Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Sistemática e Ecologia ESTÍMULOS QUÍMICOS E VISUAIS DE PREDADOR SOBRE A TOMADA DE DECISÃO ENTRE ALIMENTAR-SE E REFUGIAR-SE EM GRUPOS DE TILÁPIAS-DO-NILO (Oreochromis niloticus) Lucas Henrique Cavalcanti Mendes João Pessoa 1 2010 2 Lucas Henrique Cavalcanti Mendes ESTÍMULOS QUÍMICOS E VISUAIS DE PREDADOR SOBRE A TOMADA DE DECISÃO ENTRE ALIMENTAR-SE E REFUGIAR-SE EM GRUPOS DE TILÁPIAS-DO-NILO (Oreochromis niloticus) Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas Da Universidade Federal da Paraíba, Como requisito para a obtenção do título de bacharel em Ciências Biológicas. Orientadora: Professora Dra. Ana Carolina Luchiari João Pessoa 3 2010 4 Lucas Henrique Cavalcanti Mentes ESTÍMULOS QUÍMICOS E VISUAIS DE PREDADOR SOBRE A TOMADA DE DECISÃO ENTRE ALIMENTAR-SE E REFUGIAR-SE EM GRUPOS DE TILÁPIAS-DO-NILO (Oreochromis niloticus) Banca Examinadora ______________________________ Profa. Dra. Ana Carolina Luchiari (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande no Norte ______________________________ Prof. Dr. Paulo Montenegro Universidade Federal da Paraíba _____________________________ Prof. Dr. Ricardo de Souza Rosa Universidade Federal da Paraíba ____________________________ Profa. Dra. Maria Cristina Crispim Universidade federal da Paraíba João Pessoa-PB, 2010 5 Dedico este trabalho aos meus queridos pais, por toda dedicação em formar um homem 6 de princípios. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me guiado até aqui e pelos muitos sonhos e planos que me indicam onde me levará. Aos meus pais, minha irmã, e minha namorada Carmem pelo apoio diário, pelos muitos conselhos de onde extraí sabedoria e pelo apoio incondicional durante estes anos de curso que muito me fizeram crescer. Agradeço de maneira especial à minha orientadora Ana Carolina Luchiari, um dos maiores presentes que recebi de Deus durante o curso. Agradeço a ela por ter me inserido no mundo da ciência, me motivando, incentivando, patrocinando e muito pacientemente me ensinando a me fazer pesquisador. Jamais me esquecerei deste carinho prestado. Aos meus companheiros de laboratório Diana Chacon, Thiago Brandão e Rafaela Estrela, pelo apoio, colaboração direta neste trabalho e pelas muitas risadas que tornavam o trabalho mais aprazível. A minha turma de biologia (Eternos feras) que carregarei para sempre comigo, Edinaldo, Rafael, Anderson, Alvino, Taynah, Joana, Laís, Thalita, Bruno, Sarah, Yara, Franciane, Max, Juliana, Júlio, Julie, Emanuele..., agradeço a todos pelos inesquecíveis momentos de felicidade que compartilhamos. Agradeço também à professora Amélia Kanagawa e ao professor Rivete Lima por terem sido tão presentes durante minha jornada, contribuindo com seus conselhos e mais ainda sendo exemplos de profissionais e pessoas. À Banca examinadora por ter aceitado revisar e avaliar este trabalho. À Damatta Agronegócios por ter generosamente me cedido as cobaias utilizadas neste trabalho. 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Desenho esquemático do aquário usado para os animais foco deste estudo. Figura 2. Desenho esquemático das condições experimentais testadas. Figura 3. Esquema do modo de observação dos parâmetros comportamentais do aquário foco. Figura 4.Gráfico: Coeficiente de variação da dispersão em grupos de 3 tilápias-doNilo frente a estímulo químico ou visual de predador (pintado). Figura 5. a) Distancia do refúgio (planta artificial); b) distancia do sítio de alimentação Figura 6. Tempo gasto no sítio de alimentação em grupos de 3 tilápias-do-Nilo frente a estímulo químico ou visual de predador (pintado). Tabela: Tabela-1. Composição nutricional da ração usada na alimentação dos peixes usados neste estudo. 8 Sumário 1.Resumo......................................................................................................................10 2.Preâmbulo..................................................................................................................11 3.Introdução..................................................................................................................20 4.Objetivos...................................................................................................................24 5.Material e Métodos....................................................................................................25 5.1.Procedimentos Gerais.................................................................................25 5.2.Delineamento Geral....................................................................................26 5.3.Procedimentos específicos..........................................................................28 6.Resultados.................................................................................................................32 7.Discussão...................................................................................................................41 8.Referências Bibliográficas........................................................................................47 9 Estímulos químicos e visuais de predador sobre a tomada de decisão entre alimentarse e refugiar-se em grupos de tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus) Resumo O objetivo deste trabalho foi estudar os comportamentos de alimentar-se e de refugiar-se em grupos de tilápias-do-Nilo frente a um predador. Para testar a motivação das tilapias para esses comportamentos, três peixes em condição de hierarquia social foram alimentados diariamente por sete dias (filmados após oferta alimentar, por 10 min, no sétimo dia) e no oitavo dia, foi imposto aos animais sinalização química ou visual de predador. Novamente os grupos de tilápias foram filmados subsequente à oferta alimentar, juntamente com a presença do estímulo de predador. O comportamento de dispersão no aquário, distância do sítio de alimentação e do refúgio (planta artificial) oferecidos no aquário e tempo gasto junto ao sítio de alimentação foram analisados. O principal elemento motivador para todos os comportamentos foi a dominância social, estando o animal mais dominante sempre mais próximo do sitio alimentar e aquele mais submisso mais próximo ao refugio. Os estímulos químico e visual também motivaram comportamentos de fuga e dispersão, sendo ainda o estímulo químico mais evidente do que o visual. Assim, percebemos 10 que os animais reconhecem os estímulos de predador e preferem refugiar-se a alimentar-se na presença do estímulo, porém, a manutenção da hierarquia manteve os animais de diferentes classes sociais com motivações diferentes: os submissos mais aptos a refugiar-se enquanto o dominante mais apto a alimentar-se. Palavras-chave: Tomada de decisão, Predador, Estímulo químico, Estímulo visual. 