UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA Estudo dos teores de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento, musgos e fungos liquenizados, da Ilha Rei George, Península Fildes, Antártica utilizando a técnica de ICP-MS Bruna Miurim Dalfior Dissertação de Mestrado em Química Vitória 2015 1 Bruna Miurim Dalfior Estudo dos teores de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento, musgos e fungos liquenizados, da Ilha Rei George, Península Fildes, Antártica utilizando a técnica de ICP-MS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Química, na área de Química Analítica. Orientador(a): Profa. Dra. Geisamanda Pedrini Brandão Athayde Co-orientador: Prof. Dr Marcus Vinícius Vaughan Jennings Licínio VITÓRIA 2015 2 Estudo dos teores de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento, musgos e fungos liquenizados, da Ilha Rei George, Península Fildes, Antártica utilizando a técnica de ICP-MS Bruna Miurim Dalfior Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Química. Aprovado(a) em 30/10/2015 por: __________________________________________ Profa. Dra. Geisamanda Pedrini Brandão Athayde Universidade Federal do Espírito Santo Orientador __________________________________________ Prof. Dr. Marcus Vinicius Vaughan Jennings Licínio Universidade Federal do Espirito Santo Co-orientador __________________________________________ Profa. Dra. Maria Tereza Weitzel Dias Carneiro Universidade Federal do Espírito Santo __________________________________________ Prof. Dr. Clésia Cristina Nascentes Universidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal do Espírito Santo Vitória, outubro de 2015 3 Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil) ___________________________________________________________________ Dalfior, Bruna Miurim, 2015R672e Estudo dos teores de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento, musgos e ungos liquenizados, da Ilha Rei George, Península FIldes, Antártica utilizando a técnica de ICP-MS 1 Bruna Miurim Dalfior. - 2015. XXf.: il. Orientador: Geisamanda Pedrini Brandão Athayde. Co-Orientador: Marcus Vinícius Vaughan Jennings Licínio. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Exatas. 1. ICP-MS. 2. Antártica. 3. Matrizes Ambientais. 4.Quimiometria. I. Brandão,Geisamanda Pedrini. II. Licínio, Marcus Vinícius Vaughan Jennings. III. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Exatas. IV. Título. CDU: 54 ___________________________________________________________________ 4 A Deus por me permitir viver esse momento e por estar sempre comigo sendo meu amparo e refúgio. Aos meus pais por terem me ensinado a caminhar pelos bons caminhos sempre com muito amor e zelo. 5 AGRADECIMENTOS A realização deste trabalho não seria possível sem a contribuição de muitas pessoas e instituições aos quais quero deixar os meus sinceros agradecimentos. A Deus por estar sempre ao meu lado e que a cada novo nascer do Sol renova as minhas forças me dando coragem e sabedoria para continuar; Aos meus pais Rose e João e a minha querida irmã Brenda por acreditarem em mim, por compreenderem todas as minhas especificidades e por todo amor e carinho que me dedicam; Ao meu noivo e companheiro, Alexandre, por estar sempre ao meu lado nos felizes e não tão felizes momentos me apoiando e incentivando para que eu nunca desistisse; À Profa Dra. Geisamanda Pedrini Brandão Athayde pela orientação, pelos ensinamentos, pela confiança em mim depositada e pela paciência o meu sincero muito obrigada; Ao Prof. Dr. Marcus Vinicius Licinio e a Profa. Dra. Maria Tereza por sempre colaborar com ensinamentos e também no desenvolvimento do trabalho; Aos colegas do Laboratório de Espectrometria Atômica (LEA) vocês foram fundamentais para que meus dias fossem menos pesados, menos sofridos. Aos amigos queridos que fiz obrigada por participarem e auxiliarem no desenvolvimento do trabalho. Ao Departamento de Química e ao Núcleo de Competências em Química do Petróleo pela estrutura, suporte e realização das análises; Ao Programa de Pós-Graduação em Química da Universidade Federal do Espírito Santo pela ajuda e suporte durante todo o mestrado; Ao CNPq, CAPES e FAPES pelo apoio finaceiro; 6 Ao Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR), por gerar toda a logística de coleta das amostras de sedimento, musgos e fungos liquenizados; O meu agradecimento e gratidão a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este trabalho pudesse ser realizado da melhor forma possível. 7 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: Localização geográfica das cinco estações de pesquisa permanente e da pista de pouso na Península Fildes, Ilha Rei George FIGURA 2: Fungo liquenizado: associação entre células da alga (fotobiontes) e hifas do fungo (micobionte). (Fonte: Spielmann; Marcelli; Cerati, 2006) FIGURA 3: Causas de erro em análise química. (Fonte: Analytical Methods Committee, 2013) FIGURA 4: Desenho de um instrumento de ICP-MS e sistemas de introdução da amostra no plasma. As linhas pontilhadas representam a amostra introduzida na forma de vapor e a linha cheia na forma de aerossol (TESE FREDERICO-UFMG). FIGURA 5: Coleta e armazenamento das amostras de sedimento, musgos e fungos liquenizados. FIGURA 6: Pontos de coleta de amostras na Península Fildes, Ilha Rei George, Antártica. FIGURA 7: A: Fungo Liquenizado da espécie Usnea Fasciata; B: Musgo da espécie Sanionia uncinata. FIGURA 8: ICP-MS modelo NexIon, Perkin Elmer. FIGURA 9: Distribuição da concentração de Pb Península Fildes. FIGURA 10: Distribuição da concentração de Cd Península Fildes. FIGURA 11: Distribuição da concentração de Sn Península Fildes. FIGURA 12: Distribuição da concentração de Hg na Península Fildes. FIGURA 13: Distribuição da concentração de Mo na Península Fildes. FIGURA 14: Distribuição da concentração de As na Península Fildes. 8 FIGURA 15: Distribuição da concentração de As na Península Fildes. FIGURA 16: Distribuição da concentração de Co na Península Fildes. 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Valores de prevenção para os elementos em estudo apresentados na CONAMA. Tabela 2: Efeitos da toxicidade de baixas doses de mercúrio nos sistemas do corpo humano. Tabela 3:Coordenadas e características dos pontos de coleta na Península Fildes. Tabela 4: Condições e parâmetros instrumentais. Tabela 5: Valores de recuperação obtidos nas amostras de sedimentos da Antártica extraídas (ASTM D3974-09) analisadas por ICP-MS. Tabela 6: Isótopos de Co, V e As e suas interferências poliatômicas mais abundantes. (Adaptado de May e Wiedmeyer, 1998) Tabela 7: Limites de detecção (LD) e de quantificação (LQ) do método de determinação e nas amostras. Tabela 8: Concentração dos elementos encontradas nas amostras de sedimento coletadas nos diferentes pontos da Península Fildes - Antártica. 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ICP-MS – Espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry) IUPAC – União Internacional de Química Pura e Aplicada (International Union of Pure and Applied Chemistry) CRM – Material de referência certificado LD – Limite de detecção LQ – Limite de quantificação PI – Padrão interno Fig – Figura Hex – Hexano 1 – Relação alfabética 11 RESUMO O continente Antártico é um dos poucos lugares que não foi explorado em sua totalidade, porém estudos revelam que esse local está sofrendo interferência pelas atividades antrópicas. Por esse motivo, o monitoramento desta região torna-se muito importante. Após otimização e verificação da metodologia as concentrações biodisponíveis nas amostras de sedimento coletadas ao longo de toda a Península Fildes, Ilha Rei George, Antártica, foram determinadas por ICP-MS. As faixas encontradas em µg kg-1 foram 525,17 – 2314,11 (Pb), 54,83 – 193,77 (Cd), 54,83 – 193,77 (Sn), 2095,04 – 11094,1 (Co), < 2,4 – 54,61 (Hg), < 5,3 – 38,66 (Mo) e 120,31 – 1297,06 (As). Quando comparados esses valores com os descritos na literatura verifica-se que estão abaixo ou dentro da faixa já reportada. A presença desses elementos nas amostras pode ser atribuída à diferentes fatores, tais como a composição natural do sedimento, a contaminação por estações científicas, a existência de uma pista de pouso local, além do transporte local e global de elementos químicos causados pelos fenômenos físicos, o que acarretaria a deposição dos mesmos em diferentes matrizes. Palavras-chave: SEDIMENTO; ANTÁRTICA; ELEMENTOS TRAÇO; ICP-MS. 12 ABSTRACT The Antarctic continent is one of the few places that has not been explored at all, but studies show that this place is suffering interference by human activities. Therefore, monitoring of this region becomes very important. After optimization and verification methodology of the bioavailable concentrations in sediment samples collected throughout the Fildes Peninsula, King George Island, Antarctica, were determined by ICP-MS. The ranges found in mg kg-1 were 525.17 to 2314.11 (Pb), from 54.83 to 193.77 (Cd), from 54.83 to 193.77 (Sn), from 2095.04 to 11094.1 (Co) <2,4 - 54,61 (Hg) <5.3 - 38,66 (Mo) and 120.31 - 1297.06 (As). When comparing these values with those described in the literature it appears that are below or within the range already reported. The presence of these elements in the samples can be attributed to different factors, such as the natural composition of sediment contamination by scientific stations, the existence of a local landing floor, besides the local and global transport of chemical elements caused by physical phenomena, which would result in the deposition of the same in different matrices. Keyword: UFES. CCE. DQUI. 13 SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................................................................... 15 1.1 O Continente Antártico ............................................................................................... 15 1.2 Matrizes Ambientais .................................................................................................... 17 1.2.1 Sedimento ........................................................................................ 17 1.2.2 Fungos Liquenizados ....................................................................... 