. A diminuição do arco reduz o “estresse” pressórico na córnea, equilibrando-a no seu aspecto biomecânico, o que contribui para estabilizar a progressão ectásica (afinamento e protrusão). Pode-se fazer uma analogia ao efeito de uma pestana no braço de um instrumento de cordas como o violão. O encurtamento da corda muda o som pela diferença na vibração acústica, mas não muda a composição da corda que mantém suas propriedades estruturais. Os parâmetros Δ foram calculados para representar o resultado da cirurgia. Desse modo, foram possíveis estudos estatísticos das correlações entre o estado biomecânico pré-operatório e o efeito da cirurgia. Os parâmetros derivados das pressões de aplanamento do ORA (CH, CRF) e as medidas pressóricas (IOPg e IOPcc) não apresentaram correlações significantes com os parâmetros delta (Δ). Entretanto, 15 das 38 novas variáveis biomecânicas derivadas do sinal de reflexo da córnea do ORA apresentaram correlações significantes com pelo menos um parâmetro Δ. Tal observação mostra que é fundamental atenção para as informações do sinal do ORA, que refletem o comportamento da córnea frente ao jato de ar. O estudo da deformação da córnea com o ORA se dá com o reflexo infravermelho que monitora a região de 1mm em torno do ápice. De forma geral, uma córnea com estrutura mais estável apresenta um sinal mais elevado e com menos irregularidade. A maioria dos parâmetros encontra-se reduzida em casos de ceratocone, com a exceção dos parâmetros path e aplhf, que representam a irregularidade do sinal do ORA durante a medida com o sopro de 97 ar, e aumentam de acordo com a severidade da ectasia. Observou-se deslocamento inferior significativo da posição do KMáx (teste de Wilcoxon, p<0,05). A posição do KMáx no eixo vertical (Y) passou de -1,09±0,84 para -1,85±1,22, mas houve grande variação nesta mudança com a cirurgia, o que pode ser observado no gráfico de “box-plot” na Figura 3. De forma geral, o deslocamento inferior do ponto de maior curvatura reflete um benefício da cirurgia de implante de segmentos de anel, pois afasta a área de maior curvatura e maior irregularidade do centro da córnea e, por conseqüência, da área pupilar. A mudança de posição vertical do KMáx apresentou correlações significativas positivas com mslew1, aspect21, aspect11 e slew1. Correlações negativas foram encontradas com w1 e w11 (teste de Pearson, p<0,05; r=-0,47 e -0,54 respectivamente). Enquanto a maioria das correlações foi negativa, corroborando com o fato que córneas mais fracas apresentam maior benefício com a cirurgia, houve correlações positivas com algumas variáveis, o que é paradoxal. Por exemplo, a variação do maior valor ceratométrico (ΔKMáx) foi significante com aindex e path1, sendo positiva na primeira e negativa na segunda. A melhora da visão sem correção em relação a visão corrigida antes da cirurgia (ΔAVccPré-AVscPós) se correlacionou positivamente com o aindex (teste de Pearson, p<0,05; r=0,48). A variável que teve maior número de correlações significantes foi w21, que se correlacionou negativamente com ΔK2, ΔK1, ΔCKI e ΔKMáx (teste de Spearman, p<0,05; r=-0,56; -0,55; -0,51 e -0,47) respectivamente. Tal questão pode ser explicada pelo fato de que algumas características da deformação podem ser relacionadas com propriedades viscoelásticas e elásticas e quando estas estão menos baixas, uma maior previsibilidade do remodelamento com o implante de anel é observada. Existem, portanto, diversas correlações de características biomecânicos da córnea com ceratocone no pré-operatório com o resultado da cirurgia. Nenhum estudo publicado ou apresentado em congressos de Oftalmologia reporta achados similares, sendo este o primeiro relato da literatura mundial que refere a influencia da biomecânica da córnea no resultado da cirurgia de implante de segmentos de anel estromal. A relevância destes achados pode ser demonstrada com os exemplos de dois pacientes com evolução bastante diferente após cirurgias similares e aspectos topográficos pré-operatórios similares (Figura 6). Enquanto o exemplo 1 apresentou um efeito mais irregular com pequena redução do astigmatismo e astigmatismo Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 89-99 98 Ambrósio Jr R; Borges JS; Costa-Ferreira C; Coelho V; Silva RS; Valbon B; Siqueira JA; Velarde GC residual superior a 5DC, o exemplo 2 apresentou uma maior correção do astigmatismo e um astigmatismo residual de 0,3DC. Observam-se diferenças no sinal do ORA pré-operatório em ambos os casos. As correlações foram significativas com coeficientes em torno de 0.5 (média dos valores absolutos foi 0,50, variando entre 0,46 e 0,57). Estudos com análises multivariadas são necessários para criar um modelo que traga uma possível equação com base em parâmetros biomecânicos para determinar uma correlação maior. Tal estudo fornecerá maior precisão para fatores prognósticos do implante de segmentos de anel para ceratocone. Tais observações deverão ser utilizadas para aprimorar os nomogramas destas cirurgias. O presente trabalho demonstra estatisticamente diversas correlações entre o aspecto biomecânico pré-operatório e o resultado da cirurgia de implante de segmentos de anel estromal, o que abre novos horizontes para o uso destas variáveis com o objetivo de melhorar o planejamento das cirurgias para ceratocone. REFERÊNCIAS 1. Alió JL, Piñero DP, Sögütlü E, Kubaloglu A. Implantation of new intracorneal ring segments after segment explantation for unsuccessful outcomes in eyes with keratoconus. J Cataract Refract Surg. 2010;36(8):1303-10. 2. AlióJL, Shabayek MH, Artola A. Intracorneal ring segments for keratoconus correction: long-term follow-up. J Cataract Refract Surg. 2006;32(6):978-85. 3. Alió JL, Shabayek MH, Belda JI, Correas P, Feijoo ED. Analysis of results related to good and bad outcomes of Intacs implantation for keratoconus correction. J Cataract Refract Surg. 2006;32(5):756-61. 4. Boxer Wachler BS, Christie JP, Chandra NS, Chou B, Korn T, Nepomuceno R. Intacs for keratoconus. 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Métodos: Estudo transversal (inquérito) realizado entre os acadêmicos do primeiro ano e último ano da graduação. Foi aplicado um questionário padronizado contendo uma autoavaliação na qual os acadêmicos graduaram seu conhecimento em “bom”, “regular” ou “insuficiente” e 10 questões de múltipla escolha abordando temas de UO. Os dados foram avaliados por medidas de tendência central e foram utilizados o Teste T de Student para a análise de variáveis contínuas e o Teste Qui-quadrado para variáveis categóricas através do software GraphPad InStat. Resultados: Foram entrevistados 70 acadêmicos do primeiro ano (77,7%) com média de idade igual a 20,9 anos e 49 acadêmicos do último ano (54,4%) com média de idade igual a 24,9 anos. A maioria dos acadêmicos do primeiro ano (83,1%) considerou seu conhecimento insuficiente e grande parte dos acadêmicos do último ano (43,2%) considerou regular (p=0,0001). A média das notas obtidas pelos acadêmicos de ambos os anos de graduação foi igual a 5,9, sendo 5,5 a média das notas do primeiro ano e 6,3 do último ano, com diferença estatisticamente significativa (p=0,0065). Conclusão: Foram observadas deficiências no conhecimento sobre UO entre os acadêmicos no presente estudo. Os resultados obtidos serão utilizados pela Liga de Oftalmologia da PUC-Campinas como subsídios para traçar estratégias de ensino mais efetivas no curso de Oftalmologia da graduação. Descritores: Avaliação; Conhecimentos, atitudes e prática em saúde; Estudantes de Medicina; Educação médica; Oftalmologia/educação; Emergências; Questionários Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC-Campinas - Campinas (SP), Brasil; Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC-Campinas - Campinas (SP), Brasil. 1 2 Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUC-Campinas - Campinas (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 5/4/2011 - Aceito para publicação em 29/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 Avaliação do conhecimento sobre urgências oftalmológicas dos acadêmicos da Faculdade de Medicina ... 101 ABSTRACT Objective: To evaluate the knowledge base of Pontifical Catholic University of Campinas medical students regarding ophthalmic emergencies (OE). Methods: Cross-sectional survey among first-year and sixth-year medical students based on data collection obtained through a standardized questionnaire containing a self-evaluation test in which the students had to evaluate their knowledge into “good”, “average” or “insufficient”, and 10 multiple choice questions covering the OE themes. The data were evaluated using measures of central tendency and Student’s T test for assessing the continous variables and the Chi-square test for the categorical variables using the GraphPad InStat software. Results: Seventy first-year medical students (77.7%) with an average age of 20.9 years and 49 sixth-year medical students (54.4%) with an average age of 24.9 years were interviewed. The majority of first-year medical students (83.1%) considered their knowledge “insufficient” and, the majority of sixth-year medical students (43.2%) classified their knowledge as “average” (p=0.0001). In the multiple choice questions, the first-year medical students obtained an average grade of 5.5 and the sixth-year medical students, 6.3 (p=0.0065), thus the average grade obtained by both graduation levels was equal to 5.9. Conclusion: The study found deficiencies in knowledge about OE. The results of this study will be used by the Ophthalmology Study Group for planning effective strategies for better teaching ophthalmology. Keywords: Evaluation; Health knowledge, attitudes, practice; Students, medical; Education, medical; Ophthalmology/education; Emergencies; Questionnaires A INTRODUÇÃO s urgências oftalmológicas (UO) representam cerca de 7% dos atendimentos em prontos-so corros gerais(1). Dentre essas afecções oculares, as mais frequentes são: trauma ocular contuso ou perfurante, infecções oculares e orbitárias, glaucoma agudo e as queimaduras químicas(1,2). O primeiro atendimento de uma urgência oftalmológica (UO) é realizado geralmente por médicos não oftalmologistas em prontos-socorros gerais. São esses profissionais os primeiros a conduzirem os casos de UO e decidirem sobre o diagnóstico e tratamento iniciais(3). Deste modo, conhecimentos básicos em UO são necessários para se tomar uma conduta correta e precoce, evitando danos oculares severos e o comprometimento irreversível da acuidade visual. Os médicos não oftalmologistas, em sua maioria, não se sentem seguros no atendimento de UO(3). A insegurança no atendimento é o reflexo da formação insuficiente no ensino da Oftalmologia durante a graduação médica, o que pode levar ao retardo na condução adequada das UO e, consequentemente, ao risco potencial de dano ocular e diminuição da acuidade visual(4). Desta forma, é imprescindível que a graduação ofereça condições adequadas para formar médicos capacitados a diagnosticar, tratar e encaminhar corretamente ao especialista os casos de urgências oftalmológicas atendidos em serviços não especializados(5,6). Além dos conhecimentos em UO, o ensino da Oftalmologia deve também enfatizar a importância do diagnóstico de doenças sistêmicas com manifestações oculares presentes na ro- tina de diversas especialidades médicas e de doenças oculares de resolução simples(7). Deste modo, alterações curriculares e programas extracurriculares com o objetivo de aumentar o envolvimento do acadêmico com a especialidade durante a graduação, permitiriam consolidar o conhecimento em tópicos gerais e no atendimento de urgência. O melhor entendimento da Oftalmologia durante a graduação garante a formação de profissionais capacitados ao atendimento adequado, contribuindo para a saúde ocular e a prevenção da cegueira(6). Este estudo tem por objetivo avaliar e analisar os conhecimentos sobre urgências oftalmológicas entre os acadêmicos do primeiro ano e último ano de graduação da Faculdade de Medicina da PUC-Campinas, fornecendo subsídios para traçar estratégias curriculares de ensino e elaboração de atividades complementares a serem realizadas pela Liga de Oftalmologia da PUC-Campinas. MÉTODOS Estudo de delineamento transversal (inquérito) realizado entre 119 acadêmicos (70 do primeiro ano e 49 do último ano) da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas durante o período de agosto a setembro de 2010. As entrevistas foram realizadas pelos membros da Liga de Oftalmologia em dias específicos, que buscaram aleatoriamente os acadêmicos do primeiro e último ano de graduação que consentiram em participar do estudo. O questionário elaborado para este estudo (Anexo 1 - Questionário) compilou dados pessoais referentes Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 102 Rached CR, Oliveira TC, Sousa CLMM, Escudeiro IM, Mori LP, Ferreira FP, Xavier JCB, Milioni BHM, Figueiredo RR, Paula MA Tabela 1 Características individuais dos acadêmicos entrevistados Características Sexo Masculino Feminino Mediana da idade Primeiro ano Último ano n % n % 23 47 20 32,9 67,1 23 26 24 46,9 53,1 Tabela 2 Percentual das respostas em cada tema da autoavaliação e suas médias Primeiro ano Temas Queimaduras químicas Trauma ocular Perfurações oculares Fratura de órbitas Glaucoma agudo Infecções oculares Médias Bom 2,9 1,4 1,4 2,9 1,4 5,7 2,6 Regular 10 12,9 11,4 5,7 21,4 24,3 14,3 ao acadêmico entrevistado (nome, sexo, idade e ano de graduação), uma autoavaliação do conhecimento de UO e 10 questões de múltipla escolha sobre o tema. Na autoavaliação, os entrevistados julgaram o seu conhecimento em UO como “bom”, “regular” ou “insuficiente” em cada um dos temas abordados (queimaduras químicas, trauma ocular, perfurações oculares, fraturas de órbita, glaucoma agudo e infecções oculares e orbitárias) e, nas questões de múltipla escolha, foram avaliados quanto à conduta escolhida em cada questão, recebendo uma nota (escala de 0 a 10) segundo o total de questões respondidas corretamente. Foi estabelecido como “desempenho esperado” o índice de acerto nas questões de múltipla escolha maior que 80% ou nota maior ou igual a 8, sendo a nota máxima igual a 10. Os dados coletados foram tabulados no Microsoft Excel® e avaliados por medidas de tendência central. Também foram utilizados o Teste T de Student para a análise de variáveis contínuas e Teste Qui-quadrado para variáveis categóricas através do software GraphPad Instat® versão 3.05. O nível de significância adotado foi de p<0,05. Todos os entrevistados que participaram da pesquisa consentiram em publicar os resultados deste estudo resguardando as suas identidades. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 Último ano Insuficiente 87,1 85,7 87,1 91,4 77,1 70 83,1 Bom 36,7 36,7 34,7 10,2 18,4 22,4 26,5 Regular 32,7 44,9 44,9 38,8 42,9 55,1 43,2 Insuficiente 30,6 18,4 20,4 51 38,8 22,4 30,3 RESULTADOS Foram entrevistados 70 acadêmicos do primeiro ano (77,7%) com idades entre 18 e 34 anos (mediana de 20 anos) e 49 acadêmicos do último ano de graduação com idades entre 22 e 47 anos (mediana de 24 anos), totalizando 119 acadêmicos entrevistados (Tabela 1). Observa-se que a maioria dos acadêmicos era do sexo feminino em ambos os anos de graduação (67,1% dos acadêmicos do primeiro ano e 53,1% dos acadêmicos do último ano). Com relação à autoavaliação, a maioria dos acadêmicos do primeiro ano (83,1%) considerou seu conhecimento em UO “insuficiente”, como apresentado na Tabela 2. Por outro lado, a maior parte dos acadêmicos do último ano (43,2%) julgou seu conhecimento em UO “regular”. Destacou-se, também, o aumento nos percentuais da resposta “bom” em todos os temas julgados pelos acadêmicos do último ano em relação aos do primeiro ano. Apenas no tema sobre queimaduras químicas que a maioria (36,7%) dos acadêmicos do último ano respondeu “bom”. Porém, grande parte (51%) dos acadêmicos do último ano julgou “insuficiente” o seu conhecimento em fratura de órbita. Avaliação do conhecimento sobre urgências oftalmológicas dos acadêmicos da Faculdade de Medicina ... Para a análise da autoavaliação foram considerados os conceitos “Bom” e “Ruim”, sendo este a somatória das cotações de “Regular” e “Insuficiente”. Assim, os acadêmicos do último ano tiveram uma associação significativa com a autoavaliação ruim (p=0,0001). Os acadêmicos do último ano obtiveram maiores índices de acerto nas questões de múltipla escolha que os acadêmicos do primeiro ano (Figura 1). A maior parte dos acadêmicos do primeiro ano (87,1%) tomou uma conduta correta na questão referente à conjuntivite bacteriana. Em contrapartida, o maior índice de acerto (93,9%) entre os acadêmicos do último ano foi observado nas questões sobre queimadura química e conjuntivite bacteriana. O pior desempenho obtido por ambos os anos de graduação foi observado na questão referente a corpo estranho, apresentando percentual de acerto de 7,1% e 12,2% entre os acadêmicos do primeiro ano e último ano, respectivamente. A média das notas do último ano foi igual a 6,3, não tão superior à média do primeiro ano: 5,5, sendo a mediana das notas do último ano igual a 6 (nota mínima: 3, nota máxima: 10) e do primeiro ano igual a 5,5 (nota mínima: 2, nota máxima: 8). Houve diferença estatisticamente significativa entre as notas obtidas de cada ano de graduação (p=0,0065). Considerando ambos os desempenhos de cada ano, os 119 acadêmicos entrevistados obtiveram nota média igual a 5,9 nas questões de múltipla escolha. O melhor desempenho (nota máxima) observado entre os acadêmicos do primeiro ano foi com a nota 8, sendo a menor nota (nota mínima) igual a 2 (Figura 2). Por outro lado, no último ano, houve quem atingisse a nota máxima 10, sendo