A locução conjuntiva temporal ((n)a) hora que: aspectos inovadores

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A locução conjuntiva temporal ((n)a) hora que: aspectos inovadores e
renovadores
Gisele Cássia de SOUSA82
Nicole Regina RENCK83
RESUMO: O objetivo deste trabalho é comparar o comportamento de orações temporais introduzidas pela
conjunção quando e pela locução conjuntiva ((n)a) hora que, a partir de dados representativos do português
falado no interior paulista. Com base na distinção proposta por Meillet (1948a, b) entre renovação, entendida
como mudança “conservadora”, e gramaticalização, concebida como mudança “inovadora”, investiga-se,
especificamente, em que medida o comportamento da locução conjuntiva (n(a)) hora que se distancia e se
aproxima do comportamento da conjunção temporal prototípica quando. Com a comparação entre o
comportamento desses dois conectivos temporais, busca-se evidenciar aspectos “conservadores” e “inovadores”
subjacentes ao desenvolvimento de ((n)a) hora que como conectivo temporal. As análises revelam que, na
variedade investigada, a forma ((n)a) hora que mantém a função de localizar temporalmente um evento em
relação a outro (expresso na oração principal), também desempenhada por quando, mas indica tendência de
especialização de ((n)a) hora que na expressão de eventos pontuais, localizados no passado. De modo geral, os
resultados apontam a relevância desse tipo de análise para a compreensão das causas subjacentes à
gramaticalização, em especial, de formas conjuncionais.
PALAVRAS-CHAVE: Gramaticalização; Oração adverbial temporal; Locução conjuntiva.
Introdução
No âmbito dos estudos descritivos, especialmente os de base funcionalista, várias
pesquisas já se voltaram ao funcionamento das orações adverbiais no português brasileiro.
Trata-se, em especial, de identificar a variedade de formas em que se apresentam e as funções
pragmático-discursivas que cumprem na interação verbal (DECAT, 1993, 1999; NEVES,
1999a, b, c, 2000, 2001; BRAGA, 1995, 1999a, b, 2001a, b; NEVES, BRAGA e
DALL’AGLIO-HATTNHER, 2008). Trata-se também, sob essa mesma perspectiva, de
analisar as adverbiais quanto ao estatuto gramatical que exibem na combinação com outra
oração, em outras palavras, quanto ao seu grau de gramaticalização, em comparação a outros
modos de combinação oracional (NEVES e BRAGA, 1998; BRAGA, 2001b; NEVES, 2001,
2008).
Esses estudos têm evidenciado, entre outras coisas, uma ampla variedade de formas
conjuncionais introdutoras de orações adverbais em português. No que tange às adverbiais
temporais, foco deste trabalho, identificam-se, ao lado da conjunção prototípica quando,
locuções conjuntivas de base adverbial (antes que, depois que, logo que, assim que, sempre
que), de base preposicional (até que, desde que) e locuções formadas a partir de um numeral
ordinal (primeiro que) ou de um sintagma nominal com valor habitual/frequentativo (todas as
vezes que, cada vez que) (NEVES, 2000).
Além dessas formas, encontram-se, especialmente na modalidade falada do português,
conectores temporais constituídos de estruturas relativas, encabeçados por um substantivo
82
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas – Departamento de Estudos Linguísticos e Literários. São José do Rio Preto – São Paulo –
Brasil. 15054-000 – [email protected].
83
UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas. São José do Rio Preto – São Paulo – Brasil. 15054-000 – [email protected]. Graduanda
do curso de Licenciatura em Letras. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP – IC – processo no. 2010/09567-5).
138
referente a tempo (dia, hora, época) seguido do pronome relativo que. Lima-Hernandes
(2000) identifica, em córpus representativo do português popular falado na cidade de São
Paulo, cinco dessas “expressões relativas” introdutoras de orações temporais em português,
quais sejam: a hora que, no dia que, um dia que, na época que, depois de X anos que.
Dentre essas formas, o português falado no interior paulista emprega, com notável
139reqüência, a expressão ((n)a) hora que, por vezes iniciada pela preposição em, como em
(01ª), por vezes, apenas pelo determinante a, como em (01b), ou, em alguns casos, marcada
apenas pelo substantivo seguido do pronome relativo, sem expressão de um determinante
antecedente, como em (01c):
(1)
a. meu filho estudava em escola longe e eu todo dia ia buscá(r) ele né?... no mesmo
horário... e eu c’a cha::ve c’a bolsi::nha... de guardá(r) moeda eu tô subin(d)o::...
sossegada sem olhá(r) pa trás... de repente... eu vi uma a/ sabe? senti uma MÃO...
puxan(d)o com TU-DO... minha mão/ eu assusTEI quase caí até no chão só num caí
porque eu:: encostei na parede assim na hora que ele puxô(u)... e ele correu... um
BAIta d’um negão cumPRIdo assim... é NOvo mas aqueles mulecão ALto...
