Abordagem Funcional na Reabilitação Pós Traumatismo da Medula

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Abordagem Funcional na Reabilitação Pós Traumatismo da Medula
Espinhal
Fátima da Silva Mourão1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia Neurofuncional- Faculdade Ávila
Resumo
O traumatismo da medula espinhal é uma incapacidade de baixa incidência e alto custo que
provoca alterações sensitivas, motoras e fisiológicas importantes na vida de uma pessoa. No
processo de recuperação da independência funcional desse indivíduo, o plano de tratamento
fisioterapêutico adequado promove um retorno às atividades de vida diária anteriormente
realizada. Este artigo é uma revisão bibliográfica e tem por objetivo encontrar evidências
científicas, da abordagem funcional para reabilitação de indivíduos acometidos por
traumatismo da medula espinhal. Através da pesquisa constatou-se que deverá ser realizada
uma avaliação funcional adequada, através da Avaliação Neurológica da ASIA (American
Spinal Injury Associatian) e MIF (Medida Internacional de Funcionalidade), escalas
padronizadas que auxiliam no diagnóstico, e identificação das principais necessidades dos
pacientes, permitindo a elaboração de um bom plano de tratamento. E que as técnicas
baseadas no aprendizado e controle motor, como o FNP (Facilitação Neuromuscular
Proprioceptiva), além dos exercícios resistidos, são fundamentais para que o paciente possa
recuperar o mais precocemente sua independência, podendo dessa forma evitar o
aparecimento de comorbidades, como obesidade, alterações cardiovasculares e úlceras de
pressão.
Palavras-chave: Traumatismo da medula espinhal; Reabilitação funcional; Fisioterapia
1.Introdução
O traumatismo da medula espinhal (TME) apresenta-se como uma grave síndrome
incapacitante que pode causar alterações da motricidade, sensitiva e autônoma. A maioria das
lesões medulares ocorre com resultado de um trauma, sendo que o grau e tipo de força que
são exercidos na coluna na hora do trauma determinam a localização e a gravidade do dano
(UMPHRED, 2004).
O TME acontece de forma aguda e inesperada ocasionando prejuízos irreversíveis e
modificando o curso da vida de um indivíduo, o que resulta em danos catastróficos sociais e
econômicos para o paciente e sua família. Costuma acontecer em indivíduos jovens, que estão
ativos no mercado de trabalho e numa fase importante da vida pessoal. Esse agravo à saúde
geralmente ocasiona dificuldade relacionadas ao deslocamento, dependência funcional,
isolamento, diminuição da auto-estima, prejuízos nas atividades laborais e sociais. É possível
observar que os danos causados pelo TME são graves e são necessários meios de impedir que
esses prejuízos ocorram (ROWLAND, 2007).
A lesão medular traumática constitui-se como um problema de saúde pública no Brasil, com
consequências sociais e econômicas, em razão de acometer, especialmente, pacientes jovens e
no auge de sua produtividade, além de o índice de morbidade e mortalidade ser elevado e sua
1
Pós-graduanda em Fisioterapia Neurofuncional
Orientadora: Fisioterapeuta, Especialista em Metodologia do Ensino Superior, Mestranda em Aspectos
Bioéticos e Jurídicos da Saúde
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incidência estar aumentando progressivamente (GEHRING; MICHAELIS, 1990, apud
GONÇALVES et al., 2007).
Tetraplegia e paraplegia são termos usados para descrever os indivíduos portadores de lesão
medular e indicam a dimensão da perda funcional. Assim, o termo paraplegia refere-se à
diminuição ou perda da função motora e/ou sensitiva dos segmentos torácicos, lombares ou
sacrais da medula espinhal, secundários a danos dos elementos neurais dentro do canal
vertebral. Deixa íntegros os membros superiores e, dependendo do nível, pode acometer a
função do tronco, membros inferiores e órgãos pélvicos (BARROS, 1994).