a menor nota observada igual a 3. A maioria dos acadêmicos de cada ano (moda) obteve nota 6, 27,1% dos acadêmicos do primeiro ano e 22,4% dos acadêmicos do último ano (Figura 2). DISCUSSÃO Em estudo recente(3), 93% dos médicos plantonistas não oftalmologistas se sentem inseguros no atendimento de casos de UO e, como consequência, há a ineficácia em realizar o diagnóstico precoce e encaminhar o paciente adequadamente ao especialista, o que pode levar ao desenvolvimento de complicações e pior prognóstico visual, principalmente se não houver uma intervenção precoce(5). Corroborando com esse dado, foi observado neste estudo, através da análise dos dados da autoavaliação, que a maioria dos acadêmicos do último ano de graduação (73,5%) avaliou seu conhecimento em UO como “regular” ou “insuficiente”, refletindo a 103 QQ: queimadura química; T: trauma; PO: perfuração ocular; CE: corpo estranho; FO: fratura de órbita; GA: glaucoma agudo. CB: conjuntivite bacteriana; UC: úlcera de córnea; CO: celulite orbitária; U: uveíte. Figura 1: Percentual de acerto em cada questão obtido pelos acadêmicos Figura 2: Percentual da frequência das notas obtidas pelos acadêmicos insegurança de plantonistas responsáveis pelo atendimento inicial de casos de UO. A deficiência de conhecimentos básicos em Oftalmologia observada entre os acadêmicos de graduação é apontada como um dos principais fatores que contribui para a insegurança no atendimento de UO(3,4). E está também, consequentemente, relacionada a condutas incorretas que, por vezes, são prejudiciais ao paciente, principalmente se praticadas por médicos não especialistas(4). Este cenário é temeroso, pois já foi evidenciado em estudo realizado anteriormente(4) que os acadêmicos do último ano de graduação obtiveram baixos índices de acerto em questões abordando os temas de UO. No presente estudo, verificou-se que apenas 14,3% dos acadêmicos do último ano tiveram desempenho superior ao esperado(4) (nota maior ou igual a 8) e, de modo semelhante, apenas 8,6% dos acadêmicos do primeiro se destacaram nas questões de múltipla escolha. Estes baixos percentuais sugerem que poucos acadêmicos possuem um nível de conhecimento sobre UO adequado. Levando em consideração o desempenho obtido Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 104 Rached CR, Oliveira TC, Sousa CLMM, Escudeiro IM, Mori LP, Ferreira FP, Xavier JCB, Milioni BHM, Figueiredo RR, Paula MA Anexo 1 Questionário Prezado graduando,agradecemos pela sua colaboração com este estudo intitulado “Avaliação do conhecimento sobre urgências oftalmológicas dos acadêmicos da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas”, que tem por finalidade avaliar o conhecimento sobre urgências oftalmológicas entre os acadêmicos do primeiro ano e último ano da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, permitindo o aprimoramento do ensino em Oftalmologia. Com a sua participação neste estudo, você autoriza a publicação dos resultados deste trabalho sem comprometer a sua identidade. Identificação:Nome:______________________________________ Sexo:_________Idade:_______ Ano:__________ Parte 1 – Auto-avaliação:Como você avalia seus conhecimentos nas seguintes situações de urgências oftalmológicas: 1. Queimaduras químicas: 2. Trauma ocular: 3. Perfurações oculares: 4. Fraturas de órbita: 5. Glaucoma agudo: 6. Infecções oculares e/ou orbitárias: ( ( ( ( ( ( ) bom ) bom ) bom ) bom ) bom ) bom ( ( ( ( ( ( ) regular ) regular ) regular ) regular ) regular ) regular ( ( ( ( ( ( ) insuficiente ) insuficiente ) insuficiente ) insuficiente ) insuficiente ) insuficiente Parte 2 – Questões: 1.Na suspeita de queimadura química. Qual seria, em sua opinião, a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 2. Na suspeita de trauma contuso com descolamento de retina. Qual seria, em sua opinião, a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 3. Na suspeita de perfuração ocular após traumatismo. Qual seria, em sua opinião, a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 4. Na suspeita de corpo estranho ocular. Qual seria, em sua opinião, a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica e remoção do corpo estranho. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 5. Na suspeita de fratura de órbita. Qual seria a sua conduta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos e radiografia de órbitas. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 6. Na suspeita de glaucoma agudo. Qual seria a sua conduta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Administração de hipotensores e sintomáticos. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 7. Na suspeita de conjuntivite bacteriana. Qual seria a sua conduta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e orientações de higiene. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 8. Na suspeita de úlcera de córnea. Em sua opinião, qual seria a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 9. Na suspeita de celulite orbitária. Em sua opinião, qual seria a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. 10. Na suspeita de uveíte. Em sua opinião, qual seria a conduta correta? ( ) Encaminhar o paciente imediatamente ao oftalmologista. ( ) Utilizar colírios com antibióticos e analgésicos. ( ) Lavagem exaustiva do olho com solução fisiológica. ( ) Curativo oclusivo não compressivo e encaminhar ao oftalmologista. Gabarito: 01. C, 02. D, 03. D, 04. A, 05. A, 06. C, 07. B, 08. A, 09. A, 10. A Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 Avaliação do conhecimento sobre urgências oftalmológicas dos acadêmicos da Faculdade de Medicina ... nas questões de múltipla escolha, os acadêmicos do último ano obtiveram percentual de acerto maior que 80% em apenas três questões (queimadura química, perfuração ocular e conjuntivite bacteriana), e, em menor proporção, os acadêmicos do primeiro ano tiveram desempenho semelhante apenas na questão sobre conjuntivite bacteriana. Deste modo, houve um melhor desempenho nas questões de fácil compreensão e resolução, demonstrando um nível de conhecimento relativamente superficial sobre UO. Analisando as médias das notas dos acadêmicos de ambos os anos de graduação, houve um desempenho discretamente superior dos acadêmicos do último ano (6,3) em relação aos do primeiro ano (5,5), com pouca diferença (igual a 0,8) entre essas médias, o que reflete o pouco conhecimento em UO adquirido pelos acadêmicos durante a graduação. Essa diferença entre as médias é explicada pela maior frequência de notas altas (maiores que 8) presentes somente entre os acadêmicos do último ano, mesmo que a nota 6 seja a mais frequente tanto no último quanto no primeiro ano de graduação. Assim, a diferença entre as notas de cada ano estudado foi estatisticamente significativa (p=0,0065). Em estudo realizado em 6 escolas médicas, foram avaliados os conhecimentos em Oftalmologia entre os acadêmicos do último ano de graduação, sendo observado que, em nenhuma das questões aplicadas, os acadêmicos obtiveram índice de acerto maior que 80%(4). Entretanto, os acadêmicos, avaliados no presente estudo, obtiveram um melhor desempenho em relação aos acadêmicos do estudo anterior, como já demonstrado pelo maior número de questões com índice de acerto maior que 80%. Os dados obtidos neste estudo apontam para a necessidade de melhorias consideráveis e eficientes no ensino da Oftalmologia. Para tanto, deve-se enfatizar a necessidade de maior atenção e valorização desta disciplina na graduação médica, especialmente quando se refere a condições que representam risco para a visão como as UO. O ensino da Oftalmologia na graduação deve fornecer condições adequadas para a formação de futuros médicos capazes de prevenir, identificar e conduzir de forma adequada situações clínicas do dia a dia com envolvimento ocular(4). Da mesma forma, atividades extracurriculares podem ser desenvolvidas com o intuito de complementar o ensino da Oftalmologia(7). Os dados obtidos neste estudo serão fundamentais para um melhor planejamento de estratégias de ensino mais efetivas e propiciar atividades extracurriculares complementares elaboradas pela Liga de Oftalmologia da PUC-Campinas, abordando principalmente temas sobre UO. As propostas sugeridas pela 105 Liga incluem: realização de cursos de UO, discussão de tópicos de oftalmologia relacionados a outras especialidades médicas, como clínica médica, pediatria, reumatologia e endocrinologia, atividades supervisionadas de ambulatório e pronto-socorro, elaboração de projetos com ação comunitária e realização de simpósios. Essas atividades poderão contribuir para a vivência do acadêmico na especialidade, demonstrando a importância de conhecimentos básicos em Oftalmologia no manejo de pacientes com afecções oculares e, principalmente, no atendimento adequado de pacientes com UO em prontos-socorros gerais. Este estudo permitiu avaliar o conhecimento em urgências oftalmológicas dos acadêmicos de graduação da Faculdade de Medicina da PUC-Campinas constituindo parte das atividades realizadas pelos membros da Liga de Oftalmologia da PUC-Campinas. Deste modo, mesmo com uma diferença significativa entre o número de acadêmicos participantes de cada ano e com uma amostragem pequena, foi possível utilizar os resultados obtidos para avaliar simplificadamente o conhecimento em UO dos acadêmicos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Layaun SEED, Schor P, Rodrigues MLV. Perfil da demanda de um serviço de oftalmologia em uma unidade de emergência. Rev Bras Oftalmol. 1992;51(3):171-3. Weyll M, Silveira RC, Fonseca Júnior NL. Trauma ocular aberto: características de casos atendidos no Complexo Hospitalar Padre Bento de Guarulhos. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(4):505-10. Espíndola RF, Teixeira FC, Yamakami IM, Silva HRF, Freitas JAH. Análise dos conhecimentos básicos sobre urgências oftalmológicas em plantonistas não-oftalmologistas. Arq Bras Oftalmol. 2006;69(1):11-5. Ginguerra MA, Ungaro ABS, Villela FF, Kara-José AC, KaraJosé N. Aspectos do ensino de graduação em oftalmologia. Arq Bras Oftalmol. 1998;61(5):546-50. 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Endereço para correspondência: Monica Alves de Paula Rua da Urca, nº 550 CEP 13104-184 - Campinas - SP E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 100-5 RELATO 106 DE CASO Autoimmune optic neuropathy as the first manifestation of systemic lupus erythematosus Neuropatia óptica autoimune como primeira manifestação do lúpus eritematoso sistêmico Maria Helena Lopes Amigo1, Emmanuel Casotti Duque de Bárbara2, Wagner Ghirelli3 ABSTRACT We described a 35 years old female patient with bilateral visual loss and pain on eye movement, mild papillary edema in acute phase, arcuate scotoma and complementary test positive for antinuclear antibodies that did not respond to corticosteroid therapy. The lack of clinical criteria for systemic lupus erythematosus (SLE) didn’t prevent the institution of the specific treatment with corticosteroids and azathioprine. After seven months the diagnosis was made after a skin manifestation of the disease. This case shows the value of the ocular complaints in systemic diseases. And how the ophthalmologic exam can help the clinician elaborating a diagnosis. It is also very important for ophthalmologists and rheumatologists due to the fact that it calls the attention to another diagnostic hypothesis in patients with nonspecific optic neuritis, even with inconclusive laboratory tests. Maybe some ocular findings deserve to be included to the diagnostic criteria already established for SLE. Keywords: Optic neuritis/etiology; Optic nerve diseases/etiology; Lupus erythematosus, systemic; Collagen diseases; Case reports RESUMO Descrevemos caso de um paciente de 35 anos do sexo feminino, com perda visual bilateral associada à dor à movimentação ocular, edema papilar moderado na fase aguda, escotoma arqueado e exame complementar positivo para anticorpos antinucleares, que não responderam à terapia com corticosteróides. A falta de critérios clínicos para o lúpus eritematoso sistêmico (LES) não impediu a instituição do tratamento específico com corticosteróides e azatioprina. Depois de sete meses, o diagnóstico foi feito após uma manifestação da doença de pele. Este caso mostra o valor das queixas oculares em doenças sistêmicas e como o exame oftalmológico pode ajudar o clínico na elaboração de um diagnóstico. Também é muito importante para oftalmologistas e reumatologistas, devido ao fato de que chama a atenção para outra hipótese diagnóstica em pacientes com neurite óptica não-específica, mesmo com os testes laboratoriais conclusivos. Talvez alguns achados oculares merecem ser incluídos com os critérios de diagnóstico já estabelecido para o LES. Descritores: Neurite óptica/etiologia; Doenças do nervo óptico/etiologia; Lupus eritematoso sistêmico; Doenças do colágeno; Relatos de casos Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 3 Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 1 2 Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil. The authors declare no conflicts of interest of any order and no research funding. Recebido para publicação em 2/8/2011 - Aceito para publicação em 4/12/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 106-10 Autoimmune optic neuropathy as the first manifestation of systemic lupus erythematosus INTRODUCTION S ystemic lupus erythematosus (SLE) is an inflammatory autoimmune disease that can affect multiple organs and systems. Its prevalence is higher in young women and some antibodies are found in accordance with the systemic involvement, such as: anti-DNA, anti-Sm, anti-RNP, anti-Ro (SS-A) and antiLa (SS-B), anti-histone, anti-membrane and antiphospholipid(1). The most frequent ocular findings in SLE described in literature are: dry eyes, corneal epithelial erosions, mainly in the lower third of the cornea, and changes in the retinal pigment epithelium and macula(2). Other common fundoscopic findings are the cotton wool spots, arteriolar narrowing, followed by increases in excavation and optic disc pallor(3). The cases described in literature presenting optic neuritis as the first manifestation of SLE had already an advanced systemic disease with retinal vascular changes, or a severe vision loss resulting in a poor visual prognosis(4,5). We report below a case of optic neuropathy as the first manifestation of SLE in the absence of the diagnostic criteria of the disease(1). Case report A 35-year-old woman was admitted at Centro de Oftalmologia Tadeu Cvintal with pain and blurred vision in right eye (OD) for five months and pain on movement in the left eye (OS) for three months. She had no history of ocular problems. But she had history of migraine for 107 18 years and endometriosis. The patient also denied having high blood pressure and diabetes mellitus. The ophthalmologic examination revealed a best corrected visual acuity (BCVA) of 0.30 LogMAR (20/ 40) OD and 0.10 LogMAR (20/25) OS. In external examination, the ocular motility was normal and pupillary reflex were symmetric, but a slow reaction to light was noticed in both eyes. The slit lamp examination showed no alteration in cornea, iris, lens and vitreous. The applanation tensions were 15 mmHg OD and 12 mmHg OS. Ophthalmoscopy revealed optic disc atrophy in the right eye and a papillary edema with arteriolar narrowing in the left (Figures 1 and 2). The patient underwent the following tests: complete blood count (normal), erythrocyte sedimentation rate (ESR) 16mm/1hr, antinuclear antibody (ANA) tested positive at a titer of 1 / 160 and C-reactive protein <5 mg/L. Doppler ultrasound and magnetic resonance imaging of the orbit were normal. The Humphrey automated perimetry showed a superior arcuate defect affecting nasal and temporal quadrant in both eyes, but deeper in the right eye (Figures 3 and 4). After these results, the patient was treated with deflazacort 60mg/ day. Two weeks later, as the ocular pain and the visual impairment persisted, mainly at left (BCVA OD 0.40 LogMAR (20/50) and OS 0.30 LogMAR (20/40)) and the patient reported dry mouth sensation, the deflazacort dose was increased to 120mg/day. One month later, despite the treatment, the patient had no improvement on VA and pain. The papillary edema and vascular narrowing associated with the results in visual field suggested optic nerve ischemia, leading us to the Figures 1 and 2: Optic disc atrophy OD, papillary edema and narrowed arterioles OS Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 106-10 108 Amigo MHL, Bárbara ECD, Ghirelli W Figure 3: Automated perimetry of the right eye showing superior arcuate scotoma affecting nasal and temporal quadrant Figure 4 : Automated perimetry of the left eye showing superior arcuate scotoma affecting nasal and temporal quadrants, less intense than OD suspicion of an optic nerve vasculitis. The patient was then referred to the rheumatologist with the suggestion of specific treatment for SLE despite the lack of clinical criteria for the diagnosis. And she was treated with prednisolone 2.5 mg / day deflazacort 30 mg / day and azatioprona 50 mg / day. After one month of the specific treatment the patient reported VA improvement and lack of pain. The BCVA was 0.30 log MAR (20/40) OD and 0.18 log MAR (20/30) OS. The puppilary reflex remained slow, but ophthalmoscopy revealed no edema. Five months later the patient had the diagnosis of SLE by a skin biopsy and hydroxychloroquine was added to the treatment at a dose of 400 mg / day. After 10 months of specific treatment she had BCVA 0.18 LogMAR (20/30) OD and 0.10 LogMAR (20/25) OS. A punctate keratitis was present and ophthalmoscopy revealed bilateral optic disc atrophy. The visual field was unchanged. Four years later, the patient presented positive tests for anti-SSA (anti-Ro) and anti-SSB (anti-La) and the ANA was positive at a titer of 1/640. The BCVA was 0.10 log/MAR (20/25) OD and 0.00 log/MAR (20/20) OS. The visual field was still unchanged. Over the next nine years, the patient remained stable despite the advent of the keratitis. And the OCT revealed the loss of the nerve fiber layer in temporal and inferior quadrants, nine years after the onset of the disease (Figure 5). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 106-10 DISCUSSION The main cause of visual loss in patients with SLE is the retinopathy, clinically characterized by vasculitis (arteritis and periphlebitis), flame-shaped hemorrhages and cotton wool spots. Arterial and venous occlusions may be present. Such changes are found in up to 50% of patients with SLE, and these patients usually have advanced systemic disease (6) . The diagnosis in these cases becomes more difficult especially in the initial frame of the disease often presenting an evolving and often dragged atypical(7). Fernández Fernández et al. described a case similar to ours of optic neuritis as the first manifestation of SLE. The patient had pain on ocular movement and no clinical data suggesting lupus activity. But the delay in diagnosing SLE has led to repeated attacks of optic neuritis with 50% loss of visual acuity(5). The patient we described complained of vision loss but showed no sign of important retinopathy. The symptoms were due to the optic neuritis, well characterized in opthalmoscopy, pupillary reflex and visual field defects. Despite the suggestive clinical signs of an idiopathic optic neuritis, the mild papillary edema Autoimmune optic neuropathy as the first manifestation of systemic lupus erythematosus 109 Figure 5: The papillary OCT revealing the loss of the nerve fiber layer in temporal and inferior quadrants, nine years after the onset of the disease and visual field changes suggested an ischemic optic neuropathy affecting both eyes within a few weeks, pointing to the diagnosis of an inflammatory vascular disease. The optic neuritis secondary to SLE is a rare manifestation, present in approximately 1% of these patients, most of whom with some degree of systemic involvement by the disease(6,8,9). The main findings in these patients are the visual loss, the pain on ocular movement and a neuropathy caused by an ischemic process as it was observed in the present case. There are some reports in literature of rare cases with the vision loss as the first symptom noticed by the SLE patients. In these reports, at the time of ophthalmologic examination the patient already had laboratory abnormalities consistent with the diagnosis of the disease,(8-11) which differs from the case we reported and makes it even more interesting because, in this patient, the ocular changes preceded even the specific exams for SLE and the diagnostic criteria were only met about 7 months after the first ocular manifestations. Autoimmune optic neuropathy can occur as a manifestation of a vascular connective tissue disease. It responds well to corticosteroid therapy and can become steroid dependent, unlike our patient who did not respond to massive doses in the treatment. Another difference is the symptoms, where the autoimmune optic neuritis usually is not accompanied by orbital pain(12,13). This case shows the value of the ocular complaints in systemic diseases. And how the ophthalmologic exam can help the clinician elaborating a diagnosis. It is also very important for ophthalmologists and rheumatologists due to the fact that it calls the attention to another diagnostic hypothesis in patients with nonspecific optic neuritis, even with inconclusive laboratory tests. And maybe some ocular findings deserve to be included to the diagnostic criteria already established for SLE. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 106-10 110 Amigo MHL, Bárbara ECD, Ghirelli W REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Hillmann DB. Arthritis & musculoskeletal disorders. In: Tierney LM Jr, McPhee SJ, Papadakis MA, editors. 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Keywords: Pseudomonas stutzeri, corneal disease, corneal ulcer, therapeutics Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Vitória (ES) - Brasil; Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Vitória (ES) - Brasil; 3 Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Vitória (ES) - Brasil. 1 2 Trabalho realizado no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) - Vitória (ES) - Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 5/11/2011 - Aceito para publicação em 29/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 111-14 112 Mattos FB, Agostini FS, Mattos MB, Batista DMP Figura 1: Iluminação difusa à biomicroscopia no segundo dia de atendimento em que é possível visualizar uma úlcera central rasa (seta branca) com infiltrado estromal anterior perilesional (seta verde), cercada perifericamente por triplo infiltrado em anel tipo imunológico (setas vermelhas), intensa hiperemia conjuntival e midríase farmacológica (após evidência de reação de câmara anterior ao exame) Figura 2: Iluminação difusa à biomicroscopia ao final do tratamento, evidenciando-se leucoma central residual INTRODUÇÃO sulta de hiperemia conjuntival e redução de acuidade visual (AV) em olho esquerdo (OE), evoluindo com piora progressiva. Os sintomas surgiram após contato de pó de giz com a superfície ocular. Mãe relata que desde o princípio vinha lavando o olho diariamente com soro fisiológico, mantido aberto em geladeira há meses. Em nenhum momento a criança relatou dor, apenas leve desconforto ocular. A AV não corrigida era de 20/25 no olho direito (OD) e 20/400 no OE. O OD era normal à biomicroscopia. Já o OE apresentava pequena úlcera central rasa medindo aproximadamente 2.2x1.2 mm, com infiltrado estromal anterior perilesional, cercada perifericamente por triplo infiltrado em anel tipo imunológico, hiperemia conjuntival leve, sem reação de câmara anterior. À palpação bidigital a pressão dos olhos parecia normal. Com base na história da doença atual e nos achados clínicos evidenciados, foram aventadas as seguintes possibilidades etiológicas para o caso: fungo, herpes simples e Acanthamoeba. Para o auxílio diagnóstico realizou-se a coleta de material através do raspado de córnea, com a amostra sendo enviada para o Laboratório de Microbiologia do próprio hospital. O material colhido do paciente foi semeado nos seguintes meios de cultivo: ágar sangue, ágar chocolate e ágar Sabouraud, sendo também imersa em tioglicolato. Bacterioscopia corada pelo método de Gram realizada de imediato teve resultado negativo. Foi solicitado também o antibiograma. Foram então prescritos colírios P seudomonas stutzeri é um bastonete Gram-negativo móvel por possuir um único flagelo polar. É um organismo ubíquo na natureza, encontrado difusamente em ambientes hospitalares (1), estando geralmente associado à infecção oportunista, embora o acometimento ocular seja raro (2). Em 1973, o primeiro caso bem documentado de infecção por este agente foi descrito na literatura, relacionado com uma fratura de tíbia (3). Desde então, alguns casos foram relatados, com grande espectro de acometimento (septicemia, osteomielite e artrite, endocardite, meningite, pneumonia e/ou empiema, ectima gangrenosa, ventriculite, infecção de aparelho urinário e ocular) (1-8). Neste estudo, reportamos os aspectos clínicos deste raro caso de ceratite por P. stutzeri, cuja descrição é a primeira na literatura nacional. A sensibilidade deste agente aos antibióticos, as similaridades clínicas com outras ceratites causadas por patógenos mais incidentes na população e a importância do exame laboratorial no diagnóstico e tratamento das ceratites são também discutidos. Relato do caso Paciente do sexo masculino, 09 anos, natural e procedente de Domingos Martins-ES, previamente hígido, atendido no Serviço de Oftalmologia do HUCAM/UFES devido ao quadro iniciado 20 dias antes da primeira con- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 111-14 Úlcera de córnea por Pseudomonas stutzeri fortificados de cefalotina (50 mg/ml) e amicacina (25 mg/ml) para serem usados de 1/1h. O paciente evolui no dia seguinte com edema palpebral importante, hiperemia conjuntival intensa, mantendo úlcera com mesmas dimensões anteriores, mas apresentando pequeno hipópio (1 mm) e células +/4+ na câmara anterior (Figura 1). Mãe relata não ter tido condições financeiras de adquirir os colírios prescritos. Diante da incerteza quanto à etiologia bacteriana diante do quadro, o tratamento foi iniciado com moxifloxacino 0,5% apenas 4/4 hs, atropina 1% 8/8 hs e carboximetilcelulose sódica 0,5% 4/4 hs até o resultado da cultura. Com 48 horas de antibioticoterapia, mesmo em dose profilática, houve o desaparecimento do hipópio e não era mais possível visualizar reação inflamatória em câmara anterior, além de importante redução da hiperemia conjuntival. Na cultura houve o crescimento da bactéria Pseudomonas stutzeri, cujo antibiograma demonstrava larga sensibilidade ao moxifloxacino e a inúmeros outros antibióticos, sendo ele mantido devido à boa resposta e aceitação da criança, na mesma posologia, até o final do tratamento. Com um mês de terapia houve completo fechamento do defeito epitelial, enquanto que o anel imunológico apresentou redução gradual ao longo de 3 meses, restando por fim apenas o leucoma central cicatricial (Figura 2). A AV final do paciente, após este período, foi de 20/30. DISCUSSÃO A ocorrência de lesão ocular associada à Pseudomonas stutzeri é extremamente rara, havendo relatos de casos de conjuntivite (1), panoftalmite associada a abscesso orbitário (2), endoftalmite após realização de cirurgia de catarata (5) e apenas um caso de úlcera de córnea (6). Fatores de risco como trauma, infecção cutânea por outro micro-organismo, cirurgia prévia (provável aquisição nosocomial) e imunossupressão estão associados à maioria dos casos de infecção sistêmica e extraoculares descritas na literatura. No caso da úlcera de córnea anteriormente descrita por Brinser (6), o paciente era portador de uma cicatriz corneana, possivelmente decorrente de infecção herpética prévia, podendo ter sido este o fator predisponente para o desenvolvimento da infecção pela P. stutzeri. No presente relato, a infecção oportunista pode ter ocorrido em decorrência da associação da abrasão corneana pelo pó de giz, agravada pelo ato de coçar 113 os olhos pela criança, mais a irrigação ocular com soro fisiológico, possivelmente contaminado. Por não haver mais amostra do soro, não foi possível realizar a avaliação microbiológica do mesmo. É sabido que por não apresentarem conservantes em suas formulações, as soluções salinas comercializadas apresentam segurança microbiológica e garantia terapêutica para o consumidor apenas quando usados de forma única, ou seja, um frasco para cada procedimento. A partir do momento que os frascos são abertos, podem ser facilmente contaminados após 24 horas de exposição ao ar ambiente, mesmo se armazenados na geladeira. Por ser uma bactéria raramente implicada com infecções oculares, poucos são os relatos para que haja uma definição de padrão de apresentação clínica. Portanto, é de fundamental importância o auxílio fornecido pelo laboratório de microbiologia para a elucidação do diagnóstico, uma vez que o quadro clínico de evolução lenta e indolor difere sobremaneira do encontrado em outras ceratites bacterianas, principalmente ao das bactérias gram-negativas. Diante do observado os principais diagnósticos diferenciais a serem ponderados são as ceratites por Acanthamoeba, fúngica e herpética. As duas primeiras são, possivelmente, mais susceptíveis de confusão com a ceratite em questão, por serem mais relacionadas a traumas e agentes contaminantes, bem como pela distribuição semelhante no ambiente desses agentes em relação à P. stutzeri e pelas características evolutivas da lesão. Dois diferentes estudos visaram determinar as taxas da distribuição hospitalar de P. stutzeri, com a pesquisa bacteriana obtida de amostras de pus, sangue, urina, aspirado traqueal e broncoalveolar de pacientes internados em hospitais universitários durante um período definido. Ambos os estudos concluíram que 1 a 2% das Pseudomonas spp. isoladas são da espécie P. stutzeri (9,10) . Taxas similares (1.8%) foram obtidas em um estudo em pacientes com AIDS. A taxa mais elevada relatada mostrou que 3% de todas as bactérias isoladas de amostras de urina eram P. stutzeri (7). Deste modo, pode-se concluir que a P. stutzeri é igualmente distribuído na natureza e em ambientes hospitalares, sendo considerado um microrganismo oportunista, mas raramente patogênico. Assim como neste relato, testes de sensibilidade para diversos antibióticos referidos em quase todos os outros relatórios epidemiológicos encontrados, demonstraram que a P. stutzeri ao contrário da P. aeruginosa, sua espécie mais estreitamente relacio- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 111-14 114 Mattos FB, Agostini FS, Mattos MB, Batista DMP nada e um microrganismo reconhecidamente patogênico, era altamente sensível aos antibióticos usados de rotina para bactérias Gram-negativas, sendo a resposta clínica, via de regra, boa (1,3,9). Esta sensibilidade mais elevada foi explicada por sua ocorrência reduzida em ambientes clínicos e, consequentemente, por sua menor exposição aos antibióticos. Mesmo quando isolados em pacientes imunossuprimidos, nenhuma diferença significativa na susceptibilidade antibiótica foi detectada apesar de tais pacientes serem hospitalizados por longos períodos e geralmente expostos a mais antibióticos e em doses mais elevadas (3). O interessante é que a despeito da alta suscetibilidade observada nos inúmeros estudos, à exceção das fluoroquinolonas, resistência isolada para quase todas as outras famílias de antibióticos já foi relatada. Brinser citou inclusive resistência a carbenicilina (6). Isto sugere que a P. stutzeri possua diferentes mecanismos de resistência. Dois destes já foram descritos: alterações proteicas e de perfis de lipossacarídeos na membrana externa e a presença de β-lactamases (3). Em conclusão, este relato ressalta que mesmo sendo um patógeno incomum que geralmente apresenta uma boa resposta a antibióticos, a P. stutzeri pode estar envolvida em quadros infecciosos oculares graves, sendo o estudo microbiológico de suma importância para o diagnóstico etiológico. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a ajuda do Dr. Angelo Ferreira Passos, Chefe do Serviço de Oftalmologia do HUCAM/UFES, por sua valorosa contribuição na revisão deste relato. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 111-14 REFERÊNCIAS 1. Malhotra S, Singh K. Pseudomonas stutzeri associated with conjunctivitis. Indian J Pathol Microbiol. 2008;51(4):572. 2. Lebowitz D, Gürses-Ozden R, Rothman RF, Liebmann JM, Tello C, Ritch R, Valhalla. Late-onset bleb-related panophthalmitis with orbital abscess caused by Pseudomonas stutzeri. Arch Ophthalmol. 2001;119:1723-5. 3. Lalucat J, Bennasar A, Bosch R, García-Valdés E, Palleroni NJ. Biology of Pseudomonas stutzeri. Microbiol Mol Biol Rev. 2006;70(2):510–47. 4. Reisler RB, Blumberg H. Community-acquired Pseudomonas stutzeri vertebral osteomyelitis in a previously healthy patient: case report and review. Clin Infect Dis. 1999;29(3):667-9. 5. Jiraskova N, Rozsival P. Delayed-onset Pseudomonas stutzeri endophthalmitis after uncomplicated cataract surgery. J Cataract Refract Surg. 1998;24:866-7. 6. Brinser JH, Torczynski E. Unusual Pseudomonas corneal ulcers. Am J Ophthalmol. 1977;84:462-6. 7. Stan RJ, Lim EW, Sakazaki R. 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Marechal Campos s/nº - Maruípe CEP 05409-011 - Vitória (ES), Brasil Telefone: (27) 3335-7303 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO115 Relevância da biomecânica da córnea no glaucoma Relevancy of corneal biomechanical in glaucoma Jorge Augusto Siqueira da Silva1, Renata Siqueira da Silva , Renato Ambrósio Jr 2,3 2,3 RESUMO Relato de caso de uma paciente, com córnea espessa, por distrofia de Fuchs em fase inicial, ainda com transparência corneana preservada (edema corneano subclínico), associado à pressão intraocular (PIO) normal por tonometria de aplanação de Goldman (TAG), que teve entretanto, o diagnóstico de glaucoma primário de ângulo aberto com base em alterações estruturais do nervo óptico. O estudo tomográfico demonstrou padrão de paquimetria espacial compatível com edema sub-clínico. O estudo biomecânico da córnea com o ORA (Ocular Response Analyzer, ® Reichert), associado à medida corrigida da PIO, possibilitou o entendimento da influência da córnea, que apesar de mais espessa, levava a uma TAG falsamente reduzida (hipoestimada). O estudo da PIO com sistema de tonografia digital de contorno (PASCAL) corroborou com os achados do ORA. Este exemplo ressalta a importância de novas tecnologias na avaliação de pacientes com suspeita de glaucoma, e destaca que a correção da TAG, com base em algoritmos lineares relacionados com a paquimetria central apenas, pode determinar sérios erros de interpretação clínica. Descritores: Córnea/fisiologia; Glaucoma; ORA; Distrofia endotelial de Fuchs; Tonometria ocular/métodos; Relatos de casos ABSTRACT Case report of a patient, with a thick cornea, for Fuchs dystrophy in its early stages, yet with preserved corneal transparency (subclinical corneal edema), associated with normal intraocular pressure (IOP) by Goldman applanation tonometry (GAT), which was however, the diagnosis of primary open-angle glaucoma on the basis of structural changes of the optic nerve. The tomographic study showed a pattern of spatial pachymetry compatible with subclinical edema. The corneal biomechanical study with ORA (Ocular Response Analyzer, Reichert ®) associated with corrected IOP measurement, allowed the understanding of the corneal influence, which, although thicker, leading to a falsely low TAG (underestimated). The IOP study with tonography system digital (PASCAL) corroborated with the findings of ORA. This example highlights the importance of new technologies in patients’ evaluation with suspected glaucoma, and highlights that the correction of TAG, based on linear algorithms related to central corneal thickness alone, can determine serious errors in clinical interpretation. Keywords: Cornea/physiology; Glaucoma; ORA; Fuchs endothelial dystrophy; Tonometry, ocular/methods; Case reports Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados (CEPOA) - Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Grupo de Estudos de Tomografia e Biomecânica de Córnea do Rio de Janeiro (RJ), Brasil; 3 Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. 