11 Preâmbulo As trajetórias históricas que conduziram para a visão atual do comportamento animal foram bastante variadas e interligadas. O homem tem se interessado pelo comportamento dos animais desde antes da história relatada, e desde esse começo somente uns poucos observadores e pensadores críticos contribuíram efetivamente para o estudo do comportamento. O maior progresso desta área da biologia ocorreu somente nos últimos 200 anos. Entre 1890 e 1910, muitas pessoas se envolveram no estudo do comportamento dos animais. Livros e artigos foram publicados e diferentes opiniões começaram a se formar. As idéias da época deram início ao desenvolvimento de grandes áreas do estudo do comportamento, todas com abordagens, de uma ou outra maneira, do controle interno do comportamento. O estudo do comportamento animal é hoje uma área consolidada da ciência, com raízes na teoria da seleção natural de Charles Darwin (Souza e Volpato, 2006) e nos estudos de George Romanes, seu discípulo, considerado o pai do estudo do comportamento animal segundo Yamamoto e Volpato (2006). Com os delineamentos do tempo, um tanto quanto recente, esta área forneceu os contornos do que hoje chamamos de “Etologia”, nome que designa a área da biologia que se dedica ao estudo do comportamento dos animais e suas nuances, tendo como premissa o indivíduo em seu ambiente natural, ou em alguma reprodução deste ambiente em laboratório. A Etologia surgiu após a morte de Darwin, juntamente com outra vertente de estudo do comportamento animal, a psicologia comparada. Estas áreas, durante 12 muitos anos, foram opostas, pois seus principais representantes defendiam pontos de vista diferentes quanto ao estudo do comportamento animal. Enquanto a psicologia comparativa era focada mais estritamente em princípios do aprendizado associativo em estudos experimentais laboratoriais, o grupo dos etologistas era formado principalmente por biólogos-zoólogos com razoável conhecimento dos comportamentos das espécies e com particular atenção nas relações filogenéticas dos grupos. Os principais representantes da área da ciência denominada Etologia foram Konrad Lorenz, Nikolaas Tinbergen e Karl Ritter Von Frisch. Lorenz (1903-1989) era um biólogo austríaco, considerado o pai da etologia moderna, e suas teorias ficaram conhecidas pelos estudos do comportamento sexual e familiar do ganso cinzento. Tinbergen, nascido em Haia, Países Baixos em 1907, dedicou-se, principalmente, ao estudo da importância dos comportamentos instintivos e adquiridos para a sobrevivência do animal. E Von Frisch, nascido em 1886 na cidade de Viena; teve os insetos, em especial as abelhas, como foco de seus estudos do comportamento. Esses três etólogos tornaram-se mundialmente famosos ao receber o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina, em 1973, por sua contribuição para o estabelecimento da Etologia (Garcia e Otta, 2002). Foi o Nobel mais biológico dado até hoje. Ainda não houve reconhecimento de avanços nas áreas de evolução e ecologia, entre outras disciplinas ainda ignoradas pelo prêmio Nobel. Defendendo o lado da psicologia comparada estava o seu representante mais ilustre Burrhus Frederic Skinner que, partindo dos princípios desenvolvidos por John B. Watson e Ivan Pavlov, desenvolveu a teoria do behaviorismo. A base do trabalho 13 de Skinner refere-se à compreensão do comportamento humano através do condicionamento operante. Enquanto a etologia defendia a importância do ambiente e sua influência no repertório comportamental dos animais, que seria fundamentalmente inato; a psicologia comportamental defendia que os comportamentos eram fundamentalmente aprendidos. Os etólogos estudavam ampla variedade de animais, tendo preferência por estudos com peixes e pássaros em ambiente natural, enquanto os psicólogos estudavam fundamentalmente mamíferos, principalmente ratos, em ambiente laboratorial controlado, buscando leis gerais de aprendizado. Após anos de desentendimento entre as áreas de estudo do comportamento animal, o pesquisador Daniel Stanford Lehrman propôs a necessidade de uma abordagem interacionista, em que o comportamento deveria ser visto como a interação do indivíduo com o meio em que se encontra, levando em conta a grande plasticidade do sistema nervoso. Em tese, esta é a visão que hoje se adota. Em uma abordagem histórica do estudo do comportamento, Alcock (2003) faz uma análise do desenvolvimento do pensamento desde 1950. Conforme tal análise, entre 1951 e 1975, a maior parte da produção intelectual deste ramo da ciência versava acerca de duas questões propostas por Tinbergen (1951) para os enfoques da pesquisas com comportamento animal: os mecanismos causais imediatos e a ontogênese do comportamento. Esta abordagem foi denominada de “etologia tradicional”. A partir de 1975 a ciência do comportamento animal começou a mudar seus contornos e surgiu a “ecologia comportamental”. Semelhante à etologia tradicional, a ecologia comportamental tem como objeto o estudo do comportamento das espécies, porém, preocupa-se em responder a questões acerca da evolução, das 14 relações filogenéticas e do valor de um dado comportamento para a sobrevivência da espécie. Neste sentido, focaliza outras duas questões de Tinbergen (1951), contextualização do comportamento de uma espécie na história evolutiva e relação do comportamento com aspectos ecológicos (Krebs e Davies, 1996). De acordo com West et al. (2003), atualmente esta é a abordagem vigente nos estudos de comportamento animal. A Etologia é uma ciência com sólidos alicerces em muitos países. No Brasil, a etologia ainda é jovem e ainda há muito o que ser feito para compensarmos tal atraso (Souto, 2005). Em especial, o estudo do comportamento de peixes tem recebido grande atenção nas últimas décadas. Diversos estudos abordam a seleção sexual (Freitas et al, 2009), efeitos de colorações do ambiente sobre o repertório comportamental (Luchiari, 2009), estresse social (Merighe et al, 2004), comportamento alimentar (Pereira-da-Silva e Pezzato, 1999), preferências espécieespecíficas (Reddy e Leatherland, 1994), aprendizagem (Novato, 2000), comportamento de corte (Cacho et al., 1999), reconhecimento de coespecíficos e predadores (Junior, 2002), comunicação química (Barbosa, 2007), entre outros comportamentos. Nesse sentido, o trabalho ora apresentado pretende contribuir com o conhecimento científico acerca de um tipo específico de comportamento: a tomada de decisão. A escolha de grupos de peixes entre alimentar-se ou refugiar-se foi investigada frente a estímulos ambientais positivos e negativos para uma espécie essencialmente territorial e agressiva, a tilápia do Nilo. 15 Espécie foco deste estudo: a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) A tilápia do Nilo é um peixe da família Cichlidae, pertencente à subfamília Pseudocrenilabrinae. Originária do continente Africano, foi introduzida em vários países, como o Brasil, para fins comerciais com grande sucesso devido à sua rusticidade e capacidade de suportar baixa concentração de oxigênio e alta concentração de amônia. Além disso, a tilápia apresenta alta taxa reprodutiva, alta taxa de conversão alimentar e pouca exigência quanto ao tipo de alimentação. A tilápia é um animal territorialista, ou seja, os indivíduos defendem seus territórios com base em encontros agonísticos nos quais ocorrem crescentes sinalizações e interações físicas (“escalada”) que culminam com o estabelecimento de hierarquias sociais e áreas territoriais posteriormente defendidas pelo ganhador. No que diz respeito à interação intra-específica de territorialismo, após os encontros agonísticos, os animais com tamanho do corpo avantajado geralmente são dominantes enquanto os menores tornam-se submissos. O estabelecimento e a manutenção do status social dentro da hierarquia provocam, tanto nos animais dominantes como nos submissos, situações de estresse (estresse social), com maiores prejuízos para os submissos (Fernandes, 1997). Após o estabelecimento da hierarquia em um grupo, os animais sinalizam química e visualmente seu status para a manutenção hierárquica. A cor do corpo que os indivíduos apresentam é um sinal desta manutenção. Volpato