19 1.2.3 Musgos............................................................................................. 21 1.3 Ocorrência e Toxicologia dos elementos traço em estudo ................................... 22 1.3.1 Chumbo......................................... ....................................................22 1.3.2 Cádmio ............................................................................................. 23 1.3.3 Estanho ............................................................................................ 24 1.3.4 Cobalto ............................................................................................. 25 1.3.5 Mercúrio ........................................................................................... 25 1.3.6 Molibdênio ........................................................................................ 27 1.3.7 Arsênio ............................................................................................. 28 1.4 Preparo da amostra ................................................................................................ 29 1.5 Análise de elementos traço em amostras ambientais....................................... 31 1.5.1 A técnica de ICP-MS..................................................................... 32 2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 35 2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 35 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: .................................................................................... 35 3. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................................. 36 3.1 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 36 3.1.1 Reagentes e equipamentos ............................................................................ 36 3.1.2 Coleta da amostra ............................................................................................. 37 3.2 Procedimento Experimental .................................................................................. 39 3.2.1 Preparo de amostra........................................................................ 39 3.2.1.1 Sedimento .................................................................................. 39 3.2.1.1.1 ASTM D3974-09 ................................................................... 40 3.2.1.1.2 EPA 3051a............................................................................ 40 3.2.2 Musgos e Fungos Liquenizados ....................................................... 40 3.3 ANÁLISE ....................................................................................................................... 41 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 42 14 1. Introdução 1.1 O Continente Antártico O Continente Antártico e a ilhas que o cercam estão centrados no Polo Sul geográfico e possuem uma área aproximada de 14 milhões de Km2, toda essa área é cercada pelo Oceano Antártico que é formado pelo encontro das águas dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Além disso, cerca de 98% do continente é coberto por gelo (Bargagli, 2008).\p As características apresentadas acima evidenciam o isolamento geográfico e as condições climáticas extremas do ambiente Antártico, por isso esse é considerado um dos locais mais preservados do mundo e por muito tempo foi denominado como um ambiente controle, porém estudos mostram que essa região não tem escapado do impacto das atividades antrópicas (Bargagli, 2008; Gasparon & Matschullat, 2006; Celis et al., 2012). Devido ao isolamento a Antártica demorou algum tempo para que seus bens naturais começassem a ser explorados. Foi a partir de 1900 que as Ilhas Antárticas começaram a ser exploradas principalmente para a pesca de baleias e outros animais marinhos o que provocou o transporte e introdução de espécies animais e vegetais exóticas, acarretando um desequilíbrio ambiental. Além disso, algumas espécies de animais marinhos da região estiveram próximos à extinção (Bargagli, 2008; Leal et al., 2008) Nos últimos 50 anos a Antártica tem se tornado um espaço de estudos científicos, com a implantação de estações de pesquisa de diversas nacionalidades. Atualmente existem cerca de 79 estações científicas nas Ilhas Antárticas, sendo uma parte permanente e outra somente em funcionamento nas estações de verão (Martins et al., 2012). O crescimento das atividades antrópicas nesse continente impulsionou a regulamentação de normas que visam à diminuição dos impactos causados pela ocupação humana. Nesse intuito foi assinado em 1991 o Protocolo de Proteção Ambiental do Tratado da Antártica, principal documento internacional que 15 regulamenta as atividades na Antártica. Ficando estabelecido que este território se caracterize como uma reserva natural destinada a paz e a ciência, excluindo todo e qualquer tipo de exploração (Vodopivez; Smichowski; Marcovecchio, 2001). Além da contaminação causada pelas estações científicas, pesquisadores tem se empenhado em estudar a poluição causada a partir da absorção de poluentes provenientes do transporte de partículas pelas correntes de ar e marítimas em grande escala geográfica, originados das atividades humanas desenvolvidas em outros continentes (Vodopivez, C.; Smichowski, P.; Marcovecchio, J., 2001; Cipro et al., 2011). Dentro do continente Antártico existem locais mais vulneráveis a contaminação por transporte devido a sua proximidade com a América do Sul, como é o caso do Norte da Península Antártica e algumas ilhas ao redor, dentre elas a Ilha Rei George (Jerez et al., 2013; Bargagli, 2008). A Península Fildes é uma área que se localiza na Ilha Rei George, onde atualmente funcionam várias estações de pesquisa permanente e uma pista de pouso (Fig. 1), o que evidencia alta presença humana, sendo que é a região que apresenta maior número de pinguins, o que confere a essa local um maior impacto (Andrade, 2012). Figura 1: Localização geográfica das cinco estações de pesquisa permanente e da pista de pouso na Península Fildes, Ilha Rei George (Lu et al., 2012). 16 Diversos estudos de monitoramento ambiental vem sendo desenvolvidos nessa Ilha com o intuito de verificar e identificar os impactos causados pela poluição. Licínio e colaboradores (2008) propuseram uma reconstrução temporal da contaminação de elementos traço na Baía Almirantado, Antártica. Foi detectado um aumento nos perfis do sedimento em relação aos elementos Cr, Cu e Ni, que pode estar relacionado ao uso de petróleo e tintas, uma vez que os solos analisados foram coletados nas proximidades das estações de pesquisa. O monitoramento de elementos traço em algumas espécies de pinguins da Ilha Rei George e da Ilha Decepção, ambas no sul da Antártica, sugeriu a existência de uma relação entre o aumento dos níveis de elementos como Cr, Ni, Pb, Mn, Cd e As e as atividades antrópicas, sendo estas as possíveis fontes de contaminação (Jerez et al., 2013). 1.2 Matrizes Ambientais Os metais estão presentes no meio ambiente de forma natural. No entanto, atividades antrópicas fazem com que uma carga maior desses elementos, muitas vezes tóxicos, sejam introduzidos no ambiente, fazendo com que o monitoramento desses seja necessário (Santos et al., 2005). Diversas matrizes tem sido utilizadas em estudos de monitoramento ambiental. Dentre elas pode-se citar: sedimento, água, plantas bioindicadoras, organismos de ambientes marinhos, entre outros. A determinação desses elementos traço contribui na avaliação da disponibilidade desses contaminantes para os seres vivos que habitam o local (Sastre et al., 2002; Gasparon & Matschullat, 2006; Celis et al., 2012). 1.2.1 Sedimento Os sedimentos são definidos como uma mistura de fragmentos de rocha e de solo que sofreram processo de intemperismo físico e/ou químico e erosão. Atualmente essa matriz tem sido muito estudada uma vez que ela pode indicar a condição do 17 ambiente, por possuir a capacidade de agir como um reservatório para esses elementos. Além disso, as propriedades físicas e químicas como pH, tamanho de partículas, teor de matéria orgânica e as características decorrentes da geologia da área em que se encontra tem grande influência na disponibilidade desses contaminantes (Santos et al., 2005; Figueroa; Jimenez; Sierra, 2006; Licínio et al., 2008; Lu, et al., 2011). Os elementos traço podem estar adsorvidos na superfície do sedimento ou podem estar ligados a hidróxidos, carbonatos, matéria orgânica, sulfetos e/ou a própria matriz do sedimento (Oliveira, 2012; Seibert, 2002). Os sedimentos da Península Antártica em sua maioria são constituídos principalmente por derivados de basaltos andesitos e rochas piroclásticas, porém em alguns pontos pode-se encontrar derivados de rocha sedimentar (Bolter, 2011). A determinação da concentração de elementos traço nesse tipo de matriz é um dos primeiros testes para a avaliação do estado de poluição e periculosidade do local (Gaudino et al., 2007). Muitos pesquisadores têm avaliado o impacto ambiental das atividades antropogênicas através da determinação da concentração de elemento traços nessa matriz. Estudos de poluição ambiental foram realizados na Baía Kendari, Indonésia, onde foi avaliada a concentração e o nível de poluição por Pb, Cd e Cr em amostras de sedimento. Os autores avaliaram que a concentração encontrada desses elementos ainda não é suficiente para indicar que essa é uma região contaminada (Armid et al., 2014). Ribeiro e colaboradores (2011) determinaram a concentração de As, Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn em perfis de sedimento da Baía Almirantado, Antártica. Observou-se maiores teores de Cu e Zn, já em estudos de enriquecimento e geocronologia notase que o resultado mais relevante é encontrado para As em amostras coletadas próximo à estação Comandante Ferraz. O aumento do teor desse elemento pode estar associado as atividades desenvolvidas no local (Ribeiro et al., 2011). 