1 2 Instituto de Olhos Renato Ambrósio - Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 3/2/2011 - Aceito para publicação em 26/6/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-18 116 Silva JAS, Silva RS, Ambrósio Jr R INTRODUÇÃO O glaucoma é uma neuropatia óptica com lesões características que causam defeitos específicos no campo visual.(1,2) O aumento da pressão intra-ocular (PIO) é o fator de risco mais importante, sendo também o foco da terapêutica para controle da doença.(3,4) Variações da estrutura corneana geram alterações nas medidas da PIO, principalmente por meio da tonometria de aplanação de Goldmann (TAG).(5,6) Diante desse fato, a córnea tornou-se objeto de estudo nas lesões glaucomatosas já há algum tempo, principalmente com a paquimetria central, que faz a medida da espessura corneana central (ECC). A média da ECC na população é de 556 micra, segundo Ambrósio, com desvio padrão de 35 micra, variando entre 454 e 669 micra.7 A ECC foi demonstrada como fator de risco mais importante em pacientes hipertensos oculares.(8) A explicação para isto está vinculada ao fato de que as medidas da PIO através da TAG hipoestimam as aferições em córneas com a espessura diminuída, e por isso não são tratados,(9,10) consequentemente aumentam o risco de progressão da escavação do nervo óptico devido à constante lesão causada pela PIO aumentada. O modelo de predição que combina os dados do OHTS (Ocular Hypertension Treatment Study) e do EGPS (European Glaucoma Prevention Study Group) calcula para cada 40 micra de diminuição da ECC, há um risco duas vezes maior de desenvolvimento de lesão glaucomatosa em cinco anos.9 Outros parâmetros da córnea, como a ceratometria, também exercem importante influência no “erro” da medida da PIO por aplanação, que é hiperestimada em casos de córneas mais espessas e mais curvas. Diante desses fatos, levantou-se o questionamento sobre a necessidade da existência de novos parâmetros para uma melhor avaliação da córnea, frente a sua fundamental importância no seguimento dos pacientes glaucomatosos. A paquimetria é um exame fundamental na avaliação desses pacientes, porém o seu uso isolado pode trazer uma série de equívocos de interpretação nos seus resultados, tornando-se necessário o uso de novas tecnologias, como por exemplo, o aparelho ORA (Ocular Response Analyser, ® Reichert). O ORA é um tonômetro de sopro que utiliza um pulso de ar extremamente controlado e monitorado em sua intensidade, com fases ascendentes e descendentes simétricas. O exame leva cerca de 20 milisegundos. O pulso de ar desencadeia deformação na superfície da Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-18 córnea, que passa por um primeiro momento de aplanação, que é identificado por um pico no reflexo da córnea (Figura 1). Após tal momento, a córnea ainda sofre a pressão do pulso de ar até ficar ligeiramente côncava (Figura 1), e retorna ao seu estado original de modo a passar por um segundo momento de aplanação (Figura 1). O comportamento da córnea e o sinal obtido durante o exame representam as propriedades biomecânicas da córnea medida. A diferença entre as pressões, nos momentos de aplanação de entrada e saída, está relacionada com a capacidade viscoelástica da córnea de armazenar energia, denominada histerese. Quatro parâmetros são gerados na versão atual do software do ORA:(11) - PIO calibrada para Goldmann; - PIO compensada da córnea; - Histerese; - Fator de resistência corneana. É possível analisar as alterações biomecânicas sofridas, apresentando uma diminuição importante na capacidade viscoelástica da córnea para absorver energia do sopro de ar simétrico (11)(sua fase ascendente é idêntica a sua fase descendente). Relato de caso Paciente do sexo feminino, 54 anos, branca, do lar, natural do Rio de Janeiro, sem comorbidades oculares pré-existentes, em tratamento para hipertensão arterial com Captopril 25mg 2x/ao dia, veio ao serviço com queixa de redução da acuidade visual em ambos os olhos (AO), principalmente em olho direito. Relato de mãe com história de glaucoma. Ao exame oftalmológico, a paciente apresentava acuidade visual sem correção de 20/150 em AO. Realizada a refração, a acuidade passou a 20/40 e 20/30 respectivamente. (refração: +1,75 = 0,50 x 90º - 20/40 /+1,50 = -0,50 x 85º - 20/30). A TAG era de 18mmHg no olho direito e 17mmHg no olho esquerdo, às 17 horas. Ao exame na lâmpada de fenda (biomicroscopia) observou-se em AO córneas transparentes, com guttata 2+/4+ (Figura 2), catarata nuclear grau 2 e catarata subcapsular posterior leve. Na gonioscopia, ângulo aberto até o esporão escleral nos quatro quadrantes em AO. Campo visual revelando diminuição difusa da sensibilidade em AO sem alterações específicas. Foi medida a espessura corneana central através da paquimetria, com valor de 620 micra em AO.(7) Realizaram-se os exames de não contato e avaliação Relevância da biomecânica da córnea no glaucoma biomecânica com sopro de ar (ORA), tonômetro de contorno dinâmico (TCD-Pascal ® Ziemer), além da tomografia (12,13) de córnea e segmento anterior por fotografias Scheimpflug rotacionais.(13,14) Foram apresentados os seguintes valores: Histerese = 7,9 e 8,1 mmHg (valor normal médio = 10,17); IOPcc(PIO corrigida pela córnea)= 26,1 e 24,2 mmHg; IOPG = 18,1 e 17,9 mmHg; PASCAL (TCD): 27,2 e 26,5 mmHg. O estudo tomográfico demonstrou padrão de paquimetria espacial compatível com edema subclínico. Esse padrão é sugerido quando o perfil de progressão paquimétrico é retificado ou horizontalizado (Figura 3).(12) Retinografia simples do nervo óptico apresentava a escavação aumentada e assimétrica, 0,8 X 0,8 e 0,6 X 0,6 respectivamente no olho direito e no olho esquerdo. Mácula sem alterações e retina aplicada em todos os quadrantes. 117 Figura 1: Sinal do ORA . Momento 1: primeira aplanação da córnea; . Momento 2 : a córnea fica ligeiramente côncava; . Momento 3 : segunda aplanação da córnea; DISCUSSÃO Desde a publicação do estudo OHTS (Ocular Hypertension Treatment Study), em 2002, sabemos que ECC é o fator preditivo mais importante para o desenvolvimento do glaucoma em pacientes hipertensos oculares. Sendo bem claro que a medida da pressão intraocular (PIO) é hiperestimada em córneas espessas, enquanto que em córneas delgadas esta pressão é hipoestimada. Porém, córneas com aumento da espessura por edema, apresentam resistência reduzida, e, portanto um efeito na TAG similar a córneas finas.(7) Com isso, fica bem claro que a paquimetria continua sendo um exame de grande valor na avaliação corneana frente ao glaucoma. No entanto, seu uso isolado passa a ser questionado diante dos possíveis equívocos no diagnóstico, que prejudicam o correto acompanhamento terapêutico do paciente. Para o tratamento e acompanhamento clínico do caso relatado, tornou-se fundamental a avaliação biomecânica e tomográfica da córnea, com o ORA e o Pentacam, que possibilitaram análise minuciosa, de um edema corneano decorrente da distrofia de Fuchs, que levou a uma PIO hipoestimada, sendo controlada e tratada corretamente. Importante salientar que a aferição considerada definitivamente correta entre as mencionadas como TAG, ORA e PASCAL somente seria possível, se paralelamente se confirmasse a pressão na CA (câmara anterior) com um recurso tipo canalização direta dentro da CA e a medida hidrostática. Porém, por ser um método invasivo, este procedimento torna-se impraticável na rotina clínica. Figura 2: Microscopia especular CONCLUSÃO Diante deste caso clínico, fica inquestionável a influência da córnea na medida da PIO por TAG. Entretanto, ela se dá de forma mais complexa que a antecipada por algoritmos lineares considerando-se exclusivamente a paquimetria central. Neste caso, se considerássemos a TAG e a paquimetria central relativamente elevada, um grave erro de interpretação ocorreria, pois o achado de hipertensão ocular seria “mascarado”. O diagnóstico de glaucoma é realizado com base nos achados do nervo óptico. Entretanto, o estudo biomecânico e tomográfico permitiu uma correta interpretação da influência da córnea na TAG, de modo a identificar a hipertensão ocu- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-18 118 Silva JAS, Silva RS, Ambrósio Jr R Figura 3: Curva de progressão paquimétrica espacial(12) com retificação do padrão de distribuição paquimétrico espacial lar, e diagnosticar o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA). Tais exames devem ser considerados na avaliação de pacientes com suspeita de glaucoma, bem como no seu acompanhamento clínico. 9. REFERÊNCIAS 10. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Mello PAA, Susanna Júnior R. Glaucoma. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2009. p.111-35. (Série Oftalmologia Brasileira). Ritch R, Shields MB, Krupin T, editors. The glaucomas. 2nd ed. St. Louis: Mosby; 1996. p. 753-65. Kanski JJ. Oftalmologia clínica: uma abordagem sistemática. 6a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2008. p. 372-89 Goldmann H, Schmidt T. [Applanation tonometry]. Ophthalmologica. 1957;134(4):221-42. German. Campos M, Ambrósio Júnior R, Chamon W. Cirurgia refrativa. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2008. p. 136-141. (Série Oftalmologia Brasileira). Luce DA. Determining in vivo biomechanical properties of the cornea with an ocular response analyzer. J Cataract Refract Surg. 2005;31(1):156-62. Ambrósio R Jr, Klyce SD, Wilson SE. Corneal topographic and pachymetric screening of keratorefractive patients. 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Endereço para correspondência Jorge Augusto Siqueira da Silva Rua Mem de Sá, nº 169 apto. 904 - Icaraí Niterói (RJ), Brasil E-mail: [email protected]/ [email protected] ARTIGO DE REVISÃO119 Facoemulsificação versus extração extracapsular no sistema público de saúde: análise de custos para o hospital, para o governo e para a sociedade Phacoemulsification versus extracapsular extraction on public health care system: cost analysis to the hospital, to the government and to the society Newton Kara-Junior1; Marcony Rodrigues de Santhiago2; Rodrigo França de Espindola3 RESUMO Objetivo: Comparar custos da cirurgia de catarata em larga escala para um hospital público, para o governo e para a sociedade, pelas técnicas de facoemulsificação (FACO) e extração extracapsular (EECP). Métodos: Foi realizada revisão baseada principalmente em diversos estudos clínicos realizados entre 2002 e 2010, no Centro Cirúrgico Ambulatorial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Resultados: Os gastos estimados com os insumos utilizados para as cirurgias foram de R$ 468,92 no grupo FACO e R$ 259,96 no grupo EECP. As despesas hospitalares com o acompanhamento pós-operatório foram em média de R$ 16,40 (42%) menores no grupo FACO. Com relação ao gasto estimado para a Previdência Social, o grupo EECP custou em média, US$ 44,58 por paciente a mais que o grupo FACO. Conclusão: O incentivo e o investimento governamental para a realização da FACO no SUS são socialmente justificados, deve-se considerar também a economia dos pacientes e do sistema empresarial, bem como as vantagens clínicas para os pacientes e vantagens econômicas para os hospitais. Descritores: Extração de catarata/economia; Facoemulsificação/economia; Custos e análise de custos; Custos de cuidados de saúde ABSTRACT Purpose: To compare the costs of cataract surgery for a public hospital, the government and the society between the techniques of phacoemulsification (PHACO) and extracapsular cataract extraction (EECP). Methods: A review based on several clinical studies between 2002 and 2010 at the Ambulatorial Surgical Center of the University of São Paulo. Results: The estimated expenses associated with medical supplies used for surgery were R$ 468.92 and R$ 259.96 in the PHACO and EECP groups respectivelly. The hospital expenditures in the postoperative follow-up was approximately R$ 16.40 (42%) lower in the PHACO. Regarding the estimated spending for Social Security, the EECP group cost an average, US$ 44.58 per patient more than the PHACO group. Keywords: Cataract extraction/economics; Phacoemulsification/economics; Costs and cost analysis; Helath care costs Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - São Paulo (SP), Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - São Paulo (SP), 3 Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) - São Paulo (SP), Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) – 1 2 Brasil; Brasil; Brasil. São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 30/12/2010 - Aceito para publicação em 19/3/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-24 120 Kara-Junior N, Santhiago MR, Espindola RF INTRODUÇÃO A tualmente, as técnicas mais utilizadas para a cirurgia de catarata são a extração extracapsular manual do cristalino (EECP) e a facoemulsificação (FACO)(1). Na maioria dos países desenvolvidos, a FACO é a técnica mais utilizada, devido à possibilidade de rápida recuperação visual e ao reduzido índice de complicações per-operatórias(2). Estimativas apontam que para o Brasil compensar o surgimento de novos casos de catarata, seria necessário a realização de cerca de 500 mil cirurgias por ano. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2002, foram realizadas, no Sistema Único de Saúde (SUS), aproximadamente 300.000 cirurgias de catarata. Após esse período, impulsionado por benefícios clínicos relacionados a novas tecnologias dos facoemulsificadores(3) e das lentes intraoculares (LIOs) (4-8), e por uma maior segurança cirúrgica(9-12), houve um aumento no número de FACOs com implante de LIO dobrável de 64.761 em 2006 para 130.498 em 2007. O custo para o SUS da cirurgia da catarata por FACO com implante de LIO dobrável é de US$ 294.95, e para a EECP com LIO rígida de US$ 193.58. Embora o SUS financie a cirurgia de catarata por FACO desde 2001 ainda há dúvidas sobre suas vantagens e desvantagens sociais em detrimento da técnica de EECP, uma vez que o orçamento destinado à saúde é limitado e o aumento do gasto com um determinado procedimento pressupõe redução de outras ações. A presente revisão, baseada em diversos estudos clínicos realizados, entre 2002 e 2010, no Centro Cirúrgico Ambulatorial (CCA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), tem o objetivo de comparar o impacto sócioeconômico da cirurgia de catarata segundo as técnicas de FACO e EECP para o hospital, para o governo e para a sociedade. Custo para o hospital Kara-José Junior et al. avaliaram os gastos hospitalares do HC-FMUSP com cirurgias de FACO e EECP. Os valores dos custos estimados das cirurgias e do acompanhamento pós-operatório, em ambos os grupos (FACO e EECP), estão apresentados nas tabelas 1 a 3(13). Os gastos com a manutenção do CCA-HCFMUSP (custos fixos) são semelhantes para ambos os grupos, porém, como as cirurgias do grupo FACO requerem aparelhagem específica (facoemulsificador), o custo operacional da sala cirúrgica destinada à realização das Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-24 cirurgias deste grupo foi acrescido do custo de depreciação do equipamento. O custo fixo por cirurgia no grupo FACO foi estimado em R$ 36,75 e no grupo EECP em R$ 39,95. Esses valores foram obtidos dividindo-se os custos fixos totais do CCA-HCFMUSP (por sala/dia), para ambos os grupos, pelo número estimado de cirurgias realizadas (por sala/dia), 16 no grupo FACO e 13 no grupo EECP(13). A maior eficiência no uso da estrutura física e dos recursos humanos já existentes (capacidade instalada), com aumento do número de cirurgias, reduz o custo individual da cirurgia. Estima-se que no grupo FACO, a eficiência do CCA-HCFMUSP foi 23% maior que a do grupo EECP. A otimização da unidade cirúrgica no grupo FACO diminui o custo fixo de cada procedimento, uma vez que a despesa operacional do CCA é a mesma, independente do número de procedimentos realizados. Podemos concluir a partir dos dados apresentados na tabela 1, que a economia com a otimização do CCA no grupo FACO, não só compensou o capital investido com o equipamento adicional como também tornou o custo fixo de cada procedimento por FACO inferior ao por EECP(13). Os gastos estimados com os insumos utilizados para as cirurgias (custos variáveis), em ambos os grupos (FACO e EECP) foram de R$ 468,92 no grupo FACO e R$ 259,96 no grupo EECP. A diferença de R$ 208,96 reflete despesas com materiais mais dispendiosos, utilizados para as cirurgias no primeiro grupo. Os gastos com os insumos para a cirurgia aumentaram cerca de 80% quando a técnica de FACO foi utilizada (Tabela 2). A possível diminuição das despesas com insumos e materiais descartáveis, quando comparadas com outros hospitais e clínicas, devese a medidas, como aquisição de materiais em concorrência pública em grandes quantidades e o uso máximo de insumos (colírios e substâncias anestésicas são utilizados em mais de um procedimento)(13). Com relação ao acompanhamento pós-operatório, estimou-se que a despesa do HC-FMUSP com cada consulta de retorno foi de aproximadamente R$ 7,66 (Tabela 3). Considerando-se que o grupo FACO necessitou, em média, de 3,00 retornos pós-operatórios e o grupo EECP em média de 5,17 retornos, conclui-se que as despesas hospitalares com o acompanhamento pós-operatório sejam em média de R$ 16,40 (42%) menores no grupo FACO(13). Estima-se que as despesas associados à cirurgia e ao período pós-operatório no grupo FACO, após 3 meses da cirurgia, no HC-FMUSP em 2002, foram em média de R$ 528,35 (US$ 242.23), enquanto que no grupo EECP, foram de R$ 338,99 (US$ 155.50). Assim, os gastos hos- Facoemulsificação versus extração extracapsular no sistema público de saúde: análise de custos para o hospital, ... 