Com os avanços ocorridos na medicina nas últimas décadas, houve um consequente aumento
na sobrevida de pacientes lesados medulares. Com isso, o tratamento fisioterapêutico passou a
objetivar a maximização da independência funcional do indivíduo e sua reintegração na
sociedade, devendo incluir a prevenção de deformidades e complicações, incremento da
função muscular remanescente e da função respiratória, treino de transferências e trocas de
posturas, manuseio da cadeira de rodas, treino de equilíbrio, aquisição de ortostatismo e
possível retorno da marcha com uso ou não de dispositivos ortóticos (SARTORI, 2009).
A gravidade do quadro depende do local acometido e do grau de destruição da vias medulares
aferentes e eferentes. Quanto mais alto o nível e maior a extensão da lesão, menor será a
massa muscular disponível para a atividade física e, portanto, menores serão a aptidão física e
a independência funcional (GIANNI, 2006).
O’Sullivan (2004) preconiza que as habilidades funcionais devam ser proteladas até que o
paciente esteja liberado para as atividades, e consequentemente realizar uma avaliação mais
detalhada da função, onde iniciaram o estabelecimento de metas funcionais específicas para
que seja realizado um planejamento geral de reabilitação, baseados no nível de lesão e seu
grau de comprometimento secundário.
Este artigo tem por objetivo geral encontrar evidências científicas, de como tem sido realizado
as abordagens funcionais na reabilitação de pacientes com traumatismo da medula espinhal.
Tendo como objetivos específicos: compreender um pouco mais sobre as considerações
anatômicas da coluna vertebral, os níveis medulares, a aplicação de avaliação funcional para
que possa escolher as melhores abordagens funcionais para a reabilitação desses pacientes.
2.Considerações Anatômicas
Etimologicamente, medula significa o que está dentro. Assim, a medula espinhal está dentro
do canal vertebral. A medula espinhal é uma massa cilindroide de tecido nervoso situada
dentro do canal vertebral sem, entretanto ocupá-lo completamente. Cranialmente a medula
limita-se com o bulbo, ao nível do forame magno. O limite caudal situa-se geralmente na 2ª
vértebra lombar (MACHADO, 2004).
A medula espinhal, nos adultos, possui cerca de 45 cm e estende-se desde a altura do atlas
(C1) até a primeira ou segunda vértebra lombar, então afila-se para formar o cone medular, do
qual se estende um filamento delicado, denominado de filamento terminal, que se insere
próximo ao primeiro segmento coccígeo (DEFINO, 1999).
A coluna vertebral (figura 1) é formada por trinta e três (33) a trinta e quatro (34) vértebras
(07 cervicais, 12 torácicas, 05 lombares, 05 sacrais e 04 ou 05 coccígeas). O forame ou
conduto vertebral é formado pela parede posterior do corpo vertebral e parede anterior do arco
vertebral, e a superposição dos vários forames vertebrais forma o canal raquídeo, que aloja e
protege a medula espinhal (DANGELO E FATTINI, 2001).
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Fonte: Disponível em http://www.cabuloso.xpg.com.br/Anatomia-Humana/Sistema-deSustentacao/foto/Esquel5.jpg
Figura 1 – Coluna Vertebral
A medula espinhal está dividida em segmentos e as raízes nervosas que emergem da medula
no nível de cada segmento são designadas por algarismos que se referem ao nível de sua
saída. Trinta e um pares de nervos espinhais originam-se da medula espinhal (08 cervicais, 12
torácicos, 05 lombares, 05 sacrais e 01coccígeo). O primeiro par de nervo espinhal emerge
entre o occipital e o atlas (C1), de modo que, na coluna cervical, o nervo emerge,
cranialmente, junto a sua vértebra correspondente. Somente a partir do primeiro segmento
torácico, o nervo espinhal emerge caudal à sua vértebra correspondente (DEFINO, 1999).