18 Diversos órgãos e conselhos ambientais de vários Estados e países estabelecem algumas orientações e parâmetros de controle que devem ser monitorados. No Brasil a Resolução CONAMA n° 420 de 28 de dezembro de 2009 do Ministério do Meio Ambiente estabelece alguns valores de concentração de elementos traço em sedimento, fornecendo assim uma orientação sobre a qualidade e as alterações do solo. Devido ao fato da área de estudo deste trabalho não apresentar uma legislação que regulamente as concentrações de elementos traço, este trabalho utilizará como base de comparação diferentes resoluções, dentre elas a CONAMA. De acordo com a CONAMA, as concentrações de referência para os elementos em estudo devem ser estabelecidas pelos Estados, o qual deve estabelecer um valor mínimo. Essa resolução apresenta os valores de prevenção que estão descritos na Tabela 1. Tabela 1: Valores de prevenção para os elementos em estudo apresentados na CONAMA. Substância Concentração de prevenção (mg kg-1 de peso seco) Arsênio 15 Cádmio 1,3 Chumbo 72 Cobalto 25 Mercúrio 0,5 Molibdênio 30 Vanádio - (Fonte: Resolução Conama n° 420/2009) 1.2.2 Fungos Liquenizados Os fungos liquenizados são uma associação simbiótica entre fungos e algas. Na simbiose liquênica as algas verdes e cianobactérias são chamadas de fotobiontes por realizarem fotossíntese, enquanto os fungos são caracterizados como micobiontes (Lutzoni; Miadlikowska, 2009). Dessa forma fungo liquenizado é a união de um micobionte e um fotobionte como mostra a Figura 2. 19 Figura 2: Fungo liquenizado: associação entre células da alga (fotobiontes) e hifas do fungo (micobionte). (Fonte: Spielmann; Marcelli; Cerati, 2006) Os líquens podem ser separados de acordo com sua forma ou tipo morfológico, podendo ser classificado como crostoso, esquamuloso, folioso, microfolioso e fruticoso. Além disso os fungos liquenizados ocorrem em diversos tipos de substrato como cascas de árvore, folhas, rocha, solo, musgos, característica que possibilita sua identificação, uma vez que determinadas espécies são bastante seletivas (Spielmann; Marcelli; Cerati, 2006). Os líquens apresentam diversos usos especialmente na indústria de cosméticos, em atividade antitumoral e antibiótica e na datação de determinados substratos. Além disso, vem sendo amplamente utilizado no biomonitoramento da qualidade do ar por ser uma espécie sensível a poluição (Spielmann; Marcelli; Cerati, 2006). A grande sensibilidade das espécies de fungos liquenizados está relacionada a sua biologia vegetal, uma vez que não apresentam em sua anatomia estômatos e cutículas o que favorece a absorção de gases poluentes e aerossóis pelo talo que rapidamente se difundem pelos outros tecidos. Devido à ausência dessas estruturas os líquens não excretam e nem selecionam as substâncias que são absorvidas (Kaffer, 2011). Diversos estudos de monitoramento ambiental vêm utilizando essa matriz para determinar os impactos causados pelas diferentes atividades humanas. Pesquisas realizadas com macrolíquens fruticose Usnea antártica coletados na Ilha James Ross, Antártica, identificaram que a concentração de mercúrio estava elevada (≤ 2,73 mg Kg-1) quando comparada com fungos liquenizados de outras 20 partes da Península Antártica. Já a concentração dos outros elementos como As, Cd, Co, Cr, Cu, Mn, Ni, Fe, Pb e Zn estavam dentro dos limites relatados em outros trabalhos (Zverina et al., 2014). Em uma pesquisa realizada na Península Fildes por Guerra e colaboradores (2011) observou-se que os líquens apresentaram uma concentração considerável de chumbo, mesmo na região considerada controle. Justifica-se o grande acúmulo de elementos traço nessa matriz devido à alta tolerância dos fungos liquenizados, já que alguns metabolitos produzidos por este organismo forma complexos estáveis com metais. 1.2.3 Musgos Comportamento similar é apresentado pelos musgos, uma classe de briófitas, cuja absorção de nutrientes e de possíveis contaminantes também é feita através do ar (Raven; Evert; Eichhorn, 2007) ambos vem sendo utilizados em pesquisas de biomonitoramento da poluição atmosférica dada a facilidade na coleta e a capacidade de absorção direta dos contaminantes, estima-se que sua capacidade de absorção chega a exceder em mais de 100 vezes a capacidade das plantas vasculares (Cipri et al., 2011; Bekteshi et al., 2015). Entre os diversos tipos de bioindicadores, os musgos estão descritos como os mais utilizados em pesquisas de biomonitoramento da poluição na Europa. Algumas características como o fato de não possuírem cutícula e raiz proporcionam uma exposição direta aos poluentes atmosféricos, bem como uma boa absorção desses contaminantes. Outra característica importante é devido ao fato desse bioindicador crescer em qualquer lugar independente do clima, a taxa de crescimento dessa classe de briófitas é muito lento o que proporciona um grande acúmulo de poluentes. Além disso, os musgos apresentam tolerância e sensibilidade à boa parte dos poluentes (Gonzákes; Pokrovsky, 2014; Wu; Wang; Zhou, 2014). Em um estudo realizado por Bargagli e colaboradores (2007), foi discutida a distribuição de Hg em amostras de fungo liquenizado, musgos e sedimento provenientes da Antártica. As concentrações de mercúrio nas amostras de musgos e líquens encontravam-se próximas, é cerca de 26 vezes maior que a encontrada nas 21 amostras de sedimento. A presença de mercúrio na região foi associada ao lançamento de halogênios reativos presentes no aerossol, promovendo a oxidação e a deposição de Hg no ecossistema, que acaba sendo acumulado em maior quantidade nos musgos e liquens, que são considerados ótimos bioindicadores. Pesquisas realizadas com amostras de musgos e fungos liquenizados coletadas em 1988 na Ilha Rei George objetivou determinar a concentração de elementos traço como como Cd, Pd, Hg e V e propor uma comparação com estudos recentes. Foi observado que concentrações de Cd e V em fungos liquenizados tiveram um aumento com o passar dos anos, já nos musgos observou-se uma diminuição das concentrações de Pb e V após quatorze anos. Neste estudo, foi possível concluir que os musgos tinham uma capacidade maior de acumular metais do que os líquens, sendo considerados melhores bioindicadores. 1.3 Ocorrência e Toxicologia dos elementos traço em estudo O estudo da ocorrência de metais pesados, de origem natural e antropogênica têm aumentado a cada ano devido à ampliação dos diversos setores econômicos, bem como a ampliação da população mundial. A preocupação que se tem com a exposição a esses metais se deve a sua toxicidade, bioacumulação nos diferentes organismos e bioacumulação nos diversos níveis da cadeia trófica (Tao et al., 2012). Os metais se encontram divididos em duas classes, os essenciais (Ca, Na, K, Mg, Fe, Cu, Co, Zn, Mn, Cr, Mo, Ni) que são importantes para algumas funções vitais do organismo humano, porém quando em excesso podem provocar efeitos tóxicos, e os metais não essências (As, Hg, Cd e Pb) que mesmo em quantidades vestigiais podem ser tóxicos aos organismos e seres vivos (Tuzen, 2003; Mendil et al., 2010). 1.3.1 Chumbo O chumbo é um constituinte natural da crosta terrestre que pode ser encontrado em quantidades muito pequenas no solo, água e plantas. É um metal altamente maleável e dúctil, e vem sendo utilizado desde a antiguidade. Ainda hoje é utilizado 22 na construção civil, solda, ligas, entre outras utilidades e por isso vem sendo considerado o metal tóxico mais amplamente utilizado (Cheng & Hu, 2010). A contaminação de chumbo em seres humanos pode ocorrer por inalação ou ingestão de água, alimentos e outras fontes contaminadas levando a intoxicação que pode afetar o sistema nervoso central e periférico em adultos, e em crianças pode causar efeitos negativos no desempenho cognitivo (Cheng & Hu, 2010; Paama et. al., 2004) Estudos relatam que o chumbo se acumula no ambiente aproximadamente 1000 vezes acima do seu nível natural. Números preocupantes como o que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos apresentam reforçam a toxidade de metal, segundo o órgão cerca de 250.000 crianças do país apresentam na corrente sanguínea 10 µg dL-1 de chumbo, esse alto nível de chumbo tem relação direta com deficiências cognitivas, bem como com outros problemas como anemia, doença renal e hipertensão (Morales et al., 2011). 1.3.2 Cádmio O cádmio se apresenta no meio ambiente na sua forma biodisponível (Cd 2+). Sabese que este é um dos metais mais tóxicos, não essencial, que afeta principalmente os rins e o esqueleto, e que possui um tempo de semivida em seres humanos muito longo, entre 15 e 30 anos (Zhao et al., 2011; Shih et al., 2005; Wan; Zhang, 2012). Diversos autores citam que os valores encontrados para alguns metais, dentre eles o cádmio, podem ser considerados derivados das atividades antrópicas (Jesus et al., 2004; Licínio et al., 2008). O Cd tem sido muito utilizado como anticorrosivo em aço galvanizado, em compostos de pigmentação, baterias elétricas, reatores nucleares e diversos componentes eletrônicos, porém devido a sua toxidade muitos países tem restringido o uso desse elemento (Nordberger et al., 2007). Muitas pesquisas relatam sua toxidade tanto para humanos como para fauna e flora local (Zhao et al., 2011; Shih et al., 2005; Wan; Zhang, 2012). Silva e colaboradores (2013) explicam que o excesso e acúmulo de metais pesados podem causar várias 23 doenças e problemas fisiológicos. Como por exemplo, os resíduos de metais como cromo, manganês, cádmio e níquel tem alto poder de contaminação e podem chegar facilmente aos lençóis freáticos, contaminando a água que quando ingerida por seres humanos pode causar diversos tipos de doenças como câncer, ulcerações e suspeita-se que pode afetar o sistema imunológico (Silva et al., 2013). Nas plantas o cádmio pode atuar no deslocamento de diversos cátions bivalentes que são minerais essenciais para o seu desenvolvimento como o Fe, Zn e Ca. Esse deslocamento pode causar problemas como a desestruturação do filamento de actina, inibição do crescimento celular além de inativar a atividade de algumas enzimas e proteínas (Wan; Zhang, 2012). Zhao e colaboradores (2011) relataram também que a presença de Cd em solo inibe o processo de fotossíntese bem como o crescimento das raízes e absorção e translocação de nutrientes. 