121 Tabela 1 Estimativa dos custos fixos da cirurgia de catarata em ambos os grupos (FACO e EECP), no HCFMUSP Gastos do CCA (por sala/dia) FACO (R$) EECP (R$) 338,35 130,00 119,78 338,35 61,25 119,78 588,13 519,38 Recursos humanos Depreciação de equipamentos Espaço físico e consumo de água e energia elétrica Total CCA - Centro cirúrgico ambulatorial, FACO - facoemulsificação, EECP - extração extracapsular Tabela 2 Estimativa dos custos variáveis da cirurgia de catarata em ambos os grupos (FACO e EECP), no HCFMUSP Gastos Insumos utilizados para o preparo do paciente e equipe cirúrgica Insumos utilizados para a limpeza da sala cirúrgica Insumos utilizados para a anestesia Insumos utilizados para a cirurgia Total FACO (R$) EECP (R$) 2,96 3,16 0,51 0,51 0,29 464,65 468,92 1,85 254,44 259,96 FACO - Facoemulsificação, EECP - extração extracapsular pitalares no grupo FACO foram em media de R$ 189,07 (US$ 86.73) (56%) maiores do que no grupo EECP(13). Contudo, o reembolso do SUS para a cirurgia da catarata por FACO com implante de LIO dobrável é de R$ 643,00 e o por EECP com LIO rígida é de R$ 422,00. A diferença de reembolso entre ambos os procedimentos é de R$ 221,00. Assim sendo, estima-se que, para as condições do HC-FMUSP em 2002, a realização da cirurgia por FACO em larga escala, é economicamente vantajosa, uma vez que a diferença entre a receita e a despesa (lucro para o hospital) com cada procedimento é em media de R$ 114,65 na FACO e de R$ 83,01 na EECP. No momento atual, em que o SUS passa a financiar a realização da cirurgia de catarata por FACO, torna-se imperativo avaliar a exeqüibilidade econômica desse procedimento. Este estudo ressaltou a exequibilidade da cirurgia por FACO no HC-FMUSP em 2002(13). Considera-se, também, que o reembolso do SUS para cada consulta pós-operatória com tonometria (apenas do olho operado) é de R$ 5,92 e que os gastos do HCFMUSP com cada retorno são estimadas em R$ 7,66. Nessas condições, em que a despesa com os retornos pós- operatórios é superior à receita, é, também, evidenciada a vantagem econômica para o HC-FMUSP, com a utilização da FACO, por requerer menor número de consultas após a cirurgia(13). O custo da cirurgia de catarata pode ser influenciado por diferentes realidades regionais, de países desenvolvidos e em desenvolvimento. Na Espanha, Castells et al., em estudo retrospectivo, compararam apenas os gastos hospitalares com a cirurgia de catarata e o período pós-operatório, utilizando a técnica de FACO e de EECP, e concluíram que os gastos com a FACO foram 41,00 euros (US$ 47.56) maiores, respectivamente 842,08 euros (US$ 977.40) e 883,16 euros (US$ 1,025.08), com a utilização da EECP e da FACO(14). No estudo dos gastos totais com a cirurgia e com o período pós-operatório, realizado por Minassian et al., na Inglaterra, concluiu-se que, apesar dos gastos iniciais serem maiores com a técnica de FACO, após seis meses, os gastos totais mostraram que a cirurgia por FACO era economicamente mais vantajosa, sendo o custo total da cirurgia foi de 332,89 libras (US$ 466.06) com a FACO e de 335,07 libras (US$ 469.10) com a EECP(15). Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-24 122 Kara-Junior N, Santhiago MR, Espindola RF Tabela 3 Estimativa das despesas (por consultas) durante o acompanhamento pós-operatório, no HCFMUSP Gastos FACO (R$) EECP (R$) 3,06 0,60 3,90 3,06 0,60 3,90 7,56 7,56 22,68 39,08 Recursos humanos: Médicos Não médicos Espaço físico e consumo de água e energia elétrica Total para cada consulta Total para o acompanhamento pós-operatório completo FACO - Facoemulsificação (total de 3 consultas de pós-operatório), EECP - extração extracapsular (total de 5,17 consultas de pos-operatório) Tabela 4 Comparação do custo médio total para a sociedade com o acompanhamento pós-operatório Sujeito Empregadores Pacientes Previdência Social Total FACO (US$) EECP (US$) 25.55 155.00 6.57 187.12 25.73 171.74 51.15 248.62 FACO - Facoemulsificação, EECP - extração extracapsular (p=0,10) Ressaltaram ainda que as avaliações estimando vantagens econômicas da cirurgia de catarata por FACO em relação à EECP, realizadas em países desenvolvidos, não devem ser utilizadas para Sistemas de Saúde de países em desenvolvimento (15). Tal constatação pode ser aplicada ao estudo realizado por Loo et al. na Malásia, em que foi relatado gasto cirúrgico de US$ 905.25 com a EECP e de US$ 1,127.74 com a FACO, devido, principalmente, ao pequeno número de cirurgias de catarata realizadas naquele hospital(16). Porém, em hospitais que realizam grande número de cirurgias de catarata é possível reduzir custos. No Hospital de Olhos H.V. Desai, na Índia, são realizadas anualmente mais de 10.000 cirurgias de catarata. Estudos de gastos cirúrgicos nessa instituição estimam que o custo da cirurgia por FACO seja de US$ 69.40 e por EECP de US$ 15.82, uma diferença de US$ 53.58(17). Embora alguns autores relatem que a utilização de tecnologia sofisticada, aplicada na promoção da saúde ocular no Sistema Público de países em desenvolvimento, seja inviável, especialmente com relação à cirurgia da catarata, a qual consome uma expressiva parcela Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-24 do orçamento destinado à saúde pública(16), este estudo demonstrou que, para a realidade do HC-FMUSP, a técnica de FACO é economicamente viável, oferecendo vantagens econômicas para o hospital(13). É sabido que mudanças no contexto político-administrativas podem influenciar a viabilidade econômica dos procedimentos. Em 2006, o Ministério da Saúde descontinuou a Campanha Nacional de Catarata (CNC) sob alegação de falta de verbas para custear o número adicional de cirurgias (“extrateto”). Os hospitais voltaram a ter cotas limitadas para a realização dos procedimentos cirúrgicos. Essa medida causou impacto negativo na progressão do número de cirurgias realizadas anualmente no país, reduzindo assim, a utilização da capacidade instalada para cirurgia de catarata nos hospitais públicos e voltando a impor mais uma barreira ao acesso da população necessitada à cirurgia corretiva: a limitação da oferta cirúrgica. Neste contexto, Kara-Junior et al. constataram que ao reduzir a eficiência do CCA realizando-se, por exemplo, 8 FACOs por sala, o custo fixo por cirurgia passaria a ser de R$ 73,51 e o lucro do hospital seria de R$ 100,87 Facoemulsificação versus extração extracapsular no sistema público de saúde: análise de custos para o hospital, ... por procedimento. No caso da realização de 4 cirurgias por sala, o custo fixo seria de R$ 147,03, o que reduziria o lucro do hospital para R$ 27,33. Desta forma, infere-se que “4” seria o número mínimo de cirurgias por sala/dia, que propiciaria lucro ao hospital e, consequentemente, viabilidade financeira(18). Custo para o governo É sabido que o benefício previdenciário é concedido ao segurado, quando este é impedido de trabalhar por doença ou acidente a partir do 15º dia de afastamento consecutivo. Para trabalhadores com carteira assinada, os primeiros 15 dias são pagos pelo empregador e, a partir do 16º dia de afastamento do trabalho, o ônus é da Previdência Social. Para avaliação do ônus previdenciário, os gastos são estimados a partir do salário médio dos pacientes com vínculo empregatício. Kara-Junior et al. 2010 estudaram os gastos da previdência social com trabalhadores pós-operados de FACO e EECP e constataram que o gasto médio estimado para a Previdência Social é muito maior no caso de pacientes submetidos à EECP, pois, em geral, todos os pacientes ficam afastados de seus empregos até o momento da alta, que ocorre mais tardiamente nos casos de EECP. A diferença expressiva de US$ 44,58 por paciente deve ser computada na somatória dos custos públicos totais da cirurgia de EECP (Tabela 4)(19). Embora o custo para o SUS da cirurgia da catarata por FACO com implante de LIO dobrável seja maior do que pela EECP com LIO rígida, a diferença de US$ 101,37 no reembolso entre ambos os procedimentos deve ser contrastada com os custos pós-operatórios para a Previdência Social. Assim, estima-se que o gasto adicional do governo com a FACO é de apenas US$ 56,79(19). Custo para a sociedade Kara-Junior et al. também estudaram os gastos do sistema empresarial com trabalhadores pós-operados de FACO e EECP e constataram que para o empregador, o tipo de técnica é indiferente para seu ônus. A principal vantagem é que os empregados submetidos à FACO retornam antes ao trabalho, se comparados aos submetidos à EECP (Tabela 4)(20). Apesar de em hospitais públicos a cirurgia não ser cobrada, os pacientes não estão isentos de gastos. Segundo Kara-Junior et al., os gastos pessoais com transporte e alimentação nos retornos pós-operatórios foram em média de US$ 11.00 na FACO e US$ 18.92 na EECP. Assim, a economia média total dos sujeitos do grupo FACO em relação aos do grupo EECP foi de US$ 16.74. A despesa 123 adicional, em consequência do maior número de retornos no grupo EECP, assim como a disponibilidade de acompanhante, pode dificultar o seguimento pós-operatório do paciente submetido a essa técnica. Embora a diferença do custo médio estimado por indivíduos de ambos os grupos não tenha sido estatisticamente significante, considera-se que o valor absoluto tenha sido alto para uma amostra composta predominantemente de pessoas aposentadas e economicamente inativas(20-23). Na comparação dos gastos médios estimados para a aquisição de óculos, observa-se que, apesar de os gastos terem sido maiores no grupo EECP (US$ 136.00 vs. US$ 129.20), essa diferença não foi estatisticamente significativa (p = 0,30). Tendo em vista que 33,0% dos indivíduos do grupo FACO e 37,6% do grupo EECP necessitaram de novas lentes corretoras após 180 dias da cirurgia, e o gasto médio com troca de lentes foi de US$ 14.80 no grupo FACO e US$ 17.95 no grupo EECP, a despesa total média com óculos, nos seis primeiros meses após a cirurgia, foi de US$ 144.00 no grupo FACO e de US$ 152.82 no grupo EECP(20). A tabela 4 mostra a comparação entre os grupos do custo médio total do pós-operatório para os pacientes, para o sistema empresarial (empregadores) e para a Previdência Social. Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p = 0,10), embora o custo total para EECP tenha sido maior (US$ 248,62 vs. R$ 187,12)(20). Importante notar que, em ambos os grupos, a maioria dos indivíduos empregados referiu melhora na produtividade após a cirurgia. Esse fato, por si só, pode indicar o retorno do investimento do Estado com o procedimento cirúrgico, assim como melhora na qualidade de vida dos pacientes(24). CONCLUSÃO A maioria dos países desenvolvidos tem adotado recentemente a técnica FACO para a cirurgia de catarata. Contudo, questiona-se a viabilidade econômica do emprego dessa técnica no sistema público de saúde de países em desenvolvimento, devido ao possível aumento nos custos. Nesse contexto, o deslocamento de recursos financeiros para esse procedimento poderia resultar em menor disponibilidade financeira para outras necessidades, diminuindo a efetividade do sistema de saúde. Os estudos realizados no HC-FMUSP estimaram que o custo social pós-operatório total da cirurgia de catarata pela técnica de FACO foi de US$ 187.12, enquanto pela técnica de EECP foi de US$ 248.62. Considerando o reembolso do SUS para ambos os procedi- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 115-24 124 Kara-Junior N, Santhiago MR, Espindola RF mentos, estima-se que o ônus social com a realização da FACO tenha sido US$ 39.87 superior em relação à EECP, valor aceitável quando são consideradas as vantagens clínicas da FACO para os pacientes operados. Conclui-se que o incentivo e o investimento governamental para a realização da FACO no SUS estejam socialmente justificados, considerando também a economia dos pacientes e do sistema empresarial, bem como as vantagens clínicas para os pacientes e vantagens econômicas para os hospitais. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Albanis CV, Dwyer MA, Ernest JT. Outcomes of extracapsular cataract extraction and phacoemulsification performed in a university training program. Ophthalmic Surg Lasers. 1998;29(8):643-8. Lundström M, Stenevi U, Thorburn W. The Swedish National Cataract Register: A 9-year review. Acta Ophthalmol Scand. 2002;80(3):248-57. 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ARTIGO DE REVISÃO125 Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior Retinal nerve fiber evaluation in neuro-ophthalmic diseases of the anterior visual pathway Mário Luiz Ribeiro Monteiro* RESUMO A avaliação da camada de fibras nervosas da retina tem grande importância no diagnóstico e acompanhamento de várias afecções da via óptica anterior. Nesta revisão, discutiremos os principais métodos de análise clínica e instrumental da camada de fibras nervosas da retina e revisamos os principais achados encontrados nas afecções da via óptica anterior incluindo lesões inflamatórias, isquêmicas, tóxicas, hereditárias, compressivas e traumáticas do nervo óptico, as lesões do quiasma óptico, as do trato óptico e aquelas do corpo geniculado lateral. Descritores: Camada de fibras nervosas da retina; Neuropatias ópticas; Quiasma; Trato óptico; Corpo geniculado lateral; Tomografia de coerência óptica ABSTRACT Retinal nerve fiber evaluation is important in the diagnosis and management of several diseases of the anterior visual pathway. In this report we review the clinical findings and the current techonologies avalilable to analyse the retinal nerve fiber layer. We furthermore review the main findings in several disease of the anterior visual pathways including inflammatory, ischemic, toxics, hereditary, compressive and traumatic optic neuropathies as well as lesion of the optic chiasm, optic tract and lateral geniculate body. Keywords: Retinal nerve fiber layer; Optic neuropathies; Optic chiasm; Optic tract; Lateral geniculate body; Optical coherence tomography * Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo (SP), Brasil. O autor declara inexistir conflitos de interesse Recebido para publicação em 14/2/2011 - Aceito para publicação em 7/8/2011 Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 126 Monteiro MLR A INTRODUÇÃO s afecções da via óptica anterior representam importantes diagnósticos em neuroftalmologia e incluem doenças de origem inflamatória, desmielinizante, isquêmica, compressiva, tóxicas, carenciais, hereditárias ou traumáticas que acometem os nervos ópticos, quiasma óptico, trato óptico e corpo geniculado lateral. A avaliação clínica destas afecções envolve tanto testes subjetivos da função visual, como a acuidade e o campo visual, quanto métodos objetivos que avaliem suas alterações estruturais. A mensuração das alterações estruturais é de fundamental importância e pode ser realizada através do exame fundoscópico que permite uma estimativa grosseira da perda neural baseada no grau de palidez do disco óptico (DO) ou pela observação da camada de fibras nervosas da retina (CFNR).(1) Após a observação inicial de Hoyt, vários estudos demonstraram que existe uma correlação entre o grau de anormalidade na função visual e a presença de defeitos na CFNR, mesmo em casos onde a palidez do disco óptico não é evidente.(1-3) Outros estudos, especialmente em pacientes com glaucoma, demonstraram também que o defeito na CFNR pode ser um sinal precoce de dano neural, podendo preceder o defeito de campo visual (CV).(4) Portanto, a avaliação da CFNR tornou-se de método semiológico de fundamental importância em diversas afecções da via óptica anterior.(5-11) A análise da CFNR é um elemento semiológico importante porque as alterações nestas fibras são mais fáceis de observar e estimar do que a palidez do DO especialmente em lesões discretas. Além disso, em alguns indivíduos o DO apresenta coloração naturalmente mais clara e é importante a observação da CFNR no sentido de valorizar ou não uma eventual “palidez” do disco. É importante também porque pode auxiliar no diagnóstico de diversas lesões da via óptica seja pela detecção da perda neural, seja pela identificação de padrões específicos de perda da CFNR. Por fim tal avaliação tem também importância na estimativa da possibilidade ou não de recuperação visual e no monitoramento do tratamento de algumas doenças. Embora muita ênfase tenha sido dada nos últimos anos à avaliação da CFNR em pacientes com glaucoma, menor atenção foi destinada à importância deste dado semiológico em neuroftalmologia. Nesta revisão, após uma breve descrição da distribuição anatômica da CFNR e dos principais métodos semiológicos disponíveis para avaliação da CFNR, discutiremos as alterações encontradas nas principais afecções da via óptica desde o nervo óptico (excluído glaucoma) até o corpo geniculado lateral. Anatomia da camada de fibras nervosas da retina A CFNR é composta principalmente pelos axônios oriundos das células ganglionares da retina (CGR), juntamente com astrócitos e componentes das células de Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 Muller12. A sua espessura é menor na periferia e maior ao redor do DO, principalmente nas margens superior e inferior, onde é em média de 200 micra. Já nos setores nasal e temporal ao redor do disco, a sua espessura é muito menor. A CFNR diminui também com a distância em relação ao disco óptico, se mostra inversamente proporcional à idade e parece não ter relação com a área do disco.