Cada raiz nervosa recebe informações sensitivas de áreas da pele denominadas de
dermátomos e, similarmente, cada raiz nervosa inerva um grupo de músculos denominados de
miótomos. A localização do segmento da medula espinhal não está na mesma altura do
segmento ósseo vertebral correspondente; onde por exemplo, verificamos que o segmento
medular C8 está localizado no nível entre C6-C7 e o segmento medular T12 no nível de T10
(DEFINO, 1999).
A medula espinhal (Figura 2) é um grande condutor de impulsos nervosos sensitivos e
motores entre o cérebro e as demais regiões do corpo. A medula espinhal possui tratos
orientados longitudinalmente (substância branca) circundando áreas centrais (substância
cinzenta) onde a maioria dos corpos celulares dos neurônios espinhais estão localizados. Ao
corte transversal, a substância cinzenta apresenta a forma de H e pode ser subdividida em
corno anterior, lateral e posterior. No corno anterior, estão localizados os corpos celulares dos
neurônios motores e visceromotores (aferentes), no corno posterior os neurônios sensitivos
(eferentes) e no corno lateral os neurônios do sistema simpático. As fibras motoras, oriundas
do corno anterior, juntam-se às fibras sensitivas do corno posterior para formar o nervo
espinhal (DEFINO, 1999).
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Fonte: MACHADO, 2004.
Figura 2 – Estrutura da medula espinhal
Os tratos ascendentes do nervo espinhal (sensitivos) conduzem impulsos sensitivos aferentes,
dos receptores periféricos para os centros encefálicos; todos cruzam a linha mediana. O trato
espinotalâmico relaciona-se com a dor, temperatura, tato e pressão. O trato espinocerebelar
relaciona-se com propriocepção inconsciente. Já os tratos descendentes (motores) levam o
impulso do cérebro para os neurônios motores que regulam a musculatura esquelética. Os
tratos piramidais (córtico-espinhais) originam-se de células piramidais no córtex do giro précentral e realizam o controle voluntário dos músculos esqueléticos, especialmente
movimentos de precisão. Tratos extrapiramidais originados de vários núcleos do tronco
encefálico modificam as contrações musculares para a postura em equilíbrio (DEFINO,
1999).
A localização anatômica da lesão está diretamente relacionada ao mecanismo de trauma e
cerca de 2/3 das lesões medulares estão localizadas no segmento cervical. Lesões da medula
na região torácica ocorrem em 10% das fraturas desse segmento e em 4% das fraturas da
coluna toracolombar (SLUCKY,1994).
No Brasil, a incidência da lesão de medula espinhal ainda é desconhecida em decorrência da
falta de notificação e pela pouca quantidade de trabalhos publicados da epidemiologia desta
lesão. Há uma estimativa de que ocorram 10.000 novos casos anuais de lesão medular no país,
sendo o trauma a causa predominante (CAMPOS, 2008).
Segundo dados obtidos em 2002 na AACD, dentre as principais etiologias das lesões da
medula estão as causas traumáticas somando 78,7% dos casos, FAF em 45,2% dos casos,
acidentes de trânsito em 27,8%, queda de altura 14,8% dos casos (ADRIANA, 2005).
As causas mais frequentes são por acidente de trânsito, queda, FAF e mergulho em águas
rasas. Enquanto no Canadá, a maior causa do trauma são os acidentes de trânsito 35%, queda
é responsável por 63% dos traumas em pessoas de 65 anos ou mais e 31% são por doenças no
geral (PICKETT et al, 2006).
3. Classificação da Lesão Medular
As síndromes medulares apresentam quadro neurológico característico, dependendo da
localização da lesão no interior da medula espinhal. A síndrome da medula central ocorre,
principalmente, na região cervical e apresenta comprometimento mais acentuado dos
membros superiores que dos membros inferiores. Na síndrome da medula anterior, existe
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preservação da propriocepção e perda variável da função motora e da sensibilidade à dor. Na
síndrome de Brown-Séquard, a hemisecção da medula ocasiona perda da função motora e
proprioceptiva do lado da lesão e perda da sensibilidade à dor e temperatura do lado oposto.