1.3.3 Estanho O estanho é um metal que vem sendo utilizado desde a antiguidade na fabricação de ferramentas e materiais de uso doméstico. Ele se apresenta na natureza em dois estados de oxidação, Sn2+ e Sn4+, podendo também se apresentar combinado com cloro, oxigênio, flúor e enxofre formando diferentes compostos, porém estes não são tóxicos (Dresslera et al., 2011; Gholivand; Babakhanian; Rafiee, 2008). Existem também os compostos orgânicos de estanho que em sua maioria são de origem antropogênica e formados por Sn4+. Em sua grande maioria são lipofílicos, essa característica tem ligação direta com alguns de seus usos e também com a toxidade desses compostos (Nordberger et al., 2007). Os compostos orgânicos de estanho, são tóxicos para humanos e também animais, uma vez que sua alta concentração traz malefícios para o metabolismo do zinco (Gholivanda; Babakhanian; Rafiee, 2008). A intensidade da toxicidade está relacionada a concentração do composto, o tempo de exposição e sensibilidade do organismo foi exposto (Nordberger et al., 2007). 24 Diversas fontes de contaminação podem ser o principal fornecedor de estanho. A agricultura através do uso de pesticidas, embalagens plásticas, tubulação de policloreto de vinila (PVC), uso de anti-incrustantes na indústria naval, ainda pode ocorrer a exposição ao estanho inorgânico por meio da ingestão de alimentos enlatados (AZEVEDO, 2009; GRACELI et al., 2013). 1.3.4 Cobalto A partir do século XX o cobalto passou a ser utilizado em grande escala para a produção de bens de consumo como motores a jato, turbinas entre outros materiais que demandam uma matéria prima que possua como característica alto ponto de fusão, resistência a altas temperaturas e também a oxidação o que é o caso das ligas de cobalto (Schroederm; Nason; Tipton, 1967). Além da aplicação no mercado de consumo, o cobalto é um elemento essencial, em pequenas quantidades, para o ser humano na forma de cobalamina e vitamina B12, sendo que sua ausência pode causar anemia. Porém, doses que variam entre 150 e 500 mg Kg-1 de sais de cobalto podem ser letais (Alkhatib et al., 2014). Entre os efeitos do excesso de cobalto no humano pode-se citar a inflamação da nasofaringe, reações alérgicas na pele e doença pulmonar (Nordberg et al., 2007). Estudos realizados apontam a importância do monitoramento dos níveis desse e de outros metais nas diversas matrizes. Em estudos realizados no nordeste de Cuba, pesquisadores mediram os teores de Fe, Ni, Cr e Co em solo. Foi verificado que os teores de cromo e níquel estavam acima da normalidade, bem como o teor de cobalto que excedia o valor limite em 1,3 a 1,8 vezes (Rizo et al., 2011). 1.3.5 Mercúrio O mercúrio é um elemento que preocupa a população desde 1950 devido ao desastre de Minamata no Japão quando centenas de pessoas foram envenenadas por este elemento. A partir dessa data descobriu-se o poder de contaminação do mercúrio bem como suas várias vias de contaminação (Zahir et al., 2005). 25 O mercúrio em sua forma elementar pode existir de forma natural, porém sua incidência é grande parte devido à ação antropogênica por meio da queima de combustível fóssil e seus derivados que são consideradas a principal fonte de contaminação (Andrade et al., 2012). Um fator que interfere nos níveis de mercúrio no ambiente é o fato de em sua forma elementar ser estável e possuir um tempo de residência de 6 a 24 meses o que possibilita seu transporte a longas distâncias (Zverina et al., 2014). Os efeitos causados na saúde humana mesmo por baixas doses de mercúrio podem afetar os sistemas nervoso, motor, renal, cardiovascular, imunológico e reprodutivo. A tabela 2 abaixo descreve os principais efeitos causados nos diferentes sistemas do organismo. Tabela 2: Efeitos da toxicidade de baixas doses de mercúrio nos sistemas do corpo humano. Sistema nervoso Adultos Perda de memória, incluindo Alzheimer, déficit de atenção, distúrbios sensoriais, aumento da fadiga, Crianças Déficit na linguagem, memória e atenção. Autismo. Sistema Motor Adultos Ruptura da função motora, diminuição da força muscular, aumento do cansaço. Crianças Demora no processo de andar. Sistema renal Aumento do nível de creatina no plasma. Sistema cardiovascular Altera homeostase cardiovascular. Sistema Imunológico Diminui imunidade geral do corpo, exacerba lúpus como autoimunidade, esclerose múltipla, tireoide autoimune. 26 Sistema Reprodutivo Diminuição da taxa de fertilidade em ambos os sexos masculino e feminino, o nascimento de filhos com anormalidade. (Fonte: Zahir et al., 2005) Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos a fim de monitorar a concentração e a contaminação de diversas matrizes por esse elemento. Estudos realizados no sudeste da Índia indicaram que os sedimentos estuarinos daquela região estão poluídos por Cd, As, Zn, Hg e Pb. A análise realizada indicou que Mn e Fe possivelmente são originado de fonte fluvial, enquanto o Hg é decorrente de efluentes industriais não tratados (Magesh et al., 2013). Estudos com amostras de fungos liquenizados presentes na Ilha James Ross, Antártica foram utilizados como matriz para investigação da concentração e distribuição de alguns elementos traço, entre eles o Hg e suas espécies. Verificou-se que a concentração de mercúrio estava elevada em algumas partes da Ilha, podendo chegar até a 2,73 mg kg-1 de peso seco de diferença. Maiores teores de mercúrio foram encontrados no interior da Ilha, o que pode ser decorrente das condições microclimáticas do local. Não foi observada uma correlação entre Hg e os outros elementos, tal fato pode ser explicado devido a influência das condições ambientais e locais que podem exercer papel essencial na bioacumulação dos contaminantes (Zverina et al., 2014). 1.3.6 Molibdênio O molibdênio é um elemento traço essencial para animais e plantas. Sua ocorrência se dá de forma natural no solo e sua concentração pode variar entre 0,2 e 6 mg kg-1 e em solos com maior abundância desse metal as concentrações podem variar entre 10 e 100 mg kg-1 (Vyskocil; Viau, 1999; Gestel et al., 2012). A utilização de compostos de Mo em algumas atividades humanas como na mineração, aplicação de lodo de esgoto e fertilizantes podem contribuir para o maior acúmulo desse metal no meio ambiente (Gestel et al., 2012). 27 O Mo têm papel fundamental nos processos bioquímicos de plantas, animais e microorganismos, uma vez que desempenha papel fundamental nos ciclos bioquímicos do nitrogênio, enxofre e fósforo, que inclui também a participação na reação de redução de nitrato e nas reações de fixação e oxidação do nitrogênio (Gestel et al., 2011). Pesquisadores avaliaram as condições do solo e da água ao longo do rio Khangal em Erdenet, Mongólia a fim de identificar os possíveis impactos das atividades mineradoras sobre o meio ambiente. A partir desse estudo observou-se que a água superficial está contaminada com Ca, Mg, Mo e As. Em contrapartida o nível desses metais nas águas subterrâneas diminui à medida que há um distanciamento da mina. No solo a concentração de Cu e Mo não variaram com a distância da mina, o que indica a influência direta dos ventos na introdução dos contaminante no ambiente (Battogtokh; Lee; Woo, 2014). 1.3.7 Arsênio O arsênio pode ser encontrado na forma inorgânica ou orgânica no meio ambiente. A ingestão desse por seres humanos se dá através do consumo de algumas espécies de peixes e crustáceos ou de alguns outros gêneros alimentícios. Tanto o arsênio orgânico como o inorgânico são facilmente absorvidos pelo trato gastrointestinal. Cerca de 70 a 90% do que é consumido é absorvido, além disso alguns relatos indicam que também há uma alta absorção após a inalação de arsênio (Nordberg et al., 2007). O arsênio pode ser derivado de atividades humanas como mineração, fundição, pesticidas e adubos que contenham As. A contaminação do solo por arsênio pode ser fitotóxico para as plantas e sua entrada na cadeia alimentar representa um risco para a saúde humana, principalmente para os consumidores do arroz, uma vez que a casca é propensa a acumular arsênio (Hatley et al., 2013). 28 1.4 Preparo da amostra Um aspecto comum entre as técnicas analíticas é a necessidade de tornar as amostras sólidas em soluções para que assim possam ser introduzidas nos equipamentos. A etapa que envolve o preparo da amostra comumente é a mais demorada e onerosas de todo o processo, além disso, pode ser um uma fonte de erros para a análise (Flores et al., 2003; Gonzalez et al., 2009). Pela Figura 3 a seguir pode-se observar que a principal causa de erro em uma análise está associada ao preparo de amostra, uma vez que nessa etapa pode ocorrer contaminação e/ou erros de manipulação. Todas as outras causas de erro podem ser minimizados uma vez que são sistemáticos. Figura 3: Causas de erro em análise química. (Fonte: Analytical Methods Committee, 2013) O procedimento de preparo de amostra irá depender da matriz em estudo, do analito e sua concentração na amostra, bem como da técnica analítica que será utilizada na determinação. Além disso, o pré-tratamento da amostra deve garantir a homogenização, a dissolução de materiais sólidos, a minimização de possíveis interferentes e a pré-concentração dos analitos (Mesko et al., 2013; Florian; Knapp, 2001). 