et al. (1989) observaram que indivíduos dominantes exibem coloração mais clara após confrontos agonísticos entre coespecíficos, enquanto os submissos adquirirem coloração escura do corpo. Segundo Volpato et al. (2003) a cor do olho também é um indicativo de status social em tilápias do Nilo, e o 16 animal submisso apresenta um escurecimento da íris e esclerótica do olho em relação à coloração apresentada no olho do animal dominante. A posse prévia do território também contribui para a posição hierárquica superior do animal (Volpato et al., 1987). Vários estudos têm mostrado claro efeito da residência prévia durante disputas territoriais em peixes, em que o indivíduo residente em determinado território torna-se mais propenso a vencer um confronto agonístico com um possível invasor (Figler & Einhorn, 1983; Huntingford & Turner, 1987; Turner, 1994; Huntingford & Garcia de Leaniz, 1997). Segundo Maynard-Smith (1984), o indivíduo que já reside em dada área valoriza mais o território do que um intruso e, por isso, defende-o mais ferozmente. O comportamento territorial é muitas vezes relacionado à obtenção de um recurso ou manutenção da acessibilidade ao mesmo, como por exemplo, o acesso a uma fonte de alimento (Huntingford, 1979). Na natureza, a tilápia é capaz de utilizar diversas fontes de alimento - larvas aquáticas, insetos, algas, macrófitas, ervas daninhas e plâncton (Lowe-McConnel, 1975; Getachew, 1993; Tadesse, 1999), sendo considerada uma espécie onívora (Shiau, 1997). Durante o comportamento de forrageio, a tilápia seleciona itens alimentares específicos dentre as fontes presentes no meio, sendo norteada principalmente pela sua quimiosensibilidade (Adams et al., 1988). O comportamento alimentar de peixes é caracterizado por uma seqüência estereotipada de atos controlados por várias modalidades sensoriais, dependendo do nicho ecológico do animal, sendo o olfato o principal sentido envolvido na busca pelo item alimentar (Hara, 1993). Embora outros órgãos sensoriais também estejam envolvidos no forrageio, o paladar determina a seleção final do alimento, a ingestão e 17 a voracidade na busca pelo recurso (Adron e Mackie, 1978; Rhoades, 1979; Adams e Johnsen, 1986; Mearns, 1986). A tilápia do Nilo é considerada uma espécie bastante rústica, de hábito alimentar variado que aceita também outros tipos de alimento, inclusive alimentos artificiais, em todos os estágios de vida (Santiago et al., 1987). Segundo Kubtiza (2000), nas condições climáticas brasileiras e, dependendo da dieta, as tilápias atingem maturidade sexual entre o 4° e o 6° meses de vida. Após a maturação sexual, um complexo repertório comportamental caracteriza a reprodução. Os peixes da família Cichlidae exibem comportamento reprodutivo bastante elaborado, de longa duração, que inclui cortejo de fêmeas, construção de ninhos e confronto entre machos, o que os torna diferenciado em relação a outros peixes (Baerends e Baerends van Roon, 1950). Há evidências de estimulação social na reprodução dos ciclídeos, afetando o desenvolvimento das gônadas (Gonçalves, 1993). Gonçalves (1993) constatou que as gônadas se desenvolvem mais rápido em machos dominantes do que em machos submissos de tilápia do Nilo, mostrando que há efeito das interações entre machos na reprodução deste animal. Também segundo Gonçalves de Freitas (1999), a introdução de uma fêmea no mesmo ambiente do macho estimula a elaboração de ninho em menos de 24 horas. Isto ocorre, provavelmente, porque informações químicas do estágio reprodutivo na água afetam o comportamento reprodutivo em tilápia do Nilo (Souza et al.,1998). É possível que informações visuais também favoreçam o comportamento da tilápia, pois esses animais apresentam mudança na coloração corporal durante a reprodução (Lowe-McConnell, 1958; Gonçalves-de-Freitas e Nishida, 1998). Além disso, boa parte do repertório comportamental da tilápia do Nilo é dependente da 18 visão, como defesa territorial, identificação de predadores, identificação e cortejo de fêmeas reprodutivas, construção de ninhos e o cuidado parental (Pitcher, 1993). Esta relação entre o comportamento da tilápia do Nilo e o sentido visual pode ser explicada pelas características do ambiente natural deste animal, que compreende fundo esverdeado (Fanta 1995) e luminosidade com comprimentos de onda entre 500 e 570 nm (Kageyama 1999). Tendo em vista a relevância da capacidade de percepção visual e química, como acima designados, para o desempenho da tilápia em suas relações intra e interespecíficas, o presente trabalho ocupou-se em estudar o papel de sinais bióticos e abióticos para a expressão do comportamento de tilápias mantidas em grupo social. 19 Introdução A agressividade intraespecífica é um comportamento adaptativo que pode trazer vantagens no estabelecimento de hierarquias sociais, acesso a sítios alimentares, conquista de parceiro sexual e defesa da prole (Krebs e Davies, 1995). A natureza agressiva de muitas espécies de peixes foi evolutivamente moldada e contribui significativamente para a sobrevivência individual e mesmo da própria espécie, sendo principalmente observada pelo estabelecimento de hierarquias sociais em grupos de peixes (Huntingford et al., 1990). A Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é um animal com comportamentos social e agonístico bem estudados (Luchiari, 2003). Estes peixes apresentam comportamento gregário no primeiro estágio de vida, o que confere benefícios contra predação, porém, à medida que se desenvolvem tornam-se territoriais e tendem a defender seu território e sítio de alimentação da competição intraespecífica e interespecífica. O desempenho do animal em manter seu território e alimento está, muitas vezes, associado às condições de estresse enfrentadas, bem como à presença de elementos do ambiente que imponham a necessidade de tomada de decisão entre manter o território ou arriscar-se frente a um dominante ou predador. Esta tomada de decisão implica na escolha entre duas ações distintas, motivada pela condição e/ou experiência prévia do animal (Dawkins, 1998). Alguns estudos investigaram as tomadas de decisões em forragear de animais sob risco de predação (Lima e Dill 1990; Lima 1998). Durante o comportamento de forragear, os animais deparam-se com o conflito entre a ingestão do alimento e a 20 vigilância quando existe a possibilidade de presença de predadores. Nestas condições, o tempo gasto na busca e ingestão do alimento ou na atenção e precaução do risco de predação sofrem influencia direta do estado energético do indivíduo (Lister e Neff, 2006). Neste sentido, diversos autores têm mostrado que indivíduos desfavorecidos energeticamente, seja pelo tamanho do corpo, tempo de jejum, disponibilidade de reserva energética pontual (calorias) ou doença, enfrentam riscos de predação maiores do que indivíduos em bom estado energético (Kohler e McPeek 1989; Holmes 1991; Bachman 1993; Krause 1993; Pettersson e Bronmark 1993; Moore 1994; Romey e Rossman 1995; Weary et al. 1996). Segundo Krause (1992), os animais tendem a escolher alimentos que lhes proporcionem maior captação energética, pois podem conferir vantagens durante a evasão quando em risco de predação ou favorecer o alcance de objetivos reprodutivos. Porém, mesmo o alimento que fornece grande aporte energético está sujeito à avaliação prévia; são as variáveis inerentes a ação. Mesmo que o alimento seja energético e disponível, há outras decisões que devem anteceder sua captura, como a