BURACO NA PAREDE: janela para o mundo Em computadores instalados nas ruas, crianças pobres da Índia aprendem em um instante a navegar na internet. Na manhã do dia 26 de janeiro de 1999, em Nova Delhi, na Índia, os moradores de uma favela que passavam perto do prédio da NIIT (National Indian Institute of Technology), instituto indiano de tecnologia, levaram um susto: em uma abertura feita na parede estava instalado um computador. Entre risos desconfiados, e exclamações que exprimiam um certo receio e uma boa dose de curiosidade, um grupo de pessoas, principalmente crianças, começou a mexer no equipamento. Estavam, sem sabê-lo, participando de uma experiência batizada de “Hole-inthe-Wall” (buraco na parede), concebida pelo doutor Sugata Mitra, chefe do Centro de Pesquisa em Sistemas Cognitivos do NIIT. gavam pela rede sem maiores dificuldades e eram capazes de recortar, copiar e colar, assim como criar pastas e mover arquivos. Também haviam aprendido a desenhar utilizando um programa gráfico, a baixar jogos e arquivos de música. Foto: Arquivo pessoal de J.C. Teatini Semeando informação O NIIT, instituto especializado em tecnologia da informação, foi fundado há cerca de vinte anos e alcançou grande sucesso em dar suporte de software e treinamento a instituições e empresas. Além de atuar por toda a Índia, está presente em quase quarenta países do mundo. Uma das propostas do projeto Buraco na Parede – financiado pelo governo inEm bairro de Nova Delhi, crianças passeiam pela internet. diano, por instituições locais e pelo Banco Mundial – é mostrar como crianAprendizado relâmpago ças que vivem nas ruas aprendem sozinhas e raIntrigadas com as imagens e ícones que viam na pidamente a utilizar computadores e a internet. Isso tela, as crianças aprenderam, sem nenhum tipo de ajudá uma boa idéia do papel que os computadores da – no início hesitantes, mas ganhando impressiopodem desempenhar na educação de milhões de nante desenvoltura em questão de minutos – a utiliindianos. zar o computador e acessar a internet. Começaram a O experimento pretende vir a render frutos não sobrincar com o mouse, em pouco tempo se deram conta mente no aprendizado de informática, mas também de que ao movê-lo e clicar em seus botões, algo se nos sistemas de ensino em geral. O processo de movia também na tela. Excitadas, chamaram os amiaprendizagem foi denominado “educação minimamengos para que vissem o novo “televisor”, em que era te invasiva”, pois, ao contrário dos métodos pedagópossível mudar a cena usando os dedos. gicos convencionais, há pouca ou nenhuma intervenCom grande rapidez, perceberam que o cursor ção de educadores no processo de aprendizagem. adotava a forma de uma mão quando se aproximava Atualmente, o experimento já foi implementado em de uma palavra sublinhada, acidentalmente descoinúmeras regiões pobres da Índia, tendo sido criados briram que era possível mudar a página, e minutos quiosques de alvenaria dos mais variados tipos para depois já estavam navegando pela internet. instalar as máquinas. Mas em cada lugar a reação Em poucos dias, aquelas crianças – que, além das crianças é similar à do grupo de Nova Delhi, com de nunca ter utilizado um computador, tinham muito surpreendentes resultados de aprendizagem. pouco ou nenhum conhecimento de inglês – já nave- TV E SCOLA 43