29 Comumente utiliza-se no preparo de amostras o método de decomposição por via úmida em sistema aberto ou fechado, que consiste no aquecimento da amostra na presença de ácidos, como o ácido nítrico, sulfúrico, clorídrico e ácido fluorídrico. Os ácidos podem ser usados isoladamente ou pode ser proposta uma mistura de dois ou mais ácidos, além disso pode ser usado peróxido de hidrogênio o que auxilia no processo de regeneração do ácido. A digestão em sistema aberto apresenta como vantagens a possibilidade do uso de maiores massa de amostra, o que acarretaria em um menor limite de detecção, porém há maior risco de contaminação da amostra devido o contato com o ar, ao gradiente de temperatura quando se utiliza chapas ou mantas aquecedoras e também existe a possibilidade de se perder alguns analitos que sejam voláteis como, por exemplo, é o caso do Hg (Quináglia, 2006). A American Society for Testing and Materials (ASTM), órgão norte-americano de normalização, normatiza algumas técnicas de extração de elementos traço como é o caso da norma 3974-09 que propõe dois métodos de extração para sedimento um envolvendo aquecimento e outro apenas agitação mecânica da amostra. Diante das dificuldades enfrentadas na digestão em sistema aberto e pela necessidade de melhorar os limites de detecção (LD) e de quantificação (LQ), metodologias de preparo de amostra devem ser estudados a fim diminuir a concentração da matriz inorgânica e orgânica, evitando possíveis interferências (Florian; Knapp, 2001). Dentre os procedimentos de preparo de amostra por via úmida em sistema fechado destacam-se a extração assistida por ultrassom, a digestão em bloco digestor e a por radiação micro-ondas. Esses procedimentos quando comparados ao preparo em sistema aberto apresentam vantagens no que diz respeito ao tempo necessário para que aconteça a decomposição, menor possibilidade de perda de analito por volatilização, entre outras vantagens. A Environmental Protection Agency (EPA) recomenda e certifica dois métodos de preparo de amostra, o 3051 e o 3052, sendo que o primeiro emprega ácido nítrico e 30 o segundo além do ácido nítrico utiliza ácido fluorídrico, podendo ser acrescido de peróxido de hidrogênio e ácido clorídrico (Vieira et al.,2005). Muitos trabalhos evidenciam o preparo de amostra de solos e sedimentos que são matrizes comumente investigadas a fim de monitorar e certificar a qualidade dos mesmo e o grau de contaminação. Como é o caso de Gaudino e colaboradores (2007) que propõe dois diferentes procedimentos de digestão para diferentes amostras de solo, um parcial que utiliza uma mistura de HNO3 + HCl + H2O2, já o procedimento de digestão total a proposta é uma digestão de micro-ondas com o uso de água régia com ácido fluorídrico e um outro procedimento com ácido nítrico e fluorídrico. 1.5 Análise de elementos traço em amostras ambientais Os avanços nas atividades industriais e tecnológicas bem como o crescimento populacional resultaram no aumento da poluição. O monitoramento desses poluentes se torna uma medida necessária para controle das condições ambientais. Determinar elementos traço em diversos tipos de matrizes ambientais tem sido alvo constante de pesquisa dos químicos analíticos, uma vez que a determinação desses íons é dificultada devido à baixa concentração e complexidade de matrizes biológicas e ambientais (Yamini et al., 2010; Gasparon; Matschullat, 2006). Os métodos analíticos mais difundidos no meio acadêmico para determinação de elementos traço em matrizes ambientais envolvem a espectroscopia de absorção atômica com chama (F AAS), espectrometria de absorção atômica com forno de grafite (GF AAS), espectrometria de absorção atômica por geração de hidreto (HG AAS), a espectrometria de emissão ótica com plasma indutivamente acoplado (ICP OES) e espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP-MS) (Sastre et al., 2002). Dentre as técnicas apresentadas, a F AAS tem sido muito utilizada por possuir uma configuração simples, baixo custo operacional e de manutenção, além de apresentar boa robustez e seletividade, porém o uso dessa técnica tem se limitado devido à 31 baixa sensibilidade (Nascentes et al., 2004). Já a espectrometria de absorção atômica com forno de grafite se apresenta como uma boa técnica devido à boa sensibilidade, baixo LD, bem como a pouca necessidade de preparo de amostra. Porém existem algumas desvantagens na análise direta de sólidos, tais como a homogeneidade da amostra, sinais de fundo entre outros. Além disso, a maioria dos equipamentos são monoelementares (Nascentes et al., 2004; Tuzen, 2003). A espectrometria de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado (ICP OES) tem se destacado por ser uma técnica de boa sensibilidade e limite de detecção e pela possibilidade de análise multielementar, porém para muitos elementos traço em amostras ambientais seu LD ainda não é adequado (Peixoto; Oliveira; Cadore, 2012). Deste modo, o uso da técnica de espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (ICP MS) tem sido bastante difundida devido suas características de desempenho como o baixo LD, capacidade de análise multielementar, ampla faixa linear, a possibilidade de uso de técnicas de separação e cromatográfica antes da introdução da amostra, capacidade semi-quantitativa e boa precisão (Papaefthymiou et al., 2010; Vanhaecke, 2002). 1.5.1 A técnica de ICP-MS A espectrometria de massas com plasma indutivamente acoplado é uma importante técnica analítica que permite determinar elementos em níveis ultra-traço, especialmente por ser extremamente sensível e multielementar, por meio da detecção do sinal de razão massa/carga. A Figura X ilustra um espectrômetro de massa com plasma indutivamente acoplado e os diferentes sistemas de introdução da amostra. 32 Figura 4: Desenho de um instrumento de ICP-MS e sistemas de introdução da amostra no plasma. As linhas pontilhadas representam a amostra introduzida na forma de vapor e a linha cheia na forma de aerossol (TESE FREDERICO-UFMG). Além do sistema de introdução da amostra, composto por um nebulizador e uma câmara de nebulização, o ICP-MS possui uma fonte de íons, interface para a amostragem, sistema de lentes iônicas, analisador de massas e detector. Como fonte de íons, utiliza-se o plasma indutivamente acoplado que possui energia aproximada de 15,7 eV, sendo o suficiente para dessolvatar, atomizar, ionizar e excitar os elementos presentes na solução (Guiné, 1999). Pelo fato da atomização e ionização ocorrer a pressão atmosférica, torna-se necessário uma interface entre a tocha e o espectrômetro de massas com um ambiente de vácuo, a fim de evitar possíveis reações. Para isso, um conjunto de três cones de Pt ou Ni com orifícios circulares colocados paralelamente é utilizado, com um diâmetro adequado para evitar reações químicas indesejadas, possíveis obstruções do caminho e para que haja um aumento na sensibilidade (Guiné, 1999). Após passar pela região das lentes, os íons são conduzidos para o espectrômetro de massas, o qual é considerado como um filtro de massas. Dentre os vários filtros existentes, o quadrupolo é o mais utilizado. Nesse tipo de analisador a resolução 33 independe da distribuição de energia, além disso, possibilita a realização de varreduras de forma rápida. Após o analisador, os íons são detectados, em geral, por um multiplicador de elétrons que possui uma placa responsável para ejetar os elétrons secundários, quando atingidos por íons e dinodos, para então multiplicá-los produzindo uma efeito cascata, e posteriormente armazenar as informações no software (Guiné, 1999). Assim como em outras técnicas, na espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado, podem ocorrer interferências de ordem não-espectrais, que podem ser identificadas pela perda de sensibilidade da curva analítica e também podem estar relacionadas a problemas de transporte da amostra até o plasma, que são geralmente causadas por alterações das propriedades físico-químicas da solução, como a viscosidade e a densidade. Esses interferentes, podem ser minimizados por meio de equiparação de matriz, diluição da amostra, que tem altos teores de sólido dissolvido, pelo uso de padrão interno e pela adição de analito (Nunes, 2009). Além das interferências não-espectrais, podem ocorrer também as interferências espectrais ou isobáricas, que são causadas por íons que apresentam a mesma razão massa/carga do analito, acarretando um maior sinal do analito em questão. Esse tipo de interferência pode ser contornada pela escolha de um isótopo alternativo. Uma outra solução para essas interferências, é o uso de celas de colisão e reação. As celas de colisão são usadas para promover a dissociação induzida por choques, por meio de um gás tampão que promove um encontro entre os íons, induzindo a diminuição da energia cinética dos íons poliatômicos e melhorando, consequentemente, a sua transmissão pelo quadrupolo. Já as celas de reação, promovem a diminuição, principalmente, das interferências dos íons produzidos pelo argônio (Guiné, 1999; Nunes, 2009). 34 2. OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Determinação de Pb, Cd, Sn, Co, Hg, Mo, V e As em sedimento, musgos e fungos liquenizados da Antártica por ICP-MS. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Estudo do preparo das amostras para determinação de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento; Verificação de procedimentos para a determinação de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em sedimento, musgos e fungos liquenizados; Determinar os teores de Pb, Cd, Sn, Co, V, Hg, Mo e As em amostras de sedimento, musgos e fungos liquenizados; Buscar correlação entre os metais encontrados nessas matrizes; Correlacionar os teores de metal encontrados nessas amostras com as atividades antrópicas. 35 3. PARTE EXPERIMENTAL 3.1 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1.1 Reagentes e equipamentos Todos os materiais utilizados no estudo passaram por lavagem com água e banho próprio para descontaminação por 48 horas utilizando Extran MA 02 Neutro (Merck, Darmstadt, Alemanha), procedimento padrão do Laboratório de Espectrometria Atômica (LEA) do LabPetro. Após esse período o material foi lavado com água deionizada e colocado em banho ácido (HNO3 20% v/v) por no mínimo 24 horas. Posteriormente os materiais foram lavados com água purificada em sistema PURELAB Ultra (ELGA, UK) com resistividade de 18,2 MΩ, secos e armazenados em local isento de metais para evitar que haja contaminação, que será avaliada pelo controle do branco. Para os testes dos procedimentos de preparo de amostra foram utilizados HNO3 68% m/m P.A (Neon Comercial Ltda.), HCl 30 - 38% (Veritas® GFS Chemicals, Inc.) e HF 40% m/m P.A (Fmaia Bioquímica e Química Ltda.), purificados por destilação no Distillacid BSB939 IV (Berghof, Alemanha). Foi usado nesse trabalho material de referência certificado – MURST-ISS-A1 trace elements certificate - Antarctic Sediments, do Istituto Superiore di Sanità (ISS, National Institute of Health). Foram utilizadas soluções monoelementar 1000 mg L-1 de Pb, Cd, Sn, Mo, Hg, V e Co (SCP Science, Canada) onde foram realizadas diluições necessárias para o preparo de uma solução contendo esses elementos. Foi usado nos testes os padrões internos (PI) ródio (Rh, 5 µg L-1), lutércio (Lu, 5 µg L-1) e índio (In, 5 µg L-1). Os equipamentos utilizados no preparo da amostra e na análise foram: forno microondas com rotor 16MF100/HF100 (Multiwave 3000, Anton Paar, Áustria); agitador mecânico (Modelo 500-2D, Nova Ética, Brasil); balança analítica ED224S (Sartorius tecnologia de pesagem, Goettingen, Alemanha) com precisão de 0,0001 g; e espectrômetro de massas com plasma indutivamente acoplado ICP-MS (NexIon 300D, Perkin Elmer, Estados Unidos). Foi utilizado para a geração/manutenção do 36 plasma, aspiração da amostra e gás auxiliar o gás argônio premier com pureza de 99,9992% (Air Products Brasil Ltda, São Paulo). 