OBSERVAR É OLHAR ATENTAMENTE PARA UM FATO OU UMA REALIDADE: UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM UMA ESCOLA PÚBLICA Área: ( X ) Química Modalidade: ( X ) Ensino ( ) Pesquisa ( ) Extensão Nível: ( ) Médio ( X ) Superior ( ) Pós-graduação ( ) Informática ( ) Ciências Agrárias ( ) Educação ( ) Multidisciplinar Claudinei DUMKE, Marilândes Mól Ribeiro de MELO. Graduando de Licenciatura em Química; Orientadora; Instituto Federal Catarinense Campus Araquari. Introdução O Estágio Supervisionado visa a formação e a inserção do acadêmico na prática profissional de professor, constituindo-se uma base de conhecimento para o futuro docente. Conforme Pimenta e Lima (2012) é o momento dos estudantes se apropriarem de mecanismos para a compreensão da escola, dos sistemas de ensino e das políticas educacionais, momento este onde o estagiário tem a oportunidade de vivenciar o ambiente escolar: é uma oportunidade de convergência das experiências pedagógicas que ocorrem no decorrer do curso. Com base nesses autores entende-se a importância da prática do estágio como recurso que contribuiu para formar o futuro docente, tendo em vista que proporciona tanto a observação, quanto a intervenção em sala de aula. Ainda acerca da mesma questão os argumentos de Santos e Oliveira (2012) orientam que os estudantes começam a se formar já no começo do período acadêmico. O Manual de Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura em Química do Instituto Federal Catarinense - Campus Araquari (2014, s/p) orienta que o objetivo geral do seu cumprimento é contribuir com a formação de educadores capazes de analisar e interagir na realidade educacional, social, política e econômica na qual se inserem, tendo como objetivos proporcionar ao aluno a observação de “aspectos históricos e políticos do Ensino Médio e Fundamental e do estabelecimento de ensino. [...] Análise do contexto social e cultural da comunidade e das famílias atendidas pela escola” (MANUAL DE ESTÁGIO, 2014). Diante do exposto esta comunicação objetiva analisar a experiência/vivência realizada no Estágio Supervisionado I1, em uma escola pública da Rede Estadual de Ensino. 1 O Estágio Supervisionado conta com quatro etapas: a observação; o desenvolvimento do projeto de pesquisa; a intervenção pedagógica e a elaboração e defesa diante de uma banca, de um artigo decorrente do desenvolvimento do projeto. Material e Métodos A Escola observada está situada no centro da cidade de São Francisco do Sul no Estado de Santa Catarina, cidade esta onde predominam as atividades portuárias e conta com 32 professores, sendo boa parte licenciados e com especialização em suas áreas. Como compromisso a escola deveria atender alunos do ensino médio, porém, atende ao ensino fundamental I (4º e 5º ano) e ensino fundamental II (6º ao 9º ano). Apresentei-me na escola como acadêmico do curso de Licenciatura em Química do IFC Campus Araquari e indaguei sobre a possibilidade da realização do Estágio Supervisionado I nesta escola. Foi sugerido que eu realizasse as intervenções nas aulas de química com experimentos, sempre seguindo o plano de ensino do professor. Expliquei que neste primeiro momento se tratava de estágio de observação, com intuito vivenciar a realidade da escola sem, contudo, fazer nenhuma intervenção. Ao iniciar as observações verificamos na biblioteca a falta de livros de literatura e científicos, bem como a pouca frequência e utilização pelos alunos. Ela atualmente serve apenas para “estocar” livros didáticos. Observei a sala dos professores, da direção e a área pedagógica: as duas últimas atualmente funcionam em um mesmo ambiente. Em outros momentos tive a oportunidade de assistir algumas aulas ministradas pelo professor supervisor; embora as aulas assistidas fossem apenas de correção de atividades e momento de tirar dúvidas, pude perceber a falta de interesse pelo ensino de química por parte dos alunos. Resultados e discussão As observações realizadas consistiram de analisar tanto o aspecto documental, quanto estrutural da escola, assim como algumas horas destinadas à observação de aulas de Química. Sobre esta questão Gauche (et al, 2008, p. 28) argumenta: “os estagiários observam aulas para avaliar a relação ensino-aprendizagem”; que se realiza em vários momentos do cotidiano da escola tais como os intervalos, além das demais atividades que foram vivenciadas na escola. A sala de aula em toda a sua organização precisa ser constituída como espaço que proporcione interação e mediação de saberes. Sobre este espaço Lück (1998) afirma: professores e alunos são coparticipantes e responsáveis; são agentes por excelência do processo de ensinar e aprender. É um espaço físico, mas também de relações sociais, de crenças e conceitos que se fundem e orientam as ações, os deveres, os direitos, e as expectativas. A escola não possui sala de informática, contando apenas com dois computadores disponíveis na biblioteca para uso geral dos alunos. Não possui laboratório de ciências para aulas práticas; ele foi desativado por motivo de estruturas frágeis do prédio. No que diz respeito a biblioteca, se encontra em uma sala improvisada, dividindo o espaço de atendimento com alunos que precisam receber Atendimento Educacional Especializado (AEE) tais como, déficit de atenção e surdos, mas este não seria um problema, ao contrário um espaço de inclusão. O que observamos é que este espaço assumiu uma função de simples “depósito de livros”, pois em seu acervo constam apenas livros didáticos que são pouco