segurança e a economia de energia ao alimentar-se. As decisões são pesadas em termos de custo e benefício, e isto se aplica a todas as decisões tomadas pelos animais a todo instante. Diversos sinais do ambiente, como informações químicas e visuais, interferem na tomada de decisão do animal. A sinalização química, entendida como a transferência de informações de um animal a outros através de substâncias químicas liberadas no meio, é um tipo de comunicação amplamente desenvolvido em diversos peixes (Liley, 1982), sendo o sentido olfativo e o gustativo os principais envolvidos (Hara, 1993). Peixes são capazes de comunicar quimicamente a coespecíficos 21 condições como status social (Giaquinto e Volapto, 1997), estágio reprodutivo (Gonçalves, 1993) ou presença de predador (Jordão e Volpato, 2000). O aspecto visual da transmissão de informações entre os animais é outro fator bastante relevante para a coleta de dicas ambientais que interferem diretamente na avaliação do meio quando é tomada uma decisão. Segundo Yamamoto e Volpato (2006), o contato visual se faz determinante em disputas territoriais, uma vez que os dois primeiros estágios da escalada de agressão, nos quais não ocorre contato físico com injúrias, dependem essencialmente de sinalização visual para a expressão de vantagens competitivas perante o oponente. Ao longo da evolução, os teleósteos desenvolveram variados sistemas visuais, alguns deles com presença de cones e bastonetes, e a percepção de cores permitiu expansão de nichos e exploração do meio aquático (Yokoyama, 2000). De acordo com Fernald (1984) os ciclídeos africanos, como a tilápia do Nilo, habitam originalmente águas claras e têm a visão como uma das principais modalidades sensoriais. Neste sentido, a acuidade visual confere vantagens para a detecção de todos os aspectos do ambiente visual, incluindo presas, predadores, ou coespecíficos (Collin e Trezise, 2004), como é o caso da tilápia do Nilo. As informações do meio, sejam visuais ou químicas, motivam as respostas comportamentais de acordo com a intensidade dos estímulos recebidos e da interpretação dos mesmos pelo animal. Um sinal de estresse, seja ele da presença de um predador, um animal hierarquicamente superior ou outra ameaça ambiental, pode promover mudanças comportamentais e fisiológicas que preparam o animal para enfrentar o novo desafio ou afastar-se do estímulo visando manter sua integridade (Moberg, 1999). Assim, este estudo teve como objetivo testar a influência da 22 sinalização química e visual de um predador sobre o comportamento de tomada de decisão entre alimentar-se ou refugiar-se em grupos de Tilápias do Nilo, no qual o status social foi previamente estabelecido. Os estudos que abordam a tomada de decisão em peixes focam, geralmente, a resposta comportamental de um indivíduo isolado frente ao conflito estabelecido: comer ou fugir. No entanto, a condição social normalmente encontrada em ambiente natural pode interferir diretamente na decisão de cada indivíduo em particular (Krause, 1993). As interações sociais podem afetar positiva ou negativamente os indivíduos de um grupo (Sogard e Olla, 2000). Os benefícios incluem maior chance de encontro de presas/alimento, maior tempo de forrageio e menor tempo de vigilância (Pitcher et al., 1982). No entanto, o grupamento também pode reduzir a ingestão e o crescimento devido à competição e ao estresse social (Sogard e Olla, 2000). Portanto, incluímos o estresse social no conflito alimento – predador neste estudo, visando observar como o comportamento de cada indivíduo pode ser influenciado pela presença de coespecíficos de diferentes hierarquias sociais. 23 Objetivos Analisar a resposta comportamental da tilápia-do-Nilo frente a estímulo de predador no momento da alimentação. Avaliar a influência do fator “hierarquia social” sobre a tomada de decisão de cada indivíduo do grupo sob influencia de sinais de predador e sem tais sinais. Analisar os efeitos de sinais químicos de predador sobre a decisão entre alimentar-se ou refugiar-se em cada individuo em um grupo de tilápias. Analisar os efeitos de sinais visuais de predador sobre a decisão entre alimentar-se ou refugiar-se em cada individuo em um grupo de tilápias. Comparar o comportamento das tilápias frente a estimulo químico ou visual de predador a fim de observar qual dos estímulos exerce maior influência sobre o comportamento e a tomada de decisão dos animais. 24 Materiais e métodos Procedimentos gerais Juvenis de tilápia-do-Nilo (± 6cm; 4g), Oreochromis niloticus (L., 1958), obtidos da fazenda de cultivo “Damatta Agronegócios”, João Pessoa, PB foram transferidos para um tanque de estocagem mantido no Laboratório de Fisiologia Animal Comparada, no Departamento de Sistemática e Ecologia (DSE) da UFPB, João Pessoa, PB. Esses animais foram mantidos em um tanque de fibra de vidro com volume de 500L de água constantemente aerada em temperatura de cerca de 25º C e fotoperíodo controlado (12L:12E), onde receberam alimentação diária às 14 horas com ração PURINA NUTRIPEIXE-AL45, de especificações conforme tabela 1. Tabela 1. Composição nutricional da ração usada na alimentação dos peixes usados neste estudo - PURINA NUTRIPEIXE-AL45 Parâmetro Diâmetro da Partícula Referência 2 a 3 mm Proteína (mín.) 45,0% Extrato Etéreo (mín.) 8,0% Fibra Bruta (máx.) 7,0% Cálcio (máx.) 2,5% Fósforo (mín.) 0,6% Cinzas (máx.) 14,0% Vitamina C 300,0 mg 25 A fase experimental foi desenvolvida no mesmo ambiente citado acima e os aquários experimentais foram mantidos às mesmas condições de temperatura e oxigênio. Delineamento geral A estratégia experimental consistiu em avaliar o comportamento de peixes quanto à decisão entre alimentar-se ou refugiar-se quando submetidos a estímulo estritamente visual ou estímulo estritamente químico de predador. Foram utilizados aquário de vidro (40 x 20 x 25 cm) contendo um pequeno anteparo na região superior esquerda (25 x 2 cm), onde o alimento ficava restrito (área de alimentação), e plantas artificiais dispostas na extremidade direita, onde os peixes podiam se refugiar (área de refúgio). O modelo deste aquário pode ser visualizado na figura 1. Fig. 1. Desenho esquemático do aquário usado para os animais foco deste estudo. Na região superior esquerda encontra-se o sítio de alimentação e na região direita a área de refúgio, composta por plantas artificiais. Cada subunidade experimental (aquário foco) foi povoada com três animais provenientes da caixa de acondicionamento. Os animais foram escolhidos de maneira a serem todos de tamanho e peso semelhantes, visando não pré-determinar a dominância do grupo, ficando esta variável a ser determinada por características próprias dos peixes de cada grupo. 