3.1.2 Coleta da amostra Durante a expedição do Programa ProAntar que ocorreu no período de 03 a 29 de março de 2013 foram realizadas coletas de sedimento, musgo e fungo liquenizado ao longo de toda a extensão da Península Fildes, Ilha Rei George, Antártica. Para assegurar a homogeneidade da amostra de sedimento, para cada ponto de coleta foi realizada uma amostragem composta onde 5 alíquotas foram coletadas de um círculo de um metro de diâmetro. Foram coletados em alguns pontos musgos e fungos liquenizados que estavam aderidos a superfície do sedimento, uma vez que esses podem indicar a condição ambiental do local. A Figura X exemplifica uma das coletas realizadas. Figura 1: Coleta e armazenamento das amostras de sedimento, musgos e fungos liquenizados. 37 As coletas foram realizadas com espátulas de plástico, previamente lavadas com HCl 10% v/v e as amostras coletadas foram acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas em geladeira para posterior análise no Brasil. Na Figura 1 encontra-se a localização dos pontos ao longo da Península Fildes, enquanto na Tabela 1 encontram-se as coordenadas e suas características de sua localização. Figura 1: Pontos de coleta de amostras na Península Fildes, Ilha Rei George, Antártica. Tabela 3:Coordenadas e características dos pontos de coleta na Península Fildes. Ponto Latitude Longitude Proximidade Altitude Proximidade com lagos de (m) do mar (m) degelo (m) Proximidade Proximidade da de caminhos frente da de passagens geleira Collins de veículos (m) (m) 1 62° 9'19.27"S 58°55'55.62"O 5 39,5 745,6 910,3 3930,6 2 62° 9'40.68"S 58°55'43.18"O 63 678,5 603,2 437,2 2813,9 3 62°10'12.86"S 58°55'34.64"O 57 1452,5 79 680,8 1872,8 4 62°10'45.62"S 58°55'23.09"O 27 1190 174,2 534,3 951,7 5 62°11'19.54"S 58°55'47.14"O 5 667,5 47 1435,6 124 6 62°11'46.21"S 58°57'35.10"O 3 338,8 126 3300 249,2 7 62°12'11.88"S 58°58'11.06"O 6 516 16,8 4175,2 197,3 8 62°12'31.94"S 58°59'40.72"O 82 624 199 5475,6 1775,7 38 9 62°12'53.60"S 58°58'47.24"O 44 901 72,9 5409,2 848,5 10 62°13'2.93"S 58°58'39.54"O 32 818 557,5 5626,2 762,8 11 62°13'43.42"S 58°59'0.05"O 3 122,4 12,7 6177,7 1698,8 12 62°13'36.19"S 58°57'8.35"O 1 112 850 5553,5 630,2 13 62°11'53.19"S 58°59'12.82"O 1 398,4 425,3 4555,8 556,1 Foram coletados nos pontos 2, 3, 4, 5, 7, 9, 10, 11 amostras de fungos liquenizados da espécies Usnea Fasciata e nos pontos de coleta 1, 3, 6, 7, 8, 9, 11, 12, 13 foram coletados musgos da espécie Sanionia uncinata, apresentados na Figura 1. A B Figura 1: A: Fungo Liquenizado da espécie Usnea Fasciata; B: Musgo da espécie Sanionia uncinata. 3.2 Procedimento Experimental 3.2.1 Preparo de amostra 3.2.1.1 Sedimento O sedimento obtido passou por secagem em estufa a 70°C até peso constante e foram peneiradas em uma tela de nylon com 2mm de abertura; posteriormente foi armazenado em sacolas descontaminadas e hermeticamente fechadas. 39 Foram realizados dois procedimentos de preparo de amostra, uma extração para determinação da parte biodisponível e uma digestão total para quantificação do teor total dos elementos traço nessa matriz. 3.2.1.1.1 ASTM D3974-09 A extração da parte biodisponível foi realizada conforme a norma ASTM D3974-09 prática B modificada: pesou-se 0,5 g de amostra em um erlenmeyer de 125 mL; adicionou-se 47,5 mL de H2O e 2,5 mL de HCl concentrado; a mistura foi colocada em um agitador mecânico onde permaneceu por 16 horas a agitação constante e a temperatura controlada de 20 °C; após esse período a solução foi filtrada e transferida para um frasco com capacidade para 50 mL e acondicionada em geladeira para posterior análise. 3.2.1.1.2 EPA 3051a O procedimento de digestão total para as amostras e para o material de referência certificado MURST-ISS-A1 foi realizado conforme a o método EPA 3051a modificado, onde pesou-se o equivalente a 0,250 g em peso seco de amostra de sedimento e adicionou-se 5 mL de HNO3 concentrado e 1 mL de H2O e posteriormente foi digerido utilizando aquecimento por radiação micro-ondas. O programa de aquecimento utilizado para a digestão pseudo total assistida foi realizado em uma rampa de aquecimento nela a temperatura atingiu 180 ± 5°C em 05:00 min e uma permanência de 20:00 min a temperatura de 180 ± 5°C; a potência utilizada foi de 1200 W e o tempo de resfriamento foi de 20 min, após esse período o rotor foi retirado do micro-ondas e esperou-se por um período de 30:00 min dentro da capela para que os tubos fossem abertos e as amostras filtradas e avolumadas para um volume final de 50 mL. 3.2.2 Musgos e Fungos Liquenizados Os musgos e fungos liquenizados coletados passaram por um processo de lavagem externa com água ultrapura para a retirada do excesso de sedimento e outros possíveis contaminantes, sendo em seguida seco a temperatura ambiente. Para garantir a eliminação de toda água das amostras foi realizado um processo de evaporação até peso constante em um evaporador centrífugo CentriVap®, 40 (Labconco, Estados Unidos); os musgos passaram por um processo de maceração mecânica com o uso de grau e pistilo, previamente descontaminados, já as amostras de fungo liquenizado foram fragmentadas manualmente em pequenos pedaços, após esses procedimentos as amostras foram armazenadas em sacos plásticos descontaminadas e hermeticamente fechados. O procedimento de digestão utilizado foi realizado conforme o procedimento estabelecido para a digestão do sedimento, onde pesou-se uma massa aproximada de 0,250 g em peso seco das amostras e adicionou-se 5 mL de HNO3 concentrado e 1 mL de H2O, posteriormente as misturas foram digeridas utilizando aquecimento por radiação micro-ondas. O programa de aquecimento utilizado consiste em uma rampa de aquecimento onde a temperatura atingiu 180 ± 5°C em 05:00 min e permaneceu a essa temperatura por um período de 20:00 min; a potência utilizada foi de 1200 W e o tempo de resfriamento foi de 20 min, após esse período aguardouse por 30:00 min até que os tubos fossem abertos e as amostras filtradas e avolumadas para um volume final de 50 mL. 3.3 ANÁLISE Após o preparo da amostra os isótopos foram determinados por ICP-MS NexIon mostrado na Figura X. Na Tabela 1 estão descritos os parâmetros e condições instrumentais utilizadas na análise. Figura X: ICP-MS modelo NexIon, Perkin Elmer. 41 Tabela 4: Condições e parâmetros instrumentais. Condições Operacionais Câmara de nebulização Ciclônica de vidro com anteparo Nebulizador Concêntrico Meinhard , Tipo C Cones Níquel 1,1 mm i.d. Tocha Tocha de quartzo EasyGlide Potência da radiofrequência 1150 W Introdução da amostra Bomba peristaltica -1 Fluxo de gás auxiliar 1,20 mL min Fluxo de gás de plasma 16,00 L min Fluxo de gás nebulizador 1,1 mL min -1 -1 Replicatas Isótopos mensurados TM 3 08 Pb, 111 Cd, 118 59 Sn, Co, Padrão interno 51 V, 202 Hg, 95 Mo, 75 As 103 Rh O branco de preparo foi submetido aos mesmos procedimentos que as amostras. Todas as análises foram realizadas em triplicata. As curvas analíticas foram construídas a partir de uma solução padrão multielementar 50 µg L-1 preparada a partir das soluções monoelementares, variando o meio de acordo com o preparo da amostra; a faixa de trabalho variou de 0,5 a 15 µg L -1. Para o método ASTM D3974 – 09 as curvas foram preparadas em HCl 2% v/v e para EPA 3051a em HNO3 2% v/v. O cálculo da linearidade da curva foi feito por regressão linear. A acidez residual das amostras foi determinada por titulação ácido-base com hidróxido de sódio previamente padronizado. Em todas as soluções foram adicionados 50 µL de solução de Rh 500 µg L-1 utilizado como padrão interno. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Preparo da amostra de sedimento e estudo das melhores condições de análise 42 4.1.1 ASTM D3974-09 Foram testados dois procedimentos de extração da fração biodisponível dos elementos traço baseados na norma ASTM D3974-09, para os testes foi utilizada uma amostra de sedimento coletada no município de Viana. A prática A proposta no protocolo consistiu no uso de 4 g da amostra, adição de 100 mL de água ultrapura, 1 mL de HNO3 conc. e 10 mL de HCl concentrado. A mistura foi aquecida aquecida à 95°C em uma placa aquecedora, e retirada assim que o volume alcançou entre 10 e 15 mL. Após resfriamento até temperatura ambiente, a mistura foi filtrada com o auxílio de um papel de filtro quantitativo. A solução foi armazenada em um frasco e avolumada para 50,00 mL. Para a prática B, pesou-se 1 g da amostra seca e adicionou-se 5,0 mL de HCl e 95,0 mL de água ultrapura; a mistura foi colocada em um agitador mecânico onde permaneceu por 16 horas a temperatura de 25°C; após esse período a solução foi filtrada e transferida para um frasco com capacidade para esse volume e acondicionada em local apropriado. Analisando as soluções obtidas pelas práticas A e B, verificou-se que a prática A não apresentou repetitividade entre as triplicatas, o que pode estar associado com a não homogeneidade nos diferentes pontos da chapa aquecedora, fazendo com que algumas amostras fossem mais aquecidas que as outras. Em relação à prática B, as triplicatas apresentaram maior repetitividade. Além disso, o procedimento B apresentou melhores porcentagens de recuperação, sendo então este o mais adequado. Outro parâmetro analisado foi a redução da quantidade de amostra a ser utilizada nas extrações para isso foram testados os mesmos procedimentos, porém com a massa reduzida pela metade, ou seja, para a prática A 2 g e para a prática B 0,5 g de sedimento. Assim como a massa do sedimento, todos os reagentes foram reduzidos pela metade. Pelos resultados obtidos não foi verificada diferença significativa entre os resultados com a massa descrita no protocolo e a massa reduzida. Assim sendo, com o intuito de reduzir o consumo de amostra e reagentes, optou-se por trabalhar com a prática B em quantidades reduzidas. 