utilizados pelos professores e uma caixa com livros de literatura. Nas condições em que ela se encontra ela não cumpre sua função de contribuir para que o estudante “se torne não apenas um visitante eventual desse espaço, mas se transforme em usuário habitual em busca de leituras e fontes geradoras de informações novas” (BEZERRA, 2008, p. 4) e nem pode ser considerada como um “laboratório, porque ela [não] oferece aos seus usuários vários materiais bibliográficos e, com o seu uso, favorece para que os alunos passem a conhecer e a se interessar por uma gama de informações diversificadas e melhorem na alfabetização, leitura verbal e não verbal” (BEZERRA, 2008, p. 4). A sala de professores pode se constituir em um espaço importante de socialização profissional, portanto, não pudemos observar se as condições físicas deste espaço contribuem para que os professores se articulem e interajam, ou sé é um lugar “destituído do seu papel, descaracterizado da sua função, des-propriado do seu público” (IÓRIO, 2013, p. 10). Ainda de acordo com a mesma autora é um espaço ímpar de coletivizar, informalizar e internalizar as atividades docentes. A direção divide o espaço com o apoio pedagógico, havendo assim uma constante interação entre direção e comunidade escolar, porém este pode ser um impasse, pois a direção e o apoio pedagógico deveriam estar em lugares distintos pois haveria um melhor diálogo entre a comunidade e a escola. No Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola constam as regras e normas baseadas na Proposta Curricular de Santa Catarina; matrizes curriculares e a Metodologia de ensino que a regem, assim como o regimento escolar estudantil (Frequência, Avaliação, Organização da Sala, Matrícula, Transferência, Dependência, Horários) e se orienta por três desafios educacionais: perspectiva na formação inicial, concepção de percurso formativo e atenção à concepção da diversidade; estes três fatores aparecem como seus objetivos específicos, inclusive sendo citados na elaboração do documento. No que diz respeito aos aspectos metodológicos, o professor estabelece suas próprias metodologias de ensino aprendizagem, tendo como base o PPP, que o orienta em caso de dúvidas. O professor deve atuar sempre considerando o acompanhamento dos processos de desenvolvimento do estudante, obtidos sob a forma de observação das crianças e adolescentes, revelando suas particularidades individuais. Segundo a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (2014, p. 31) é importante considerar as potencialidades humanas. O documento orienta a mudança e atribui autonomia ao professor incentivando a alternância da metodologia do trabalho pedagógico em sala de aula. O regimento escolar está preocupado com o bem-estar do estudante e os acompanhamentos são feitos mediante as atividades propostas. O problema do disciplinamento também está muito marcado no PPP. Ao analisar o regimento escolar, que está nele inserido, verificamos que o disciplinamento dos estudantes ocorre por meio de base legal; isto é, por meio de documentos oficiais da escola. Paniago e Fernandes (2013, p. 69), assinalam que “o dispositivo de vigilância permite uma ação controladora” e que “até mesmo as necessidades fisiológicas passam por normatizações para que os jovens se enquadrem em padrões aceitáveis”. Ao analisar o regimento escolar, que está inserido no PPP verificamos que o disciplinamento dos estudantes ocorre por meio de base legal; isto é, por meio de documentos oficiais da escola. Conclusão O Estágio Supervisionado I acrescenta muito ao crescimento profissional e acadêmico no que diz respeito as estratégias e atividades desenvolvidas pela escola. Vivenciar esta etapa do estágio oportunizou a aproximação das atividades da escola. Foi possível assistir a algumas aulas de química do Professor de Química. Por meio dessas atividades vivenciei as dificuldades que podem ser encontradas numa sala de aula e a importância do professor como mediador do conhecimento. Foi possível também entender como se organiza uma escola, bem como suas perspectivas perante a sociedade e percebeu-se os desafios que um professor enfrenta em sala de aula. Com as observações realizadas pudemos perceber o quão importante é a formação de profissionais da educação qualificados com domínio de conteúdo e capazes de contribuir com a formação humana, se tornando sujeitos que orientam diretamente a mudança em todo ambiente escolar. Esta etapa um do Estágio Supervisionado II, permitiu-se consolidar ideias para desenvolver um projeto que contribua para o desenvolvimento da disciplina de Química na escola, incentivando o ensino de química a partir das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC’s, que se fazem presentes no cotidiano do estudante. Referências BEZERRA, M. A. C.; O papel da biblioteca escolar: importância do setor no contexto educacional. CRB-8 Digital, São Paulo, v. 1, n. 2, p. 4-10, out. 2008. (http://www.crb8.org.br/ojs/crb8digital). Acesso: 22/06/2016. GAUCHE, R.; SILVA, R. R.; BAPTISTA, J. A.; SANTOS, W.L. P.; MOL, G. S.; MACHADO, P. F. L.; Formação de professores de Química: Concepções e Proposições. 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O estágio supervisionado - um momento de fundamental importância no processo de formação profissional. II Congresso de Educação – UEG/UnU Iporá A formação de professores: uma proposta de pesquisa a partir da reflexão sobre a prática docente. (www.cdn.ueg.br/arquivos/ipora/conteudoN/974/CE_2012_06.pdf) Acesso: 07/07/2015.