(13) Conhecer a distribuição anatômica dos axônios originados nas CGR e visibilizados nas porções mais internas da retina é de fundamental importância. Os axônios originados a partir das CGR na mácula nasal projetam diretamente em direção ao DO compondo parte do feixe papilomacular. Os axônios originados na região macular do lado temporal apresentam um padrão levemente arqueado em torno dos axônios maculares nasais, compondo as fibras remanescentes do feixe papilomacular. Os axônios das CGR nãomaculares que são nasais a fóvea tem um curso em linha reta ou levemente curvo em direção ao DO, enquanto que os axônios das CGR localizados temporalmente a fóvea apresentam um trajeto arqueado ao redor do feixe papilomacular e entram nos polos superior e inferior do DO. Portanto, a divisão da CFNR em partes temporal e nasal, é feita por uma linha vertical que passa através do centro da fóvea, e não no DO. As fibras que se originam das células ganglionares localizadas nasalmente à fóvea cruzam no quiasma óptico enquanto que as demais não cruzam. As fibras que não cruzam no quiasma óptico penetram o DO apenas nos polos superior e inferior, enquanto que as fibras originárias da retina nasal e que cruzam no quiasma penetram o disco óptico em toda sua volta (Figura 1).(12,14) Ao nível do nervo óptico as fibras se agrupam na rima neuroretiniana, antes de iniciar o seu trajeto em direção às partes posteriores da via óptica. Geralmente é maior inferiormente, seguido pela região superior, depois nasal, e é mais fina temporalmente.(15) Há também um arranjo específico das fibras em relação à sua disposição vertical visto em corte da retina. As fibras que se originam na retina periférica tendem a permanecer mais profundamente na retina enquanto que aquelas mais centrais assumem um trajeto mais superficial. Portanto, as fibras mais longas se situam em uma posição mais periférica enquanto que as mais curtas são mais superficiais na retina. Semiologia da camada de fibras nervosas retinianas O feixe de fibras nervosas é visível à oftalmoscopia como reflexos de fibras estriadas, mais facilmente visibilizadas com a pupila dilatada e usando uma luz aneritra (540 nm). A análise qualitativa da CFNR pode ser obtida além da oftalmoscopia também através do registro fotográfico (retinografia colorida ou com uso de filtros, luz anerita)(1). Entretanto, estes métodos permitem apenas uma análise qualitativa, sendo dependentes da experiência do examinador e, portanto, altamente subjetivos. Além disso, Quigley et al.(16) cha- Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior Figura 1: Representação esquemática da camada de fibras nervosas da retina originárias da hemirretina temporal (em azul) e aquelas da hemirretina nasal (em vermelho) maram a atenção para o fato de que, em alguns casos, até 50% das fibras nervosas podem ser perdidas sem que haja defeito na CFNR detectável através de retinografias. Em decorrência disso, a necessidade de métodos diagnósticos que permitissem uma quantificação objetiva da espessura da CFNR se fez necessário. Os principais instrumentos utilizados para avaliação da CFNR são: o polarímetro de varredura a laser, o laser confocal de varredura e a tomografia de coerência óptica. Polarímetro de varredura a laser O polarímetro com laser de varredura (GDx – Laser Diagnostic Technologies, San Diego, CA, Estados Unidos) foi um dos primeiros aparelhos com a proposta de quantificar a CFNR peripapilar. A medida da espessura da CNFR baseia-se nas propriedades birrefringentes da CFNR.(17) A luz polarizada ao incidir sobre um meio birrefringente, sofre um retardo que é linearmente relacionado a espessura e propriedades ópticas do meio birrefringente. A birrefringência da CFNR ocorre devido a disposição paralela dos microtúbulos e neurofilamentos axonais.(18) O GDx é constituído por um oftalmoscópio com laser de varredura, um modulador de polarização, um compensador de córnea e uma unidade de detecção de polarização. Sua capacidade de fornecer medidas quantitativas e reprodutíveis da camada da CFNR foi demonstrada em estudos experimentais e clínicos.(17,19,20) Embora a maioria dos estudos clínicos utilizando o GDx tenham sido realizados em pacientes com glaucoma, muitas outras neuropatias ópticas foram estudadas, incluindo neurite óptica desmielinizante,(21) trauma indireto do nervo óptico,(22) e neuropatia óptica isquêmica,(23) demonstrando que o GDx pode ser uma ferramenta útil na detecção da perda axonal em diversas afecções da via óptica anterior. Um dos problemas com esta tecnologia é que 127 qualquer estrutura birrefringente por onde passe o feixe de laser altera o retardo do feixe. No olho, a córnea e o cristalino têm birrefringência que pode ser variável de indivíduo para indivíduo. Em decorrência disso o aparelho incorpora um compensador da birrefringência corneana para evitar erros de interpretação. As primeiras versões dispunham de um compensador fixo de córnea (GDx-FCC) e a versão atual dispõe de um compensador variável da córnea (GDx-VCC) que estima e corrige o retardo devido a estruturas do segmento anterior do olho de tal forma e medir de forma mais acurada a CFNR peripapilar. Estudos prévios demonstraram boa correlação entre defeitos do campo visual e medidas do GDx obtidas nas áreas superior e inferior peripapilar,(24) no entanto, a capacidade deste instrumento para avaliar a espessura da CFNR nas regiões nasal e temporal foi questionada por alguns autores.(25,26) Em estudos utilizando pacientes com lesões quiasmáticas, demonstramos que o GDx falha na detecção da perda da CFNR no setor temporal do DO tanto na sua versão original (8) quanto nas versões mais modernas com compensador variável de córnea (GDx-VCC) ou compensação ampliada da córnea (GDx-ECC).(27) Desta forma, embora o aparelho possa ser útil na quantificação da CFNR média do DO, deve ser usado com cuidado quando o defeito de fibras for predominante no setor temporal do DO como ocorre com várias afecções neuroftalmológicas. Laser confocal de varredura (LCV) O LCV é um aparelho que utiliza a tecnologia do laser confocal, na qual um pequeno feixe de laser rapidamente escaneia a superfície retiniana horizontal e verticalmente. A luz refletida de cada ponto iluminado passa através de uma pequena abertura que é posicionada de tal forma que o plano focal da retina e aquele do sensor de luz estão opticamente conjugados. Uma série de imagens confocais é coletada e processada para calcular uma representação tridimensional da superfície da retina e do disco óptico. O aparelho mais conhecido que utiliza o princípio do LCV é o tomógrafo retiniano de Heidelberg (HRT). O instrumento original (HRT I) foi seguido de modificações para o HRT II que usa um laser diodo de 670 nm e produz imagens de 384 X 384 pixels espalhados por uma área de 15 x 15 graus. Desta forma é possível analisar o tecido em camadas (ou secções), que podem variar de 16 a 64, dependendo da profundidade da estrutura tridimensional final. O HRT fornece, portanto, imagens tridimensionais topográficas do DO e da CFNR adjacente ao disco. O software automaticamente calcula uma série de parâmetros incluindo a área do disco, área, profundidade e volume da escavação, área e volume da rima neural e a relação escavação disco. Estes cálculos são baseados em um plano de referência arbitrário situado 50 µm abaixo da superfície do feixe papilomacular e também baseados em um contorno do disco determinado pelo examiRev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 128 Monteiro MLR nador. Os resultados são altamente reprodutíveis e considerados precisos para medir alterações topográficas. Para estimar a CFNR o software do HRT mede a altura da retina ao longo de um contorno em volta do disco e subtrai a altura do plano de referência. Assim o HRT mede a superfície retina diretamente e apenas estima a CFNR indiretamente. Tomografia de coerência óptica A tomografia de coerência óptica (TCO) é uma modalidade de aquisição de imagem não-invasiva, que obtém imagens tomográficas de alta resolução, através de cortes transversais das estrutras internas da retina, por meio da medida de atraso do “eco luminoso” e a intensidade de reflexão da luz (próxima ao infravermelho – 820nm) nos tecidos.(28) A construção da imagem é análoga a ultrassonografia modo B, só que usa a luz ao invés do som, baseia-se no princípio da inteferometria de baixa coerência. A resolução das imagens pode variar de acordo com a versão e tipo de aparelho, sendo na ordem de 10 micra para sua versão mais amplamente utilizada (Stratus-OCT; Carl Zeiss Meditec), mas podendo chegar na ordem de 5 micra nos aparelhos de nova geração, as TCO de alta resolução. Atualmente duas variantes da tecnologia são disponíveis. A primeira utiliza a tecnologia domínio do tempo (TD, do inglês time-domain), disponível na versão comercial Stratus-OCTTM (Carl Zeiss Meditec Inc. Dublin, CA, EUA) que consegue resolução axial que varia de 128 a 768 pontos (A-scans), com um tempo de aquisição de 0,32 a 1,92 segundos respectivamente, dependendo da estratégia de aquisição utilizada. Tal tecnologia proporciona uma resolução axial menor do que 10 µm e uma resolução transversal de 20 µm aproximadamente.(29) A habilidade da TCO-TD em produzir medidas quantitativas e reprodutíveis da CFNR tanto em olhos normais como doentes foi demonstrada previamente em diversos estudos clínicos. (30,31) O protocolo de escaneamento para avaliação da CFNR mais amplamente utilizado é o fast RNFL thickness. Este protocolo consiste em três scans consecutivos 3600 ao redor do disco óptico com diâmetro de 3.4mm, cada scan é composto por 256 Ascans e obtidos em um única sessão com 1.92 segundos de duração. Os valores obtidos são da espessura média da CFNR, em quatro quadrantes (900 cada) e doze segmentos de 300 cada. A espessura da CFNR é determinada pelo software do aparelho de acordo com a extensão da camada vermelha de alta refletividade que aparece junto a interface vitreorretiniana.(93)Existe no banco de dados do próprio aparelho uma escala normativa em cores para comparação em percentis, sendo verde para valores normais (5 < p < 95%), amarelo limítrofes (1 < p < 5%), vermelho diminuído (0 < p < 1%) e o branco (acima da média, 95 < p < 100%). O protocolo de análise disponível no próprio software do Stratus-OCT mais utilizado é RNFL Thickness Avarage Analysis Report. Aprimoramentos na tecnologia da TCO foram introduzidas recentemente, incluindo aparelhos de alta Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 resolução, que utilizam o princípio do domínio de Fourier (FD do inglês Fourier Domain) para geração de imagens a uma velocidade de varredura mais alta. Imagens seccionais da retina com uma resolução até 5 vezes maior que a TCO convencional podem assim ser adquiridas. Esse aumento da resolução e da velocidade de varredura permite uma captura de imagens da alta densidade dos tecidos retinianos enquanto minimiza os artefatos gerados pela movimentação ocular. A TCO-FD ao invés de ajustar a posição do espelho de referência, grava a informação interferométrica usando um espectrômetro, gerando uma velocidade de varredura de 18.000 até 25.000 scans/ segundo do tipo A, com resolução axial de 5µm e uma resolução horizontal de 20 µm ou menor. Essa tecnologia fornece também varreduras em scan B em alta resolução (até 4096 pixels de resolução) e imagens volumétricas tridimensionais que cobrem uma área da retina de até 6 x 6 mm. O aumento da resolução axial permite melhor visualização das camadas intrarretinianas como a dos fotorreceptores, das plexiformes, nucleares, das células ganglionares e da CFNR.(32-36) Tipos de alterações da camada de fibras nervosas Quando um axônio é lesado de forma irreversível, ocorrem dois tipos de degeneração: a anterógrada (walleriana) e a retrógada. (37) A degeneração anterógrada ocorre na porção distal do axônio que foi separado do seu corpo celular, enquanto que a degeneração retrógada ocorre no segmento proximal do nervo que permanece em contato com corpo celular. Apesar da degeneração anterógrada se tornar próximo de completa dentro de 7 dias após a lesão, a porção do axônio que permanece conectada ao corpo celular, e o próprio corpo celular, mantém a aparência normal por 3 a 4 semanas. Após este período, entretanto, a estrutura restante inteira (o corpo celular e axônio a partir do ponto da lesão) degenera rapidamente, tanto que por volta de 6 a 8 semanas após uma lesão grave ao nervo óptico, nenhuma célula ganglionar afetada permanece viável.(37,38) Com resultado deste processo degenerativo conseqüente a lesão da fibra nervosa e morte da CGR, aparecem os defeitos na CFNR e palidez do DO. Como já mencionado a palidez é difícil de ser quantificada, sendo assim, a perda axonal é mais facilmente estimada observando-se a CFNR peripapilar. Tal visibilização, no entanto, exige treinamento clínico e observação cuidadosa sendo este o motivo pelo qual o assunto passa despercebido por grande parte dos oftalmologistas. Dois padrões principais de perda axonal ocorrem: a perda difusa e a perda localizada. Perda difusa da camada de fibras nervosas A perda completa da CFNR é facilmente reconhecida pela exposição de detalhes anatômicos da retina e da coróide. Assim pequenos vasos e detalhes da retina que normalmente são obscurecidos pela CFNR se tornam aparentes. A retina sem fibras assume um padrão mosqueado. As margens do disco óptico se tornam Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior 129 Figura 2: Perda difusa da camada de fibras nervosas retiniana: falta de estriações peripapilares e exposição dos vasos retinianos Figura 3: Representação de um defeito focal na camada de fibras nervosas da retina (seta) muito bem definidas (Figura 2). Perda difusa e parcial das fibras que seja uniformemente distribuída pelo nervo é muito mais difícil de perceber ao exame clínico, principalmente se for bilateral. Casos parciais unilaterais são melhor avaliados do ponto de vista clínico pela comparação com o olho contralateral seja à oftalmoscopia, seja através de fotografias. vários tipos de lesões do nervo óptico, embora a maioria das lesões possa também causar atrofia difusa das fibras, principalmente nas fases mais avançadas da doença. O tipo de perda de fibra representa assim a morte axonal decorrente de qualquer tipo de lesão. As principais neuropatias ópticas são representadas pelas neuropatias inflamatórias/ desmielinizantes, isquêmicas, hereditárias, tóxicas, carenciais, compressivas e traumáticas. Perda focal das fibras nervosas retinianas Perda focal significa redução das fibras em uma região circunscrita da via óptica anterior e sua parte correspondente na CFNR. A aparência do defeito depende da profundidade, largura e posição em relação ao disco óptico.(2) Defeitos profundos e de toda espessura são mais fáceis de diagnosticar que os parciais. Os defeitos focais são delimitados por curvas que acompanham o arranjo curvilinear da CFNR nos feixes de fibras e sempre reduzem em direção ao DO (Figura 3). Defeitos focais pequenos são geralmente melhor vistos a uma distância 1 a 3 discos ópticos afastada da cabeça do nervo óptico, sendo mais reduzidos próximo ao disco óptico. Defeitos mais largos, em forma de cunha, podem ser vistos até uma distância maior. A distribuição dos defeitos focais da CFNR depende do local da lesão na via óptica anterior. Um acometimento frequente é aquele que envolve o feixe papilo-macular, com perda importante das fibras no setor temporal do disco óptico (Figura 4). Do ponto de vista prático, o tipo de defeito pode ser dividido nas lesões do nervo óptico, do quiasma óptico, do trato óptico e do corpo geniculado lateral. Alterações na camada de fibras nervosas nas lesões dos nervos ópticos Defeitos focais são frequentemente encontrados em Neuropatias inflamatórias As neuropatias inflamatórias são frequentes e englobam as doenças desmielinizantes e imuno-mediadas, idiopáticas ou infecciosas. Na fase aguda o DO pode ser normal ou apresentar edema que geralmente é discreto a moderado. Exsudatos podem ocorrer e hemorragias são incomuns. A perda da CFNR começa após um mês da crise de neurite óptica e continua por 3 a 6 meses quando então aparecem os defeitos na camada de fibras. Os defeitos podem ser focais ou difusos, ocorrendo em até 80% dos pacientes com neurite óptica.(10) Existe uma preferência para o acometimento do setor temporal, com perda importante do feixe papilo-macular (Figura 4). A TCO é um método importante na quantificação da lesão axonal decorrente de neurite óptica aguda e já foi bastante investigado em casos onde o acometimento do nervo óptico está associado à esclerose múltipla (EM). Quando comparado a controles normais os olhos acometidos por neurite óptica apresentam uma redução de 33-46% da CFNR à TCO.(39,40) O afilamento é predominantemente no quadrante temporal, envolvendo o feixe papilomacular e se torna evidente de 3 a 6 meses após o episódio agudo.(40) Pacientes com perda mais grave da CFNR e com afilamento intenso da mesma tem menor chance de recuperação visual.