b. aí:: aguarda o avião pouSANdo... o avião pousá(r) o avião pousan(d)o a gente já...
tem po/ os passageiros que desembarcam a gente leva pra uma outra sala... pra eles tá
pegan(d)o a bagagem... só que é tudo... éh:: muito rápido... muito sincronizado
porque nós temos... quinze minutos de porta aberta... então a hora que o avião...
pousa... no aeroporto de São José do Rio Preto... a gente tem que:: é quinze
minutos... se DÉ(R) dezesseis a gente tem que justificá(r) o porQUÊ que foi esse::
um minuto a mais...
c. ...tem um pouco de tudo lá TEM a tranquilida::de... de cidade TÍpica do interior
peQUEna... e à noite tem as FEStas né? que toca forró:: assim... forró:: todo tipo de
música... e é uma coisa gostosa porque não é que num/ hora que você TEM a
tranquilida::de... você an::da um pouco assim você tem agitação... e por sê(r) um
local turístico assim... é preserVAdo né? porque hoje em dia o turismo no Brasil cê...
é aquele turismo de MAssa...
O principal objetivo deste trabalho é investigar se há, nessa variedade do português,
contextos indicativos de especialização (HOPPER, 1991) do uso de ((n)a) hora que em
comparação ao emprego da conjunção quando, forma prototípica para introduzir orações
temporais (NEVES, 2000; BRAGA, 1999a, DECAT, 1993). Com esse objetivo, retoma-se a
distinção proposta por Meillet (1948a [1912]) entre renovação e inovação, essa última
entendida pelo autor como mecanismo associado à gramaticalização de uma forma linguística.
Pretende-se, assim, averiguar se, na sincronia e na variedade investigadas, o comportamento
sintático-funcional de ((n)a) hora que distingue-se do comportamento da conjunção quando e,
se sim, em quais aspectos se traduzem essa diferença. Em outras palavras, investiga-se em que
medida o comportamento de ((n)a) hora que é semelhante (e, assim, apenas renovador) ou
diverso (e, portanto, inovador) do funcionamento da forma quando.
O texto encontra-se dividido em quatro seções. Primeiramente, apresentam-se os
conceitos de “inovação” e “renovação” conforme propostos por Meillet (1948a, b) e discutese a relevância de adotá-los para a análise de formas em processo de gramaticalização, em
especial, formas conjuncionais como as que constituem objeto de estudo deste trabalho. Na
segunda seção, expõem-se os aspectos metodológicos da pesquisa, tais como o córpus
investigado e os fatores analisados; na terceira, apresentam-se os resultados obtidos, e, ao
final, expõem-se as conclusões.
139
Inovação e renovação na gramaticalização de conjunções
A coexistência de formas conjuncionais para expressão de uma mesma relação entre
orações não é fenômeno incomum em português, nem em outras línguas. Meillet (1948b
[1912]), precursor dos estudos modernos em gramaticalização, já indicava o domínio das
conjunções como um dos mais propensos a inovações, impulsionadas pela necessidade de
manter-se sempre renovada a expressividade das construções. Ele afirma que: “A primeira e a
mais importante dessas causas [da mudança das conjunções] consiste na necessidade que o
sujeito falante tem de ser expressivo, de bem expressar seu pensamento e de agir sobre seu
interlocutor” (MEILLET, 1948b, p.163).84
Meillet considera que, em função de seu uso frequente e, ainda, da velocidade com
que são pronunciadas, as conjunções, assim como outros instrumentos gramaticais ou
“palavras acessórias” (mots accessoires), tendem a enfraquecer-se e a reduzir-se, tornando
menos expressivo o significado das orações em que ocorrem, o que conduz à constante
necessidade de renovação dessas formas. Nas palavras do autor:
As conjunções podem assim se renovar muito facilmente, já que toda partícula, ou
mesmo toda palavra empregada como acessório de frase, tende a perder seu sentido
próprio... No momento em que ocorre a renovação, obtém-se uma expressão
relativamente viva e intensa; assim que o processo termina, não resta mais nada
dessa força que é, afinal, transitória. A história das conjunções se limita quase toda
a um esforço sempre repetido e, por natureza, perpetuamente inútil para obter
formas expressivas de frase. 85 (MEILLET, 1948b, p. 171)
Para ilustrar essas suas considerações, Meillet apresenta vários casos de mudança de
formas conjuncionais, aos quais atribui uma mesma motivação: a necessidade de renovação
da força expressiva das construções. A maioria dos casos de mudança descritos por Meillet
ocorre pelo acréscimo de uma palavra ou elemento gramatical a uma conjunção ou partícula
considerada pouco expressiva. Disso resulta uma nova forma que, quando criada, é
considerada mais expressiva do que a forma antiga de que deriva. É o que ocorreu, segundo
Meillet, com a criação, no francês, das locuções concessivas quand même, quand bien même,
quand même que e malgré que, ao lado das antigas formas bien que e quoique. Nas palavras
de Meillet, “a criação é constante aqui, devido à necessidade que se tem de exprimir a
concessão com uma força sempre renovada” (MEILLET, 1948b, p.173).86
Um ponto da discussão de Meillet ao qual, conforme aponta Lehmann (2002), pouca
atenção tem sido dada nos estudos contemporâneos de gramaticalização diz respeito à
distinção entre esse processo de mudança e a simples “renovação analógica”.