Na síndrome da medula posterior, a função motora, a sensibilidade à dor e tato estão
preservados, enquanto que a propriocepção está alterada (O’SULLIVAN, 2004).
A lesão da medula espinhal no nível sacral, geralmente no nível ósseo de T12-L1 (síndrome
do cone medular), resulta em incontinência fecal, vesical e alteração da função sexual. A
sensibilidade está alterada nos 03 a 04 segmentos sacrais distais e segmentos coccígeos
(anestesia em cela) e o reflexo bulbo cavernoso encontra-se ausente. A lesão isolada dos
nervos espinhais da cauda equina (lesão da cauda equina) no interior do canal vertebral,
geralmente, ocorre nas fraturas distais a L1-L2, e, na verdade, não são lesões da medula
espinhal. O quadro clínico depende da raiz atingida e podem ser observados paresia do
membro inferior, arreflexia, distúrbios da sensibilidade e, também, incontinência fecal e
vesical (DEFINO, 1999).
O termo tetraplegia refere-se à perda da função motora e ou sensitiva nos segmentos cervicais
da medula espinhal devido à lesão dos elementos neuronais no interior do canal vertebral,
resultando em alteração das funções dos membros superiores, tronco, membros inferiores e
órgãos pélvicos, não sendo incluídas nessa categoria de lesão as lesões do plexo braquial e
nervos periféricos fora do canal vertebral (DITUNNO, 1994).
A paraplegia refere-se à perda da função motora e ou sensitiva nos segmentos torácicos,
lombares e sacrais da medula espinhal, secundária à lesão dos elementos neurais no interior
do canal vertebral. Esse termo pode ser utilizado para definir as lesões da cauda equina e cone
medular, mas não para as lesões do plexo lombossacro e lesões dos nervos periféricos,
localizadas fora do canal vertebral (DITUNNO, 1994).
4. Avaliação Funcional
Segundo American Physical Therapy Association (APTA 1995), todo fisioterapeuta deve
examinar os pacientes com deficiências, limitações funcionais e incapacidades ou outras
condições relacionadas à saúde, a fim de determinar um diagnóstico, um prognóstico e uma
intervenção.
O principal objetivo de um programa de reabilitação é fazer com que o indivíduo volte a ter
um estilo de vida que seja o mais próximo de seu nível pré-morbido de função, ou seja,
mantendo ou melhorando seu atual potencial funcional (O’SULLIVAN, 2004).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde de forma global, como um estado
completo de bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doenças e
enfermidades. Essa definição levou ao desenvolvimento de uma classificação internacional
padronizada onde se analisa o comprometimento, incapacidade e deficiência, fornecendo
assim ferramentas para pronunciamento universal (O’SULLIVAN, 2004).
Para tanto, toda avaliação funcional é realizada por meio de aplicação de testes e medidas que
fornecem informações básicas de habilidades iniciais e progressões, com o intuito de obter um
planejamento a ser executado na terapêutica (O’SULLIVAN, 2004).
A Associação Americana de Lesão Medular (ASIA- American Spine Injury Association)
desenvolveu, em 1992, padrões para a avaliação e classificação neurológica do TME,
avaliação que apresenta, no momento, grande aceitação em nível mundial (Figura 3).
A avaliação neurológica é baseada na sensibilidade e na função motora, e possui uma etapa
compulsória, baseada na qual é determinado o nível da lesão neurológica, o nível motor e o
nível sensitivo, e obtêm-se números que, em conjunto, fornecem um escore. A outra etapa é
opcional (avaliação da sensibilidade profunda, propriocepção, dor profunda) e não participa
na formação do escore, mas acrescenta importantes informações na avaliação clínica dos
pacientes (DEFINO, 1999).