43 4.1.1.1 Padrão interno para ASTM D3974-09 Foram realizadas análises de amostras aleatórias de sedimento da Antártica com a finalidade de verificar se os procedimentos de preparo e quantificação utilizados foram adequados. Para isso foram feitos testes de recuperação de analito, analisando as soluções das amostras, obtidas pelo procedimento de preparo, sem adição e com adição de 5 e 10 µg L -1 de analito. Os resultados obtidos podem ser observados na Tabela 2. 44 Tabela 2: Valores de recuperação obtidos nas amostras de sedimentos da Antártica extraídas (ASTM D3974-09) analisadas por ICP-MS. RECUPERAÇÃO (%) Amostra Com Rh Sem PI 208 1 2 114 Pb Cd 112 Cd 118 Sn 59 Co 202 Hg 200 Hg 95 Mo 75 As P11 1 81,61 76,38 58,74 86,43 138,37 62,96 64,46 93,23 126,72 P11 2 93,48 85,29 14,39 93,47 - 79,68 80,04 100,93 - P6 1 91,77 71,96 65,71 82,39 253,53 74,15 74,31 99,27 145,22 P6 2 91,19 73,17 68,06 84,65 - 77,66 78,06 99,23 - P9 1 99,08 77,09 71,69 89,36 210,81 83,23 83,80 100,38 231,62 P9 2 100,05 81,59 76,69 94,81 - 88,04 88,58 107,26 - P11 1 83,91 85,95 74,26 96,44 70,88 90,59 92,94 104,33 93,84 P11 2 139,64 116,56 31,49 128,96 - 121,90 123,15 137,55 - P6 1 134,16 98,26 89,77 113,47 75,11 103,68 105,02 135,16 101,55 P6 2 132,15 101,13 94,10 117,73 - 108,41 109,82 136,89 - P9 1 89,90 81,02 75,22 90,66 70,73 90,41 90,85 106,61 96,67 P9 2 79,80 75,27 70,64 84,58 - 82,81 83,41 99,73 - -1 e significa adição de analito de 5 e 10 µg L , respectivamente. 45 Pelos resultados obtidos observa-se que bons resultados de recuperação foram obtidos para 95 Mo, 118 Sn e 208 Pb (81 a 100%) sem a utilização de padrão interno, indicando que tanto o procedimento de preparo quanto para o procedimento de quantificação desses elementos são satisfatórios. Para os dois isótopos de Hg verifica-se boas recuperações (82 a 122%) com o uso do padrão interno Rh, logo ficando estabelecido que para a análise desse elemento é necessário o uso de PI. Como não houve diferença significativa entre os dois isótopos, optou-se por analisar o isótopo 202 Hg uma vez que é o mais abundante com 29,8% de abundância. Os isótopos 75As e 51V apresentaram recuperações aceitáveis (93 a 122%) com a utilização de PI, que possivelmente auxiliou na minimização de possíveis interferências já que ambos os isótopos podem sofrer com interferentes provenientes de possíveis combinações de alguns íons devido a composição do plasma, do ar e da própria matriz em análise. As recuperações obtidas para o cobalto não se apresentam dentro da faixa considerada como boa recuperação. Pode-se inferir que assim como para As e V, o Co sofreu interferências espectrais que podem estar relacionadas aos fatores já citados anteriormente. Na Tabela X, abaixo está listada a abundância desses isótopos bem como seus possíveis interferentes. Tabela 4: Isótopos de Co, V e As e suas interferências poliatômicas mais abundantes. (Adaptado de May e Wiedmeyer, 1998) Isótopo Abundância Interferências Isotópica (%) 59 100 43 Ca O , Ca O H , 40 19 + Ar F Mg Cl , 51 99,76 34 13 Co V 16 16 + 42 1 16 1 + 24 + 35 16 + 38 16 + 36 38 35 + 36 + 36 23 + 40 Ar Na , 15 + 36 S O H , Cl O , Ar C , Ar N , 15 + 33 18 + 34 17 + S N, S O, S O 18 1 + Ar O H , 14 1 + 37 Ar N H , 14 + Cl N , 36 75 As 100 40 35 + 59 1 + 38 37 + 36 Ar Cl , Co O , Ar Ar H , Ar Cl , 12 40 12 31 16 + Na C Ar, C P O2 23 39 Ar K, 43 16 Ca O2, Deve-se ressaltar que como o procedimento de extração ASTM D3974-09 proposto utiliza ácido clorídrico no preparo, sugere-se a existência de íons 46 cloreto no meio, assim como íons provenientes da composição do próprio sedimento da Antártica e do plasma, que podem estar se combinando e causando as interferências acima citadas. Na análise dos dois isótopos de cádmio observa-se uma melhor recuperação com o uso de PI, além disso pode-se verificar que o isótopo 114 apresentou melhores recuperações quando comparado ao isótopo 112. Ficando estabelecido que as análises posteriores seriam realizadas utilizando o isótopo 114 Cd. 4.1.1.2 Figuras analíticas de mérito 3.2. Padrão interno Para verificar se havia a necessidade do uso de padrão interno na análise de alguns elementos, verificou-se a exatidão do método realizando um teste de recuperação de analito, por meio das porcentagens de recuperações obtidas pode-se identificar quais elementos em análise necessitavam do uso de padrão interno para alguma possível correção. Os testes de recuperação de analito foi realizado analisando os extratos das amostras, obtidas pelo procedimento de preparo, sem adição e com adição de 5 e 10 µg L-1 dos elementos (Pb, Cd, Sn, Co, Hg, Mo e As). Foram testados os PI Rh, In e Lu e foi verificado que apenas o Rh apresentou melhores resultados em relação às determinações. Os resultados obtidos para as determinações sem PI e com Rh podem ser observados na Tabela 2. 47 De acordo com a Associação Oficial de Química Analítica (AOAC) uma boa recuperação depende de fatores como a matriz em estudo, o preparo da amostra e a concentração na qual o elemento se encontra. Considerando que os valores dos elementos estudados são de pequena ordem de grandeza, o intervalo estabelecido como adequado é de 75 a 120%20. Assim, observando a Tabela 2, pode-se verificar que foram obtidas boas porcentagens de recuperação para o 208 Pb, 118 Sn e 95 Mo sem o uso do padrão interno, indicando ausência de interferências e adequação do procedimento de análise. Para os dois isótopos de Cd e Hg, bem como para 59 Co e 75 As houve indicativo de interferências nas análises dos extratos. Essas interferências podem ser de ordem não espectral e espectral. As interferências não espectrais podem ser identificadas pela perda de sensibilidade da curva analítica e também podem estar relacionadas a problemas de transporte da amostra até o plasma. Essas interferências podem ser minimizadas por meio de equiparação de matriz, diluição da amostra, uso de padrão interno e adição de analito. Já as interferências espectrais ou isobáricas são causadas por íons que apresentam a mesma razão massa/carga do elemento interferindo na intensidade do sinal analítico. Esse tipo de interferência pode ser contornada pela escolha de um isótopo alternativo21. Para os dois isótopos de Hg obteve-se bons resultados de recuperação com o uso de padrão interno. Como não foi observada diferença significativa entre os dois isótopos, optou-se pelo isótopo 202 Hg uma vez que é o mais abundante, com 29,8% de abundância. Assim, adotou-se o uso do PI Rh para as determinações e a utilização do isótopo 202 Hg. Para o As também foi observado melhores valores de recuperação utilizando padrão interno Rh, que provavelmente minimizou as interferências espectrais que podem ocorrer para este isótopo. Na determinação do Cd pode se observar melhores porcentagens de recuperação com o uso de PI. Comparando os dois isótopos observa-se que o 48 114 apresenta melhores valores de recuperação quando comparado ao 112, ficando estabelecido a utilização do 114 Cd com padrão interno Rh para as determinações. Para Co verificou-se que as recuperações obtidas se encontraram fora da faixa considerada adequada (75-120%)20. Ao se utilizar o PI Rh, melhores valores foram obtidos, mas ainda estão um pouco abaixo da faixa de aceitação. Para este elemento, foi verificado que a equiparação de matriz, a adição de analito e o uso de padrão interno não contornaram as possíveis interferências não espectrais. Sugere-se então que os valores de recuperação não satisfatórios podem estar relacionados às interferências espectrais, porém, devido o isótopo 59 Co apresentar abundância de 100%, não foi possível estudar outra razão isotópica em busca de melhores resultados. 3.3. Figuras analíticas de mérito Para a verificação do procedimento analítico foram avaliados alguns parâmetros e condições de análise que são utilizados para atestar a qualidade do seu método. Neste trabalho foram abordados três parâmetros (linearidade do método, LD e LQ) além do ensaio de recuperação. Para a avaliação da linearidade do método construiu-se curva analítica para cada elemento estudado e por meio de regressão linear obteve-se o coeficiente de determinação (R2). Os valores de coeficiente de determinação variaram de 0,9993 a 0,9998. Visto que a Anvisa recomenda que a curva analítica tenha um R2 maior ou igual a 0,999, pode-se inferir que o método proposto apresentou uma boa linearidade para todos os elementos22. Os valores de limite de detecção (LD) e limite de quantificação (LQ) foram obtidos a partir da análise do branco. Para o cálculo desses dois parâmetros foram utilizadas as definições propostas pela IUPAC (LD = 3s/m e LQ = 10s/m, onde s é o desvio padrão estimado de 10 leituras do branco e m é a inclinação da curva analítica). Os resultados obtidos para esses dois parâmetros estão 49 dispostos na Tabela 3 e são adequados para a análise dos extratos de sedimento. Tabela 3: Limites de detecção (LD) e de quantificação (LQ) do método de determinação e nas amostras. Isótopo LD do método -1 LQ do método -1 LQ na amostra -1 -1 (µg L ) (µg g ) (µg L ) (µg g ) Pb 0,011 1,1 0,035 3,5 Cd 0,0021 0,21 0,0069 0,69 Sn 0,24 23,6 0,79 78,6 Co 0,0029 0,29 0,0097 0,97 Hg 0,024 2,4 0,081 8,1 Mo 0,053 5,3 0,17 17,5 0,72 72,1 2,4 238,1 208 114 118 59 202 95 LD na amostra 71 As Como já apresentado (tabela 2), os valores de recuperação obtidos foram satisfatórios (75 a 120%)20 indicando uma boa exatidão do método para a determinação de Pb, Cd, Sn, Hg, Mo e As. Apenas para o Co, os valores se apresentaram um pouco abaixo da faixa adequada. 3.4. Determinação e avaliação das concentrações de Pb, Cd, Sn, Co, Hg, Mo e As nas amostras de sedimento da Antártica Os extratos das amostras de sedimento, obtidos utilizando o procedimento de extração da fração biodisponível (ASTM D3974-09), foram analisados por ICPMS com as condições otimizadas anteriormente. Os resultados de concentração encontrados de cada elemento para as amostras coletadas em diferentes pontos da Península Fildes - Antártica estão dispostos na Tabela 4. Observou-se que não há uma distribuição homogênea dos elementos por toda a extensão da Península Fildes. 