Meillet (1948b) considera que há dois processos pelos quais novas formas gramaticais
se constituem nas línguas: a analogia, que “consiste em criar uma forma segundo o modelo de
outra”, e a gramaticalização, que “consiste na passagem de uma palavra autônoma ao papel de
84
La première et la plus importante de ces causes consiste dans le besoin qu’éprouve le sujet parlant d’être
expressif, de bien faire sentir sa pensée et d’agir sur son interlocuteur (Meillet, 1948b, p.163).
85
Les conjonctions peuvent ainsi se renouveler très aisément, puisque toute particule, ou même toute mot
employé comme accessoire de phrase, tend à perdre son sens propre... Au moment oú a lieu le renouvellement,
on obtient une expression relativement fraîche et intense ; dès que le procès est terminé, il ne rest plus rien de
cette force que est chose toute transitoire. L’histoire des conjonctions se ramène presque tout entière à un effort
toujours répété et, par nature, perpétuellement inutile pour obtenir des tours de phrase expressifs (Meillet,
1948b:171).
86
La création est constante ici, par suite du besoin qu’on a d’exprimer la concession avec une force toujours
renouvelée (MEILLET, 1948b, p.173).
140
um elemento gramatical” (p. 130 e 131).87 Meillet demonstra que, embora a analogia possa
por vezes estar associada à criação de novas funções gramaticais, de um modo geral, ela
apenas introduz no sistema gramatical novas formas para funções gramaticais já existentes. A
gramaticalização, diferentemente, altera todo o sistema gramatical de uma língua, ao criar
funções gramaticais para as quais, antes, não havia expressão linguística. Há assim, em
Meillet (1948b), uma associação entre analogia e renovação de funções gramaticais, e entre
gramaticalização e criação de funções gramaticais. Afirma Meillet que:
Enquanto a analogia pode renovar os detalhes das formas, mas, mais
frequentemente, mantém intacto o plano de conjunto do sistema existente, a
“gramaticalização” de certas palavras cria as novas formas, introduz categorias que
não tinham expressão linguística, transforma o conjunto do sistema.88 (MEILLET,
1948a, p.133; ênfases acrescentadas).
Conforme aponta Lehmann (2002), teoricamente, a distinção entre inovação e
renovação é inteiramente clara. “A inovação é revolucionária; ela cria categorias que não
existiam na língua anteriormente. A renovação é conservadora; ela somente introduz novas
formas para velhas categorias.” (LEHMANN, 2002, p. 19)89. Como o autor reconhece,
entretanto, na prática, observam-se muitos casos limítrofes entre renovação e inovação, e esse,
aliás, parece ser o caso da locução conjuntiva (n(a)) hora que, objeto deste estudo, conforme
será demonstrado adiante.
A substituição das flexões de caso do latim por construções preposicionais nas línguas
românicas, por exemplo, como Lehmann aponta, é conservadora apenas na medida em que
nenhuma nova categoria gramatical é criada, mas as construções preposicionais das línguas
românicas não são funcionalmente idênticas aos sufixos de caso do latim. Por um lado, as
preposições fazem menos do que os sufixos, e a ordem de palavras nas línguas românicas
supre as funções que as preposições não são capazes de cumprir, como marcar os papéis
sintáticos de sujeito e objeto. Por outro lado, as preposições podem expressar distinções
semânticas mais finas porque são em maior número do que os sufixos.
É sabido que, conforme apontam Hopper e Traugott (1993), à época da publicação do
trabalho de Meillet, prevalecia, nos estudos linguísticos, uma concepção restrita de analogia,
entendida como processo por meio do qual irregularidades na gramática, particularmente no
nível morfológico, são regularizadas. Uma vez que o resultado dessa “regularização” também
pode ser a gramaticalização de uma forma ou construção, torna-se pouco produtiva a
associação de gramaticalização apenas aos casos de inovação no sentido de Meillet, razão
pela qual, modernamente, são objetos de estudos em gramaticalização tanto casos de inovação
quanto de renovação, e à analogia atribui-se o papel de mecanismo subjacente ao processo, ao
lado da reanálise (HOPPER e TRAUGOTT, 1993).