26 Na condição de estímulo visual, um segundo aquário de mesmas dimensões foi faceado na parede lateral esquerda do aquário foco, para a menor distância entre estímulo visual de predador e sítio de alimentação. Os dois aquários foram mantidos isolados visualmente através de um anteparo opaco, que só foi retirado no momento de exposição visual para o grupo de peixes em estudo. Na condição de comunicação química, o anteparo opaco separando os dois aquários foi mantido, e uma porção da água do aquário do predador (50 ml) foi transferida com um Becker para o aquário foco, sendo introduzida através do sitio de alimentação. Em ambas as condições (estimulação química e visual) foram feitas 7 réplicas, sendo cada réplica constituída por um trio de tilápias de tamanhos semelhantes e um predador (Pseudoplatystoma sp.), conforme figura 2. Fig. 2. Desenho esquemático das condições experimentais testadas. A) estímulo visual de predador e B) estímulo químico de predador. No estímulo químico, 50 ml de água do aquário estímulo foi transferida para o aquário foco imediatamente antes da oferta de alimento. Cada condição de estímulo foi avaliada após o período de 7 dias de aclimatação dos animais às condições experimentais, para que neste período pudessem estabelecer hierarquia social, aprender o local e horário de alimentação e localizar a área de refúgio. Durante os sete dias iniciais, pequena quantidade de alimento foi oferecida em cada aquário, no sítio de alimentação, às 14:00 horas. A quantidade aquém do necessário para a total saciedade foi utilizada para que os 27 animais estivessem motivados a buscar o alimento em todas as oportunidades de oferta. Os animais foram observados quanto ao comportamento durante a oferta de alimento no sétimo dia (controle) e no oitavo dia, quando foi apresentado o estímulo visual ou químico. Procedimentos específicos Nos dois dias de observação (7º e 8º dias experimentais) foram feitas filmagens por 10 min subsequentes à oferta de alimento. No sétimo dia, a filmagem dos grupos de peixes foi utilizada como observação controle, já que não houve nenhum estímulo ambiental. A filmagem foi iniciada com a oferta de alimento no sítio de alimentação e procedeu por 10 min sequenciais. No dia seguinte (8º dia), as situações envolviam o oferecimento de estímulo concomitante à disponibilizarão de alimento. Assim, na condição de estímulo visual, o grupo de peixes foco do estudo permaneceu por 10 min em contato visual como outro peixe (fonte de estímulo), que tinha seu aquário pareado ao aquário focal. Imediatamente após o início do pareamento visual, houve a oferta de alimento no sitio alimentar (localizado na parede do aquário mais próxima ao estímulo, fig. 2) e a filmagem dos animais foi iniciada. Na condição de estímulo químico, 50 ml de água proveniente do aquário do animal estímulo foi despejada através da região de oferta alimentar e em seguida o alimento foi disponibilizado. Juntamente com o início do estímulo, os animais foram igualmente filmados. Nessas condições foram quantificados dados sobre a distribuição do animal no aquário (movimentação, posição em relação ao sítio de alimentação, posição em 28 relação ao refúgio e sinais de dominância/submissão – coloração do corpo) conforme figura 3. Os animais foram classificados segundo o estabelecimento hierárquico em animal dominante, submisso 1 e submisso 2, baseado na coloração do corpo de cada um. De acordo com observações de Huntingford et al. (1990) e Volpato et al. (2003), o estado de subordinação é usualmente associado com a aparência mais escurecida do corpo, enquanto o animal dominante tem coloração mais clara. Fig.3. Esquema do modo de observação dos parâmetros comportamentais do aquário foco. Parede frontal (40x20 cm) foi quadriculada (2x2cm) e a distribuição dos animais no aquário foi inferida pela localização do olho do peixe a cada 10 segundos por 10 min de filmagem. A base do aquário (eixo x) apresentava 12 quadrados e a lateral (eixo y) tinha 5 quadrados. O sitio de alimentação foi considerado na região x2 e y5 e o refúgio foi considerado x1 e y12. Distribuição do animal no aquário A parede frontal (40 x 20 cm) do aquário ocupado pelos peixes foco foi quadriculado (2 x 2 cm) para avaliarmos os parâmetros de distribuição. Nas filmagens foram registrados, a cada 10 segundos, a localização do olho do peixe nos quadrantes feitos no aquário. Esses pontos foram dispostos num sistema de eixos cartesianos (x-y) e, a cada 1 min de filmagem (6 pontos), calculamos a coordenada correspondente ao baricentro (média de x e média de y). Observamos os seguintes parâmetros comportamentais dos animais foco: 29 Dispersão: distância média entre os pontos de observação e os baricentros de cada 1 min de gravação; Distância do sítio de alimentação: distância média dos baricentros dos momentos de observação ao local de oferta alimentar, mesmo ponto onde ocorreu estímulo visual e chegada do estímulo químico; Distância do refúgio: distância média dos baricentros ao local de presença de plantas artificiais, região oposta ao estímulo visual e chegada do estímulo químico; Tempo despendido no sítio de alimentação: foi registrado o tempo em segundos que cada animal gastou durante a alimentação, necessariamente ocorrida no sítio de oferta alimentar; Sinais de submissão / dominância: foram registrados a cada 10 s de observação, a localização de cada animal do grupo, classificados como dominante, submisso 1 e submisso 2. A dispersão e ocupação de determinada região do aquário por cada animal também foi analisada e indicativa de atividade locomotora e motivação em alimentar-se ou manter-se refugiado. Análises estatísticas Os testes de parametricidades Shapiro-Wilks (normalidade) e Levine (homocedasticidade) foram usados para se determinar os testes a serem usados posteriormente. Teste de Anova ou Kruskal-Wallis, seguido de teste de Student Newman-Keuls, foi usado para comparar a dispersão, a distância do sitio de 30 alimentação e do refugio e o tempo na região de alimento entre os animais de classes hierárquicas diferentes (dominante, submisso 1 e submisso 2). As comparações entre o comportamento do mesmo animal no 7º dia (controle) e no 8º dia (estímulo) foram realizadas através de teste t de Student para dados dependentes. As comparações entre animais estimulados quimicamente e visualmente foram feitas através de teste t Student independente. Em todos os casos, foi usado como nível de significancia = 0,05. 31 Resultados Analisando-se os dados obtidos no tocante à dispersão dos animais dentro do ambiente experimental, com base nos baricentros, constatou-se que no grupo de animais submetidos à estimulação química de predador houve diferença significativa de dispersão entre os animais do grupo na fase de controle (Anova, F=5,08, p=0,02; fig. 4). O animal dominante mostrou menor dispersão quando comparado ao animal submisso 2, tendo o animal submisso 1 dispersão intermediaria entre os dois outros do grupo. Quando o estímulo químico foi oferecido, observou-se que os animais submisso 1 e submisso 2 tiveram taxas de dispersão semelhantes entre si e maiores que o animal dominante (Kruskal-Wallis, H=6,50, p=0,04; fig. 4). Não houve diferença estatística nas comparações de dispersão do mesmo animal entre o dia controle e o dia estimulado quimicamente (t Student dependente: dominante: t=0,39, p=0,71; submisso 1: t=-1,60, p=0,17; submisso 2: t=-0,22, p=0,83; fig. 4). O mesmo parâmetro comportamental (dispersão) foi analisado nos grupos de animais expostos à estimulação visual de predador e, desta feita, observou-se que na fase controle o animal submisso 2 mostrou maior dispersão do que o dominante, enquanto o animal submisso 1 teve dispersão intermediária entre outros dois (Kruskal-Wallis, H=6,43, p=0,04; fig. 4). Após a estimulação visual, os animais submisso 1 e submisso 2 expressaram dispersão semelhante e significativamente maior do que o animal dominante (Kruskal-Wallis, H=6,26, p=0,04; fig. 4). Também o estímulo visual não causou alteração da dispersão do animal quando comparado ao dia controle (t Student dependente: dominante: t=1,80, p=0,12; submisso 1: t=-1,89, p=0,12; submisso 2: t=1,27, p=0,25; fig. 4). 