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O exame da sensibilidade do paciente é realizado por meio da avaliação da sensibilidade tátil
e dolorosa do paciente, pesquisada nos 28 dermátomos de ambos os lados, atribuindo-se uma
avaliação numérica de acordo com o achado clínico: 0- ausente, 1- alterada, 2- normal e NT
(não testada), quando, por qualquer motivo, a avaliação do dermátomo não puder ser
realizada. O esfíncter anal externo deve ser também examinado por meio da introdução do
dedo do examinador no orifício anal, com a finalidade de determinar se a lesão é completa ou
incompleta (sensibilidade presente-sim, ou ausente-não) (NEVES, 2007).
A avaliação da função motora é realizada por meio da avaliação de ambos os lados, de
músculos denominados “músculos chaves” em 10 pares de miótomos, e a força muscular
graduada de acordo com a seguinte escala: 0- paralisia total, 1- contração palpável ou visível,
2- movimento ativo eliminado pela força da gravidade, 3- movimento ativo que vence a força
da gravidade, 4- movimento ativo contra alguma resistência, 5- normal e NT (não testada). Os
músculos selecionados para a avaliação e os níveis neurológicos correspondentes são
(DEFINO, 1999):
 C5- flexores do cotovelo
 C6- flexores do punho
 C7- extensores do cotovelo
 C8- flexores do dedo (falanges média e distal)
 T1- abdutores (dedo mínimo)
 L2- flexores do quadril
 L3- flexores do joelho
 L4- dorsiflexores do tornozelo
 L5- extensor longo dos dedos
 S1- flexores plantares do tornozelo
Adicionalmente ao exame dos 10 pares de miótomos mencionados, o esfíncter anal externo
deve ser também examinado para se avaliar a sua capacidade de contração voluntária (sim ou
não), que auxilia na diferenciação da lesão incompleta ou completa.
Opcionalmente, o diafragma, o deltóide e os ísquiotibiais são também avaliados e sua força
anotada como ausente, diminuída ou normal. A somatória dos diferentes valores numéricos
referentes à força motora, sensibilidade tátil e sensibilidade dolorosa dão origem a escores,
cujo valor máximo é 100 para o referente à avaliação motora e 112 para o da avaliação
sensitiva (NEVES, 2007).
A avaliação da deficiência (figura 4) é baseada na modificação da escala de Frankel et al., que
foi modificada pela ASIA e consiste em 05 graus de incapacidade:
a) lesão completa - não existe função motora ou sensitiva nos segmentos sacrais S4-S5.
b) lesão incompleta - preservação da sensibilidade e perda da força motora abaixo do nível
neurológico, estendendo-se até os segmentos sacrais S4-S5.
c) lesão incompleta - função motora é preservada abaixo do nível neurológico, e a maioria dos
músculos chaves abaixo do nível neurológico possui grau menor ou igual a 3.
d) lesão incompleta - função motora é preservada abaixo do nível neurológico e a maioria dos
músculos chaves abaixo do nível neurológico possui grau maior ou igual a 3.
e) normal – sensibilidade e força motora normais.
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Fonte: American Spinal Injury Association, 1992
Figura 3 - Esquema de avaliação neurológica para lesão da medula espinhal proposto pela ASIA
Fonte: American Spinal Injury Association, 1992
Figura 4 – Escala de Comprometimento ASIA
A Medida de Independência Funcional (MIF) foi desenvolvida na década de 1980 por uma
força-tarefa norte-americana organizada pela Academia Americana de Medicina Física e
Reabilitação e pelo Congresso Americano de Medicina de Reabilitação. Seu objetivo foi criar
um instrumento capaz de medir o grau de solicitação de cuidados de terceiros que o paciente
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portador de deficiência exige para realização de tarefas motoras e cognitivas (RIBERTO,
2001).
A MIF (figura 5) verifica o desempenho do indivíduo para a realização de um conjunto de 18
tarefas, referentes às subescalas de autocuidados, controle esfincteriano, transferências,
locomoção, comunicação e cognição social. Cada item pode ser classificado em uma escala de
graus de dependência de 7 níveis, sendo o valor 0 correspondente à dependência total e o
valor 7 correspondente à normalidade na realização de tarefas de forma independente
(RIBERTO, 2004).