Defende-se, neste trabalho, a relevância de se reavivar, para o estudo de formas
conjuncionais, a distinção proposta por Meillet entre inovação e renovação, não como forma
de associar a ocorrência de gramaticalização apenas a casos de inovação, de surgimento de
categorias antes inexistentes no sistema linguístico, como propunha o autor, mas como
recurso analítico capaz de evidenciar motivações possíveis para a ocorrência de
87
...consiste à faire une forme sur le modèle d’une autre (MEILLET, 1948a, p. 130). ...consiste dans le passage
d’un mot autonome au rôle d’élément grammatical (MEILLET, idem, p. 131).
88
Tandis que l’analogie peut renouveler le détail des formes, mais laisse le plus souvent intact le plan d’ensemble
du système existant, la «grammaticalisation» de certains mots crée des formes neuves, introduit des catégories
que n’avaient pas d’expression linguistique, transforme l’ensemble du système (MEILLET, 1948a, p.133).
89
“Innovation is revolutionary; it creates grammatical categories that had not been in the language before.
Renovation is conservative; it only introduces new forms for old categories.” (LEHMANN, 2002, p. 19).
141
gramaticalização de uma forma. Isso porque, com o reconhecimento de aspectos inovadores
e/ou renovadores da forma em estudo, pode-se explicar em que medida a mudança se instaura
em razão do surgimento de alguma função gramatical previamente inexistente (ou não fixada
gramaticalmente) na língua e em que medida essa mudança é motivada pela necessidade
comunicativa de se renovar a força expressiva de uma função. De modo mais geral, a
principal contribuição desse tipo de análise, fundamentada em Meillet, encontra-se no fato de
que ela permite que se incluam nos estudos explicações, de natureza pragmático-discursiva
mais ampla, para a ocorrência da gramaticalização de uma forma.
Material e metodologia de análise
Os dados da pesquisa, representativos de orações iniciadas tanto por quando quanto
((n)a) hora que, foram extraídos de inquéritos que integram o banco de dados IBORUNA,
constituído no âmbito do projeto “Amostra Linguística do Interior Paulista (ALIP)”, sediado
na Universidade Estadual Paulista, câmpus de São José do Rio Preto. O banco de dados é
composto de dois tipos de amostras de fala: “Amostra Comunidade” (ou “Amostra Censo” AC), que reúne amostras de fala controladas sociolinguisticamente, divididas em cinco tipos
de texto (narrativa de experiência, narrativa recontada, descrição, relato de procedimento e
relato de opinião); e “Amostra de Interação Dialógica” (AI), composta por amostras coletadas
secretamente, em situações de interação social livre.
A fim de se investigarem os aspectos inovadores e renovadores de ((n)a) hora que, em
comparação a quando, as ocorrências, extraídas de inquéritos integrantes dos dois tipos de
amostra, foram analisadas segundo os fatores: (i) posição da oração temporal; (ii) aspecto do
verbo na oração temporal; (iii) correlação modo-temporal nas construções; (iv)
correferencialidade dos sujeitos na oração principal e na temporal; e (v) tipo de texto a que a
ocorrência pertence.
Para a compilação dos dados e a obtenção das frequências de ocorrência, utilizou-se o
pacote estatístico Goldvarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005), empregado,
neste estudo, apenas para análise unidimensional dos dados.
Quando vs. ((n)a) hora que: aspectos inovadores e renovadores
Para este trabalho, foram analisadas 219 ocorrências de orações iniciadas por quando e
por ((n)a) hora que. A distribuição dessas ocorrências pela forma do conectivo empregado é
mostrada no quadro 1.
Tipo
conectivo
de
quando
na hora que
a hora que
hora que
173
10
30
06
Número
de
ocorrências
Quadro 1: Número de ocorrências das formas de conectivo investigadas
Conforme se observa, entre os dados coletados, o número de ocorrências de orações
temporais introduzidas por quando se mostra bem maior do que o de orações com ((n)a) hora
que, o que ratifica o caráter mais gramaticalizado de quando, e o estatuto “inovador”, menos
gramaticalizado, de ((n)a) hora que no português falado no interior paulista. Conforme
atestam Bybee (2005) e Bybee e Hopper (2001), há uma estreita relação entre frequência de
ocorrência e gramaticalização de estruturas linguísticas. Bybee (2005), por exemplo, afirma:
142
[o aumento da frequência de ocorrência] surge como resultado de um aumento do
número e dos tipos de contextos em que os morfemas gramaticais são apropriados.
A frequência não é apenas um resultado de gramaticalização, é também um
contribuinte primário ao processo, uma força ativa que instiga as mudanças que
ocorrem em gramaticalização (BYBEE, 2005).
Para esses autores, a frequência de ocorrência de uma forma em processo de
gramaticalização pode ser atestada de duas maneiras: observando-se sua frequência em
diferentes tipos de contextos, o que Bybee (2005) chama de “frequência type”, e observandose a frequência com que a forma aparece independentemente de seus contextos de ocorrência,
ou seja, sua frequência token (“de sinal”), ou frequência textual. Segundo Bybee (2005), o
aumento da frequência token de uma forma indica o aumento dos contextos em que ela passa
a ocorrer, o que aponta para um estágio mais avançado de gramaticalização da forma.