32 A comparação do comportamento de dispersão no aquário entre os peixes do grupo submetido a estimulo químico e estimulo visual indicam não haver diferença desta modalidade comportamental no dia controle (sem estímulos) (t Student independente, p<0,05). No entanto, quando submetidos a estimulação, apenas houve alteração da resposta de dispersão do animal submisso 1 que recebeu estímulo químico em relação ao que recebeu estimulo visual (Mann-Whitney, T=56, p=0,05; . 150 dispersão por coeficiente de variação (cv) fig. 4). 120 b B ab A a A 90 controle 60 † estímulo qumico 30 0 30 † controle 60 estímulo visual 90 120 b B ab A a A 150 dominante submisso 1 submisso 2 Fig 4. Coeficiente de variação da dispersão em grupos de 3 tilápias-do-Nilo frente a estímulo químico ou visual de predador (pintado). Letras minúsculas diferentes indicam diferença significativa entre animais controle do grupo referente ao estímulo químico ou visual de predador (Anova, p<0,05), letras maiúsculas diferentes indicam diferença significativa entre os animais sob estímulo de predador (Anova, p<0,05). † indica diferença estatística entre o animal estimulado química e visualmente (teste t independente, p<0,05). Um dos parâmetros analisados após as filmagens foi a distância que cada animal mantinha do refúgio (plantas artificiais) no momento da alimentação e, consequentemente, da estimulação química ou visual. Observando os dados obtidos a partir do grupo de animais estimulados quimicamente, percebe-se que na fase controle não há uma diferença significativa entre os posicionamentos dos animais submisso-1 e submisso-2, porém, quando compara-se o posicionamento do dominante em relação 33 aos outros dois animais há uma diferença significativa (Anova, F=39,78, P<0,001; Fig.5). Mostrando que durante o momento da alimentação os animais submissos mantinham-se mais próximos do refúgio e o dominante mantinha-se mais distante deste. Estes mesmos animais, quando submetidos ao estímulo químico, mostraram o mesmo comportamento exibido na fase controle. Com o dominante mais distante do refúgio e os submissos equiparados quanto a este parâmetro (Anova, F=13,94, P<0,001; Fig.5). Apresentou-se neste momento da análise um fato intrigante, uma diferença significativa no grupo dominante entre a fase de controle e estímulo químico (teste t dependente, t= -7,26, P=<0,001; Fig.5). O animal dominante posiciona-se mais distante do refúgio na fase controle (figura-5. a)). Os outros dois grupos de animais, submisso-1 e submisso-2 não apresentaram diferenças estatísticas no mesmo animal entre a fase controle e estímulo químico (Submisso-1: t= -0,55, P=0,61; Submisso-2: t=0,12, P=0,91. Fig.5) Ainda observando o parâmetro “distância do refúgio”, analisou-se esta variável tendo como base o grupo de animais submetidos à estimulação visual. Na fase controle não houve diferença significativa quanto ao posicionamento dos animais dominante e submisso-1, porém, estes dois grupos diferiram significativamente quando comparados com o grupo submisso-2(Anova, F=8,64, P=0,002; Fig.5). Sendo, neste momento, o posicionamento dos animais dominante e submisso-1 mais próximo ao sítio alimentar que o submisso-2. Na fase de estimulação visual os três grupos diferiram estatisticamente entre si quanto ao seu posicionamento em relação ao refúgio (Anova, F=22,62, P=<0,001; Fig.5). O animal submisso-2 esteve mais próximo do refúgio que o dominante e o submisso-1, que teve posicionamento intermediário entre os outros dois (figura-5. a)). Não houve diferença estatística nas comparações de dispersão do mesmo animal entre a fase controle e a fase estimulo 34 visual (Dominante: t= -1,36, P=0,223; Submisso-1: t=0,77, P=0,47; Submisso-2: t=0,34, P=0,75. Fig.5). Também não houve diferença significativa no posicionamento quanto à distância do refúgio entre os grupos de animais submetidos à estimulação química e visual, tanto durante a fase controle (t Student independente, p<0,05) como durante a fase estímulo (t Student independente, p<0,05). Em contraponto ao parâmetro anterior analisado, observou-se a distância do sítio de alimentação. Tomando-se o grupo submetido ao estímulo químico, obteve-se que no período de controle os submissos mantiveram posicionamento semelhante em relação ao sítio alimentar, a diferença significativa apresentou-se entre os resultados do grupo dominante e os submissos, mas, não houve diferença significativa entre os grupos submisso-1 e submisso-2. Estando o animal dominante sempre mais próximo ao sítio alimentar que os outros dois (Anova, F=42,28, P=<0,001. Fig.5). Semelhantemente à fase controle, durante o estímulo químico, o grupo dominante manteve-se mais próximo ao sítio alimentar do que os outros dois, que apresentaram posicionamento semelhante (Anova, F=16,85, P=<0,001. Fig.5). Em nenhum dos grupos houve diferença significativa quanto à distância do sítio de alimentação no mesmo animal entre as fases controle e estímulo químico (Dominante: t= -0,79, P=0,46; Submisso-1: t=0,29, P=0,79; Submisso-2: t= -0,30, P=0,78. Fig.5) A distância do sítio de alimentação também foi testada nos grupos submetidos à estimulação visual. Na fase controle os grupos dominante e submisso-1 não apresentaram diferença estatística significativa entre si, mas tal diferença apresentouse quando comparados com o grupo submisso-2(Anova, F=9,73, P=<0,001. Fig.5). Mostrando neste caso o animal submisso 2 mais distante do sítio alimentar do que os outros dois com proximidade média semelhante. Na fase de estimulação visual, houve 35 diferença significativa entre os três grupos (Anova, F=21,08, P=<0,001. Fig.5). Com o animal dominante sendo o mais próximo do sítio alimentar, seguido do submisso-1 e o submisso-2 sendo o mais distante do referencial. Quando comparados os resultados da fase controle e estímulo visual de um mesmo animal não houve diferença significativa (Dominante: t=1,34, P= 0,23; Submisso-1: t=0,17, P=0,87; Submisso-2: t= -0,10, P=0,92. Fig.5) Fazendo-se a comparação entre as distâncias médias do sítio de alimentação mantidas pelos grupos de animais estimulados quimicamente e visualmente, não foi registrada diferença significativa entre as fases controle dos dois tipos de tratamento (t Student independente, p<0,05). De forma que o animal submisso-1 dispõe-se mais próximo do sítio de alimentação durante o estímulo visual do que durante o estímulo químico. Porém, quando comparadas as fases de estímulo dos dois tratamentos quanto à este dado parâmetro, observou-se uma diferença estatística nos animais de categoria Submisso-1(t Student independente, F=2,38, P=0,036. Fig.5). Os outros dois grupos de animais, dominante e submisso-2, não apresentaram diferença significativa entre o tratamento químico e o visual na fase de estímulo (t Student independente, p<0,05). 