(11) Costello et al. concluíram que uma medida de CFNR de 75µm ou menos implica num prognóstico ruim quanto à Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 130 Monteiro MLR de papila que pode ser desde discreta até muito grave. O prognóstico visual é geralmente mais grave do que na neurite óptica da NMO do que naquela de causa idiopática ou associada a esclerose múltipla.(45) Estudos usando TCO mostram que a CFNR se mostra significantemente reduzida em pacientes com NMO comparada a controles ou pacientes com esclerose múltipla.(46) O afilamento envolve os 4 quadrantes do disco, com predominância de acometimento dos quadrantes superior e inferior quando comparado à EM. Por outro lado, na EM o acometimento é preferencial no setor temporal do DO.(11,40) Desta forma nas neurites ópticas a quantificação da perda neural é importante não apenas para o diagnóstico da perda neural existente na doença seja no olho acometido seja no olho contralateral de indivíduos com esclerose múltipla como também serve para monitorar evolução da doença principalmente quando se administram novos tratamentos. Figura 4: Perda da camada de fibras nervosas predominante no setor temporal do disco óptico. Observe a ausência de estriações referentes às fibras nervosas entre as setas recuperação visual.(40) Perdas menores mas significantes também já foram observadas em olhos contralaterais àqueles que tiveram neurite óptica em pacientes com esclerose múltipla indicando a existência de lesão subclínica naquela condição.(41) Uma vez que a retina é o único lugar onde os axônios podem ser visibilizados diretamente, a quantificação da CFNR abriu um potencial muito grande de avaliação de neurodegeneração existente na EM, ou seja uma janela para a monitorização da doença. Vários estudos identificaram que em olhos de pacientes com EM que tiveram neurite óptica existe uma perda da CFNR em média de 20 a 38 µm, enquanto que em olhos assintomáticos dos mesmos pacientes existe uma perda em torno de 7 µm. Estes estudos enfatizam a importância de se examinar cuidadosamente a CFNR nos pacientes com EM, especialmente quando se tenta monitorar o efeito de tratamentos destinados a prevenir ou reduzir a perda neural nesta afecção.(42) Embora a maior parte dos estudos tenha sido feita usando a TCO outros investigadores documentaram também a utilidade do polarímetro de varredura a laser na avaliação dos pacientes com esclerose múltipla.(21,43,44) A neurite óptica pode também fazer parte da neuromielite óptica (NMO) uma condição idiopática, desmielinizante e necrotizante do sistema nervoso central que acomete o nervo óptico e a medula espinhal. Estudos recentes indicam que se trata de uma doença distinta da EM, caracterizada pela presença de anticorpos antiaquaporina 4. Embora tradicionalmente tenha sido considerada uma condição monofásica e bilateral, atualmente se sabe que o acometimento do nervo óptico pode ser uni ou bilateral e pode ocorrer antes ou depois da mielite transversa. Na fase aguda geralmente há edema do DO e na fase crônica existe palidez Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 Neuropatias ópticas isquêmicas A neuropatia óptica isquêmica mais comumente afeta a porção anterior do nervo óptico e se caracteriza por edema de disco na fase aguda e palidez significativa algumas semanas depois, sem recuperação visual importante. Esta forma é denominada neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) e pode ser classificada em de causa arterítica e não arterítica. (NOIA-NA). Enquanto a forma arterítica se mostra decorrente do envolvimento das artérias ciliares posteriores por arterite temporal, a fisiopatogenia da forma não arterítica é conhecida apenas em parte, acreditando-se ser uma doença multifatorial. A NOIA-NA é a neuropatia óptica mais comum no idoso. Acredita-se que o local do enfarto do nervo óptico se situa na porção retrolaminar do nervo, suprida pelas artérias ciliares posteriores curtas. Várias hipóteses etiopatogênicas incluem a hipoperfusão da microcirculação ou defeito na autoregulação dos vasos. A afecção geralmente acomete discos pequenos, os chamados “disco de risco”.(47) Na fase aguda ocorre edema do DO geralmente associado a hemorragias peripapilares. O edema pode ser difuso ou segmentar, neste caso mais comumente no pólo superior do disco óptico. Na fase aguda a TCO revela aumento da CFNR consistente com edema do DO e da retina peripapilar.(48) Quatro a seis semanas após o evento o edema de papila regride e aparece a palidez do disco. A perda de CFNR pode ser segmentar superior (mais comum) (Figura 5) ou difusa. Ocorre afilamento dos vasos retinianos, redução da rima neural e perda da CFNR. O afilamento se desenvolve ao longo de alguns meses e estabiliza 6 meses após a crise.(49) O laser confocal de varredura também já foi usado para avaliar o nervo óptico na fase crônica da NOIA-NA e mostrou afilamento significativo da CFNR comparado com normal.50 Estes métodos usualmente mostram afilamento da CFNR não apenas no local onde existe atrofia óptica visível mas também Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior Figura 5: Palidez e perda da camada de fibras nervosas no setor superior do disco óptico após neuropatia óptica isquêmica; Observe estreitamento arteriolar na região superior em outros setores do DO. A análise quantitativa do DO revela na fase crônica afilamento significativo da CFNR, que se desenvolve ao longo de meses até estabilizar 6 meses após o evento. Estudos com o LCV indicam que olhos afetados tem redução importante da CFNR quando comparada com normais.50 Estudos com a TCO também mostram perda da CFNR e evidenciam que após a NOIA existe perda da CFNR não apenas no setor acometido pela perda de campo visual indicando que a perda de fibras pode ir além do local de palidez do DO.(51) O afilamento da CFNR também pode ser bem demonstrado na fase crônica da doença através do GDx.(23,52) Neuropatias compressivas Compressões do nervo óptico por lesões na órbita, no canal óptico ou no nervo óptico intracraniano produzem perda de acuidade visual, visão de cores e defeito de campo visual. A perda visual é lenta e progressiva e pode haver proptose associada nos casos de lesões orbitárias. As lesões compressivas podem ser causadas por tumores orbitários extrínsecos ao nervo óptico, tumores do nervo óptico como o meningioma e o glioma, orbitopatia distireoidiana e displasias ósseas. Em quase todos os casos a perda é muito lenta e quase nunca existe uma fase aguda da neuropatia. O aspecto do nervo óptico depende do estádio da apresentação, do local da compressão e da duração da compressão. Lesões infiltrativas devido a doenças hematológicas malignas como leucemias e linfomas também podem ocorrer. Embora na fase aguda possa ocorrer edema do DO na maioria destas neuropatias,(53-56) a sua característica principal é a do desenvolvimento progressivo de perda da CFNR que pode ser identificada e quantificada seja pela polarimetria com laser de varredura seja pela TCO. 131 Neuropatias hereditárias As neuropatias ópticas hereditárias representam um grupo de afecções do nervo óptico diretamente relacionadas a herança genética. Podem ser isoladas, associadas a outros sinais neurológicos e sistêmicos e podem também fazer parte de uma doença neurológica degenerativa como as mucopolissacaridoses e as lipidoses. Do ponto de vista do oftalmologista as principais neuropatias hereditárias são: a atrofia óptica dominnante e a Doença de Leber. A atrofia óptica dominante (AOD) é a neuropatia óptica hereditária mais comum. O quadro clínico se caracteriza por início insidioso, ocorrendo na maioria dos casos antes dos 10 anos de idade, embora usualmente os pacientes não sejam capazes de dizer com exatidão quando começou a afecção. Geralmente há piora lenta e progressiva da acuidade visual com a idade. A doença é bilateral, caracterizada por redução da acuidade visual, leve a moderada (em torno de 20/60), podendo variar de 20/ 20 a conta dedos. A perda visual geralmente é reduzida de forma semelhante nos dois olhos, sendo que a grande maioria permanece com acuidade visual melhor que 20/ 200. Uma grande proporção de casos pode ser atribuída a uma mutação no gene denominado OPA 1 e a incidência estimada é de 1:10.000 a 1:50.000 indivíduos. O exame clínico característico inclui ainda a redução na visão de cores e a presença de escotomas centrais, paracentrais ou cecocentrais ao campo visual que geralmente são pequenos. Ao fundo de olho se observa palidez de papila que pode ser discreta no setor temporal ou ser mais difusa e acentuada. Pode ocasionalmente haver escavação da papila causando confusão com glaucoma.(57) Na AOD ocorre perda difusa da CFNR mas mais acentuada no setor temporal do disco óptico. Este achado é consistente com perda preferencial do feixe papilomacular.(57,58) Geralmente não ocorrem defeitos em fenda ou cunha nas arcadas como costuma ocorrer no glaucoma ou mesmo na esclerose múltipla. Este padrão de perda de fibras já foi documentado de forma adequada pela TCO que pode ser útil para monitorar a progressão da doença e auxiliar na diferenciação com outras neuropatias, como o glaucoma, na qual o acometimento do setor temporal não ocorre ou é muito tardio. Kim e Hwang avaliaram 32 olhos de 16 pacientes com AO dominante e encontraram defeito no quadrante temporal do disco óptico em 90,6% dos olhos achado estes bastante diferentes do que se observa no glaucoma.(58) A neuropatia óptica hereditária de Leber (NOHL) é uma doença mitocondrial de transmissão materna que se caracterizada por perda visual de evolução aguda ou subaguda. A doença é bilateral e causa perda grave da visão ocorrendo geralmente em indivíduos do sexo masculino, com idade preferencial da segunda à quarta década de vida. A predominância pelo sexo masculino varia entre 80 a 90% na maioria dos pedigrees relatados. A perda visual geralmente se inicia de forma indolor em um dos olhos. O segundo olho é afetado se- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 132 Monteiro MLR manas ou meses depois. Quase todos os pacientes terão o acometimento do segundo olho em um período de 1 ano. Geralmente a progressão da perda visual é subaguda, com deterioração da função visual ao longo de semanas ou meses até a sua estabilização. A acuidade visual varia desde ausência de percepção luminosa até 20/20, embora a maior parte dos pacientes tenha acuidade visual pior que 20/200. A visão de cores também é afetada, mas geralmente junto com a perda de acuidade visual. As reações pupilares mostram um defeito pupilar aferente, embora possam estar relativamente preservadas, quando comparado ao acometimento em outras neuropatias. Os defeitos de campo visual geralmente são do tipo escotoma central ou cecocentral. O escotoma pode ser relativo nas fases iniciais da doença mas logo se torna denso e absoluto. Na maioria dos pacientes com NOHL a perda visual permanece grave e fica permanente. No entanto, alguns indivíduos podem apresentar recuperação visual, que pode ser importante, mesmo meses ou anos após a perda visual. A recuperação pode ser na forma de uma melhora muito gradual da visão central, às vezes restrita a uma pequena ilha central de recuperação da visão. A recuperação visual ocorre com maior freqüência em algumas do que em outras mutações mitocondriais. Pelo menos quatro mutações já foram identificadas, nas posições de número 3.460, 11.778, 14484 e 15.257 do DNA mitocondrial, que é importante para a formação de diversas enzimas do sistema produtor de energia da célula, a fosforilação oxidativa. Três delas são denominadas mutações primárias e respondem por pelo menos 90% dos casos de NOHL, localizadas nas posições 11778 (69% dos casos), 3460 (13% dos casos) e 14484 (14% dos casos). Não há nenhuma medida terapêutica efetiva conhecida para a NOHL mas pode ocorrer melhora espontânea principalmente nos portadores da mutação 14484. As alterações no DO e na CFNR podem ser divididas em fases aguda e crônica. Na fase aguda, o exame fundoscópico pode mostrar edema na CFNR, hiperemia do disco óptico com pseudo-edema de papila e vasos telangiectásicos na retina peripapilar. Este aspecto é bastante típico e se caracteriza pela presença de microangiopatia telangiectásica peripapilar associada à edema da camada de fibras nervosas, mas com ausência de extravasamento de contraste na angiofluoresceinografia. Comunicações arteriovenosas em graus variáveis podem ser vistas à angiofluoresceinografia.Tais achados estão presentes na fase sintomática na doença, nas primeiras semanas ou meses, tendendo a desaparecer em seguida. Alguns pacientes, no entanto, quando examinados na fase aguda tem o disco óptico e CFNR de aspecto normal, não apresentando os achados acima.(59,60) Com o tempo as arteríolas e capilares do lado temporal do disco óptico se tornam estreitados e começa a haver a perda axonal no feixe papilomacular. O edema do DO desaparece e dá lugar à palidez do disco óptico e rarefação da CFNR, inicialmente acometendo o setor temporal depois progredindo para os demais setores. Na fase Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 crônica, pode também ocorrer escavação do disco óptico o que também pode levar a confusão com neuropatia óptica glaucomatosa. No entanto, diferente do glaucoma no qual a rima neuroretiniana remanescente tem cor normal na NOHL existe palidez acentuada do setor temporal. Além disso, a profundidade e grau de escavação não é tão acentuada como no glaucoma. A TCO mostra na fase aguda espessamento da CFNR correspondendo ao achado clínico de edema do disco. Na fase atrófica há afilamento acentuado da CFNR documentado pela TCO. Barboni et al.(61) avaliaram a CFNR de 38 pacientes com NOHL, classificados em fase precoce, quando com menos que 6 meses de duração da doença (8 pacientes) fase atrófica nos demais. A CFNR foi avaliada com a TCO-TD e foi encontrado um espessamento da espessura média da CFNR assim como no quadrante superior, inferior e nasal nos olhos na fase aguda. Na fase crônica os olhos mostraram afilamento da CFNR em todas as regiões. Estes dados indicam que o feixe papilomacular parece acometido mais precocemente do que os demais setores do disco óptico.(61) Neuropatias tóxicas e carenciais As neuropatias ópticas tóxicas e carenciais se manifestam de forma semelhante no disco óptico, decorrente de dano de causa nutricional e/ou tóxica.(62) De maneira geral, estas afecções apresentam em comum perda visual geralmente bilateral, indolor, insidiosa e progressiva, ou, em casos específicos, de aparecimento súbito (como no caso da ingestão de metanol, por exemplo), com perda de campo visual com características bem típicas como escotoma central ou cecocentral, preservando a periferia. Apesar de nos estágios iniciais a aparência do disco óptico ser normal ou levemente hiperemiado, nas fases mais tardias da doença é que encontramos as alterações oftalmoscópicas mais características, a palidez de disco. O grau de palidez é variável, mas existe uma preferência para a palidez ser mais proeminente no setor temporal do disco. A maioria das lesões é bastante rara, sendo a mais importante a neuropatia óptica do alcoólatra, também chamada ambliopia tabaco-alcool, embora o efeito do fumo seja questionável e todas as evidências indiquem que se trate na verdade de uma neuropatia óptica carencial, bilateral e simétrica que parece ser devido a combinação dos efeitos do cianeto decorrente da exposição ao tabaco e a redução da vitamina B12 e folato secundário ao consumo de etanol. No entanto, a neuropatia óptica ocorre também em alcoólatras que não são fumantes.(63) Na fase aguda o aspecto do DO é normal ou se observa discreto edema. Nas fases mais avançadas ocorre redução progressiva da CFNR, particularmente no feixe papilomacular (Figura 6). Quando o tratamento é instituído geralmente existe melhora visual a não ser nas fases avançadas da doença onde há atrofia grave do feixe papilomacular. A TCO mostra afilamento da CFNR no setor temporal associada a aumento da espessura das fibras nos Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior 133 Figura 6: Fotografia de paciente com neuropatia óptica tabaco-alcool com palidez e perda da camada de fibras nervosas retinianas no setor temporal de ambos os olhos demais quadrantes.(64) Com o tempo a elevação da CFNR normaliza e geralmente persiste o afilamento temporal.(65) Recentemente avaliamos 3 pacientes com perda visual progressiva associada a alcoolismo e carência nutricional através da TCO-TD.(66) Dois pacientes demonstraram perda acentuada da CFNR no setor temporal do disco óptico em correspondência com o escotoma cecocentral que apresentavam (Figura 7). No entanto, um terceiro paciente tinham medidas da CFNR dentro dos limites da normalidade ou até mesmo aumentada em alguns setores, com base nos dados normativos do aparelho, de forma semelhante ao que já foi observado em outras neuropatias tóxicas.(66) Estes achados indicam que de forma análoga ao que se observa na fase aguda da NOHL e de algumas neuropatias tóxicas o aumento da CFNR nas fases iniciais pode dificultar a observação de eventual perda neural associada que só será percebida quando da redução do edema axonal na fase crônica. Este conhecimento é importante para evitar confusão diagnóstica. Neuropatia óptica traumática A neuropatia óptica traumática (NOT) é uma condição grave que pode ser uni ou bilateral e pode ocorrer por mecanismo direto ou indireto. Traumatismo direto resulta de lesões penetrantes na órbita enquanto que o trauma indireto resulta de traumatismo fechado no qual a onda de choque atua no canal óptico levando à perda visual. A perda visual geralmente ocorre associada a lesões frontais ou temporais. Pode haver melhora visual, particularmente no trauma indireto do nervo óptico, mas isso nem sempre ocorre. Na fase aguda, no caso dos traumatismos posteriores na órbita ou ao nível do canal óptico, o DO tem aspecto normal. Algumas semanas depois ocorre atrofia progressiva das fibras nervosas o que pode ser demonstrado clinicamente e com o uso do polarímetro de varredura a laser ou pelo uso da TCO.