Fonte: Neves, 2007.
Figura 5 – Medida de Independência Funcional
5. Abordagens Funcionais
A fisioterapia assume um papel importante tanto na assistência aguda do paciente quanto no
atendimento de reabilitação ambulatorial e orientação domiciliar, promovendo maior
independência e qualidade de vida possível ao indivíduo portador da lesão medular. A
reabilitação deve incluir a prevenção de deformidades e complicações, maximização da
função muscular remanescente e da função respiratória, treino de transferências e trocas de
posturas, manuseio da cadeira de rodas, treino de equilíbrio, aquisição de ortostatismo e
possível retorno da marcha com uso ou não de dispositivos ortóticos (SARTORI, 2009).
Os modelos de tratamento baseados nas teorias do controle motor e aprendizagem motora
permitem que o terapeuta organize o raciocínio e trate da tomada de decisão clínica de
maneira coerente. Ou seja, um plano ideal de tratamento está baseado nos cuidados das
necessidades individuais do paciente, focado nas limitações funcionais e deficiências físicas e
melhora da qualidade de vida em geral (O’SULLIVAN, 2004).
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Uma das formas de estimular o paciente seria através de um conceito de tratamento global, a
facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), direcionado para o ser humano como um
todo, de forma positiva, objetivando o alcance do maior nível funcional. A FNP incorpora na
sua prática padrões funcionais de movimento, baseados em movimentos normais, que são em
espirais e diagonais, desenvolvidos através de técnicas especificas e procedimentos básicos
facilitatórios (ADLER, 2007).
Além disso, a fisioterapia é uma grande aliada no tratamento deste tipo de patologia, inclusive
no fortalecimento muscular, mobilidade no leito, e no rolar. O rolamento é importante no
ponto de vista funcional, para que haja mudanças de decúbitos no leito, para prevenir úlceras
de pressão e alívio de dores. O rolamento é geralmente a fase inicial de tratamento em
pacientes de TME acamados, pois estimula os padrões de movimentos funcionais, obrigando
o paciente a ter controle de cabeça, e membros superiores, de tal modo que ao mesmo tempo
haja o impulso para movimentar o tronco e os membros inferiores (O´SULLIVAN et al,
2004).
A cinesioterapia, que se faz por meio de exercícios passivos, ativos, ativos-assistidos e
resistidos, melhora a aptidão física e promove a independência funcional dos pacientes
(SILVER, 2005)
O exercício físico promove efeitos fisiológicos benéficos com o aumento do fluxo sangüíneo,
a melhor distribuição do oxigênio na interface célula-capilar e gera mudanças significativas
no sistema cardiovascular pelo aprimoramento do sistema de trans-porte, da extração e da
utilização do oxigênio, enquanto que no sistema respiratório melhora a função pulmonar com
o aumento do volume corrente, da capacidade pulmonar e da capacidade de difusão.
Benefícios psicológicos também ocorrem e promovem sensação de bem-estar, melhoram a
auto-estima e a qualidade de vida (BOSCO, 2004).
Exercícios de resistência muscular são indicados em grupos musculares não afetados pela
lesão medular, para contribuir com a independência funcional e para aumentar a circulação
sangüínea colateral (PRANDINI, 2002).
Segundo o American College of Sports Medicine o treinamento da força e da potência
muscular mostram-se efetivos na melhora das capacidades funcionais, tornando-se
imprescindíveis (KRAEMER et al, 2002).
5. Metodologia
O presente artigo trata de uma revisão da literatura, buscando o enfoque da abordagem
funcional no tratamento da lesão medular, e para realizar a fundamentação teórica e discussão,
foram realizadas consultas nas bases de dados Lilacs, SciELO, Bireme, no período de março
de 2011 a setembro de 2013 por meio das seguintes palavras-chave: lesão medular, trauma
medular, reabilitação, fisioterapia, treinamento funcional, nos idiomas português e inglês, e
onde foi coletado os principais artigos de 1994 a 2013. Livros de neurologia clínica e
fisioterapia neurológica também foram utilizados para fundamentação.