A maior frequência de ocorrência atestada para a conjunção quando pode ser
explicada pelo maior número de types, de contextos de ocorrência em que ela aparece no
português atual, em comparação a ((n)a) hora que. Conforme atesta Neves (2000), a orações
iniciadas por quando do português podem estar associadas nuances adicionais ao significado
temporal indicado pela conjunção, o que aparentemente não ocorre com ((n)a) hora que. As
construções em (02) abaixo, extraídas de Neves (2000), exemplificam, respectivamente, a
ocorrência de orações iniciadas por quando com nuance causal, condicional e concessiva.
(2)
a. “Mudou de conversa QUANDO alguém perguntou pelas dicas.”
b. “Como é possível dizer tal coisa QUANDO se sabe universalmente que as drogas
são depressivas, viciantes e causam distúrbios físicos e mentais?”
c. “Essa mulher procura um trabalho QUANDO centenas de outros abandonam seus
trabalhos.” (NEVES, 2000, p. 798-800)
Os resultados obtidos com a análise do fator posição da oração temporal, iniciada por
quando e por ((n)a) hora que, encontram-se na Tabela 1, a seguir.90
Conectivo
Quando
((n)a) hora que
nº.
%
nº.
%
Posição
anteposta
121
70%
39
85%
posposta
51
29,5%
06
13%
intercalada
01
0,5%
01
2%
173
100%
46
100%
Total
Tabela 1: Posição da oração temporal introduzida por quando e por ((n)a) hora que
Os resultados evidenciam que a anteposição é preferida para orações iniciadas por
ambos os conectivos, conforme também atestam Braga (1999a, b), Decat (1993) e Neves
(2000) para as orações temporais do português.
Ao se comparar o comportamento das orações introduzidas por quando e por ((n)a)
hora que, verifica-se tendência à anteposição maior para as orações iniciadas pela locução
conjuntiva do que para as que se iniciam por quando, já que, conforme os resultados
90
Para a exposição dos resultados, considera-se o total geral de ocorrências da locução na hora que, em suas
formas na hora que, a hora que e hora que.
143
mostrados na tabela, 70% do total de orações com quando ocorrem antepostas à principal, ao
passo que, para as orações com ((n)a) hora que, esse percentual é de 85% do total de dados.
Essa maior tendência à anteposição para as orações iniciadas pela locução conjuntiva pode ser
vista como indício de sua especialização na expressão de tempo, ficando reservada a orações
com quando a expressão de tempo associado a outras nuances circunstanciais, como causa,
condição e concessão.
Com relação à posposição, menos típica à expressão de tempo, os resultados revelam
predomínio das orações com quando, o que também se pode explicar pelo estágio mais
avançado de gramaticalização da conjunção quando, se comparado ao da locução conjuntiva
na hora que. Quanto à intercalação, não se atestam diferenças entre as orações, e, para os dois
tipos, o número de ocorrências é baixo. Entre os dados, há apenas uma ocorrência com a
conjunção quando e uma com ((n)a) hora que, mostradas em (03) e (04):
(3)
tinha que pegá(r) ela por trás assim e í(r) descen(d)o seguran(d)o no corrimão da escada
e descen(d)o deva::gar-zi::nho...porque ela num andava mas ela su/ sabe trocá(r) os
passinho...e descia com ela devagarzinho...subi::a...na hora que tinha que subí(r)...meio
empurran(d)o ela assim c’a barriga...deva::garzi::nho...(IB-AC-062-RP, L361)
(4)
Inf.2.: (eu lembro) (inint.)... a filha dele quando viu blufe ((imita o som da pessoa
caindo)) [caiu] (IB-AI-007-FER, L75)
A Tabela 2, a seguir, mostra os resultados obtidos com a análise do aspecto codificado no
verbo da oração temporal.
Conectivo
Aspecto
perfectivo
imperfectivo
quando
no.
((n)a) hora que
%
no.
51
29,5%
21
46%
122
70,5%
25
54%
%
173
100%
46
100%
Total
Tabela 2: Aspecto verbal nas orações com quando e ((n)a) hora que
Os resultados demonstram que orações temporais com quando expressam
predominantemente aspecto imperfectivo (70,5%), comportamento que, mais uma vez,
explica-se pela possibilidade que tem essa conjunção de introduzir orações com outras
nuances circunstanciais, além da temporal. Observe-se que, nas construções em (02b) e (02c)
que exemplificam orações introduzidas por quando com nuance de condição e de concessão,
o aspecto codificado pelo verbo da oração temporal é o imperfectivo.