50 Tabela 4: Concentração dos elementos encontradas nas amostras de sedimento coletadas nos diferentes pontos da Península Fildes - Antártica. 208 Amostra 114 Pb 118 Cd -1 RSD (%) µg kg -1 RSD (%) µg kg P1 530,38 0,27 184,46 7,33 P2 609,75 8,11 193,77 P3 1488,5 0,91 P4 2314,11 P6 µg kg -1 202 59 Sn Co - 4517,33 7,58 < 5,3 - 7866,42 5,59 4,66 38,66 2,58 11539,22 1,02 28,42 3,07 11,41 8,10 5850,99 2,73 1,02 29,73 1,44 17,13 55,85 4552,81 7,05 11094,1 1,78 42,52 9,53 11,25 6,20 8123,38 11,93 19,38 4598,52 2,13 24,71 2,31 9,06 32,08 6122,86 1,53 774,53 21,18 1782,26 1,85 26,25 6,48 14,96 12,72 5132,35 1,68 4,72 437,13 17,55 2095,04 0,16 38,69 53,87 4,15 26,68 4852,52 15,18 81,93 529,71 1,01 5264,23 0,80 54,61 3,50 0,66 42,16 6805,88 0,57 RSD (%) µg kg 110,28 44,17 2886,97 1,91 9,05 324,49 10,79 2969,77 54,83 1,77 1373,99 8,63 0,40 105,75 0,54 1087,41 777,42 4,82 106,81 4,57 P8 733,13 5,45 78,75 P9 525,17 8,37 P10 548,69 P11 P13 Faixa -1 (µg kg ) -1 RSD (%) µg kg < 2,4 - < 5,3 0,70 12,93 29,07 8036,91 18,12 24,74 1,46 5500,04 6,15 446,84 6,11 6251,47 12,67 928,14 10,75 56,30 19,06 928,70 12,87 63,69 3,24 723,92 6,09 64,09 839,65 0,68 64,60 525,17 – 2314,11 As RSD (%) µg kg -1 75 Mo -1 RSD (%) -1 95 Hg 54,83 – 193,77 110,28 – 1373,99 < 2,4 – 54,61 RSD (%) < 5,3 – 38,66 µg kg 4517,33 – 11539,22 1782,26 – 11094,1 51 Para o chumbo pode-se observar que maiores valores são encontrados próximos a locais que recebem afluentes de degelo recente – amostras P3 e P4 (Figura 2). As amostras coletadas próximo a essa região de degelo recente, teoricamente, deveriam apresentar menores concentrações, uma vez que a região esteve coberta pelo gelo até poucos anos atrás, o que foi observado para amostras P1 e P2. Porém, um evento provável de ocorrer é o processo de deposição atmosférica ocorrido na superfície da geleira, que torna possível o acúmulo ao longo de anos, e devido o processo de retração dessa geleira pode haver uma redisponibilização os materiais acumulados. Vale ressaltar que próximo a esses pontos de coleta existe um rio proveniente do degelo tornando possível que pontos considerados intocados apresentam concentrações significativas de metal23,24, o que pode justificar os maiores teores de Pb encontrados nas amostras P3 e P4. Estudo semelhante em solos da Antártica foi proposto por Lu e colaboradores (2012)12 onde obtiveram uma faixa de concentração de Pb entre 2760 a 60520 µg kg-1, superior aos valores encontrados nesse trabalho (525,17 – 2314,11 µg kg-1). Essa diferença de concentração observada pode ser devido a região de estudo abordada por Lu e colaboradores não abranger a região de degelo, utilizada neste trabalho. Para cádmio verifica-se um comportamento semelhante ao Pb (Figura 3). 52 Figura 2: Distribuição da concentração de Pb Península Fildes. Figura 2: Distribuição da concentração de Cd Península Fildes. 53 Nos estudos de concentração de estanho observa-se pela Figura 3 que há dois campos onde se concentram as maiores quantidades desse elemento nas amostras, os pontos 3, 4 e 5 e os pontos 8, 9 e 10. Existe a possibilidade desses dois locais estarem recebendo uma carga de estanho devido a existência de estações de pesquisa próximas que são a estação Artigas do Uruguai, localizada entre os pontos 4 e 5, e a estação Great Wall pertencente a China, localizada entre os pontos 9 e 10. Além disso, o ponto 8 fica próximo a única pista de pouso da ilha. Figura 2: Distribuição da concentração de Sn Península Fildes. Para a distribuição de mercúrio verificou-se uma maior concentração nos pontos 6,7, 8, 11 e 13 (Figura X). As concentrações nas amostras variaram de <1,04 a 54,606 µg kg1 , se encontram dentro da faixa já reportada na literatura para a mesma região. No trabalho de Santos e colaboradores (2006)26 foi encontrado uma concentração de 24,6 µg kg-1 em sedimento, enquanto que Lu e colaboradores (2012)12 em seus estudos 54 encontraram concentrações que variaram entre 10 a 60 µg kg-1. É interessante citar que existe uma pista de pouso com movimento de carga e descarga de materiais e transporte de pessoas bem próxima ao ponto 13. Figura 3: Distribuição da concentração de Hg na Península Fildes. As concentrações encontradas para o molibdênio são baixas e há uma concentração desse elemento no ponto 3 e aproximando-se do 4 (Figura 4). Assim como citado anteriormente pode-se atribuir essa maior concentração na região em que é cortada por um rio de degelo. Santos e colaboradores (2005) 10 em estudos em outra ilha da Antártica encontraram concentração deste elemento em amostra de sedimento igual a 1500 µg kg-1, superior a encontrada nesse estudo. Tal diferença pode ser atribuída ao fato dos estudos terem sido realizados em diferentes locais do continente. 55 Figura 3: Distribuição da concentração de Mo na Península Fildes. Na distribuição de arsênio observa-se que grande parte da Península apresentou valores semelhantes de concentração indicando que há para esse elemento uma distribuição mais uniforme quando comparado aos outros elementos (Figura 4). Ribeiro et al.26 estudaram a concentração de As na Baía Almirantado-Antártica e relataram uma faixa de concentração de 2000 a 12000 µg kg-1, superior a faixa encontrada nesse estudo (120,31 a 1297,06 µg kg-1). 56 Figura 4: Distribuição da concentração de As na Península Fildes. Pela análise da Figura 5, verificou-se que o cobalto apresentou maiores concentrações próximas ao ponto 8, isso pode ter ocorrido uma vez que existem estações de pesquisas próximas a esse local bem como uma pista de pouso. 57 Figura 5: Distribuição da concentração de Co na Península Fildes. Normalmente maiores valores de concentração seriam esperados para a região central da Península, uma vez que nessa região estão localizadas uma pista de pouso, com intensa movimentação de pessoas e cargas, principalmente no verão, assim como uma base militar, e duas estações de pesquisa. Apesar disso, os elementos determinados apresentaram de um modo geral valores distribuídos por toda a superfície da península, o que pode estar associado a diversos fatores, tais como presença natural, correntes de ar e marítimas, processos de degelo, bem como as atividades antrópicas locais. Diversos trabalhos já reportaram o transporte em nível regional e global e deposição local de diversos elementos químicos13. Nesse processo de deposição, as maiores áreas de recepção são as superfícies das geleiras, por apresentarem uma superfície aérea muito maior do que as áreas livres de gelo, como é o caso da Península Fildes. Portanto, pode existir uma tendência maior de acúmulo na matriz gelo do que em sedimentos. Um processo que vem sendo observada no último século na 58 região da Península Antártica é a elevação local das temperaturas e retração das geleiras. Esse processo pode redisponibilizar para o ambiente materiais que foram incorporados a matriz do gelo ao longo dos anos23,24. Esse processo é normalmente mais intenso na região frontal da geleira, onde se formam rios de degelo que concentram a passagem de toda água produzida no processo. Esse processo é compatível com comportamento das distribuições dos metais Pb, Cd, Sn e As encontradas neste trabalho. Além disso, a Península Antártica naturalmente é uma região de ocorrência de ciclones, o que faz com que ventos de grande intensidade ocorram frequentemente na região. Esse fenômeno pode ter contribuído para a distribuição heterogênea dos elementos Co, Hg e Mo ao longo da Península Fildes. 59 CONCLUSÔES Verificou-se que o procedimento de extração dos elementos da fração biodisponível do sedimento (ASTM 3974-09 prática B modificada) apresentou boa repetitividade. Em relação ao método de determinação dos elementos foi possível verificar através dos testes de recuperação uma exatidão satisfatória para Pb, Sn e Mo sem a utilização de padrão interno, enquanto que para Cd, As, Co e Hg se fez necessário o uso de Rh como padrão interno para corrigir possíveis interferência espectrais. Além disso, o método apresentou boa linearidade (R2 > 0,999) e valores de limite de detecção e quantificação apropriados às análises dos elementos nos extratos. Deste modo, pode-se inferir que a metodologia proposta de preparo e análise das amostras de sedimento mostrouse adequada. Observou-se pelos resultados obtidos que há uma tendência, principalmente para Pb, Cd, Sn e As, de apresentarem concentrações mais expressivas nas amostras de sedimento coletadas em local de degelo recente. Embora fosse esperado maiores valores de concentração nas amostras coletadas na região central da Península devido à presença de uma pista de pouso, com intensa movimentação de pessoas e cargas, uma base militar e duas estações de pesquisa, isto não foi observado neste estudo. De um modo geral os valores de concentrações dos elementos se apresentaram distribuídos por toda a superfície da península, o que pode estar associado a diversos fatores, tais como presença natural, correntes de ar e 60 marítimas, processos de degelo, bem como as atividades antrópicas locais. Quando as concentrações deste estudo foram comparadas à outras descritas na literatura verificou-se que as obtidas estão abaixo ou na mesma faixa das já relatadas. Deste modo, não se pode afirmar que o local está impactado pela ação do homem, porém é importante salientar que esses níveis devem ser constantemente monitorados, possibilitando realizar algumas inferências quanto a origem desses elementos e auxiliar na proteção ambiental. REFERÊNCIAS BARGAGLI, R. Environmental contamination in Antarctic ecosystems. Science of the total environment, 400, 212-226, 2008. LEAL, M. A.; JOPPERT, M.; LICÍNIO, M. V.; EVANGELISTA, H.; MALDONADO,J.; DALIA, K. C.; LIMA. C.; LEITE, C. V. B.; CORREA, S. M.; MEDEIROS, G.; CUNHA, K. D. Atmospheric impacts due to anthropogenic activities in remote areas: the case study of Admiralty Bay/King George Island/Antarctic Peninsula. Water Air Soil Pollut, 188, 67-80, 2008. GASPARON, M.; MATSCHULLAT, J. Trace metals in Antarctic ecosystems: Results from the Larsemann Hills, East Antarctica. Applied Geochemistry, 21, 1593 – 1612, 2006. CELIS, J.; JARA, S.; ACUÑA, G. D.; BARRA, R.; ESPEJO, W. 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