6. Resultados e discussão
Sasso e Backus (2013) avaliando a dificuldade das pessoas com lesão medular em realizar
exercício aeróbico, devido a desequilíbrios musculares e poder contribuir para a disfunção da
articulação, além do estilo de vida mais sedentário, colocá-los em maior risco para o
desenvolvimento de obesidade e outros fatores de risco para doenças cardiovasculares,
encontrou um modo de exercício que permite que essas pessoas melhorem sua capacidade
funcional, onde consistia de 12 semanas de treinamento de resistência muscular com faixa
elástica em casa, e ao final o participante demonstrou melhorias na aptidão cardiovascular e
força de membro superior, melhorando o peso e a dor no ombro.
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Fonte: SASSO, 2013.
Figura 6 - Treinamento de força muscular com faixa elástica
Bortolloti e Tsukamoto (2011) verificaram em seus estudos os efeitos do treinamento físico
com membros superiores na força muscular de paraplégicos, através de exercícios de
aquecimento, alongamentos e fortalecimento muscular, realizado com 70% de 1RM nas 10
primeiras sessões, e 90% nas últimas, onde obtiveram ganhos significativos num período de
sete semanas de treinamento, realizando Teste de Uma Repetição Máxima e a capacidade
funcional através da Medida de Independência Funcional (MIF), todos os participantes
relataram maior facilidade em realizar suas atividades cotidianas.
Soares et al (2008), realizou um estudo de caso onde percebeu a importância da utilização
tabela MIF- Medida de Independência Funcional, para analisar os resultados da reabilitação
funcional pela equipe de fisioterapia em pacientes acometidos por TME, pois através dela se
tem o melhor embasamento para verificar a evolução do paciente após um determinado
período de atendimento.
Porém Riberto (2004) verificou ainda que os pacientes com lesão medular subaguda ou
crônica, sem trauma craniano associado, o domínio de cognição da MIF tem pouco
significado, pois os mesmos apresentam maior comprometimento motor e irão apresentar
valores menores de independência funcional nos itens da sua escala motora.
Nunciato et al (2009) realizou um programa de treinamento de força em mecanoterapia,
associado a um de reabilitação por meio das técnicas de FNP e treino de transferências, para
verificar melhora na independência funcional de um lesado medular.
Alencar et al (2011) aplicou atividades motoras em tatame utilizando a FNP buscando obter
ganhos funcionais onde o ato de rolar proporciona independência nas mudanças de postura e
de decúbito, o sentar auxilia nas AVD’s e as posturas de gato e ajoelhado facilitam o treino de
marcha posterior, facilitando o processo de reeducação funcional e aquisição de habilidades
motoras.
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Os planos de tratamento fisioterapêutico devem consistir de exercícios terapêuticos para
membros superiores/inferiores, músculos do tronco, treino de mudanças de decúbito,
transferências de peso e treinamento de marcha. Tais atividades, além de realizadas
semanalmente com o fisioterapeuta, poderão ser indicadas para a auto-realização diária em
ambiente domiciliar (SARTORI, 2009).
8. Conclusão
Foram encontradas evidências científicas que comprovam a eficiência de uma abordagem
funcional no processo de reabilitação dos pacientes portadores de lesão da medula espinhal, e
que realizando uma avaliação adequada através das escalas padronizadas da ASIA E MIF e
identificando corretamente o nível de comprometimento neurológico, poderá se ter um bom
planejamento da terapêutica. E que técnicas baseadas no aprendizado e controle motor, são
eficazes para que os pacientes retornem o mais precoce a suas atividades de vida diária,
dentro do limite de sua independência, verificou-se ainda, que a prescrição de exercícios
resistidos melhora a capacidade funcional dos lesados medulares, pois aumentam o equilíbrio,
a mobilidade, a resistência muscular e promove proteção cardiovascular.
9. Referências
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