36 a) 15 12 * distância do refúgio (cm) A a 9 6 b B controle b B estímulo qumico 3 0 3 controle b 6 C estímulo visual 9 a A a B 12 15 dominante submisso 1 submisso 2 b) distância do sítio de alimentação (cm) 15 b B b B 12 9 a A controle 6 † estímulo qumico 3 0 3 † 6 9 controle estímulo visual C b 12 b B a A 15 dominante submisso 1 submisso 2 Fig 5. a) Distancia do refúgio (planta artificial) e b) distancia do sítio de alimentação de 3 tilápias-do-Nilo agrupadas frente a estímulo químico ou visual de predador (pintado). Letras minúsculas diferentes indicam diferença significativa entre animais controle do grupo referente ao estímulo químico ou visual de predador (Anova, p<0,05), letras maiúsculas diferentes indicam diferença significativa entre os animais sob estímulo de predador (Anova, p<0,05). * indica diferença significativa entre controle e estímulo no animal de mesma hierarquia sob o mesmo tipo de estimulação (teste t dependente, p<0,05). † indica diferença estatística entre o animal estimulado química e visualmente (teste t independente, p<0,05). Também foi analisado o tempo gasto pelos animais no sítio de alimentação, localizado no canto superior esquerdo de cada aquário. Na análise dos grupos submetidos ao tratamento químico, observou-se que, na fase controle, os três grupos diferiram estatisticamente (Kruskal Wallis, H=10,6, P=0,005. Fig.6). Onde o animal dominante passou mais tempo no sítio de alimentação do que o submisso-1, e este 37 passou mais tempo no sítio de alimentação que o animal submisso-2. Na fase de estímulo químico, os grupos: dominante e submisso-1 tiveram praticamente o mesmo gasto de tempo no sítio de alimentação, não diferindo estatisticamente. E o grupo submisso-2 passou menos tempo no sítio de alimentação que os outros dois grupos, apresentando diferença estatística (Kruskal Wallis, H=7,88, P=0,020. Fig.6). Mostrando claramente que durante a estimulação química os animais dominante e submisso-1 estiveram igualmente próximos ao sítio de alimentação, enquanto o animal submisso-2 manteve-se mais distante deste referencial. Um fato diferenciado na análise deste parâmetro foi a significativa diferença estatística entre as fases controle e estímulo no grupo dominante do estímulo químico (t Student, t=2,5, P=0,055, Fig.6). Mostrando que o mesmo animal (dominante) passou mais tempo no sítio de alimentação durante a fase controle do que quando recebeu o estímulo químico de predador. Os outros dois grupos testados quanto ao estímulo químico não apresentaram mudança significativa no tempo gasto no sítio de alimentação no mesmo animal entre a fase controle e a fase estímulo (t Student dependente: submisso-1: t= -1,6, P=0,17; subisso-2: t= -0,22, P=0,83. Fig.6). Ainda investigando o parâmetro “tempo no sítio de alimentação”, analisou-se esta variável com base nos grupos de animais submetidos ao estímulo visual de predador. Observou-se que na fase controle os três grupos diferiram estatisticamente (Kruskal Wallis, H=9,28, P=0,01. Fig.6). Com o animal submisso-2 sendo o animal que passou menos tempo no sítio de alimentação, o dominante como o animal que mais tempo passou no sítio de alimentação e o animal submisso-1 colocando-se entre os dois anteriores. Na fase de estímulo visual os grupos submisso-1 e submisso-2 foram semelhantes estatisticamente, mostrando-se o grupo dominante como significativamente diferenciado estatisticamente em relação aos demais (Kruskal 38 Wallis, H=5,7, P=0,06). De forma que o animal dominante passou mais tempo no sítio de alimentação que os outros dois, que apresentaram o mesmo gasto de tempo no sítio alimentar. Fazendo-se a comparação entre as fases controle e estímulo visual no mesmo animal, verifica-se que não houve diferença significativa(Wilcoxon: dominante: Z= -1,07, P=0,5; submisso-1:Z= -1,84, P=0,12; submisso-2: Z= -1,63, P=0,25. Fig.6) a 60 tempo no sítio de alimentação (s) * 40 ab A A b B controle 20 estímulo qumico † 0 † 20 controle B B estímulo visual ab 40 60 b a A dominante submisso 1 submisso 2 Fig 6. Tempo gasto no sítio de alimentação em grupos de 3 tilápias-do-Nilo frente a estímulo químico ou visual de predador (pintado). Letras minúsculas diferentes indicam diferença significativa entre animais controle do grupo referente ao estímulo químico ou visual de predador (Anova, p<0,05), letras maiúsculas diferentes indicam diferença significativa entre os animais sob estímulo de predador (Anova, p<0,05). * indica diferença significativa entre controle e estímulo no animal de mesma hierarquia sob o mesmo tipo de estimulação (teste t dependente, p<0,05). † indica diferença estatística entre o animal estimulado quimica e visualmente (teste t independente, p<0,05). O ponto distinto da análise do parâmetro “tempo no sítio de alimentação” como um todo foi a diferença estatística entre os grupos dominante estimulado quimicamente e dominante estimulado visualmente. Onde, o grupo dominante estimulado quimicamente passou menos tempo no sítio alimentar do que o grupo dominante estimulado visualmente (Mann-Whitney, T=26,5, P=0,04. Fig.5). Não foram encontradas outras diferenças estatísticas, além da relatada, comparando os 39 resultados dos tratamentos químico e visual de predador quanto ao parâmetro “tempo gasto no sítio de alimentação”, nem entre as fases controle (Dominante: t Student: t=1,24, P=0,24; Submisso-1: Mann-Whitney: T= 41,00, P=0,94; Submisso-2: t Student: t=0,26, P=0,80. Fig.5) nem entre as demais fases de estímulo (Sumbmisso-1: Mann-Whitney: T=50,00, P=0,30; Submisso-2: t Student: t= -0,46, P=0,30. Fig.6) 40 Discussão Observamos neste estudo que a tilápia do Nilo mantida sob condição de agrupamento apresenta estabelecimento de hierarquia social, em que o animal dominante tem maior acesso e tempo na área de alimentação, enquanto os submissos mantêm-se em menor atividade e mais próximos ao refúgio (ver figuras). A sinalização química de risco de predação parece diminuir o tempo que o animal dominante despende na área de alimentação e aumentar sua proximidade ao refúgio, sendo mais efetiva do que o sinal visual de predador. Além disso, ambos os sinais químico ou visual não alteram significativamente o padrão comportamental do animal mais submisso da hierarquia. Desta forma, a maior parte da tomada de decisão frente ao risco de predação é feita pelo animal dominante, enquanto os submissos já se encontram em condição de estresse social crônico e a soma de um novo estressor parece não ter efeito sobre a escolha entre comer ou refugiar-se, sendo esta última, a alternativa eleita em tempo integral. Neste estudo, dizer que um animal toma decisões não significa intenção consciente, mas somente refere-se ao fato de que o animal está adotando alternativas comportamentais diferentes em determinados momentos. A tomada de decisão em animais parece estar adaptada às soluções econômicas dos problemas diários e leva em consideração custos e benefícios de várias opções diferentes possíveis (Lister e Neff, 2006). Quando o animal sente fome, ele busca por alimento. Quando se sente ameaçado por predadores ou coespecíficos, busca por modos de evitar confrontos prejudiciais, seja fugindo ou se escondendo. A questão aqui levantada, no entanto, foca observar o que um grupo de tilápias faz quando está com fome e sob ameaça de 41 um predador e/ou coespecífico dominante. A seleção natural moldou os animais para escolher a opção comportamental que maximiza seu desempenho, quase sempre relacionada à sobrevivência para reprodução (Kavaliers e Choleris, 2001). O reconhecimento de predadores através de sinais visuais depende de dicas como tamanho, forma e sinais corpóreos, como manchas ou apêndices (Curio, 1993; Hanson e Coss, 1997; Wisenden, 2000), que permitem à presa responder a predadores através do reconhecimento inato ou aprendido. No entanto, a tilápia não é simpátrica do pintado, então, não podemos concluir que houve claro reconhecimento inato. Porém, a resposta da tilápia ao estímulo de predador evidentemente mostra que ela pode distinguir entre a presença e ausência do predador, o que pode ser indicador de uma possível origem inata de resposta, ou seja, alguma base genética. A tilápia é simpátrica de outros bagres predadores africanos, e, desta forma, características primitivas compartilhadas pelas espécies podem ter sido estímulo chave para a resposta de fuga. Corroborando nossos resultados, tipos similares de reconhecimento foram reportados por Csányi (1986), Altbäcker e Csányi (1990) e Barreto et al. (2003). Portanto, o reconhecimento do bagre apresentado neste estudo pode ter influenciado diretamente a tomada de decisão da tilápia. Nos casos de reconhecimento de predador, é possível que a soma de sinais como sons e cheiros possam desencadear respostas mais evidentes de mudança comportamental na tilápia. Segundo Jachner (2001), Barcellos et al. (2010) e Reid et al. (2010), um fator que pode alterar a resposta comportamental de tomada de decisão é a experiência previa. Assim, o animal na condição de presa passa a responder ao predador após experimentar situação aversiva de risco de predação, fato que pode ter interferido na magnitude da resposta comportamental das tilápias deste estudo. 