As orações com ((n)a) hora que, por outro lado, embora também veiculem
predominantemente aspecto imperfectivo (54%), apresentam maior tendência do que as
orações com quando para a expressão de aspecto perfectivo (46% para ((n)a) hora que, e
apenas 29,5% para quando). A esse comportamento pode estar associada uma espécie de
“compensação”: reserva-se quando à expressão de tempo não pontual, da qual, inclusive
podem decorrer outras nuances de sentido, e emprega-se ((n)a) hora que para indicar
localização temporal pontual de eventos. Favorece essa explicação o fato de que a
pontualidade temporal de eventos perfectivos marcada por ((n)a) hora que mostra-se mais
precisa do que quando essa pontualidade é marcada pela conjunção quando, conforme revela
a comparação entre as construções em (05) e (06) abaixo.
144
(5)
e::... todos ficaram surpreendidos né?... na hora que ele::... entregô(u) o carrinho
né?... na véspera de Natal... (IB-AC-011-NE, L35)
(6)
aí quando chegô(u) o dia... eu a/ eu acordei escovei meus den::tes... arrumei as minhas
coisas... e fui... esperá(r) eles chegá(r)... (IB-AC-008-NE, L9)
A maior tendência de ((n)a) hora que à ocorrência com verbos que codificam aspecto
perfectivo é ratificada pela análise do tempo verbal presente nos dois tipos de oração. Os
resultados relativos a esse fator encontram-se na Tabela 3.91
Conectivo
quando
((n)a) hora que
Correlação
nº.
%
nº.
%
modo-temporal
20,5%
14
32%
pretérito
perfeito-pretérito 34
perfeito
46%
07
16%
presente
do
indicativo- 77
presente do indicativo
8,5%
06
14%
pretérito imperfeito-pretérito 14
perfeito
4%
07
16%
presente do indicativo- futuro 06
do subjuntivo
1%
01
2%
futuro do indicativo-futuro 02
do subjuntivo
5,5%
02
4%
pretérito
perfeito-pretérito 09
imperfeito
14%
06
14%
pretérito imperfeito-pretérito 23
imperfeito
0,5%
01
2%
futuro do indicativo-futuro 01
do indicativo
166
100%
44
100%
Total
Tabela 3: Correlação modo-temporal nas construções com quando e ((n)a) hora que 92
Conforme se observa, os resultados revelam a existência de uma ampla variedade de
correlações modo-temporais possíveis. Nas ocorrências com a conjunção quando, entretanto,
a correlação “presente do indicativo - presente do indicativo” mostra-se claramente mais
frequente (46%) do que nas ocorrências com ((n)a) hora que, o que também pode estar
relacionado às diferentes nuances de sentido possíveis de serem expressas nas orações com
quando, já que, conforme demonstra Neves (2000), tanto a leitura condicional quanto a leitura
concessiva das adverbiais temporais com quando apresentam o presente como tempo verbal
característico.
Por outro lado, nas orações com a locução conjuntiva ((n)a) hora que, verifica-se o
predomínio da correlação “pretérito perfeito do indicativo - pretérito perfeito do indicativo”
91
Não estão contempladas na tabela combinações que ocorreram uma única vez e/ou apenas em um dos tipos de
construção (ou com quando ou com na hora que), não permitindo, assim, a comparação entre o comportamento
dos dois conectores. São elas: afirmativo – futuro do subjuntivo, futuro do indicativo – pretérito perfeito,
presente – pretérito perfeito, futuro do pretérito – pretérito perfeito, presente do indicativo – futuro do indicativo,
pretérito imperfeito – presente e presente – futuro do indicativo. Isso explica o fato de os resultados para esse
fator se basearem em apenas 210 das 219 ocorrências.
92
Nas correlações listadas, o primeiro elemento diz respeito ao tempo-modo do verbo da oração principal, e o
segundo, ao do verbo da oração temporal.
145
(32%). Esse comportamento se torna ainda mais significativo se somadas todas as correlações
com a locução conjuntiva em que o pretérito perfeito aparece na oração subordinada (46%),
fato que confirma a preferência, na variedade investigada, ao emprego de ((n)a) hora que, em
vez de quando, para a localização temporal de eventos passados, marcados pontualmente. Em
(07a) e (07b) abaixo, encontram-se ocorrências representativas das correlações modotemporais mais frequentes nas construções com quando e com ((n)a) hora que.
(7)
a. ele joga bo::la comigo também::... quando ele vem aqui...
(IBORUNA, AC-007-RO, L177)
b. . ....a hora que eu voltei no aeroporto o F. falô(u) assim –“146E... éh:: vai lá na
Loja... à TARde que a I. qué(r) falá(r) com você... eu num o sei que que É mas eu
acho que ela vai te contratá(r)” (IBORUNA, AC-051-NE, L78)
Os resultados relativos à análise do fator “correferencialidade dos sujeitos” nas
construções encontram-se na Tabela 4.
Conectivo
quando
((n)a) hora que
Identidade
nº.