(67,68) Em um estudo recente observando sequencialmente 3 pacientes com trauma indireto do nervo óptico que foram avaliados semanalmente por 5 semanas e também ao redor da décima segunda semana após o trauma. Todos os pacientes apresentaram redução progressiva da CFNR evidenciada na segunda semana após o trauma e se acentuando na quarta semana mas se tornando mais acentuada 12 semanas depois.(68) Na fase crônica, portanto, existe atrofia das fibras e do nervo óptico com perda irreversível da visão em diferentes graus dependendo da gravidade da lesão. Nos casos graves a palidez do disco óptico se torna aparente 3 a 4 semanas após o trauma e progride para atrofia completa. Em casos mais leves a palidez ocorre mais tarde e pode ser discreta. Na fase crônica a escavação do disco é incomum mas pode ocorrer. Observa-se perda difusa da CFNR que pode ser quantificada pela polarimetria de varredura a laser ou pela TCO.(68) Lesões do quiasma óptico Lesões compressivas do quiasma óptico são mais comumente decorrentes de tumores hipofisários. Outras causas incluem os craniofaringeomas, meningioma supraselar e aneurismas. A característica clínica mais importante é o desenvolvimento de hemianopsia bitemporal decorrente do acometimento preferencial das fibras cruzadas.(69) As alterações no disco óptico estão ausentes no começo do quadro e se manifestam quando existe lesão axonal irreversível. A disposição das fibras nervosas da retina no quiasma óptico é responsável pelo padrão da perda axonal na compressão quiasmática. As fibras da retina temporal atravessam diretamente o quiasma óptico em direção ao trato óptico ipsilateral, enquanto as fibras da retina nasal cruzam o quiasma óptico para o trato óptico contralateral. Lesões quiasmáticas extensas acometendo a porção mediana do quiasma e afetando as fibras cruzadas Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 134 Monteiro MLR Figura 7: Tomografia de coerência óptica de paciente com neuropatia tabaco-álcool evidenciando perda das fibras no setor temporal de ambos os olhos (setas) de forma grave com preservação das fibras não cruzadas geralmente apresentam sinais característicos ao fundo de olho. As fibras que cruzam no quiasma tem seus corpos celulares na retina nasal e são lesados enquanto que as fibras da hemirretina temporal, que penetram o disco óptico superior e inferiormente são preservadas. A representação oftalmoscópica da perda de fibras nervosas da hemirretina nasal é conhecida como atrofia em banda do nervo óptico, onde se observa palidez do disco óptico nos setores nasal (correspondendo às fibras da retina nasal periférica) e temporal (correspondendo às fibras maculares nasais) associada à rarefação do aspecto estriado da CFNR nos mesmos setores. (70) Mikelberg e Yidegiligne relataram que, embora ocorra à preservação das fibras da retina temporal que penetram o disco óptico pelas arcadas superior e inferior, existe perda axonal significativa também nestas arcadas, uma vez que parte das fibras nervosas destes setores também se originam da retina nasal, cujas fibras são acometidas no quiasma óptico(71) (Figura 8). Clinicamente, a atrofia em banda do nervo óptico em pacientes com compressão quiasmática pode ser utilizada como parâmetro para o prognóstico visual. Assim, enquanto que os pacientes que apresentam atrofia do nervo óptico podem mostrar algum grau de recuperação da acuidade visual e do campo visual após tratamento adequado, os pacientes que não apresentam este sinal devem apresentar recuperação completa ou muito acentuada das funções visuais. Entretanto, a observação clínica da AB do nervo óptico nas síndromes quiasmáticas é um dado semiológico subjetivo e qualitativo e sua importância como parâmetro de prognósti- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 co visual é mais fidedigna quando avaliada por um examinador experiente. Os métodos que avaliam a integridade anatômica ou funcional da via óptica são promissores para avaliação do prognóstico visual nas síndromes compressivas e sua importância é devido à possibilidade de recuperação pós-tratamento das funções visuais nas afecções compressivas da via óptica. Por outro lado, o padrão de perda na atrofia em banda pode representar um modelo para avaliar a capacidade de qualquer instrumento em medir a perda da CFNR, especialmente nas regiões nasal e temporal do DO. Usando este modelo de perda neural, conduzimos um estudo prospectivo para avaliar desempenho diagnóstico do GDx em pacientes com hemianopsia temporal bem estabelecida e AB do nervo óptico secundária a compressão quiasmática, a fim de avaliar a capacidade deste instrumento para identificar o padrão típico de perda de fibras nervosas observadas nesses pacientes. Os valores da CFNR medidos pelo GDx nos olhos com atrofia em banda do nervo óptico foram significativamente diferentes das do grupo controle em todas as regiões, menos a temporal. O banco de dados presente no software aparelho, não conseguiu identificar a maioria das anormalidades nas regiões temporal e nasal em pacientes, apesar do fato de que estas áreas são claramente anormais nos olhos com atrofia do nervo óptico. Os resultados deste estudo foram importantes pois chamaram a atenção para o fato de que a avaliação da CFNR com a polarimetria a laser (GDx) deve ser interpretada com cautela no estudo de doenças oculares que levam à perda axonal predominantemente nas áreas nasal e temporal do disco óptico. Avaliação da camada de fibras nervosas da retina nas afecções neuroftalmológicas da via óptica anterior Figura 8: Fotografia do fundo de olho de paciente com hemianopsia temporal e atrofia em banda do nervo óptico. Observe a ausência de fibras nos setores nasal e temporal do disco e rarefação das fibras nas arcadas superior e inferior A TCO por outro lado demonstra um desempenho superior, sendo capaz de identificar a perda da CFNR em todos os quadrantes, particularmente o quadrante temporal. Na tentativa de melhorar o desempenho diagnóstico do GDx, dois implementos no software foram realizados em duas novas versões recém-disponíveis com mecanismos compensadores da polarização corneana, o GDx “VCC” (compensador variável de córnea) e o GDx “ECC” (compensação aperfeiçoada da córnea). Com intuito de avaliar se estes mecanismos compensadores da polarização corneana resultaram numa melhora da habilidade diagnóstica do GDx, conduzimos dois estudos.27,72 Os resultados demonstraram que o compensador variável de córnea melhorou a performance diagnóstica para detecção da perda da CFNR na espessura média e nos quadrantes superior, inferior, nasal. Entretanto, quando comparado ao Stratus-OCT, GDx “VCC” continuou tendo um pobre desempenho na detecção da perda axonal no setor temporal do disco óptico. Em um outro estudo,(27) foi realizado uma comparação direta da habilidade diagnóstica em pacientes com atrofia em banda do nervo óptico destas duas novas versões de GDx, o “VCC” e o “ECC”. Os resultados demonstraram que o implemento da compensação aperfeiçoada da córnea (“ECC”) não promoveu uma melhora desempenho da perda da CFNR nos setores nasal e temporal neste grupo de pacientes. Portanto, a TCO parece ser uma tecnologia mais útil na detecção da perda axonal nas afecções da via óptica anterior, sendo capaz de produzir medidas quantitativas, reprodutíveis e com boa acurácia da CFNR, incluindo o setor temporal do disco óptico. Entretanto, apesar destes resultados animadores, 135 alguns aspectos devem ser ressaltados. O desempenho da TCO TD na quantificação da perda axonal pela avaliação da CFNR através das medidas da espessura média e nos quatro quadrantes (superior, inferior, nasal e temporal) ter demonstrado bom desempenho diagnóstico, a análise das medidas nos 12 segmentos de 30 graus deve ser vista com cuidado. Em outro estudo, avaliamos a habilidade diagnóstica do aparelho baseado em banco de dados normativos do aparelho em pacientes com AB do nervo óptico.(73) Os resultados demonstraram que o parâmetro espessura média foi o com maior sensibilidade para detecção de anormalidades nos olhos com a AB, seguido pelos parâmetros dos quadrantes temporal e nasal. O que chamou atenção é que os parâmetros dos segmentos de 30 graus, os valores de sensibilidade foram relativamente baixos. Sendo que falhas em detectar a perda pode ocorrer nos segmentos de 30 graus, especialmente no meridiano de 3 horas (temporal), justamente o setor sabidamente afetado. Apesar destas ressalvas deve ser enfatizado que a TCO mostra claramente o afilamento da CFN em todos os setores, principalmente os setores nasal e temporal do disco óptico.(72,74-76) Estudos demonstraram que existe correlação entre a gravidade da perda visual e as medidas de perda axonal retiniana seja pela CFNR seja pela espessura macular.(75,77-78) A quantificação da perda neural nas compressões quiasmáticas é também importante no sentido de tentar estimar a possibilidade de recuperação visual. Para isso, é de fundamental importância estudos de correlação estrutura-função, ou seja, verificar como se correlacionam os defeitos permanentes do campo visual com a perda da CFNR. Assim, nos pacientes que apresentam perda de campo sem comprometimento das fibras nervosas existe a possibilidade de recuperação visual importante, ao passo que aqueles com lesão grave das fibras nervosas não apresentam recuperação.(77,79-81) Lesões do trato óptico e corpo geniculado lateral Lesões do trato óptico, embora infrequentes, são de grande importância pelas suas implicações diagnósticas. Representam o primeiro local na região retroquiasmática onde se produz defeitos de campo hemianópicos. As etiologias são principalmente os tumores supraselares, como os craniofaringeomas e os adenomas pituitários, podendo também ser causados por processos desmielinizantes, lesões vasculares e trauma. Clinicamente as lesões do trato óptico se apresentam com acuidade visual normal em ambos os olhos, hemianopsia homônima contralateral à lesão e defeito pupilar aferente no olho da hemianopsia temporal.(82,83) Hemianopsia pode ser completa ou parcial e quando incompleta, os defeitos de campo são usualmente incongruentes, embora lesões vasculares possam ocasionalmente produzir lesões congruentes.(84) Lesões completas do trato óptico com hemianopsia homônima produzem alterações distintas no fundo de olho. No olho contralateral à lesão, o olho com a hemianopsia Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 136 Monteiro MLR temporal, o nervo apresenta alterações típicas da atrofia em banda do nervo, de forma análoga àquela descrita acima para as lesões quiasmáticas.(8,73,82,85) As alterações no olho ipsilateral, no entanto, são mais difíceis de detectar. O olho da hemianopsia nasal apresenta perda das fibras da retina temporal que penetram o disco óptico pelas arcadas superior e inferior. Estas fibras estão imbrincadas com outras da retina nasal que também trafegam as arcadas superior e inferior.A atrofia das fibras da hemirretina temporal não produz, portanto, a perda completa das fibras nas arcadas e apenas afilamento das mesmas.A alteração da CFRN das lesões do trato óptico é indistinguível daquela por lesão no corpo geniculado lateral. Recentemente pudemos estudar dois pacientes com lesões do trato óptico estudados com auxílio do OCT. Demonstramos a perda predominante nos setores nasal e temporal do disco óptico no olho da hemianopsia temporal com preservação relativa dos quadrantes superior e inferior. (86) No olho da hemianopsia nasal evidenciou-se a perda de fibras nos quadrantes superior e inferior do disco óptico, acometendo, portanto, as fibras da retina temporal que penetram o olho pelas arcadas superior e inferior. Os casos serviram para confirmar o valor da TCO na identificação da perda neural nestes pacientes. Embora os achados clínicos de palidez de papila e defeito aferente relativo possam auxiliar a separar os defeitos homônimos decorrentes de lesões do trato óptico ou do corpo geniculado lateral daqueles das radiações e do lobos occipitais, o OCT pode ser útil para definir a perda da CFNR em casos onde a observação da palidez é difícil. Lesões que acometem o corpo geniculado lateral (CGL) são as mais raras entre as afecções da via óptica. A suspeita dessas lesões baseia-se no tipo de defeito campimétrico apresentado, associado ao padrão de perda da CFNR observado à oftalmoscopia, aos achados no exame das pupilas e aos achados neurológicos associados. O estudo de imagem pela tomografia computadorizada ou pela ressonância magnética tem a importante função de localizar a lesão e confirmar o diagnóstico. Entretanto, quando os achados aos exames de imagem são discretos, tais como ocorre em pequenas lesões isquêmicas do CGL, o diagnóstico pode ser difícil e depender fundamentalmente dos achados clínicos e do defeito campimétrico. Em um estudo prévio demonstramos a utilidade da TCO na identificação da perda neural em paciente com lesão discreta no CGL, de difícil diagnóstico até pela imagem por ressonância magnética. A dificuldade era ainda maior pois o paciente tinha apenas um olho (outro olho em atrofia) o que dificultava a caracterização do tipo de hemianopsia.(87) Após a identificação da perda da CFNR pelo OCT o exame de imagem por ressonância magnética foi repetido utilizando-se parâmetros técnicos especiais que facilitaram a identificação do CGL. O resultado desse novo exame confirmou nossa suspeita de lesão isquêmica do CGL à es- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 125-38 querda e serviu para esclarecer definitivamente a causa do defeito campimétrico. Embora a suspeita clínica tenha sido o fator decisivo para o diagnóstico, a informação obtida através da tomografia por coerência óptica revelou-se de importância fundamental dando suporte aos achados clínicos e reforçando a suspeita diagnóstica. Comentários conclusivos Avanços na semiologia tornaram cada vez mais possível a identificação e quantificação da perda neural retiniana pela análise cuidadosa da CFNR. Como discutido tal aspecto da semiologia assume fundamental importância não apenas em glaucoma como em diversas afecções da via óptica anterior. Avanços nas tecnologias disponíveis por um lado permitem uma maior acurácia diagnóstica mas também obrigam a constante atualização para se compreender as reais possibilidades e limitações de cada uma delas. O oftalmologista deve estar atento para tais métodos semiológicos, suas possibilidades e causas de interpretações errôneas para tirar o melhor proveito dos mesmos no auxílio diagnóstico e condução clínica adequada aos seus pacientes com afecções da via óptica anterior. REFERÊNCIAS 1. Hoyt WF, Newman NM. The earliest observable defect in glaucoma? Lancet. 1972;1(7752):692-3. 2. Hoyt WF, Frisén L, Newman NM. Fundoscopy of nerve fiber layer defects in glaucoma. Invest Ophthalmol. 1973;12(11):814-29. 3. Drance SM, Airaksinen PJ, Price M, Schulzer M, Douglas GR, Tansley BW. The correlation of functional and structural measurements in glaucoma patients and normal subjects. Am J Ophthalmol. 1986;102(5):612-6. 4. Sommer A, Katz J, Quigley HA, Miller NR, Robin AL, Richter RC, Witt KA. Clinically detectable nerve fiber atrophy precedes the onset of glaucomatous field loss. Arch Ophthalmol. 1991;109(1):77-83. 5. Sommer A, Quigley HA, Robin AL, Miller NR, Katz J, Arkell S. 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O grande número de colegas que contribuíram com fotografias de seus casos atesta a amizade que o autor tem com especialistas de retina no mundo. O livro sumariza mais de quarenta anos de vida do autor dedicados ao estudo das doenças coroidoretinianas. Subdividido em 15 capítulos que apresentam diversos aspectos das doenças retinianas, incluindo avanços em exames de imagem da retina como Angiografia Fluoresceínica, Angiografia com Indocianina Verde, Tomografia de Coerência Óptica e Autofluorescência do “Fundus “ Ocular. Após o primeiro capítulo que é sobre a Retina Normal, o capítulo seguinte de “Distrofia Coroidoretiniana Hereditária” é uma excelente revisão fotográfica de doenças raras. O capítulo quatro é intitulado “ Inflamação”. Nele o autor faz uso de toda sua experiência com doenças inflamatórias retinocoroidianas. Eu convido os leitores a aproveitar a leitura do tópico: “Sobreposição das Síndromes dos Pontos Brancos”. As fantásticas fotografias cobrem de maneira ímpar as doenças descritas. O capitulo 7 é sobre “Degeneração”, incluindo a Degeneraçao Macular relacionada à Idade, com uma extraordinária descrição da Vasculopatia Polipoidal Coroidiana e a classificação atualizada da Proliferação Angiomatosa da Retina que o autor e seu grupo chamam de Neovascularização tipo 3 que são duas das muitas contribuições do autor à literatura médica. Outros capítulos contém informações extensas e atualizadas sobre várias doenças retinianas. Congratulações portanto ao Professor Yannuzzi por produzir este livro extraordinário, que servirá por certo, por muito tempo, como fonte de consulta pelos oftalmologistas. Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 139 140 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resu- Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 140-2 mo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações 141 no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 140-2 142 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2012; 71 (2): 140-2