42 Neste sentido, o peso que o animal infere à informação obtida do meio e decide o comportamento subseqüente tem sido considerado seguir o minucioso equilíbrio entre custo e beneficio (Bouskila e Blumstein, 1992). Por exemplo, o peixe esgana-gata, Gasterosteus aculeatus, forrageia em locais mais expostos a risco de predação quando está sob influência de estresse energético ou considera o ambiente seguro contra possíveis ataques (Kotler, 1992). Da mesma forma, os peixes dominantes da fase controle deste estudo, bem como na fase exposta a sinais visuais de predador, podem ter reconhecido o ambiente como propício para o forrageio, e, portanto, não mostraram alteração comportamental. Por outro lado, os animais submissos, já sob julgo de presença física do dominante (estresse social) permaneceram menos ativos e deram preferência ao refúgio. Resultados semelhantes de comportamento diferencial dentro de grupos com hierarquia social também observados por Huntingford et al. (1990) e Barton (2002). Os animais em desvantagem (presas / submissos) geralmente respondem à ameaça pelo aumento do tempo de uso do refúgio, por exemplo, ratos se matem em suas tocas quando gatos ou raposas estão presentes no ambiente (Lima e Dill, 1990; Dielenberg e McGregor, 1999). No entanto, o uso do refúgio implica em custos, como menor tempo forrageando ou buscando parceiros sexuais, que devem ser minimizados em busca do próprio fitness (Sih, 1990; Johnson et al., 2000). Os animais otimizam a decisão de quando deixar o refúgio após a exposição ao predador pelo balanço entre o risco de perdas e as necessidades fisiológicas e comportamentais em determinado momento (Ydenberg e Dill, 1986). Os riscos e custos são balanceados na determinação de quando fugir para o refúgio ou quando sair dele. Este balanço pode ser observado na resposta comportamental das tilápias submissas neste estudo. Esses peixes mantiveram-se mais tempo no refúgio, devido à presença de animais 43 hierarquicamente superiores e sinais de predador, porém arriscavam-se em menor quantidade a chegar à região de sítio de alimentação em busca de rápido acesso ao recurso alimentar. Sih (1990; 1992) estudou os efeitos da incerteza sobre a presença de predador sobre o uso de refúgios. Este autor mostrou que o uso do refúgio pode aumentar com a diminuição do estado de fome, aumento dos riscos fora do refúgio, diminuição na qualidade ou presença de alimento e decréscimo da certeza de localização do predador. A incerteza quanto à exata localização do predador pode ter sido o que ocorreu quando sinais químicos do pintado chegaram ao ambiente das tilápias. Apesar de o predador alopátrico dificultar o reconhecimento, sinais químicos da presença de um bagre podem ter sido o sinal chave que alterou a tomada de decisão da tilápia. Em especial, o peixe dominante, que ocupava a maior área de dispersão e tinha mais acesso ao sítio de alimentação, passou a ocupar mais o refúgio e gastar menos tempo alimentando-se. Neste caso, o sinal químico deve ter sido mais efetivo na tomada de decisão do que o sinal visual, devido á baixa localização da fonte de estímulo. O risco de predação é muito mais forte para as presas do que o risco de perda do alimento por um tempo determinado (Bachmann, 1993). Uma única exposição ao predador pode causar danos irreversíveis e morte da presa, sem outra chance de conseguir o recurso buscado. Assim, evitar o predação e a exata avaliação do risco são altamente favorecidos pela seleção natural (Kavaliers e Choleris, 2001). Portanto, é esperado que haja alta pressão seletiva na percepção de riscos, sinais de possível predador, e na habilidade de distinguir ameaças (Abrams, 1986; Abrams, 1994; Thorson et al. 1998). Assim, mesmo não havendo o reconhecimento imediato entre tilápias e pintados devido a sua alopatricidade, sinais químicos de siluriformes, 44 mesmo que de diferentes famílias, parecem ser indicativos importantes do risco de predação (Altbäcker e Csányi, 1990). Sinais diretos são produzidos por predadores que estão fisicamente presentes no ambiente. Sinais indiretos (químicos, auditivos) não necessariamente indicam a presença do predador ou que a presa o encontrará, mas indicam para as presas estimativas do risco de predação (Abrams, 1994; Lima 1998; Thorson et al. 1998). Helfman (1989) sugeriu a hipótese denominada “sensibilidade de ameaça para fuga de predador”, que diz respeito à flexibilidade de acessibilidade e comportamentos em resposta a diferentes graus de ameaça percebidos pela presa. Este conceito foi originalmente derivado de estudos com peixes que mostravam comportamento aversivo ou defensivo dependente da natureza da ameaça, na qual sinais visuais indicam menor reposta de aversão enquanto odores aumentam esta resposta (Kats e Dill, 1996). Esta teoria reforça os resultados encontrados neste estudo, em que sinais químicos induziram maior uso do refúgio e distâcia da área de alimentação do que sinais visuais de predador. De acordo com Dall et al. (2001), o comportamento normal do animal é um balanço entre evitar o predador (custo) e os benefícios de uma atividade alternativa (forragear). Em geral, quando o risco é alto, os animais mostram maior flexibilidade comportamental (Godin e Dugatkin, 1996; Kotler, 1992). Este contínuo comportamental é remanescente dos conceitos de distância defensiva, contínua eminência predatória e sistema motivacional supressor de mecanismos de defesa (Bolles, 1970; Curio, 1993; Lima, 1998). Neste sentido, o presente estudo contribui com o conhecimento sobre o desafio de tomada de decisão, indicando que sinais 45 químicos parecem mais efetivos em causar alteração comportamental com decisão de fuga do que sinais visuais isolados. Embora em grupos de animais, o estressor social pareça ser mais impositivo do que sinais isolados de predador e esta resposta seja diferente para animais dominantes ou submissos, mais estudos enfatizando a resposta de tomada de decisão frente a sinais de predador isolados e somados se fazem necessários. Além disso, estudos sobre a resposta comportamental de tilápia isolada frente a sinais de predador podem contribuir para o melhor entendimento do peso da hierarquia e dos fatores que guiam a resposta do animal em grupo ou isolado socialmente. 46 Bibliografia Abrams, P.A. Is predator-prey coevolution an arms race? Trends Ecol. Evol., v.1, p.108-110, 1996. Abrams, P.A. Should prey overestimate the risk of predation? Am. Nat., v.144, p.317328, 1994. 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