%
nº.
%
dos sujeitos
70
40%
15
30%
idênticos
103
60%
31
70%
não-idênticos
173
100%
46
100%
Total
Tabela 4: Correferencialidade dos sujeitos nas construções com quando e ((n)a) hora que
Com relação a esse fator, a análise dos resultados permite destacar a maior tendência a
sujeitos idênticos em construções com quando do que em construções com ((n)a) hora que.
Se se considerar que, conforme propõem Hopper e Traugott (1993) e Lehmann (1988), a
identidade dos sujeitos em orações combinadas é indicativo de grau de integração e, assim, de
gramaticalização entre oração matriz e oração dependente, pode-se afirmar que também em
relação a esse fator a conjunção quando se mostra mais gramaticalizada, já que introduz
orações mais integradas à matriz com que elas ocorrem, do que a locução conjuntiva ((n)a)
hora que.
As construções em (08a) e (08b), abaixo, são ilustrativas da ocorrência de sujeitos
correferenciais, nas construções com quando, e de sujeitos não-correferenciais, nas
construções com ((n)a) hora que.
(08) a. aí quando eu vejo que começa a ficá(r) tarde assim... daí eu VÔ(u)... tomo um banho
né? (IBORUNA, AC- AC-010-RP, L291)
b. eu tava falan(d)o com a C. ... nessa hora... daÍ a hora que eu vi que a M. tava
apanhan(d)o a gente foi LÁ::.. (IBORUNA, AC-011-NE, L63)
Na Tabela 5 abaixo, encontram-se os resultados obtidos com a análise do tipo de texto
de onde foram extraídas as ocorrências de orações com quando e com ((n)a) hora que. Os
dados para este fator não incluem as ocorrências extraídas dos inquéritos integrantes da
“Amostra de Interação Dialógica”, cuja composição não envolve controle do tipo de texto
produzido.
146
Conectivo
quando
nº.
Tipo de texto
Narrativa
de 38
experiência
22
Relato de opinião
Descrição
28
((n)a) hora que
%
nº.
%
29%
15
44%
17%
01
3%
21%
04
12%
20%
09
26%
Relato
de 26
procedimento
17
13%
05
15%
Narrativa
recontada
131
100%
34
100%
Total
Tabela 5: Oração com quando e com ((n)a) hora que vs. tipo de texto
Os resultados para este fator indicam predomínio de orações iniciadas por ((n)a) hora
que em narrativas (especialmente se somados os resultados para as recontadas e as de
experiência (59%)) e em relatos de procedimento (26%), comportamento que também se
justifica em razão da marcação de tempo pontual propiciada pela locução conjuntiva.
Orações introduzidas por quando, por outro lado, apresentam percentuais mais altos
do que ((n)a) hora que em relatos de opinião e textos descritivos, tipos textuais que podem ser
considerados mais “atemporais”, em que prevalecem marcas de tempos presente e futuro.
Relatos de procedimento, em que predominam orações com ((n)a) hora que, também podem
ser considerados mais “atemporais” nesse sentido, entretanto, nesse tipo de texto, é relevante
a marcação pontual de um evento como referência, ponto de partida para o prosseguimento de
novas ações/eventos, função que pode ser cumprida por ((n)a) hora que, conforme
exemplifica o trecho em (09).
(9)
corto um monte de pedacinho de tomate... e coloco num prato... pra pra comê(r) junto
com o miojo... daí::... hora que acaba eu ti::ro... vô(u) lá:: na pia porque eu gosto de
deixá(r) um po(u)quinho de água... aí eu ti::ro um po(u)co só de água de(i)xo ele... tipo
uma SOpa sabe? que eu de(i)xo bastante água... aí:: eu:: já já coloco o molhinho de::le...
espero esfriá(r) mexo espero esfriá(r) um pouco jogo lá no prato cheio de toma::te...
daí:: acabô(u)... aí eu como (IB-AC-010-RP, L281)
Conclusões
A partir de dados representativos do português falado no interior paulista, buscou-se,
com este estudo, investigar a existência de contextos linguísticos indicativos de possível
especialização de uso da locução conjuntiva ((n)a) hora que, em comparação ao emprego da
conjunção temporal prototípica quando, na marcação de orações adverbiais temporais.
Retomando-se a clássica distinção proposta por Meillet (1948a [1912]) entre renovação,
entendida como mudança “conservadora”, e gramaticalização, concebida como mudança
“inovadora”, o principal objetivo foi averiguar em que medida o comportamento da locução
((n)a) hora que se distancia e se aproxima do comportamento da conjunção quando,
buscando-se, assim, a partir da comparação entre as duas formas conjuncionais, evidenciar
aspectos conservadores e inovadores subjacentes ao desenvolvimento do valor de conector
temporal para ((n)a) hora que.
