A4 CORREIO POPULAR Campinas, sábado, 11 de outubro de 2014 Cidades Editores: Adriana Villar, Claudio Liza Junior, Jorge Massarolo e Luís Fernando Manzoli Sugestões de pautas, críticas e elogios: [email protected] ou pelos telefones 3772-8221 e 3772-8162 Atendimento ao assinante: 3736-3200 ou pelo e-mail [email protected] Chefe de reportagem: Guilherme Busch VÍRUS ||| CONTAMINAÇÃO Campinas se prepara contra o Ebola Departamento informou que a rede municipal está treinada para detectar casos suspeitos Edu Fortes/AAN Felipe Tonon “Desde agosto o ministério vem orientando as secretarias ... e Campinas também já iniciou os preparativos para um eventual caso.” DA AGÊNCIA ANHANGUERA [email protected] Apesar de serem pequenas as chances de ser registrado surto de Ebola no Brasil, as autoridades sanitárias e de saúde estão em alerta após o primeiro caso suspeito de Ebola no País. O paciente de 47 anos, que chegou da Guiné em setembro, apresentou sintomas da doença e está internado no Rio de Janeiro. Em Campinas, o Departamento de Vigilância em Saúde informou que a cidade está pronta para possíveis suspeitos. O Hospital de Clínicas da Unicamp também já BRIGINA KEMP Diretora do Devisa Estratégia prevê resgate e socorro de pacientes suspeitos definiu um plano para atender pacientes com suspeita da doença. No Estado de São Paulo, a Secretaria de Saúde informou que possui estratégia de enfrentamento para resgatar, socorrer e atender pacientes com suspeita de infecção pelo vírus. A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde de Campinas (Devisa), Brigina Kemp, informou que a rede municipal está preparada para detectar casos suspeitos. Brigina lembrou que, apesar de remota a chance de confirmação da doença no Brasil e um possível surto, a Vigilância em Saúde deve estar preparada para qualquer eventualidade. “Desde agosto o Ministério vem orientando as secretarias municipais e estaduais e Campinas também já iniciou os preparativos para um eventual caso”, explicou. Por isso, a Prefeitura participou da organização do plano de contingência elaborado em Viracopos. Se algum passageiro chegar com sintomas da doença, por exemplo, ele será imediatamente transportado a uma unidade de saúde. Uma mensagem de áudio padrão do Ministério da Saúde também está sendo veiculada para todos 2,5 MIL Kits de paramentação estão disponíveis no Estado para uso com suspeitos de infecção Luiz Gustavo Oliveira Cardoso e Rodrigo Nogueira Angerami, do HC da Unicamp, fazem parte de grupo que elaborou manual para tratar pacientes os passageiros no saguão do terminal. Brigina frisou que a definição de caso suspeito hoje é uma pessoa que apresente sintomas e que veio dos países africanos com transmissão: Serra Leoa, Libéria e Guiné. A Devisa também realizou reuniões com todos os hospitais da cidade. “O que cabe ao município é a rápida detecção de um caso suspeito e a notificação imediata à Secretaria de Estado.” Na semana que vem, um informe técnico de saúde, com recomendações do ministério, será divulgado às unidades básicas, postos de saúde e clínicas particulares. Na Unicamp, o planejamento foi preparado pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Seção de Epidemiologia Hospitalar do HC sob orientação do Ministério da Saúde. Nele estão normas sobre detecção, notificação, atendimento, isolamento, precauções de contato, orientações para vestimenta e retirada de EPIs (equipamentos de proteção individual), procedimentos para diagnóstico laboratorial, tratamento, investigação epidemiológica e transporte de pa- cientes suspeitos. Qualquer caso suspeito detectado será imediatamente notificado aos órgãos de vigilância municipal, estadual e federal, para o encaminhamento aos hospitais de referência do Estado e nacionais. O hospital possui um leito de isolamento, com filtragem de ar especial, que é utilizado quando há pacientes com quadro de infecção grave, e está preparado para receber pacientes com suspeita do vírus. O Núcleo também realizou um curso para mais de 150 profissionais de saúde do hospital sobre o plano. São Paulo Caso um paciente se enquadre como suspeito, ele será encaminhado para o Hospital