H.1.1 – Artes ou Educação Artística O ensino de Arte na perspectiva das relações étnico-raciais: vivenciando um projeto teatral com alunos do Ensino Fundamental II. Monique Priscila de Abreu Reis1, Tatiane Cosentino Rodrigues2 1. Mestranda em Educação pela UFSCar, São Carlos/SP * [email protected] 2. Pesquisadora do Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos/SP Palavras Chave: relações raciais, teatro, educação. Introdução Esta apresentação é resultado de um projeto vivenciado no ano de 2014 em uma escola pública de Educação Básica. Atuando como professora de Arte em escolas de diferentes cidades e com alunos de condições socioeconômicas e culturais diferentes foi possível perceber que há muitas manifestações de discriminação e desrespeito com as diferenças, tanto por parte dos alunos, como por parte de alguns educadores e outros agentes escolares. A partir de estudos das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana,foi possível constatar como a temática ainda é pouco explorada na sala de aula e pensar em formas de como inserir o conteúdo nas aulas de Arte. O projeto foi realizado com alunos do 6° e 7° anos, nos segundo e terceiro bimestres, e tinha como objetivo trabalhar a temática das relações étnico-raciais nas aulas de Arte. Foram realizadas atividades teóricas e práticas englobando oralidade, corporeidade e musicalidade, buscando o reconhecimento do corpo todo como instrumento de comunicação. A partir desta introdução foi possível iniciar um processo de criação de duas apresentações teatrais a partir de contos africanos utilizando mais de uma técnica de montagem: as cenas foram divididas em momentos com apresentação de teatro de sombras com bonecos de papel e momentos com atuação direta dos alunos/atores. Realizamos um estudo dos contos selecionados e pesquisamos sobre as regiões da África das quais se originaram. Dentre os objetivos podemos destacar: trabalhar história e cultura africana de forma a envolver os alunos e tornar significativo este momento; trabalhar a corporeidade e oralidade respeitando as diferentes formas de expressão; dominar a manipulação dos bonecos no teatro de sombras e as técnicas de interpretação teatral; desenvolver expressão corporal e expressão vocal. Resultados e Discussão Para contemplar as expressões diferentes e para que os alunos se sentissem à vontade para participar, foram montados duas apresentações teatrais utilizando-se da técnica de teatro de sombras com bonecos de papel, que possibilitava que o aluno/bonequeiro ficasse resguardado atrás de uma caixa, e também de momentos em que a cena se transportava para fora da caixa e os alunos/atores interpretavam a cena no lugar dos bonecos. Assim, os alunos que não queriam aparecer diretamente na cena, podiam participar de forma ativa quando da execução da manipulação. Todo o trabalho foi realizado de forma conjunta, desde o planejamento e confecção dos bonecos até a montagem das apresentações. Todos os alunos foram incluídos no processo realizando as atividades que se propusessem a fazer. Com o 6° ano foi trabalhado o conto O Príncipe Medroso e os alunos pesquisaram sobre a região da Etiópia e da Somália. E o sétimo ano trabalhou com o texto A princesa, o fogo e a chuva, pesquisando sobre a região de Gana. Houveram ainda debates sobre os temas racismo e preconceito, nos quais os alunos demonstraram grande interesse em participar. Neste processo foi importante a pesquisa e exposição de imagens de diferentes etnias africanas para que os alunos compreendessem a diversidade e a riqueza das culturas africanas. Ao final do processo foram realizadas duas apresentações para as demais turmas das escolas e professores. Figura 1. Ensaio com a caixa do teatro de sombras. Conclusões Partindo do entendimento de que a arte está diretamente ligada ao contexto histórico e cultural e, do conceito de relativismo cultural, que diz que não há uma hierarquia entre as culturas, podemos pensar que o ensino de Arte deve levar em conta as várias linguagens artísticas, os muitos contextos, apresentando o vasto conhecimento produzido ao longo da história, e também se ater ao universo cultural do aluno, proporcionando trocas culturais. Por meio de projetos de educação das relações étnicoraciais na escola, os alunos podem refletir sobre os diversos tipos de contribuições culturais, percebendo melhor sua própria cultura e apropriando-se dela cada vez mais. O projeto realizado na escola na perspectiva da educação das relações étnico-raciais e abordando história e cultura africana possibilitou ampliação dos horizontes dos alunos, permitindo o desenvolvimento de seu potencial criativo e ofereceu subsídios para que se descobrissem como um ser ativo, capaz de intervir na realidade. A experiência foi bem sucedida e, em consonância com o campo normativo da educação das relações étnico-raciais, a arte é indicada como área prioritária de trabalho pois permite o reconhecimento do corpo como parte do currículo, a construção da identidade étnico-racial e a valorização da produção cultural afrobrasileira e africana. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étinico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana, 2004. GOMES, Nilma Lino. Educação, identidade negra e formação de professores/as: um olhar sobre o corpo negro e o cabelo crespo. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.1, p. 167-182, jan./jun. 2003 SOLER-PONT, Anna. A princesa, o fogo e a chuva. In: Soler-Pont, Anna.O príncipe medroso e outros contos africanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 27-30. SOLER-PONT, Anna. O príncipe medroso. In: Soler-Pont, Anna.O príncipe medroso e outros contos africanos. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 31-37. 67ª Reunião Anual da SBPC