Conforme reconhece Lehmann (2002), em grande parte dos casos de gramaticalização
são observados tanto aspectos inovadores quanto aspectos renovadores. Esse parece ser
147
também o caso de ((n)a) hora que. A análise do funcionamento da locução conjuntiva
evidenciou que são associados a essa forma conjuncional aspectos indicativos de renovação,
mas também de inovação.
De fato, não há qualquer inovação ligada a ((n)a) hora que no que diz respeito à
função de marcar orações temporais em português, isto é, de iniciar uma oração que contém
um evento em referência ao qual outro evento (expresso na oração principal) é localizado
temporalmente. Essa função gramatical existe e é desempenhada por formas conjuncionais
desde os mais antigos textos em português (MATTOS e SILVA, 2001). Nesse sentido, o
comportamento da locução conjuntiva seria apenas “renovador”.
As análises aqui descritas, entretanto, evidenciaram que ((n)a) hora que indica
nuances não marcadas, ou marcadas de modo menos direto, pela conjunção quando, o que
permite reconhecer para a forma comportamentos de mudança “inovadora”, em vez de
simples renovação analógica. Uma dessas nuances diz respeito ao aspecto pontual ligado ao
evento introduzido por ((n)a) hora que, propriedade que, aliás, como adjunto adverbial, a
forma na hora atribui ao evento que ele modifica.
Além disso, nota-se que, embora também localize um evento em relação a outro no
tempo, ((n)a) hora que o faz sem “ambiguidades”, diferentemente de quando, que, conforme
se mostrou, pode ligar construções temporais que propiciam também uma leitura causal,
condicional ou concessiva (NEVES, 2000).
Outro aspecto inovador de ((n)a) hora que diz respeito ao fato de a forma estar, a que
tudo indica, especializando-se na expressão de tempo passado, divergindo, nesse sentido, da
conjunção prototípica quando, que, conforme atestado nas análises, vem sendo mais
frequentemente empregada para a expressão de tempo presente (genérico) e de aspecto
habitual.
A relevância de se reconhecerem aspectos renovadores e inovadores de uma forma
envolvida em um processo de mudança encontra-se, conforme se propõe aqui, na
possibilidade que a análise permite de se identificarem razões, de natureza pragmáticodiscursiva, subjacentes ao desenvolvimento de uma forma, em um sistema linguístico que já
dispõe de outras formas para o cumprimento da mesma função. Essas razões se localizam nos
aspectos inovadores da forma em comparação à forma previamente existente com a qual a
forma gramaticalizada passa a conviver. Conforme se buscou demonstrar, no caso de ((n)a)
hora que, esses aspectos inovadores, que justificariam o desenvolvimento da forma na
variedade do português investigada, dizem respeito à expressão de aspecto pontual do evento
introduzido pela locução conjuntiva e à especialização de uso do conectivo na expressão de
tempo passado. Os aspectos renovadores e inovadores da locução conjuntiva ((n)a) hora que
identificados neste estudo são sintetizados no quadro a seguir.
Aspectos renovadores
•
Aspectos inovadores
Localização temporal de um evento
•
Expressão de aspecto pontual;
em relação a outro.
•
expressão de tempo passado.
Quadro 2: Aspectos renovadores e inovadores de ((n)a) hora que
Ressalte-se, por fim, que o predomínio de ((n)a) hora que em narrativas, também
atestado com análise dos resultados, pode ser interpretado como reflexo direto da inovação
propiciada pelo desenvolvimento de ((n)a) hora que como parte do paradigma dos conectivos
temporais do português, ou seja, de sua especialização na expressão de eventos pontuais,
ocorridos em um tempo passado.
148
THE TEMPORAL CONJUNCTIVE PHRASE “((N)A) HORA QUE” IN PORTUGUESE:
INNOVATIVE AND RENOVATIVE ASPECTS
ABSTRACT: The aim of this paper is to compare the behavior of temporal clauses introduced by conjunction
quando (“when”) and by conjunctive phrase ((n)a) hora que (“in the time that”) based on data from the
Portuguese spoken in in the northwestern of São Paulo. Following the distinction proposed by Meillet (1912)
between renewal, change understood as "conservative" and grammaticalization, conceived as a change
"innovative", this study investigates, specifically, to what extent the behavior of the conjunctive phrase ((n)a)
hora que is different or similar to the behavior of prototypical temporal conjunction quando. From this
comparison, we seek to highlight the "conservative" and "innovative" aspects underlying the development of
((n)a) hora que as a temporal connective. The analysis reveals that, in the dialect under investigation, the form
((n)a) hora que keeping function to locate an event in temporal relation to another (expressed in the main
clause), also fulfilled for quando, but indicates a trend of specialization for ((n)a) hora que to express pontual
events, located in the past. The results also indicate the relevance of this type of analysis for understanding the
causes underlying to grammaticalization of conjunctions.
KEYWORDS: Grammaticalization; Temporal adverbial clause; Conjunctive phrase.
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