Emílio Ribas, na Capital paulista, especializado no tratamento de doenças infectocontagiosas. A unidade possui 17 leitos de isolamento que têm pressão negativa — sistema de filtro do ar que coíbe a disseminação de micro-organismos. Os quartos possuem antessalas nas quais a equipe de resgate poderá retirar os equipamentos de proteção de forma segura, sem risco de infecção. Caso a demanda seja superior, outros leitos do hospital também poderão ser utilizados. A secretaria ainda possui 2,5 mil kits de paramentação, que serão utilizados pelos profissionais envolvidos. Haverá “dupla proteção”, com equipamentos de proteção individual (EPIs) que impossibilitam o contágio, macacão de polietileno, avental impermeável, botas e luvas (um par de materiais de procedimento comuns e outro com proteção biológica), máscara com proteção biológica e viseira. Foram investidos R$ 400 mil na aquisição dos kits. O Instituto Adolfo Lutz também participa da ação, e será responsável pelo monitoramento da biossegurança da amostra coletada no Emílio Ribas. Ou seja, providenciará que a amostra seja embalada num recipiente apropriado e encaminhará com segurança para o Instituto Evandro Chagas (Pará) para análise. A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que o Grupo de Resgate e Atendimento às Urgências (Grau) ficará responsável pelo transporte do paciente. É o único serviço do Brasil que possui maca apropriada para inibir o contato direto entre a pessoa infectada e os profissionais. (Com agências) Instituto no Rio é referência nacional nstituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi escolhido pelo Ministério da Saúde em agosto como referência para receber casos suspeitos de infecção por vírus Ebola. Nas últimas semanas, os infectologistas passaram por treinamentos sobre como tratar as pessoas contaminadas pelo vírus e participaram de palestras com profissionais que estiveram nas áreas epidêmicas. Em 29 de agosto, houve simulação de atendimento a uma pessoa suspeita de estar contaminada pelo Ebola no Aeroporto Internacional Tom Jobim. No treinamento, o paciente foi isolado no aeroporto, transportado até a Fiocruz, e atendido no INI, hospital especializado em doenças infecciosas, como HIV, doença de Chagas e doenças febris agudas, como dengue e malária. O treinamento foi colocado em prática na madrugada de ontem. O transporte do suspeito de contaminação seguiu o protocolo do Ministério da Saúde. (AE) I Risco zero de contaminação não existe Associação diz, entretanto, que os profissionais de saúde estão bem treinados A presidente da Associação Nacional de Biossegurança, Leila Macedo, disse que nunca existe risco zero de contaminação, mas que os profissionais do Instituto de Infectologia Evandro Chagas, tanto na parte hospitalar (Rio), quanto na laboratorial (Belém), foram treinados para atender casos de Ebola. Ela se refere à qualidade do serviço prestado pelo instituto, que faz análise para confirmar ou não o primeiro caso de Ebola no País. “Os procedimentos são complexos. Você vê o que aconteceu na Espanha. O simples fato de a enfermeira ter errado na hora de tirar o equipamento de proteção individual foi suficiente para ela ser contaminada. Mas se os procedimentos preconizados pela Organização Mundial da Saúde forem seguidos não haverá problemas”, disse Leila, que também é pesquisadora da Fiocruz. Ela explicou que o vírus pode ser transmitido pelos fluidos corporais, como lágrimas, sangue, suor. “Se um indivíduo com Ebola espirrar, o espirro vai longe e pode haver o vírus”, explicou a pesquisadora, acrescentando que o vírus pode penetrar através da pele. O africano Souleymane Bah, de 47 anos, primeiro suspeito de contaminação no Brasil, foi transportado numa ambulância do Servi- ço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), por profissionais protegidos com macacões com mangas compridas, punho e tornozelos com elástico, resistente à penetração viral. Os socorristas usavam ainda máscaras de proteção respiratória; protetor facial; cobre-bota; luvas descartáveis e avental descartável, resistentes a fluidos. O paciente está isolado em quarto privativo com banheiro. (ABr)